Como Óleo em Água



A semana que se seguiu foi conturbada. Abonize não conseguia seguir o conselho de Dumbledore: tratar Snape com bondade, pois ele era simplesmente um carrasco. Protegia os alunos da Sonserina, casa onde era diretor e atormentava todos os outros, em especial os da Grifinória, mais especificamente Harry Potter. Ela não conseguia descobrir o porquê de tanto ódio e ninguém parecia saber também. Abonize pegou Snape algumas vezes atormentando alunos, berrando com eles. Ela ralhava com Snape ao invés de fazê-lo entender que a forma como agia com os alunos era errada, mas só conseguia fazê-lo irritar-se mais e mais. Era uma agonia para Abonize saber que num lugar tão maravilhoso havia pessoas tão desprezíveis.

Aquela sexta-feira foi o pior dia que Abonize teve desde que chegara à Hogwarts. Os alunos foram dispensados mais cedo da aula de Adivinhação e vinham fazendo certa algazarra nos corredores. Snape parou diante deles com os braços na cintura e descontou cinco pontos de cada aluno, exceto dos de Sonserina. Abonize estava numa sala daquele corredor lendo, sem se importar com o barulho de felicidade dos garotos, mas quando ouviu Snape berrando apareceu à porta com seus lindos olhos vermelhos em brasa.

– A única pessoa que está incomodando neste corredor és tu, Severo! - lançou Abonize. - Qual é teu prazer em acabar com a alegria de um dia de folga?
– Isto é uma escola, não um circo! O silêncio é primordial! - ele a fulminava com os olhos.
– Diga-me, o que ganhas com isto? Somente consegues que te odeiem mais!
– Não estou aqui para ser amado e sim para lecionar! Algumas poções podem parecer fáceis, mas se forem acrescentados ingredientes diferentes ou medidas inexatas os alunos podem correr risco de vida!
– Não quero ensinar-te tua profissão. Desejo apenas que a executes mostrando mais carinho por teus alunos!

Ele soltou uma gargalhada. Alguns alunos boquiabertos tamparam suas bocas com a mão, outros correram para trás de pilares e estátuas.

– Viste? Rir já é um bom começo! - brincou ela.

Os olhos de Snape reviraram e seus dentes à mostra rangiam. Um pânico geral correu entre os alunos. Snape andou tão forte até Abonize que o piso tremeu. Até Pirraça, o poltergeist que habitava o castelo, saiu uivando de medo.

– Quem pensa que é? - berrou Snape agarrando o braço de Abonize e puxando-a para dentro da sala. - Não se atreva a entrar em meu caminho, garota, Dumbledore nunca fez isso e não é uma fedelha quem irá fazer!
– Fedelha, eu? - e encarou-o a centímetros nos olhos. - Com minha idade poderia ser mais do que sua tataravó!

Ele balançou a cabeça, não entendeu a piada que ela tentou fazer, mas continuou:

– Vou lhe avisando: não serei tolerante daqui para frente!
– Eu poderia... poderia... - disse ela espremendo as mãos, e ao mesmo tempo Snape sentiu uma pressão no pescoço como se houvesse alguém tentando afogá-lo.
– AGORA CHEGA! OS DOIS! - gritou Dumbledore.

Abonize pareceu acordar de um pesadelo. Ela levou as mãos ao rosto e correu para a janela chorando.

– Circulando, circulando! - disse Dumbledore para os alunos e logo voltou o olhar para o professor. - Estou admirado com você, Severo. Pensei que teria mais mesura ao lidar com uma moça.
– Dadas às circunstâncias nem o senhor teria.
– Severo - advertiu Dumbledore.
– Hipócrita metida - murmurou Snape saindo da sala.

Dumbledore baixou os olhos.

– Aby, mas o que foi que aconteceu?
– Desculpe, Dumbledore, não pude me conter! Não sei o que há comigo! Ele é tão irônico, é azedo, sagaz... Entrei diretamente em seu jogo! - ela apertou as mãos contra o peito.
– Venha, vamos ver madame Pomfrey.
– Não, não há necessidade, vai passar, só preciso me acalmar - disse sentando. - Poderias deixar-me só?

Dumbledore assentiu com a cabeça e saiu. Abonize deitou no sofá e chorou. Mas calou-se quando ouviu alguém abrir a porta.

– Aby? P-posso entrar?
– Podes, Harry.

Ele sentou-se no chão ao lado do sofá.

– Sei o que você está sentindo... ele tem esse poder de nos deixar com raiva! Mas depois passa, ele não é importante!

Harry acariciava os cabelos de Abonize com a ponta dos dedos. Ela virou o rosto molhado para ele.

– Como é que alguém pode sentir prazer em fazer as pessoas sofrerem de tal forma?
– Pessoas normais esquecem essa dor, Aby! A gente toca o barco e tenta ignorar que Snape existe até encontrarmos ele outra vez.

Abonize tinha a cara séria.

– Ele não merece isso, Aby, não fique assim por ele! - disse Harry secando as lágrimas dela.
– Harry, querido, serás um rapaz muito disputado pelas garotas.

Ele ficou vermelho. Abonize o beijou suavemente nos lábios.

– Teus doces lábios farão muito sucesso!
– Quem me dera - disse ele olhando para baixo, brincado com o cadarço do tênis -, acho que essas garotas são as dos meus sonhos!
– Ora, não te menospreze! O que achas que as garotas cochicham quando tu passas por elas nos corredores? - Abonize o fizera sorrir.



No sábado, os alunos do terceiro ano em diante que tinham autorização dos pais foram se divertir em Hogsmeade, um povoado bruxo a alguns quilômetros de Hogwarts. Abonize não se sentia bem para ir, na verdade estava muito envergonhada por ter caído na lábia de Snape e ter baixado o nível na frente das crianças. Ela sentou-se numa das sacadas do castelo e, enquanto via os alunos seguirem para Hogsmeade, sentia a suave brisa da manhã percorrer em sua pele. Mais adiante estava Hagrid, varrendo as folhas marrom-amareladas caídas no gramado e colocando-as no canteiro de abóbora. O outono era a sua segunda estação preferida - a primeira era a primavera - o clima era mais ameno e a brisa bem mais fresca, as árvores pareciam morrer... este era o encanto, pois perdiam todas as suas folhas para depois florescerem majestosas na primavera. Perto do lago, um homem solitário cutucava a água com um pedaço de pau. Era Snape. Parecia triste ou entediado por não ter nada para fazer. Então, ele olhou para a sacada onde estava Abonize, ela disfarçou olhando para o outro lado e lentamente recostou-se na cadeira. Agora, toda vez que era observada por Snape, ela sentia pontadas fustigando-lhe o peito. Talvez fosse a forma de olhar, ou talvez a raiva que ele sentia transparecia a Abonize na forma de dor.

– Aby, você não vem almoçar? - perguntou Minerva.
– Sim, claro, obrigada por me chamar, estava olhando a paisagem!
– Somos apenas seis almoçando no castelo. Os outros estão em Hogsmeade!

Quando Abonize chegou ao salão principal, Dumbledore e os professores estavam sentados numa mesa no meio do salão. Minerva sentou-se entre Dumbledore e Snape. Abonize sentou-se ao lado de Madame Pomfrey e Sprout, ficando frente a frente com Snape. Ele não olhou para ela, mas Abonize pôde sentir seu peito doer. Colocou os cotovelos sobre a mesa e esfregou a cabeça com as mãos.

– Tudo bem, Aby? - perguntou Dumbledore. Ela balançou a cabeça afirmativamente e olhou para seu prato. Salada, purê de batatas e frango.
– Estive pensando em Voldemort - disse Dumbledore -, as crianças terão de saber que ele está mais forte. Precisamos alertar os pais delas também, todos têm o direito de saber!
– Irão ficar assustados - disse Minerva.
– Sem dizer no que sairia no Profeta Diário - continuou Snape. - O Ministério da Magia iria cair sobre nós!
– Sim, Severo, mas acho que a segurança vem em primeiro lugar. O ministro sabe disso, mas tem medo de ser repreendido pelas pessoas.
– Tem medo de ser repreendido por certas famílias! - ironizou Snape.

Abonize estava comendo lentamente sem levantar os olhos do prato.

– Este homem, do qual ninguém se atreva a falar o nome, onde ele está? - perguntou Abonize fazendo todos pararem de comer.
– Hum, bem... poucos sabem - disse Dumbledore olhando para Snape -, e estes não falam, obedecem piamente a seu mestre!

Abonize olhou para Snape que a encarou, mas ele logo baixou os olhos.

– O que ganham estes servos obedecendo a um ser tão vil?

Ninguém respondeu e fez-se um súbito silêncio. Snape levantou a cabeça e todos olhavam para ele, inclusive Abonize. Aguardavam uma resposta. Snape a olhou com o rabo dos olhos e disse:

– Voldemort realiza vontades. Se quiser dinheiro este o ganha; se quiser poder este o consegue. Mas vai depender do quanto essa pessoa ou a alma dela valer.
– Como ele define o valor de cada pessoa? - quis saber Abonize.
– Analisando sua vida passada - disse Snape a encarando -, o poder de sua família, o poder que há na pessoa!
– Então se eu chegar a Voldemort e disser: “Senhor, meu caminho está obstruído e me dou a ti se o limpares!”, ele me ajudará!
– Se você valer a pena, provavelmente sim - respondeu Snape.

Um silêncio abateu a mesa. Enquanto Snape e Abonize trocavam olhares.

– Muito bem! - disse Dumbledore em alto tom -, o que há de sobremesa? - e enormes tigelas de pudim de todos os sabores apareceram.



À tarde, Harry encontrou-se com Abonize na cabana de Hagrid. Rony e Hermione chegaram depois.

– Você tem que vir com a gente na próxima vez, Aby. A cerveja amanteigada do Três Vassouras é a coisa mais gostosa que existe para beber! - disse Hermione empolgada.
– Sim, na próxima vez... vou para meu quarto agora.
– Acompanho você - disse Harry se levantando.
– Nós também! - disse Hermione. - Tenho que rever alguns feitiços para amanhã!

Despediram-se de Hagrid e saíram. Rony e Hermione se separaram de Harry na estrada de Grifinória. Abonize e Harry andaram calados até o quarto dela.

– Boa-noite, Harry, obrigada pela companhia!
– Que é isso! - disse ele sem graça e saiu andando.
– O que quer me perguntar? - Harry voltou-se para Abonize com os olhos arregalados.
– Estive conversando com Hagrid... Na verdade eu bisbilhotei os livros que ele leu na biblioteca...

Abonize olhou para os lados e pediu para Harry entrar. Sentaram-se beirada da cama.

– Os livros falavam sobre elfos e ele os levava para você lá na torre Média! Fiquei algum tempo tentando me lembrar de onde a conhecia, e foi na floresta! No dia em que eu, Rony e Mione fomos ver o que estava acontecendo!
– Sim, o dia em que cheguei a Hogwarts.
– Você é um elfo?

Aquela pergunta pareceria surreal se feita no mundo dos trouxas, mas ali naquele castelo tudo parecia tão normal.

– Hagrid falou que você é a última... deve ser por isso que há tanta tristeza em você!
– Meu caro, Harry, tens um cérebro muito ativo e tuas pernas o acompanham muito bem! Sim, sou um... elfo... não consigo me acostumar com isso, mas conheço meus poderes e o que eles podem fazer.
– Nossa!
– Agora vá dormir! Se Severo o vir perambulando por aí te atormentará ainda mais! E não estou com vontade de ter com ele! - ela ficou observando Harry correr até a entrada da sala comunal. Ele contou aos amigos a novidade. Eles juraram guardar segredo.



– COMO É QUE CONSEGUE, SENHOR LONGBOTTOM? VÁ PARA A ENFERMARIA! EU DEVERIA DESCONTAR CEM PONTOS DE GRIFINÓRIA AO INVÉS DOS DEZ! - era Snape alterado.

Neville saiu chorando pelo corredor, com as mãos ensangüentadas. Não demorou cinco minutos e a campainha que avisava o término das aulas soou. Abonize estava passando pelo corredor quando Neville passou correndo e no instante que Snape saiu da classe deu de cara com ela.

– Veio bisbilhotar novamente? - perguntou ele ironizando.
– Vim pedir-te se prepararias um ungüento para mim!
– Hum? Ah, sim... - disse Snape erguendo uma sobrancelha.
– Tenho um pouco aqui comigo, mas não sei de que é feito. Dumbledore disse-me que tu poderias descobrir os ingredientes para se chegar a ele.

Aquele cheiro era muito gostoso. Então era dela que vinha aquele aroma suave, levemente adocicado e floral. Toda vez que entrava no salão principal Snape o sentia. E quando passava por Potter... também.

– Esta fragrância é a única que não me enjoa, sou muito fraca para os perfumes dos trouxas. Fazem-me ficar zonza!
– Os trouxas tendem a exagerar! Deixe o frasco aqui! Avisarei quando estiver pronto!
– Agradeço - disse ela soltando um pequeno sorriso e indo da embora.

“O que foi aquilo? Um pedido de paz? Será que ela aprendeu a lição? Ou ela tentaria alguma outra artimanha?” pensou Snape. Fechou a porta da sala e voltou a suas poções.



No sábado seguinte começava a disputa de quadribol entre as casas. Todos se aglomeravam no estádio para ver Sonserina jogar contra Corvinal. Abonize ficou para trás, estava esperando Madame Pomfrey.

– Com licença - disse Snape entrando na enfermaria. - Trouxe seu ungüento!
– Obrigada! - disse ela sorrindo.
– Que rápido, não Severo! - ironizou Madame Pomfrey. - Da última vez demorou quase um mês!!!
– Ah... é.. bem... tenho que ir, o jogo já vai começar!

E saiu da enfermaria. Abonize e Pomfrey saíram depois. Já no estádio Pomfrey comentava com Minerva a rapidez com que o professor de poções havia feito o ungüento para Abonize.

– O quê? Dois dias? Em dois dias ele preparou um perfume para Aby? Ah, mas como é que pode se ele é tão ocupado assim!!! - disse Minerva em tom alto e Madame Pomfrey afirmou com a cabeça.
– Minerva, por favor - murmurou Dumbledore. - A boca pode ser um perigo às vezes.
– Humfr! - disse Minerva indignada.

Sonserina ganhou a partida por cento e vinte pontos a mais e a festa não poderia ter sido maior. Às duas horas da manhã ainda se ouviam barulhos nas masmorras.

E o domingo nasceu brilhando, como um prêmio para os alunos que se esticavam no jardim para lerem seus livros e fazerem suas tarefas. Abonize andava perto das árvores acariciando um lindo canário amarelo que pousara em seu braço. Ali adiante, Snape estava arrancando umas plantinhas minúsculas e colocando-as dentro de um balde.

– A algazarra foi grande esta madrugada, não, professor?
– Sim - disse Snape de costas para ela e continuando a arrancar as plantas. - Estavam empolgados!
– Quantos pontos perderam?
– Perderam? - disse ele ainda agachado virando-se para ela. - Ganharam o jogo!
– Sim, mas pela algazarra, quantos pontos perderam?
– Nenhum, estavam comemorando!
– Sim, mas estavam perturbando o silêncio “primordial” da escola...

Desta vez ela estava certa e ele não tinha argumentos para discutir. Acho que ela não se contentaria com “eu sou o diretor da casa e digo que não perderão pontos!” Abonize sorriu do silêncio dele.

– Que plantas são essas? - perguntou se abaixando perto dele.
– São as raízes das margaridas. Ingrediente especial para a próxima poção que irei ensinar: a Poção Redutora.
– Quanto poder em um ser tão pequeno! - murmurou ela sorrindo e então ajudou Snape a arrancá-las. Ele se sentiu um pouco desconfortável por ela estar ali, mas ao mesmo tempo tinha curiosidade de saber o porquê. - É muito difícil fazer uma poção?
– Bem, para você ter uma idéia, existem bruxos que até hoje não conseguem fazer uma simples mistura como a poção do sono!
– Depois de estudarem durante esse tempo em Hogwarts?
– Sim... claro! Mas poções são complicadas!
– A professora Minerva disse que tu nunca havias feito uma poção com tanta rapidez! Se for tão rápida, logicamente deve ser fácil.
– Ela disse? - Snape engoliu em seco. - Ah, McGonagal! - rosnou.
– Não te zangues com ela, Minerva só estava com ciúmes.
– QUÊÊ??
– Suponho eu! - disse Abonize rindo da cara de Snape, que se levantou e despedindo-se, voltou ao castelo.

À noite, no jantar, Dumbledore notou algo estava estranho.

– Aby, você sabe o que aconteceu com Severo?
– Eu, como poderia? Quem sabe Minerva ou Madame Pomfrey possam explicar.

Dumbledore sorriu e voltou-se a Pomfrey perguntando o que havia acontecido. Abonize tinha pregado uma peça e tanto no professor de Poções. Quando ela contou a Harry, eles riram tanto que os músculos de suas barrigas doeram no dia seguinte.


Continua...

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