O Convite



Capítulo 4 – O Convite

- Ella?
Não houve resposta.
- Ella? – persistiu Morgan, dessa vez cutucando-a no braço.
- O que foi? – não tirava os olhos do relatório que escrevia, agora borrado graças ao cutucão do amigo. Era quase hora do almoço e aquele maldito relatório ainda não estava pronto. Tinha de parar de deixar as coisas para a última hora.
- Acho que é para você. – Morgan tomou o papel e a pena das mãos dela, obrigando-a a olhar para a direção que ele apontou com o dedo.
Ethan corria até ela, com Scorpius a alguns passos atrás. O menino chamou a atenção de alguns ali, mas ninguém se opôs à sua presença, embora ali não fosse lugar para crianças. Aos tropeços, envolveu Ella em um abraço. Era de se admirar não ter levado um tombo com aqueles cadarços desamarrados.
- Oi. – ele falou à Morgan, depois de sentar-se ao lado de Ella no sofá.
- Olá, garotão. – o rapaz afagou os cabelos loiros do menino depois de deixar as mãos livres, depositando a pena e o papel sobre a mesinha ao lado. Ignorou os olhares frios de Ella, a amiga precisava descansar um pouco, já estava quebrando a cabeça desde cedo com aquele relatório. – Devolvo isso depois do almoço. – afastou os objetos do alcance de Ella.
- Um pequeno detalhe: era para estar pronto antes da hora do almoço. O Potter vai me matar. – Ella puxou o sobrinho para seu colo, cedendo um lugar para o irmão recém chegado sentar.
- Hey Ella. – cumprimentou Scorpius com um beijo na bochecha. – O que tem aí, Morgan?
- Estou cuidando da sanidade da sua irmã. Se ela continuar escrevendo isso aqui, acabará surtanto. – riu Morgan, olhando para a loira ao seu lado. – E quanto ao Potter, desencana, Ella. Ele é o seu sogro agora, você tem tratamento especial.
Ella só não meteu-lhe um doloroso tapa porque estava com a criança no colo. Mas vontade não faltou.
- Vá contar hipogrifos, Morgan! – meneou a cabeça, fazendo Morgan alargar seu sorriso. Virou-se para Scorpius, que observava as pessoas andando de um lado para o outro no departamento. Hoje aquele lugar estava um verdadeiro caos. – O que veio fazer aqui, Scorpius?
- Viemos ver garotas. – a resposta veio de Ethan.
- Como? – Ella arqueou a sobrancelhas, olhando de viés para o irmão.
- Digamos que o Ethan está me ajudando a arrumar alguns encontros. – falou ele, mostrando os vários papéis que segurava.
- Oh, céus! Você vai transformar meu lindo sobrinho em... você!
- Tal pai, tal filho. – riu Scorpius.
- E tem funcionado? – indagou Morgan interessado.
- Em todo santo departamento, Morgan. – mostrou novamente os papéis com nomes, endereços, enfim, dados. – Devia tentar uma hora também.
- Vocês dois não vão tomar jeito nunca. Vamos dar o fora daqui, Ethan. – Ella levantou-se e saiu com o menino no colo. – Não ouça uma palavra do que eles dizem, ok? Aqueles dois são encrenca.
- Ok, tia. Para onde a gente vai? Tomar sorvete? – os olhos do pequeno brilharam de entusiasmo.
- Nós fomos ontem, danadinho. Sua avó me mata se você chegar em casa sem apetite para o almoço de novo.
- Por favor? – um pequeno beiço se formou nos lábios rosados dele, deixando Ella sem opções.
- Isso foi artilharia pesada. Vai ser nosso segredinho, certo?
Ella o levou ate à cafeteria do Ministério, no quarto andar. Scorpius logo os alcançou, e não parou de falar dos problemas com a empresa da família e das babás entrevistadas. Morgan ficou para trás, de certo foi correr atrás de um novo rabo de saia.
- É cada louca que me aparece, Ella. Tem umas que até o Hag ganha no quesito de inteligência.
- Deixo o elfo ficar de olho no Ethan, oras. Eu não posso perder tantos turnos, ontem já enrolei a manhã inteira com ele. Hoje só não aconteceu a mesma coisa porque eu mandei você pastar.
Ella passou a taça de sorvete de chocolate de volta ao menino, depois de tomar algumas colheradas. Riu ao notar o estado de lambança do loirinho, ele parecia mais brincar com o sorvete do que comer.
- E o que exatamente você vai fazer hoje, ó-pessoa-ocupada-que-não-ajuda-o-irmão?
- Nada, acho. – Ella suspirou. – Não tenho patrulha. Que dia é hoje?
- Viu? E ainda se recusa à cuidar dessa linda, maravilhosa e meiga criança. – apontou para o filho, que se melava com o sorvete. – Aliás, hoje é terça.
Bilhete. Terça. Almoço. Albus. Aquelas quatro palavras chegaram tão rápido ela sua mente que sentiu a cabeça girar. Com todo o estresse que foi aquela manhã, acabou se esquecendo do almoço com Albus. Ela não mandou uma confirmação, mas sabia perfeitamente que ele não arredaria o pé até que os dois estivessem caminhando da porta do Ministério. E o engraçado era que ela realmente estava ansiosa para vê-lo.
- Puta merda! – Ethan e Scorpius arregalaram os olhos, sendo que o primeiro ficou rindo da cara envergonhada de Ella. – Desculpa. Esqueci que tinha um compromisso hoje.
- Compromisso? Que coisa formal! Fale de uma vez que o Potter é o seu “rolo’. – Scorpius puxou a taça de sorvete para longe do filho, fazendo o menino impugnar-se. – Chega de doce, senão você não almoça.
- Não, não! – Ethan fechou a cara, mas Scorpius puxou o menino para perto de si e cochichou algo em seu ouvido. – Ok!
Ethan escorregou para o chão e saiu andando a passinhos pequenos pela cafeteria.
- Olha o mestre em ação. – Scorpius abriu um sorriso galanteador, apontando para o menino eu chamava atenção de uma mulher ruiva sentada no balcão. – Mais um encontro!
- Ou não. – Ella sorriu maldosamente ao perceber quem era a ruiva. De forma nada delicada, virou a cabeça do irmão, fazendo-o focar a atenção do filho e na ruiva que se aproximavam.
O sorriso no rosto de Scorpius desapareceu.
Ethan retornou de mãos dadas com a moça ruiva. Ela também não parecia satisfeita com a situação, mantinha o olhar fuzilador em Scorpius desde que o vira na cafeteria. Parou diante dos dois loiros. Colocou os cachos ruivos atrás da orelha, deixando seus enormes olhos azuis a mostra por trás dos óculos de armação prateada.
- Olá Weasley. – Ella abriu um sorrisinho sarcástico, e a ruiva retribuiu um com igual. Pegou o sobrinho e o sentou em seu colo para limpar sua boca lambuzada de sorvete.
- Malfoy. – focou o olhar no rapaz ao lado. – Você é um imbecil, Malfoy. Já pensou se eu fosse uma louca e levasse o menino embora?
- Ora Rosie, - Scorpius sorriu, o apelido sempre a irritava. – eu sei que você não é nenhuma louca. Pode ser desequilibrada, mas não louca.
Rose bufou, enfurecida.
- Você não mudou nada, Malfoy. – meneou a cabeça em negativa. – Não sei como a mãe o deixou sozinho com você. Ele estaria mais seguro com trasgos, embora não haja muita diferença entre você e um deles.
Scorpius não revidou, apenas abriu um sorriso folgado e irônico ao mesmo tempo. Aquela feição relaxada irritava a ruiva. Sempre quando falava sério, ele fazia aquela mesma cara.
- A mãe dele está morta, Rose.
Ella pôde ver a culpa tomando conta de Rose. A ruiva abriu e fechou a boca algumas vezes procurando o que dizer, mas parecia que ela estava completamente sem idéias.
- Eu...
- Você ainda tem a mesma cara de culpada da época de escola. – ele sorriu levemente, olhando a criança. – Você não tem noção do quanto é divertido te irritar.
Rose estava pronta para dar uma resposta, mas acabou fazendo uma careta interrogativa.
- Albus?
Todos se viraram para ver o que Rose estava olhando tão surpresa. Atrás deles, estavam Albus e Morgan, sendo que o segundo não conseguia esconder as feições divertidas. Ele estava se divertindo horrores com aquela situação toda.
- Olha quem eu achei vagando pelo departamento, Ella! O Potter! – exclamou Morgan cínico. – Eu acho que você não devia deixar o pobre rapaz esperando, sabe?
Ella queria afundar o corpo na cadeira. Seu olhar cruzou com o de Albus, e ele sorriu. Fez uma saudação silenciosa para todos, não tirando os olhos dela.
- O que faz aqui, Albus? – indagou Rose.
- Pegando minha acompanhante para almoçar. Se me dão licença. – Albus não estava mais ao lado de Morgan, agora ele estava ali, diante dela, com a mão direita estendida, esperando por Ella. – Vamos?
Os olhares de todos desceram até Ella, e assim como Albus, também esperavam alguma reação vinda dela. Ethan olhou para o pai e escorregou para o chão, depois foi se aninhar no colo de Scorpius.
Agora ela estava desimpedida, teria de ir de qualquer jeito. Deu sua mão para Albus, que fez um leve movimento para deixá-la de pé. Sentiu a mão quente dele apertar a sua, seus dedos entrelaçarem os dela, provocando um leve arrepio no braço.
- Hum.. vejo vocês depois. – foi a única coisa que conseguiu dizer. Fez um leve aceno com a mão e logo já estava caminhando na direção da saída ao lado de Albus.
- O que foi isso? – ouviu Rose perguntar.
- Ora, Rose, e eu que pensava que você era esperta. – riu Scorpius. – Você acabou de presenciar o mais novo casal não oficial dos tablóides. Será se a Ella vai se importar se eu vender algumas fotos dela para o Profeta Diário?
Ella queria ter ficado para dar uma boa resposta, mas já estava no lado de fora da cafeteria. Olhou para Albus, que ria tranqüilo e não tinha nem um décimo do nervosismo que ela estava sentindo.
- Esqueceu do nosso almoço hoje, foi? – perguntou ele, divertido.
- Só por um pequeno período de tempo. – respondeu honestamente. Foi somente naquela manhã que conseguiu tirá-lo da cabeça, pois nos outros dias, aquele meio sorriso era a única coisa que ocupava sua mente.
- Ainda bem que eu não lhe pedi para me encontrar no restaurante.
- Tem medo de levar um bolo, é?
- Somente de você. – deu uma leve piscadela e apertou mais a mão dela. – Vamos aparatar por aqui mesmo, ok?
Foi o tempo dela piscar que o lugar havia se transformado completamente. Não havia mais a correria nos corredores, as pessoas falando alto, as corujas voando, o pandemônio do Ministério estava longe agora. Observou o novo local. Definitivamente, aquele era um restaurante bruxo. Algumas bandejas voavam por entre as mesas, levando pratos e taças. Somente cinco pessoas administravam todas as bandejas, e duas anotavam os pedidos dos clientes. Parecia algo impossível de se fazer, tantas mesas, tantos clientes, e tão poucos funcionários, mas ao observar mais de perto, Ella viu que eles faziam tudo funcionar em sintonia facilmente.
Albus seguiu o gerente e a guiou até uma mesa perto da janela. A vista era bonita, Ella identificou imediatamente onde estava. Não era longe de seu apartamento, só precisaria andar algumas quadras e estaria em casa. Aquele era o mais novo restaurante bruxo de Londres, Det Visitation, o dono era um conhecido de Draco, já o havia visto na Mansão algumas vezes.
- Pedi um tinto, você se importa? – ela negou. – Ótimo, porque é o meu favorito.
- Belo gosto para vinhos. – Ella desviou o olhar da paisagem londrina e o pousou sobre o homem à sua frente. Arqueou as sobrancelhas. Porque será que ele estaria tão tranqüilo com aquilo tudo? – Então? Qual o motivo desse encontro?
- Eu tenho que ter um motivo para querer te ver agora?
- Sim.
- OK. O motivo é a cobrança da minha adorada caneca, ou você está querendo ficar com ela para si?
- É uma idéia tentadora, mas, não. Não sou muito fã de canecas ilustradas com leões. Prefiro cobras, entende?
- Oh, assim você magoa meus sentimentos. – ele forjou uma cara desolada, e Ella riu. – Partiu meu coração
- Você supera. Se não superar, o bar é logo ali. – Ella esticou o dedo indicador para o balcão de madeira, aonde estavam servindo as bebidas.
- É verdade. Mas não acha perigoso, não? Dá última vez que enchi a cara, acordei ao lado de uma loira desconhecida. – ele sorriu matreiro. - Que, aliás, estava escapulindo sem se despedir.
- Escapulindo, não. – Ella sentiu as bochechas esquentarem. – Te poupando de acordar cedo. Ok! Deixe os joguinhos de lado, e desembucha logo, Severus.
Ele meneou a cabeça, bebericando o vinho. Pousou a taça ao lado do prato e ficou encarando Ella por um tempo. Via que a impaciência dela crescia à medida que seus olhos verdes a analisavam.
- Certo. Vamos encarar os fatos, Ella. Somos mais do que amigos, não?
- Que bela amizade de apenas... – parou de falar por um momento, tentando lembrar da data exata que o encontrou naquela festa. – uma semana e meia.
- Eu colocaria duas, mas isso não vem ao caso. – ele apoiou os braços na mesa e inclinou o corpo para frente, sem tirar os olhos de Ella. – Saia comigo nesse sábado. E não precisa ficar inibida, já pulamos várias fases no quesito de encontros.
- Você está brincando, não é?
- Não. – ele negou. Acredito também que você não tem escolha a não ser dizer “sim”.
- E por que tem tanta certeza de que eu vou aceitar? – indagou Ella, com as sobrancelhas arqueadas.
- Digamos que eu tenho algo que lhe pertence.
Ella viu o sorriso sarcástico nos lábios dele se alargando. Albus não estava blefando, e ela confirmou isso ao tatear as mãos nos bolsos e dar falta em apenas um dos seus mais preciosos objetos.
- Devolva agora, Albus. Eu não estou brincando. – mandou a loira.
- Ora, deixe disso. – o moreno tocou na mão dela, que a recolheu rapidamente. – Você me acompanhará em um casamento, é só isso. Isso não vai te matar.
- Ahh, a mim, não. Mas eu lhe garanto que você irá dar um passeio a sete palmos do chão depois que eu te estrangular. – Ella cerrou os punhos com raiva. A coisa que mais detestava no mundo era os outros pegarem algo seu. E a chantagem só fazia aumentar sua raiva.
- Então isso é um “sim”?
-NÃO! – respondeu Ella um pouco mais alto do que pretendia, atraindo a atenção de algumas pessoas ali perto.
- Não seja tão difícil, Ella. É só um casamento. As pessoas costumam se divertir nessas ocasiões, ajuda a aliviar o estresse. Você me parece tão estressada, querida.
- Isso é o que acontece quando cai na lábia de um idiota, que roubou seu ipod e ainda está te chantageando. – bufou.
- Roubar é uma palavra muito forte, seqüestrar temporariamente seria o melhor termo. E isso não é exatamente uma chantagem, é apenas um empurrãozinho para te ajudar a aceitar sair comigo no sábado.
- Eu juro que se seu pai não fosse o meu chefe, eu já teria te azarado há tempos. É uma pena eu prezar tanto o meu emprego. – Ella apertou os olhos, fazendo o outro rir. – Isso vai ter volta, senhor Potter.
- Esperarei ansioso por isso. – Albus ostentava uma cara de satisfação, sabia perfeitamente que aquela discussão já estava ganha. – O casamento é às seis. Eu te busco na sua casa.
- E quem é o casal felizardo? – Ella suspirou, tentando tirar da mente as imagens dela esganando o lindo pescoço do rapaz à sua frente.
- Minha prima Victoire e Teddy.
Ella o encarou com um olhar gelado. Aquele era um casamento Weasley, não que ela tivesse algo contra a família, mas sabia perfeitamente que não era bem vista pela maioria dos ruivos. Nunca se meteu em conflitos diretos com nenhum Weasley ou algo do tipo, também não costumava falar com eles. O sobrenome Malfoy ainda tinha algum impacto negativo para alguns bruxos, viu isso especialmente em seu primeiro ano de escola. As brigas diretas vinham por parte de Scorpius, que sempre saía no tapa com James ou Hugo, mas o assunto não era sobre rixas de família, e, sim, sobre quadribol.
Ir àquele casamento certamente significava algo. Não era como sair para almoçar, ou se encontrarem numa festa. Naquele casamento, Ella seria sua acompanhante, seriam visto como um casal diante de várias pessoas do Ministério. Nunca ligou para a opinião alheira, e certamente aquela não seria a primeira vez que o faria.
- Ok. Eu já disse que vou com você nessa droga de casamento. Agora me devolva o ipod. – Ella estendeu a mão, esperando pelo aparelhinho.
- Quanto entusiasmo da sua parte. – falou ele sarcástico.
- Você não sabe o quanto. – respondeu Ella no mesmo tom. – Vamos, Albus. Você sabe que eu sou auror e posso te prender por roubo, não sabe?
- Isso é abuso de poder, querida Ella. – ele enfiou a mão no bolso do casaco, tirando o pequeno aparelho verde. Estendeu-o até a mão dela, e quando Ella foi pegar, Albus o guardou de volta no casaco. – Pensa que eu sou trouxa? Só te dou isso de volta depois do casamento.
- O que?! – exclamou Ella, e logo depois soltou um muxoxo. – Mas hoje ainda é terça! O que eu vou fazer enquanto estiver no Departamento?
- Vá ler um livro. Cultura e educação ao mesmo tempo. – respondeu ele, rindo da cara indignada da loira.
- Livro para mim é uma ferramenta para assassinato, especialmente aqueles bem grossos. – Ella abriu um sorrisinho sarcástico. – Cuidado com a cabeça na próxima vez que passar para uma visita no Departamento de Aurores.
- Obrigada pela preocupação. Hei de comprar um capacete ainda hoje. – gargalhou.
- Disponha. – falou Ella, encerrando o assunto.
A comida não demorou mais do que alguns minutos. Não voltaram a tocar no assunto do encontro de sábado, conversaram sobre seus planos e algumas coisas de trabalho. Riram um bocado quando o assunto caiu sobre o pequeno incidente com Rose naquela manhã, e o quanto Scorpius iria ouvir da ruiva. No fim das contas, acabou sendo tudo muito agradável. Era incrível a facilidade de conversar, rir, estar com ele. Albus era muito diferente do que ela pensava.
Após acertar a conta com o garçom, os dois se dirigiram para fora do restaurante e começaram a caminhar sem rumo pela rua.
- Acho que eu vou dar uma passada em casa. – Ella parou de andar. – Aproveitando que estou por aqui.
- Eu vou com você, afinal, ainda tenho de recuperar a minha caneca, não é mesmo? – ele deu uma piscadela. Virou-se e começou a caminha para a direção contrária, puxando Ella delicadamente pela mão. – É por aqui, não é?
- Sim. – sabia perfeitamente que aquilo era um passo perigoso e temia em pensar no que poderia acontecer naquele apartamento. Abriu a boca na tentativa de fazê-lo mudar de idéia, mas no fim das contas, mandou tudo para os infernos. Não sairiam se agarrando no meio da sua sala de estar, pelo menos esperava que não.
Eram exatamente quatro quadras do restaurante até seu apartamento. O trajeto foi silencioso, Albus assobiava distraído uma melodia qualquer e Ella pensava maldosamente na imagem do pai saber de seu acompanhante para o casamento. Seria divertida a discussão que teriam, ainda se lembrava da discussão quando levou um namorado para uma visita nas férias de Natal, no seu quinto ano. O pai ficou possesso, e a cada cinco segundos, lançava um olhar feio ao garoto. Draco sempre foi ciumento e daquela vez não seria diferente, embora nem mesmo Ella sabia definir o que tinha com Albus.
- Chegamos. – falou, abrindo a porta e adentrando da sala. – Feche a porta, por favor.
Deu sorte, o lugar não estava de todos os males naquele dia. Haviam dias em que tudo estava uma zona, o quarto, a cozinha, a sala, o banheiro; isso acontecia geralmente nos dias em que Morgan estava ali. Estava praticamente tudo no lugar, o laptop sobre a mesa de centro de vidro, em frente ao sofá preto de couro. Os poucos livros que tinha estavam enfileirados na parte de cima da estante de madeira, e na parte de baixo haviam alguns porta-retratos com fotos dos pais, Scorpius, Morgan, Ethan e de outros amigos. A mesa de jantar não era usada há algum tempo, e agora sua finalidade mudara para jogar pôquer. Era um apartamento de tamanho razoável, até grande demais para uma pessoa. Com a saída de Amber, o segundo quatro foi aderido à sala, deixando-a bastante espaçosa.
- Meu avô iria adorar esse lugar. – riu Albus. – Não sabia que você era fanática por trouxas também.
- Muito engraçado. – Ella mostrou a língua, e o outro riu. – Depois que você convive dois anos com uma nascida trouxa, acaba pegando algumas manias também.
- Minha tia é nascida trouxa e eu convivi a vida inteira com ela. – argumentou ele.
- Olha que eu tenho um dicionário muito pesado ali na estante. – Ella apontou o dedo para o móvel, rindo.
- Você não faria uma atrocidade dessas comigo, faria? – ele forjou uma cara de desolado, fazendo Ella menear a cabeça, rindo.
- Talvez em uma outra ocasião. – Ella apontou para sofá. – Fique a vontade. Vou buscar sua caneca.
- Bom saber que você não está querendo ficar com ela para si. – riu Albus, caminhando até o sofá. Sentou e cruzou as pernas, depois olhou-a de maneira divertida. – Estou esperando.
Ella o deixou por um instante, entrando na cozinha e começando a procurar aquela maldita caneca. Sabia que estava por ali, mas não fazia idéia de qual dos armários. Perdeu a paciência em poucos segundos, isso era a deixa para sacar a varinha e conjurar um feitiço convocatório. Assim o fez, e logo uma caneca com a estampa de um leão apareceu voando de dentro de um dos armários até pousar na palma da sua mão. E aquela era uma das vantagens em ser bruxa que mais gostava.
Voltou à sala. Albus ainda estava sentado no sofá, olhando para as fotos nos porta-retratos.
Caminhou até o sofá e estendeu a caneca para ele. Os olhos dele não davam à mínina para o objeto que ela segurava, ele mantinha o olhar no rosto de Ella. Abriu o famoso meio sorriso e levantou a mão. Não pegou a caneca, mas sim o braço de Ella. Puxou-a com uma certa quantidade de força que a fez cair sobre o colo dele, e por um milagre, a caneca não se quebrou no chão, caiu no sofá também.
Ella sentiu o cheiro do vinho que bebeu agora a pouco no hálito dele, sentiu as mãos dele segurando seu braço, sentiu os lábios dele se colarem aos seus. Aquele beijo doce e voraz ao mesmo tempo que a deixava no céu.
Uma mão de Albus passeava pelos cabelos platinados dela, enquanto a outra segurava o corpo de Ella contra seu peito forte, para que ela não escorregasse para o chão.
Ella sentiu-se entorpecida, não tinha mais a posse de seu corpo quando ele a beijava. Uma parte de sua mente berrava que aquilo era errado, analisando os fatos: ele era o filho de seu chefe, ele era um Potter, e ela devia manter distância daqueles lábios; já a outra parte bradava algo completamente diferente, falava para ela se entregar de uma vez àquele Potter infeliz. Nunca foi muito boa em seguir o caminho certo, e certamente agora não iria mudar. Passou os braços ao redor do pescoço dele, trazendo seu corpo para mais perto.
A boca dele não estava mais colada à de Ella, agora os lábios dele percorriam uma rota diferente, até seu pescoço. A cada beijo, pequenos arrepios percorriam sua espinha. Era como pequenas ondas de calor se espalhando pelo corpo de Ella quando sentia os lábios de Albus em sua pele branca e delicada.
Abriu os olhos, voltando a dura realidade. Ofegante, afastou Albus de seu pescoço com dificuldade, pois ele continuava insistindo com os beijos. Era uma tentação muito grande, poderia simplesmente ficar ali com ele o resto da tarde e deixar acontecer as coisas, mas sua recém desperta consciência voltara a funcionar, fazendo-a fugir das investidas dele.
Encarou o moreno. Ele tinha um belo sorriso matreiro nos lábios avermelhados com o batom dela. Albus já estava se inclinando para voltar a beijá-la, então Ella se viu desesperada. Sabia perfeitamente que se voltasse a sentir o gosto daquele beijo, não voltaria para aquele Ministério nem amarrada. Virou o rosto, e ele acabou beijando sua bochecha e quando ia se virar para prosseguir com a busca pelos lábios dela, Ella procurou uma boa posição para se levantar, e com um impulso, já estava de pé, longe dos lábios e do colo dele. Era ótima em escapulidas como aquela.
- Você está fugindo de mim? – indagou Albus risonho.
- É o que uma pessoa em sã consciência faria. Seu beijo é afrodisíaco, Albus, extremamente difícil de resistir. – Ella se olhou na parede espelhada do armário onde estavam as taças. Seu estado era decadente, o batom totalmente borrado, os cabelos desalinhados e seu rosto espantosamente corado. Estava ofegante, e não era para menos, passou vários minutos com um pelo par de lábios colados aos seus.
- Então não lute contra a natureza, Ella. Volte aqui.
- Não.
- Deixe de fazer doce. – gargalhou ele. – Por Merlin, como você é teimosa.
- Teimosa, não. A palavra correta é sensata. Alguém tem que pensar no depois, não é mesmo? Se continuarmos com isso, com certeza acordarei amanhã totalmente desnorteada e com um belo e forte braço cingindo a minha cintura.
- Ainda bem que você sabe. – o moreno deu uma piscadela, já de pé agora. – Então? Quando vai querer acordar totalmente desnorteada e com um belo e forte braço cingindo a sua cintura de novo?
- Não amanhã. – Ella sentiu os braços dele a puxando para um abraço. Não tinha nem idéia de como ficou tão desorientada que não o viu se aproximar. – Eu tenho que trabalhar e você..., bom, você pode voltar a fazer o que iria fazer essa tarde.
- Eu ia passar a tarde com você. – ele esboçou um sorriso tímido, logo forjando uma cara desolada. – Mas você está me dispensando.
- Ora, pare como esse olhar de cachorro na chuva. – suspirou Ella. - Você tem uma enorme família – ela fez questão de destacar o “enorme”. – provavelmente vai achar algum desocupado que lhe faça companhia esta tarde.
- E por acaso é alguma loira, bonita e que eu posso beijar?
- Não, seu pervertido, não é. Vá ler um livro e acalmar os ânimos. Há tantos na sua casa, lugar o qual você devia estar neste momento, e eu no Ministério. – Ella suspirou. Se continuasse com sentindo aqueles braços fortes e quentes ao seu redor por muito tempo, não demoraria a ceder novamente. - Eu ainda posso ser despedida, sabia?
- Esquenta com isso não. Meu pai acredita em qualquer coisa que você disser. – Albus olhou para cima por um momento, logo depois voltou a encará-la. Parecia que ele tinha acabado de ter uma idéia, e boa era o que não era. – Façamos o seguinte, eu mato o trabalho hoje e você enrola meu pai com qualquer lorota.
- Eu tinha uma idéia errada de você. Sempre pensei que Albus Severus fosse um santo, estou vendo que me enganei.
- Eu sou um santo. – ele fez uma pausa, depois continuou a falar num sussurro. – Só quando não estou perto de você. Você é um mau elemento para o meu ser, Ella Malfoy.
- Viu? Então você deve ir embora, senão vai acabar mais corrompido do que já está. – Ella escapuliu dos braços dele, depois correu até o sofá, apanhando a caneca do leãozinho. – Sério, você devia ir. Eu vou dar um jeito no meu rosto, coisa que você devia fazer também. – riu do estado do cabelo dele. Estava mais arrepiado do que o normal.
Albus pegou a caneca estendida para ele, e foi praticamente arrastado até a porta. Ella sorriu ao ver que ele continuava com a mesma cara desolada de antes, pedindo para ficar.
- Não. Eu tenho contas para pagar e não posso ficar sem emprego. Quer que eu acabe virando uma sem-teto? – brincou a loira.
- Não se preocupe, Ella. Sempre terá um lugarzinho para você debaixo da ponte.
- Ainda bem que você se importa, ‘né? – meneou a cabeça e fez final para ele ir para o corredor. – Pegue o rumo de casa, Albus. Eu tenho que trabalhar.
- Que eu saiba, jogar ‘adedonha’ a tarde inteira não é trabalho. – ele cruzou os braços, exibindo um sorriso matreiro.
- Para sua informação, aquele foi um dia muito parado. Pelos menos, ‘adedonha’ é melhor do que dormir. – defendeu-se. – Você está me enrolando.
- Sim, eu estou. – ele inclinou a cabeça para frente e deu um rápido selinho nos lábios dela. – Te busco aqui no sábado ás cinco, ok?
- Eu tenho outra escolha? – perguntou Ella, já sem esperança de conseguir se safar daquela.
- Não.
- Então te vejo no sábado.
Esperou até que ele tivesse descido as escadas para fechar a porta. Sentiu as pernas fraquejarem. Ainda tinha o gosto do beijo dele na boca, e isso vinha com um lado positivo e outro negativo. O positivo é que não era algo ruim, o negativo era que passaria o resto da tarde com aquele moreno de olhos verdes ocupando sua mente.
Rumou para o banheiro do quarto. Olhou seu estado bagunçado no espelho, tinha poucos minutos para ficar descente para o trabalho. Jogou uma água no rosto e abriu a terceira gaveta do móvel para pegar sua bolsa de maquiagem.
Em dez minutos já estava na sala, pegando a bolsa e alguns papéis que levaria para o Departamento.
Ella aparatou na estrada do Departamento de Aurores. Ajustou a bolsa contra seu corpo e se dirigiu às poltronas onde sempre ficava. Morgan já estava sentado em uma delas, onde passava os olhos, desinteressado, por uma revista qualquer. Olhou para a amiga, que acabara se sentar-se ao seu lado, e sorriso malicioso.
- Scorpius me deve três galeões agora! – falou contente. – Eu disse que você ia dormir com ele de novo. Eu reconheço essa sua cara lavada em qualquer lugar.
- Vai encher outro, vai Morgan. – Ella lançou-se um olhar frio, tomando a revista da mão dele. – E eu não dormi com ele de novo.
- Mas vai. – pegou a revista de volta de forma brusca, fazendo a outra fechar a cara. – Deus lá sabe o que o Potter tem de especial, mas certamente deixa você doidinha.
- Quer parar? Nós somos... – realmente, ela não tinha a menor idéia do que era de Albus, então respondeu a coisa mais inocente que lhe veio à mente. – amigos.
Morgan olhou para Ella por um momento depois caiu na risada.
- Desde quando amigos acordam complemente nus na mesma cama? Se for assim, acho que não chegamos nesse estagio da amizade. Estarei ansioso por isso. – desdenhou o rapaz.
- Nojento. – Ella fez uma careta, tentando não imaginar na cena. – Eu estou sendo educada e lhe pedindo para calar a boca gentilmente. Quer que eu apele para a artilharia pesada? – ameaçou, mostrando a varinha.
- Mas que brabeza, Ella. – Morgan revirou os olhos ao ver Ella apontando a varinha para seu peito. – Certo. Parei.
- Ótimo.
- Então é isso? Foi só um almoço e nada mais? – ela afirmou, e Morgan já ia deixar o assunto para lá quando viu pequenas manchas avermelhadas ao redor do pescoço da amiga. Gargalhou alto e apontou para as provas de sua teoria. – Olha que tanto de chupão!
Ella sentiu suas bochechas arderem. Retocou a maquiagem, mas foi estúpida o suficiente de esquecer-se de tirar as marcas. Puxou Morgan pelo colarinho da camisa , ele ainda ria alto, atraindo a atenção dos restantes da sala.
- Eu juro que se você não parar com isso, eu te mato aqui mesmo. – ameaçou ela, entre sussurros.
- Que violência, querida. – Morgan se soltou das mãos dela e voltou-se a sentar ereto na poltrona. – Acredito que no próximo almoço de vocês, é melhor eu contar que você só aparecerá aqui no dia seguinte.
- Deixe de ser inconveniente. Por que não vai achar mais uma cabeça-oca para lhe fazer companhia esta noite? – ela apontou para a porta, torcendo para que ele seguisse o seu conselho.
- Primeiro, eu já tenho companhia para esta noite. – ele sorriu galanteador. – Segundo, é que é muito mais divertido te atormentar. Que inveja do Scorpius, ele teve a infância inteira de vocês pra te torrar.
- Vê se cresce.
- Estou trabalhando nisso, querida amiga. - ele fez uma pausa, olhando para o Potter pai que acabara de adentrar no Departamento. – Então, quando isso vai virar público? Porque eu devo avisar para o Scorpius manter o pequeno Ethan fora de casa por uns dias, assim a criança não presencia o seu assassinato.
- Não seja tão dramático. – embora concordasse um pouco com o que o amigo disse. Trataria de manter distância da Mansão depois de sábado. – Eu vou à um casamento com Albus no sábado, satisfeito?
- Muito. – ele pareceu refletir por alguns momentos nas palavras que ela dissera. Lançou um olhar divertido à Ella. – Isso vai ser interessante. Uma Malfoy no ninho dos Weasley.
- Como você sabe? Que é um casamento dos Weasley? – indagou Ella, surpresa.
- Tenho minhas fontes. – ele deu uma piscadela. – Além do mais, só se fala nisso. Vai ser uma festa das grandes, provavelmente seu pai foi convidado, por educação, claro.
- E, claro, ele não vai. – Ella meneou a cabeça, tristonha. – É mamãe quem costumava obrigá-lo a ir nesses eventos. Não me admiraria se ele não tivesse nem ao menos contado do casamento para ela.
- Eu ia também, mas combinei de ir assistir uma partida de Quadribol com Scorpius. Ele vai levar Ethan para ver os Ballycastle Bats. Voltaremos só no domingo. – contou Morgan excitado.
- Você vai me trocar pelo traste do meu irmão? Seu falso! Na primeira oportunidade, vai correndo para o Scorpius. – Ella cruzou os braços e pôs um beiço nos lábios, igual a uma criança pequena quando irritada.
- Oh, isso me faz lembrar a minha infância. Meus pais brigando pela minha custodia. – ele suspirou, fingindo saudade. – Quer o advogado da minha mãe para entrar da disputa judicial pela minha guarda? Ops, ele já morreu.
- Vai Morgan, vai comigo nessa droga de casamento. Por favor. – implorou Ella, ainda com o beiço nos lábios. Aquele truque lhe trazia muitos brinquedos novos quando pequena. – Ademais, lá terá milhares de mulheres bêbadas e vulneráveis esperando para que você escolha uma para levar para casa.
- Esse é um bom argumento, mas, não. Já combinei com seu irmão, não dá para furar agora. – Morgan deu de ombros, despreocupado. – Não estressa com isso, e lembre-se de aproveitar a festa.
- Ainda vou fazer você mudar de idéia até sábado. – falou, fazendo o outro menear a cabeça, sorrindo. – Então, quer jogar ‘adedonha’ ou vai reunir os rapazes para o pôquer?
- ‘Adedonha’. Estou totalmente quebrado esses dias. – ele fechou a cara, revirando os olhos. – Você levou todo o meu dinheiro embora na última partida.
- Quem manda ser ruim com as cartas? – Ella abriu um largo sorriso. Ninguém precisava saber que ela usava um pouquinho de Legilimênsia quando jogava pôquer.




N/Autora: Taí o capítulo, espero que tenham gostado. Gente, eu não pretendia demorar muito, mesmo. Mas é que a escola apertou esse mês, mas nada temam porque eu entrei de férias no dia 4, creio que irei atualizar com mais freqüência. Só peço um tiquinho de paciência, pois eu tenho mais um tanto de fics, rs.

Para quem reclamou que o Albus não apareceu, bom, de agora em diante ele ganha mais cenas, especialmente com a Ella.

Muito obrigada pelos comentários e votos, gente. Continuem com o bom trabalho, rs. E agradeçam a minha nova super the flash beta ‘Vivika Malfoy’ pela betagem rápida. Brigada pela ajuda Vivika!! Bom, é só isso. Beijos e até o próximo capítulo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.