Raiva, Muita Raiva

Água e Vinho



Capítulo Três - Raiva, Muita Raiva



Entramos no Três Vassouras. Frank e eu pegamos uma mesa não muito reservada, quase no meio do bar. Ele pediu duas cervejas amanteigadas, e quando eu estava quase começando um assunto qualquer, Frank me interrompeu:



-Eu te trouxe aqui pra te dizer uma coisa, Lily.



-Sou toda ouvidos.-respondi, meio que adivinhando os pensamentos dele.



Frank desviou o olhar de mim, olhou para o balcão do bar, para a porta, para todos os lugares imagináveis, menos pra mim.



-Você vai me matar por isso.



Ora, por que eu deveria matá-lo por ele estar gostando de mim? Não era nada do outro mundo. Acontece toda a hora. Quando ele se declarasse, eu só precisaria ser educada e dizer que gostava muito dele, mas não do modo como ele queria.



-Agora acho que você vai ter que falar, Frank, já me trouxe até aqui.



-Bom... O caso é que... Ah, meu Deus, como eu vou dizer isso pra você...



Eu estava começando até a me sentir mal por ser a responsável por deixá-lo tão encabulado. Olhei nos olhos dele, tentando encorajá-lo, mas nem fazia idéia de que minha atitude estava tendo exatamente o efeito contrário.



-É só dizer tudo de uma vez.-aconselhei.



Frank ergueu os olhos.



-Tem certeza?



-Anda logo!-perdi a paciência.



Frank respirou fundo e disse:



-Está bem: eu estou apaixonado... Pela Alice. E queria que você me ajudasse.



Meu mundo caiu.



Nem queira saber a vergonha que eu senti naquela hora. Quantas pessoas na vida toda pagam um mico desse? Foi horrível, verdadeiramente horrível.



Frank me olhava, com carinha de cão sem dono.



-Me desculpe -disse ele.- eu não quis que você pensasse... Você está muito brava comigo?



Eu tive vontade de ter um ataque de stress ali, em pleno Três Vassouras. Pra que me trazer ali se era só pra me pedir um serviço de cupido?



-Eu deveria, deveria mesmo.-respondi.-Mas está tudo bem. Eu... Eu estava mesmo achando muito esquisito você me chamando pra sair. Nós sempre fomos amigos.



Ele deu um sorriso amarelo.



-Desculpe fazer isso com você.-pediu, de novo.



-OK, está tudo bem, de verdade.-insisti.- Mas, quanto à Alice, vamos ter muitos problemas.



-Eu sei.-concordou Frank.- Sirius Black.



-Exato. Como eu te disse, ela está caidinha por ele. Acho que a única chance que você pode ter ainda só virá no ano que vem...



A porta do bar se abriu, e entraram justamente os dois de quem estávamos falando.



-Estou vendo... Acho melhor deixar isso pra lá...



-Ei, calma, também não é assim. Black não passa de um conquistador, de repente a Alice percebe o que ele é, aí você entra em cena... Apesar de que, apesar de não valer nada, nós dois já vimos o efeito devastador que ele tem sobre todas as meninas que beija.



-Você conseguiu me deixar tão animado agora...-satirizou Frank.



-Fique calmo. Eu vou dar um jeito. Eu sou a melhor amiga dela, não se esqueça disso, tenho um certo poder sobre ela.



-Já que você diz...



O bar estava mesmo cheio. Por ser o último fim de semana do ano em Hogsmeade, percebi que muita gente estava tentando aproveitar ao máximo. Eu queria mudar de assunto, não queria entristecer Frank, pois sinceramente eu não achava que ele tivesse grandes chances. O lugar estava tão lotado que eu não vi quando Potter, sozinho desta vez, alcançou a mesa onde eu estava.



-E aí, Evans?-provocou ele, no tom de voz mais irritante que eu já ouvira na vida.-Finalmente resolveu beijar alguém, é? Pelo menos podia ter escolhido alguém melhor, não é?-acrescentou, com um olhar cruel pra Frank, que me surpreendeu. Ele não parecia normal.



-Qual é o problema agora, Potter?-retruquei imediatamente.-Quer me deixar em paz, ao menos uma vez na vida?



Potter riu alto, uma risada um tanto maluca e tresloucada.



-Olha aqui, Evans, eu não vou deixar você se estragar com um panaca desses...



Frank se levantou.



-Pare com essa cena de ciúmes, Tiago! Aqui não vai acontecer nada e você...



-Não vai acontecer? Então quer dizer que já aconteceu? Isso é mesmo patético... Ciúmes, eu? Por que eu teria ciúme dela?



-E por que outro motivo estaria aqui enchendo a nossa paciência?-retrucou Frank.



Dessa vez, quem se levantou fui eu.



-Eu estou aqui porque me deu vontade. Eu não ia suportar ver a cena bizarra que seria vocês dois se beijando.



-Quem é você pra querer se intrometer na minha vida?-explodi, e as pessoas da mesa ao lado olharam pra mim.- Você não é nada meu, entende, NADA mesmo! Será que além de tudo que pensa que é, ainda acha que tem todo o direito de interromper as pessoas? Se eu ia ou não beijar o Frank, tenho toda a certeza de que isso é um problema inteiramente meu! Agora suma da minha frente, que eu não agüento mais olhar pra sua cara!



Potter deu um passo pra trás e botou uma expressão desdenhosa no rosto.



-Está bem.-falou, devagar.-Vou deixá-la em paz com Longbottom... Tem razão, não devo me importar se você enfia a cara na lama.



-Não.-interrompi.-Pode ficar. Desculpe-me, Frank, mas eu não agüentaria continuar aqui agora que o maldito Potter estragou o meu dia. Vou voltar para Hogwarts.



Frank assentiu com a cabeça, mais bravo com Potter do que triste por mim, e me virei, empurrei Potter para o lado e saí pisando firme do Três Vassouras.



Mas quem é que esse infeliz pensa que é? Quem? Ele acha que tem o direito de se intrometer na minha vida?? E se eu realmente estivesse prestes a ser beijada pelo Frank, o que importava pra ele? Aaaiii, que ódio! Eu saí fervendo do bar e esbarrei em duas pessoas, e poucos passos dali. Quando me virei pra ver quem era, encontrei Remo e Pedro McFisher, um amigo dele, do sexto ano da Corvinal.



-Nossa, Lílian, o que aconteceu?-perguntou Remo, espantado.



-Seu amiguinho.-retruquei, respirando fundo.- Ele não me deixa em paz.



-Tiago? O que ele fez agora?



-Ele... Ah, deixa pra lá. Vou voltar para o castelo, senão vou acabar doida de raiva.



-Ei, Lílian, espera -chamou Remo.-Você vai pro castelo agora? Nós acabamos de chegar!



-Sim, eu sei, mas eu vou indo, na consigo pensar em nada que possa fazer passar a minha raiva que não seja ficar o mais longe possível de Potter.



Eu sei que a intenção de Remo era boa, muito caridosa até, mas eu acabei deixando ele falando sozinho e continuei andando, mas não corrigi meu erro de olhar por onde andava. Esbarrei em alguém de novo, e dessa vez não era ninguém muito agradável.



-Não olha por onde anda, garota?-uma voz quase tão irritante quanto a de Potter falou.-Agora vou ter que me lavar por uma sangue ruim como você ter tocado em mim.



Se Lúcio Malfoy soubesse no estado de raiva e ódio em que eu estava, nunca teria feito tal loucura. Ao invés de resmungar uma tirada qualquer e continuar meu caminho, como sempre fazia, olhei pra Malfoy com toda a raiva que tinha acumulado e segurei-o pela gola das vestes.



-Olha aqui, Malfoy, você me pegou num péssimo dia! Creio que eu é que terei que tomar um bom banho quando chegar no castelo, por ter tocado em alguém tão mesquinho, baixo, ridículo e racista como você!



Soltei-o com um empurrão e me controlei pra não meter um tapa na cara convencida dele.



-Agora some daqui que eu não quero precisar da minha varinha!



Se ele se assustou com a minha explosão de raiva, escondeu muito, bem. Malfoy me olhou de cima a baixo, arrumou a maldita gola e saiu da minha frente. Pelo menos ele me obedeceu.



Finalmente cheguei no castelo de Hogwarts, pela primeira vez na vida preferindo ver Petúnia diante de mim a Tiago Potter.

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