Comprometimentos - Parte II



CAP BETADO Ca


Capítulo 7 – Comprometimento – Parte II



            - Então, você não vai me contar como foi o jantar com os Potter, na segunda? - Morgan estava estirado no grande sofá vermelho, fitando o teto. Aquela tarde estava sendo monótona ao extremo. Chovia grosso no lado de fora, com o vento soprando forte, e, para piorar a situação, não havia nada a fazer além de esperar que algo acontecesse. Uma pequena emergência em Loughton fora o destino do outro esquadrão do Departamento, então, a eles cabia a tarefa de ficarem presos no Departamento de Aurores a tarde inteira sem o que fazer além de jogar conversa fora, para o ódio de Ella, que estava prestes à pular no pescoço do amigo e esganá-lo até fazê-lo perder a voz.
           Desde terça-feira, quando comentara por acidente que jantara na casa dos Potter quase à força, Morgan não parava de pentelhar Ella por detalhes, que, aliás, não pretendia dar.
           Não iria contar que o jantar, embora fosse extremamente estranho estar na casa do chefe, ex-inimigo mortal do pai e antigo salvador da pátria, acabara sendo meio agradável. Os pais de Albus, especialmente a mãe, Ginny, eram pessoas muito fáceis de conversar. Ella percebera o quanto eles se esforçavam para manter a conversa andando e não criar um estranho e irritante momento de silêncio, e não fora apenas para manter a conversa, os assuntos, as perguntas, nada fez Ella sentir-se constrangida ou ofendida.                                                                                                                                                                     


           Passou um longo tempo conversando com Lily quando chegou. Era tão fácil estar perto daquela ruiva, muito ao contrário de James, o irmão mais velho, o culpado de fazer Ella fitar o teto toda vez que ele lhe encarava de maneira desconfiada. O primogênito dos Potter parecia ser o único que não estava muito satisfeito de ver uma Malfoy com o irmão.
           Tudo que acontecera no jantar, todos os detalhes, ficaria trancado na mente de Ella, que, dificilmente, iria dar com a língua nos dentes para Morgan. Ele já estava suficientemente irritante naquele momento, imagine depois que soubesse o quanto Ella apreciara estar naquele novo ambiente? Não a deixaria em paz durante um mês inteiro. E isso a faria se sentir pior do que agora. Sentia-se culpada de gostar daquela casa, de apreciar estar cercada pela família do namorado e não pela sua própria família. Se divertira mais naquela única noite na casa dos Potter do que no almoço semanal na Mansão nos últimos dois anos, isso parecia ser tão... errado. Invejava Albus um pouco, o via falando com o pai de maneira tão calorosa e alegra, e não igual uma conversa de elevador sempre quando Ella se dirigia ao próprio pai. Gostava um pouco daquele gelo de Draco, evitava todos aqueles assuntos emotivos, os dramas, mas ao mesmo tempo, sentia falta do calor paterno que Draco raramente lhe passou durante a infância.
           - A minha resposta continuará sendo a que eu dei na terça-feira de manhã: NÃO! - bradou Ella, acordando Peter, um dos colegas do departamento que dormia no sofá ao lado. - Foi mal, Pete. Volte para a sua soneca. - Ella tentou ser o mais amável possível com o rapaz, o que funcionara, pois ele resmungou algo incompreensível e voltou a dormir. Era melhor que Peter voltasse à ressonar, assim seria menos uma pessoa que não ouviria a conversa. - Eu juro por Merlin que eu vou te socar.
           - Ella, Ella, violência só gera violência. - ele girou o corpo e apoiou a cabeça na mão, passando a encará-la com o sorriso mais irritante que conseguia.
           - Então este é um ciclo sem fim, porque se você não parar de me aborrecer tanto, vai acabar com o nariz quebrado.
           - Então, tecnicamente, eu posso te aborrecer um pouco? Porque você disse “aborrecer tanto”, o que me leva a pensar...
           - Morgan Samuel Hopkings, - faltava pouco para Ella perder o controle e avançar para cima do amigo. - Cala a BOCA!!!
           - Irmãzinha do céu, que estresse todo é esse? - indagou Scorpius, que havia acabado de se juntar à eles. O loiro, como sempre, carregava o filho, agora adormecido. - Tente não fazer barulho, eu passei as últimas duas horas fazendo o garoto dormir e, acredite, você não vai querer estar perto do pestinha acordado.
           Ella sentou-se direito no sofá, dando espaço para Scorpius sentar ao seu lado. O loiro passou a criança para os braços da irmã, depois acomodou-se relaxado ao lado dela.
           - Por que esse escândalo todo? - perguntou ele, entre um bocejo.
           - Porque meu melhor amigo é um imbecil que não cala a boca e, conseqüentemente, acabará levando uma surra bem dada da minha varinha. - respondeu Ella, quase num sussurro.
           - E, acredite, amigo, vai valer a pena se ela me contar o que foi fazer na casa dos Potter na segunda à noite. - Morgan deu com a língua entre os dentes, para o horror de Ella. - Se você conseguir a promoção, eu prometo que vou investir na sua futura cunhada. A ruivinha não é de se jogar fora....
           - Eu já lhe avisei, Morgan. - Ella pegou a almofada que aconchegava suas costas e atirou em Morgan, atingindo-o bem no meio da face. - Você tem que parar com esses comentários nojentos sobre mulheres, meu ouvido não é latrina de bruxos porcos.
           - Que seja. Continuando, - virou-se para Scorpius novamente, dando continuidade à conversa. - A nossa querida Ella está virando gente, foi jantar na casa do namorado pela primeira vez na vida. Não é um amor?
           Scorpius arregalou os olhos e olhou para Ella com o mesmo sorriso sacana que Morgan tinha nos lábios.
           - Você está brincando? O pai vai ficar tão furioso quando souber que seu namorico com o Potter está progredindo.
           - A questão é: ele não vai ficar sabendo se ninguém contar, não é mesmo? - Ella apertou o tríceps de Scorpius com um pouco de força, fazendo-o se afastar um pouco, mas ainda assim, a encarando com um olhar divertido.
           - E como você vai garantir tal omissão? - indagou Scorpius olhando-a de modo superior, afinal, Ella estava praticamente comendo em sua mão agora. A loira detestava profundamente quando isso acontecia. Um maldito chantagista que era o irmão.
           - O que você quer, Scorpius?
           - Que bom que perguntou. - o loiro ostentava agora um vitorioso olhar. - Fique com o Ethan esta noite, eu tenho compromisso.
           - Vai sair de novo com a morena? - perguntou Morgan, se intrometendo na conversa.
           - Não, eu realmente tenho um compromisso. - seu tom de voz tornara-se mais sério. - Fique com ele esse final de semana e quando eu voltar de Edimburgo no domingo, eu o busco na sua casa.
           - E o Ethan não pode ficar na Mansão com a mamãe e o papai porque...
           - Mamãe deu uma recaída, a pneumonia voltou e parece que trouxe mais coisa consigo dessa vez. - Scorpius suspirou pesadamente. - Ela não está nada bem, e eu acho melhor Ethan ficar um pouco longe de lá, ele tem medo dos curandeiros e fica muito abatido quando vê mamãe naquele estado. Ela está assim desde o início da semana.
           Aquela notícia atingiu Ella como uma facada em seu peito. Não era possível que aquilo estava acontecendo de novo. Mais uma recaída... era a terceira nos últimos três meses, parecia que ela só melhorar um pouco que Astoria tornava a voltar para o péssimo estado de saúde. Já era ruim o suficiente que a mãe estivesse tão doente, mas o pior era que Ella nem tomara conhecimento disso. Sentia-se mal com aquilo, tinha que ter dado mais atenção à mãe e parado de se encontrar tanto com Albus à noite. Qual era o problema de ir à Mansão depois do expediente? Exatamente isso, não havia problema algum, e mesmo assim, Ella ainda não ia.
           - Eu deixei as coisas dele na sua casa, ok? - Scorpius beijou-se na bochecha antes de se levantar do sofá – Eu só vim aqui deixá-lo e tenho que pegar a chave de portal. O advogado vai comigo. Como já tinha dito, não há como, vou vender o Pub que era da mãe dele.
           - Você está fazendo a coisa certa. - Ella segurou a mão de Scorpius ao vê-lo dar um passo para trás. - Por que ninguém me avisou sobre a mamãe?
           - Converse com o pai, ele disse que ficaria encarregado de lhe informar sobre qualquer mudança. - Scorpius deu um tapinha no braço de Morgan, se despedindo deste e se afastou. Na porta, um homem moreno, com o bigode um tanto grisalho e com leves entradas na testa, o aguardava. Scorpius cumprimentou o advogado com um rápido aperto de mãos, depois ambos sumiram corredor a fora.
           - Ella, não se preocupe. Astoria vai ficar bem, ela sempre fica. - Morgan levantou-se do sofá de onde estava deitado e foi sentar-se ao lado da amiga. Passou o braço em volta de seu ombro, confortando-a.
           - Ela sempre fica pior, Morgan, isso sim. - Ella apoiou a cabeça no ombro no amigo cuidadosamente para não acordar o sobrinho adormecido. - Todas as vezes é um pouco pior, e pela cara de Scorpius, a situação não está boa dessa vez.
           - Não fique abatida. - ele forçou um sorriso, sem muito sucesso. - Leve o garoto para casa, tome um banho e dê uma relaxada. Não pense no pior como você sempre faz, e quando estiver com a cabeça mais fria, escreva para o seu pai e peça por notícias.
           - Eu não vou escrever para ele. - falou amarga. - Vou pessoalmente vê-lo hoje à noite e, muito provavelmente, berrar também. Você pode olhá-lo por algum tempo hoje à noite? Pode ser depois que você sair daqui.
           - Não posso, Ella. Hoje eu fiquei de ajudar minha mãe com o problema do bicho papão. - ele abriu um sorriso cabisbaixo. - Mas que quiser eu posso dizer para ela...
           - Não. - Ella levantou-se do sofá com a ajuda de Morgan. Ethan estava começando a ficar grande demais para seus braços. - Vá fazer o que você precisa fazer hoje à noite, amanhã eu entro em contato se precisar de algo.
           - Você tem certeza? - ele tentou mais uma vez, apesar de já saber a resposta.
          - Positivo. - Ella deu de ombro, depois sorriu tristemente. - Diga ao Potter que eu tive uma emergência e saí mais cedo.
           - Pode deixar. - Morgan acenou com a cabeça, mas Ella já não estava mais lá.



           O barulho da campainha ecoou pelo quarto. Ella deu uma última olhada em Ethan, que brincava sobre sua cama e deixou o aposento, na direção da porta.   


           Estranhou. Nunca recebia visitas, geralmente era ela quem ia na casa dos outros, e só Morgan ou Scorpius faziam o contrário. Novamente, o barulho da campainha surgiu. Quem quer que fosse realmente estava impaciente.
           - Hey! O que faz aqui? - indagou Ella meio surpresa. Lançou um olhar meio desconfiado ao moreno parado à sua frente, mas logo ele a puxou para um abraço, ignorando o fato de ela estar trajando apenas um roupão.
           - Topei com Morgan quando fui falar com meu pai hoje à tarde, e ele me contou a má notícia. Como você está? - Albus não a livrou do abraço, apenas deu alguns passos para frente e já dentro do apartamento, fechou a porta atrás de si.
           - Eu estou bem. - respondeu a loira enquanto o pressionava para acabar com aquele abraço. Adorava estar nos braços dele, mas não quando vestia apenas um roupão e tinha crianças por perto. Não queria traumatizar o pobre sobrinho pelo resto da vida com a visão dela e de Albus se agarrando no sofá. Tinha horas que pensava ter voltado à adolescência com todos aqueles hormônios e sentimentos incontroláveis, e isso realmente a deixava furiosa. Odiava perder o controle. - É sério, pode me soltar.
           Assim Albus o fez. Depois de soltar Ella, tirou o casaco e o deixou sobre a cadeira, mas sem desviar o olhar da loira. Ele estava com aquele sorriso meigo e o olhar preocupado, sem contar a testa enrugada. Às vezes, Albus conseguia ser pior que Astoria no quesito de super-proteção e cuidado. Já tinha ouvido que aquela coisa era herança dos Potter, todos carregavam pelo menos um pouco daquele gene maldito de se importar com tudo ao seu redor, especialmente com as pessoas. Ella achava isso engraçado e bizarro, nunca conseguiu agir daquela maneira. A loira se importava com as coisas até um certo ponto, mas não como Albus, que parava a vida para socorrer quem precisava.
           Não se passou nem um minuto da chegada de Albus, que Ethan correu até a sala para ver o que estava acontecendo. O menino parou de correr imediatamente ao ver Albus, pois, por mais incrível que parecesse, ele era extremamente tímido na frente de estranhos. Já vira Albus algumas vezes com Ella, mas somente de longe, nunca chegaram realmente a trocar umas palavras, e isso ainda o deixava meio inibido na presença do moreno.
           Albus acenou timidamente com a mão e menino se escondeu atrás do sofá, deixando apenas os olhos a cabeleira loira à vista. Ella revirou os olhos e foi até a criança. Teria de conseguir fazer Ethan perder a vergonha de uma vez, senão não conseguiria fazer funcionar a idéia que acabara de surgir em sua mente. Tinha acabado de arrumar uma babá.
          - Ethan, não seja bobo, garoto. - falou Ella calmamente, enquanto se ajoelhava ao lado do sobrinho. - Não vai me dizer que você está com medo do Albus.
           E a resposta veio com Ethan balançando a cabeça em sinal afirmativo. Ele deu uma olhada em Albus, depois voltou a encarar Ella.
           - Como eu estou decadente, até criancinhas eu assusto agora. - comentou Albus, rindo. Ele lembrara-se de um comentário que Ella fizera quando os dois estavam na cama, depois do casamento. E, tecnicamente, ele era meio perigoso sim, especialmente quando tinha o meio sorriso nos lábios.
          - Vamos, Ethan. - suspirou Ella. Sabia que teria um longo caminho pela frente para conseguir persuadir aquela criança. Ele era tão teimoso quanto qualquer Malfoy. - O Albus é meio que seu... tio! Viu? Você não tem medo do seu tio Albus, ou tem?
           - Estou chocado como fui promovido tão rápido. - ele deu uma rápida piscadela. - Estou com sorte esses dias, ganho uma namorada e um sobrinho na mesma semana?! Acho que vou até jogar na loto-bruxa depois dessa.
           - Você quer calar a boca? Ele não vai dar o braço a torcer se você continuar tagarelando. - murmurou Ella, depois virou-se rapidamente para o loirinho. - Ethan, é só fazer aquela cara de cachorro na chuva que ele vai ter dar tudo o que você quiser. Isso inclui sorvete de chocolate.
           E o brilho traquina voltou ao olhar de Ethan. Ele lançou novamente um olhar à Albus, sem desviar dessa vez quando o segundo o encarou sorrindo. Pronto, aquela batalha estava ganha.
           - Você é má, Ella. Muito má. - vendo que o menino parecia mais confortável com ele na sala, Albus deu alguns passos, se aproximando dos dois loiros no chão. - Acabou de contar minha principal fraqueza para ele! Agora sim que o seu estoque de sorvete de chocolate vai acabar.
           - Acabar rápido. - Ethan sorriu para os dois, sendo que Ella revirou os olhos e Albus alargou o sorriso. Ele deu um passo na direção de Albus, com os braços estendidos. Queria colo, não havia dúvida. Não sabia o porquê daquilo, talvez fosse pela a altura ou talvez apenas pela proteção que eles transmitiam à ele, ou até mesmo a ausência do pai nos seus primeiros anos de vida, mas Ethan adorava o colo de homens, especialmente os dos mais altos. Ella tinha a impressão de ser devido à forte ligação que ele desenvolvera com Scorpius.
            Albus o pegou sem receio algum. Ele tinha jeito com crianças, não havia dúvidas, e era praticamente impossível ele não saber lidar com crianças depois de crescer cercados por centenas destas. Ella vira no casamento aquele mar de crianças ruivas correndo por entre as mesas. Assanhou os cabelos platinados do menino e este o imitou, deixando os fios negros de Albus mais espetados do que o normal.
           - Você vai me deixar de babá, não é? - perguntou Albus, num suspiro.
           - Não sei porque você pergunta quando já sabe a resposta. - Ella se aproximou dos dois depois de levantar do chão gelado. Tocou delicadamente no resto do moreno, afastando a franja bagunçada de perto das íris esverdeadas.
           - Só checando. - ele tocou na bochecha gelada dela com a mão livre, e Ethan o imitou novamente, mas nem com um quarto da delicadeza de Albus. Aquele menino era tão delicado quanto Ella, e isso não era um elogio. - Você tem certeza que é uma boa idéia deixá-lo aqui comigo? Ele mal me conhece.
           - E eu mal te conhecia na nossa primeira noite juntos e olha como tudo acabou bem! - Ella deu uma piscadela, fazendo o outro revirar os olhos. - Eu realmente preciso falar com meu pai hoje, e ver minha mãe também. Não posso levá-lo para a Mansão, não com o clima tenso que está lá.
           - Vá então. Eu fico com ele até você voltar. - Albus a beijou levemente na bochecha e mais uma vez foi copiado por Ethan. - Já vou avisando, ele vai ser empanturrado de sorvete.
            - Você está no comando, querido. - Ella sorriu e começou a se distanciar. - Ligue a televisão em qualquer canal, só tome cuidado com alguns. Eu vou vestir algo decente e pegar o rumo da Mansão. É hoje que Draco Malfoy vai me ouvir.
           - Boa sorte com essa de decente, querida Ella... - Albus ergueu a sobrancelha direita, e só não tinha os braços cruzados porque estes estavam ocupados segurando Ethan. - Com roupa ou sem roupa, você ainda deixa metade da população masculina louca.
           - Não fale essas coisas na frente do menino! - Ella murmurou, arregalando um pouco os olhos.
           Lançou um rápido olhar ao relógio perto da televisão e seus olhos se arregalaram mais ainda. Não tinha se dado conta do quão tarde estava, quase seis e meia. Ethan a fazia perder completamente a noção do tempo, além, claro, que havia se juntado à ele para uma soneca quando chegaram no apartamento.
           Deixou os dois para trás, voltando para o quarto apressada. Não estava com cabeça para pensar na melhor roupa para encontrar os pais, por isso, pegou a primeira coisa dentro do guarda roupa que sua mão tocou. Era uma calça preta e uma blusa quase no mesmo tom, a jaqueta de couro que ganhara de Morgan no último aniversário estava sobre a cadeira, e a pegaria quando estivesse saindo.
          Ethan já se encontrava no chão, brincando com um dos brinquedos que Scorpius deixara e Albus estava estirado na cama, a observando passar um pouco de maquiagem no rosto. Mesmo que fosse somente ver a mãe e gritar com o pai, não era desculpa para sair igual uma sem teto. Era incrível como depois de uma leve soneca, sua cara ficasse tão amassada.
           - Quer parar de me olhar assim? - Ella virou-se para ele, com o olhar meio irritado. Tentava não pensar muito no frágil estado de saúde da mãe, mas aquele maldito olhar piedoso de Albus não a deixava esquecer. - Eu não preciso da sua compaixão.
           - Eu sei que não. - ele apoiou a cabeça na mão, ainda sem tirar os olhos dela. - Mas é meio difícil em uma situação como esta.
           - Eu não quero saber. - Ella deu mais uma olhada no espelho, checando para ver se tudo estava nos conformes, depois sentou-se na ponta da cama, perto de onde ele estava deitado. - É bom que esse olhar tenha desaparecido quando eu voltar, entendeu?
           - Darei o melhor de mim. - ele elevou a cabeça e tocou a ponta do nariz no pescoço da loira, provocando-lhe leves arrepios. - Vai falar hoje com seu pai da Ordem?
           - Pode apostar que eu vou. - Ella já estava de pé, quase desaparecendo pela porta. - É hoje que ele vai me ouvir. Não deixe Ethan ter uma overdose de açúcar.
           - Como eu já disse: darei o melhor de mim. - quando Albus respondeu, Ella já estava há quilômetros de distância.


           O clima tenso vindo da casa abateu Ella no momento em que ela tocou os pés no chão de pedra da Mansão. Ficou encarando a porta de entrada por um minuto. Agora que estava ali, sua confiança não era a mesma de quando estava em casa. Não sabia se sentia-se assim pela conversa que teria com o pai ou por ver a mãe naquele péssimo estado novamente, talvez fosse um pouco dos dois.
           Agora sim queria matar Harry Potter. Teria sido tão mais fácil se ele tivesse simplesmente lhe contado a história toda quando estavam no Largo Grimmauld, assim só precisaria berrar por alguns minutos por Draco não ter lhe informado sobre Astoria. Agora teria de gritar e arranjar um jeito de amansá-lo, pois sabia perfeitamente que se Draco estivesse bravo, não faria nada que fosse agradar Ella.
           Bateu levemente na porta três vezes com a costa da mão. Quem visse pensaria que ela iria ficar do lado de fora provavelmente o resto do dia, mas Ella confiava perfeitamente na audição Hag. Ainda lembrava-se das várias vezes que o elfo a pegou no flagra chegando de madrugada, nas férias de Julho. Isso porque ele acordava com o 'click' da porta se abrindo, então aquelas batidas na porta não seriam um problema, e não foi.
           - Senhorita Malfoy! - falou o elfo com os olhos brilhantes. - Hag vai por mais um prato na mesa de jantar.
           - Não, Hag. Essa noite, não. - Ella balançou a cabeça, negando. Não tinha a intenção de ficar muito tempo, Albus estava lhe fazendo um enorme favor olhando Ethan e não queria abusar da boa vontade do namorado, não agora. - Onde estão meus pais, Hag?
           - Senhora Malfoy está no quarto. - ele lançou um olhar ao andar de cima. - E o senhor Malfoy está no escritório desde a hora do almoço.
           - Obrigada, Hag. - agradeceu Ella, com um pequeno sorriso nos lábios. - Avise ao meu pai que eu virei conversar com ele no escritório em alguns minutos. Vou ver minha mãe agora.
           - Avisarei. - o elfo fez uma reverência e deixou o hall, indo na direção do escritório de Draco.
           Talvez fosse a ausência de Ethan e Scorpius, ou até o clima tenso devido à doença da mãe, mas aquela casa estava mais fria e intimidante que o normal. Ainda iria fazer uma campanha para o pai retirar aqueles quadros dos antepassados das paredes da Mansão, era simplesmente estranho e aterrorizante aqueles velhos a encarando com aquele olhar de “Que decepção”. Não que se importasse com a opinião deles, mas era irritante ter aqueles olhos frios sobre sua cabeça, analisando cada passo que dava.
           Estava praticamente correndo quando chegou ao segundo andar, e continuou com o passo apressado quando virou-se para o longo corredor e começou a deixar-se guiar-se pelo tapete negro até as portas com detalhes em prata no final do corredor.
           Olhou ao redor e lembrou de cada vez que tinha estado ali. Podia contar nos dedos as vezes que entrara naquele cômodo. Quando era pequena, todas as vezes que tinha um pesadelo ou apenas uma noite difícil, corria para o quarto de Scorpius. Não tinha permissão para ir ao quarto dos pais sem ser chamada. Na adolescência, quando estava encrencada a gritaria era no escritório e quando estava fula o suficiente para desafiar o pai, invadia o quarto sem dar a mínima. Foi na sua fase adulta que começou a entrar no cômodo pela mãe, sendo convidada ou não. Desde que se dava por gente, via a mãe doente, não tão ruim quanto nos últimos anos, mas que a fizesse ficar sempre no quarto repousando ou sob algum tipo de medicação.
           Fazia quatro anos que descobrira o real motivo de todas as idas da mãe à hospitais e os vários curandeiros, de várias partes do mundo, sempre acampando na Mansão. Havia uma rara doença que atingia apenas bruxos, e Astoria nascera com ela. A magia que corria em suas veias, que compunha suas células, que fazia seu organismo inteiro funcionar era considerada uma intrusa pelo corpo, e era combatida como tal. O corpo rejeitava a magia, e as células começavam a se auto destruir aos poucos. Quando se é criança começa a mostrar indícios da doença, mas é na fase adulta quando os sintomas começam a ficar tão devastadores que levam à morte.
           Ella não sabia exatamente se ficava feliz ou não de ter ouvido a conversa atrás da porta entre o pai e um curandeiro francês há quarto anos. Enquanto vivia na incógnita, na dúvida, ainda tinha esperança, agora ela parecia estar fugindo.
          - Mãe. - falou Ella num sussurro ao entrar no quarto. O lugar estava exatamente igual à última vez em que estivera ali sob aquelas circunstâncias, parecia um quarto de hospital, se não fosse pelo chão escuro de madeira e pela decoração rústica, sem contar a bela vista pela porta de vidro no extremo do cômodo para o grandioso jardim principal da Mansão, que, mesmo à noite, ainda era um dos lugares mais bonitos que já vira.
           - Ella, querida, que bom que está aqui. - sorriu a morena fracamente. - Como está, querida?
           - Eu? Eu estou é um caco de cansada. - disse Ella num tom exagerado, enquanto gesticulava com as mãos. - O pestinha do Ethan me deu uma canseira essa tarde, ele é pior que um pelúcio.
           - Scorpius está lá também?
           - Não, ele foi para a Escócia, resolver uns assuntos sobre algo que eu não sei. - não ia preocupar a mãe com os assuntos mal resolvidos do irmão, ela já tinha problemas suficientes. - Então eu estou de babá esse final de semana, mas como eu nomeei meu namorado como a babá da noite, ainda posso ir me divertir com Morgan.
           - O rapaz concordou em ficar com Ethan essa noite?
           - Assim. - a loira abriu um sorriso matreiro. - Ele meio que não teve muito tempo para concordar. Eu avisei no início que eu não vinha sozinha, era o pacote com o cunhado sacana, o sobrinho pestinha, a melhor sogra do mundo e o sogro sociopata. Ah, sem contar, o melhor amigo grudento.
            - Ascella Nascisa Malfoy! Não chame seu pai de sociopata. - ralhou Ascella entre uma fraca risada.
            - A senhora sabe que a mente do papai é um lugar sinistro, e eu posso afirmar isso porque já estive lá algumas vezes. - explicou Ella com um sorriso triunfante no rosto. Tinha orgulho de ser a única na família tão boa em Legilimência quanto o pai, agora Ella suspeitava de Draco estar arrependido de ter lhe ensinado seus truques, nunca imaginara que era seria tão boa na arte de invadir as mentes alheiras. Fora seu melhor truque em Hogwarts.
           - Ella, você tem que parar com essa implicância com seu pai. - o tom brincalhão na voz de Astoria havia desaparecido. Ela pôs sua mão pálida e gelada sobre a de Ella, sem deixar de encarar os olhos cinzentos da filha. - Eu sei o quanto é difícil para você ser tão diferente do seu pai, não ser o que é o esperado de um Malfoy, mas você tem de começar a tomar o controle da situação. Vocês dois são tão diferentes... mas tão parecidos ao mesmo tempo.
           - Ok. Me diga então uma coisa que nós dois temos em comum.
           Astoria meneou a cabeça em negativa, depois apontou com a mão meio vacilante para o retrato sob a mesa de cabeceira. Era uma das poucas fotos que Draco estava sozinho com Ella, ele era bem mais jovem e ela não passava dos dois. Aquele não era um retrato no qual o pai olhava para seu bebê com o olhar terno e a criança retribuía com um sorriso bonitinho, na verdade, ele ficava olhando para cima, parecia estar criando paciência para aturar a situação, e a loirinha em seu braço apertava os olhos, zangada.
           - Vocês dois são tão teimosos que chaga a ser até irritante. - ela voltou a descansar os braços ao lado do corpo, mas ainda tinha os olhos no retrato. - Ele não tem a sua coragem, a sua força de seguir em frente, e você não tem a astúcia e a ambição dele, mas ambos carregam tanta audácia e orgulho. Muitas diferenças, mas várias semelhanças também.
           Ella queria poder dizer que a mãe estava errada, mas ela tinha razão, embora não quisesse ver isso. Aquelas palavras, em especial as últimas, dificultariam a conversa que logo teria com o pai. Ainda estava com tanta raiva dele, por sempre tentar omitir as coisas, por nunca deixá-la viver sua própria vida, mas sentia-se incapaz de gritar com ele depois daquele sermão da mãe.
           - Ella, aceite seu pai do jeito que ele é, e acredite, ele está tentando fazer o mesmo em relação à você. Não vai ser bom para vocês continuarem com esse pé de guerra depois que eu me for. - Astoria levantou o braço novamente, mas dessa vez, levando a mão até o rosto alvo da filha. Seu toque gelado fez Ella estremecer um pouco, dava a sensação de que não tinha mais vida correndo pelas veias do frágil corpo de Astoria.
           Uma careta de horror brotou no rosto da loira. Não queria aceitar aquilo, não ainda. Há algum tempo, já sabia que a vida da mãe não duraria muito, mas, ainda sim, era difícil aceitar. Astoria apenas sorriu docemente diante da expressão de dor na face de Ella, era como um consolo silencioso.
           - Ella, você sabe que está quase no fim, eu sei que está. - ele acariciava levemente com o dedão as maçãs rosadas no rosto de Ella. - Eu estou feliz como as coisas estão, já aceitei meu destino há algum tempo, e você tem de fazer o mesmo. Eu falo para o seu pai que está na hora de apenas... deixar para lá. Ele ainda fala que há uma maneira de sair como vencedor dessa batalha, mas eu sei que não há, mas mesmo não ganhando, saberei aproveitar o momento que ainda me resta.
           - Mãe... - começou Ella, com a voz falhando. Procurava palavras, não tinha idéia do que dizer agora, ela já tinha dito tudo.
           - Não se preocupe, Ella. Tudo dará certo. - Astoria limpou a fina lágrima que escorreu no rosto fino da filha.
           Fazia tanto que isso não acontecia: chorar. Ella não se lembrava a última vez que derramara uma lágrima, provavelmente foi na escola ou quando era criança. Era tão difícil isso acontecer, mas lá estava ela, se debulhando em lágrimas enquanto a mãe a consolava. Aquilo era tão errado, os papéis estavam invertidos. Era ela quem deveria estar consolando a mãe e não ao contrário, era Astoria que estava no fim da linha e parecia não sentir o mesmo peso no peito como Ella sentia.
           Mais algumas lágrimas caíram na colcha branca. Astoria ainda continuava a consolar Ella, ela ficava lembrando a época em que Ella e Scorpius ainda eram pequenos e como tudo parecia tão simples e feliz. Pela primeira vez na vida, Ella quis voltar a ser uma criança novamente, poder se aninhar nos braços da mãe e ter certeza de que ela não iria embora, que continuaria lá: protegendo, ninando, amando. Agora, naquele momento, Ella sabia que estava quase no fim na linha e isso fazia a dor em seu peito pulsar mais forte.
           - Tudo ficará bem, meu anjo. - Astoria sorriu fracamente. Fazia algum tempo desde que não ouvia a mãe chamando-a assim. - Agora vá falar com seu pai. Eu sei que você veio aqui para isso também.
           - Eu não vou nem perguntar como a senhora sabe disso. - Ella alargou o sorriso e beijou a mãe em sua bochecha sem cor.
           - Ella? - chamou Astoria quando a loira tocou na maçaneta da porta. - Eu estou feliz que você esteja com Albus Potter. Não o deixe fugir, pois a paixão e o amor que ele sente por você, e vice e versa, não é fácil de encontrar.
           Ella lançou um olhar confuso a mãe, que não tardou em explicar.
           - Eu vi as fotos do casamento dos Weasleys. Nunca vi você olhando para ninguém daquele jeito. Ele deve ser muito especial.
           - Muito. Mais do que a senhora imagina. - Ella lançou uma olhar à mãe depois deixou o quarto. Seu próximo destino era o escritório no andar de baixo.

           Ponderou um pouco antes de bater na porta do escritório, pois ainda pensava no que dizer quando encarasse o pai. A raiva não havia a abandonado, mas ela estava refletindo sobre a conversa com a mãe há poucos minutos. Prometera a si mesma, pelo bem da mãe, que tentaria se manter calma durante o tempo que ficaria na Mansão. Já era um tremendo de um começo não chegar batendo as portas e invadindo o local como fazia há alguns anos atrás, ou melhor, como fez há dois meses atrás.
           - Entre. - falou uma voz fria após Ella bater levemente na madeira escura.
           Draco não se encontrava sentado atrás da enorme mesa de metal como de costume, se escondendo atrás de uma enorme papelada ou de um simples pergaminho e tinteiro. Ele encarava o breu dos jardins no lado de fora com o olhar completamente perdido. Ella quase não reconheceu o pai. Ele estava completamente desarmado. Não havia nenhuma expressão em seu rosto a não ser dor, que ele tentava esconder sem muito sucesso.
           Como de costume, Ella foi adentrando despreocupada e sentou-se confortavelmente na poltrona preferida do pai, junto à lareira. Ficou encarando-o por um instante, esperando alguma reação vinda dele, assim começariam a conversar. Tinha experiência o suficiente para saber que se começasse a falar enquanto ele estivesse naquele estado, totalmente aéreo e perdido, não chegariam à nenhum lugar naquela noite.
           Passaram-se exatamente cinco minutos até Draco finalmente afastar-se da janela e sentar na cadeira principal, atrás da mesa metálica. As íris cinzentas caíram sob Ella. Esse era o sinal que precisava para começar.
          - Pensei que fosse levar a noite inteira. - falou Ella num tom casual.
          - O que está fazendo aqui, Ascella? Você já falou com sua mãe, agora não lhe resta mais nada. - Draco olhou rapidamente na direção da porta, mas Ella não se moveu um dedo sequer.
           - Temos algumas contas a acertar, começando pela mamãe. - Ella levantou-se da poltrona. Não voltou a sentar, tinha mais confiança quando falava enquanto estava de pé. - Se não fosse Scorpius, eu nem saberia que ela voltou a ficar péssima! Eu sei que está irritado comigo por um bilhão de razões, mas isso não justifica o que você fez! E... - seu sentiu sua voz falhar por um momento assim que a imagem chegou à sua mente. - se dessa vez, fosse tarde demais?
           - Eu não sou encarregado de lhe dar notícias, é obrigação sua vir mais aqui, vê-la outras vezes além de domingo.
           - Agora a culpa é minha? - Ella estava se preparando para acender o pavio, mas as palavras de Astoria ainda gritavam em sua cabeça. Era difícil ouvir o que os outros falavam, mas dessa vez, sabia que aquela maldita conversa já estava presa em sua mente, e isso a estava fazendo pensar duas vezes antes de lidar com o pai, coisa que nunca tinha acontecido em toda a sua vida. Suspirou, dando-se por vencida. Alguém teria de por um fim naquilo, hastear a bandeira branca em sinal de paz, e como Draco não o faria nem sob pena de morte, foi Ella quem tomou a iniciativa. - Certo, a culpa é minha. Parcialmente.
           Draco virou-se de forma repentina para encarar a filha. Parecia um tanto chocado com o que acabara de ouvir, até ela mesma estava surpresa de ter sido a adulta naquela vez. Bom, alguém tinha de ser.
           - Eu sei que eu devia ser mais presente por ela, ficar com mamãe mais do que apenas um almoço semanal. É errado, mas eu não posso apagar o que já foi feito. - Ella mantinha-se serena enquanto observava as feições do pai mudarem a medida que ia falando. - Apenas prometa que não o fará mais, não me deixará sem saber quando isso tornar a acontecer novamente.
           Os lábios dele sibilaram um baixo “Prometo”, e apenas isso. Isso era a deixa de Ella para continuar até o assunto que queria. Uma coisa que aprendera sobre o pai com todos aqueles anos de convivência era que ele sempre se calava quando era vencido. Ella riu levemente, afinal de contas, Astoria estava certa. Sempre houve um jeito de abaixar a guarda de Draco Malfoy.
           - O Potter me procurou esses dias. - o tom de Ella era igual ao de quando começou a conversa, extremamente casual. - Vou passar o resumo de tudo: ele me chamou para a Ordem, eu aceitei, inclusive a tal missão, e, enfim, ele passou a batata quente para você. O senhor ficou com o trabalho sujo de me contar, ou melhor, me explicar essa parafernália toda com o tal do Nixon.
           Ele abriu a boca para pestanejar, mas se conteve ao ver a face determinada de Ella. Não teria escolha, Draco teria de abrir o jogo pela primeira vez para um dos filhos, e isso realmente lhe doía. Pensava que aquele sentimento de insegurança tivesse morrido quando a guerra se foi há anos atrás, mas parecia que seu passado de más decisões não lhe deixaria em paz tão cedo.
           Expirou o ar frio dos pulmões e começou desde o início.
           - Você sabe que nós não somos muito bem vistos por um certo grupo da sociedade bruxa. - ele começou, mantendo o olhar no breu dos jardins novamente. Era mais fácil do que encarar os olhos cinzentos à sua frente. - Nós admitimos nosso erro, e fomos absolvidos das acusações. Muitos viram essa decisão com um ato de covardia e traição à Voldemort, e é o que Nixon considera. Para ele somos um bando de traidores do sangue. Embora ele não seja exatamente da época dos tempos negros, Nixon foi criado como um verdadeiro puro-sangue bruxo, e isso inclui todos os pensamentos anti-Potter, anti-trouxas, anti tudo o que prevaleceu depois que a guerra acabou. O filho da mãe é um dos infelizes mais inteligentes e brilhantes que eu já vi em toda a minha vida, podendo comparar até mesmo ao “grande” Lord Voldemort.
           - Mas ele não é um sinistro cara de cobra sem nariz, certo? - brincou Ella, na tentativa de aliviar a tensão do assunto.
           - Mais uma, e você vai descobrir o resto sozinha. -Draco revirou os olhos, mas logo recomeçou de onde foi interrompido. - Magia é o dom mais importante que nós temos, nos fornece tantas oportunidades e facilidades, sem contar, poder. Nixon adora ter o controle de tudo, poder tomar as decisões sobre todo tipo de coisa. Ele acredita que todos devem seguir o que ele acredita, que trouxas são um erro, mestiços não deviam existir, o Ministério é controlado por um imbecil e que os traidores do sangue devem ser punidos.
           - Ele parece um lunático, para mim. - comentou Ella, num tom baixo. Tinha mais algumas coisas a acrescentar sobre o estranho cara de quem o pai falava, mas calou-se ao ver a carranca que Draco fez. - Ok, eu parei.
           - Bom, eu sou o traidor número um na lista de Nixon, isso faz de você e Scorpius parte do conjunto. As más decisões que eu fiz no passado estão começando a se virar contra nós agora. - ele suspirou, parecendo mais cansado que o normal. - Você não tem idéia de onde acabou de se meter, Ella. Não devia ter aceito antes de saber exatamente o que estava acontecendo. Aquele Potter infeliz...
           - Ah, pai. Você sabe como ele é charmoso. Eu não consegui dizer não àqueles olhos esmeralda brilhantes. - falou Ella sarcasticamente. Draco soava como se Ella fosse a vítima daquela história toda, a pobre garotinha que se deixou levar pelo cara mau. Mas aquilo era uma verdadeira bobagem, pois fora sua decisão querer ajudar. Preferia fazer algo agora e acabar com aquela confusão toda do que continuar adiando, algum dia ainda teria de enfrentar os fantasmas do passado. Draco devia começar a fazer o mesmo, ao invés de continuar ignorando o passado. - A culpa não é dele. O Potter me deu a escolha, e fui EU quem resolver dizer “sim”.
           - Uma de suas mais estúpidas decisões. - ele revirou os olhos novamente, mas resolveu não prosseguir com o assunto, pois já sabia aonde iriam chegar se não parasse agora. - Bom, está nos planos de Nixon acabar com os traidores, mas seu foco agora é conseguir executar o encantamento.
           - E esse encantamento é...
           - Paciência. - ele fez sinal para ela se calar. - Nixon é muito habilidoso em várias áreas da magia, mas especialmente em magia negra. Passou anos estudando na Grécia, até que encontrou o que tanto procurava. Eu, particularmente, ainda acredito que irá falhar, não há como ele executar algo tão grandioso, algo que tantos no passado falharam tentando. Potter acredita que Nixon é capaz do Loci Fidelis.
           - O que exatamente acontece se ele conseguir esse tal de “Loci”? - perguntou Ella.
           - Não tenho idéia. Dizem que alguns bruxos, há milhares de anos, os usavam para obter o controle completo. O encatamento é feito com sete indivíduos que juram fidelidade ao grupo, abandonando suas almas individuais e as transformando em uma só. Eles ficam ligados de todas as formas possíveis, o nível em magia aumenta em uma quantidade assustadora e para acabar com o grupo, é necessário matar o portador principal, ou seja, Nixon, provavelmente.
           - Isso parece história para hipogrifo dormir. - falou Ella, não conseguindo guardar o comentário para si.
           - Vê aonde eu quero chegar? - ele sorriu vitorioso. - Vê o porquê ainda acho errado você ter aceitado ajudar o Potter? Aquela coisa que ele ainda chama de “Ordem”? Não existe tal perigo, porquê Nixon nunca irá conseguir executar o encantamento. Eu boto minha mão no fogo por isso.
           - Cuidado, pai. Fogo deixa marcas profundas. - Ella arqueou a sobrancelha direita, analisando-o com cuidado. O conhecia o suficiente para saber que ele poderia estar manipulando a informação, mas ainda havia aquela pequena possibilidade de ser tudo verdade. Aquele dilema no que acreditar estava deixando-a louca, por um lado, a história parecia uma verdadeira loucura, mas por outro, depois de tudo que o já ouviu sobre Voldemort e outros tempos negros, ainda tinha suas dúvidas. Magia era algo surpreendente, e muitas vezes, pode pegar todos desprevenidos.
           - Cicatrizes são um lembrete para não cometer o mesmo erro novamente. - ele rebateu. - Pare de procurar problemas, Ascella. Não vale a pena se envolver nisso.
           - Mas não foi o senhor quem disse que o lunático está atrás de mim? - indagou Ella encarando os olhos frios do pai. Ainda tinha dúvidas após ouvir a história, mas achava que tinha tomado sua decisão, e a correta. - Eu sou auror, e é isso o que eu faço, resolver o problema à força.
           - Tem outros que o farão, você não precisa se arriscar. - ele estava começando a se irritar. Tinha percebido que a filha já escolhera um lado, e não era exatamente o que ele planejara. - Não ouviu o que o maldito do Potter falou? Você é a isca, o alvo. Isso não é o bastante para lhe fazer desistir dessa maluquice?
           - E chegamos ao ponto que eu queria falar. - Ella abriu um sorriso ferino. Queria ver o pai argumentar contra o que falaria agora. - Eu sou a isca justamente porque nenhum de vocês sabem como encontrar o Nixon, é ele quem tem de nos levar ao buraco que ele chama de esconderijo. Se eu não aceitar, as chances de Nixon continuar andando por aí livremente são infinitas! Eu estou pouco me lixando para esse encanto idiota! O cara quer vingança acima de tudo, e se ele resolver descontar logo em Ethan, mamãe, ou Scorpius ou qualquer um que carregue Malfoy no nome. É melhor isso acabar agora, antes que fique pior.
           E como Ella já previa, Draco estava encurralado. Após mencionar como os outros estavam expostos àquela situação toda, em especial Ethan. Draco não tinha como tentar fazer Ella mudar de idéia. Era engraçado, mas o loiro realmente tinha se apegado ao menino, embora não demonstrasse claramente, e esta era a cartada que Ella precisava para vencer a discussão.
           - Olha, eu tomei minha decisão. - enunciou Ella com a voz firme. - Eu analisei tudo o que ouvi esta noite e o que o Potter me falou no outro dia. Está feito, pai. Eu vou ser a isca para o peixe grande.
           - Você vai se machucar, ou até mesmo ser morta. - falou ele amargamente. - Seria mais fácil pular de um precipício de uma vez, com certeza seria mais agradável.
           - Oh, estou lisonjeada com seu apoio, papai. - disse ela, acidamente. - Eu não vou voltar atrás.
           - Eu sei que não vai. - ele suspirou, se dando por vencido. - Você tem poucos meses, o encantamento irá ser feito quando Marte estiver alinhado com Vega e todas as estrelas da Ursa Maior.
           - O senhor sabe que eu nunca fui a melhor aluna de astronomia. Eu ia à torre para outros assuntos, se é que o senhor me entende. - Ella sabia que devia ter se segurado, mas não resistiu, e agora Draco estava mais vermelho do que nunca. Todos que já passaram por Hogwarts sabiam que a torre de Astronomia era usada mais para dar uns amassos do que para aula mesmo. Ella não duvidava que Draco já se aventurou por lá também com uma antiga namorada. - Me dê uma data melhor.
           - Em três meses, o dia eu não faço idéia, mas na semana que irá acontecer, será possível notar a diferença no céu. - explicou ele.
           - Como o senhor sabe que o céu fica diferente?
           - E essa seria umas das coisas que você teria aprendido em Astronomia se não tivesse matado tantas aulas. - ele revirou os olhos. Ella fora expulsa daquela matéria por falta de presença. - Além do mais, acontece a cada cinqüenta anos, eu tive a chance de presenciar quando era criança.
           - Bom, então o senhor fique de olho nas estrelas, que eu fico encarregada de fazer o Nixon me encontrar. - falou Ella, pondo um ponto final naquela discussão. Olhou no relógio, já era hora de ir. Agradecia mentalmente por Albus ficar de olho em Ethan naquela noite, nunca confiou muito nas habilidades de Morgan com crianças, então para que aquela não fosse a primeira e a última noite dele como babá, não queria abusar da sua boa vontade. Levantou-se da poltrona e caminhou até o lado do pai, ficou encarando-o por um instante. Ele nunca desviava o olhar. - Vai dar tudo certo, afinal, eu sou ótima em duelos. Nixon vai virar ração para coruja depois que eu acabar com ele.
           - Espero que mantenha essa confiança se chegar a encontrá-lo. - após dizer isso, Draco abriu um pequeno sorriso sarcástico. - Deixe meu neto longe daquelas suas porcarias trouxas, eu o quero de volta sem defeitos mentais.
           - Querido papai, depois dele viver aqui na Mansão por tanto tempo e não ter o cérebro afetado, nada será capaz de fazer isso à Ethan. - Ella retribuiu com o mesmo sorriso, depois se afastou. - Se o estado de mamãe mudar, sendo para melhor ou pior, me mande uma coruja. Estarei em casa esse final de semana. - após dizer isso, Ella aparatou.
           - Maldito temperamento difícil. - resmungou Draco para si mesmo, sorrindo.

           Assim que abriu os olhos, Ella deu de cara com uma das pessoas que menos esperava ver naquele momento: Lily Potter. E não era somente isso que a deixou em estado de profundo choque, a ruiva estava acompanhada pelo seu melhor amigo e um dos caras mais canalhas que conhecia, Morgan.
           - Eu sei. Eles apareceram aqui do nada... juntos! - comentou Albus, aparecendo ao seu lado.
           Os dois continuavam fitando o casal na sacada em profundo choque. Morgan falava algo, gesticulando e derrubando o vinho de sua taça enquanto Lily praticamente gargalhava. Aquele não era um bom sinal, Ella já presenciara aquela cena milhares de vezes e sempre acabava com ela tendo de livrar Morgan de alguma azaração ou até mesmo curando os machucados. Algumas mulheres podiam realmente ser vingativas.
           - Se você tem amor à sua irmã, vá lá e comece a socar o imbecil do meu amigo. É sério. - disse Ella, aceitando a taça de vinho que Albus ofereceu. Deu uma olhada melhor no apartamento, a porta do quarto estava fechada, Ethan provavelmente já tinha ido dormir. Havia uma garrafa de vinho aberta sobre a mesa, e não era de sua adega particular. Junto ao vinho, um prato com petiscos de aparência estranha chamaram a atenção de Ella, aquilo nunca que tinha vindo de sua cozinha.
           - Eu juro que já considerei essa possibilidade, mas Lily não iria gostar nada disso.
           - Dane-se para o que ela pensa. Seu pai me mata quando descobrir que Morgan está abrindo as asinhas para a filha dele!
           - E por que exatamente ele iria te matar? Não foi você que mandou a Lily dar corda para o paspalho. - Albus a guiou para a cozinha, onde poderiam conversar sem a possibilidade de Morgan ou Lily os escutarem, embora parecesse que eles não notariam algo nem que um elefante roxo aparecesse batendo asas ao lado dos dois.
           - Porque é bem capaz dele pensar que fui eu quem apresentou os dois. Agora chega de papo e corra lá para meter um soco bem na fuça de Morgan. Se der sorte, ele aprende dessa vez.
           - Oh, como é bonita a amizade de vocês. - ironizou ele, revirando os olhos depois. - Eu ainda tenho a noite toda para tentar um homicídio, agora me conte como foi lá. Como está sua mãe?
           Ella estava torcendo para ele não entrar naquele assunto, mas via agora que não tinha como evitar. Não queria falar sobre aquilo, pois só de lembrar, todas aquelas imagens da mãe naquele estado frágil e doente lhe atingiam a mente.
           - Ela não está nada bem, acho que nunca esteve pior. - falou Ella, num tom ressentido.
           - Sinto muito. - ele pegou a taça da mão de Ella, e depositou sobre o balcão da cozinha, depois puxou a loira para seus braços, e esta não pestanejou. - Não se preocupe, tudo vai dar certo.
           - Não desta vez, Albus. Não desta vez. - Ella olhou para cima, encarando as íris esmeralda dele. - Eu não sei o que pensar, ela não pode... morrer. - quase engasgou quando pronunciou a última palavra. - Mas também não agüento mais vê-la sofrer desse jeito, viver com essa dor infernal todo santo dia, além de só respirar e pegar um pneumonia ou coisa do tipo.
           - Às vezes nós apenas temos de deixá-los ir. - Albus acariciou amavelmente a bochecha de Ella, que sorriu tristemente. - Tente não pensar muito nisso agora, ok? De um jeito ou de outro, tudo vai ficar bem.
           Ella sabia perfeitamente que as palavras de Albus eram um jeito de tentar transmitir conforto, mas diante de como estava a situação, era simplesmente impossível para Ella tentar tirar aquele peso da consciência. Não conseguia tirar aquilo da cabeça, ainda mais agora que sabia que Astoria já havia se entregado ao destino, depois de tantos anos lutando contra aquela maldita doença.
          Respirou fundo, engolindo o choro. Não ficaria chateada agora, não na frente dele. Deixaria para afogar a tristeza mais tarde, quando estivesse apenas ela e uma taça de vinho no sofá. Ficando na ponta dos pés, beijo-o levemente nos lábios, sem seguida, levou a taça consigo para o outro aposento.
           Morgan e Lily estavam do mesmo jeito. Ella não sabia se era impressão dela, mas os dois pareciam estar mais próximos. Na verdade, não era impressão nenhuma, eles estavam praticamente abraçados e ainda dividiam a mesma taça de vinho. Revirou os olhos. Morgan teria de ir atrás de um novo rabo de saia, pois ainda não estava pronto para encarar Harry Potter depois de ele ter levado sua adorada filhinha para a cama e fugir na manhã seguinte quase na velocidade da luz.
           Aproximou dos dois silenciosamente, agora com Albus ao seu lado. Teve que limpar a garganta duas vezes para que eles percebessem que não estavam mais sozinhos.
           - Então, Ella, como foi lá na Mansão? - perguntou Morgan, sem se mexer um músculo.
           - Maravilhoso. - respondeu ela, sarcástica. Entregou sua taça à Albus e agarrou o braço de Morgan, começando a puxá-lo quando encarou a ruiva. - Vou pegar ele emprestado só um minuto. Hei de tentar devolver sem faltar nada.
           - Claro. - Lily sorriu, depois virou-se para o irmão. - Vem, vamos pegar mais vinho.
           Lily não esperou a resposta de Albus e saiu puxando o irmão, deixando Morgan e Ella à sós.
           - Você perdeu a cabeça?! - exclamou Ella, dando um tapa estalado na testa do amigo. - Perdeu o amor pela vida, foi?
           - Que escândalo todo é esse, mulher? Por que o estresse? - perguntou ele, completamente confuso.
           - O que pensa que está fazendo com a Lily? - ele abriu a boca para responder, mas Ella foi mais rápida. - Por Merlin, ela é filha do Potter. Você tem noção do que o cara vai fazer quando descobrir o que você está fazendo?
           - Olha só quem fala. - ele apontou para Albus segurando a garrafa de vinho e servindo a ruiva. - Como se você fosse uma santa também.
           - Eu não tenho a sua fama, querido. Você vai fazer a mesma coisa de sempre, e dessa vez não tem como se livrar da garota.
           - E quem aqui falou em se livrar da garota? - Morgan sorriu galanteador após olhar rapidamente para Lily. - A ruiva tem potencial, Ella. Você não faz idéia do quanto.
           - Eu não quero estar perto quando você virar petisco para dragão, amigo. - Ella meneou a cabeça em negativa. Já tinha passado a mensagem para Morgan, se ele resolvera recebê-la ou não, já não era mais da sua conta.
           - Você se estressa demais, Ella. Viva o momento, desencana, aproveite a vida. - ele a abraçou fortemente, chegando até a doer. - O amor é lindo! Aí tem a lua e as estrelas...
           - Oh, céus. Acho que eu vou adiantar o trabalho do Potter, e te jogar logo daqui de cima. - falou com dificuldade, enquanto tentava fazê-lo soltar seu corpo.
           - Que violência. - abriu um sorriso matreiro. Só soltou Ella quando ela pôs o máximo de força no impulso, e só não deu de cara no chão porque Morgan segurou seu braço novamente. - Caí não.
           - Agora eu entendo porque as pessoas cometem homicídios. - murmurou Ella, libertando-se das mãos dele.
           Ella deixou Morgan sozinho e juntou-se à Albus na sala. Não tinha cabeça para lidar com Morgan naquela noite, mas o amigo teria uma bela surpresa na manhã seguinte quando acordasse com o berrador que lhe mandaria assim que o sol raiasse.
           - Albus, vá cuidar da sua vida. - exclamou Lily, depois virou-se para a recém chegada Ella. - Ella, dê um jeito nele, porque senão eu juro que ele vai sair daqui sem andar.
           - O que você disse para ela? - indagou Ella, vendo Lily se juntar à Morgan novamente.
           - Provavelmente o mesmo que você disse à Morgan. - ele apertou os olhos com raiva ao ver Morgan acariciando o rosto de Lily. - Você vai ficar muito brava se eu, acidentalmente, matar o seu amigo?
           - Brava? Que nada! - Ella gesticulava sinalizando descaso da situação. - Mas espere até eu conseguir um novo melhor amigo. Eu preciso de alguma distração para as tardes pacatas no Ministério.
           - Bom saber que você é uma ótima amiga. - Albus cingiu seu braço pela cintura dela, puxando Ella para perto de si.
           - A melhor, Albus. Simplesmente a melhor. - respondeu Ella sorrindo de volta.
Um odor terrivelmente delicioso lhe invadiu as narinas em seguida. Ella olhou em volta e percebeu que o forno estava ligado e havia algo dentro. Não ligava para o que fosse, só sabia que iria demorar muito em breve, estava se sentindo faminta.
           - Agradeça ao seu amiguinho. - falou Albus, prevendo uma das perguntas mentais de Ella. - Você devia ter visto a minha cara quando abri a porta e o indivíduo entrou no apartamento com o vinho em uma mão e a sacola com isso ai – apontou para o forno. – na outra. Sem contar a ilustre companhia da minha adorada irmã.
           - Como exatamente isso aconteceu? Digo, Morgan e Lily juntos. - indagou Ella, pegando um pedaço de torrada e passando manteiga.
           - De acordo com a versão de Lily, ela estava no ministério procurando por mim aí foi pedir informação para o desgraçado do Morgan. - Ella não resistiu e riu da careta de Albus ao pronunciar o nome de Morgan. - Ele disse que eu estava na sua casa e se ofereceu em trazê-la aqui. Patético.
           - Ora, esqueça disso por um momento. - falou Ella, empurrando o vinho para Albus. - Comece com a paranóia amanhã, é o que eu vou fazer. Não consigo pensar em mais nada hoje.
           - Certo. Amanhã. - disse Albus, finalizando o assunto. Ele lançou um último olhar desconfiado aos dois no lado de fora e rolou os olhos. - É bom que esse infeliz tenha um bom plano de saúde.
           - Deixe de ser ciumento. - Ella deu um leve tapa no braço dele e começou a se afastar com sua taça na mão. Ao invés de passar a noite inteira conspirando contra Morgan e Lily, iria se juntar à eles, e na manhã seguinte mandaria um lindo berrador para dar bom dia à Morgan. - Já devia ter se acostumado com os pretendentes da sua irmãzinha.
           - Isso, querida Ella, é uma coisa a qual eu nunca me acostumarei. - falou ele, caminhando ao lado de Ella até a varanda.
           - Então boa sorte, pois eu vejo pela frente muita dor de cabeça para você. - Ella desviou o olhar para o alto ao ver, logo à frente, os lábios de Lily e Morgan colados. Albus cerrou os punhos, e Ella agradeceu mentalmente por ele não estar com uma das taças na mão. Com a mão livre, entrelaçou seus dedos nos dele, prendendo-o e o acalmando-o um pouco. - Lembre-se. Amanhã será o dia para sermões, hoje é apenas para relaxar.

           O relógio da sala apitou baixo, era quase uma da manhã e Albus ainda estava ali fazendo companhia para Ella. Para o desgosto dele, Morgan e Lily deixaram o apartamento cedo ainda, era apenas nove e meia quando eles aparataram. Ella não queria nem pensar no que eles fariam em seguida, e passou um bom tempo falando para Albus fazer o mesmo. Agora só restavam eles ali na sala, e Ethan, claro. O pequeno dormia em um sono profundo na cama de Ella, até que o idiota de Morgan resolveu aumentar a música e, o pior, começar a cantar tão desafinado quanto uma gralha. Nem mesmo com milhares de feitiços anti-som deixariam qualquer pessoa normal dormir.
Ella olhou para o menino. Ele ressonava tranqüilo sobre as almofadas no tapete. Invejava-o naquele momento. Dormir naquela tranqüilidade era o que mais precisava naquela noite, e era provável que o máximo que conseguiria seriam apenas algumas poucas horas má dormidas.
           - Essa é uma das minhas preferidas. - comentou Albus, enquanto brincava com as mechas loiras de Ella. Estavam dividindo o pequeno aparelhinho, Ella tinha um fone e ele o outro. - Como conseguiu colocar essa música aí? É uma banda bruxa!
           - Eu tenho meus contatos, querido. - respondeu Ella, escondendo um sorriso. Não fora nada fácil pôr aquela música ali, tivera de apelar para Deus e o mundo, literalmente. Lembrava-se do nome do indivíduo, Phil, do Departamente de Uso Indevido da Magia. Um nascido trouxa nada amigável. Foi realmente um custo para persuadi-lo a ajudá-la, e o pior era que ainda devia uma para o canalha. Mas todo aquele trabalho valera a pena, pois realmente adorava aquela melodia também, nunca se cansava de escutá-la. - Essa realmente é uma ótima música.
           - É. - concordou conciso. - Uma coisa que eu ainda não me conformo é esse seu gosto por coisas trouxas. É tão bizarro e diferente.
           - Não é a primeira vez que eu ouço isso. - falou Ella com sinceridade. - Nem eu sei como eu parei desse jeito. Depois do tempo que passei com Amber, percebi que o mundo trouxa não é tão ruim, se não fosse pela falta que a minha varinha faria, eu até acho que poderia viver nele.
           - Você não parece nada com uma Malfoy.
           - Um sobrenome idiota não nos diz que somos, certo? Carrego o sangue que representa minha família, mas quem sou, depende somente de mim.
           - Fico feliz por isso. - ele aproximou seu rosto ao de Ella, colando suas testas. Ele cantarolava a melodia do violão sorrindo. - “E eu acho que acabei de me apaixonar por você.” - cantou ele e a música chegou ao fim. - Eu acho que vou indo, já é tarde.
- Não! - foi como num reflexo. Ella soltou o Ipod e se agarrou no braço dele, fazendo alargar o sorriso. - Fique. Fique esta noite.
           A resposta dele não veio de sua boca, Ella percebeu que ele não iria a nenhum lugar quando sentiu o braço dele passar pelo seu ombro e descer até a sua cintura. Ele a puxou para perto, para que Ella deitasse sobre seu peito, uma posição mais confortável.
           - E eu acho que também acabei de me apaixonar por você. - recitou Ella, corando levemente. Olhou diretamente nos olhos dele e antes de beijá-lo nos lábios, disse: - Eu te amo.


O QUE ACHARAM DA NOVA CAPA? *____*


N/Autora: Tai o capítulo, demorou mais chegou. E dessa vez eu mereço um milhão de comentários, eu tive que reescrever esse bagulho DUAS vezes, a primeira o computador travou e eu perdi OITO páginas; na segunda vez, o capítulo lindo e interiro sumiu, evaporou – a sorte que eu tinha enviado metade para minha amiga ver. Foi uma dificuldade tremenda chegar até aqui, auhau, mas cá estamos. Bom, espero que tenho exclarecido as dúvidas de vocês quanto à Astoria e ao Nixon. Não sei se vocês repararam, mas o título da fic é da música do Tom Waits, cantado pelo Marc Cohn também. É essa a música que estava tocando no ipod é o último trecho da música. Bom, agradeço à minha beta querida Vivika Malfoy e à vocês pela paciência e o interesse pela fic. Mais uma vez, obrigada pelos votos e comentários. Beijos e até a próxima.

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