Capitulo 10



Capitulo 10

Foi só mais tarde, quando Harry pôde voltar a pensar e a respirar, que percebeu que estavam abraçados embaixo de sua mesa.

Ocorreu-lhe que poderia ficar ali, abraçado a ela por muito tempo. Não tinha idéia se Hermione se sentia como ele. Tudo tinha acontecido tão rápido.

Antes que conseguisse pensar em algo para dizer, ele a viu correndo os dedos pela perna da cadeira. Ela parecia distante, pensativa.

-Um tostão por seus pensamentos – Harry desafiou.

Hermione pensou por um segundo antes de responder.

-Eu pensava que ainda não tenho certeza.

Harry franziu as sobrancelhas.

-Sobre o quê?

-Por um tostão é só o que vou lhe dizer!

A gargalhada irrompeu antes que ele pudesse controlar. Apertou-a ainda mais nos braços.

-Está bem, cinco tostões.

-Ora, mas que avarento!

Os olhos dele se estreitaram.

-Que tal um maço inteiro de notas?

Mordendo o lábio, Hermione pareceu considerar a oferta e então disse:

-Não estou certa sobre o que é melhor. Rápido e forte, ou lento e ligado aos detalhes... Até onde consigo ver, os prós e contras se equilibram.

Ele ergueu as sobrancelhas.

-Talvez devemos tentar de novo?

-Acho que era exatamente isso que eu ia propor.

Harry colocou sua mão em concha no rosto dela, segurando-a até seus olhares se encontrarem.

-Poderemos começar assim que me disser o que estava pensando enquanto tocava a cadeira.

Hermione estudou seu rosto por um segundo.

-Era um pensamento tolo. Estava pensando em quantas vezes já me imaginei nessa cadeira... nunca embaixo dela.

-Está arrependida?

Ela abriu lentamente um sorriso.

-Está brincando? Se bem me lembro, a idéia foi minha. Aliás, precisei me esforçar muito para seduzir você.

-Você disse que já se imaginou nessa cadeira? Já se imaginou dirigindo a Metropolitan?

-Não. Quero ser uma editora como Esme Sinclair. Sempre a admirei, desde que comecei a pensar em escrever para revistas. Ela foi uma vez fazer uma palestra em minha faculdade e falou também para os professores. E estava sentada nessa cadeira a primeira vez que a encontrei nesse escritório.

-Ela deve ter ficado nesta sala enquanto meu pai esteve doente. – Harry olhou demoradamente para a cadeira. – É engraçado que tanto você quanto eu tenhamos desejado sentar nesta cadeira em particular. Talvez tenhamos mais em comum do que imaginemos.

-Você nunca se senta nela – Hermione observou.

-Claro que sento.

-Nunca o vejo nela. Está sempre sentado no canto da mesa, ou na mesa de reuniões. Ou então está de pé falando ao telefone.

Ela estava certa. Harry evitava mesmo sentar-se naquela cadeira.

-Fiz minha mãe chorar a última vez que me sentei aí. – de onde aquelas palavras haviam vindo ele só se perguntou depois de já havê-las dito em voz alta. Nunca havia falado sobre sua mãe. Com ninguém.

-O que a fez chorar?

Talvez pelo modo como ela olhou, Harry se pegou contando a ela o que acontecera naquele dia, quando ele tinha cinco anos e cometeu o erro de usar a caneta de seu pai.

-Não foi você quem a fez chorar, e sim seu pai quando não pôde entender uma criança de cinco anos – Hermione disse em um tom de voz muito seguro quando ele terminou de falar. E então, muito devagar, ela foi se baixando para tocar seus lábios.

Foi um beijo diferente. Havia nele uma ternura especial, que Harry nunca havia sentido antes.

Hermione afastou-se e falou:

-Vamos, tenho uma idéia.

De um salto, ela rolou para o tapete e se levantou. Então, estendeu a mão para ele e o puxou.

-Já lhe disse que uma lembrança ruim só pode ser apagada por outra que se coloque em seu lugar, não é? Já fez amor em uma cadeira?

Harry só percebeu que ela falava a verdade quando ela o empurrou e ele caiu sentado na cadeira. Harry segurou-a pela cintura e a puxou junto com ele. Hermione sentou-se já na posição exata. Abraçados, as pernas dela colocadas para trás da cadeira...

-Era isso que tinha em mente?

-Hummm... Está ainda melhor. Uma vez que consiga entender, você sabe fazer as coisas direito.

-Mione! – rindo alto, falou: - Se continuar me fazendo rir, pode não ter tempo para alcançar o que está esperando.

-Então... – Hermione parou de falar para beijá-lo.

E esqueceram-se do mundo enquanto partilhavam aquele momento repleto de emoções.

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-Está tudo acertado então, Romano. – Harry se voltou para Hermione. – A não ser que tenha mais alguma observação a fazer...

Hermione balançou a cabeça. Sam Romano, o encarregado de segurança que Harry contatara, estava sentado diante de si na mesa de reuniões. O homem alto e moreno usava um terno perfeitamente talhado e tinha tomado notas obsessivamente desde que chegara. E Hermione estava tentando descobrir porque senti uma certa tensão entra os dois homens.

-Hermione precisa de um segurança o mais rápido possível – Harry avisou.

Sam levantou por um instante os olhos de seu caderninho.

-Concordo. Vou estar com ela logo cedo.

-Você? – Harry perguntou antes de franzir o cenho. – Pensei que sua firma tinha pessoal especializado em segurança. Você não me parece um guarda-costas.

Sam sorriu.

-Por isso mesmo é que posso fazer um bom trabalho.

A expressão séria de Harry não se desfez, enquanto estudava o rosto do agente. E então cobriu a mão de Hermione com a sua.

-Quero que compreenda que o bem-estar da srta. Granger é muito importante para mim. Ela vai ficar comigo, em meu apartamento, até que esse problema com sua segurança esteja resolvido. Estamos acertados?

-Compreendo perfeitamente. Acho que nós dois podemos ficar de olho na srta. Granger. O problema é que ela não é a única que está me perigo.

-O que quer dizer? – Harry perguntou.

Sam folheou suas notas.

-O carro que você mencionou, aquele que quase os atropelou no Rockfeller Center. Teria batido em vocês dois, não? E você também recebeu uma ameaça. A pessoa pode ter problemas com você. E a srta. Granger pode estar sendo usada apenas como desculpa.

Tentando ignorar o calafrio de medo que perpassou seu corpo, Hermione enlaçou seus dedos aos de Harry.

-Sam está certo. Você também precisa de um guarda-costas.

-Talvez não – Harry resolveu dizer a Sam com honestidade. – Vou lhe dizer uma coisa que não disse à polícia. Penso que meu irmão pode estar por trás destas ameaças. Ele quer que eu desista de meu cargo na revista. Não estou, então, pessoalmente correndo riscos. Na verdade não acredito que ele machuque Hermione também. Acho que quer apenas nos assustar.

Sam disse seriamente.

-Se entendi bem, você acabou de assumir o cargo de editor-chefe da Metropolitan, e tem intenção de fazer uma série de mudanças no formato da revista. Alguém pode estar ressentido com isso e desejando que você caia.

-Sim, concordo. – fazendo uma pausa, Harry franziu o cenho. – Mas por que alguém aqui de dentro da revista envolveria a srta. Granger? Não entendo.

Sam olhou-o de frente.

-Você tem um contrato com ela. Se os artigos dela aumentarem a vendagem da revista, isso será um ganho para você, certo?

Harry fez um gesto em concordância.

-Acho que sim.

-Podemos também ter duas coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo. Pessoas na revista que querem vê-lo cair, e pessoas que estão desgostosas com o conteúdo dos artigos da srta. Granger, e que estão querendo colocar um fim neles.

-Acha que podemos ter mais de uma pessoa por trás disso tudo? – Hermione perguntou assustada.

-Bingo! – exclamou Sam. – Ou pode ser que seja só uma pessoa mesmo, como o seu ex-namorado, se ele for um tipo ciumento como imaginou o detetive Perez. – ele voltou novamente o olhar para Harry. – Vou mandar investigá-lo. E ao seu irmão também.

Harry estreitou os olhos.

-Acha que ambos podem estar envolvidos?

-O que eu penso é que temos algumas peças de um quebra-cabeça. Não conseguiremos descobrir como juntá-las até que tenhamos mais algumas. E penso também que vocês dois precisam de proteção.

Ele abriu ainda outra página nova em seu bloco.

-Digam-me o itinerário que pretendem seguir nos próximos dias.

-Amanhã eu vou ao campo de patinação do Rockfeller Center e então...

-Você terá que mudar seus planos. – Harry virou-se para Sam. – Diga a ela que é muito perigoso.

Sam abriu rapidamente um pequeno sorriso e virou a palma de suas mãos para cima.

-Uma de minhas regras é a de não me envolver em desentendimentos domésticos.

-Obrigada, Sam. – ela se virou para Harry. – Já que você está decidido a publicar os artigos, tenho de escrevê-los. E quanto antes o fizer melhor.

Ela estava certa. Harry se voltou para Sam.

-Pode protegê-la?

-Tenho um par de patins que não uso há anos – Sam disse prontamente. – Eu costumava ser razoável neles. E a verdade é que se há alguém atrás de vocês, ou de um de vocês, não vamos conseguir pegá-lo se ficarem escondidos dentro de casa.

-Vou com vocês – Harry falou.

-Ótimo! – o sorriso de Sam se alargou. - Assim ficará realmente mais fácil proteger vocês dois.

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-Você não pode patinar comigo!

Sem se importar em olhar para ela, Harry continuou a amarrar seus patins.

-Você não vai para a pista sozinha.

Como podia ser tão teimoso? Hermione estava vermelha de raiva, embora não pudesse negar que a discussão era melhor do que a cortina de silêncio que Harry colocara entra eles desde que fizeram amor.

Quando chegaram ao apartamento dele na noite anterior, foi como se ele houvesse esquecido o que haviam vivido pouco antes. Levara-a educadamente ao quarto de hóspedes e lhe dissera que ambos precisavam de uma boa noite de sono.

Do lugar onde estavam ela já podia ver que a pista de patinação estava lotada de patinadores de todos os tipos, desde crianças até casais de mais idade, desde principiantes até pessoas que pareciam profissionais se apresentando. E havia também vários homens sozinhos, o que era muito bom.

A questão era: a saia teria algum efeito sobre eles?

Ao lado dela, Harry resmungava que um de seus cadarços se rompera.

Talvez a grande questão fosse: o homem ao seu lado permitiria que ela testasse a saia sem interferir novamente?

Aproximando-se mais de Harry, Hermione resolveu tomar uma atitude.

-Acho que precisamos combinar algumas regras. Quando estiver no gelo comigo, você terá de manter alguma distância para permitir que a saia funcione. Ninguém chegará perto de mim se estiver com você grudado.

Harry finalmente conseguiu terminar de amarrar os cadarços e Hermione percebeu o quanto estavam próximos... Na verdade, o quanto suas bocas estavam próximas.

-Mione, volte para o apartamento comigo.

Quando Harry encostou a mão na lateral de seu pescoço, aconchegando-a, ela sentiu a pulsação disparar. Ela o desejava. Apenas isso, fácil, simples.

-Mione...

Havia uma parte dela que só desejava esquecer o que quer que eles tivessem ido fazer lá e correr com ele para o apartamento. Estava até mesmo disposta a esquecer o modo como ele mantivera distância dela.

-O que me diz? Podíamos voltar e passar o resto do dia....

Ele se aproximou mais para sussurrar em seu ouvido. Toda a racionalidade de Hermione estava perdida quando ele passou a descrever em detalhes o que poderiam fazer pelo resto do dia que teriam pela frente.

Em algum lugar de sua mente, ainda estava consciente dos sons, alguém tossindo, o ruído que escapava do walkman de alguém próximo. Mas ficara totalmente perdida nas imagens que Harry estava criando. Eram tão tentadoras, seria tão fácil...

-Me desculpem...

Harry não soltou Hermione enquanto se virava.

-O que você quer?

A mulher que havia se aproximado deu um pequeno passo para trás depois de ouvir o tom da resposta de Harry.

-Queria saber se posso usar o banco. Minhas filhas precisam se calçar e, bem... como vi que já tinha colocado seus patins...

-Lógico que pode usar o banco – Hermione disse, colocando-se em pé no mesmo momento em que Harry afrouxava um pouco a pressão sobre seu pescoço.

Harry a puxou de volta.

-Não vai demorar nada para que tiremos nossos patins.

-Tirar nossos... – Hermione tinha que aproveitar a oportunidade para se libertar daquela armadilha sensual. – Não, não podemos ir ainda. Quero patinar – ela reclamou, colocando suas mãos sobre as mãos dele, que já estavam nos cadarços. – Tenho que fazer minha pesquisa para escrever os artigos. Quanto antes eu terminar, antes estaremos a salvo.

Colocando-se novamente em pé, Hermione sorriu para a mulher e suas duas filhas.

-Desculpe-nos pela demora.

Em um segundo ela já estava longe dele. Se já ora difícil para Harry segui-la em meio à multidão para chegar à pista, a situação piorou quando seus patins tocaram o gelo. Começou a cambalear e teve que se apressar para segurar no corrimão. Porém, quando o fez, já a perdera de vista.

Lutando com o medo que imediatamente tomou conta de si, ele começou a conversar consigo mesmo silenciosamente.

“Sem pânico. Ela está na pista. Terá que passar ao seu lado em poucos segundos.”

Pela primeira vez em sua vida se sentia como um touro. Será que bastava estar perto de Hermione para que perdesse o controle?

O fato era que não podia deixar de se imaginar fazendo amor com ela. O tempo todo não pensava em outra coisa.

Deus era testemunha de que ele tentava. Apenas por sua insistência ela concordara em passar a noite em seu apartamento, e ele a tinha colocado no quarto de hóspedes, como mandava a boa educação.

Claro que por sua vontade ele a teria levado para sua cama, mas... podia se orgulhar de si mesmo, pensou com uma certa tristeza. Não dormira um segundo, e sabia que magoara Hermione.

Não que ela houvesse dito alguma coisa, mas com certeza percebera sua frieza e a interpretara como rejeição.

-Bom trabalho, Potter – ele murmurou para si mesmo, quando Hermione passou por ele sem ao menos lançar-lhe um olhar.

Na verdade, só se manteve ali porque o rapaz continuava ao lado dela. Interessante que, de perto, ele parecia apenas um adolescente se exibindo para uma mulher mais velha. Mas pensando bem, ele parecia não perceber que Hermione era mais velha. Observando-a com cuidado, até para Harry ela parecia uma menina, rodopiando alegremente no gelo com a bendita saia.

Aliás, era para a saia que olhava quando tudo aconteceu.

O jovem exibicionista girou de repente e um de seus patins acertou Hermione pelas costas. Ela caiu para frente e Harry no mesmo instante já se afastava da barra de apoio.

Ignorando o fato de que seus pés pareciam absolutamente fora de controle metidos naquele patins, ele se lançou para a frente...

Por pouco não caiu no mesmo instante, mas inclinando-se para trás conseguiu novamente o equilíbrio. Parecia até capaz de mantê-los, com os círculos que fazia no ar com os braços... mas então de repente foi atingido por trás. Segundos depois também beijava o gelo.



Obs:Ai está o capitulo 10 como eu havia prometido!!!!Espero que gostem!!!Ainda hoje atualizo "O Senhor da Paixão"!!!!Bjux!!!!

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