Sangue



Alberto está... morto. Não pode ser... Eu preciso me vingar, mas... Ugh... Não consigo me mexer... E Uthart me matará agora, creio eu... Não há nada que eu possa fazer, há? Pai... Espere por mim. Logo, estarei ao seu lado.


 


Uthart: Um sacrifício, huh? Tolice! Isso tornou tudo mais fácil! Sorria, garoto, porque lá vem o flash! Avada...


Uma faca passou pelo peito de Uthart. Estranho... O sangue dele era negro? Dois garotos estavam atrás dele. Um era Lugh, mas o outro eu não conhecia, apesar de achar que ele tinha os traços da família... Ele se pronunciou:


??????: Nunca pensou que a faca de Kyrar pudesse ser usada dessa forma, não é? Bem, também devia não ter pensado em matar meu pai, Uthart!


Lugh: Você me enoja, “pai”.


Uthart apontou a varinha para o garoto, mas antes que reagisse, Lugh deu um tapa na mão dele, jogando a varinha para longe:


Lugh: Você perdeu, Uthart. Suas jogadas envolvendo o livro e todos nós acabaram. Se renda.


Uthart fez algo que eu não esperava; na verdade algo que nenhum de nós esperava. Ele golpeou Lugh com muita força, o que fez o garoto cair encima do outro. Os dois ficaram atordoados, o que deu a ele tempo de roubar o livro da mão de Lugh e correr para cima, sangrando, mas com a faca e o livro. Percebi que Sophie tinha acordado, mas os outros dois não. Claro. Adultos nunca estão lá quando são necessários, no final das contas... Nós dois nos levantamos e ajudamos os outros dois a se levantarem.


Charles: Tudo bem, eu conheço Lugh, mas quem é você?


Thomas: Sou Thomas, primo de Lugh. Agora vamos. Sabe-se lá o que Uthart seria capaz de fazer com o livro de Ereshkigal...


Subimos as escadas de pedra rapidamente, mas com cuidado... Afinal, tinha um rastro escorregadio de sangue lá... Uthart não estava sendo discuidado, disso eu tinha certeza... Então ou aquele rastro nos levaria a nada... ou ele queria que nós o seguíssemos... Essa última possibilidade me deu calafrios...


Sophie: Eu posso sentir... Ele está no cômodo logo depois dessas escadas... mas ele está parado... É muito estranho...


Lugh subia na minha frente e eu percebi que ele suava na nuca. Suor de nuca. Isso pode significar muitas coisas, mas nenhuma das aplicáveis naquela hora era uma coisa boa...


Charles: Você está bem, Lugh?


Lugh: Eu... sim... mas lá encima... é perigoso... Cuidado...


Seguimos até o fim das escadas. Percebi que Lugh suava cada vez mais à medida que chegávamos mais perto, e nos últmos degraus, precisei ajudá-lo a subir. Quando saímos da escada de pedra, eu pude perceber que o chão era de madeira, mas não percebia mais nada, porque estava escuro. O ar era estagnado de um modo calorento.


Uthart: Eu estava esperando por vocês... Por que demoraram tanto?


Tochas se acenderam. Uthart estava sentado, a alguns metros de distância de nós. Ele sorria.


Uthart: Ora, quatro contra um? Isso parece um pouco injusto, não?


No instante em que ele falou, dois homens apareceram por trás da estante. Tentamos recuar, mas duas mulheres se colocaram atrás de nós, impedindo nossa passagem. Elas usavam vestidos longos e negros, e os homens estavam vestidos como Uthart.


Uthart: Crianças tolas. Se metendo com maus do que conseguem lidar. Deviam desistir enquanto ainda podem! Se rendam, e três de vocês irão viver!


Thomas: Assim como meu pai sobreviveu? Assim como Raye?


Lugh: Raye... está morto?


Thomas: Sim. Ele diz que foi uma doença, mas eu sei a verdade. Um Avada seria óbvio demais, então ele usou um veneno quase perfeito... quase. Pensou que ninguém iria perceber as unhas... azuis?


Uthart apenas riu. Uma risada maléfica, grave e pertubadora. Percebi que a risada deveria ter algum significado, por que os outros quatro pegaram suas varinhas. O primeiro tentou me estuporar. Eu quase desviei, mas eu tinha julgado mal meu ferimento ao ser jogado na parede e não me movi com velocidade suficiente e fui jogado para longe de novo. Caí perto de uma das mulheres. Ela quase me atacou, mas Sophie chamou a atenção dela no último instante e ela teve que se virar. Percebi que era o instante perfeito para testar um feiticinho bem interessante que eu já tinha visto em algum lugar.


Charles: Confringo!


A mulher explodiu. Literalmente. Cara, aquilo foi tão nojento! O cheiro de tripas começou a se espalhar pelo recinto e Uthart riu ainda mais. Ele segurava o livro em uma mão e a faca com seu sangue em outra. Entoou algumas palavras estranhas e diante de meus olhos, vi a ferida dele se curando do nada.


Uthart: Isso, isso! Batalhem, matem! Mwahahahaha!


Percebi que um dos homens tinha sido derrubado por Thomas e que o outro estava tentando tirar Thomas de suas costas. O jovem apenas segurava com o máximo de força, enquanto Sophie duelava com a outra mulher. Lugh estava no meio de tudo aquilo, caído no chão e suando mais do que antes... Eu me forcei a me levantar e andei até o garoto, com dificuldade...


Lugh: É o que ele... quer... Gah...


Sophie caiu no chão, estuporada. A mulher se preparava para matá-la, mas Thomas tinha sido jogado e estava voando bateu com ela. Os dois caíram no chão depois de baterem em uma parede, inconscientes. O homem tinha se livrado dele, mas Lugh pegou sua varinha e gritou:


Lugh: Petrificus Totalus!


Um feitiço bem simples... mas bem inesperado. O homem caiu no chão, petrificado. Sophie estava se levantando lentamente, mas Lugh a pegou e a colocou no chão, abraçado nela. Um gesto estranho, se me perguntar. Ele falou comigo:


Lugh: Traga Thomas, rápido! Ou eu não poderei fazer nada por ele!


Eu peguei Thomas o mais rápido que pude e o levei para Lugh, apesar de minhas feridas. Quando chegamos, o garoto apenas nos colocou no chão e se pôs sobre nós. Uthart bradou palavras estranhas de novo, mas eu pude sentir que elas eram ainda mais poderosas do que as anteriores... Eu vi que os outros três ajudantes de Uthart viravam esqueletos rapidamente, mas nada acontecia conosco.


Uthart: Mas o quê?! Por que eu não consigo suas essências?


Lugh: Por minha causa. Não vê, “pai”? Eu sou a “luz”.


Uthart: Luz? Isso é ridículo! Você está na casa das trevas! Qualquer luz que entre aqui será subjulgada rapidamente!


Lugh: Teste-me!


Uthart não ria mais. O sorriso tinha sido varrido de seu rosto. Ele apenas estendeu a mão e os esqueletos se levantaram, prontos para nos atacar. Eu lancei um feitiço no primeiro que vi, mas ele só recuou um pouco. Thomas foi mais esperto, deslizando e arrancando um osso da perna de outro esqueleto. Ele caiu ao pedaços... mas mesmo desmontados, os pedaços continuavam vindo atrás de nós. Sophie e eu tentamos manipulá-los, mas a magia de Uthart era tão forte que não conseguíamos fazer nada. Ele ainda por cima olhou para nós, novamente com seu sorriso presunçoso e disse:


Uthart: Não há como vencerem meus Inferi. Não com a magia do Imperador ao meu lado.


Necromagia. A mais profunda e poderosa das Artes das Trevas. Estávamos perdidos.


Lugh: Eu preciso daquela faca, Thomas.


Thomas acenou, entendendo algum plano deles. Eu não podia estar mais confuso. Thomas então encantou a faca, que saiu da mão de Uthart e veio até a dele. Ele a entregou para Lugh.


Lugh: Venham, montes de ossos!


Sophie: Wingardium Leviosa!


Um dos esqueletos, inesperadamente, começou a levitar e ela o colocou perto de Lugh. Era de se esperar que o garoto cortasse o esqueleto no ato, mas antes ele limpou a faca. Ele ainda olhou para Thomas, que ficou hesitante antes de oferecer a mão esquerda para Lugh. Lugh cortou a mão de Thomas com a faca e depois de ter molhado a faca com o sangue vermelho-claro de Thomas, atacou um dos esqueletos.


O esqueleto começou a queimar e virou pó, o que foi muito estranho...


Thomas: Essa faca... pertenceu a Kyrar, o pesadelo dos Inferi... Ele colocava sangue puro na faca... e ao atacar um Inferi, fazia com que ele explodisse em chamas...


Curei a mão de Thomas enquanto Lugh cuidava dos outros Inferi. Quando ele terminou, correu em direção de Uthart e o derrubou no chão.


Uthart: Não pode matar seu pai, Lugh! A luz corre pelas suas veias! Ela o torna fraco!


Olhei para os lados, mas Thomas e Sophie tinham desaparecido. Ouvi a voz de Thomas novamente e percebi que ele tinha aparatado para o lado de Lugh, junto com Sophie. Thomas pegou a faca.


Thomas: Lugh não pode. Mas eu posso.


Uthart pegou a varinha, mas foi inútil.


Sophie: Expelliarmus!


Ela voou para longe. O homem não tinha motivos para rir... Mas ele começou a rir histericamente, de uma maneira bem desconcentrante.


Thomas: Uthart, essa é pelo meu pai!


Uma facada no estômago. Escolha interessante. Ele se curou novamente, para nosso azar e eu percebi que isso não pararia de acontecer a não ser que fizéssemos alguma coisa.


Charles: Sophie! Refluxo!


Sintonizei minha mente com a de Sophie enquanto ela pegava a testa de Uthart. Naquele instante, Sophie foi jogada para longe e quase caiu no chão. Eu consegui pegá-la e protegê-la do impacto da queda, mas minha ferida piorou.


Lugh: Eu tenho que fazer isso...


Uthart: Me mate, Lugh! Contrarie todas as leis da luz! Me mate e você se tornará um andarilho das trevas! Será como eu!


Lugh: Não... Não podemos...


Lugh pegou Thomas pelo braço e se afastou. Eu percebi que Nergal e Dan estavam subindo. Agora eles chegavam, não é? Uthart se levantou. Seus olhos estavam vermelhos e sua cara tinha ficado cinzenta... Ele sorriu, de um modo extremamente maligno e começou a entonar uma magia.


Charles: É uma magia muito poderosa... e além das possibilidades dele... Eu já vi isso antes... Ele irá conseguir, com muito custo... ou morrerá na tentativa...


Não deu outra: Uthart foi envolvido por uma névoa negra e um estrondo. Quando a névoa se dissipou, tudo o que havia lá era o corpo de Uthart, caído... Ele tinha falhado... ou não? A porta estava trancada por um encantamento bem forte... e podíamos sentir que tudo começava a desabar lentamente... Era claro o que ele queria: nos levar junto com os Ereshkigal em si...

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