O Baile de Inverno



O outono estava chegando ao fim e os preparativos para o Baile de Inverno se intensificavam. Somente poderiam ir a esse baile alunos do quarto ano em diante e estes já escolhiam seus pares. Hermione e Rony decidiram ir juntos, assim saberiam que não causariam transtorno se não quisessem dançar. Harry estava empolgado, algumas garotas o convidaram e ele recusara porque queria ir ao baile com Abonize. Esta teria adorado se já não tivesse aceitado ser par de outra pessoa: Hagrid. Harry ficou contente, mas intimou Abonize a dançar algumas músicas e ela evidentemente lhe respondeu positivamente.

No dia do baile, o castelo amanheceu totalmente enfeitado: lindas guirlandas e serpentinas multicoloridas e brilhantes ladeavam os corredores e salas. Estátuas de anjos e fadas prateadas e douradas reluziam iluminando o caminho sem a necessidade dos archotes estarem acesos. Nos jardins, bancos estofados e mesinhas estavam dispostos de forma a se poderem ver as belíssimas vistas do lago, da floresta e da fachada do castelo. Quando a noite chegou, os jardins surpreenderam: milhares de vaga-lumes cintilavam formando um céu tocável.

Aos poucos os pares chegavam ao Salão Principal. Os professores já estavam lá reunidos em uma das muitas mesas redondas espalhadas pelo salão. Haviam convidados de honra: os integrantes do Conselho dos Bruxos; o Ministro da Magia, Fudge, e o diretor do Profeta Diário, Mário, que também era repórter.

Dumbledore esperava mais duas pessoas se juntarem a eles para poder iniciar o baile. Quando elas chegaram, a mesa dos convidados parou. Hagrid, com um impecável terno preto e uma camisa vinho por baixo, ladeava uma linda mulher com um maravilhoso vestido de veludo azul cobalto. Snape fez menção de falar, mas Dumbledore o interrompeu.

– Eles foram fazer um serviço para mim, Severo. Sente-se e relaxe! - disse Dumbledore se levantando para Abonize sentar e todos os homens daquela mesa fizeram o mesmo e depois que ela sentou, todos sentaram. Então Dumbledore continuou: - Queridos convidados, hoje é um dia muito especial! Além de festejarmos a entrada do inverno e a vinda do Natal, celebramos uma nova conquista! No próximo ano, estaremos trazendo para Hogwarts alunos vindos de países além do oceano Atlântico.

Ouve um alvoroço entre os alunos.

– Para selar este acordo, aqui estão nossos convidados de honra - e Dumbledore os apresentou e todos bateram palmas. - E mais uma coisa, Hagrid e a srta. Abonize cuidaram nos últimos meses dos unicórnios restantes em nossa floresta. Como todos sabem, eles estavam adoecendo por causa de uma estranha doença e graças aos conhecimentos medicinais da srta. Abonize eles agora passam muito bem.

Houve uma salva de palmas e Abonize corou escondendo o rosto com as mãos.

– E então, vamos ao que interessa! - disse Dumbledore batendo duas palmas. Cardápios apareceram e também uma agradável surpresa: canecas gordas de cerveja amanteigada. O salão inteiro vibrou.

O baile foi um sucesso. Todos se divertiram muito, conversaram, comeram, beberam e dançaram. Abonize dançou com tanta gente que chegou a ponto de pedir para não a tirarem para dançar por meia hora. Contudo, ela não pôde negar a Harry qualquer dança e o acompanhou de mãos dadas até o meio do salão. Dançaram e conversaram durante três músicas. Algumas pessoas acharam que eles formavam um belo casal. Harry, aos dezesseis anos possuía traços de um homem e tinha mais de um metro e oitenta.

– Vamos dar uma volta pelo jardim mais tarde? - perguntou Harry a Abonize - Gostaria de ter falar umas coisas...

Ela sorriu e encostou o rosto na orelha dele.

– As garotas à tua esquerda estão morrendo de inveja, acho que vou deixar-te livre.
– Acompanho você até a mesa - disse ele. - Posso esperar por você então?

Ela sorriu, disse que sim e agradeceu, indo sentar-se à mesa junto a Dumbledore. Snape sentou-se ao lado dela. Enquanto Dumbledore estava entretido com a esposa de Fudge, Snape recostou-se na cadeira e aproximou seu rosto ao de Abonize.

– Obrigado pela brincadeirinha do outro dia... virei piada a semana toda! - sussurrou ele.
– Desculpe-me - disse ela sorrindo -, não pude resistir!
– Pensei que estávamos dando uma trégua e você me apunhala pelas costas!
– Não sejas tão ranzinza! De que vale a vida se não para nos fazer sentir bem? - retrucou Abonize olhando-o nos olhos.
– Você - disse Snape apertando o ombro de Abonize com o dedo -, se sentiu bem e todos aqueles que riram de mim e me mandaram bilhetes em nome de Pomfrey... No entanto, ela também não gostou nada disso quando soube!

Abonize ajeitou-se na cadeira e ficou séria olhando para a pista de dança. Espiou Pomfrey e ela conversava alegremente com Hagrid e alguns alunos quintanistas. Quando voltou o olhar para Snape, os dois encontravam-se sozinhos na mesa. Ele estava sentado com um dos braços apoiados na cadeira ao lado e o outro apoiado com o cotovelo na mesa. Os olhos dele brilhavam intensamente, mas eram tão escuros que pareciam sugar tudo a sua volta. Abonize alisou os cabelos e olhou para a toalha da mesa.

– Se não gostas de ser tratado desta maneira por que o fazes com as outras pessoas?
– Eu não invento mentiras para humilhar ninguém! Elas se humilham sozinhas... eu só exalto seus defeitos para que aprendam com eles.

Era verdade. Ela inventara uma mentira para humilhar Snape apenas porque não conseguia atingi-lo de outra forma.

– Desculpe-me - disse ela, que ao levantar, derrubou a cadeira. E saiu às pressas, seguindo pelo portal principal. Snape olhou para os lados certificando-se que ninguém estivesse olhando e levantou seguindo o mesmo caminho de Abonize. Encontrou-a no jardim, sentada em um dos bancos chorando. Ele se aproximou.
– Não pensei que se importasse tanto - disse ele apoiando um dos braços no banco. - Foi chato passar por aquilo, mas está tudo bem. Se tornou um motivo para me vingar de certos alunos engraçadinhos!

Ela o encarou secando as lágrimas. A lua iluminava o rosto dos dois e seus olhos se encontraram.

– Não estás bravo?
– Não e muito menos Pomfrey! Somos amigos há tempos, nos conhecemos muito bem e definitivamente... eu não sou o tipo dela.

Abonize teve que rir.

– E eu pensei que tu apenas sabias berrar!

Naquele momento Harry, Rony e Hagrid apareceram.

– Tudo bem Aby? - perguntou Harry.
– Humfr! Veja só, a cavalaria chegou! O que você quer, Potter?
– Queria saber se Aby está bem? - respondeu o garoto a Snape.
– Estou, Harry, obrigada! Voltem para a festa!
– Não sem você! - disse Harry olhando bravo para Snape.

Snape cerrou os olhos e rangeu os dentes. Abonize sorriu e disse que iria voltar para a festa também. Levantou e passou sua mão pelo braço de Snape como agradecimento. O professor de Poções não conseguiu emitir um som sequer, apenas balançou a cabeça afirmativamente e conduziu Abonize até o salão.

– Tens certeza de que queres fazer isto? - perguntou Abonize a Snape, que estavam parados no meio do salão. - As pessoas estão olhando!
– Tenho - disse ele pigarreando e olhando para baixo. Com uma das mãos pegou a mão de Abonize e com a outra encostou de leve a cintura dela.

Abonize sorriu ao vê-lo ser tão decidido, colocou sua mão livre no peito dele e então começaram a dançar.

– Ainda continuam olhando? - perguntou Snape depois de alguns minutos, com os olhos em Abonize.
– Sim - disse ela soltando um largo sorriso e vendo-o corar. - Tu nunca danças?
– Danço, mas sempre com as colegas de trabalho.

Os dois sorriram e continuaram dançando até Dumbledore pedir a Snape que desse uma parada para que ele pudesse dançar com Abonize as últimas músicas.

– Pois bem, Aby, parece-me que você e Severo conseguiram se acertar!
– Espero que sim! - respondeu ela olhando com o rabo dos olhos para Snape. - É bem verdade que foi ele quem me fez ver o quão errada estava.
– Severo pode surpreender - disse Dumbledore.

Antes mesmo de terminar a última música, Abonize despediu-se de Dumbledore e dos conselheiros, de Hagrid e saiu em direção à escadaria de mármore.

– Aby!! - gritou Harry da saída do castelo. Abonize acenou e foi até ele.
– Desculpe, quase esqueci o passeio - disse ela sorrindo.
– Vamos andar? - disse Harry nervoso, pigarreando algumas vezes antes de falar. - Bem, eu queria... queria...
– Harry - Abonize pegou no braço dele e o fez sentar ao seu lado em um banco -, tu não achas muito cedo? Tens mais dois anos de estudo ainda... não quero que os perca por minha causa!
– E... e... não vou! - disse ele empolgado. - Não consigo tirar você da minha cabeça e nem por isso deixei meus estudos para trás!
– O que sentes é apenas uma paixão platônica... romances adolescentes tendem a ser assim.
– Você acha que não sei o que é amor? Só porque não tive pais? Só porque ninguém me amou?
– Harry, querido, não é isso! Acredito que sejas muito novo... ainda não é hora. O futuro te trará grandes surpresas!
– Mas eu quero viver o presente! Quero estar com você!

Abonize colocou as mãos sobre o rosto. Não queria discutir aquilo. Sabia que ela e Harry teriam um destino no futuro, mas não queria contar a ele, no entanto, estava fazendo com que sofresse negando-lhe seu amor.

– O que irão dizer teus amigos? O que irá dizer Dumbledore?

Harry ficou calado olhando ao seu redor. Abonize acariciou os cabelos dele. Ele não se parecia nada com um garoto, era um homem tentando emergir.

– Não quero que fiques magoado comigo, Harry. Mas tens que entender minha posição! Uma mulher com dez anos a mais... mesmo sendo sobrinha de Dumbledore... muitos pais ficariam indignados com essa situação.
– E o que eu vou fazer? Quero ficar com você!
– Harry, sei que é difícil entender, é difícil crescer!
– Posso te pedir uma coisa?
– Vou ter que responder não, você sabe! - ela sentiu um aperto no peito ao vê-lo baixar a cabeça e ficar de pé. - Não me peças isto, não é moral para mim! - concluiu Abonize.

Harry acenou e se afastou enquanto era seguido pelo olhar deprimido de Abonize. Não havia nada que ela pudesse fazer, seu coração doía, ela se sentia mal, mas não poderia ficar com Harry. Ela sentia por ele um grande amor, algo que jamais se perderia no tempo.

Na manhã seguinte Abonize se levantou muito mais tarde do que de costume, continuava sentindo-se desconfortável e insegura sobre o que conversara com Harry na noite passada. Abriu a janela de seu quarto e viu muitos alunos pelos jardins. Alguns estavam andando e conversando, outros brincando e uns poucos estudando. Abonize debruçou-se na janela e ficou admirando a vista. Perdeu-se em seus pensamentos por tanto tempo que quando voltou a si observou que não havia mais ninguém nos jardins, deveria ser hora do almoço. Mas ela não sentia fome. Saiu de seu quarto e desceu as escadas que levavam às masmorras. Andou por corredores largos e estreitos, chegando a uma ante-sala de pedras que se dividia em sete pequenas portas. Cada porta levava a uma câmara escura, elas tinham grades grossas e um pouco enferrujadas, havia archotes ali, mas Abonize não quis acendê-los, sentou-se em um dos degraus e apoiou a cabeça nos joelhos. Ficou durante horas, sentada e divagando, para ela o tempo parecia não passar.

– Um pouco solitário, aqui, não acha? - Abonize se sobressaltou, era Dumbledore. - Oh, desculpe, não quis assustar. O que faz aqui?
– Estou pensando.
– Um lugar como esse não é nada inspirador...
– Não, estou remoendo algumas memórias.
– Ah, sim! Relembrar o passado é bom, mas não por muito tempo. É preciso pensar no presente, nas coisas que conquistamos no dia-a-dia!
– Dumbledore...
– Eu sei, se quiser conversar vamos ao salão principal, o jantar será servido daqui a alguns minutos.
– Não, não quero ir lá!
– Você precisa se alimentar, precisa se socializar... sabe o que aconteceu da última vez em que não fez isso.
– Dumbledore, Harry me pediu uma coisa... eu lhe neguei, não poderia dizer sim... Cortou-me o coração quando ele saiu cabisbaixo...
– Ele está apaixonado, isto é óbvio, e amores deste tipo são os mais verdadeiros. Contudo, você fez o que achou ser certo, mesmo que para ele não pareça!
– Não quero perder aquela amizade.
– Ele não a vê mais como uma amiga, Aby, ele a vê como uma mulher! - Dumbledore levantou. - Sim, ele é um adolescente, mas também é um homem! - Abonize ficou de pé e virou de costas para Dumbledore.
– Parece-me muito imoral que eu esteja com ele...
– Você foi criada quando esse tipo de coisa não era normal. Hoje...
– Eu sei, mas pelo que aprendi no mundo dos bruxos, apesar de terem a mente aberta, muitos ficariam horrorizados com algo do tipo!
– Certamente - disse ele coçando o queixo. - Mas estaria disposta a ficar com ele? - Aquela pergunta pegou Abonize de surpresa. Dumbledore sorria de forma agradável, como se concordasse com isso. Ela olhava para os lados, mas a resposta não vinha aos seus lábios. - Ficaria se não houvesse outra pessoa, não é? - continuou ele. - Vamos ao salão que alguém mais quer vê-la.

Abonize ladeou Dumbledore até o salão. Sentou-se entre ele e Minerva e não levantou um olho sequer durante o jantar.

– O que tanto conversou com Potter na noite passado? - perguntou Snape descendo mais rápido os degraus da escadaria de mármore para alcançar Abonize, depois do jantar. - Ele não saiu nada contente! - continuou Snape com um sorriso malicioso nos lábios.
– Não estávamos conspirando contra ti! - disse ela séria. Snape sentiu a alfinetada.
– Tudo bem! - disse ele levantando os braços. - Só achei estranho, toda vez que vejo vocês juntos estão rindo à toa.
– Não há nada de estranho em... ora, tu és tão... pérfido! - ela ofegava enquanto falava. - Deixe-nos em paz!
– Eu? - ele olhou-a de cima a baixo e saiu batendo os pés. Abonize voltou ao seu quarto e jogou-se na cama.

O dia seguinte foi solitário para Abonize, ela não comeu quase nada e ficou vagando pelos jardins, cuidando dos animais junto a Hagrid, que não conseguia arrancar dela uma palavra sequer sobre o que a atormentava. No dia seguinte, uma quinta-feira chuvosa, os alunos acabavam de se dispersar pelos corredores do castelo após as aulas, quando Abonize entrou na sala de Poções. Snape ficou de pé.

– Não digas nada, Severo, deixe-me falar. Eu te tratei muito mal ontem, não sou assim, este não é o meu jeito de resolver as coisas, mas estive tão perdida! Não, não perdida, estive esmorecida. Não consigo controlar, é algo dentro de mim - disse ela batendo forte no peito -, que... vai e vem fazendo-me oscilar! - ela olhava para ele. - Eu amei verdadeiramente uma pessoa certa vez. Não que não amei outras, mas Troy...

Snape sentiu uma coisa estranha. Quem era Troy? O que ele significaria para Abonize?

– ...Troy foi a pessoa que mais amei em minha vida! Ele cuidou de mim, me fez feliz e mesmo doente transparecia em prosperidade.
– Vocês eram... casados?

Aquela pergunta foi curiosa. Abonize riu.

– Não. Bem longe disso. Eu era uma criança... uma menina brotando para a maturidade. Troy foi meu tutor, meu mentor, foi um pai e um irmão! Quando penso nele, sinto meu coração apertar. E não deveria! Passei momentos muito felizes com ele, porém, não consigo agüentar pronunciar seu nome, uma tristeza me invade...
– Talvez porque ele tenha partido cedo demais.
– Talvez, só que talvez... eu o tenha segurado demais! - ela paralisou no lugar. - No dia do baile tive uma conversa com Harry e ela trouxe à tona esse sentimento.
– Potter!
– Não, Severo, não é culpa do garoto, eu deveria ter ficado na Torre Média até precisarem de mim - ela baixou a cabeça e andou até a porta.

Abonize acariciou o rosto de Snape, ele se espantou. Ela já não sentia mais aquele poder ameaçador emanar dele como sentira quando se conheceram.


Continua...

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