Luz e Trevas



Capítulo 8 – Luz e Trevas

         
 
           - Eu ainda não acredito no que estou vendo. - comentou Rose. A feição da ruiva estava totalmente chocada desde que os vira pela primeira vez, naquela manhã. - Pensei que Lily fosse menos estúpida.
            - Falta tão pouco para eu ir lá e quebrar a cara do maldito. - resmungou Albus, com cara de poucos amigos. Ele levantou a cabeça e olhou mais uma vez para o casal na porta da cafeteria, mas logo voltou novamente a esconder o rosto nos braços cruzados sobre a mesa. Toda vez que ele via Lily com Morgan, ficava mais ranzinza do que antes, e isso já estava ficando insuportável, visto que fazia mais de uma semana que vira os dois no apartamento de Ella.
             A loira já não ligava mais para os dois. O problema era de Morgan quando o chefe Potter resolvesse matá-lo por levar a filhinha dele para o mau caminho. Mas tinha de admitir que estava impressionada com o quanto aquilo estava durando. Desde que conhecia Morgan, só o vira uma vez ficar com a uma mulher por mais de uma noite. Lembrava-se perfeitamente dela, Nina Stuart. Aconteceu há dois anos atrás. Ella tinha acabado de ingressar na carreira de auror, e a cara desolada de Morgan no primeiro dia que cruzou as portas do Departamento era impagável, tanto que nunca mais a viu. O amigo era aquele comum caso do coração partido uma vez e nunca mais, o que era até piegas na opinião de Ella. Demorou um tempo, ele já havia desencanado de Nina Stuart. Porém ainda tinha bem fixado na mente a idéia de não se envolver mais, não tão profundamente e nem por tanto tempo. Era exatamente por isso que Ella já imaginava que aquilo não ia acabar bem. Nunca acabava.
            - Esquece eles por um segundo, Albus! Por Merlin! Essa paranóia sua já encheu. - ralhou Ella, dando um leve tapa na nuca do moreno.
            - Você conhece a fama do seu amiguinho, Ella. Lily...
            - Já é bem grandinha para saber com quem ela quer sair. - Ella o interrompeu, deixando-o mais irritado ainda. Sabia que o que mais irritava-o era ser interrompido quando estava argumentando algo, e ela vinha fazendo isso desde semana passada, quando começara com aquele mal-humor, junto com as crises de ciúmes. - Ademais, seu pai já vai comer o fígado dele, não deve demorar muito para isso. As notícias voam, Albus.
            - A loira tem um ponto, Albus. - Rose abriu um morriso matreiro. - E eu quero estar lá quando tio Harry for chutar a bunda dele. São cenas sempre tão divertidas.
            - Agora vejo que essa crise de ciúmes toda é de família. James também é assim? - indagou Ella à Rose. Não se daria ao trabalho de perguntar à Albus, já sabia que sua resposta seria um olhar gelado.
            - James é o pior. Lembro de uma vez, em Hogwarts, que ele fez um garoto soluçar e espirrar ao mesmo tempo por quase uma semana. Ele fez uma bela trava na azaração, ninguém conseguiu retirar a praga do infeliz, só quando o menino prometeu que nunca mais falaria com Lily que James o deixou ir.
            - Ele pegou quase um mês de detenção. - falou Albus, num suspiro. - E nem foi uma azaração tão boa assim. Eu teria sido mais criativo.
            - Deixem disso. - Ella riu, buscando na memória a cena sobre a qual eles falavam. Realmente, fora engraçado ver o irritante Derek naquele estado tão decadente. Maldito Lufa-Lufa, nunca fora com a cara daquele menino, especialmente depois deste sabotar uma de suas Poções e fazer o caldeirão explodir. Ainda tinha cicatrizes dos furúnculos que se formaram nas suas costas. - Lily era só a desculpa para azarar o Lufa-Lufa. Diz aí, não tem coisa melhor do que encher o saco de um Lufa-Lufa?
            - Agora eu vejo perfeitamente seu lado sonserino. - disse Albus, meneando a cabeça em negativa.
            - Obrigada pelo elogio. - Ella sorriu irônica, depois se levantou. Tinha de voltar para o trabalho, a hora do almoço tinha terminado há quase quarenta e cinco minutos, e estava com o hábido de chegar atrasada todos os dias. Beijou Albus rapidamente nos lábios e acenou brevemente com a cabeça despedindo-se de Rose também.
           Agora iria buscar Morgan e arrastá-lo para longe dali. Se dependesse do amigo, ele passaria os próximos dias com Lily, sem nem mesmo pisar do Departamento. Parou em frente à ruiva e ao amigo e esperou. Esperou que eles parassem de se agarrar em frente à Deus e ao mundo, não era a cena mais agradável desse mundo. Suspirou mais uma vez, e nada. Já estava começando a perder a paciência, melhor: NUNCA tivera muita paciência com Morgan e seus affairs. Ao invés de limpar a garganta mais uma vez e esperar educadamente, Ella ''delicadamente'' puxou o braço do amigo, arrancando-o do beijo. Morgan fez uma cara indignada e Lily deu de ombros, fazendo em seguida um sinal de adeus com a mão e foi se juntar ao irmão e à prima.
          - O que deu em você? Que mania de ficar interrompendo os outros! - reclamou ele, enquanto seguia Ella.
          Ambos deixaram a cafeteria e adentraram no corredor que os levaria até o elevador. Tinham de admitir que seria bem mais prático simplesmente aparatar no Departamento, mas nenhum dos dois estava realmente muito animado em voltar para o trabalho, especialmente depois do almoço.
          - Viu como é bom ser pentelhado pelos outros? - Ella abriu um sorriso sarcástico, e Morgan revirou os olhos. - Realmente, você tinha razão. Torrar a paciência alheira é tão divertido, ainda mais quando é do meu amiguinho aqui. - e deu um leve empurrão em Morgan enquanto caminhavam lado a lado.
          - Então, o mundo está ferrado. Eu acho que acabei de criar um monstro. - riu ele, apesar de começar a acreditar que realmente acabara de criar um monstro. - Certeza que não podemos enrrolar mais? O Potter nem vai notar, além do que não tem nada para fazer naquela bosta de Departamento.
         Tanto Ella quanto Morgan e vários colegas do mesmo esquadrão estavam ficando frustados, pois não tinham muitos casos para resolver. As tragédias, as piores confusões, em suma, as coisas divertidas eram outros esquadrões que pegavam, não deixando muita opção para o de Ella. Compreendia que ainda não tinha muita experiência em campo, e que fazia apenas dois anos que era auror, mas aquilo era extremamente injusto. Especialmente porque conseguia bater vários bruxos dos outros esquadrões durante o horário de treinamento. Já pensara em falar com Harry, sobre dar mais oportunidade para os mais jovens, mas não se atrevia a tal ponto, exatamente porque namorava o filho dele. Não queria que Merlin e o mundo pensassem que ela estava saindo com Albus Potter apenas para subir no trabalho. Demorara demais para fazer fama de boa auror naquele lugar, e por nada no mundo iria perdê-la. Ganhara aquele mérito após muito esforço, nenhum Malfoy era muito bem visto por aurores, até Ella entrar para a academia.
           - Morgan, você sabe o que isso vai virar. Hoje, chegamos atrasados. Amanhã, matamos o trabalho. Semana que vem, rua da amargura. Quer que eu continue? Porque eu ainda nem cheguei na parte do morar debaixo da ponte.
           - Você é o ser mais exagerado que eu conheço, Ella. - falou Morgan, meneando a cabeça. - Mas devo confessar que você tem um ponto. Afinal de contas, meu aluguel chega semana que vem.
           - Eu disse. - Ella soltou um suspiro cansado ao ver o que lhe esperava pela frente. Na grande sala que era o Departamento, havia um grupo no canto jogando cartas, provavelmente poquêr. Kirsten Wilson e Diane Coleman, as únicas mulheres do esquadrão de Ella, estavam em uma conversa calorosa sobre algum assunto indefinido, e pelo jeito que elas falavam, Ella não queria nem estar perto para ouvir. Detestava fofocas. E por último, Mayers e Stevens, que bricavam de tentar azarar o outro. Era simplesmente patético. 
           A loira acenou rapidamente para o grupo de rapazes que jogava cartas, fazia tempo que não entrava no jogo. Passou direto por Mayers e sentou-se no costumeiro sofá vermelho, junto à Morgan.
           - Então, o que vamos fazer nesse fim de semana? - perguntou Morgan, tirando os sapatos e apoiando os pés sobre a mesa de centro. - Já tem planos?
           - E eu lá tenho cara de quem faz planos? - riu Ella. Era verdade, ela sempre decidia as coisas de última hora. Se ia à algum lugar ou não, se faria aquilo ou não. Na maioria das vezes era ele quem programava a diversão do fim de semana.
            - É, eu esqueci. Sou eu quem comando os esquemas. - ele meneou a cabeça em negativa. - Então, eu arrumei uma festa, na casa do Irlandês, no sábado. Estou levando a Lily, quer ir também? Junta nós, Scorpius e o Albus, claro. Eu já sei que vocês são uma espécie de pacote agora.
           - Para os infernos essa coisa de pacote, eu não nasci colada nele. - Ella revirou os olhos em resposta. - Mas que diabos você está fazendo com a Lily, Morgan? Ela não é do tipo de pegar em uma noite e largar no outro dia.
           - É claro que eu sei disso, eu não estava mentindo quando disse que ela era especial. - ao ver o sorriso sacana se formando nos lábios de Ella, Morgan fez sinal para ela continuar calada. Já sabia que depois daquilo, ela iria soltar vários comentários irritantes, assim como ele fizeram ao descobrir sobre Albus. - Nem vem com essa, loirinha. Não é esse especial que eu quero dizer.
           - Tão difícil admitir que você gosta da Lily? - indagou a loira, que depois pulou em cima do amigo e começou a bagunçar-lhe os cabelos. - Ohhh, meu garotinho está crescendo. Que orgulho!! 
           - Saí para lá, ser impertinente. - Morgan empurrou Ella para o lado sem um pingo de delicadeza. A loira nem se importou. Já estava acostumada ao amigo ser um perfeito hipogrifo de vez em quando. - Ela é interessante, apenas isso.
           - Descreva o seu “interessante”. - pediu Ella com um sorriso matreiro nos lábios. Queria deixá-lo sem saída, e pelo jeito que o amigo estava ficando desconfortável, parecia que estava conseguindo.
           - Ela não está muito aí para a história de ser a filha do salvador da pátria, embora saiba perfeitamente tirar proveito disso. Eu não sei explicar, Ella. Lily é tão diferente de Nina, e mesmo assim, ela me cativa. - havia sinceridade presente na voz de Morgan, Ella não duvidava disso. Era óbvio que Morgan não a amava, mas esse não era o ponto mais importante naquele momento. Havia a possibilidade dele se apaixonar pela ruiva Potter, isso era o ponto crucial.
           Ella nunca acreditou na história de amor à primeira vista. Não se apaixonara por Albus na primeira vez que se viram em Hogwarts. Não começou a amá-lo quando trocaram um olhar em uma das festas promovidas pelo Ministério e nem mesmo quando se esbarraram despois de anos sem se verem. Mas ainda assim Ella sentia seu coração bater mais rápido quando o via. Demorava um certo tempo para desenvolver o que se chama amor, é preciso trabalho e dedicação. Albus fez isso, de tanto que ele insistiu, e Ella acabou cedendo. Morgan já tinha pelo menos a primeira fase conquistada, agora bastava continuar mais um pouco e não fazer besteiras, como sempre costumava acontecer.
          Não sabia dizer se Lily era a mulher certa para Morgan, mas quem era ela para dizer o que era bom para o amigo? Nunca foi de tirar conclusões precipitadas apesar de, às vezes, não se aguentar e julgar os outros sem os conhecer. Mas não naquela situação. Estava feliz pelo amigo, talvez ele finalmente estivesse conseguindo curar seu coração partido, ou, ao menos, eliminar algumas das cicatrizes deixadas por Nina.
          - Se ela é tão boa assim, Morgan, não a deixe escapar então. - Ella sorriu sincera, em seguinda, beijou-lhe levemente na bochecha, deixando uma pequena marca do batom que usava. Ele revirou os olhos, detestava quando ela fazia aquilo, e limpou o batom com a ponta da manga, igual a um garoto de dez anos. - Isso vai ser interessante.
          O assunto Lily terminou no momento que Potter adentrou no cômodo, seguido por Weasley e  Russell. Os três formavam o Conselho de Aurores, cada decisão que tivesse de ser tomada ali dentro passaria pelo julgamento daqueles três. Na opinião de Ella, Ron Weasley não era tão qualificado para o cargo, mas era claro que o favoritismo do melhor amigo contava. Ele era bom em vários aspectos, mas não o melhor. Poderiam pôr gente mais habilitada no lugar dele. Já a morena ao lado dele, Gwen Russel, era uma das melhores auror que já vira. A mulher era simplesmente mortal quando duelava. Ella já cansara de contar as vezes que acabou desarmada por Gwen nos dias de treinamento.
           Podia-se notar à distância que não havia algo bom, pois eles não pareciam nada felizes. Sempre quando alguma tragédia acontecia, e tinham de recrutar os mais jovens, eles apareciam com aquela cara de quem tem bosta de dragão embaixo do nariz. Ella olhou pelo rabo do olho para Morgan, este já tinha um enorme sorriso nos lábios, na verdade, quase todos ali exibiam um igual ao de Morgan.
            - Ouçam aqui, porque só falaremos apenas uma vez. - era Russel quem sempre começava, pois Ron e Harry nunca foram os melhores em acabar com o excitamento alheiro e fazer todos prestarem total atenção. - Temos um código vermelho em Telford.  
             - Há uma grande concentração de dementadores perto de Telford. - completou Ron seriamente. - Todos os esquadrões devem estar presentes. O número talvéz seja mais elevado do que cem.
             - Estejam prontos para partir imadiatamente para encontrarem os outros. - finalizou Harry, com a varinha em punho. - Coleman, Locane, Wilson e Mayers, vocês seguem com o Weasley. Stevens, Botwin e Koper vocês vão com Russell. E Hopkings, Ritter e Malfoy, vocês vem comigo.
             - Lembrando que se alguem de vocês desobedecerem ordens de seus superiores, estão banidos de qualquer missão por um mês. - advertiu Russell, olhando diretamente para Ella, e ela tinha motivo para isso. - Peguem suas varinhas e vamos. Agora!
             Foi questão de segundos até que todos estivessem alinhados para aparatar. O primeiro grupo a partir for o de Russell, em seguida o de Ron. Só restava o último grupo ali na sala do Departamento. Tinham que esperar o sinal de Russel para aparatarem, e apenas Harry o recebia através de Oclumência. Todos eles, Ella, Morgan e Peter estavam esperando ansiosamente pelo sinal de Harry. Nunca estiveram em uma situação de emergência antes. Na verdade, podia-se contar nos dedos as grandes emergências do Departamento de Aurores. Nunca, desde a queda de Voldemort, nunca eles tiveram problemas com dementadores, até agora.
             - O que está acontecendo? - perguntou Ella à Harry, aproventando que Morgan e Peter discutiam algo há alguns passos atrás.
             - Nixon. - a resposta saiu quase que cuspida, e Ella não o culpava por isso. Harry fechou os olhos por alguns segundos e quando os abriu novamente, Ella viu que estava na hora. - Estamos aparatando. AGORA!
             Os quatro se aproximaram-se e como num piscar de olhos, o Departamento de Aurores ficou deserto. A viagem não durou mais do que alguns segundos, Ella sabia, pois contava os segundos em longas distâncias. Embora fosse mais agradável do que um a chave de portal, ainda detestava profundamente aparatar em um lugar distante.
            Caos. Era a primeira coisa que se podia ver. Os monstros encapuzados voavam por toda parte, seguidos por raios brancos saídos de dezenas de varinhas. Era uma verdadeira batalha de duelos entre trevas e luz.
            - Fiquem juntos, vocês estão me entendendo? - bradou Harry, conjurando seu famoso cervo brilhante. O animal correu na direção do primeiro dementador que viu pela frente. - Não se afastem de mim.
            Ella já esperava por aquilo. Era claro que eles não dariam total liberdade aos novatos, Ella e os outros teriam de ficar no porto seguro, embaixo da asa de seus superiores.
            Os três afirmaram com cabeça e ao mesmo tempo, invocaram seus Patronos. O enorme pássaro de Peter saiu voando por entre a escuridão, seguido pelo lince de Morgan. O patrono de Ella tinha a forma de uma enorme pantera, que saltou no dementador mais próximo da moça.
            - Quantos deles ainda restam? Eu não consigo ver...
            - Muitos, Ella. - Harry bradou novamente o feitiço e o cervo apareceu em meio à confusão. Ele fez um movimento rápido com a varinha e o luminoso animal voou na direção oposta, espantando quase três de uma vez. - Não vá para o meio, escutou?
            Aquilo soou extamente como Draco Malfoy. Aquele tom severo, até um pouco exasperado, por assim dizer. Ella estava realmente tentada em ir para o centro da confusão, entretanto, ele tinha razão. Se aquilo fosse realmente obra de Nixon assim como Harry dissera, o maldito iria querer que Ella estivesse sozinha, e sem ajuda seria um alvo fácil.
           Duvidava muito de que Nixon fosse se expor no meio daquele pandemônio. Ele precisa de atenção, de foque, para passar a mensagem adiante. Ademais, não iria se expor aquilo, não correndo o risco de ser reconhecido por algum membro da Ordem.
           Um enorme vulto negro estava se aproximando rapidamente de onde eles estavam. Era horripilante aquela criatura, nunca tinha visto algo parecido. Quanto mais perto o dementador estava, mais infeliz Ella se sentia. Podia notar a felicidade abandonando seu corpo e sua mente. Não demorou muito para começar a ver nitidamente as imagens de sua mãe em uma cama de hospital, quase sem vida. E isso não era nem o começo, tudo estava voltando à tona. Todas as lembranças que gostaria de deixar tracadas em suas mente apareciam gritando em sua cabeça. Era como reviver todo novamente. Mas o golpe final foi quando começou a sentir um gosto salgado na boca e uma sensação de desespero tomou conta de seu corpo. O velho trauma de infância estava de volta.
           Seu patrono era apenas uma centelha e tentava bravamente espantar a escuridão para longe, mas parecia uma causa perdida. A visão começou a ficar turva e mais negra, suas pernas fraquejaram e seus joelhos colidiram com o chão de pedra.
           - Ella! - um par de mãos a segurou antes de quase colodir o resto do corpo no chão. - Não deixe eles fazerem isso com você! Pense em algo feliz, coloque na sua mente o que mais te alegra nessa vida. VAMOS! LUTE!
           Foi o maior esforço mental que já fizera em toda a sua vida. Procurava por algo que parecia não mais existir, a felicidade havia sido sugada por aqueles demônios negros. Já estava quase desistindo quando lhe veio à mente um flash. Era uma de suas primeiras memórias que lembrava claramente, memórias de uma pequena menina de três anos correndo pela relva verde-viva. Não estava sozinha, havia um loirinho gargalhando alegremente, se escondendo atrás da enorme pedra. Era uma brincadeira de esconde-esconde, era óbvio. Ella se agachou na grama alta, tentando se esconder, mas foi em vão. Ele a encontrara. Draco a agarrou pela sua fina cintura e a elevou até seus ombros, onde a menina ficou sentada depois. Aquela era uma das poucas lembranças que tinha do pai brincando com os dois filhos, e com o tempo, se esqueceu do quanto ela lhe fazia feliz.
            Ella abriu os olhos e deparou-se com um par de olhos verde-esmeralda. Harry parecia um tanto desesperado, e não era para menos. Foi por um triz que ela não perdeu a consciência no meio daquela confusão toda.
            - Graças à Merlin. - antes de ajudar Ella a se levantar, conjurou mais uma vez o Patrono, tornando o cervo mais forte dessa vez. - Volte para o Ministério, você não está em condições de...
            Ella não o deixou terminar a frase. Puxou o pensamento mais feliz da lembrança e bradou o patrono tão alto que os que estavam perto viraram-se para ela espantados. A pantera quase a cegou ao saltar de sua varinha e colidir com o dementador mais próximo.
            - Impressionante. - Ella ouviu alguém sussurrar ali perto.
            Um grito agudo ecoou. Era uma voz conhecida. Um tom áspero e feminino.
            - Russell. - Harry levantou a cabeça, tentando identificar de onde estava vindo o pedido de socorro da colega de trabalho. Quando ela gritou novamente ele soube para onde correr. - Eu vou ajudar Russell. Fique por aqui com Hopkings e Ritter.
            Ella viu Harry sair em disparada na direção ao enorme breu. Quando o viu desaparecer por entre os dementadores, percebeu como ele era suicída. Seu pai não estava brincando quando falou que ele não pensava antes de agir. Era nobre, mas estúpido.
            Os minutos corriam, e ninguém parecia ter idéia de quanto tempo estavam ali. Parecia dias, com todo aquele cansaço se alojando em seus corpos e mentes. Ella tinha a impressão que sua cabeça iria explodir à qualquer momento.
            Olhou para os lados, procurando por Peter e por Morgan. O primeiro, conseguiu localizar rapidamente, estava apenas há alguns metros de onde estava. Mas Morgan, não havia nenhum sinal do amigo, nem de seu lince. Sentiu a onda de desespero começar à voltar, mas dessa vez, mantinha a mente bem fechada, não deixando mais nenhum daqueles desgraçados encapuzados tocarem em uma só memória dela. Correu pelo lugar, desviando em um feitiço ou outro, e ordenando sua pantera que continuasse investindo contra os dementadores.
            No meio de vários dementadores, Ella pôde ver onde Morgan estava. Cercado, completamente cercado pelos aspectros encapuzados. Temeu por Morgan como nunca, um dementador parecia estar tirando o capuz e se preparando para dar o golpe mortal em Morgan. Ele não reagia mais, embora estivesse com os olhos abertos.
            - Expecto Patronum! - gritou o mais alto que conseguiu e novamente a pantera tomou conta do lugar.
            O dementador próximo de Morgan se afastou sem demora, junto com os que lhe rodeavam. Alguns tinham ido para não voltar mais.
           Aos tropeços, correu até onde Morgan havia trombado no chão. Nunca havia visto o rapaz com o rosto tão pálido daquele jeito Era fantasmagórico, simplesmente horripilante. Bateu levemente no rosto do rapaz, tentando fazê-lo acordar, mas a consciência dele já estava longe.
          - Morgan! MORGAN! - tentou persistir mais um pouco, mas em vão. Ele só acordaria no hopital, agora. Ela sacou a varinha e apontou para o céu. A luz vermelha vinda da varinha de Ella sinalizava que alguém fora abatido, então a ajuda estava a caminho.
          Ella continuou conjurando o patrono por vários minutos que se seguiram. Já estava quase aparatando com Morgan no St. Mungos quando Weasley apareceu ao seu lado.
          - Ele recebeu o beijo do dementador? - indagou o ruivo totalmente exasperado ao ver o estado de Morgan.
          - Acho que eu consegui chegar a tempo. - respondeu Ella. - O que...
          - Onde está Harry? - ele a cortou.
          - Foi ajudar Russell, depois eu não o vi mais.
          Ele pareceu ponderar um pouco, mas finalmente disse o que Ella já esperava.
          - Mais que merda, Harry! - falou para si mesmo baixinho, depois voltou a encarar Ella. - Leve-o para o hospital agora, e não saia de lá.
          - Eu consigo ficar, eu estou perfeitamente bem para lutar. - argumentou Ella. Tinha a esperança de que se continuasse persistindo, poderia voltar.
          - Não. - ele negou severamente. - Saia daqui e espere por mais informação no hospital. Agora vá!
          Ele se levantou e começou a se afastar dos dois, mas ainda estava à vista. Era óbvio que conhecia a fama de cabeça-dura que Ella tinha, e queria garantir que ela cumpriria as ordens dadas.
          O cenário de luta desapareceu, dando lugar à um corredor branco praticamente vazio, exceto por um curandeiro ou dois. Ao verem os recém-chegados, um dos curandeiros se aproximou e o outro saiu em disparada, provavelmente indo chamar por mais alguém.
          - O que aconteceu? - perguntou o loiro de olhos esverdeados ajoelhado ao lado de Ella. Ele era rápido, em uma questão de segundos, sentiu o pulso fraco de Morgan, em seguida, deu uma rápida olhada nos olhos do desacordado.
          - Dementadores. - respondeu Ella com um fio de voz. - Assim, ele vai ficar bem?
          - É o que veremos. - a rosposta era totalmente vaga, fazendo um pequeno nó se formar na garganta de Ella. O curandeiro fez sinal para que as duas mulheres vestidas de branco se aproximassem. -  Você também será admitida, pelo menos para um check-up. - falou ele à Ella.
          - Não, não. Ele é o doente, eu estou perfeitamente bem. - contrargumentou Ella, negando com a cabeça.
          - Só para ter certeza. - ele sorriu fracamente. - Levem o rapaz para a sala de exames, eu cuido dessa aqui. Por favor, siga-me até a outra sala de exames.
          Ele só pediu com educação, pois não esperou Ella argumentar nem nada parecido. Simplesmente começou a arrastá-la corredor adentro. O corpo flutuante de Morgan passou pelos dois e virou à direita no fim do corredor, enquanto o curandeiro que estava encarregado dela a guiou para o lado oposto.
          Como detestava hospitais. Não tinha medo de agulhas, ou dos medi-bruxos, ou dos aparelhos, nada do gênero, apenas não gostava de estar naquele ambiente macabro. O cheiro de morte era fácil de notar, especialmente perto das salas de emergências. Medicida bruxa era muito eficaz, mas não fazia milagres, e dependendo do quão ruim era a situação, eles não conseguiam salvar o paciente.
          Ella podia contar nos dedos as vezes que entrara ali para se tratar, pois se fosse contar as idas da mãe, já poderia considerar o St. Mungos como sua segunda casa. Aparentava ser frágil, devido ao seu rosto de menina e por ser um tanto magra e branca demais. Porém, as aparências enganavam. Ella era mais forte para doença do que o próprio Scorpius, e para dor também. Lembrava-se de quando caiu da vassoura quando pequena e quebrou o braço em dois lugares. Os curandeiros ficaram impressionados em como ela conseguia se manter calma diante de uma situação tão dolorosa.
           O curandeiro adentrou em uma sala praticamente vazia, e começou a vasculhar no pequeno armário de poções perto da janela. Ele apontou para a maca no outro extremo da sala, mas não voltou a encarar Ella, que já não tinha mais forças para argumentar e foi sentar-se aonde ele mandou. Lançou um rápido olhar à sua volta, e estremeceu só de pensar na possibilidade de ter de passar a noite ali. Queria apenas saber notícias de Morgan e dar o fora dali o mais rápido possível. Assim os outros só ficariam sabendo quando estivesse em casa e podendo ignorar visitas. Scorpius lançaria um olhar apreensivo, como sempre; o pai berraria em plenos pulmões que estava certo e ela errada sobre o trabalho de auror; e a mãe perderia a cabeça de tanta preocupação, fazendo até seu estado de saúde piorar. E não era apenas os três, agora Ella tinha mais uma pessoa à dar satisfação: Albus. Conhecendo-o como conhecia, Albus não ficaria muito para trás, provavelmente pediria para o pai tirar Ella de campo por algum tempo ou até pior. Sinceramente, não sabia se ficava irritada ou satisfeita por isso. De certa maneira, gostava do jeito protetor de Albus, mas por outro lado, detestava quando ele exagerava, o que acontecia facilmente.
           - Espere aqui. - ele falou, antes de deixar o recinto.
           - Como se eu tivesse outra opção. - Ella resmungou baixo.
           Aproveitando que o curandeiro não estava mais lá, Ella não demorou para sair da maca. Estava realmente tentada correr porta afora e deixar o hospital. Seria uma atitude extremamente infatil e estava se segurando apenas por causa de Morgan. O curandeiro não seria estúpido o suficiente para falar o que Ella precisava saber anter de examiná-la, então isso significava mais algum tempo naquele martírio esbranquiçado.
          Andava de um lado para o outro na sala, esperando. Lançava olhares no relógio na parede constantemente, e isso só a deixava mais nervosa. O tempo não passava, estava sentindo-se presa no tempo, nada acontecia, não tinha notícias nem de Morgan nem de nenhum dos outros, o que a estava levando à loucura.
          Queria voltar ao campo, voltar à luta. Nunca foi de deixar um duelo antes de acabar com o oponente, e mesmo que na situação com os dementadores fossem centenas de criaturar feias e demoníacas, ainda considerava aquilo um duelo, uma batalha que não devia ter deixado para trás.
          - Você devia estar repousando na cama. - uma voz conhecia ecoou perto da porta.
          - Eu devia estar ajudando os outros. - respondeu Ella, virando-se para encarar Albus. Ele não parecia estar muito bem, não sorria como sempre e havia uma veia de preocupação formada em sua testa. Seu rosto estava um tanto abatido também. Não era apenas Ella que queria saber notícias dos outros, Albus também parecia querer morrer para ouvir alguma coisa sobre o pai ou os outros aurores. - Como você ficou sabendo tão rápido.?
          - Eu tenho um amigo que trabalha aqui. - ele respondeu, dando alguns passos na direção de Ella. Parando no meio do caminho, estando apenas há dois passos ou menos da loira, ele suspirou e encarou a jovem de um jeito tão profundo que Ella não resistiu e correu para se aconchegar nos braços dele. Precisava daquilo agora. Dele. Da respiração de Albus fazendo cócegas em seu pescoço, dos lábios dele procurando pelos dela, e parecia que ele precisava daquilo tanto quanto a loira. - Me falaram que deram entrada à uma pequena loira briguenta e um homem desacordado. Só de ouvir loira e briguenta na mesma frase, já imaginava que era você.
          Sorriu levemente. Ele estava certo, aquela descrição era inconfundível .
          - Quase enfartei quando vi seu nome na ficha. - a ponta dos dedos dele acariciavam as bochechas de Ella, depois desceram para o pescoço delicado dela. Ele roçava os lábios nos cabelos platinados, tentado à descer e encontrar a boca de Ella. - Temi por você lá, Ella. Maldita profissão essa sua.
          - Você soa como meu pai quando fala sobre o que eu faço para viver. - Ella tocou nos cabelos dele, tirando-os dos olhos. Queria ter visão completa daquelas profundas íris esmeraldas que tanto amava. Podia passar o dia inteiro encarando aquelas esferas esverdeadas se pudesse.
          - Então quer dizer que há mais pessoas concordando comigo aqui. - ele a puxou para mais perto, para um abraço apertado.Os braços dele parecia terem envolvido-a para não soltar mais. - Eu te amo demais para te perder.
          - Não tem aquele ditado que vaso ruim não quebra? Eu sou o pior dos vasos, eu ainda vou ficar ao seu lado por muito tempo. Eu prometo. - Ella se surprrendeu ao ouvir as palavras que acabaram de sair da sua boca. Nunca foi de fazer promessas amorosas, especialmente as que não tinha certeza se cumpriria.
         - Assim espero. - ele sorriu sincero, pela primeira vez que entrou naquele quarto de hospital. - Eu vou indo agora, volto mais tarde. - falou Albus, quebrando o abraço.
         - Por que? - Ella olhou contrariada para cima, observando as feições dele. Estavam mais leve, ele parecia melhor do que quando entrou. - Não vá agora. Espere mais um poquinho.
         - Primeiro, você precisa ser examinada. - ele virou a cabeça na direção da porta, mostrando o curandeiro encostado na parede, esperando. Aquilo fez a face de Ella queimar, não queria nem ver o rosado de suas bochechas agora. - Segundo, eu vou ver se mais alguém já deu entrada aqui.
         - Certo. - ela assentiu contrariada. - Mas avise logo para esses infelizes que eu não vou passar a noite aqui. Uma revisão e casa!
         - É o que veremos. - e dessa vez foi o curandeiro quem respondeu. Ele moveu-se para perto do casal, e apontou a porta com uma das mãos e a outra, a cama que Ella deveria estar. - Senhor Potter, ainda não é o horário de visitas. Por favor, peço que se retire.
         - Te vejo mais tarde. - ele disse antes de beijar Ella rapidamente nos lábios e deixar a sala.
         Depois de Albus sair, Ella foi mancando até a cama, onde deitou-se e esperou que o curandeiro começasse com os exames. Sua perna estava um pouco dolorida, não tinha a menor idéia do porquê disso.
         - Você não se sente nem um pouco mal em ficar interrompendo as pessoas? E se eu estivesse doente, morrendo, e aquela fosse minha despedida? - indagou depois de pegar o pequeno copo com uma poção mal cheirosa. -
          - Você tem certeza que quer que eu responda isso? - ele arqueou uma das sobrancelhas loiras. 
          - Talvez outra hora. Mas só digo uma coisa, eu estou bem e não preciso estar aqui, droga!
          - Eu devia ter deixado ele ficar, você resmunga menos quando ele está perto. - sorriu o curandeiro. - Agora descanse.
          - Descansar? Porque... - Ella se viu sentindo as palpebras pesadas. - Mas que diabos! O que você me deu?
          - Somente uma poção relaxante. - ele pressionou o corpo de Ella para baixo, que não teimou em deitar na maca. - Nada parece estar errado, mas você precisa recuperar suas energias. Muita magia foi gasta com os patronos, se não fizer isso, acabará doente.
           - Droga! Não aceito mais nada que você me der... - queria reclamar mais um pouco com o curandeiro, mas não resistiu e acabou caindo em um sono profundo.
 


           Abriu os olhos totalmente desnorteada. A claridade do sol entrando pela janela quase lhe cegava. Voltou a apertar os olhos, na tentativa de voltar à dormir, mas não funcionara, já estava acordada. Após um longo suspiro, abriu os olhos de vez e levantou o tronco, ficando sentada por um instante na cama.
           As memórias recentes foram voltando aos poucos. Missão, dementadores, patrono, Morgan, hospital. Basicamente, era aquilo que acontecera. Ainda lembrava-se de Albus, dos lábios dele nos seus antes de entrar em um profundo sono causado pela poção que o curandeiro lhe dera.
           - Vou avisar o curandeiro que você acordou. - era Harry falando, enquanto se levantava da poltrona perto da porta.
           - Mas que diabos... - Ella não conseguiu terminar a frase, pois ele já havia saído do quarto. Esperava seu pai, o irmão, qualquer pessoa ali, não o pai de seu namorado.
           Ella girou o corpo e botou as pernas para fora da cama, e foi quando notou que não vestia mais suas vestes negras. Agora uma espécia de camisola branca a cobria até acima dos joelhos, sem contar que não era completamente fechada atrás. Odiava aquilo, ainda mais porque não fazia idéia de onde estava sua varinha.
           Botou o peso nas pernas, em uma tentativa inútil de sair da cama. Foi levantar e cair.
           - Vá com calma, o relaxante muscular que lhe deram é forte. Vai demorar um pouco até tudo voltar ao normal. - falou Harry, entrando no quarto novamente, seguido pelo mesmo curandeiro que socorreu Ella quando chegou ao hospital. - Connor, atualize a senhorita Malfoy sobre o quadro do senhor Hopkings.
          Ella sorriu agradecida à Harry. Ele tirou as palavras de sua boca, perguntar sobre Morgan era a primeira coisa que iria fazer quando saísse daquele quarto.
          - Certamente. - assentiu Connor, aproximando-se de Ella para mais um check-up rápido. - Hopkings está ainda em observação, mas está estável. Aparentemente, não sofreu nenhuma contusão grave, apenas um enorme estresse mental. A senhorita estará sendo liberada esta manhã, e o senhor Hopkings levará alta amanhã.
          - Obrigada, Connor. - Harry deu alguns tapinhas nas costas do rapaz, que apenas assentiu com a cabeça. - Se vir Albus, diga que ela já está acordada.
          - Avisarei. - e saiu do quarto quase como um raio.
          - Você fez um bom trabalho ontem, Ella. Eu fiquei bastante impressionado com o tamanho poder do seu patrono. - Harry voltou a se sentar na mesma poltrona que estava antes de Ella acordar.  Ele parecia cansado, na verdade, completamente exausto. Haviam profundas olheiras abaixos dos olhos verde-esmeralda, seguida por uma palidez fora do normal, além de um arranhão ou outro nas mãos. Vendo o olhar de Ella em suas mãos, ele meneou a cabeça sorrindo. - Me desequilibrei algumas vezes na noite passada. Aquele chão realmente era demoníaco.
         - Bom trabalho? Você está brincando?! Eu tive que me retirar no meio da batalha! - exasperou-se Ella, contrariada. - Isso nem de longe é um bom trabalho.
         - Você saiu porque seu amigo precisava de cuidados médicos. Não agiu com corvardia ou porque você foi fraca. Foi a coisa certa a ser feita, Ella.
         - Como estão os outros? - indagou ela, mudando de assunto. - Alguém está gravemente ferido?
         - Só alguns arranhões. O pior que pode acontecer lutando contra dementadores é ficar sem a alma, danos físicos são muito raros. - ele suspirou, cansado. - A maioria está no mesmo estado de Hopkings. Totalmente exaustos mentalmente, com o teor de magia muito baixo. Só precisam de algum tempo de descanso e estarão novos em folha.
         - Foi... realmente obra de Nixon?
         Ele não pespondeu de imediato. Passou alguns seguntos ponderando, procurando pela melhor resposta.
         - Não temos total certeza, mas há grandes chances que sim. Por isso que Ron lhe mandou voltar, Ella. Você ainda é uma das peças chaves nesse jogo. Sem você, vai ser difícil demais localizar Nixon antes dele executar o encantamento. - Harry lançou um olhar no relógio da parede, e voltou a encarar Ella com um olhar mais suave. - Eu tenho que voltar para o Ministério. Albus logo estará aqui, eu o mandei para casa um pouco, para um banho pelo menos.
         - Ele... ele ficou aqui a noite inteira? - Ella quase engasgou ao ouvir aquilo, do mesmo jeito que sentiu-se derreter por dentro.
         - Desde a hora que você adormeceu. - ele alargou o sorriso. - Mandei avisar ao seu pai também.
         - Minha mãe...
         - Somente se seu pai contou-lhe algo. - ele levantou-se pela segunda vez da poltrona, mas ainda não deixou o quarto. - Pensei que fosse melhor não envolvê-la, com a saúde frágil em que se encontra.
         - Obrigada. - agradeceu Ella. - Onde está minha varinha?
         Ele apontou para a gaveta da mesinha de metal ao lado da cama e se retirou do quarto sorrindo. Ella não demorou para abrir a gaveta e retirar a varinha. Estava apenas a varinha ali, nenhum sinal de suas roupas.
         - Merda. - resmungou Ella, tentando imaginar como deixaria daquele quarto. Não iria sair no meio do corredor vestindo somente aquela camisola. Ainda não estava preparada para mostrar seu traseiro para metade do hospital.
         Pensou em gritar por um curandeiro, talvez algum deles lhe poderia arrumar um par de calças e uma blusa. Não se importava muito com os sapatos, ia apenas checar Morgan e depois daria o fora dali.
         Estava faltando muito pouco para lançar um feitiço no quarto e começar a queimar as flores que alguém lhe trouxera, mas sabia que isso seria rude, além do que, tinha uma certa idéia do quão bravos eles ficariam. O alarme de incêndio bruxo poderia ser extremamente irritante, especialmente em hospitais. Ella sabia disso, pois quando pequena, já tivera a brilhante idéia de fazer uma fogueira no banheiro do hospital, junto com Scorpius. Foi em umas das vezes que a mãe tivera de ser internada, e os dois muito pequenos, não tinham consciência no que estavam se metendo. Tanto Ella quanto o irmão ficaram de castigo por semanas.
         - O que você pensa que está fazendo?
         - Pensando na possibilidade de botar fogo nesse quarto. Você sabe como são divertidos os alarmes de incêndio. - ela sorriu matreira.
         - Na verdade, eu não faço idéia. - ele roou os olhos, e acrescentou depois de ver o sorriso traquinha nos lábios da namorada aumentar. - Nem pense.
         - Assim você acaba com o meu dia, Albus. - falou Ella, que só se levantou ao ver o que ele trazia nas mãos. - Corrigindo, você faz meu dia!
         Havia uma muda de roupas que ele carregava embaixo do braço. Em uma das mãos ele tinha um café e na outra uma caixa de plástico com um de seus sanduíches preferidos. Até ver o café e o sanduíche, Ella não tinha se dado conta de como estava com fome.
         - Imaginei que iria precisar dessas coisas. Espero que não se importe, mais eu posso ter arrombado o seu apartamento. - ele abriu um sorriso enviesado e deixou o café e o sanduíche na mesinha onde Ella tinha pego sua varinha, e as roupas foram entregues nas mãos da loira. - Você, definitivamente, precisa limpar seu apartamento.
        - Para os infernos essa coisa de limpeza. - Ella deu de ombros, apesar de admitir que ele estava certo. Sua casa estava um verdadeiro nojo, já estava passando da hora de dar um faxina no lugar. -  Hoje eu não vou prestar nenhuma queixa, mas...
         - Da próxima vez eu estarei encrencado? - ele sentou-se ao lado dela na cama, e lançou-se um sorriso de escárnio.
         - Você não faz idéia do quanto. - Ella se aproximou do rosto dele, fazendo seus lábios se tocarem levemente. - Obrigada.
         - Vista-se. Eu te levo para casa. - ele apontou para as roupas que Ella deixou sobre a cama. - Talvez seja melhor você comer quando estiver em casa, assim será com mais calma.
         - Pode ser. - concordou Ella, enquanto via o que ele tirou de seu guarda-roupa. Ao menos tinha bom gosto, ele pegou um vestido vermelho de mangas compridas. Recentemente, tinha reparado o quanto Albus gostava de vê-la em vestidos, mais do que em calças, como de costume. Aquele vermelho não era seu preferido, mas mas como estava grata o suficiente por ele estar fazendo aquilo e, claro, não tinha muitas opções, Ella deixou cair a camisola branca no chão e vestiu a roupa que ele tinha trago.
         Parecia que ele tinha esquecido de apenas um detalhe: os sapatos.
         - Como eu não tenho quatro mãos, - ele pegou a varinha e algo muito pequeno no bolso. - Eu encolhi as botas. - com um rápido feitiço, as botas marrom-avermelhadas voltaram ao tamanho original. Ele as passou para Ella, que não demorou em calçá-las.
         - Pronto. - falou Ella, se levantando com a ajuda de Albus. - Maldito relaxante. Acho que era o suficiente para dopar um dragão.
         - Bom, um dragão e você tem o mesmo adorável temperamento, talvez ele tenha confundido. - Albus soltou uma leve risadinha, fazendo Ella revirar os olhos.-  Você quer ver Morgan agora?
         - Sim. - Ella agarrou o café na mesa e saiu andando com cuidado porta afora, com Albus a seguindo. - Em que quarto ele está?
         - Segunda porta à esquerda. - respondeu Albus, apoiando as costas na parede. Achava melhor esperar do lado de fora, queria dar privacidade à namorada.
         - Volto em um minuto. - comunicou Ella antes de apertar a maçaneta da porta e entrar no quarto.
         Era exatamente igual ao dela, apenas alguns detalhes diferentes na parede. Morgan ressonava profundamente na cama. Ele parecia ter recebido o mesmo tipo de poção que Ella, pois nem com gritos ele acordaria, o que era um bom sinal.
          Ella se aproximou devagar da cama, receosa de se aproximar muito. Apesar de ter certeza de que era praticamente impossível ele acordar, sempre havia a possibilidade dela conseguir piorar a situação.
          - Oi. - disse baixinho, ao pé do ouvido do amigo. Com a ponta dos dedos, tocou levemente nos cachos castanhos dele. - Não demore para ficar bem, Morg. Te vejo mais tarde.
          Beijou a testa dele de um jeito meigo, como se estivesse beijando seu próprio irmão, e saiu do quarto. Albus a esperava no lado de fora com o sanduíche e com o café que ela havia lhe pedido para segurar por um instante.
          - Pronto, agora podemos ir para casa. - disse Ella, pegando o café que ele lhe ofereceu. Albus passou seu braço livre pelo ombro de Ella, e começou a guiá-la para o saguão do hopital, e por fim, aparataram no apartamento dela.
 



           Ethan corria pelo apartamento, se escondendo de Lily, que fora a única que concordou em brincar de pique com o menino. Ella até brincaria, mas sentia-se exausta depois de arrumar tudo com Albus. Não era exatamente uma grande festa, apenas algo para não deixar passar o aniversário do menino em branco. Na noite anterior, Scorpius apareceu na sua casa, falando que ela tinha exatamente menos de um dia para preparar algo. Realmente, não tinha condições deles fazerem qualquer coisa na Mansão, não com Astoria tão doente.
          Fora Albus quem realmente preparara a maioria das coisas. Como ele tinha uma família grande, acabou ganhando experiência no assunto, e em poucas horas já tinha tudo pronto. Como ajuda, acabou arrastando Lily e Rose consigo. Ella não podia negar, mas as duas ruivas eram melhores com o assunto 'criança' do que ela jamais seria, tinha conseguido entreter o garoto boa parte da tarde.
          Morgan estava lá também, isso era óbvio. Mesmo que não tivesse sido convidado, ele estaria lá. Casa de Ella era praticamente sua segunda casa, não precisava mais de convites ou formalidades. Sem contar o fato de Lily estar lá também, pois agora onde um estava o outro estava logo atrás.
          - Fizemos um bom trabalho. - sorriu Albus para Ella, bridando com o suco de abóbora. A única coisa que tinham esquecido foi de comprar o vinho e outros agrados. Ella teve vontade de esganar o namorado, pois podia simplesmente pedir a alguém que fizesse o favor de comprar as bebidas, mas acabou deixando para lá.
          - Ele parece estar gostando. - comentou Ella, fitando o loirinho correndo ao redor da mesa de centro, fugindo de Lily com facilidade. - Obrigada pela ajuda, já que o imprestável do Scorpius só traz os problemas, e nada se soluções.
          - Não o culpe, deve estar uma verdadeira loucura na Mansão.
          - Ele está certo. - Scorpius se intrometeu no meio da conversa. Se infiltrando no meio dos dois, e abraçando Ella de um jeito totalmente desajeitado. - Dou mais alguns dias para o pai ficar careca de vez, eu juro. Lembrando, obrigado pela mão, Albus.
          - Albus?! - Ella se desvencilhou do braço do irmão e o encarou com a sobrancelha erguida. - Ingrato!
          - Você teve uma boa porcentagem de utilidade nesse meio todo também, irmãzinha. - ele sorriu, bagunçando os cabelos da irmã.
          - Não tenho nem palavras para dizer o quanto você é irritante, Scorpius. - murmurou Ella, olhando de viés para o loiro.
          - Sem problemas, Scorpius. Se você tivesse o número de primos que eu tenho, também não teria nenhuma dificuldade em arranjar festa de criança de última hora. Não é, Rose?
          - Péssimas lembranças, Albus. Péssimas lembranças. - respondeu Rose, fazendo sinal para o primo se calar.
          - Tio George ensinou os meninos a pegarem no pé da Rose... - ele meneou a cabeça, sorrindo com a face contrariada da ruiva. - É porque eles sabem que te irrita, se você não ficasse...
         - Albus... cala a boca! - bradou Rose, rindo. - Eu disse que vou matar aqueles fedelhos.
         - Céus, fique longe do meu filho, sua psicopata. - brincou Scorpius, imitando a voz Lily, que adorava elogiar os pequenos. - Que ódio todo é esse das criancinhas? Eles são uns verdadeiros anjos.
         - Eu ouvi essa, Scorpius. - Lily apareceu com um cansado Ethan em seu colo. Ela sentou o menino no balcão da cozinha e deu-lhe um copo de suco. - Morgan? Acho que devíamos ir andando, você precisa descansar.
         - Que isso, Lily! Eu estou ótimo! - sorriu Morgan, abraçando Lily. - Afinal de contas, quem vai obedecer aquele curandeiro mesmo?
         - Morgan, é melhor você fazer o que ela está dizendo. Lily consegue ser bastante impertinente até conseguir o que quer. E até você sair daqui, acredite, companheiro, ela vai infernizar deus e o mundo. - Albus deu uma piscadela para irmã, que rolou os olhos em resposta.
         - Vamos. - Lily empurrou Morgan para o lado, na tentativa de apressá-lo, depois voltou-se para o pequeno loirinho que observava tudo sorrindo. Ela depositou um beijo estalado na bochecha dele, e afagou seus cabelos platinados. - Feliz aniversário, pequenino.
         - Como se diz em resposta, Ethan? - pergundou Scorpius com a sobrancelha erguida.
         - 'Brigada por vir. - respondeu ele baixinho, se seguida retribuiu o gesto de Lily com um beijo na bochecha da ruiva.
         - Céus! Você é um fofo! - Lily virou-se para os outros, após lançar um olhar bravo à Morgan, que se demorava para pôr so sobretudo. - Nos vemos por aí, Ella, Scorpius. Obrigada pelo convite.
         - Lily, você é a minha babá oficial agora. Se quiser levar ele para a Toca, eu aceito. - Scorpius pegou o filho no colo, e começou a fazer cócegar na sua barriga. - Você quer ir com a Lily?
         - Sim! - o loirinho bradou alegre.
         - Outro dia, meu bem. - Lily tocou-lhe gentilmente no rosto. - Papai mandou avisar que amanhã vocês jantam lá em casa, Rose.
         - Passarei o recado à diante. - assentiu Rose. - Bom, aproveitando a deixa da Lily, eu vou andando também.
         - Que isso, Rosie, está cedo.
         - Malfoy, quer parar de me chamar de Rosie? Já chegamos ao acordo de Rose, e ponto. - bufou Rose, indo até o sofá para pegar o casaco e a bolsa. Quase pronta para sair, Rose voltou até onde os outros outros estavam, mas para falar apenas com Ethan. - Feliz aniversário, garoto. Não abuse das gulosemas.
         - Não prometo nada. - sorriu ele matreiro.
         - Realmente, ele tem passado tempo demais com você Ella. - comentou Morgan, meneando a cabeça. - Vocês estão prontas para ir?
         - Sim. - respondeu Rose e Lily em unisomo.
         Os três aparataram naquele instante. Ethan soltou um becejo cansado e virou-se para Ella, pedindo colo. Ella suspirou, mas o pegou quando Scorpius passou a criança para ela. Não sabia se era porque ele estava crescendo rápido demais, ou se era devido ao seu cansaso, mas estava realmente difícil carregá-lo.
         - Vá arrumar as coisas com Scorpius, eu fico de olho nele por um instante. - ofereceu Albus, em seguida pegando Ethan dos braços de Ella.
         - Obrigada, Albus. - agradeceu Ella. Puxou a varinha do bolso, iria começar a limpar o apartamente que estava um verdadeiro pandemônio. Ethan era pequeno, mas parecia ser um monstrinho quando se tratava de arte.
         Assim que lançou o primeiro feitiço para dar um jeito na louça suja, a campainha tocou. Deveria ser Morgan esquecendo algo, pois não esperava mais ninguém.
         - Eu atendo. - falou Ella, correndo até a porta. Quase saltou para atrás após abrir a porta, de todas as pessoas do mundo, não estava esperando-o. - Pai?
         - Ascella. - cumprimentou Draco, conciso. - Não vai me deixar entrar?
         - Sim... mas o que o senhor está fazendo aqui? - indagou Ella, pegando o casaco que o pai lhe entregara. Draco levantou a mão, mostrando um embrulho esverdeado. Ele estava aqui por causa de Ethan. - Ele está no sofá com Albus.
        Ella se segurou para não rir da cara de desgosto que o pai fez ao ouvir o nome do namorado. Tinha de admitir que estava tentada em persistir com o assunto Albus, apenas para irritá-lo, mas preferiu prevenir a discussão que viria em seguida. Pensando melhor, aquela era uma situção interessante, seria a primeira vez que Albus e o pai estariam no mesmo recinto depois que o segundo tinha conhecimento do namoro. Ella não se demorou para seguir o pai, queria ver de camarote a reação de Draco, e não era somente ela, Scorpius parecia demonstrar uma certa curiosidade também.
          - Vovô! - gritou Ethan, correndo alegre até Draco. Era incrível como o menino gostava de Draco, mesmo que esse não lhe desse tanta atenção como Astoria ou qualquer outro. Ele simplesmente gostava de estar com Draco, o que era a coisa mais bizarra do mundo. Draco não era do tipo de pessoa agradável, que você quer estar junto. Na verdade, ele transmitia até um pouco de medo à quem o via pela primeira vez. - A vovó não veio?
          - Sua avó não estava passando muito bem, ela teve de permanecer em casa. - falou Draco, passando a mão nos cabelos platinado de Ethan. - Mas ela lhe mandou isso aqui. - e entregou-lhe o pacote verde ao garoto. - Feliz aniversário, Ethan.
- Obrigado. - agradeceu ele, abraçando a perna de Draco. - Papai? Olha o que eu ganhei!
- Vem cá que eu lhe dou uma mão para abrir isso aí. - chamou Scorpius, depois levando o filho até a cozinha.
O silêncio tomou conta, junto com o ar de tensão. Ella queria matar Scorpius por isso, Ethan era o que mantinha todos focados em algo, sem o meninos, eles realmente teriam de falar entre si. Suspirou pesadamente, iria deixar de ser covarde de uma vez e apresentar os dois.
          - Pai, esse é Albus Potter. - Ella deu um passo para trás, dando espaço para Albus passar. Ele havia se levantado do sofá, agora caminhava até Draco com a mão estendida. A face do moreno estava neutra, ele não exibia o desgosto como Draco, mas ainda assim, podia-se notar que aquela não era a melhor das situações para ele. - Albus, este é meu pai, Draco Malfoy.
          - É um prazer conhecê-lo, senhor Malfoy. - falou Albus cordialmente ao apertar a mão esquerda do “sogro”.
          Draco não respondeu, apenas fungou e logo puxou a mão de volta para si. Ella não sabia onde enfiar a cara, depois de ter de presenciar aquele comportamento infantil vindo do pai. Albus como sempre foi um cavalheiro, assentiu com a cabeça, sorrindo e pediu licença para se retirar. Após Albus desaparecer de vista, Ella voltou-se para o pai meneando a cabeça em negativa.
          - Sempre tão amável. - ironizou Ella.
          - O que ele veio fazer aqui? - perguntou Draco, mal humorado.
          - Ele veio salvar minha pele, já que Scorpius avisa tudo de última hora. - Ella lançou um olhar à sacada, e depois começou a andar para o lado de fora do apartamente. Era melhor para conversar, a possibilidade de alguém ouvir era menor. - Então, pai, o que lhe traz aqui além de Ethan?
          - Fiquei sabendo do pequeno incidente com os dementadores. - ele fugiu com o olhar, fitando o crepúsculo atrás dos prédios londrinos. - Eu avisei.
          - Avisou o que? Eu não saí ferida, na verdade, teria ficado até o fim se não tivesse levado Morgan para o hospital. - falou Ella, estufando o peito.
          - Aquilo foi obra de Nixon, disso eu não tenho dúvidas. De fato, fontes do Potter confirmaram esta manhã que foi um dos homens dele que levaram os dementadores para lá. - Draco continuava com o olhar perdido no horizonte, ainda não estava pronto para encarar Ella quando tocava naquele assunto, não depois de um dia tão longo como fora aquele. Estava cansado de problemas, uma vez na vida queria ir dormir à noite com ente vazia, sem nada lhe rondando a mente. - Você viu somente dementadores.
          - Mas ele estava lá, Nixon estava observando de alguma maneira. - o tom de Draco estava mais raivoso agora.
        - Por que ele estaria lá? - perguntou Ella , ficando lado a lado do pai.
        - Para observar você em ação, descobrir seus pontos fracos. E, claro, ver como os aurores se comportam em uma situação de alerta. 
        Ele tinha um ponto, isso não negava. Se Nixon quisesse fazer qualquer coisa durante a confusão com os dementadores, ele teria feito, ainda mais porque todos estavam ecupados defendendo a própria pele. Se por acaso ela sumisse durante a batalha, provavelmente ninguém daria falta até que tudo estivesse acabado.
         - Pedi para o Potter lhe afastar temporariamente. Você não irá para o campo até que tudo esteja terminado. - notificou Draco, encarando Ella pela primeira vez naquela conversa. Seus olhos cinzentos estavam mais frios do que nunca, aquilo era sinal que ele não voltaria atrás.
         - O que? Você...você... porra! - bradou Ella, irritando-se completamente. - Você não tinha tal direito!
         - Não tinha, mas o Potter concordou. - ele continuava com o mesmo tom de voz. Não iria começar a gritar ali, não com Ethan perto. Recentemente, Draco percebeu que o neto ficava chateado quando o via gritando com o mundo a fora, então decidira parar. Agora só levantava a voz quando ele estava longe.
         - Isso não é justo!
         - A vida não é justa, Ascella. - Draco sorriu de escárnio.
         - Eu tenho tanto nomes para lhe chamar na minha cabeça nesse momento, só não começou com o da letra 'F' porque Ethan está ali do lado. - ameaçou a loira.
         - Acredite, já devo ter ouvido coisas piores. - ele deu de ombros, e andou dois passos para trás.  - Não adianta ficar nervosa, nada mudará a decisão do Potter.
         - Eu realmente te odeio nesto memento. - falou Ella, lançando um olhar feito ao pai, que apenas riu. Já estava mais do que acostumado com aqueles olhares. - Antes de ir... como está mamãe?
         - Nada bem. - ele tornou-se sério novamente. - Vá à Mansão amanhã, ela tem saudades. E eu não mencionei suas aventuras com os dementadores, então faça o favor de fazer o mesmo.
         - Estarei lá por volta do meio dia.
         - Ela ficará feliz. - em seguida, Draco voltou para o apartamento para se despedir de Ethan.
         Ella voltou a encarar o restante de luz no horizonte. Faltava muito pouco para a esturidão tomar conta da cidade, muito pouco.
 
         A luz do despertador era irritante, ainda mais porque quando sua visão conseguiu focar o objeto, Ella percebeu que eram apenas três da manhã naquela quarta-feira. Se não conseguisse voltar a dormir, já sabia o quão longo seria aquele dia, ainda mais sem poder botar os pés para fora do Ministérios, graças à estupidez do pai.
        Não demorou nem um segundo para notar que havia mais alguém naquele quarto. De início, pensou que fosse Albus, afinal, ele estava pegando a péssima mania de aparecer de suspresa em seu apartamente, mas aqueles fios platinados não pertenciam à Albus.
         O homem estava sentado na cadeira junto à escrivaninha, sendo banhado pela luz do luar. Ele mantinha o olhar baixo, encarando o chão, e com as duas mãos apoiando a cabeça. Ella não pôde ver sua face até ele levantar os olhos para encará-la.
         Nenhuma palavra foi dita, e Ella sabia perfeitamente o que estava acontecendo. As lágrimas finas de Scorpius escorriam pelo seu rosto magro, e quebravam-se no chão de madeira do quarto. O irmão tinha uma expressão de dor que poucas vezes mostrava, seus olhos cinzentos, agora irritados com o choro silencioso, transferiram quase como um raio tudo que ele sentia. Aquela dor lhe atingiu quase como um baque, fechando sua garganta com aquela imensa vontade de chora, de berrar.
         Ella só sabia de uma coisa: sua mãe se fora para não voltar mais.



O QUE ACHARAM DA NOVA CAPA?
ALBUS SO FUCKING HOT, NE?! XD

N/Autora: Desculpa pela demora, pessoal, mas sabem como é corrido fim de ano. Podem dizer, eu fui uma sacana de ter matado a Astoria, né? HAUHAUAH - olhar maligno - eu tenho certeza que vou me divertir lendo os comentarios indignados ^^ . Eu sei que o vídeo antiguinho, mas vc gostaram? Deu um trabalho TÃO grande para fazer, auhaua, mas enfim, tudo deu certo, além do que eu amo a música qie toca. Own, eu quero um Ethan para mim, rsrs, apensar de eu ser uma negação para fazer criança, eu adoro o mascote Malfoy, rsrs. Bom, espero que tenham gostado desse capítulo, e espero comentário também. Agradecimentos à Vivika Malfoy, beta queria, com que tenho feito planos malígnos para o próximo capitulo via emails, HAUHAUA. Sim, planos mtt malignos. Hei de fazer a todos chorarem no 8, rsrs. Acho que é só. Muito obrrigada pelos votos e comentários, assim vocês contribuem com a campanha FLF ( Faça a Lyra Feliz ;D).


Nota: Brazil...52 dias
ja tou de saco cheio de neve, ow!!!

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