Redenção



– Minha amada! - chamou Voldemort e um dos comensais andou na direção dele, parando a sua frente e deixando cair a capa que o envolvia. - Mostre-me, querida Abonize, o que ele sabe!

Ela virou de costas para Voldemort e caminhou até Dumbledore, ajoelhado a alguns metros dali. Parou e estendeu a mão sobre a cabeça daquele homem de profundos olhos azuis.

– NÃO, ABONIZE! - gritou um dos comensais.

Voldemort olhou em volta. Os comensais se agitaram, mas ninguém conseguiu distinguir quem falara.

– MOSTRE-ME! - ordenou Voldemort.

Abonize acariciou o rosto de Dumbledore com o dorso da mão, secou uma lágrima e voltou a pôr sua mão sobre a cabeça dele. Um solavanco a empurrou para trás e seu rosto detinha uma expressão de assombro.

– E então? Diga-me!

Ela não conseguia falar, estava em choque contra tudo aquilo que aprendera a vida toda. Troy estaria horrorizado se a visse agora! Havia destruído a vida de pessoas que amava e nem se importado com isso!

– Dumbledore, sou eu? - disse chorando.
– CRUCCIO! - gritou Voldemort apontando a varinha para Abonize.
– IMPEDIMENTA! - gritou um comensal ao mesmo tempo.

Os feitiços se chocaram e do estrondo faíscas voaram para todos os lados.

– Como se eu não desconfiasse! - disse Voldemort. - DIFFINDO!

As roupas do comensal foram rasgadas, e de pé diante de Voldemort estava Severo Snape. Voldemort soltou uma gargalhada e depois um dos comensais atrás de Snape gritou:

– ESTUPEFAÇA!

No segundo seguinte Snape estava sendo amarrado, arrastado e colocado de joelhos ao lado de Dumbledore.

– Diga-me o que viu, menina!

Abonize olhou para Voldemort e com um gesto tentou jogá-lo para trás.

– Você não está mais tão forte! Seu poder está em mim! - ele parou em frente à Dumbledore e riu. - Ele a enganou, não foi? Mostrou-lhe uma imagem futurista de você! Parecia algo assim? - disse Voldemort erguendo os braços e atirando sua capa para longe.

Raios o envolveram, eram verdes. Abonize pôde ver bolinhas vermelhas por entre os raios, que brilhavam com intensidade. Assim que tudo cessou, ela entrou em pânico, toda a beleza daquele homem sumira, ele estava agora magérrimo e amarelo, as bolinhas vermelhas que Abonize havia visto eram os olhos dele.

– CRUCCIO!

Abonize sentiu uma dor agonizante, caiu de cara no chão e contorceu-se.

– IMPERIO! - gritou novamente Voldemort - Me diga o que viu!

Ela sussurrou:

– Snape é comensal... ele espionará... ninguém pode deter Voldemort... somente Abonize... e Dumbledore... matem todos... mas no castelo... muito poder... muitos estão lá... só com amor, união... esperança... uniremos forças...

Voldemort soltou uma longa gargalhada.

– Somente estarão seguros enquanto Dumbledore viver! Será que ainda não entenderam? Idiotas! CRUCCIO!

Abonize voltou a contorcer-se. Dumbledore ergueu sua mão e tocou o rosto dela.
– De-desculpe, Dumbledore...
– Não, não! Eu lhe devo desculpas por não lhe dar uma segunda chance. Seu coração é maior do que qualquer outro... Você estava cega achando que Severo não a queria enquanto ele apenas tentava protegê-la... Não foi correto fugir...
– Sirius estava certo! - afirmou Dumbledore.

Ela olhou em volta e viu dezenas de pessoas caídas, desacordadas, enfeitiçadas. Olhou então para Snape, ajoelhado ao seu lado.

– Severo, o fim está próximo, não tenho mais como lutar... Perdoe-me! Perdoe-me por fazê-los lutar em vão!
– Em parte foi minha culpa, eu não lhe contei a verdade! - sussurrou Snape.
– Que comovente! - riu-se Voldemort.

Naquele momento Harry, Rony e Hermione surgiram do nada. Estavam usando um portal. Os três garotos apontaram suas varinhas para Voldemort e os gritaram um feitiço ao mesmo tempo, fazendo com que Voldemort voasse longe. Ele se levantou pouco depois, um pouco tonto, mas furioso.

– O que farão? ACCIO VARINHAS! - gritou Voldemort e as varinhas dos três voaram até ele.
– Harry! - sussurrou Dumbledore.
– Quanto heroísmo! Vieram salvar o dia? - gargalhou Voldemort.
– NÃO! - gritou Abonize jogando-se na frente dos garotos ao mesmo tempo em que Voldemort lançava o feitiço Crucciatus.

Abonize mais uma vez caiu agonizando no chão, Harry e seus amigos abaixaram-se ao redor dela.

– Agora, quietos! O primeiro a ter seu fim será meu fiel comensal, Severo Snape. Eu até lhe daria o direito de duelar, mas você se mostrou tão inútil... - CRUCCIO! - disse Voldemort com a varinha apontada a Dumbledore. - Não me olhe com essa cara, velhote! Severo, você seria perfeito! Tanto na aparência quanto no poder, mas lecionar em Hogwarts e azucrinar a vida de crianças atacando-os como um morcegão se tornou seu maior prazer, não é?

Os olhos de Snape brilhavam intensamente.

– E agindo assim, ainda sou mil vezes melhor do que você! - gritou Snape.

Voldemort abriu um largo sorriso. Abonize estremeceu e gritou.

– Não, Voldemort! - alertou Dumbledore.
- AVADA KEDAVRA!

Aquelas palavras ecoaram na escuridão enquanto o corpo de Snape se debatia no chão, mas não fez isso por muito tempo, de repente o corpo dele se acalmou, os olhos permaneceram abertos, porém, opacos e fundos. Naquele momento Harry ouviu o grito mais alto e agudo de toda sua vida! Abonize atirou-se de joelhos em frente à Voldemort, tocou o corpo de Snape e bateu contra o peito dele.

– EXPELLIARMUS! - disse Voldemort e Abonize foi atirada a quase sete metros de distância, atrás de Harry, batendo em pedras, aplacando-se próximo a altas árvores. - E agora... o prato principal.

Voldemort fez um sinal com sua varinha e as cordas que envolviam Dumbledore romperam-se caindo de lado. A varinha do diretor voltou-lhe à mão e este levantou andando até o centro do círculo feito por comensais e dementadores famintos.

– A qualquer tempo atrás eu temeria este momento, Dumbledore, pois só você esteve à altura de me vencer... mas hoje, hoje você não passa de um pobre e tolo velho que trouxe para mim a pessoa que me tornou o que sou! Obrigado, Abonize, pela sua vida!

Dumbledore sorriu e apontou para longe, perto das árvores e disse:

– Mas ainda lhe falta o último beijo!

Todos se voltaram para lá. Em torno de Abonize havia unicórnios, muitos deles adultos, e tão grandes como jamais foram vistos. Eles a tocaram com os chifres e prateados feixes de luz entraram como raios no corpo dela. Assim que os feixes cessaram, ela se levantou. As vestes e os cabelos, antes ensangüentados, tornaram-se limpos, esvoaçantes e intensamente iluminados. Flutuando a centímetros do chão, ela foi até Voldemort. Um som baixinho saiu da boca de Abonize e foi se tornando alto, tão exageradamente alto que todos tiveram que cobrir os ouvidos. Ela soltou uma larga e assustadora gargalhada. Mais assustadora do que qualquer gargalhada que Voldemort já dera. Então, abriu os braços rapidamente e no mesmo instante todos os mantos e capuzes dos comensais voaram pelos ares, deixando os presentes se vendo claramente. Com um espalmar de mão ela fechou a boca de Voldemort.

– Já causaste mal em demasiado! - disse ela com uma voz suave, mas distorcida. - Venham! - e então todas as varinhas do lugar juntaram-se em um bolo em frente à Abonize, apontavam para baixo. Ela bateu o pé contra o chão e as varinhas afundaram na terra.
– PEGUEM-NA! - gritou Voldemort aos dementadores e estes deslizaram até Abonize.
– Estas criaturas não podem contra mim! Sou filha de Altos Elfos e do Senhor das Terras Encantadas! Todas as coisas viventes devem obediência a mim! - a voz dela continuava distorcida e agora tinha fúria. - Eu então lhes digo: Voltem de onde vieram e respeitem àqueles que são justos, pois eles saciarão seus desejos de morte esta noite! VÃO! - e a voz dela ecoou enquanto os dementadores foram sumindo na escuridão.

Harry, Rony e Hermione estavam atônicos.

– Agora, vós! - disse Abonize girando a mão e os comensais todos formaram uma fila. Voldemort ficou adiante deles. Em seguida, Abonize olhou além dos comensais, com um sorriso e com a voz suave disse: - Levantem-se, bravas pessoas! Levantem-se e juntem-se a mim!

E os bruxos do bem que haviam combatido Voldemort se levantaram e se abraçaram mutuamente. Rony correu para abraçar seu pai e seus irmãos.

– Dumbledore, levanta-te, nenhum mal o aflige mais!

O diretor levantou e todos os ferimentos sumiram de seu corpo.

– Venham - disse Abonize e as varinhas de todos os que combateram Voldemort voltaram a seus donos.

Dumbledore olhou para Abonize e caminhou até Snape.

– Está morto - disse Dumbledore com a mão no peito de Snape. - Mais um lugar vago em meu coração.

Abonize olhou para Dumbledore e ajoelhou-se ao lado dele para tocar o rosto de Snape.

– Há somente uma coisa a fazer: ou perco todos meus poderes destruindo Voldemort... ou os perco devolvendo a este homem sua vida!
– Você pode fazer isso? - perguntou Harry com a mão no ombro dela.
– Estarei desistindo de minha vida imortal... mas é um preço justo a pagar por destruir a vida de todos vocês!

Um súbito silêncio invadiu aquele campo. Uma leve brisa movia os capins e os cabelos das pessoas. Harry postou-se à frente da multidão de bruxos e um murmúrio rápido correu entre ela.

– AVADA KEDAVRA! - a multidão gritou em coro apontando suas varinhas a Voldemort. Este teve seu corpo jogado metros no ar, e entre espasmos e gemidos, desintegrou-se lançando pedacinhos faiscantes pelo céu. Dumbledore olhava sem acreditar para o que havia acontecido. Harry voltou-se a Abonize e perguntou-lhe mais uma vez:

– Tem certeza que quer trocar sua imortalidade para salvar a vida dele? - e apontou o dedo trêmulo para Snape.
– Cada pessoa torna-se o que é a partir das experiências que viveu, Harry. Tu não tiveste o amor de teus pais, tiveste tios que o maltrataram, mas depois, Hogwarts te acolheu... somando isto ao caráter de teus pais, tu te tornaste uma pessoa maravilhosa! - então Abonize olhou para Snape e o tocou no peito, ainda estava quente. - Severo por outro lado, foi rejeitado, humilhado e maltratado desde o dia em que nasceu! Teve um pai ausente que o culpara pela morte da mãe se esquecendo que ele, Severo, era a prova viva do amor dos dois! Em Hogwarts foi a mesma história, somando-se ainda que todos os colegas eram de família más e se tornaram comensais! Ele pode ser uma pessoa fechada, amarga, odiada, mas por dentro é muito bondoso. Ele merece viver e receber o que a vida tem a lhe dar.

Ela se abaixou e beijou Snape demoradamente. Assim que se afastou um espectro saiu da boca de Abonize e entrou pelas narinas de Snape. Ela caiu desmaiada. Harry a socorreu. Então o corpo de Snape começou a se debater e um vento forte o levantou a um metro e meio do chão, e voltou a pousá-lo no chão quando este começou a tossir. Snape sentou-se e tossiu mais forte. Quando finalmente parou, ajeitou os cabelos desarrumados e só então se deu conta de que estava vivo. Olhou para a multidão boquiaberta e mirrou Abonize ao seu lado deitada. Num salto ficou de pé e olhou para os comensais ajoelhados e imóveis.

– Severo, Voldemort já não está mais neste mundo! - disse Dumbledore.

Snape tirou rapidamente o casaco e rasgou a manga de sua camisa... a Marca Negra desaparecera de seu braço.

– Vamos, meus amigos, voltemos ao castelo - disse Dumbledore andando lentamente.


Continua...

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