Não Diga Não



No castelo de Hogwarts tudo estava agitado, havia muita gente, pais, alunos, professores, funcionários do Ministério e aurores, e o empurra-empurra era geral. Quando Dumbledore anunciou que Voldemort não estava mais entre eles, a gritaria tomou conta do salão. Todos estavam animados, mas Dumbledore não os deixou esquecer que muitos perderam suas casas e seus entes queridos e que teriam de recomeçar as vidas. O ano letivo acabara mais cedo e também começaria mais tarde, já que haveria mutirões entre os bruxos para reerguerem suas casas.

Todos os dias, bem cedo, pessoas saíam de Hogwarts voltando a suas casas, organizando-as aos poucos. À noite, retornavam e dormiam protegidos pelos poderes de Alvo Dumbledore. Dia após dia o castelo esvaziava e menos pessoas ficavam nele. Em agosto, apenas estavam lá os professores, Dumbledore e meia dúzia de outros bruxos.

O jantar daquela noite era em homenagem a Madame Hook, professora de Vôo, dona de olhos de gato, que estava de aniversário.

– Fiquei com medo de não poder fazer mais um ano! - disse ela aliviada.

Dumbledore sorriu e a abraçou. Naquele momento, Madame Pomfrey irrompeu no salão. Todos a olharam.

– Professor Dumbledore, já não sei mais o que fazer! Eu não consigo! - Ele levantou-se e saiu com Pomfrey.
– Aby - sussurrou Minerva para Sibila, que balançou a cabeça. Minerva olhou para a mulher ruiva que estava ao lado de Snape. Este olhava Minerva com os olhos negros e profundos.

Enquanto isso, Dumbledore entrava na enfermaria. Abonize estava sentada numa das camas abraçando as pernas e com a cabeça escondida. Ele tocou os cabelos de Abonize e esta quase que imediatamente o abraçou.

– Vai ficar tudo bem! - disse ele sorrindo enquanto ela soluçava. - Estamos aqui, você está aqui.
– Para que servirei agora? Não pertenço mais a este mundo... não posso fazer nenhuma mágica!
– Você já fez a maior de todas, deu sua vida por alguém! - murmurou Dumbledore.

Abonize o abraçou mais forte, pôde sentir o coração dele batendo em seu ouvido.

– Vamos, levante-se, venha ao salão jantar! - pediu Dumbledore, mas ela recusou.
– Vou ao meu quarto.
– Você precisa se envolver com as pessoas Aby, já está aqui há quase dois meses! Não quero que fique assim por mais tempo!
– Querido Dumbledore, obrigado por tua compreensão - disse acariciando-o no rosto -, irei descansar só mais um pouco - ela sorriu e saiu da enfermaria.
– Ficaremos de olho nela, Pomfrey, tenho a impressão de que ela vai tentar ir embora. Diga isso aos outros professores - terminou Dumbledore preocupado.

Aquela noite estava linda, o céu estrelado e a lua muito brilhante iluminavam o jardim como se fosse a luz de uma grande varinha acesa. Abonize olhava para o jardim da janela do hall de entrada. Imaginava-se caminhando com largas passadas em direção à entrada de Hogwarts. “Porque está tão claro?”, pensava Abonize.

– O que você está fazendo aqui? - perguntou uma voz grossa, era Severo Snape.
– E-eu... - disse Abonize virando-se assustada -, es-estava...
– Ia fugir?

Ela não respondeu, seus olhos estavam no chão.

– Você ia nos deixar?
– E o que eu farei aqui? Para quê ficarei aqui?
– Para mim, oras!
– S-severo... o que me pedes...
– Você não acha que vou deixá-la viver longe depois de tudo o que aconteceu, acha?

Ela mordeu os lábios.

– Venha - disse ele estendendo a mão -, vamos voltar.
– N-não poderia... tu tens teus entes agora, apesar...
– Rebbeca? - riu-se ele. - Não era por ela que eu voltava àquela casa!
– Não acredito em ti.

Snape arregalou os olhos com aquela frase. Abonize virou os costas para ele e apoiou-se na janela.

– Eu senti que tua casa era um lugar feliz, tudo emanava felicidade, amor...
– Sim, por algum tempo eu pensei...
– Não, Severo, estás falando inconscientemente, apenas vês o que queres ver!

Ela voltou a olhar para Snape, mas não se demorou e seguiu para seu quarto. Snape a acompanhou com os olhos.

– Você é quem está vendo coisas! - berrou ele enfurecido.
– As coisas não estão indo bem, Sevie? - era a voz de Rebbeca ironizando.
– Por favor, Rebbeca...
– Eu te amei muito...
– Sim, amou e eu também te amei, mas há meses tudo está diferente. Você anda distante, se irrita por pouco, só reclama... eu já não sabia mais o que fazer! Estava pronto para deixá-la... mas meu coração não quis fazê-lo quando Voldemort a tirou de casa!
– Como você é inocente, Severo, eu mesma fui até o mestre e levei Ian comigo! O garoto não corria perigo algum! O mestre havia me prometido você, mas essa...
– Você levou nosso filho direto a Voldemort? Meu Deus, você sabia que ele era impiedoso, se ele se enfurecesse por qualquer motivo teria matado Ian!!
– Ah, do que é que você sabe? Você deserdou e não conhecia o mestre.
– Sim, eu o conhecia, muito melhor do que qualquer um, melhor até do que... - e hesitou -, Lúcio Malfoy.

Abonize pôde ouvir as vozes de Snape e da esposa no corredor, ela tentou, mas não conseguiu resistir e ficou ouvindo-os. Sentiu que o nome Malfoy era difícil de ser pronunciado.

– Ah, Lúcio, tenho que admitir, ele me trás boas lembranças, não traz para você, Severo?
– N-não! - murmurou Snape.
– Ele lhe deu uma lição, não foi? Está orgulhoso de si?
– Como é que é? - perguntou Snape cerrando os olhos.
– Não vá me dizer que você não sabia, Severo. Ele era apaixonado por você? - Rebbeca riu. - Lúcio não hesitou em nada quando disse que você estava em nosso quarto sem qualquer varinha por perto.
– Pare, Rebbeca! - avisou Snape.
– Ele ficou doidinho, não?
– CALE A BOCA! - berrou ele.
– Ora, se eu não o satisfazia com tudo o que lhe dava, era porque faltava algo, não, meu querido?

Abonize estava na porta de seu quarto com os olhos baixos.

– O que foi, querida? - continuou Rebbeca. - Enojada de escutar a história? É a mais pura verdade. Lúcio fez o que bem quis com Severo e este nem gemeu, mas pelo que Lúcio falou, você adorou, Severo?
– Como é que tu podes ser tão desprezível com alguém que amas? - perguntou Abonize se aproximando - Não tens um pingo de consideração? Não foi ele que pediste a Voldemort? Por que o tratas desta maneira, então?

Rebbeca respirou fundo, a verdade doía muito.

– O amor pode se tornar ódio, sabia, querida? - rosnou Rebbeca. - Espere até ele te trocar por uma mulher mais nova e você vai ver o que é bom, vai sentir o que estou sentindo.
– Não fale besteiras, nosso casamento já não era mais igual aos primeiros anos, e a culpa foi sua! Você me desiludiu tratando Ian daquela forma! Como eu poderia amar alguém que maltrata uma criança?
– Da mesma forma que eu amava você! Não é o senhor carrasco de Hogwarts quem está falando?

Snape olhou para o chão.

– Você não se difere nada de mim, Severo!
– Eu... nunca... - Snape não conseguia escolher palavras.
– É esse homem que você quer? - perguntou Rebbeca a Abonize.
– Foi este homem calculista, maquiavélico, mas também responsável e muito imponente que me chamou a atenção desde o primeiro dia que cheguei a Hogwarts. Tu deverias saber que as mulheres preferem estes tipos aos certinhos e ajustados!

Snape não estava acreditando nas palavras de Abonize e muito menos Rebbeca.

– Severo é meu presente e meu futuro, o passado... foi ele quem viveu! Isto não tem nada a ver comigo!

Aquela frase fez os lábios de Snape voltarem a sorrir, agora com escárnio.

– Eu a deixei ficar aqui em consideração a nosso filho, mas vejo que ele não se importa nem um pouco com você, por tanto, saia daqui enquanto pode! - ele ergueu a sobrancelha e fulminou-a com um olhar.

Rebbeca deu um passo para trás e ela ficou horrorizada, batera em Dumbledore, que sorriu. Sem ver mais nada, disparou em direção à saída do castelo.

– Mas o que foi que deu nela? - perguntou Dumbledore intrigado.

Abonize olhou para Snape, que estava admirado por Dumbledore chegar a tão exata hora. Ela caiu na gargalhada e ria tão alto e gostoso que fez com que os dois rissem também.


Continua...

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