Os Campos de Trigo



Todas as manhãs de sábado os alunos corriam pela estrada que levava a Hogsmeade, enquanto os professores dirigiam-se para lá numa bonita carruagem do século XVII. Seguiam caminho admirando a paisagem que continuavam a mesma de séculos atrás. Minerva apontava para as distantes casas e contava suas histórias a Abonize. Não demoraram a chegar. O lugar estava entulhado de gente. Os professores todos entraram no bar Três Vassouras, exceto Snape que entrou em uma lojinha empoeirada e saiu com uma cesta de palha que pesava entre seis e sete quilos.

Abonize o seguiu caminhando por uma leve subida além da loja de doces Dedosdemel. Andaram por dez minutos pela estrada e depois o viu entrar numa plantação. Mas ele percebeu que ela o seguia e voltou a passar pelo arame. Estendeu o braço livre para Abonize e disse “Quer vir comigo?”. Hesitando, ela engatou seu braço ao dele e andou até a cerca. Snape ergueu o arame farpado o máximo que pôde para Abonize passar. O vestido dela prendeu-se num dos arames, mas isso não foi empecilho. Depois de passarem pela cerca, os dois seguiram caminho até altas árvores metros dali. Abonize andava com as palmas das mãos abertas tocando os fiozinhos ouriçados dos pés de trigo, ela nunca havia visto algo tão bonito como aquele campo com certo brilho dourado.

– É maravilhoso, Severo! - disse ela admirada.
– Venha! - chamou ele de longe, debaixo de um gigantesco salgueiro, onde havia um tapete estendido com a cesta sobre ele.

Ela sentou recostando-se numa árvore, enquanto ele, sentado, abria a cesta tirando comidas de dentro. Snape não quis saber o porquê dela tê-lo seguido. Conservaram sobre si mesmos, sobre o passado e sobre coisas boas. Isto queria dizer que falaram mais sobre a vida de Abonize. Ela contava entusiasmada sobre as aventuras paranormais que viveu enquanto criança. Falou tanto que se sentiu envergonhada.
– Satisfeita, não?
– Que belo lugar este. Como o encontraste?
– Já andei muito por aqui! - disse agora deitado de lado, apoiado no cotovelo. - Então você conhece toda a Europa! - disse Snape bebendo um gole de vinho. - Fala oito línguas...
– Não é nada, tu nem viveste tanto tempo quanto eu e tens muito conhecimento.
– Coisas ligadas apenas à magia e não à medicina, astronomia, poesia, música e línguas como as que você domina - continuou ele sem dar importância à frase de Abonize. Ela sorriu. Snape alisou a manga do vestido dela e também sorriu.
– Tu pareces muito feliz agora, por quê?
– Porque estou longe daqueles pestinhas.
– Ah, Severo, não digas tal coisa, são apenas crianças.
– Mas é a verdade, e o que é melhor do que estar aqui?

Os lábios dela se abriram, mas não falou nada. Snape tinha os olhos brilhantes, não eram mais profundos e penetrantes, estavam castanhos e Abonize podia ver seu reflexo neles.

– Abonize, posso...? - disse Snape tocando o rosto dela.
– Sim! - falou suspirando.

Snape aproximou seus lábios dos de Abonize e a beijou. Os lábios dela tremiam, mas eram suaves e doces. Ele se sentou, a abraçou e a beijou com mais intensidade. Sentiu as mãos dela em seu peito, depois puxarem a gola de seu casaco. Tudo em volta parecia estar parado, os dois escutavam somente o som de suas respirações e de seus beijos. Ah, os beijos! Abonize não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo. Os beijos de Snape eram ternos, ela parecia estar num sonho, num mundo encantado onde o toque dos lábios daquele homem em seu pescoço a fazia quase desmaiar de felicidade. Por um breve momento achou mesmo estar sonhando, mas ao abrir os olhos ele estava ali. Ofegante, Abonize o afastou de si.

– O que foi? - perguntou Snape ainda admirado.
– Severo, o que estamos fazendo?
– Nos beijando, oras! - disse ele sorrindo e voltou a beijar os lábios dela.
– Severo! - afastou-se ela. - Precisamos voltar, já é tarde!
– Não, não é! São apenas quatro horas!

Ela levantou, ajeitou o vestido amassado e olhou para o horizonte.

– Tudo bem, se você quer ir eu a acompanho - dizendo isso, ajuntou o que restou do lanche, pôs dentro da cesta e a deu para Abonize segurar. Snape fez o tapete sumir com o toque de sua varinha e seguiram caminho.

Ao chegarem ao castelo, Snape abriu a porta da carruagem, desceu e deu a mão para Abonize, ajudando-a a descer. Ela mal se despediu e correu para dentro do castelo. Snape apenas a fitava.



Aquela semana foi eufórica para muitos alunos, o Natal seria festejado com um grande jantar e um baile e na semana seguinte estariam de férias. Mas para outros, a semana foi lastimável. O professor de Poções parecia incrivelmente irritadiço e azedo, e ninguém foi perdoado. Muitos pontos foram perdidos. Dumbledore havia notado uma leve mudança nas coisas naquela semana.


A véspera do dia de Natal chegou rápido, com ela, o baile de Natal, o que todos excitados esperavam. Não havia uma só pessoa que não estivesse se divertindo depois de terem trocando presentes. No entanto, Dumbledore olhava por todos os lados para ver se encontrava a pessoa que estava faltando.

– Severo - chamou Dumbledore do corredor que levava à cozinha -, preciso falar com você.

Snape nem olhou para os lados, apressou-se e seguiu Dumbledore até uma sala.

– Diga-me o que está acontecendo! O que foi que falou a Abonize para ela nem querer aparecer no baile?

Como é que Snape responderia àquela pergunta se ele não falara mais com Abonize? Ele deu de ombros.

– Então foi Harry! - disse o diretor irritado.
– O que aquele moleque fez?
– Chame-o aqui!

Snape não demorou muito a retornar à sala com Harry.

– Agora escutem vocês dois - advertiu Dumbledore com voz áspera. - Sei que um de vocês fez algo a Abonize, não quero saber o que foi, mas quero que se retratem com ela! Abonize é uma pessoa muito importante para nós, ela inda tem dificuldade em se relacionar e se não conseguir fazer isso direito poderemos ter problemas!
– Não consigo falar com ela! - disseram Snape e Harry juntos e se olharam.
– Acho que ela tem me evitado! Não anda mais nos jardins de manhã cedo! Não consigo encontrá-la - retrucou Harry olhando para Snape.
– O que fez a ela? - perguntou Snape. - Eu sei o que fez! É por isso que ela me ignorou! Você...
– Severo! - disse Dumbledore rispidamente.
– Professor Dumbledore, eu queria explicar a ela o que sinto, é difícil, acho que ela se sentiu intimada a estar comigo e por isso está me evitando.
– O que você está dizendo, garoto? - Snape bufou e virou de costas abrindo os braços. - Que gosta dela?

A pergunta de Snape foi curta e grossa. Harry não respondeu apenas olhou para baixo. Não ouvindo resposta, Snape constatou que era isso mesmo; seu queixo caiu, esta era a resposta, beijara Abonize e ela não falava mais com ele pelo simples fato de estar comprometida com Potter.

– Não! Não! - disse Snape indignado, sentou-se num sofá e pôs as mãos na cabeça. - Mas o que é que eu tenho?

Dumbledore saiu da sala e foi até o quarto de Abonize. Bateu três vezes na porta e esta se abriu sozinha. Abonize estava adormecida abraçada a um travesseiro e aos seus pés havia um bilhete de Hermione que falava de Harry. Ele se sentou e ficou observando-a. Com certeza ela estava aflita por ter de escolher entre duas pessoas que amava. Dumbledore resolveu escrever num papel as qualidades de Harry e de Snape, deixando-o ao lado do bilhete de Hermione. Fechou a porta e voltou para o salão.

A manhã de Natal surgiu com a neve caindo. Garotos e garotas brincavam no jardim congelante e davam altas gargalhadas. Abonize acordou com elas, abriu a janela e sentiu o vento frio arrepiar seus pêlos. Ela vestia apenas um simples vestido de seda, já que dentro do castelo o clima era muito agradável. Voltou para a cama, se espreguiçou e pegou o bilhete de Hermione. Já o havia lido uma dúzia de vezes, dizia que Harry estava envergonhado do que fizera e que queria pedir desculpas e que ela não precisava se esconder. Sorriu feliz e abriu o bilhete na intenção de lê-lo novamente.

“Querida Aby,

Passei aqui a noite passada para levá-la ao baile, mas você estava dormindo tão gostosamente que preferi deixá-la em paz. Estou lhe dando uma mãozinha naquele assunto ao qual ainda não se decidiu! As qualidades dos dois são as seguintes: com o primeiro vem bondade, sinceridade, ingenuidade, beleza, inteligência, curiosidade, vontade de extravasar, juventude, fraternidade e um amor incondicional. Com o segundo vem sabedoria, maturidade, responsabilidade, franqueza, força, temperamento, astúcia, lealdade, calculismo, proteção e...

Alvo Dumbledore.”

Aquele não era nem de perto o bilhete de Hermione. Abonize leu mais uma vez e teve a sensação de que qualquer que fosse sua escolha, Dumbledore a apoiaria. Foi até a entrada da torre de Grifinória e esperou que algum aluno saísse. Teve sorte quando Rony a viu ali esperando, o garoto nem falou nada e foi buscar Harry.
– Oi! - disse Harry ofegante e sorridente.
– Feliz Natal! - cumprimentou Abonize sorrindo. - Podemos conversar?

Harry acompanhou Abonize pelo corredor até chegarem a uma saleta próxima à entrada do castelo. Sentaram e mal Abonize começara a falar, Harry a interrompeu.

– Não quis te forçar a ficar comigo, fiquei decepcionado quando não aceitou, na verdade fiquei zangado - disse ele olhando para baixo -, mas Hermione me fez ver que talvez você não achasse certo namorar um garoto tão novo.
– Não, não acho.
– Ela tinha toda razão, como sempre - disse ele cabisbaixo.
– Não quis dar-te esperanças, desculpe-me se te fiz sentir que sim. Eu te amo, querido Harry, assim como a todos em Hogwarts. Não sei como ficará nossa amizade...
– Por mim, tudo bem, é sério! Você tem problemas maiores do que ficar com um garoto!
– Harry - disse Abonize sentindo que ele se importava e muito em não namorar ela -, conversaremos daqui a alguns anos, quando tu já tiveres namorado muitas garotas e quando já não me acharem mais tão bonita, então verás que perdeste teu tempo - ela se calou e olhou para a porta.

Harry entendeu que aquela conversa havia terminado. Os dois saíram juntos em direção aos jardins do castelo. Harry encontrou Rony e foram até a cabana de Hagrid. Abonize sentou-se no gramado, olhou em volta e admirou tamanha beleza. Ao longe avistou Snape vindo em sua direção. Ela se levantou e seguiu na direção do castelo, ele a viu e andou mais rápido. Abonize entrou correndo pelo castelo, Snape fez o mesmo. Ela estava tão nervosa que corria sem perceber que havia entrado em um estreito corredor onde todas as portas estavam trancadas. Abonize virou-se para voltar quando deu de cara com Snape parado no meio do corredor, os braços apoiados nas paredes, trancando a passagem de volta. Ele tinha a respiração pesada, havia corrido muito rápido.

– Mas... que... diabos... está... fazendo? - disse ele ofegando entre cada palavra. Ela balançou negativamente a cabeça. - Por que... está... fugindo de mim?

Ela não pode encará-lo.

– Não quis magoá-la! Só a beijei porque achei que você queria! Pareceu-me querer!
– Sim, eu quis e muito!

Snape se aproximou.

– Pois bem, então o que foi que eu fiz? Por que está se escondendo de mim?

Um súbito calor irrompeu o peito de Abonize. Ela tampou o rosto e começou a chorar.

– Não sei explicar o que sinto! Estou com medo!
– Mas de que? Este sentimento não lhe fará nenhum mal e muito menos eu! O amor é sua maior virtude, não é?
– S-sim.
– Olhe para mim! - disse segurando o rosto dela e beijou-a apaixonadamente por segundos. - É disso que tem medo?

Abonize sorriu e abraçou Snape, que beijou os cabelos dela e a abraçou também. Ela sorriu e o acompanhou até o salão principal onde estava Dumbledore. Eles conversavam em voz baixa, Abonize podia ouvi-los, mas não quis dar atenção, ela jantou e foi para seu quarto. Ao entardecer, Abonize viu Snape, com suas longas vestes negras e sem nenhuma mala, partir com a carruagem do castelo. Ela queria ir com ele, mas não tinha coragem de pedir, tinha medo que se pedisse para ir junto, quem sabe, ele recusasse e então ela ficaria ressentida. Por outro lado, se ele respondesse que sim, ela talvez não quisesse ir por não ter coragem de sair de Hogwarts. Apenas pronunciar o nome de alguma cidade trouxa lhe dava arrepios.


Continua...

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