O Terceiro Dia



Capítulo 12 - O Terceiro Dia


 


          Não sabia exatamente onde estava, mas aquele parecia um bom lugar. A dor não se alastrava mais em seu corpo, e se tentasse, provavelmente conseguiria mexer a perna direita novamente. Os barulhos de carros ao longe, a irritante goteira e o odor de esgoto também deixaram de existir. Não iria se espantar se tudo aquilo não passasse de um sonho, apenas um sonho ruim.  


          Mas sabia que não foi um sonho. Viu com os próprios olhos a maldição da morte sair da sua varinha e abater Nixon no meio do peito. Presenciou a chuva de feitiços entre aurores e os capangas de Nixon. E o mais importante, lembrava-se de Albus e Morgan livrarem-na da morte duas vezes naquela noite. Na primeira vez, quando Albus desatou as cordas e a tirou de lá antes que Nixon voltasse para matá-la ; na segunda vez Morgan matou um dos de Nixon antes que o bruxo completasse o Avada que atingiria Ella em cheio.


           Depois que vira Nixon cair, as memórias se tornaram turvas e não conseguia se lembrar dos acontecimentos posteriores. E por isso temia abrir os olhos. Curiosidade e medo travavam uma batalha em sua mente, e quando a primeira triunfou, Ella se deu conta que não conseguiria manter mais os olhos selados, protegendo-a do que quer que fosse.


           A primeira visão foi de um grande clarão, e quando seus olhos acostumaram-se com a claridade do ambiente, Ella pôde ver onde estava. Era um quarto de hospital similar ao que estava da última vez que foi internada no St Mungos. Branco, com detalhes de madeira clara na lateral na parede e uma grande janela no outro extremo do cômodo provocando aquela claridade irritante. Ao fundo, junto à porta, havia uma pequena mesa, que sobre ela um vaso azul de flores com suas favoritas, lírios, dava um pouco de vida ao lugar. Mas o que mais a chamou a atenção foi o homem magro, de cabelos finos e prateados com vestígios de calvície, e profundos olhos cinzas e frios. A atual aparência do pai era irregular à usual, as vestes estavam um tanto amarrotadas, olheiras cobriam abaixo de seus olhos, tinha um ar extremamente cansado e alguns curativos cobriam seu rosto e mãos.


           - Oi, pai. – a voz de Ella saiu rouca pela falta de uso. – O que há de novo?


           - Três dias deitada nessa cama de hospital após uma experiência de quase morte e é essa a primeira pergunta que você faz? – em seus lábios finos um pequeno sorriso enquanto ele meneava a cabeça.


           - Três dias é uma longa soneca. – brincou a loira.  


           - Hibernação seria o termo mais apropriado. – ele levantou-se da cadeira ao lado da cama onde estava sentado desde o início da manhã, e vendo a feição confusa e indignada da filha, acrescentou: - Vou avisar aos médicos que está acordada.


           Draco deixou o recinto e Ella sozinha na sala.


           Suspirou. Não era à toa que seus músculos pareciam travados. Três dias era tempo demais. Fez um leve esforço e conseguiu sentar-se na cama. Assim como o pai, Ella estava com curativos espalhados pelo corpo. Quando abriu um deles, viu que os cortes já estavam cicatrizados e os roxos sumiram. Sua pele era lisa e alva novamente.


           - Senhorita Malfoy. – um homem alto, na faixa dos quarenta, completamente calvo e com óculos que lembrava aos de Albus Dumbledore nos retratos, entrou no quarto, seguido por Draco, que permaneceu junto à porta. – Sou o curandeiro Gail. Como está se sentindo?


           - Sem dores. E para ser honesta, bastante faminta também. –respondeu Ella com sinceridade. Percebeu isso somente quando sentiu um rugido vindo da barriga pouco antes do curandeiro entrar.


           - Isso faz parte da recuperação. – ele sorriu bondosamente. – Alguma queixa?


           - Eu já posso ir embora? – Ella via que aquela conversa iria demorar, então preferiu encurtá-la. Três dias foram mais do que o suficiente para se recuperar, e agora o que mais queria era deixar aquele hospital.


           - Iremos fazer mais alguns exames para ver como você está, e for confirmado que a senhorita não ficou com nenhuma seqüela, poderá ir para casa. – enunciou o curandeiro, rabiscando a prancheta que carregava quando entrou no quarto. – Tenham um bom dia.


           O curandeiro Gail saiu da sala, deixando Ella e Draco sozinhos novamente. A loira observava o pai ao longe. Ele estava inquieto, e se estivesse correta, Draco estava segurando para falar algo. Ou melhor, perguntar algo.


           - O que foi, pai? – Ella sentou-se de pernas cruzadas na cama. O estralo dos joelhos dobrando ecoaram pelo quarto silencioso, e uma pequena pontada no local incomodou Ella por alguns instantes, e logo cessou. – Fala de uma vez o que quer.


           Ele deu alguns passos, se aproximando da cama. Sentou-se na mesma cadeira na qual passou a manhã inteira e encarou os olhos acinzentados idênticos aos seus. Suspirou pesadamente, e finalmente sua voz dominou o ambiente silencioso.


           - Como exatamente aconteceu? – ele perguntou.


           - Foi tão rápido que eu não tive tempo de pensar. Eu precisava sair da Mansão naquele momento, senão iria enlouquecer. Fui para um lugar perto da minha casa, para ler a carta que a mamãe deixou para mim. No segundo seguinte, tudo ficou negro. Os filhos da puta me atacaram por trás. – Ella ainda estava enraivecida com a covardia daqueles malditos. Não foram homens o suficiente para duelar com uma única mulher.


           - Então você não teve chance de se defender. – concluiu Draco.


           - Acredite, pai, se eu tivesse notado a presença deles, não estaria nessa cama de hospital. – disse Ella com confiança. Provavelmente não estuporaria todos, mas tinha certeza que conseguiria escapar aparatando.


           - Você é muito cheia de si. – Draco riu ao ver o sorriso convencido nos lábios da filha.
           - Como se o senhor não fosse também. – Ella calou-se por um momento. A pequena pergunta que não se calava em sua cabeça finalmente ficou mais alto não lhe deixando outra alternativa a não ser pô-la para fora de sua mente. – Como... Como aconteceu? Digo, como conseguiram me encontrar?


           - Agradeça ao seu irmão. – disse Draco.


          - Scorpius. Eu ainda não entendi.


          - Aparentemente, vocês têm uma ligação. Uma ligação que pode ser até mais forte que a sanguínea. – contou Draco. Ele passara os três últimos dias pensando naquilo, e finalmente chegara àquela conclusão na tarde anterior. Sabia que seus filhos eram próximos, mas não daquela maneira.


           - O senhor é uma benção para explicações. – ironizou Ella, fazendo Draco revirar os olhos em resposta.


           - Eu não sei explicar, nem mesmo Scorpius sabe explicar o que houve. – falou Draco, sincero.


           - Por que não tenta? – pediu a loira.


           - Ele sonhou como se estivesse em uma penseira. Como se estivesse com você no exato momento em que você falava com Nixon. Ele presenciou a cena inteira, até o momento em que Nixon bateu em seu rosto e você perdeu a consciência. – Draco parecia um tanto enraivecido ao relatar o final. Embora a cicatriz e o hematoma não estivessem mais ali, ele a havia visto quando viu o filho de Potter carregando-a. O sangue estava seco, e próximo ao local da agressão, um enorme hematoma sobressaia sobre a pele branca dela.  


           Ella piscou confusa algumas vezes até que a informação fosse assimilada. Nunca havia ouvido falar de algo assim, mas estava feliz que aconteceu. Se Scorpius não tivesse visto o que aconteceu, provavelmente à essa hora o corpo sem vida de Ella estaria sendo jogado à frente do portão da Mansão, em sinal de aviso para o pai.


           Não iria compartilhar a informação com o pai ou com ninguém, mas tinha passado pelos seus pensamentos na noite anterior que não sairia com daquele labirinto de pedra. E pela primeira vez na vida, estava aliviada por ter sido socorrida a tempo.


           Olhou para o pai e fez um sinal silencioso para ele continuar com o relato.


           - Ele saiu no meio da noite, foi ao seu apartamento e o encontrou vazio. Mas o pânico veio quando bateu à porta do seu amigo Morgan e você não estava lá. A garota Potter estava lá, e se ofereceu para verificar na casa do irmão. – nesse momento, Draco fez uma careta e Ella meneou a cabeça em negativa. – Quando ninguém conseguiu encontrar você, foi que ficamos alarmados. Scorpius veio me falar, enquanto o jovem Potter foi comunicar ao pai que o que esperávamos acontecer em meses, já estava em andamento. Uma hora depois, os três esquadrões de aurores estavam caminhando sobre a água imunda do esgoto londrino.


           - Conseguiram pegar todos? – indagou Ella.


           - Um ou outro conseguiu deixar o esgoto, mas após o interrogatório, Potter conseguiu os nomes e começou a busca. Dois estão foragidos, mas há vestígios deles em uma cidade próxima de Londres. – ele viu o semblante da filha mudar, mudar para pensativo. Ella planejava algo. – Nada para você se preocupar. Eles têm tudo sob controle.


           - Mas pai. – Ella choramingou em um tom muito fino, lembrando ao de uma criança.


           - Nem que eu permitisse que você deixasse esse hospital neste momento para ir atrás desses dois, você não passaria do corredor. Potter a barraria em um instante. – contou Draco, rindo da descrença que atacou as feições da filha. Pela primeira vez, tinha de concordar com o chefe dos aurores: Ella precisava de pelo menos uma semana longe daquele Ministério. Mesmo que ela não quisesse, era necessário.


           - Tenho certeza de que se eu estivesse ajudando nas buscas, já teriam pego os dois fujões.


           - É bom ver que sua confiança não foi abalada nesse incidente. – Draco rolou os olhos, e fez sinal para ela calar-se. Assim continuou a narrar os acontecimentos de três dias atrás. – O resto está preso e aguardando julgamento. Eles esperam que você deponha contra eles.


           - Mas é óbvio que eu vou depor. Não vou negar minhas memórias, não nesse caso. Nixon pode ter ido para o saco, mas nenhum outro daquele grupo de miseráveis irá se safar da prisão.  


           - Assim que sair daqui, reportarei ao Departamento Jurídico. – enunciou Draco. – O julgamento deverá ser marcado para amanhã. Estavam esperando você acordar.


           Uma leve batida na porta os fez calarem por um momento. Dois jovens homens vestidos de branco estavam parados junto à porta.


           - Senhorita Malfoy, fomos requisitados pelo curandeiro Gail para realizar os exames restantes. – o curandeiro mais alto, de pele muito escura e olhos negros deu alguns passos à frente e colocou uma pequena caixa branca sob a mesa no pé da cama.


           - Senhor Malfoy, pedimos que se ausente por alguns minutos. – o outro curandeiro tinha as faces redondas e rosadas, o nariz abatatado, lembrando levemente um suíno. – Garantimos que não irá demorar.


           Draco se levantou da cadeira e ia começar a se afastar da cama, mas Ella o segurou pela mão.


           - Essa dúvida vem me assombrando desde eu recuperei a consciência. – ela soltou a mão do pai, que permaneceu parado junto à cama. – O que Nixon ameaça era verdade? O encanto?


           - Em parte sim. Ainda estão analisando o material. – Draco aproximou-se da cama e abaixou-se até que seus lábios finos e secos tocassem o tomo da cabeça loira da filha, beijando-a rapidamente. Aquele pequeno gesto surpreendeu tanto ele quanto a própria filha, pois há anos não o fazia. – Mais precisamente, o Potter do meio está fazendo a análise, junto com mais uma equipe de especialistas.


           Antes que houvesse tempo para Ella fazer mais perguntas, Draco deu alguns passos para trás, rumando na direção da porta. Passou ligeiro para o lado de fora, não deixando Ella fazer uma última indagação.


           Suspirou. Já havia estado naquele hospital tantas vezes que já perdera a conta há anos, devido à esposa e sua condição delicada. Porém foram exatas cinco vezes que o trouxe ali por causa dos filhos. Na primeira vez, quando Scorpius ainda não tinha completado um ano e meio e sua garganta fechou após comer um pedaço de uma bolacha mágica de cribbage que pegou da mesa quando ninguém estava prestando atenção. Às vezes restantes foram de Ella. Lembrava-se quando a filha meteu-se em uma briga com o irmão e caiu, em uma pedra, causando um profundo corte no joelho e um galo na testa. Ou quando caiu da vassoura enquando Scorpius tentou lhe ensinar a jogar e perdeu a consciência, assim resultando à sua aversão ao jogo e a vassouras. Outra vez, pouco antes de completar dez anos, a filha foi diagnosticada com varíola de dragão e passou quase uma semana em observação no hospital. Ainda naquele ano, Ella passara pelo hospital após o incidente com os dementadores. E, por fim, aqueles três últimos dias no St. Mungos formavam total de seis.


           Aquela, obviamente, fora a pior de todas. Embora não demonstrasse, fora extremamente agonizante ver a filha sem mexer um músculo durante aqueles três dias. Quando o jovem Potter a trouxe para o hospital, depois que a situação nos esgotos estava sob controle do pai deste, Ella já havia perdidos os sentidos e, pelo que o curandeiro falara, o corpo delicado e pequeno da filha estava tomado pela a exaustão. Draco sabia que Ella não tinha ferimentos graves, ela mesma o assegurou disso, mas o fato da filha ter passado tão próximo da morte o abalou. Ainda não completara uma semana desde que a esposa o deixara para sempre, seria injusto perder a filha também. Como sua mãe costumava dizer: “Jamais um pai deveria enterrar um filho”. Somente agora Draco compreendia isso.


          Parou de procurar o filho mais velho pelos corredores. De certo ele ainda não retornara, o que era bom ao seu ver. Alguém tinha que checar a empresa enquanto estivesse ausente. Aquele tipo de experiência era, de certa forma, necessária. Em alguns anos seria Scorpius quem tomaria conta do império Malfoy sozinho, pois não podia contar com Ella para isso. Desde que a filha enunciara que seguiria a carreira de auror, Draco sabia que seu único sucessor nos negócios seria Scorpius.


           Mais à frente, notou um grupo familiar que tentava, sempre que podia, evitar. Eram quatro pessoas, os três mais velhos foram seus antigos colegas de escola e o último restando era o individua que mais tinha vontade de azarar, depois de Nixon, obviamente. Harry Potter o notou primeiro. Fez sinal para os outros três fazerem o mesmo, assim interrompendo a conversa com os demais.


            Draco suspirou, cansado. Começou a caminhar na direção do grupo, contra sua vontade. Não queria estar ali e fingir ser cordial. Tinha um dos antigos apelidos maldosos de Potter entalado no meio da garganta, esperando para ser posto para fora, mas não o fez. Apesar de ainda detestá-los, admitia estar em dívida eterna com Potter. Se ele não tivesse agido de forma tão rápida e eficiente, talvez Ella não estivesse viva naquele momento.


           - Potter, Weasley, Granger. – ele cumprimentou lacônico.


           - Ela acordou? – perguntou Harry ao loiro à sua frente.


           - Há uns vinte minutos. – respondeu ainda sem demonstrar expressão alguma, mas notou que as dos outros se tornaram mais leves. – Estão finalizando com os testes.


           - Poderá depor amanhã no Ministério? – o homem ruivo indagou, depois recebendo um olhar feio da esposa. – O que foi?


           - Céus, Ron! Você consegue ser tão insensível às vezes. – ela revirou os olhos, meneando a cabeça. – Fico feliz em ouvir que ela está bem, Malfoy. Importa-se eu reportar ao Ministério que Ascella já recuperou os sentidos, ou prefere esperar mais algumas horas?


           - Vá em frente, Granger. – disse Draco. A mulher parecia não se incomodar em ser chamada pelo nome de solteira, e Draco também não se importava se ela achasse ruim. Velhos hábitos não morrem, que por mais que os anos passassem, ainda não conseguia vê-la como uma típica Weasley. Faltavam as madeixas avermelhadas e as sarnas por todo o rosto.       


           Ela assentiu levemente com a cabeça e virou-se para o marido.


           - Vamos. – ela pegou o braço de Ron e começou a puxá-lo para este se apressar. – Vejo vocês na Toca. – disse, virando-se para Harry e o sobrinho.


           - Você é um pé no saco, Hermione. – disse Ron, ganhando distância dos que ficaram para trás.


           - Deixe de reclamar. – e assim os dois viraram o corredor e sumiram de vista.


           Draco encarou os dois restantes e suspirou. Iria se arrepender amargamente disso, mas ao menos faria Ella se sentir melhor. Respirou fundo e virou-se para o Potter mais novo.


           - Os exames acabarão logo, e ela o está esperando. – falou, praticamente atirando as palavras sobre o rapaz.  


           - Obrigado por avisar. – agradeceu Albus. O jovem lançou um olhar significativo ao pai, que apenas assentiu com a cabeça, depois deu alguns passos e começou a se afastar do grupo.


           - Antes de ir, - Draco o chamou a atenção mais uma vez. Caminhou até onde o moreno estava parado e entregou o pedaço de papel amassado que tirou do bolso do sobretudo. – isso pertence à Ella.


           Albus assentiu e pegou o pergaminho, depois sumiu dali tão rápido quanto os tios fizeram há poucos segundos.


           Draco queria ter entregado a carta quando Ella estivesse em casa, mas não cabia à ele decidir isso. Admitia que não ficou muito satisfeito com seu ato, porém seria bom para a filha. Algo para se animar no meio daquele pandemônio.


           Encarou o moreno de olhos verdes pela primeira vez naquele dia. Ao contrário de Draco, que precisava desesperadamente de um banho e cama por várias horas, Harry parecia bem, mais relaxado que há três dias. E pelas feições satisfeitas em seu rosto, carregava boas notícias consigo.


           - Alguma atualização? – perguntou Draco sem demora.


           - Achamos um dos que fugiram. – contou em tom animador. – Stanley Paul. Já está preso e aguardando pro julgamento, assim como os outros. Creio que ele nós dará a peça que falta para capturar o que último deles.


           - Onde o encontraram?


           - Na própria casa dele. – Harry não conseguiu esconder o sorriso. – Ele tinha uma saída preparada casa algo desse errado. Uma chave de portal para um fim de mundo qualquer. Mas nós o pegamos antes que conseguisse desaparecer mundo afora.


           Draco não se preocupava com o restante do grupo, o que lhe trazia dor de cabeça era Nixon, e este já estava a sete palmos. Os outros não passavam de meros peões.


           - Sempre soube que os Paul eram estúpidos, mas este me surpreendeu. – comentou, revirando os olhos em seguida. – Algo mais que eu deva saber?


            - Você não precisava ter feito o que fez. – disse Harry, fitando por onde o filho havia sumido de vista. – Albus poderia ter esperado-a sair do hospital.


            - Considere isso como o início do pagamento da minha dívida com você. –  e como aquela dívida era extensa. Vinha se arrastando desde Hogwarts. – Ella sabe que não aceito isso, e talvez nunca irei aceitar.


            - Algum dia você irá se acostumar com a idéia, Malfoy. – Harry riu levemente, meneando a cabeça.


            - Não segure o fôlego enquanto espera. – Draco abriu um pequeno e quase imperceptível sorriso. Depois de tudo o que aconteceu naqueles últimos dias, Draco sabia que nada tinha a fazer à respeito do novo namorado da filha, mas isso não significava que estava de acordo com as decisões dela.


           O silencio voltou a pairar no corredor, exceto pelos barulhos vindos dos quartos com as portas entreabertas. Draco não tinha o que dizer, e isso o forçava a rir internamente. Se fosse nos anos de escola, já teria uma possível ofensa na ponta da língua, mas o tempo o ensinou a dobrar a língua em certas ocasiões. Realmente detestava estar naquela posição, em dívida com alguém. E como não havia como pagar essa dívida naquele exato momento, tinha de segurar a língua mais uma vez.


            - Potter, você sabe que eu não vou agradecer. – disse Draco.


            - Eu sei que não. – Harry sorriu mais uma vez, depois lançou quase que um olhar terno para onde o filho tinha sumido de visto há instantes atrás. – Seu sangue pode estar correndo nas veias daquela jovem, mas, acredite, ela é família para nós. Eu o teria feito com ou sem o seu pedido.  


            Draco assentiu silencioso. Não tinha palavras naquele momento. E ainda estava inconformado com o que o moreno acabara de dizer. Sua pequena garota jamais seria uma Potter, não ao seu ver. Sentia leves arrepios ao pensar em um futuro envolvendo sua filha e a cria do homem à sua frente. Nunca estaria psicologicamente preparado para ter netos com os traços de seu antigo rival.


           - Checarei com Departamento Jurídico o local e a hora do julgamento, e mandarei alguém avisá-lo. – enunciou Harry, quebrando a segunda onde de silencio formada durante aquela conversa. – Mande minhas lembranças à Ella.


            Harry girou os calcanhares e saiu andando na mesma direção que Ron e Hermione, deixando Draco à só no meio do corredor.


            Respirou aliviado pelo outro ter ido embora. Se aquilo continuasse se prolongando, encontraria uma desculpa esfarrapada e deixaria o moreno falando sozinho.


           Olhou para o relógio. Há tempos, a hora de almoço se passou, e mais uma vez não havia comido. Pular o almoço se tornara um hábito depois da recaída de Astoria. Era desconfortável sentar naquela longa e vazia mesa e almoçar sozinho. Scorpius nunca retornava à Mansão na hora do almoço e Ethan não tinha idade para comer à mesa, pois sempre acabava brincando com a comida e sujando as toalhas que cobriam o móvel durante as refeições.


           Pela primeira vez em dias sentiu poder fazer uma refeição em paz. E isso trazia o fome. Assim como o pai, não conseguia ingerir praticamente nada quando tinha a mente ocupada com inúmeras preocupações.


           Suspirou cansado. Ella estava bem, e tinha companhia naquele momento. Não havia mais o que fazer naquele hospital. Finalmente poderia ir retornar à Mansão para um longo banho e uma refeição decente. Lançou um último olhar à porta do quarto de Ella, depois seguiu para o hall do hospital, e assim rumaria para casa.


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            - Então? Eu posso ir embora? – continuou persistindo como uma criança querendo doce. O curandeiro com o nariz de porco sorriu e estendeu um copo contendo um líquido avermelhado dentro. Ella torceu o nariz, sabia exatamente o que era aquilo e por quanto tempo sentiria aquele gosto asqueroso na boca. – Eu não preciso mais de poções. Já me recuperei.


            - Você certamente foi uma das pacientes mais difíceis que já tivemos. - disse o outro curandeiro enquanto arrumava a maleta de medicamentos.


            - Eu tenho essa fama. – esbanjou um sorriso satisfeito. – Vou poder ir para casa agora?


            - Passaremos o relatório ao curandeiro Gail e ele a liberará. – explicou o rapaz que a lembrava a um suíno. – Você entrega o relatório ao Gail, Karl? Eu vou checar o próximo paciente.


            - Pode deixar, Donny. – disse, recebendo a prancheta de metal que o outro lhe entregara antes de sair do quarto. Ele fechou a maleta branca e pôs a ficha embaixo do braço ocupado e estendeu a mão livre à Ella, depois sorriu. – Foi um prazer, senhorita Malfoy. Espero não vê-la por aqui novamente.


            - Se depender de mim, não me verá tão cedo, Karl. – Ella retribuiu o sorriso.


            O segundo curandeiro se foi, deixando Ella sozinha pela primeira vez desde que acordara. Respirou fundo foi expirando lentamente. Era tão diferente, toda aquela calmaria, o silêncio e a sensação que as preocupações acabaram. Com o trabalho, situações como aquela raramente aconteciam, embora quase nunca tenha passado por um alerta vermelho, mas sempre tinha a expectativa que algo desastroso ia acontecer, necessitando assim dos aurores.


            E embora fosse bom viver sem seus problemas, seria ainda pior passar mais tempo naquele cubículo claro e silencioso. Correu os olhos pelo cômodo, a procura de uma muda de roupas ou sua varinha. Nada foi encontrado.


            - Eles recolheram suas roupas. E a varinha está guardada. – uma voz conhecida .


            Virou-se para porta e avistou o dono da voz. Albus estava parado, observando-a.


             - Bom saber, porque eu já estava considerando sair por essa porta vestida com essa camisola horrenda que mostra coisa demais.  – brincou Ella, exibindo um sorriso. Parecia que fazia meses, não dias que não sorria daquele jeito. O jeito tão sarcástico e irônico.


            Ella estendeu a mão direito e fez sinal para ele se aproximar.


            - Que bom que eu cheguei na hora certa para impedi-la. – sorriu enviesado e enlaçou os dedos de ela com os seus. Sentiu ela puxando-o para mais perto, e não protestou. Sentou na beirada da cama, mas sem soltar a mão.


             - Você não devia ter descido lá embaixo. – a voz de Ella agora saía baixa e fininha. Não era exatamente um assunto que queria tocar naquele momento, porém, provavelmente não haveria uma hora melhor depois. – Foi estupidez, Albus. Algo podia ter acontecido. Por que você simplesmente não podia ter deixado nas mãos dos aurores?


            Falando daquele jeito, qualquer um pensaria que estava sendo ingrata. O homem à sua frente arriscou a própria vida para salvá-la e recebia uma bronca em resposta. Mas isso não fazia parte do raciocínio na cabeça de Ella. No tempo que ficara em cativeiro, Albus era um dos que estavam no topo de seus pensamentos. Pensava na possibilidade de não reavê-lo, e assim que o viu no meio de todas aquelas azarações e pessoas com a intenção de matar, aquela  possibilidade retornou à sua cabeça. E foi então que sentiu medo. Se alguma coisa tivesse acontecido  à ele lá nos esgotos, teria sido por sua causa, e Ella não tinha idéia de como lidar com isso.


            - Ella, será que até agora você não entendeu? – Albus soltou sua mão e a levou até o rosto de Ella, conte acariciou suas bochechas. – Você já é parte da minha vida. Eu não deixaria na mão de outros algo que eu já não consigo mais viver sem.  


            Ele puxou o rosto dela gentilmente para perto do dele, até seus lábios se unirem. Foi um beijo suave, sem toque de língua, mas ainda assim, provocou um leve arrepio nas costas da loira. Embora fossem apenas três dias que não o via, tinha a impressão que não o beijava por semanas.


             Albus recuou a cabeça, terminando o beijo. Levou sua mão até o bolso do casaco, onde estava a carta que pertencia à Ella. Estendeu o envelope amassado e um pouco sujo. Ella logo reconheceu a letra de sua mãe e a carta que não acabara de ler. A loira fez que não com a cabeça, recusando a carta.


            - Leia pra mim, por favor? – pediu.


            Albus a fitou, como se perguntasse se  ela tinha certeza do que acabara de pedir. Ele estava de fato surpreso. Ella era de certa forma um pouco fechando quando se tratava da família. Em especial da recendo morte de Astoria. Mas uma coisa ele admitia: estava feliz por ela se abrir com ele, mesmo que aos poucos.


            - Depois não venha ficar brava comigo se sua mãe contou algo embaraçoso sobre você, e que eu não devia saber. – falou Albus, com um sorriso matreiro nos lábios.


            Ella revirou os olhos, meneando a cabeça.


            O moreno limpou a garganta e deu início a leitura da carta.


 


            Minha querida Ella,


todos nós sabemos que meu tempo aqui se esgotou. Mas fico satisfeita em dizer que durou mais do que eu esperava. Minha menina, sei que ainda não está conformada com minha ausência definitiva, e conhecendo como a conheço, talvez nunca irá se conformar. Eu aceitei minha sina, e peço que faço o mesmo.


 


Queria ter mais tempo para ver o seu futuro. Sinto não poder estar presente no dia em que se casar, em que tiver seu primeiro filho, em que obtiver uma nova conquista.Não estarei ai com você, mas tenho certeza que se sairá bem. Não se preocupe, qualquer que seja seu futuro, ele será brilhante, e lhe digo isso confiante.


 


Peço para que não feche seu coração para seu pai ou seu irmão. Vocês precisam ficar juntos em um momento como esse. Seu pai precisa de você nesse momento, mais do que ele mesmo imagina. Scorpius não é diferente. Não o deixe recorrer a fuga como ele sempre faz quando tragédias acontecem. Deixe-o apoiar-se em você, assim como você deve fazer o mesmo com ele.


 


Como já disse várias vezes enquanto estive viva, estou profundamente orgulhosa de você. Não tenho ressentimento em deixar esse mundo, pois sei que fiz um bom trabalho com você e seu irmão. Você cresceu e se tornou uma jovem mulher formidável . Forte e independendo, do mesmo jeito de quando ainda era criança. Não deixe que esse jeito turrão herdado de seu pai a atrapalhe a abrir seu coração para novas experiências. Estou profundamente satisfeita por você ter deixado o jovem Potter entrar em sua vida. Talvez com ele, você encontre a mesma coisa que eu encontrei com seu pai.


 


Por fim, quero que  sempre se  lembre do quanto eu te amei incondicionalmente. Prometa que irá cuidar dos nossos garotos, e o mais importante, que será feliz.


 


Com amor,


Sua mãe


 


            A voz de Albus morreu com a última palavra. Ele fitou a loira com um olhar tristonho. Sentiu seu coração parar ao ver o estado vulnerável dela. Os olhos cinzentos estão marejados, e Ella se segurava bravamente para não chorar.


            Ele abriu um fraco sorriso, e deixou a carta do lado da cama. Com as mãos livres, puxou o corpo amolecido da namorada para junto de si. Aquele abraço terno  foi o suficiente para fazê-la soltar-se


           As lágrimas corriam silenciosas pelo rosto de Ella, e morriam ao chegar no queixo. Pela primeira vez durante aquela confusão dos últimos dias, se dera conta que sua mãe se foi para não mais retornar. Nunca sentiu uma dor tão forte alastrar-se em seu peito. Até mesmo quando estava sendo torturada por Nixon, doeu-lhe menos. Ao menos com Nixon, Ella tinha certeza que a dor cessaria uma hora ou outra.


           Era um pouco reconfortante ter Albus ali do lado, ao invés de seu pai. Talvez fosse pelo fato dela nunca tê-lo visto tão vulnerável, mas acharia extremamente desconfortável se tivesse desabado em lágrimas na frente de Draco Malfoy. Tinha certeza que carregava um pouco dessa frigidez dele, mas seu pai era uma rocha. E embora não parecesse bom aos olhos de alguns, Ella considerava essa frieza uma grande força.


           Ficou agarrada a Albus por mais longos minutos, até se acalmar. Também considerava da possibilidade de suas lágrimas terem secado. Não chorara igual no dia em que recebera a notícia, mas aquela vez chegou perto. Suas mãos libertaram o braço de Albus, o qual ela havia permanecido agarrada o tempo todo, e com a ponta dos dedos, limpou as lágrimas restantes. Agora tinha a sensação de ter tirado alguns quilos das costas. Sentia-se mais aliviada, como se tivesse desabafado por horas.


            - Melhor? – perguntou Albus. O moreno conjurou uma caixa de lenços, e a entregou à Ella, que sorriu em agradecimento.


            - Muito. – ela confirmou com um aceno. – Acho que precisava disso mais do que dei conta.


            - Eu realmente sinto muito, Ella. – o tom de voz dele era sério, mas de uma certa maneira, reconfortante também. – Por tudo o que aconteceu. Foram dias terríveis para você.


            - Acho que foram dias terríveis para todos nós. – Ella sorriu levemente, estendendo o braço que sua mão tocar no rosto não tão de menino dele. Não havia notado antes, mas pela primeira vez, o via com o rosto áspero causado por uma barba mal feita. – Não sabia que você podia crescer barba. – disse a loira em um tom brincalhão.


            - Muito engraçado, Malfoy. – ele revirou os olhos, depois sorriu. – É mais uma questão de escolha, não sei se você me entende.


             - Tenho que admitir: você fica um charme de barba. – a loira continuou roçando a ponta dos dedos no maxilar dele. Ao mesmo tempo, voltou-se a aproximar do corpo de Albus.


             - Guardarei essa informação na minha memória. – ele sorriu enviesado e passou um dos braços ao redor da cintura de Ella. E sua mão livre encontrou a dela.


              Ella deu o primeiro passo e apenas tocou os lábios dela nos dele, mas fora Albus que aprofundara o beijo. Era como um fio de eletricidade tivesse passado para ela cada vez que ele a beijava daquela maneira tão fervorosa, tão necessitada. Era quase como um vício.


              Antes que eles começassem a passar para a próxima fase, Ella interrompeu o beijo, gerando uma leve indignação da parte dele. Levou alguns segundos para recuperar o ar, mas quando sua voz estava apta novamente, pediu:


             - Me leve para casa.


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             Era reconfortante ver seu reflexo no vidro e não estar usando vestes de hospital. Albus havia lhe trago uma muda nova de roupas, que envolvia uma calça jeans, camiseta branca, e uma jaqueta de couro. Deixara o St Mungus parecendo uma trouxa. 


           Lançou um olhar significativo à Albus. Ele deu de ombros, depois virou-se para a balconista, provavelmente indo reclamar da demora do pedido. Aparataram ali perto, e pararam para comprar um chocolate quente e algo para levar para casa. Ella ainda sentiu seu estômago roncar de vez em quando.


            Estava parada perto da porta de vidro. Observava o pouco movimento da calçada. Albus contou-lhe ao deixarem o hospital que era domingo, então não era a toa às ruas estarem menos movimentadas, ao contrário daquele café. Ella sempre passava naquele lugar nos finais de semana. O café era excelente, assim como o resto do cardápio. E o melhor era que ficava apenas um quarteirão do prédio onde morava.


           - Aqui o seu. – Albus ofereceu-lhe um dos copos . – Coloquei um pouco de canela.


           - Querido, você é um comprador de chocolate quente muito melhor do que Morgan. – Ella revirou os olhos, depois começou a soprar o liquido quente do copo. Ganhara prática com o tempo, antigamente sempre acabava queimando a língua. – Ele sempre esquece a canela.


           Albus abriu um sorriso, depois meneou a cabeça. Passou o braço livre ao redor dos ombros de Ella, e a guiou para fora do recinto movimentado.  Ele estava com uma pressa incomum para chegaram logo ao apartamento de Ella. Era comum ela apressar para voltarem para casa.


           A rápida caminhada até o prédio de Ella não foi silenciosa, porém ninguém tocou no assunto sobre que ocorreu nos últimos dias. Ella estava um pouco curiosa papara perguntar a Albus se o eles haviam encontrado algo de significante nas coisas de Nixon, mas guardaria suas perguntas para depois. Não queria estragar aquele momento.


           - Eu preciso de chaves? – perguntou Ella, um tanto suspeita. Durante o caminho, notou que Albus prendia um sorriso matreiro, e isso significava que algo lhe esperava no apartamento.


           - Você tem companhia. – ele lançou um olhar a porta novamente, encorajando-a a abri-la de uma vez.


           Assim Ella o fez. Tocou na maçaneta de metal e a girou, abrindo a porta. Apenas com uma pequena brecha, já pôde ouvir vozes conhecidas.


           - Pelo visto, meu apartamento virou ponto de encontro.


          Sua sala era ocupada por quatro pessoas e meio. Morgan estava esparramado no sofá como de costume; Lily e Rose conversavam sobre algo perto da porta da varanda; e Scorpius estava ajoelhado junto ao filho e amarrava os cadarços do pequeno.


           - Precisamente, cara Ella. – disse Morgan, ainda deitado. – Além do mais, seu sofá é o melhor que há para tirar a soneca da tarde. 


           - Você fala isso de todo sofá que vê pela frente. – Ella adentrou no ambiente, e foi recebida por Ethan com um abraço. – Olá para você também.


           - Dodói? – perguntou o loirinho, com um fio de voz.


           - Não mais, pequeno. – Ella sorriu e assanhou a cabeleira loira do menino.


           - Como se sente, Ella? – indagou Lily, enquanto se aproximava.


           - Depois de dormir três dias direto, posso dizer que estou bastante descansada. – respondeu Ella.


           - Eu te disse Lil’s para não se preocupar. Vazo ruim não quebra. – comentou Morgan, que abriu um sorrisinho irônico. – Mas devo admitir que posso ver algumas rachaduras daqui.


          - Continue bancando o engraçadinho que você vai ver rachaduras em si mesmo. – Ella revirou os olhos da careta que Morgan fez, enquanto os demais riram.


           Tentava dar um toque de humor ao ambiente. Embora todos estivessem ali sorrindo, podia ver que estavam relutantes quanto à Ella, como se ela fosse se jogar ao chão e começar a chorar. Aquela poderia ter sido uma experiência ruim, porém não deixaria isso atrapalhar sua vida. Nos últimos dias tivera problemas o suficiente para uma vida inteira.  


            - Que bom que este incidente não abalou seu humor negro. – falou Mogan, agora de pé. Ele andou até onde Ella estava, e a envolveu-a num abraço fraternal. Quando a soltou, olhou-a nos olhos e sorriu com sinceridade. – Que bom que voltou inteira. Você e sua língua ferina é o meu divertimento nas monótonas tardes de trabalho.


            Ella suspirou e sorriu de forma enviesada. Garotos sempre serão garotos, assim como Morgan sempre será Morgan. Ele não era muito bom com palavras, e talvez fosse por isso que se davam tão bem.


            - Bom, não sei quanto à vocês, mas eu estou realmente faminta. – anunciou Ella, e começou a se dirigir à cozinha. – Acho que posso comer um boi inteiro.


            - Disso eu não duvido. – brincou Morgan, seguindo Ella.


            - Eu avisei, Albus. Tia Ginny não mandou comida a mais. – comentou Rose ao primo.


            - Espere até ela entrar na cozinha. – Albus olhou enviesado na direção da cozinha, e sorriu ao ouvir a exclamação que a namorada soltara.


           As duas horas seguintes passaram correndo. Depois de muito tempo, Ella finalmente se descontraiu um pouco. Era bom tê-los ali, e o quão interessante ver como seu ciclo de amizade aumentara só com a entrada de Albus na sua vida. Morgan sempre será seu melhor amigo, seu fiel companheiro para todas as horas, entretanto, admitia gostar de uma parcela feminina no grupo. Era uma amizade diferente da que tinha com Morgan, e estava gostando disso.


           - Bom, eu tenho que ir. Viajo amanhã cedo. – notificou Rose, ao se levantar. – Lily, você vem comigo?


           - Mas é claro que eu vou. – afirmou a outra ruiva, repedindo o gesto da prima. – Ainda nem arrumei as malas.


           - Para onde vocês vão? Irlanda de novo? – indagou Ella. Aquela pergunta fez Morgan levantar-se de sobressalto. Ele não gostava nada referido à viagem que as duas ruivas fizeram quando mais jovens. Pelo que contaram à Ella, foi uma viagem com muita festa, bebidas, farras e lindos irlandeses. E aquilo um enorme tormento para a pobre mente de Morgan.


            As ruivas se entreolharam, depois seus olhares caíram sobre a carranca de Morgan, e foi então que as duas gargalharam.


           - Não se preocupe, Morgan. Nós vamos à trabalho para a Alemanha. – explicou Lily, ainda rindo. – Voltaremos para casa em poucos dias.


           - É, Morgan. Eu, a Lily, e os quatro outros rapazes que irão conosco. – contou Rose, num tom de zombaria, que causou risos nos demais.


           - Você está na minha lista negra, ruiva número dois. – Morgan fez uma careta de desgosto, e levantou de onde estava sentado. – Eu vou com as ruivas. Separação não faz bem ao meu coração, então você não se livra de mim até amanhã.


           - Lily! Olha o que você fez?! Danificou o pobre rapaz. – brincou Scorpius. – Ele está insuportavelmente grudento.


          - Exatamente, Lily. Você o quebrou, agora dê um jeito. Eu não vou agüentar essa criatura choramingando no meu lado. – Ella deu continuidade à brincadeira.


           - Não dê ouvidos à eles, querido. – Lily tocou delicadamente no rosto do namorado, depois o beijou rapidamente nos lábios. – Ella, minha mãe pediu para avisar que a cozinha dela está a sua disposição.


            - Lily, a comida que está na minha cozinha dá pra um mês. – contou Ella, exagerando apenas um pouco os fatos. – Mas diga à ela que eu fiquei muito grata. Boa viagem para vocês duas.


            Nos segundo seguinte, os três não estavam mais lá.


            - Pode ter certeza que amanhã cedo Morgan estará aqui miando na sua porta. – disse Albus, em um sorriso.


            - E você irá se juntar à ele? – Ella arqueou as sobrancelhas.


            - Não, porque terei dormido do lado de dentro, portanto não necessitarei miar na porta. – explicou Albus calmamente.


           - Eu não preciso de babá hoje. – informou a loira.


           - Digamos que meus serviços de babá te seus benefícios e...


           - OK! – Scopius os interrompeu. – Eu realmente não preciso ouvir os detalhes. Certas coisas PRECISAM permanecer no mistério.


           O casal gargalhou da expressão de Scorpius. Conseqüentemente, Ethan também caiu na risada, mesmo não sabendo sobre o que estava rindo.


           - Eu vou para casa. Ethan precisa de um banho e cama. – Scorpius lançou um olhar ao pequeno loiro, que agora tinha seus braços cingidos à perna de Ella. Ele balançava a cabeça em negativa, dando a entender que não queria ir embora.


            - Ethan, vou te tirar daqui antes que fique traumatizado para o resto da vida. – o comentário de Scorpius causou expressões indignadas nas faces do casal.


            - Um absurdo dizer isso de nós. – Ella meneou a cabeça em negativa. – Estou ultrajada.


            - Pode cortar o drama, querida irmã. – Scorpius pegou o menino no colo, que não estava muito feliz em ir.


            Ela soltou-se dos braços de Albus por um instante e foi até onde o irmão estava. Ela o envolveu em um abraço forte, tanto que Ethan teve que intervir, já que fazia parte do quase esmagamento.


            - Obrigada Scorpius. Por tudo. – disso a loira, com total sinceridade.


            - Ah, amanhã você pode olhar Ethan por um tempo? – Scorpius abriu um exagerado sorriso, e fez cócegas no filho para que ele fizesse o mesmo.


            - Velhos hábitos não morrem. – Ella revirou os olhos, e afirmou silenciosa. – Amanha conversaremos melhor.


            - Com certeza. – ele deu um longo beijo na testa da irmã, e logo desapareceu com Ethan.


            Ella queria ter conversado mais com o irmão, mas aquela não era a hora certa. No dia seguinte, quando estivesse à sós, iriam falar sobre o assunto que todos evitaram durante aquelas duas horas. Incomodava Ella em não saber como Scorpius a viu durante o sono, mas estava extremamente grata. E não era só isso. Nenhum deles tivera o tempo determinado para o luto. Ella sabia o quanto a perda da mãe fora difícil para Scorpius, mesmo este não demonstrando tão abertamente.


           Agora só restavam dois, ela e Albus. Ela via o quanto ele lutava para reprimir o cansaço, mas assim como seu pai, Albus parecia esgotado. Provavelmente não tivera uma boa noite de sono nos últimos dias, e talvez nem um pequeno descanso. Pelo que seu pai lhe falara, Albus era um dos que estavam investigando os artefatos e os livros achados no esconderijo de Albus, e isso também o esgotou as energias.


           - Eu vou comer, você vem? – perguntou Ella. Ele assentiu com a cabeça e a seguiu até a cozinha. – Pensando melhor, acho que essa comida toda vai dar apenas para uns dias.


          - Essa é a coisa irritante sobre minha mãe. Ela sempre está certa. – riu Albus. – O que vai querer dessa vez?


          - Preciso de açúcar no sangue. – disse Ella, e lançou um olhar ao bolo de chocolate no balcão. – Bingo.


          - Esse era meu preferido quando criança – comentou Albus.


          - Era? Não é mais? – perguntou Ella. Deu as costas ao moreno e foi até o outro lado da cozinha pegar os pratos de sobremesa.


           - Quando eu tinha oito anos, eu comi tanto desse bolo que passei mal por dias. – Albus partiu uma generosa fatia e pôs no prato que Ella lhe entregou. – Traumas da infância.  


           - Isso que acontece quando você não tem auto controle.


           - Retomaremos a falar de auto controle quando eu retornar aqui amanhã e esse bolo não existir mais. – ele arqueou a sobrancelha direita. Tinha um ar matreiro, como se já soubesse que está certo.


           - Retornar amanhã? Então você não vai dormir aqui? – indagou Ella, não tão inocente.


           - Pensei que não quisesse babás. – a mão dele tocou as costas de Ella, provocando-lhe leves arrepios.


           - Você é uma babá com boas, muito boas qualidades. – a loira pousou o garfo sobre o balcão da cozinha, e com as mãos livres, tocou delicadamente no rosto do namorado. Ainda achava curioso vê-lo com os fiapos de barba. Mas ainda assim, ele não perdia as feições de menino.  


           - Você acabou de sair do hospital.


           - E acabei de passar três dias dormindo. Perdi três dias inteiros da minha vida dormindo. – rebateu Ella. No caminho para casa, Ella começara a pensar naquilo. Não viveria para sempre, e acabara de perder três dias sem qualquer interação com o mundo.


           Ella aproximou seu rosto lentamente do dele. Era reconfortante sentir a fragrância dele. O irritante vicio de mascar chicletes de menta redeu-lhe aquele cheiro familiar que Ella gostava. Os lábios tocaram gentilmente, mas demorou um pouco para Ella aprofundar o beijo.


          Os movimentos de ambos se modificaram. As mãos de Ella corriam pelos cabelos de Albus, arrepiando-os ainda mais. Albus oscilava os beijos. Agora descera para o pescoço, um dos pontos fracos de Ella. Ele sabia exatamente como a levar à loucura.           


         Como um reflexo, Ella afastou o prato e qualquer outra coisa que estivesse ali no balcão. E Albus sabia exatamente o que aquilo significava. Num leve impulso, ele a sentou no balcão gelado. Ella abrira suas pernas para dar mais espaço para sentir o corpo dele. Depois cingiu-as ao redor da cintura dele.


         Suas mãos deixaram de passear pelo rebelde cabelo negro dele, e desceu para o peitoral dele, onde já adquirira mais do que pratica em desabotoar a camisa. Não chegara a desabotoar todos os botões, faltando apenas alguns, num movimento brusco, abriu de vez a camisa, causando a ruptura dos últimos botões.


          - Você está pegando prática nisso. – ele arfou. – Não quer mover isso para quarto não?


          - Você leu meus pensamentos, Severus. – ela o encarou de forma lasciva, depois voltou a colar seus lábios no dele novamente.


          Sem quebrar o beijo, Albus a pegou pelo quadril para deixarem a cozinha, na direção do quarto. A última coisa dita antes de deixarem o recinto, foi um tímido ‘’eu te amo’’ vindos dos lábios de Ella.


 


 


 


N/Autora: Sim! Finalmente acabei o cap. Yeah! Eu sei, era pra ter uma NC, mas o negócio travou feio, e se eu continuasse persistindo, vocês só iriam ler o capítulo quando eu tivesse perto de aposentar. Bem, não ficou como que queria, mas me custou muito tempo e paciência. Espero sinceramente que gostem.


             Bem, ele não foi o último. Ainda escreverei o capítulo 13 e vocês ainda tem direito à um pequeno epílogo envolvendo o futuro. Intrigante, não?!


             Estou muito grata pela paciência de vocês, pelos comentários e pelos votos. Aguardem mais um tiquinho, que em breve terão o final da história.


            Beijos


                  Helena


 


Qualquer coisa, aqui estão meus contatos: [email protected] e http://twitter.com/#!/lyrawhite    e    http://www.facebook.com/#!/profile.php?id=652273005

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