A Outra Crinaça Escolhida



Abonize saiu pelos corredores de Hogwarts exaltada e muito aflita. Seus olhos eram brasas e sua pele alva estava translúcida, deixando transparecer enormes veias azuladas. Ela perguntava a todos que encontrava no caminho onde estava Harry. Viu Snape e como um raio se aproximou dele. Com a cara fechada e opaca perguntou:

– Onde está Harry?

Snape nunca a vira tão exaltada e com uma expressão tão maligna nos olhos. Ele respondeu que não o havia visto e olhou para Minerva que vinha acompanhado por Alvo Dumbledore. Abonize não deu bola aos professores, olhava por todos os lados, mas não conseguia encontrar Harry. Ficava cada vez mais irritada e aflita ao perguntar e nenhuma resposta obter. Seus olhos pregaram-se em Rony e Hermione, que desciam alegremente a escadaria que vinha da casa Grifinória. Ela voou até eles. Agora havia uma multidão querendo saber o que estava acontecendo.

– Onde está Harry? - perguntou Abonize aos dois.
– Não sei! - respondeu Hermione.
– Onde ele está? - perguntou ela novamente, mas agora a Rony.
– Não sabemos, não! - respondeu Hermione novamente.

Abonize virou-se para a multidão, mas voltou-se para os dois amigos bruscamente e então seu corpo se elevou, uma luz emanou dela e com a voz distorcida perguntou:

– Onde está Harry?

O horror foi geral e calafrios passaram pelo corpo de Dumbledore.

– E-e-ele... foi... foi até a floresta! - guaguejou Rony.

O corpo de Abonize levitou como o de Nick-Quase-Sem-Cabeça e parou diante da janela, levantou um dos braços e a janela se abriu e ela saiu voando em direção a floresta. Os professores a seguiram em suas vassouras, mas não eram tão rápidos, pois num instante Abonize estava na clareira e pairava sobre Harry. Ao lado dele havia uma pessoa acobertada por uma enorme capa negra.

– Tu, soltes o menino!
– Não farei mal algum a ele desde que você não faça nada contra mim! - respondeu a pessoa.
– Quem és tu? O que desejas?
– Não deixe que ninguém se aproxime e então lhe direi o que quero!

Abonize não sabia do que a pessoa era capaz, não estava acostumada àquele tipo de situação, logo, abriu os braços e uma onda de força envolveu os três na clareira. Esta surgiu tão repentinamente que derrubou os bruxos que estavam chegando para ajudar. Eles não poderiam se aproximar, nenhuma magia funcionava contra aquele poder, teriam apenas esperar e ouvir o que se falava.

– Sou apenas um mensageiro. Meu mestre pede a sua presença.
– Teu mestre? Por que ele mesmo não veio me encontrar aqui?
– Porque está muito fraco e porque ele nunca entraria em Hogwarts. Dumbledore nunca permitiria!
– Quem é teu mestre? Onde el...
– Oras, é o Senhor das Trevas, Lord Voldemort

Abonize sentiu um aperto no peito e foi como se tivesse perdido as forças. O campo de força que os envolviam desapareceu. Ela olhou para Harry:

– Dá-me tua mão, Harry!
– Não deixe que cheguem perto! - gritou a pessoa.

Snape e McGonagall atacaram a pessoa com suas varinhas sem perderem tempo. Muitos relâmpagos e raios iam e vinham e em meio à algazarra, Abonize continuava pedindo a mão de Harry. Este, por sua vez, se esticava ao máximo, mas a pessoa acobertada o puxava para trás. Furiosíssima, Abonize esticou mais ainda a mão para Harry e olhando fixamente para a pessoa acobertada pronunciou palavras ininteligíveis, e de imediato a pessoa começou a se debater, e foi jogada de costas numa árvore. Naquele momento Harry alcançou a mão de Abonize, e não somente apertou-a, mas abraçou Abonize com todas as suas forças. Ao contrário do que todos pensavam Abonize não ficou totalmente aliviada. Olhou para Dumbledore e todos pararam e a pessoa acobertada pôde fugir.

– Harry não correu perigo nas mãos daquele homem. Mas há alguém que já não poderemos salvar nos braços do Senhor das Trevas.

O sentimento de perda foi tão grande que ela desmaiou. Harry tentou fazer vento para ela voltar a si, mas Snape o empurrou e pegando-a nos braços voltou ao castelo voando. Passadas algumas horas, ela estava melhor, no entanto, queria ficar sozinha. Ficou sentada por dois dias seguidos ao pé da janela de seu quarto, abraçada às próprias pernas. Sem dormir, comer ou beber. Parecia uma estátua, pessoas entravam e saiam de seu quarto tentando tirá-la daquele transe, porém, ela parecia estar petrificada.

No terceiro dia, Dumbledore entrou no quarto e sentou-se na cama de frente para ela, viu que o estado dela não era normal, não tinha a cor de uma pessoa sadia. Estava azulada e os olhos estavam muito vermelhos, pareciam irritadíssimos. Também pudera: sem dormir dois dias inteiros!

– Aby, sua perda foi extremamente penosa e o que se passou com você a seguir não ajudou em nada - ele colocou sua mão sobre a cabeça dela. - Troy foi um ser iluminadíssimo. - Quando ele pronunciou aquele nome os olhos dela inundaram. -Ele deveria ter recebido a carta de Hogwarts, mas se assim fosse todo o seu destino estaria em jogo.
– Ele era muito especial - afirmou Abonize.
– Sim, extrema e exatamente especial como a criança que Voldemort escolheu - disse Dumbledore e ela olhou para o céu.
– Você é a pessoa mais poderosa que se conhece e precisamos de sua ajuda. Aquela criança precisa de você!
– Mas é tarde demais!
– Não, Voldemort precisa seguir todo um ritual para entrar no corpo da criança, se é o que ele pretende fazer! E precisa depois disso crescer e se tornar um adulto para poder exercer seus plenos poderes. Bem, talvez quando adolescente já tenha muitos poderes!

Ela agora o observava atentamente.

– Podemos salvá-la e quanto antes o fizermos melhor para a criança... e para nossos corações.
– Dumbledore...
– Irei me reunir com o Conselho dos Bruxos e voltarei a falar com você - ele sorriu e continuou. - Por hora vá ao refeitório, se alimente e dê um passeio pelo sol.

Enquanto seguia em direção ao refeitório, Abonize prendeu os cabelos e se olhou em um dos espelhos para ver qual era sua aparência. Ainda estava feia. Mas toda vez que passava raiva ou que se entristecia em demasiado seu corpo se modificava, era algo que ela não podia evitar. No refeitório havia uma única pessoa, Severo. Ela dirigiu-se a ele, que estremeceu com sua aproximação.

– A minha aparência ainda está desagradável - disse ela ao vê-lo se esquivar. Ele balançou negativamente a cabeça. Ela sentou-se em frente a ele. - Não guardarei nenhum ressentimento de ti, Severo! - disse Abonize. - É certo que me decepcionei ao saber que tu tinhas família formada... mas, ai de mim querer destrui-la! Não escolhemos quem amamos - ela hesitou. - Sei que me amas, mas não posso cobrar este amor de ti!
– Eu... não... eu quero...
– Não sei no que tu pensavas quando estavas comigo, sei que não quiseste me magoar, mas deverias ter sido honesto comigo, eu entenderia! O que não posso entender é por que magoaste a pessoa que mais amas? Por que a traíste? - Ele arregalou os olhos. - Entendo agora que meu destino não é compartilhar minha vida contigo - e viu que ele mudou a expressão. - Não me olhes assim, Severo. Tu fizeste tua escolha e não podes jogar tudo para o alto!

Ele pegou na mão de Abonize.

– Eu amo você!
– Não te desesperes - disse ela tocando o rosto dele. - Ficarás bem.

Ela sorriu, mas sentiu um aperto no peito.

– Vou ajudar a encontrar teu filho e tu e os teus viverão os melhores anos de tuas vidas!
– Aby - ele não tinha palavras certas para se desculpar -, queria ter lhe contado, mas não sabia como!
– De qualquer forma, se tivesses me dito eles não estariam em perigo, eu teria pressentido.
– Você tinha tudo às suas mãos, por que não as usou?
– Jamais faria isso, jamais me apropriaria do que não é meu! Segredos existem para serem guardados, apesar de - e ela não pôde disfarçar o olhar penoso.
– O que? O que foi? - perguntou ele erguendo uma das sobrancelhas. - Você leu meus pensamentos, não é? Não se conteve.
– Não me julgue, Severo! Li apenas reflexos de um deles. Não o sei ao todo.

Ele se afastou, recostando-se na cadeira.

– Foi na noite em que... em que chorei nos teus braços.
– Eu tentei fechar minha mente, mas teus pensamentos eram muitos!

Ele se levantou e deu as costas a ela. Depois e sussurrou:

– Se nosso destino não é ficarmos junto - falou ele com a voz oscilante -, com quem você vai ficará?
– Com uma pessoa que mudará a vida em Hogwarts daqui a alguns anos!
– Eu conheço?
– Sim, Severo - disse ela se levantando sorrindo e beijando-o suavemente nos lábios.
– Quem? - e ele se afastou dela.
– Alguém que agora estuda em Hogwarts.

E naquele momento, Hermione e Rony entraram alvoroçadamente no salão, mas pararam ao se depararem com Abonize e Snape. O garoto que vinha atrás deles tropeçou nos amigos e escorregou parando de joelhos diante do professor. Abonize sorriu e apontou para ele: era Harry Potter.

– NUNCA! - gritou Snape.

Os três garotos ficaram encarando Snape.

– Você nos assustou, Aby? - disse Harry se levantando e andando até Abonize. - Quem era aquele?
– Tua curiosidade o colocará em muitos apuros, garoto - disse ela sorrindo. - Provavelmente um Comensal da Morte. - Snape sentiu um calafrio. Irritado, saiu rangendo os dentes. - Severo! Levar-me-ás a tua casa então? - Ele parou subitamente e ficou de costas. - Esperar-te-ei às dez horas!

Ele mexeu a cabeça dizendo que sim e espiou por sobre os ombros. “Potter, outra vez, Potter!” pensou Snape e seguiu caminho.

Às dez horas Snape bateu à porta do quarto de Abonize. Ela o cumprimentou sorrindo, mas ele tinha a cara amarrada. Os dois saíram do castelo e entraram em uma carruagem que os levou até o povoado de Hogsmeade, de onde, via pó de Flu, chegaram a Londres, na casa de um dos aliados de Dumbledore. Os sentimentos de Abonize lutavam dentro de seu peito. Tantas coisas conhecidas, coisas boas e más. Snape notou que ela não estava bem, apenas disse a ela que não demorariam a chegar a sua casa. Minutos depois se depararam com várias casas geminadas feitas de pedra, cada qual com seu jardim e dois pavimentos. Adentraram em um jardim multicolorido, onde uma trepadeira florida os saudava junto à porta de entrada. Snape estremeceu, a porta estava semi-aberta, ele não ousou entrar. Abonize empurrou a pesada porta e um corredor escuro apareceu. Entraram. À esquerda havia a escada que levava ao pavimento superior, não foram por ali, seguiram à direita e entraram na primeira porta. Era uma sala de estar bem iluminada, onde poltronas encapadas com tecido florido combinavam com os adornos sobre a lareira e com os inúmeros quadros. Tudo estava impecavelmente limpo e arrumado. Abonize pôde sentir que ali estiveram pessoas felizes. Mais adiante, uma enorme cozinha, igualmente limpa. Panelas de todos os tamanhos pendiam do teto, enfileiradas por ordem de tamanho. Vidros de condimentos arrumados em ordem alfabética. Sobre a mesa uma toalha bordada com motivos campestres e cada cadeira com capas exatamente iguais. Abonize acariciou o balcão de mármore. Ali estiveram pessoas solitárias.

Retornaram à escada que levava ao segundo pavimento. Neste pavimento havia dois amplos quartos e um enorme banheiro. O quarto de casal estava com a cama feita, as janelas abertas e as leves cortinas de voal dançavam com a brisa noturna. Snape parou em frente à cômoda, sobre ela haviam fotos de três pessoas sorridentes. Abonize nem precisou tocar nada para sentir que neste aposento estiveram pessoas que se amaram muito. Ela olhou para Snape e ele suspirou. O outro quarto logo adiante irradiava muita felicidade. Era o quarto de uma criança muito amada. A cama estava desarrumada e vários brinquedos estavam espalhados no chão. Os olhos de Snape inundaram-se e acusaram o que ele sentia ao estar ali.

– Prossigamos, Severo! - disse ela tocando-o nos ombros. Subiram um último lance de escada e um amplo sótão apareceu. Era todo pintado de branco. Mas ao entrar, Abonize sentiu um baque e suas pernas bambearam fazendo-a quase cair escada abaixo, se não fosse por Snape que a segurou.
– Tudo bem? - perguntou ele.
– Sim, obrigada! - Tudo ali estava revirado, janelas quebradas, móveis caídos... - Eu... eu... por que isso? - sussurrou ela inconsolável. Abonize andou pelo quarto com a mão no peito falando baixinho. Snape sabia que ela estava sentindo dores, mas ela não queria ser interrompida. Murmurava palavras que pareciam estar em uma língua que Snape desconhecia.
– Não vejo sinal de sangue!
– Não, Severo, ninguém foi ferido, mas houve luta... principalmente para a criança...
– Rebecca... - disse ele espremendo os olhos.

Abonize olhou-o com tristeza, ele estava sentindo tanta dor quanto ela. Naquele quarto, um turbilhão de sentimentos... de acontecimentos ecoavam. Abonize estava muito zonza, Snape percebeu e a ajudou descer a escada. Voltaram à estação casa onde, pela lareira, voltara a Hogsmeade.

Ao entrarem na carruagem que os levaria de volta a Hogwarts, Abonize beijou o rosto de Snape, que olhava a paisagem. Ele virou-se para ela e fez com que ela recostasse a cabeça em seu ombro.

– Lamento muito por isso, Severo. É a mim que Voldemort quer, vou saciar a vontade dele.
– Não, ele não deve desconfiar de mim... por que então pegaria minha família? Não sei o que ele pretende, acho que estão mortos! Se entregarmos você... será o fim!
– Severo, eu não sinto isso.
– Chega, não diga mais nada. Preciso me conformar. Dumbledore me avisou, não lhe dei ouvidos... mas não foi minha culpa...

Abonize quis abraçá-lo e lhe dizer tudo o que estava sentindo. Queria entregar-se a ele, pela última vez. Seu coração estava apertado. E quando chegaram ao castelo, vendo todos os esperando para saber o que haviam descoberto, Abonize não agüentou, saiu chorando em disparada para os fundos do jardim. Dumbledore olhou curioso para Snape.

– Ela quer ir até Voldemort!

O Conselho Bruxo foi reunido e estavam apreensivos porque achavam que se Snape não pudesse espionar Voldemort eles não teriam nenhuma chance de saber o que estava acontecendo. Discutiram durante dois dias e duas noites, mas não chegavam a uma conclusão. Snape pôs um fim às dúvidas quando saiu da sala do Conselho dizendo que estava voltando na manhã seguinte ao castelo de Voldemort. Quando Abonize ficou sabendo já havia amanhecido, correu o mais rápido que pôde até as masmorras e irrompeu no quarto de Snape.

– Não quero que vás! - brandiu ela.
– Eu preciso descobrir se estão vivos e se ele sabe que eu o traí!
– Por favor, Severo, deixe-me ir e conversar com ele antes!
– Não, não, você não pode sair de Hogwarts. Precisam de sua força aqui, senão Voldemort destruirá tudo!

Abonize pegou no braço dele e sentiu o quão forte ele era.

– Severo, eu te peço, tu me amas? - Ele ficou calado. - – Responda!

Ele virou o rosto para o outro lado.

– Desejo que tudo que há de bom aconteça a você, Abonize. Você merece muito mais do que um simples mortal que se revelou um grande mentiroso!

Abonize estava espantada. Correu para longe daquelas masmorras. Queria esquecer tudo. Voltaria ao mundo dos trouxas e viveria longe de quem poderia amar. Ela desceu a escadaria de mármore e correu para fora do castelo em direção à Floresta Negra.


Continua...

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