Recuperando o Fôlego



Água e Vinho





Capítulo Cinco - Recuperando o Fôlego



Não me pergunte como, mas Potter acabou me levando pra fora do parque sem a minha orientação. Eu estava muito assustada pra guiar até a minha sombra, e ele tinha o rosto sério. Eu nunca tinha visto Potter daquele jeito. Na verdade, eu também nunca tinha me sentido como me senti naquela hora. Não era medo, era choque, eu acho. Potter poderia ter colocado uma quimera na minha frente aquela hora, e eu dificilmente teria esboçado alguma reação. Não conseguia aceitar que pudesse haver alguém morto pela Avada num parque trouxa tão perto da minha casa.



-Então.-disse ele, respirando fundo e olhando a rua.- Onde é afinal de contas a sua casa?



-Por... ali.-eu disse, apontando debilmente numa direção. Minha mão estava tremendo, e eu não consegui esconder isso rápido o suficiente para que ele não percebesse.



Recomeçamos a andar, e depois de alguns instantes, ele retomou o assunto:



-Evans, você está bem??



-Eu estou, só um pouco... Chocada.-falei, me esforçando pra me recuperar.-Mas Potter, você tem certeza que seus pais querem que você seja um Comensal?



-Não, meus pais nunca iam querer isso.-ele disse.- São meus tios. Eles são os mais ricos da família. Bastante influentes, amigos dos Malfoy. E percebe-se que estão procurando mais gente pra fazer parte desses idiotas que seguem o...



-Você-sabe-quem. -completei.-Vamos evitar o nome dele, ao menos por enquanto. Eu ainda não me recuperei totalmente do susto. Mas o que você acha mesmo que foi? Ele mesmo?



-Ah, acho que não. Pelo que andei ouvindo, ele não se daria ao trabalho de matar um trouxa aqui, sozinho. Ou ele traria os Comensais ou apenas mandaria um deles fazer o serviço.



-Escuta, seus pais não se preocupam que você suma desse jeito de casa?-perguntei, mas em seguida limpei a garganta; estava começando a falar com Potter como se ele fosse meu amigo.



-Não, hoje, não.- ele respondeu.- Sabem que é só porque os caras se convidaram pra ir jantar em casa.



Estávamos chegando na minha casa. Potter olhava as casas dos trouxas, parecendo levemente curioso. Quando finalmente chegamos, gelei todinha por dentro, vendo Petúnia à porta. Aquilo estava me cheirando à confusão.



Ela olhou Potter de cima a baixo, e em seguida pra mim, parecendo estar tão em choque quanto eu há poucos minutos. Eu quase podia ler os pensamentos dela. Para estar andando comigo, o garoto do meu lado deveria ser tão anormal quanto eu.



-Essa é sua irmã?-Potter perguntou, baixinho o suficiente para Petúnia não ouvir. Apenas assenti com a cabeça.



Petúnia me olhava.



-Quem... Quem é esse?



Uma vez que o assunto já era ele, Potter se sentiu mais relaxado. Estava acostumado a ter atenção. Estendeu a mão para minha irmã, se esforçando para ser otimista.



-Olá, meu nome é Tiago Potter.



Minha irmã apenas ficou olhando-o. Eu sabia o que estava acontecendo; estava chocada meramente por ele cogitar que ela pudesse tocar nele. Potter então desistiu e recolheu a mão.



-Ele é uma dessas aberrações com quem você anda??-disse ela, se virando pra mim.



Senti minhas orelhas ficarem vermelhas. Potter assistia a tudo sem saber como e quando reagir.



-É da sua conta, por acaso??-retorqui.- Tem mais alguém em casa?



-Como sabe...?



-Do que está falando?-perguntei, confusa.-Eu não sei de nada...



Petúnia bufou furiosamente e então saiu do batente da porta. Dali eu podia ver uma pessoa sentada numa poltrona extravagante de chintz. Meu queixo caiu quando reconheci quem era.



Alvo Dumbledore.



Tomada por um impulso, empurrei Petúnia para o lado e entrei. Potter veio correndo atrás de mim, finalmente mexendo algum músculo de novo.



-Professor Dumbledore!?-exclamei.



O diretor de Hogwarts me olhou pesarosamente, e depois notou Potter atrás de mim.



-Eu acredito -disse ele, muito devagar, me deixando ansiosa.- que deva esclarecimentos para você, Srta. Evans. E, já que também está aqui, o senhor também, Sr. Potter.



Não pude resistir a trocar um olhar de relance com Potter.



-O senhor... Já sabe o que vimos? O corpo do homem trouxa?-disse ele.



-Eu tinha vindo para cá justamente para alertar a sua família, Lílian, sobre algo que aconteceu esta tarde.



-Eu fui dar uma volta no parque e encontrei Potter lá, depois achamos o corpo... Foi a Avada Kedavra, não foi, professor?



-Aquele homem que viram era um trouxa de minha confiança, que sabia o segredo dos bruxos. Ele carregava o segredo de uma organização que tenho mantido para tentar conter as forças de Lord Voldemort...



Um arrepio passou pelo meu corpo todo. Até Potter deu uma ligeira tremida ao ouvir o nome.



-... a Ordem da Fênix.-completou Dumbledore, sem se alterar com nosso verdadeiro espasmo com o nome de Você-Sabe-Quem.- Usamos um feitiço nele, com sua permissão, para que ele não descobrisse a nossa existência. Mas hoje, descobri que temos um traidor na nossa organização. Ele revelou a identidade do nosso fiel a Voldemort -tremi todinha de novo- e foi assassinado hoje, depois de ser forçado a revelar a existência da Ordem da Fênix.



Potter já estava sentado no meu sofá, claro, sem pedir permissão. Mas naquela hora isso não teve a mínima importância.



-E por que o senhor nos contou tudo isso, professor?-perguntei.



-Porque houve um grande tumulto nessa mesma praça que você esteve hoje à tarde, Lílian. Uma batalha entre poucos membros da Ordem contra vários Comensais. Lord Voldemort estava entre eles, vindo pessoalmente para extrair o segredo de Scott. Muitos trouxas foram obliviados, não faz muito tempo que os homens do Ministério da Magia estiveram por lá.



Eu já estava esfregando os braços pra tentar evitar que se arrepiassem. Já Potter estava sério e já fazia cinco minutos, aproximadamente, que não passava a mão no cabelo.



-Isso quer dizer que -Potter falou muito devagar. -Se Evans tivesse saído de casa algum tempo antes do que realmente saiu, ela poderia... Ter estado ali no meio?



-Pior do que isso, Tiago.-disse Dumbledore, me olhando então com severidade.- A senhorita pode se considerar muito sortuda. Poderia estar morta a essa altura, se Voldemort tivesse tido notícia de que uma bruxa nascida trouxa morava a quarteirões dali. Teria aparecido e matado toda a sua família para se divertir e comemorar sua descoberta da Ordem.



Eu engoli em seco.



-O ideal, Lílian, é que você passasse as férias em outro lugar, um lugar bruxo, para que as atenções não se voltem para a sua família. Procurarei ter alguma boa idéia e logo lhe mandarei uma coruja.



Dumbledore se levantou, e junto com ele, Potter.



-Já você, Tiago, agradeço muito por estar aqui. Sei que é um dos rapazes convocados para ser um Comensal da Morte e estou alegre por eles não poderem contar com você.



Potter assentiu, mudo de susto, e com um aceno de varinha, Dumbledore fez sua poltrona desaparecer. Em seguida, com um sorriso de despedida para mim, desaparatou.



Eu fiquei contemplando a cortina da janela, sem saber o que dizer. Potter agora estava me olhando.



-Evans...



-Quê?



-Eu não sei que espécie de loucura poderia ter feito se você tivesse morrido hoje.

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