Deja vu



Cap. 19_

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?
Hermione acordou lentamente no começo da manhã. Ainda sonolenta, e de olhos fechados, esticou a mão e deslizou-a sobre o lençol ao seu lado. Encontrou a cama vazia. Franziu os olhos. Então, abriu-os repentinamente e sentou-se na cama. Por alguns minutos, achou que tivesse vivido um sonho, e Harry não tinha na verdade voltado para ela. Pensou que ele, na verdade, não fora dormir na sua cama na noite anterior, já que agora, acordada, ele não estava ali.

Forçando os olhos contra o sol, entretanto, viu seu vulto recortado contra a janela. Sem camisa, com os dois braços apoiados contra a vidraça, olhava para fora com um rosto compenetrado. Ficava ainda mais bonito quando estava sério.

_Harry... _ela chamou com uma voz baixa e melodiosa. Surpreso, ele virou-se para ela e sorriu. Um sorriso que ela reconheceu ser mais reconfortante do que sincero. _O que foi?

Ele não respondeu. Caminhou até a cama e apoiou-se no dossel. Ficou alguns segundos apenas olhando-a.

_Sabe como eu queria que fosse o final disso tudo, Hermione? _ela inclinou o rosto, indicando que não, mas que queria saber. Ele deu a volta na cama, ajoelhou-se ao seu lado, apoiou os braços cruzados no colchão e o queixo nos braços _Eu queria casar com você. De verdade, dessa vez. Um casamento de vestido branco, festa e sei lá mais o que tem em um casamento, já que eu nunca fui em um. Que o Voldemort se arrependesse de tudo o que ele já fez, e se matasse. Porque assim eu não ia ter que sujar minhas mãos com ele. Queria que o Rony esquecesse que gosta de você. Porque ele ia parar de me odiar, como se eu tivesse roubado algo dele e poderia ver o Thiago com um sobrinho muito querido. Que tem pai. E o Thiago... Bom, o Thiago eu queria que entrasse em Hogwarts, e que desse muito trabalho para o Hagrid, porque o Hagrid mentiu para mim, e acho que o Thiago dar muito trabalho para ele seria bom pagamento. _Hermione sorriu _E queria que aquela garota ruivinha engravidasse daquele loirinho arrogante, contrariando todas as previsões da medicina. Era assim que eu queria.

_Pode ser assim, Harry. _Hermione passou a mão em seus cabelos negros.

_Não, não pode. _ele respondeu resoluto _Voldemort não vai se matar. _e levantou-se. Hermione sabia que ele tinha razão. Que, no fim das contas, ele teria que ser o assassino, ou a vítima. E, levando-se em consideração a opção, ela não se opunha muito a idéia de que ele fosse o assassino de Voldemort. _Já volto, Mione. _e curvando-se, beijou-a, segurando com força seu rosto contra o dele.

_Aonde você vai? _ela perguntou quando ele se afastou.

_Até Hogwarts.Acho que... Como é mesmo o nome dele? _ele perguntou colocando uma camiseta _Dumbledore? _Hermione fez que sim. Acho que ele pode me ajudar. _Pegou a varinha sobre o criado mudo e curvou-se mais uma vez para ela. _Eu quero que você saiba, Mione, que eu nunca me senti assim antes, como eu me sinto com você. Eu soube quando eu a vi, tentando duelar comigo que você era especial. Eu não sei como foi da primeira vez, mas agora eu amo você acima da minha própria vida.

A sensação de que aquilo era um sonho dissipou-se rapidamente. Era tão real que a fazia tremer. De medo. Medo de que pudesse perde-lo novamente.

_Volto logo. _e, beijando o topo da sua cabeça, saiu do quarto.

Hermione ficou alguns minutos encarando a porta. Então, levantou-se, vestiu uma calça de sarja e uma blusa de zíper, e saiu para a sala. Thiago ainda dormia preguiçosamente. Daqui a pouco iria acorda-lo. Estava quase na hora de leva-lo para a escola.

Com um toque da varinha, fez o leite borbulhar e o café ficar pronto. Pegou uma caneca do armário e, enquanto sorvia lentamente o líquido quente, notou uma coruja para na janela da sala.

Caminhou até ela, sabendo de onde ela vinha. Somente o ministério tinha corujas tão pomposas.

Deixou-a entrar, e pegou a carta que ela trazia presa à perna. A coruja voou imediatamente.

Mione derrubou a caneca no tapete, assim que leu suas primeiras, e poucas linhas. Com pouca sutileza e em um tom que demonstrava o mais evidente desespero, o líder dos conselheiros contava que Stuart fora encontrado morto, em sua sala, com a marca negra sobre sua cabeça. As poucas linhas da carta mostravam seu medo de que eles estivessem infiltrados no ministério. Sem orgulho nenhum, ele admitia que ela tinha razão, e implorava para que ela voltasse ao seu posto. Imediatamente. O Ministério estava em total desordem. Só ela poderia resolver isso.

Hermione sentiu o orgulho inflar-se. Eles a recusaram. Eles disseram, com todas as letras da frase, que ela estava louca. Devia deixa-los. Devia deixar que eles se consumissem totalmente no desespero que estavam sentindo.

Mas isso durou muito pouco. No fim das contas, ela era a Hermione, sempre disposta a ajudar. Mesmo quando isso significava deixar que copiassem sua lição de casa. O Ministério engolira o orgulho. Ela não podia deixar realmente que eles ficassem desamparados. E, além disso, o ministério desestabilizado era um prato cheio para Voldemort.

Rapidamente, rabiscou um bilhete para Rony, e mandou-o pela sua própria coruja. Depois, verificou se Thiago ainda dormia, e aparatou para o ministério.

Enquanto era envolvida pela quase densa escuridão, ela se forçava a acreditar que tudo daria certo, enfim. Um pouco de pulso firme, arrumaria a bagunça. Com os aurores do ministério a seu serviço, combater Voldemort ficaria muito mais fácil.

E, quando desaparatou no saguão do ministério, viu que a carta não era um exagero. Pessoas lotavam a rede de flu, tentando abandonar o local rapidamente. Outras tentavam, inutilmente, acalma-las. Uma minoria apenas observava a caótica cena. Pelas portas abertas, Mione via funcionários esvaziarem as pressas seus armários. Outros despachavam cartas para as famílias, talvez para dizer que Voldemort realmente voltara. Uns poucos tentavam esconder um visível sorriso de satisfação. Esses seriam os primeiros a ir para rua.

_Bloqueiem o Flu. _ela bradou, inesperadamente. Todos, imediatamente, pararam o que estavam fazendo e viraram-se para ela, surpresos. Mione começou a caminhar rapidamente entre eles _Quero feitiços anti aparatação. Ninguém sai mais daqui, por enquanto.

Foi como se uma aura nova fosse lentamente se espalhando. Alguns sorriram abobalhados, como se Mione fosse a nova encarnação de um fiapo de esperança. O sorriso presunçoso no rosto dos que sorriam anteriormente se desfez. Os que tentavam acalmar os outros, certamente os únicos que haviam se mantido fiéis a ela, prenderam-se em cada palavra dita, e imediatamente seguiram suas ordens.

_Creevey. _ela chamou seu mais fiel e mais confiável auror _Interrogue-os. _ela apontou para um grupo que nunca lhe inspirara muita confiança. Os sorrisos que ela vira em seus rostos quando entrara somente confirmaram suas suspeitas.

Ao ouvir isso, uma mulher que compunha o grupo, sacou a varinha, perturbada. Vendo que seus disfarces iam por água abaixo graças à precipitação da colega, os outros três homens que a acompanhavam imitaram-na. Creevey e Hermione não pensaram duas vezes para fazer o mesmo.

Feitiços começaram a cruzar velozmente o ar entre eles. Com um feitiço, Creevey estuporou a garota. Uma maldição da morte passou raspando pelo braço de Hermione. Como resposta, a ministra atacou-o com o feitiço do corpo preso. Quando se virou para atacar os outros dois, entretanto, viu-os cair, sem motivo aparente.

Os cabelos vermelhos de Gina surgiram logo atrás deles. _Mas o que está acontecendo aqui? _ela perguntou, assustada.

_É o que vamos descobrir agora mesmo. _Hermione respondeu, levantando a varinha e dizendo “Accio veritasserum”. Um vidrinho cruzou os ares até ela alguns segundos depois. Mione apanhou-o agilmente. Então, ajoelhou-se ao lado da mulher e forçou-a a voltar a si. _Bom dia, para você, benzinho. _ela cumprimentou _Já tomou café da manhã hoje? Tem uma coisinha aqui muito boa que eu quero que você experimente.

O rosto da mulher empalideceu. Seus olhos se abriram rapidamente. _Você não pode me fazer tomar isso. É preciso de... De uma ordem. Você não pode me obrigar.

_Há. Muito engraçado. _Hermione respondeu com uma risada forçada. Então voltou a ficar séria _eu sou a Ministra. Que ordem eu não posso dar?

A garota ficou ainda mais pálida. Mione imobilizou-a quando ela começou a se debater. Então, entreabriu sua boca, e forçou um pouco de líquido por entre seus lábios.

O líquido escorreu, caiu em suas vestes, mas o pouco que ela ingeriu foi o suficiente para surtir o efeito desejado. Mione levantou-se e ficou olhando a distância, enquanto Creevey, melhor do que ela em arrancar segredos, interrogava-a.

As coisas entravam pelos ouvidos da Ministra e penetravam vagamente em seu cérebro. Coisas que ela já conhecia. Que Voldemort voltara. Que por muito tempo eles usaram Harry a favor do mal. Como eles estavam se organizando rapidamente.

Somente uma coisa ela não absorveu imediatamente. Somente uma coisa a perturbou, a ponto de faze-la virar-se repentinamente para onde eles estavam, pálida e trêmula.

_O quê? O que ela disse?

Todos olhavam alarmados para a suposta comensal. Vários aurores já se aprontavam para sair do ministério, prontos para defender o lugar que já os defendera anteriormente, sem qualquer ordem explícita para que fizessem isso.

Hermione não ouvira mal.

A comensal dissera Hogwarts.

Que Voldemort ia para Hogwarts.

***

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?

Rony acordou com o barulho de uma coruja bicando o vidro da janela de seu quarto. Abriu os olhos, relutante. Olhou no relógio na cabeceira de sua cama: 09:30 a.m. Ainda faltava meia hora para seu treino. Por que, exatamente por que, alguém lhe mandaria uma coruja àquela hora da madrugada?

Levantou-se, espreguiçou-se, encarou seu próprio rosto cansado no espelho. Não era o mesmo rosto do mês anterior. No mês anterior as coisas estavam correndo muito bem, obrigado. O mundo estava meio bagunçado, talvez. Mas sua vida? Sua vida não. Sua vida estava ótima, se alguém quiser realmente saber.

A coruja bicou mais um pouco, impaciente. _Já vai, já vai. _Rony exclamou, como se ela fosse entender. Encarou o reflexo no espelho uma última vez. Sentiu-se egoísta. Como podia preferir que sua vida estivesse em ordem do que ter a possibilidade de que a vida de as outras pessoas do mundo ficasse em ordem.

Era isso que estava, no fundo, cansando-o tanto. Esses malditos conflitos internos.

Contrariado, foi até a janela e abriu-a. Somente então reconheceu a coruja de Hermione. De repente deixou de se sentir zangado por terem o acordado tão cedo.

Abriu o bilhete rabiscado as pressas, que pedia que ele fosse até a casa da praia para levar Thiago à escola, pois o Ministério estava reconsiderando e precisava dela.

Claro. A quem mais ela poderia recorrer?

Ela sabia. Sabia que ele sairia do seu apartamento aconchegante para fazer o que ela queria. Sabia que ele se dispunha a chegar atrasado ao treino, porque ela precisava dele.

Ela sabia disso tudo.

E sabia o porquê disso tudo.

Era justo?

Na verdade, não se preocupou muito com isso. Nem pensou onde o pai de Thiago estava, que não podia leva-lo à escola. Se o garoto precisava que alguém o levasse à escola, então era melhor ele colocar uma roupa e aparatar.

Ele não podia chegar atrasado.

Aparatou em frente à casa. Seu tênis afundou na areia fofa. Thiago já estava sentado, de uniforme e com a mochila nas costas, nos degraus da entrada. Levantou-se assim que o viu.

_E aí, garoto? Vamos? Sua mãe pediu para eu levar você para escola hoje.

Thiago arqueou as sobrancelhas. _E todos os dias, não é mesmo? _Rony achou que tinha sentido desapontamento em sua voz. Mas a impressão se dissipou quando ele esticou o braço e pegou sua mão. _Vamos lá, ela nem me deixa voar mesmo. Você veio de vassoura, tio Rony?

Não. Rony sentia muito, mas não tinha ido de vassoura. Ele teria que se contentar com o flu, dessa vez. Com um pouco mais de birra, insistindo que não chegaria atrasado se dessem um rápido pulinho no apartamento dele para pegar a vassoura, Rony conseguiu faze-lo entrar na lareira junto com ele.

Sentiu a fuligem entrando em suas vestes e Thiago reclamando ao seu lado. No segundo seguinte não sentiu mais.

_Viu, foi rápido. _ele comentou em tom leve para o garoto. Então, ouviu atrás de si uma voz que conhecia muito bem.

_Aqui, Prue. É aqui que você vai estudar.

Rony virou-se rapidamente, a tempo de ver Draco apontando a escola para uma garotinha de cabelos negros e encaracolados. O rosto da menina não mostrava tanto entusiasmo quanto o dele.

_Não acho que eu vou me dar bem aqui. _ela comentou desanimada.

_Hei, _Rony chamou e Draco virou-se para eles _bom dia para você, Malfoy. _e aproximou-se junto com Thiago.

_Weasley. _Draco respondeu com uma careta _Posso saber o que está fazendo aqui. Quando deveria estar treinando no meu time de quadribol?

_E eu posso saber o que você está fazendo aqui, quando deveria estar treinando o meu time de quadribol?

_Eu vim trazer a minha filha para a escola. _ele respondeu com um muito mal disfarçado orgulho.

_Ah, então você é a famosa Prue? _ele perguntou curvando-se para ela _Eu sou seu tio. Sabia?

_É. _Draco comentou com sarcasmo _Tio de todos, esse aí. Só filho ele não tem nenhum. _Rony fechou a cara para ele.

_Prazer. _Prue esticou a mão, educadamente para ele.

_Olha só, você poderia aprender boas maneiras com a sua filha, Malfoy. E não o contrário.

Draco não levou em consideração a ofensa. _Uma garota maravilhosa, ela. _ele comentou com ainda mais orgulho, passando a mão em seu cabelo _Derrubou sozinha 32 comensais.

Thiago deixou, imediatamente, o queixo cair. Rony tentou tampar seus ouvidos com as duas mãos, mas foi evidentemente inútil.

_Pai, que eu me lembre, foram cinco. _ela retrucou. Thiago empurrou as mãos de Rony e entrou irritado na escola. Rony mordeu o lábio apreensivo.

_Bom, foi sozinha de qualquer forma, não foi? Cinco, trinta e dois, quem parou para contar? _Prue revirou os olhos, enquanto entrava na escola atrás do garoto.

_Você é tão sem tato, Malfoy.

_O quê? Eu? _ele perguntou surpreso _Por quê?

_Thiago está chateado porque não pôde enfrentar Voldemort ontem. Nós tentamos dizer que ele é muito novo. Mas, caramba, Malfoy, a Prue é só um ano mais velha que ele.

_Ah, é mesmo? Não pôde? Mas que culpa tenho eu se da união do Santo Potter com a intragável sabe tudo Granger nasceu alguém que não pode enfrentar um... _e fez uma careta _Comensalzinho de quinta.

Rony fez uma careta. _De quinta? Era Voldemort, Draco.

Draco deu de ombros, indicando que tanto fazia. _Bom agora com licença, eu tenho um compromisso.

_Temos. _Rony concordou _Treino.

_Ah, não. Não isso. _Draco discordou _Vou me atrasar mais um pouco. Vou até Hogwarts antes. _Rony fez uma cara interrogativa _Estava aqui pensando com os meus botões em ir conversar com o Dumbledore. Sabe, Prue é desenvolvida demais. Uma pessoa com a capacidade intelectual dela tem que pular direto para o terceiro ano de Hogwarts. Não fica bem para ela freqüentar essa escolinha de maternal. Pode atrapalhar a sua capacidade extraordinária, sabe?

Rony fez uma careta para ele. _Você é muito estranho. Bom, _e desfez a careta _não faz sentido eu ir para o treino se não vai ter ninguém lá para treinar o time, não é mesmo? Vou até lá com você.

***

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?

Thiago sentia-se chateado sentado ali com a mochila nas costas. Pensou que alguma coisa ia mudar, afinal de contas. Mas, na verdade, lá estava ele. Sentado no degrau, esperando o tio Rony para leva-lo para a escola. Porque parecia mesmo que só o tio Rony tinha tempo para ele.

Tentou não mostrar o quanto estava chateado. Especialmente quando encontrou o tio Draco. Ficou se perguntando quem era a garota com ele, mas imediatamente suas questões foram respondidas.

Era Prue.

A garota que tia Gina adotara.

Simpatizou com ela. Parecia divertida. E somente o fato de saber que ela era adotada já despertava nele uma certa simpatia. Ela era sobrinha de Rony também? Bom, certamente, se ele era irmão da tia Gina... Então ela era prima dele? Achou legal a idéia de ter uma prima. Era diferente. Nunca tivera uma prima. Enquanto pensava nisso, a conversa de Rony e Draco só chegava levemente até ele. Até ouvir que a menina derrubara cinco comensais sozinha.

Foi realmente um baque. Tio Rony ainda tentou tampar seus ouvidos, mas ele já tinha ouvido. Não adiantava. Era mesmo um covarde. Não era questão de idade. Prue era aparentemente de sua idade e derrubara cinco comensais sozinha.

E ela ainda era menina.

Irritado, Thiago empurrou as mãos de Rony e entrou na escola. Caminhou nervoso por alguns minutos, quando ouviu alguém gritar:

_Hei. _ele não se virou _Oi. Thiago. _então ele parou e virou-se, sem responder e com uma expressão muitíssimo antipática _Oi. Eu... Prazer em conhece-lo. _e esticou a mão para ele.

_O prazer é todo seu. _e virou-se para continuar andando.

Prue ficou alguns segundos, parada. Por fim, concluiu que tinha entendido mal e foi atrás dele.

_É que... Eu sou nova aqui. _ela disse emparelhando-se com ele _Você se importa de me mostrar a escola?

_Me importo. _ele respondeu com maus modos. Imediatamente pensou em como a mãe ficaria brava com ele e como tio Rony ficaria desapontado.

_Mas o que foi que eu fiz? _ela respondeu assumindo o mesmo tom de hostilidade que ele. Se era para ser desagradável, ela também sabia muito bem fazer isso.

Thiago virou-se para ela. _Não fez nada. E vou dizer também o que você não vai fazer: você não vai ser sobrinha do meu tio. Entendeu? Porque ele não é tio de todos. É só meu.

Prue fez uma careta. _Mas você é muito mimado.

_E você é uma... Uma... _Thiago ficou procurando as palavras _Convencida. _ele concluiu por fim, e saiu marchando pelo corredor.

Thiago caminhou rapidamente, sem nem olhar para trás. Quando chegou na curva fechada no final, arriscou um olhar de esguelha, apenas para constatar que Prue ainda estava parada no mesmo lugar, com uma expressão surpresa, como se tivesse levado uma frigideira na cabeça.

Desacelerou o passo ao sair do campo de visão da menina. Ainda estava aborrecido demais para ficar com pena dela. Deu um suspiro cansado. Não estava com vontade de assistir a sua aula. Tentou andar mais vagarosamente ainda. Estava a apenas duas portas de sua sala. Passou lentamente pela porta da coordenadoria.

Uma das professoras, diga-se de passagem, a mais fofoqueira do corpo docente da Inglaterra, curvou-se sobre o balcão para cochichar apressadamente algum fato recém descoberto com a coordenadora.

_Estão dizendo que Aquele que não deve ser nomeado voltou. _ela disse em uma voz supostamente baixa. Thiago parou. Aquilo interessava _Ele foi para Hogwarts. Deve estar lá agora. Mas estão dizendo que está tudo bem. Que Harry Potter reencarnou, e está lá. A Ministra foi para lá, também.

Os olhos de Thiago abriram-se imediatamente. Hogwarts. Ele ia para Hogwarts. Sua mãe e seu pai estavam indo para lá.

Mordeu os lábios, nervoso. Sem pensar muito, deu meia volta e seguiu reto pelo corredor, na direção do pátio.

Apertava com força as duas alças da mochila. Saiu para o pátio e sentiu o sol quente batendo em seu rosto. Não tinha ninguém por lá nesse horário. Conhecia aquela escola como a palma de sua mão. Sabia, mais do que qualquer outro aluno mais velho, diversos meios de sair da escola sem ser visto ou rastreado. Não que já tivesse feito isso alguma vez. Imagine. Talvez uma, para ver o tio treinar. Ou duas, para assistir a uma entrevista da sua mãe. Em fim, não muitas vezes, de qualquer forma.

Foi até o final do pátio, deu a volta em um banquinho de pedra, passou pelo meio das árvores, ajoelhou-se no chão e engatinhou até um arbusto de pitangas. Afastou-o, passou por ele, removeu uma pedra, e, por fim, espremeu-se para passar em um buraco no muro.

Pronto. Já estava do lado de fora.

E se desse alguma sorte, podia até encontrar alguma vassoura de algum dos pais que ainda se despediam de seus filhos no portão de entrada.

E a sorte lhe sorria naquele dia. Encostada no apoio de vassouras, duas vassouras novinhas pareciam esquecidas.

Thiago precipitou-se até uma delas.

Então a sorte fechou o sorriso.

_Mas aonde você vai?

Uma voz disse atrás dele, com as palavras quase soletradas. Thiago virou-se lentamente. Conhecia aquela voz. Mas não podia ser. Era azar demais para ser verdade.

Virou-se totalmente. Prue estava parada, em frente a sua entrada secreta. Olhava-o com uma expressão interrogativa.

_Não interessa. _ele respondeu contrariado.

_Se não interessa para mim, _ela respondeu colocando as duas mãos na cintura _tenho certeza que interessa para a coordenadora. _e fez menção de dar meia volta e voltar. Thiago reagiu rapidamente.

_Não. Espera. _ela parou e virou-se novamente. _Voldemort está indo para Hogwarts. Meus pais estão lá.

Ele disse isso com toda a preocupação que estava sentindo. Prue apenas encarou-o por alguns minutos.

_Posso ir com você?

Thiago realmente considerou a possibilidade de dizer não. Mas constatou que não tinha essa possibilidade, já que se ele a deixasse ali, ela voltaria para a escola e o deduraria.

_Sabe voar?

_Não.

_Não? _ele perguntou com uma careta, feliz por saber algo que ela não sabia _Então você vai ter que ir na garupa da minha vassoura. Como pode alguém no mundo não saber voar? _ele perguntou como se a idéia fosse simplesmente absurda, enquanto ela subia na vassoura atrás dele _Lembre-me de ensinar-lhe quando voltarmos.

_Quer saber? _ela perguntou enquanto segurava em sua cintura _Você é convencido.

Thiago deu um impulso com o pé, e ganhou os ares.

***

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?

Gina se esticou na cama conjurada por Draco no quarto já vazio de Miss Bingle. Ouvia um barulho muito alto de pássaros no quintal. Não sabia como Draco conseguira dormir até agora.

Deslizou uma das mãos pelo braço descoberto do loiro, contornado lentamente cada músculo. Lembrava-se com riqueza de detalhes tudo que já tinham passado juntos. Quando se conheceram. Quando descobriu que ele só se aproximara dela porque a apostara. Sentiu-se, mesmo assim, a pessoa mais sortuda do mundo. Esticou a mão contra o sol.

Ainda usava a mesma aliança com a qual ele a pedira em casamento.

_Primeiro você diz se aceita.

_Preciso responder?

_Não. Mas eu achei educado perguntar.


Sorriu contente. Contente por tudo que já tinham conquistado. Olhou em volta, saboreando a mais recente conquista. E tudo isso começara como ele e ela, juntos em Paris. Ela fugindo dele. E ele com aquela proposta imprevista de adotar uma criança.

Mas como escolher uma entre tantas?

Ela queria poder cuidar de todas elas.

E Draco conseguiu isso. Miss Bingle não merecia cuidar de todas aquelas crianças.

Ela faria isso muito melhor.

Franziu o nariz para um Draco ainda adormecido. Por que ele não acordava? Ela queria conversar.

_Draco. _ela cutucou os músculos da sua barriga com um dedo. Parecia nem fazer efeito _Draco.

Ele não abriu os olhos, e ela continuou cutucando com mais força. _Hmm? _ele grunhiu, finalmente, fazendo uma careta _O que é, Virgínia?

_Você tem treino hoje. Lembra? _ela apoiou-se nos cotovelos, para poder observar melhor as caretas que ele fazia quando os raios de sol batiam em seus olhos.

_Você é muito chata. _ela sorriu. Ele sempre praguejava quando estava sonolento.

_Draco, eu estava pensando... _ele voltou a fechar os olhos. _Está ouvindo, Draco? Eu estou falando com você.

_Óbvio. Com quem mais seria? Com o criado mudo?

_Então, como eu dizia... _ela fingiu que ele não tinha respondido _eu estava pensando... Como vamos fazer agora?

_Sobre o quê?

Gina arqueou as sobrancelhas, como se fosse óbvio. _Com as crianças. Com... O orfanato...

_Podíamos pintar o cabelo de todos eles de vermelho... Então teríamos bem mais do que sete filhinhos ruivos correndo no jardim.

Gina deu-lhe um tapa no braço _Eu estou falando sério... _Draco riu _Vamos leva-los para nossa casa? Ou nos mudamos para cá?

_Vamos leva-los para lá. _ele respondeu rapidamente _Não quero que fiquem aqui. Podemos ampliar a casa da montanha.

_Certo. _então ela aconchegou-se mais a ele, deitando em seu peito _Vamos assumir o orfanato definitivamente, não é? Não apenas provisoriamente...

_Certamente que é definitivamente. _ele retrucou decidido. Gina levantou a cabeça, inclinou-se sobre ele, e beijou-o.

Draco deixou-a se afastar, com um sorriso satisfeito no rosto. _Isso é por eu ser o melhor marido do mundo?

_Não. –ela respondeu sorrindo da mesma forma _É por ser o único que eu tenho.

Draco, então, colocou uma mão em sua nuca, e puxou-a, beijando-a novamente, com muito mais ardor.

Gina deixou-se levar. Apenas com muito esforço, ela se obrigou a levantar da cama.

_Você tem treino, Malfoy. _ela resmungou levantando-se e pondo a calça jeans _e eu tenho que ir ao ministério, assinar uma documentação. Sabe, _ela piscou _para assumir um certo orfanato.

_Vou dormir mais cinco minutos. _ele resmungou sonolento.

_Como quiser. _ela respondeu curvando-se e mordiscando seu pescoço _Eu é que não queria ser do seu time. _ela acrescentou, afastando-se rapidamente quando ele tentou segurar sua cintura e puxa-la novamente. _Até loguinho, Malfoy. _e mandou-lhe um beijo voador.

Antes de sair, foi até a cozinha para deixar o café da manhã pronto para as crianças. Para sua surpresa, porém, o café já estava pronto para ela, e as crianças já estavam todas em pé em volta da mesa.

Gina olhou-as enternecida. _Vocês não precisam mais fazer isso. _ela disse.

_Miss Bingle sempre se aborrecia se não deixássemos seu café pronto. _uma delas comentou com uma vozinha tímida.

_Miss Bingle não está mais aqui. _ela respondeu resoluta. _De agora em diante, vocês não cozinham mais. _e vendo que elas não se mexiam, abriu os braços _Não vão comer?

_Nós não tomamos o mesmo café que Miss Bingle... _uma delas disse timidamente.

_Comemos pão e manteiga. Na cozinha.

Gina olhou para a variedade de frutas e bolos e deu um suspiro. _Comam, crianças. E... Talvez vocês fiquem hoje sozinhas em casa. Mas não se preocupem. Voltamos hoje para buscar vocês, certo?

As crianças miravam-se confusas. Gina não sabia o que falar. Elas não entendiam bem o que tinha acontecido, onde estava Miss Bingle e quem eram eles.

_Eu... _Gina comentou sem graça _Eu juro que explico tudo quando voltar. _e virou-se _Até logo. _e saiu da casa.

Do lado de fora, chutou uma pedrinha do jardim. Como podia existir uma pessoa como aquela no mundo? Que... Explorava crianças.

Céus, eram crianças.

Não conseguia entender. Aborrecida com isso, aparatou, diretamente no ministério.

Percebeu um movimento anormal.

O centro do saguão estava tumultuado. Pessoas corriam atordoadas para todos os lados. Alguns gritavam para tentar manter a ordem. Outros gritavam só para tumultuar mais.

Intrigada, mas sem querer perder tempo, Gina contornou a bagunça e foi em direção aos elevadores. Apertou o botão que os chamava para o térreo e ficou esperando.

Quando o elevador parou no seu andar com um estalido, ela entrou, estranhando o fato de que ele estava vazio.

Sem entender, esperou que ele subisse alguns andares, até o departamento de Leis Mágicas.

A porta se abriu e ela saiu.

O corredor estava deserto.

As salas todas vazias.

Gina não estava entendendo. Começou a caminhar rapidamente, olhando de sala em sala. Será que todo mundo estava lá embaixo, fazendo aquela balbúrdia. Mas o que significava tudo aquilo?

Escutou passos vindo da curva em L no corredor. Rapidamente, esgueirou-se para dentro de uma sala e ficou atrás da porta, escutando.

Fez isso por puro instinto. Por ter andando tanto tempo em Hogwarts sendo uma comparsa tão fiel do trio Rony-Harry-Hermione. Eles estavam sempre alerta. Sempre dispostos a desconfiar de qualquer barulho.

Um grupo de três pessoas passou rapidamente por onde ela estava.

_É agora ou nunca. _ela escutou uma voz feminina dizendo _O Lord vai derrubar o Ministério. Vai começar por Dumbledore. Dumbledore, na verdade, é quem ainda controla o mundo mágico. _e depois escutou apenas os passos se afastando.

Seus olhos haviam se arregalado.

Com vivacidade, pulou para fora de onde estava, e correu de volta pelo corredor.

Viu que o elevador que usara estava descendo. Supôs que o grupo estava nele.

Chamou o outro elevador e ficou batendo um dos pés no chão, impaciente. _Rápido... –ela murmurou para si mesma.

Quando a porta se abriu, ela pulou para dentro e esmurrou o botão que indicava térreo. Não que achasse que adiantaria algo, já que os elevadores do Ministério paravam em todos os andares, quando tinha alguém dentro. Mas simplesmente por pressa.

_Rápido, rápido... _ela murmurou novamente.

O elevador parou com um baque, e as portas nem se abriram totalmente e ela pulou para fora novamente.

Correu pelo corredor. Precisava falar com Hermione.

Como que por encanto, viu um grupo que duelava a sua frente. Alguém mirava uma varinha diretamente para a Ministra em pessoa.

_Estupefaça. _Gina bradou sem fôlego. Um jato de luz vermelha saiu de sua varinha e derrubou seu oponente no chão. Mione ergueu os olhos e encarou-a surpresa.

_Mas o que está acontecendo aqui? _ela perguntou. E queria respostas. Estava com um sentimento muito ruim.

_É o que vamos descobrir agora mesmo. _Hermione respondeu, levantando a varinha e dizendo “Accio veritasserum”. Um vidrinho cruzou os ares até ela alguns segundos depois. Mione apanhou-o agilmente. Então, ajoelhou-se ao lado da mulher e forçou-a a voltar a si.

Gina assistiu a Hermione fazer a garota beber a poção da verdade. Ouviu claramente quando ela disse que Voldemort ia atacar Hogwarts. Depois, a única coisa que viu, foi Hermione se levantando e marchando em direção a saída.

_Eu quero Creevey, Lupin, Tonks e Finnigan liderando quatro equipes. E quero vinte aurores de elite em cada uma delas. Em vinte minutos em Hogwarts. Quero mais cinco equipes de apoio tático, com todos os aurores que tivermos. Em meia hora na escola. Você pode cuidar dessas equipes, Gina?

_Certamente que não. _ela respondeu com uma careta _Eu vou com você agora mesmo.

_Eu preciso que você cuide deles, Gina. _ela pediu como se falasse com uma irmã mais nova.

_Não, não precisa. Na verdade, você só quer me deixar longe do núcleo da encrenca. _ela retrucou _Mas eu faço parte desse núcleo. Você não pode me tirar dele.

Mione encarou-a enternecida. _McMillan, Abbot, vocês ficam com as essas equipes. _e virou-se para todos os que haviam se reunido ao seu redor. Ali estavam as pessoas em quem realmente podia confiar. Sempre. Em qualquer circunstância _Eu confio em vocês.

Gina sentia o coração pulsar. Não entendia por que. Não era a primeira vez que ia de encontro a Comensais.

No fundo, sabia que não estava nervosa por ser ou não a primeira vez.

Estava nervosa por sentir que seria a última.

Para eles.

Ou para ela.

***

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?

Draco sentiu alguma coisa cutucando-o. Foi trazido lentamente de volta a realidade. Mas não queria. Não queria acordar. Estava muito bem dormindo, obrigado. Sentiu a claridade do sol invadindo suas retinas, mesmo com os olhos fechados. Fez uma careta. Então abriu os olhos e viu que era Gina quem o acordava.
Chamou-a de chata. Não via motivos para ser acordado. Aliás, ficava com péssimo humor quando era acordado. Achava engraçadíssimo acordar os outros, mas não via muita graça em ser acordado.

Se achava que a ofensa ia lhe garantir pelo menos mais cinco minutos de sono, estava muito, muito enganado. Assim que se deu conta de que ele tinha acordado, Gina se pôs a falar tanto quando agüentava de uma vez só. Ele respondia com mecânicas ironias.

Draco, na verdade, ouvia tudo que ela dizia pela metade. Mas o que estava ouvindo era o suficiente para saber por que ela estava assim.

Estava preocupada. Com as crianças.

Encarou o topo de sua cabeça, enquanto ela se aninhava em seu peito. Ela podia ficar tranqüila. No que dependesse dele, as crianças iriam morar com eles, e para sempre.

Queria poder cuidar delas. Da mesma forma que de Gina.

Sua esposa.

Ela sempre fora tão viva. E forte.

Nunca precisara realmente de proteção.

Mas quando Draco olhava para ela, a primeira coisa que via era uma linda mulher, marcada por sofrimentos da vida. E desejava que ela nunca, nunca, nunca mais sofresse.

Era mais ou menos assim com as crianças daquele orfanato.

Só acordou de verdade, quando Gina ergueu-se e deu-lhe um leve beijo na boca. Sorriu para ela. Se ela quisesse que ele prestasse atenção em cada sílaba que ela dizia, devia ter feito isso mais cedo.

Puxou-a e beijou-a, também. Mas sentiu o sono apoderar-se novamente, quando ela afastou-se dizendo que precisava ir ao Ministério.

Bom, se ela ia sair, ele não via nada melhor para fazer ao não ser continuar dormindo.

Só acordou novamente, quando se lembrou, de súbito, que precisava levar Prue à escola. Mas que tipo de pai era ele, que esquecia de levar a filha à escola, no primeiro dia de aula.

Pulou da cama rapidamente e se enfiou na primeira calça que viu pela frente. Pegou a camisa do dia anterior, em baixo da cama. Desceu as escadas dois degraus de cada vez. Ia sair correndo pela porta da frente, mas deteve-se, quando passou pela porta da sala de jantar.

Olhou para dentro e viu as crianças agrupadas em torno da mesa, parecendo temerosas em tocar na comida.

_Ei, animem-se. _ele exclamou, pulando para dentro da sala e pegando uma maçã da cesta _Acabou-se a tirania. Acabou-se a opressão. Abaixo às megeras do país. _e virou-se para os diversos rostinhos confusos que o encaravam _Vamos lá, comam. _E virou-se para sair _Volto logo para buscar vocês. Vou mandar Gwen para cá enquanto isso. _e saiu. Mas logo depois sua cabeça surgiu novamente na porta _Não que vocês saibam quem é Gwen, claro. Mas vão saber. A Gwen é ótima. Até mais. _e saiu novamente.

Draco desceu os degraus da porta da frente extremamente animado. Logo, logo, todos eles estariam tendo aula. Em alguns anos estariam em Hogwarts. Sua saudosa Hogwarts. E seriam todos da Sonserina. E Gina enfartaria quando soubesse.

E ele compraria vassouras velozes para todos eles, para que todos eles entrassem no time e ganhassem de lavada em todos os jogos da Grifinória.

Aparatou em frente a casa na montanha. Deixara Prue lá, com Gwen, na noite anterior. Não queria que ela voltasse ao orfanato.

Encontrou-a já sentada nos degraus de entrada, com uma mochila nas costas e de uniforme. Gwen estava ao seu lado, e não parava de dar recomendações do tipo, não queira morder mais do que pode mastigar. Ouça seus professores, e diversos outros conselhos de avó.

Quer dizer, de avós maternais.

Ele não via sua avó lhe dando aqueles tipos de conselhos.

_Você se atrasou. _ela disse quando ele parou a sua frente.

_É claro que não. _ele retrucou indignado _Você que não sabe ver horas. _e pegou-a pela mão _Vamos, eu ensino quando voltarmos. _e virou-se para Gwen _Gwen, eu preciso que você vá até o orfanato, cuidar das outras crianças. Sabe onde é?

_Certamente, senhor. _e desapareceu no ar, com um estalido.

Prue levantou um lancheirinha rosa. _Olha o que ela fez para mim. _ela disse, com um sorriso divertido _Tem um lanche aqui dentro.

Draco sorriu. Gostava daquela elfa velha. Era bem pouco Malfoy admitir isso, mas gostava dela.

Aparataram juntos em frente à escola. Draco segurou-a pelos dois ombros. _Aqui, Prue. É aqui que você vai estudar.

_Não acho que vou me dar bem aqui. _a garota murmurou com uma expressão desanimada. Então, Draco viu Rony Weasley e Thiago Granger se aproximando.

Irônico. O garoto não era nada de Rony. E mesmo assim ele passava mais tempo com ele do que a própria mãe.

Draco pensou em como Rony era uma incoerência na família.

Quer dizer, em uma família de coelhos ruivos, ele não tinha tido um só filho. Unzinho só.

Ele mesmo, que viera de outra família, muito mais distinta, como gostava de salientar, já estava com um bom número de filhos.

Todos adotados, certamente, mas já considerava todos dele.

Enquanto conversava com Rony, uma idéia surgiu em sua cabeça, como se brotasse do nada.

Mas ela não tinha brotado do nada. Fora quando Prue dissera que achava que não ia se dar bem ali.

Então, quando Thiago e Prue entraram na escola e Rony perguntou se ele não ia para o treino, ele deu voz a sua idéia:

_Ah, não. Vou me atrasar mais um pouco. Vou até Hogwarts antes. _Rony fez uma cara interrogativa _Estava aqui pensando com os meus botões em ir conversar com o Dumbledore. Sabe, Prue é desenvolvida demais. Uma pessoa com a capacidade intelectual dela tem que pular direto para o terceiro ano de Hogwarts. Não fica bem para ela freqüentar essa escolinha de maternal. Pode atrapalhar a sua capacidade extraordinária, sabe?

Estava perfeitamente crente de que tinha toda a razão do mundo.

Afinal, ela enfrentara sozinha, quantos mesmo? Quarenta e um comensais?

Dominado pela idéia, desaparatou para ir a Hogwarts, com um Rony surpreso e com vontade de rir atrás dele.

***

Prue acordou, levantou, escovou os dentes e desceu as escadas. Somente quando já estava lá embaixo lembrou-se de que Gina e Draco não estavam em casa.

No dia anterior, os dois haviam ido ao orfanato, tirar de lá a megera Miss Bingle. Quando eles voltaram, ela ficou sabendo que eles iriam tomar conta do orfanato agora. Pareciam animados. Ela ficou extasiada.

Tinha muita sorte por eles terem cruzado seu caminho. Não somente ela, mas todas as crianças do orfanato. Já sabia da história de Gina, mas ela ter perdido o bebê a levara até o orfanato, e, correndo o risco de parecer egoísta, ela agradecia eles terem ido. A vida das crianças era simplesmente deplorável.

E ela... Bom, ela os amava. Bastante.

Como amara, tinha certeza, seus próprios pais.

Porque agora eles eram os pais dela.

Ninguém ia mudar isso.

Entrou na sala de jantar e encontrou Gwen pondo o café da manhã na mesa.

_Bom dia, srta Malfoy. _a elfa cumprimentou com um animado sorriso.

_Bom dia, Gwen. _ela respondeu, sentando-se _Meus pais já voltaram? _no dia anterior eles haviam ido dormir no orfanato. Com Miss Bingle fora, não podiam deixar todas aquelas crianças sozinhas naquela casa enorme.

_Ainda não. Mas o sr Malfoy já deve estar voltando, para leva-la à escola.

_Ah, é. _ela lembrou-se com um toque de desânimo. Durante muito tempo não tivera poderes. Durante muito tempo, sentiu-se a escória do mundo bruxo, e isso era reforçado por qualquer pessoa que soubesse da história. Agora que tinha poderes, tinha que ir aprender usa-los junto com aquelas crianças que cresceram embaladas pela possibilidade de serem grandes bruxos. Não gostava da idéia.

Eles já deviam saber bem mais que ela.

Já dissera isso para Draco. Mas ele simplesmente respondeu que ela tinha derrubado onze comensais. Como podiam saber mais que ela.

Ela ainda tentou corrigi-lo, dizendo que não tinham sido onze.

Mas no dia seguinte ele já estava falando de dezenove.

Muito bem armados.

Suspirou desanimada, mas quando Gwen sugeriu que ela fosse vestir seu uniforme, ela não se opôs. Subiu, vestiu-se, desceu novamente.

Quando chegou no saguão de entrada, Gwen recepcionou-a com uma lancheirinha rosa.

Ainda desacostumada a gestos gentis, ela abriu-a e surpreendeu-se com um lanche. _É para a hora do seu lanche, srta. _Gwen disse, abrindo a porta da frente.

Prue sorriu, beirando a emoção. Era legal ver alguém se preocupando com ela.

Saiu, sentou-se nos degraus de entrada e, enquanto Gwen dava-lhe diversos tipos de recomendações, esperou Draco.

Esperou.

Esperou.

E esperou mais um pouco.

Quando ele apareceu, ela já estava bem atrasada para o primeiro dia de aula.

_Você se atrasou. _ela disse quando ele parou a sua frente.

_É claro que não. _ele retrucou indignado _Você que não sabe ver horas. _e pegou-a pela mão _Vamos, eu ensino quando voltarmos. _Prue sentiu vontade de rir. Como uma pessoa podia ser tão cara de pau? Ele virou-se para Gwen _Gwen, eu preciso que você vá até o orfanato, cuidar das outras crianças. Sabe onde é?

A ela respondeu que sim, e desapareceu. Prue mostrou, animada, o lanche que a elfa preparara para ela. Mas sentiu-se meio tola. Quando pequeno, Draco devia ter milhares de elfos preparando lanches até para ele ir até a esquina.

Ele provavelmente não entenderia o porquê de tanta animação.

Aparataram em frente à escola. Mais uma vez, Prue salientou como achava que não se daria bem ali. Draco não lhe deu ouvidos. Especialmente porque alguém aproximava-se naquele momento.

_Ah, então você é a famosa Prue? _um homem alto, forte e ruivo perguntou curvando-se para ela. _Eu sou seu tio. Sabia?

Draco fez algum comentário desagradável, mas ela não prestou atenção. Estava bem animada com o fato de ter um tio. Há algum tempo não tinha nada.

Não soube como a conversa chegou nesse assunto. Mas quando se deu conta, seu pai já estava mencionando novamente seu confronto com os comensais.

Nessa manhã eram 32.

Corrigiu-o novamente, mesmo sabendo que isso não adiantaria muita coisa. Somente nesse momento, prestou atenção no garoto que estava com o homem ruivo.

Um garoto de cabelos pretos e rebeldes. Quando deu por si, ele empurrou as mãos do homem e entrou correndo na escola. Prue ficou curiosa. Ele era sobrinho do homem ruivo. Rony? Era assim que ele dissera que se chamava?

Então... Era seu primo.

Ficou curiosa para saber o porquê de agir assim. Revirou os olhos entediada para o pai, que insistia em dizer que não fazia muita diferença no número e seguiu o garoto.

Era bom saber que tinha um parente ali. Pelo menos não se sentiria tão excluída.

Correu pelos corredores, até enxergar, a alguma distância, os cabelos negros apontando para todos os lados.

Tinha ouvido seu nome. Thiago? Era isso?

Chamou-o. Precisou chamar novamente. Talvez ele não tivesse ouvido. Então ele parou, virou-se e esperou que ela se aproximasse.

Animada, ela estendeu a mão para ele, dizendo que era um prazer conhece-lo.

_O prazer é todo seu. _o garoto respondeu, virando-se para continuar andando. A resposta fez o sorriso se congelar no rosto da menina. Ela ainda ficou por alguns segundos, parada, com a mão estendida, achando que tinha entendido mal. Por fim, forçou-se a acreditar nisso e foi novamente atrás dele.

_É que... Eu sou nova aqui. _ela disse emparelhando-se com ele _Você se importa de me mostrar a escola?

_Me importo. _ Ela congelou novamente. Dessa vez, não podia fingir que não tinha entendido. Não sabia por que tanta raiva, mas podia notar a tensão que existia ali.

_Mas o que foi que eu fiz? _ela respondeu assumindo o mesmo tom de hostilidade que ele. Se era para ser desagradável, ela também sabia muito bem fazer isso.

Thiago virou-se para ela. _Não fez nada. E vou dizer também o que você não vai fazer: você não vai ser sobrinha do meu tio. Entendeu? Porque ele não é tio de todos. É só meu.

Prue fez uma careta. Achou que estava chegando ao ponto. Ao motivo crucial de tanto ódio: ciúme. _Mas você é muito mimado.

_E você é uma... Uma... _Thiago ficou procurando as palavras _Convencida. _ele concluiu por fim, e saiu marchando pelo corredor.

“Convencida?” Ela pensou consigo mesma “Por que convencida?”

Não teve tempo para perguntar. Antes que percebesse, Thiago já estava na outra ponta do corredor, fazendo uma curva.

Ficou paralisada. Não tinha feito nada para o menino. Nada.

Ela que achara que eles podiam se dar tão bem. Quanta inocência.

Com um suspiro cansado, ela estalou as mãos. Se pensasse bem, nem estava tão mal assim. Estava em um lugar onde não conhecia ninguém. Bom, na verdade, a única pessoa que ela conhecia, a odiava. E também não fazia a mínima idéia de aonde ir. Mas, oras, não era tão ruim. Certamente já estivera pior.

Ainda ficou alguns instantes parada, só para ver se alguma alma bondosa lhe arrumava um mapa. Por fim, começou a caminhar, lentamente, meio sem rumo. Se achasse a diretoria já estava contente.

Foi quando viu Thiago voltando, cruzando o corredor onde ela estava e entrando em outro.

Andando bem apressadamente desta vez. Meio ressabiado. E, definitivamente, furtivo.

Uma de suas sobrancelhas se ergueu. Nítida evidência de que estava intrigada.

Sem pensar duas vezes, a menina foi até o fim do corredor e seguiu-o.

Chegou no momento em que sua mochila desaparecia em uma nova curva.

Foi atrás dele, suficientemente rápida para ver quando ele saiu para um grande pátio circular.

Escondeu-se atrás de algumas pilastras quando ele virou-se para ver se não tinha ninguém olhando. Então ele abaixou-se e, entrando no meio dos arbustos, desapareceu.

Prue arregalou os olhos de choque. Então era isso? Ele ia fugir da escola.

Curiosa, a menina abaixou-se no mesmo ponto em que ele e não demorou a encontrar algumas passagens.

Em pouco tempo já estava, também, do lado de fora. A tempo de ver Thiago pegando uma vassoura e se preparando para voar.

Sua intuição dizia que ele não estava apenas cabulando aula. Isso se confirmou quando ele contou que seus pais estavam indo para o mesmo lugar em que Voldemort estava.

Admirou a bravura do menino.

Ficou encantada, literalmente, pela determinação que ele tinha em ajudar os pais.

Achou que podia ajudar. Se ela pudesse ser útil, seria. Se ele estava disposto a ajudar as pessoas, ela também estava. Ela estava disposta a ajuda-lo.

_Sabe voar? _ele perguntou quando ela perguntou se podia ir junto.

_Não. _ela respondeu quando se lembrou das inúmeras vezes que voara em garupa. Mas não se achava realmente capaz de pilotar uma vassoura sozinha.

_Não? _ele zombou _Como pode alguém não saber voar. Eu lhe ensino quando voltarmos. _ele disse enquanto ela abraçava firmemente sua cintura.

E ela concluiu que ele era convencido no final das contas.

***

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?

Voldemort tamborilava os dedos no braço da poltrona, enquanto o sol despontava no horizonte.

_Você sabe jogar xadrez, Belatriz? _ele perguntou a figura sentada, imóvel, aos pés da poltrona.

Ainda abalada com a derrota que sofrera e sem entender a pergunta, ela ergueu os olhos _Sei.

_E, no xadrez, que peça devemos caçar?

Belatriz ainda não entendia do que ele estava falando. _O rei. _ela balbuciou confusa.

_Exatamente. Pense na pessoa com mais influência, Bela. _ele levantou-se _Essa é a figura do rei. Nós devemos derrubar o rei. Os soldados cairão sozinhos, depois disso.

_Influente? _ela franziu a testa _Está falando do... ?

Mas ele não a deixou terminar.

_Sabe aonde devemos ir, não é? Acho que já demoramos muito para ir atrás dele.

Belatriz sorriu. Concordava com ele.

_Hogwarts. _ela respondeu. Voldemort sorriu também.

***

Você já sentiu como se vivesse o mesmo dia, várias e várias vezes?

Harry olhava o sol caminhando lentamente para o topo do céu. Não sabia há quanto tempo estava ali.

A única coisa em que conseguia pensar no momento era onde estava Voldemort.

Não podia deixar que ele continuasse vivo. Ele era um perigo para a humanidade. Cada minuto, cada segundo que ele vivia a mais, era um minuto, um segundo de ameaça para as pessoas ao seu redor.

Precisava dar um basta nisso. Foi nesse momento que ouviu uma voz doce chamando-o da cama. Virou-se e viu que Hermione já acordara. Olhou-a por alguns instantes entre os lençóis brancos da cama. Parecia um anjo, recortado contra nuvens.

Caminhou até a cama e apoiou-se no dossel. Ela significava muito para ele. Ela era a ligação que ele tinha com o que ele já fora. Ela era a possibilidade de um futuro. Era a representação de tudo que era perfeito. A concretização da felicidade.

_Sabe como eu queria que fosse o final disso tudo, Hermione? _Ele perguntou de repente, e ficou olhando enquanto ela inclinava o rosto, indicando que não, mas que queria saber. Ele deu a volta na cama, ajoelhou-se ao seu lado, apoiou os braços cruzados no colchão e o queixo nos braços _Eu queria casar com você. De verdade, dessa vez. Um casamento de vestido branco, festa e sei lá mais o que tem em um casamento, já que eu nunca fui em um. Que o Voldemort se arrependesse de tudo o que ele já fez, e se matasse. Porque assim eu não ia ter que sujar minhas mãos com ele. Queria que o Rony esquecesse que gosta de você. Porque ele ia parar de me odiar, como se eu tivesse roubado algo dele e poderia ver o Thiago com um sobrinho muito querido. Que tem pai. E o Thiago... Bom, o Thiago eu queria que entrasse em Hogwarts, e que desse muito trabalho para o Hagrid, porque o Hagrid mentiu para mim, e acho que o Thiago dar muito trabalho para ele seria bom pagamento. _Hermione sorriu _E queria que aquela garota ruivinha engravidasse daquele loirinho arrogante, contrariando todas as previsões da medicina. Era assim que eu queria. _ele concluiu, com toda a sinceridade do mundo. Era assim que ele enxergava um futuro perfeito. Era assim que seria, se ele pudesse desenhar, sozinho, todos os traços do destino.

_Pode ser assim, Harry. _Hermione passou a mão em seus cabelos negros.

_Não, não pode. _ele respondeu resoluto, sabendo que não importa o quanto você deseje as coisas, elas nem sempre serão como você quer _Voldemort não vai se matar. _e levantou-se. _Já volto, Mione. _e curvando-se, beijou-a, segurando com força seu rosto contra o dele.

_Aonde você vai? _ela perguntou quando ele se afastou.

_Até Hogwarts.Acho que... Como é mesmo o nome dele? _ele perguntou colocando uma camiseta _Dumbledore? _Hermione fez que sim. Acho que ele pode me ajudar. _Pegou a varinha sobre o criado mudo e curvou-se mais uma vez para ela. _Eu quero que você saiba, Mione, que eu nunca me senti assim antes, como eu me sinto com você. _ele confessou com um toque de urgência na voz _Eu soube quando eu a vi, tentando duelar comigo que você era especial. Eu não sei como foi da primeira vez, mas agora eu... Eu amo você acima da minha própria vida. _ele inspirou o ar com força. O que sentia já o fazia perder as palavras. Esse era o efeito que ela surtia sobre ele. Ele a amava muito.

_Volto logo. _sem ter mais palavras, e sem saber se conseguira realmente dizer o que sentia, ele curvou-se novamente e beijou sua testa. Em um minuto estava fora da casa.

Passara a madrugada nutrindo essa idéia. Não sabia de outra pessoa que pudesse ajuda-lo. Só conseguia pensar nele.

Passara bastante tempo ouvindo Voldemort dizendo como Dumbledore era a maior pedra em seu sapato. Como seus sonhos e seus planos eram sempre frustrados por ele. E ouvira muito, também, Hermione dizendo que Dumbledore era um porto seguro. Que sempre ajudava quem precisava. Que sempre tinha uma solução para os piores problemas.

E ele tinha um problema. E estava desesperado para resolve-lo.

Aparatou em frente aos portões da grande escola. De onde estava, podia ver as inúmeras torres recortadas contra o céu. Segurou as grades. Já não ficava tentando se lembrar do passado. Isso já não era mais tão importante. Mas flashes continuavam aparecendo em sua mente quando ele menos esperava.

Dementadores. Hogsmeade.

_Por que eu sou o único que desmaia quando eles se aproximam?

_Você tem um passado que nenhum deles tem, Harry.


Ao longe, viu uma enorme figura atravessando o gramado. Não demorou, com os passos grandes que ele podia dar, para chegar ao portão. Levantou uma grande chave de um pesado molho e abriu o cadeado do portão.

Harry entrou. Ele parecia mais velho desde a última vez.

Por alguns minutos apenas se encararam.

_Obrigado, Hagrid. _Harry quebrou o silêncio, repentinamente. Os olhos do meio gigante se encheram de água _E... Desculpe... Por ter agido como eu agi... Você tinha razão.

Hagrid deu um tapinha desajeitado em suas costas que quase o fez ir ao chão. _É, tinha, não tinha? Mas, tudo bem. Eu sabia que você ia voltar. Vocês sempre voltam. Os alunos, sabe? Você, em especial, voltaria com certeza.

Hagrid fechou o portão e eles começaram a fazer o caminho para o castelo.

_Nós éramos muito amigos, certo? _Harry perguntou repentinamente.

_Fui eu quem foi busca-lo na casa dos seus tios trouxas, Harry, para você vir para Hogwarts. Eles não queriam que você viesse. E você foi o único que acreditou que eu não tinha soltado o basilisco. Você, Rony e Hermione. E juntos vocês limparam meu nome, limparam mesmo. _ele deixou a emoção transparecer em sua fala. _E salvaram o Bicucinho no ano seguinte. E você lutou bravamente no torneio tribruxo, Harry. E eu quem falou sobre os dragões... Bons tempos... _então virou-se para ele _Eu seria capaz de dar a vida por você, Harry. _ele concluiu _Continuo sendo, na verdade. Você é uma das melhores pessoas que eu já conheci.

Harry não fazia a mínima idéia do que ele estava falando. Mesmo assim, esticou os braços o máximo que podia e deu abraço no meio gigante. Imaginou como a cena seria estranha vista de uma das janelas. Mas não se importou. Não se importou, sequer, com o fato de que Hagrid quase quebrara seus ossos correspondendo ao abraço.

_Mas não se atrase comigo. _ele se afastou, tentando esconder algumas lágrimas fugidias que se misturavam a sua barba _Dumbledore. É ele que você quer ver. Vá. Ele também sempre soube que você voltaria.

Harry sorriu para ele. Tinha certeza de que ele também era uma das melhores pessoas que ele já conhecera. Apesar de continuar querendo que Thiago desse bastante trabalho para ele. Sabia que ele adoraria.

Concluiu o resto do caminho sozinho. Por dentro, o castelo lhe despertava mais e mais lembranças pequenas. Archotes. Armaduras. Corredores e mais corredores.

Tapeçarias, passagens, escadas. Salas de aula. Um verdadeiro labirinto.

Inimigos do herdeiro, cuidado.

Parecia que podia ver isso pintado em uma parede. Só não sabia o porquê. Lembrou-se de Hermione petrificada. Devia ter ficado em pânico ao vê-la assim.

Não soube exatamente como, mas chegou em frente à duas gárgulas. Sabia, por algum motivo que era ali que queria chegar.

Enquanto pensava em como poderia entrar, as gárgulas se afastaram e uma passagem se abriu.

Uma mulher com cabelos presos em um coque, de aparência respeitável e severa acabara de sair pela passagem. Mirava-o como se visse uma assombração.

_Você vai se tornar um auror, Potter, nem que seja a última coisa que eu faça

_Harry Potter. _ela balbuciou com a voz fraca. Ele não soube responder. Mas não precisou. Atrás dela, um velho com imensas barbas brancas surgiu.

Sorrindo. Sem demonstrar a menor surpresa, como se tivesse marcado uma entrevista com ele ali.

_Ora, Harry. _ele cumprimentou estendendo as duas mãos e apertando uma mão dele. _Esta é a professora Minerva McGonagal. Ela foi sua professora também. Mas, a quê devo a honra de sua visita.

_Bom... Eu... Preciso de ajuda. Para achar Voldemort.

Minerva contraiu os lábios, como se ouvir o nome dele fosse desagradável. Então virou-se para o diretor. _Alvo, estarei na minha sala. Chame se precisar. _e virou-se para Harry _Foi um prazer rever você, Harry. _ela disse e, por alguns instantes, ele jurou ter visto duas lágrimas peroladas em suas pálpebras.

Ficou se perguntando se todo mundo ali choraria ao vê-lo. Teve a certeza de ouvir um nariz sendo assoado, quando ele e Dumbledore se afastaram e Minerva virou na outra ponta do corredor.

Começaram a caminhar em silêncio pelos corredores. Harry se sentia aquecido. E ao mesmo tempo inquieto. Era incorreto ele estar ali afundado em todas aquelas lembranças quentes e aconchegantes, enquanto Voldemort tramava a morte de mais pessoas.

_Hogwarts é conhecida por sempre oferecer auxílio aos que precisam dela, Harry.

“Eu preciso” _ele pensou com vigor.

_A vida é um mecanismo muito interessante, Harry. _eles caminhavam e seus passos ecoavam pelos corredores. Harry encarava os próprios pés. Receava erguer os olhos e ver sua própria imagem em uma sala de aula, com um garoto de vivos cabelos ruivos sentado ao seu lado, e uma menina de cabelos cheios e castanhos copiando febrilmente a lição a sua frente. _A vida nunca desfavorece tanto uma pessoa a ponto de não lhe dar nem um momento de felicidade. E nunca favorece tanto uma outra a ponto de não lhe mostrar o que é tristeza. _ele sentia como se as palavras pesassem em seu ouvido _Tudo existe em um perfeito equilíbrio. As coisas que você dá à Vida, a Vida devolve a você. Seja de bom ou de ruim. Seja rápido ou tardiamente. Não há nada que a Vida não mande de volta.

_O que quer dizer? _ele perguntou, enquanto eles subiam uma escada em caracol.

_Voldemort já passou por aqui, também. _ele respondeu enquanto eles saíam para o ar livre, em uma das torres mais altas do castelo _E fez tão mal a essa escola quanto poderia alguém fazer. _Harry aproximou-se do parapeito e olhou para o horizonte. As árvores balançavam-se com o vento que corria mansamente. O lago espelhava o Sol, que atingira o topo do céu _Ao contrário de você, Harry. Que, ao passar por aqui, trouxe compaixão, livrou a escola de desgraças, salvou pessoas inocentes, mostrou o que é Amor, Fé, Amizade e Fidelidade. Você é uma pessoa boa, Harry. A Vida presenteia pessoas boas.

Harry deu um sorriso terno.

_Eu tenho presentes da Vida. Tenho Hermione. Tenho um filho.

_É isso que eu quero dizer. _Dumbledore concluiu _E a Vida, Harry, não dá a uma pessoa mais do que ela pode carregar. _Harry ergueu o rosto para ele _Ela depositou em suas mãos um fardo delicado. A responsabilidade de deter uma das pessoas mais cruéis das quais já se tiveram notícias. Mas se isso aconteceu é porque você está preparado para isso.

Os punhos de Harry se fecharam. Ele sentiu as unhas se enterrando na palma de sua mão.

_Eu preciso que você me ajude. Preciso ir até ele.

_Acho que não vai ser preciso. _Dumbledore respondeu, com um olhar sério, mirando o horizonte _Ele está vindo atrás de mim. _Harry voltou-se rapidamente. Ao longe, ele podia ver um vulto negro cruzando os céus, a toda velocidade. Ao seu lado, diversas vassouras tentavam acompanhar seu ritmo. Os punhos de Harry se fecharam com, se é possível, ainda, mais força. –Eu sempre soube que ele voltaria. _Dumbledore falou por fim, e, virando-se, desceu a escada em caracol novamente.

Harry fitou o vulto por mais uns momentos. Foi que se aquele momento fosse o divisor das águas de sua vida.

Ali se separavam seu presente e seu futuro.

Ali ele decidia cada minuto do que aconteceria a seguir.

Ali a Vida pesaria, calcularia e devolveria tudo que tinha que pagar para ele.

E para Voldemort.

***

Você já sentiu como se um dia muito, muito longo finalmente chegasse ao fim?





Nas: FELIZ NATAL PESSOAL!!!!!!!
Estou postando agora, especialmente pq eu prometi um até o Natal
entaum taí
capítulo enooorme
especial de Natal
rsrsrsrsrsrs
Espero q tenham gostado
Td de bom pra vcs ^-^
Bjsssssssss

Julia, q isso, eskecer, Jamais... rsrsrsrs Sumi um pokinhu, mas to aí de volta.... deixar a fic, soh qndo acabada. Rsrsrs. Soh qndo estiver interinha, e ainda assim eu vou vir aki td dia ver se tem coment... Hauhauhauha, vc viu? Ele tah duelando com criancinhas de 5 anos, pq soh assim pra ter fé de ganhar... Pode dexah, o fim estah próximo e vai ter bastante HH rsrsrsrs... Espero q tenha gostado bjsssssssss

Nick, Oh, algumas horas antes do Natal hein... rsrsrsrs... olha isso, quase atrsada, mas ainda to na hora rsrsrs... ooonnn vc viu? ele naum tava mto acostumado ainda, mas ser pai, tah no sangue dele, neh? rsrsrs... Vai ser o melhor.... rsrsrs... Vc viu copiei akela parte da Molly defendendo a Gina no livro sete, pq eu achei mtooo legal rsrsrsrs... Espero que tenha gostado do cap ^^ Bjsssssssss

Daniela, fico contente por ter gostadoooo ^-^ O q achou do novo? Espero q tenha gostadooo bjssssssss

Edilma, claaaro q vc eh importanteeee!!! rsrsrs... Fico feliz por ter gostado >.< O amor do Rony jah vem chegando;.;; Vai ser bonitinho o final dela;;; Poético, eu diria, rsrsrsrs... Espero q tenha gostadooo Bjssssss

Jack, putz, Jack, ela recusou meu estágiooo!!!! Soh pq eu eskeci uma ficha! UMA ficha!! Soh isso! Humpt, snif snif, vou ter q entregar de novo em fevereiro... bom, enfim, fazer o q neh? rsrsrs Céussss, deve ter doído horroreeeeessss... opaa claro q a Gina vai ficar no orfanato definitivamenteee... Vc acha q ela vai dar ele pra algm depois? De jeito nenhum, rsrsrsrs... Oh, taí falei hehehehe... Olha a Jack cantandoooo... Jack vai gravar um CD, e vai me dar um de presente... Autogrfado, claro rsrsrsrs... ... Nem lembrava dessa música... E... qm eh Tiziano Ferro (hehe, desinformada, eu) ... Oh, quase em cima da hora hehehehe Quase q nem Papai Noel, soh q naum foi pela chaminé rsrsrsrs.... Espero q tenha gostado Jack... Bjssssssss

Lílian, hauhauahuha, a Hermione msm em um momento assim, naum eskece q eh mãe neh? rsrsrsr....Espero q tenha gostado desse tbm ^^ Bjssssssssss

Mariana, puxa fico mto feliz por vc ter achado q valeu a pena rsrsrsrs... Tentei ser mais rápida dessa vez. Espero q tenha gostado ^^ Bjsssssssss

Aline, fico feliz por ter gostadooo. Espero q tenha gostado desse tbm ^^ Bjssssssss

Andréa, hmmm, esse dia parece q vai ser pior ainda, neh? o dia q naum termina nunca rsrsrsrs... Hauahuahuha, a Prue eh melhor nem provocar neh? Ainda mais depois de conviver um tempo com Draco Malfoy e Gina Weasley Malfoy... Receita Veneno rsrsrsrs... Hhauhauauauha, vc viu o encontro da Prue com o Thiago... Soh faltou se estapearem q nem Draco e Gina neh? Casal q promete tbm :P rsrsrsrs... Espero q tenha gostado do cap... Bjsssssssssss

Pan, siiim, o Harry tah se esforçando pra ganhar o prêmio do pai do ano rsrsrsrs... Opa, espero q tenha conseguido fazer vc rir... Com o Draco hehehehe...Sim, com as férias as coisas vão ficar melhores... Ainda mais pq dia 7 eu saio de férias do trabalho tbm ^^ Tbm depois de seis meses de férias vencidaaaas!!!! rsrsrsrsrs... Sério? Sonhou partes dos caps msm? Ai q legal... rsrsrsrs... Espero q tenha gostado desse cap tbm... Bjssss, teh maissssss

Thais, Hmmm tbm naum sei pra onde o Voldi foi naum..., Mas eu sei pra onde ele vai rsrsrsrs... Coooom certeza, naum perdeu nem um dia para aprontar de novo hehehehe...Espero q tenha gostado desse cap tbm ^^ Bjssssss

Aninha, eeeee... Me esforcei para ser rápida rsrsrsrs... Vou tentar naum t deixar em crise de abstinência rsrsrsrsrs.... Espero q tenha gostadoooo... Bjssssssss

Likah, eeeee :D Fico mto feliz por vc ter gostado, e agradeço vc ter acompanhado as duas :D :D Bom, eu recomendo O Perfeito e o Proibido, q foi a primeira fic q eu li, e foi a q me fez gostar de HH rsrsrs... Recomendo tbm Foi sem querer, q eh DG, Quase sem querer, DG tbm, Cruel intention, DG tbm... rsrsrsrs... Bom, são minhas preferidas daki da floreios... E tem uma tbm q chama Ele não é meu irmão q eh da fanfiction, e eh DG universo paralelo, mas eh bem legal tbm :D Se gostar de alguma me fala, tah? E fala o achou do cap tbm ^^ Bjsssssss

lady xokolatýh, aaaahhh bigaduuuuuu!!!! Entaum t amo tbm!!!!!! E mto obrigada por ler e acompanhar a fic, viu? Tentei postar rapidinhooo, espero q tenha gostadoo :D Bjsssssssss

Bazinha, bem vindaaaa!!! Fico mto feliz por ter gostado :D Isso eh mtooo importante pra mim :D Rsrsrs... eh q eu naum kis falar na primeira q existia uma segunda, pra naum estragar o choque do Harry ter morrido hehehehe... Mas eh claaaro q eu fico torcendo aki pra td mundo achar rsrsrsrs... Espero q tenha gostado do cap e naum suma naum tah? Bjssssssssss

Mrs. Jane Potter, Fico feliz por vc ter gostado. Simmm, Miss Bingle merece se dar mal rsrsrs... Espero q tenha gostado do cap ^^ Bjssssssss

Giuliana2, aaaaahhh fico mto feliiiiz lendo isssooo... Mto obrigada msm, por ler, por acompanhar e pelos elogios :D Fico mto felliiz, isso eh mto importante pra mim ^^ Tah add jah ^^ Eu entro bem pokinhu, mas msm assim, eh [email protected] ... Aceita tah? Eu sei q meu nome aki na fic eh Priscilla, mas meu nome de verdd, como vc viu no orkut, eh Tatianne... hauhauhauahuahuhauha... Sem noção, neh? Eh o nome da minha irmã rsrsrsrs... Espero q tenha gostado do cap ^^ Bjssssss

AK, verdd, o Rony apareceu pouquinho... :( rsrsrsrsMas, daki a pouco a fic acaba e td fica bem :D rsrsrsrs Espero q tenha gostado do cap ^^ Bjsssssss



Bom, enfim, Feliz Natal pra td mundo q tah lendo :D Desejo para vocês toda a felicidade do mundo, q todos os sonhos de vocês se realizem e q todos os obstáculos q aparecerem na vida de vocês possam ser superados, com mta força e garra.
Q Deus ilumine o caminho de vocês, e lhes traga mta paz e saúde...

Mts Bjssssssss

Boas Festas

Tati

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Comentários (1)

  • Isis Brito

    Nossa Senhora, esse capítulo foi DEMAIS!!O próximo deve tá melhor ainda!!Mas vou ler só amanhã...Parabéns pela fic mais uma vez! Adoro bastante essa história!! xD

    2012-08-10
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