A professora Brinks



Capítulo X
A professora Brinks



Garotas conseguem ser realmente barulhentas. Definitivamente conseguem. Esse era o pensamento de Harry enquanto deixava o salão principal na companhia de seus colegas da Grifinória. Toda aquela falação tinha começado desde que Dumbledore terminara seu discurso. Parecia que toda população feminina de Hogwarts resolvera começar a dar risinhos e falar ao mesmo tempo e isso irritava o garoto profundamente.

-O que é que essas garotas têm afinal de contas? – perguntou virando-se para Rony, que parecia meio distante.

-Anh? – indagou o ruivo, despertando de seus próprios pensamentos. – Que garotas?

Harry fez um barulhinho de impaciência com a boca:

-TODAS essas garotas. O que deu nelas que não param de falar e dar esses risinhos?

Mas nesse momento Parvati Patil e Lilá Brown passaram por eles cochichando excitadas.

-Se você gosta mesmo dele esse é o momento, não? – ouvia-se Lilá dizer à outra.

-Ah, mas a festa na Corvinal será a última... Vai demorar tanto!!...- lamentava-se Parvati.

-Mesmo assim. Ele participará das outras festas!! Você já pensou no que irá usar? – insistia Lilá.

Rony não conseguiu reprimir uma careta. Olhou para Harry que estava com as sobrancelhas erguidas numa expressão de compreensão.

-Então é isso, não é? Elas estão agindo exatamente da forma que agiram antes daquele maldito baile de inverno! – falou Harry assim que as garotas atingiram uma distância em que não ouviriam.O ruivo intensificou sua careta e deixou escapar um pequeno gemido.

-Bom... Pelo menos dessa vez não teremos que convidar ninguém... – continuou Harry.

-Não sei do que você está reclamando. Você sabe que elas fariam fila para irem com você. – respondeu Rony, meio rispidamente. – TODAS elas. – completou, direcionando seu olhar para as costas de Hermione, que guiava os primeiranistas rumo ao retrato da Mulher Gorda.

Harry estranhou o “ataque” do amigo, mas resolveu se calar.

“Ele ainda deve está irritado por causa da minha conversa com Neville. Mas que culpa eu tenho se Neville pediu para falar comigo em particular?”

-Rony. – chamou ele depois de alguns instantes de silêncio.

-O que é?

-O Neville veio me agradecer... Disse que sua avó e toda sua família ao ficarem sabendo dos acontecimentos do Ministério no ano passado ficaram muito orgulhosos dele. No início ficaram preocupados e ele até levou uma bronca, mas no fim a avó dele lhe disse que ele provou ser um verdadeiro Longbottom. E um grifinório, pois mostrou ter muita coragem...

-Ah!...
– falou Rony simplesmente.

-Pelo menos alguém ganhou algo com aquilo tudo. Pena que as perdas foram maiores... – suspirou Harry, seus olhos verdes enchendo-se de tristeza.

-Olha, Harry, não foi culpa sua, cara. Nada daquilo. – consolou Rony, agora voltando toda sua atenção ao amigo.

Harry meramente balançou a cabeça em sinal afirmativo. Não queria falar sobre isso. Doía somente pensar no assunto, quanto mais falar. Ainda não estava preparado. Só o tempo ameniza certos tipos de feridas...


*****



Hermione deixou escapar um suspiro enquanto livrava-se de suas vestes e entrava em seu quente pijama de flanela. Aquele havia sido um longo dia. Daqueles que qualquer pessoa em sã consciência juraria que não durou menos do que um mês. Parecia que havia se passado muito tempo entre o momento em que ela entrou na estação de King’s Cross e esse em que ela estava vivendo agora. Sentia-se cansada. Completamente. Com o corpo pedindo descanso e a cabeça querendo voar e não pensar em mais nada. Sentou-se em sua cama e começou a desfazer sua trança com as pontas dos dedos. Nada que uma boa noite de sono não resolveria.

-Nossa, Hermione!! Como é que você fez isso com seu cabelo? – uma voz cortou o ar e fez a garota acabar de perceber que não estava sozinha no quarto. Parvati Patil a olhava com curiosidade e Lilá Brown esticava o pescoço para olhá-la lá de sua cama.

-Isso o quê exatamente, Parvati? – Hermione perguntou.

-Como assim, isso o quê? ISSO! – falou a garota num tom de óbvio, agarrando umas mechas do cabelo de Hermione. – Seu cabelo não tinha essas faixas douradas e brilhantes...

-E nem tinha esses cachos tão bem delineados!
– completou Lilá, que agora se aproximara e também examinava, curiosa, os cabelos da menina.

-Ah... Isso. – falou Hermione ligeiramente sem-graça. Sabia que não deveria ter ido àquele salão estúpido com sua mãe, sabia. Ela não era nem um pouco vaidosa, se tinha passado horas trancafiada num salão tinha sido por pura insistência. Nunca por idéia dela mesma iria num lugar daqueles. E muito menos teria feito aquelas luzes e a tal hidratação. Ela sabia que tinha ido longe demais quando sua mãe lhe dissera que seus cabelos estavam parecidos com o de uma princesinha de conto de fadas, liso nas raízes e com lindos cachos bem delineados nas extremidades. Fora a cor. Agora que a luz da lua incidia sobre ela, as mechas douradas estavam tendo um verdadeiro destaque no restante do cabelo castanho.

-Então, que feitiço é esse, Hermione? – indagou Parvati.

-Não é um feitiço. Eu... Bem, eu fui à um desses salões de beleza trouxas durante o verão. – respondeu ela.

Parvati ergueu as sobrancelhas numa expressão de surpresa. Depois trocou um olhar com Lilá e olhou de volta a Hermione. Voltou a sorrir.

-Tá bom, Hermione, bela piada, agora conta para a gente qual é o feitiço. – insistiu ela.

-Anh? Não foi uma piada! Eu já disse que eu não usei feitiço algum! – Hermione respondeu, ligeiramente irritada.

Parvati ficou séria novamente e ergueu um pouco a cabeça. Estreitou seus olhos em direção de Hermione e continuou:

-A gente não é burra, sabe? Nós podemos não ter suas notas nem estudar tanto quanto você, mas a gente não é burra.

-E quem foi que disse isso?
– perguntou Hermione, tentando se conter.

-Se você não quer nos contar qual foi o feitiço que usou é só dizer, não precisa ficar inventando essa historinha de salão de beleza trouxa.

-Você está me chamando de mentirosa?
– falou Hermione levantando-se da cama e ficando de pé em frente a companheira de quarto.

-Você é quem está dizendo...

-Olha aqui, Parvati, eu NÃO SOU MENTIROSA. Por que é tão extraordinário assim o fato de eu ter ido a um salão de beleza trouxa? Meus pais são trouxas, você se esqueceu?

-Ah Hermione, não venha com essa! Seu cabelo nunca ficaria assim se não fosse por magia. Isso aí é resultado de um feitiço, e de um feitiço dos bons! E nós sabemos muito bem que você tem inteligência o suficiente para realizar um.

-Obrigada pelo elogio.
– disse Hermione sarcasticamente. – Mas você ficaria impressionada com o quê os trouxas são capazes.

-Hahahaha... Até abaixar os cabelos de Hermione Granger?
– perguntou Parvati, agora também muito irritada.

Hermione estava corada de fúria. Não teria um jeito melhor de terminar esse dia, não é? Teria que terminar turbulento. Respirou fundo para não gritar com a garota, seguiu para sua cama novamente e antes de fechar as cortinas respondeu:

-Mas infelizmente eles dão jeito nas cabeças só por fora. Porque se dessem um jeito nelas POR DENTRO, com certeza eu te levaria a um desses salões durante o próximo verão.

De dentro de suas cortinas Hermione ainda podia ouvir Parvati replicar:

-Você se acha muito esperta com essa sua inteligência, não é? Se acha a melhor. Por isso é tão estranha e tão chata! E afasta a pessoas para longe de você!

Hermione não respondeu. Deixe que falasse, daqui a pouco ela se cansaria. Mas pelo jeito o seu silêncio conseguiu irritar ainda mais Parvati.

-Você acha que alguém gosta de você?? Bom, seus pais, suponho. Porque aqui em Hogwarts ninguém te suporta. O Harry e o Rony te agüentam apenas para copiar suas lições.

Ah, não! Aquilo já era demais. Hermione sentou-se novamente e abriu as cortinas com violência.

-Isso não é verdade! – falou ela.

-Ah, não é? Ora, todo mundo vê o quanto você os enche! E o quanto eles parecem entediados do seu lado!... O Harry ainda disfarça mais, mas o Rony... Todos vêem que vocês não conseguem ficar perto dois minutos sem se atacarem! E eu bem entendo o porquê...

Hermione abriu e fechou a boca várias vezes. Isso era verdade. Ela estava sempre brigando com Rony. Mas isso não significava que ele não suportava ela, significava? Eles gostavam dela, claro que gostavam. Mas também era verdade que viviam insistindo para que ela os deixasse copiar suas lições...

-Isso... Isso não é verdade. – repetiu ela, agora com menos convicção. Parvati percebeu o tom da garota e sorriu maldosamente.

-Bom, se você pensa assim... Boa noite, Granger. – disse ela, fechando-se por detrás das suas próprias cortinas.

Hermione voltou para sua cama e deitou-se devagar. A cabeça fervilhando. Tanta coisa num dia só: brigar com Malfoy, brigar com Rony, brigar com Parvati... E ainda teria que organizar uma festa. Teria que inventar um jogo. E esse era só o primeiro dia. É, aquele seria um longo ano...


*****



O dia seguinte amanheceu frio e nublado. Hermione estava na sala comunal esperando que os amigos descessem para irem juntos tomar o café. A garota tinha se levantado mais cedo naquela manhã. Não estava nem um pouco disposta a encontrar Parvati logo que acordasse.

-Bom dia, monitora! – uma vozinha excitada a cumprimentava. A garota se virou e encontrou um garotinho sorridente a olhando com admiração.

-Ah, oi! – respondeu ela. – Bom dia, Adam. Animado para o seu primeiro dia de aula?

-Sim! Muito animado!! Estou louco para começar a usar minha varinha! – disse o garotinho sorridente, puxando uma varinha novinha de dentro das vestes.

-Ah!... Você irá usá-la primeiro na aula de Feitiços...

-Qual é o primeiro feitiço que se aprende?

-Vingardium Leviosa.
– respondeu uma voz familiar, vinda da porta que levava à escada do dormitório dos garotos. – E não se esqueça de dizer o “gar” longo e bem pronunciado! – completou.

Hermione sentiu seu coração dar uma revirada estranha e virou-se para ver um Rony sorridente, à frente de um Harry com olheiras bem acentuadas. Sorriu para eles.

-Bom dia. – cumprimentou ela.

-Bom dia.

-Dia, Mione.

-Bom dia, monitor!
– cumprimentou Adam empolgado, olhando para Rony com a mesma admiração.

-Bom dia. Então você também é um grifinório, héim? – disse o ruivo.

-Sim, eu sou! A Casa da Coragem, não é?

-Suponho que seja...
– falou Rony sorrindo para o garotinho.

-Monitora. – chamou Adam, virando-se para Hermione.

-Sim, Adam?

-Ontem um garoto me disse que a Grifinória tem a monitora mais brava...


Hermione bufou. Rony e Harry trocaram olhares divertidos.

-E quem foi que lhe disse isso, Adam? – disse ela, as bochechas ligeiramente vermelhas.

-Um garoto do segundo ano, não me lembro o nome dele.

Hermione estreitou os olhos. Rony cochichou com Harry:

-Se ela descobre quem é, o coitadinho do garoto está encrencado!

-Bom. Ele me disse que a Grifinória tem a monitora mais brava, só que ele se esqueceu de dizer que tem também a monitora mais bonita...
– disse Adam sorrindo timidamente.

Rony virou-se depressa para olhar para o garotinho. Tinha uma expressão estranha no rosto. Olhou para Hermione e notou as manchas rosas em suas bochechas se acentuarem. Mas viu também que havia algo diferente na garota... O que diabos Hermione havia feito com o cabelo? O que eram aquelas listrinhas douradas que não estavam deixando que ele olhasse para outra direção?

-Ah... Obrigada, Adam. – disse ela.

-Será que dá para a gente ir tomar nosso café? – interrompeu Rony de supetão.

Harry e Hermione assentiram com a cabeça e os três rumaram para o buraco do retrato, Adam em sua cola.

-Acho que Hermione arranjou um fã. – disse Harry para Rony, observando o garotinho tagarelar alegremente com a amiga. – Temos um novo Colin Creevey, ainda bem que dessa vez o alvo não sou eu…

-Nós não éramos assanhados assim quando estávamos no primeiro ano, não é? Você não acha que esse garoto está muito atirado não, Harry? Ele é o garoto mais precoce que você já conheceu ou o quê?
– perguntava um Rony indignado. Harry limitou-se a sorrir.


Logo os garotos chegaram ao Salão Principal e tomaram seus lugares habituais à mesa da Grifinória.

-Posso sentar-me aqui com vocês? – perguntou um Adam esperançoso, apontando para um lugar vago ao lado de Hermione e de frente aos dois garotos.

-Claro que- - começou Hermione, mas foi interrompida.

-Por que é que você não vai se sentar com os seus colegas PRIMEIRANISTAS? Eles têm a SUA IDADE, sabe? – disse Rony rispidamente. Adam arregalou os olhos para ele e respondeu meio encabulado:

-Hum... certo... suponho que sim. Até mais tarde então.

Assim que o garotinho tomou distância rumo à outra extremidade da mesa, Hermione estreitou os olhos em direção a Rony.

-Você tinha que ser grosso com ele, não é, Rony? – perguntou com uma voz cortante.

-Grosso? Eu não fui GROSSO com ele, só lhe disse para procurar a turma dele. – replicou o ruivo.

-Não foi O QUÊ, mas sim O MODO com que você disse isso. Não dói ser educado de vez em quando, sabe?

-Ah, Hermione! Qual é? Você queria que ele ficasse aqui só porque ele lhe disse que você é BONITA!
– falou Rony desdenhosamente.

-Você não entende nada! Não é minha culpa que uma CRIANÇA de onze anos consiga ser mais cavalheiro e mais maduro do que você!

-MADURO?
– gritou Rony nervoso – Oh sim, Srta. Sabe Tudo, vai sentar-se com ele então, já que nossa companhia não é boa o suficiente para você!

Nesse momento Parvati e Lilá chegavam à mesa. Presenciando a cena, Parvati lançou um olhar acompanhado de um sorriso maldoso a Hermione, como se dissesse silenciosamente “Eu não disse?”. Hermione levantou-se de supetão. Seu olhar desviou de Parvati a Rony novamente, e ela simplesmente murmurou:

-Vou me sentar com a Gina.

Assim que ela passou, Parvati, que ainda não tinha se sentado, aproveitou-se para prosseguir e lhe deu um esbarrão ombro a ombro. Hermione ergueu os olhos para ela, encarou-a friamente por um momento e seguiu seu caminho para uma ponta distante da mesa, onde Gina estava sentada.

-O que acabou de acontecer aqui? – perguntou um Harry totalmente perdido.

-Ora Harry, eu não tive culpa! Você viu muito bem que foi ela quem me atacou e-

-Não!
– interrompeu Harry – Eu não estou falando das implicâncias entre vocês dois! Estou me referindo a Hermione e Parvati.

-Anh?
– estranhou Rony – O que têm elas?

-Ah, nada, esquece. Vai ver foi só impressão...


Rony deu de ombros, lançou um olhar de esguelha na direção onde Hermione estava e emburrado, voltou sua atenção ao seu prato de mingau de aveia.


*****



-Por que é que ela está me ignorando também? Eu não tenho nada a ver com as brigas de vocês dois!... – reclamou Harry horas mais tarde, quando se sentaram novamente à mesa da Grifinória para o almoço. Hermione tinha passado os dois longos e entediantes horários de História da Magia sem lhes dar uma única palavra. Ela sentara-se sozinha a um canto e lá permaneceu. Na aula de Transfiguração não foi diferente. A garota parecia triste e distante.

-Eu não sei... – respondeu Rony – Ela está estranha, não está?... Quero dizer, não que ela não seja estranha sempre, mas-

-Vocês estão falando sobre a Mione? – perguntou Gina, aparecendo de repente e sentando-se de frente aos garotos.

-Sim. – respondeu Harry.

-Você sabe onde ela está? – indagou Rony.

-Não, mas sei o motivo dela estar assim...

-Alguém para esclarecer então!...
– disse Harry.

-Ela teve uma briga com a Parvati ontem à noite. – falou Gina.

-Ahá! – exclamou Harry – Eu sabia que havia algo errado entre elas!... Mas o que tem isso a ver com o fato dela estar nos ignorando?

-É! O que tem?
– reforçou Rony.

-Bom... acontece que no “calor” da briga a IDIOTA da Parvati disse umas besteiras a ela... – Gina bufou como um gato raivoso.

-Seria pedir muito se eu falasse para você ser um tantinho mais clara, Gina? – Rony disse ironicamente.

-Depende. – respondeu Gina irritada, fuzilando o irmão com o olhar. – Seria pedir muito se eu falasse para você calar essa boca e me deixar falar?

Rony abriu a boca para retrucar mas foi impedido por Harry, que prevendo que uma discussão estava prestes a começar, interrompeu:

-Então, Gina? O que foi que a Parvati disse à Mione, afinal?

A ruiva virou-se para Harry e continuou:

-Como eu ia dizendo antes de ser interrompida, Harry, a Parvati disse umas besteiras. E o pior foi que a Mione acreditou!

-Que besteiras, droga!?!
– exclamou um Rony impaciente.

-Parvati disse que ela é muito estranha, chata e que por isso ninguém gosta dela, exceto seus próprios pais.

-Bom... A parte do estranha e chata...
– falou Rony.

-Ora, cale-se, Rony! – ralhou Gina – Eu ainda não terminei!... A Parvati também disse que vocês dois aguentam ficar juntos dela só para copiarem suas lições!

-O quê?
– indagou Harry. – Mas não é possível que a Hermione tenha acreditado nisso!

-Como se ela nos emprestasse todas as lições...
– desdenhou Rony.

-Bem... E a Parvati ainda disse que você ainda disfarça Harry, mas que você, irmãozinho, não a suporta e briga com ela o tempo todo, portanto nem se dá ao trabalho de disfarçar...

Rony abriu e fechou a boca. Tudo bem que eles brigavam de vez em quando... Certo, tudo bem que eles brigavam SEMPRE, mas ele não a achava insuportável... Aliás, quem Parvati pensava que era para sair julgando as coisas assim?

-A Parvati é maluca. – murmurou Rony.

-Acho melhor vocês irem falar com ela. – falou Gina.

-Também acho! – apoiou Rony – Afinal quem ela pensa que é para sair falando besteiras sobre a gente?

-Eu-estou-falando-da-Mione!!
– esclareceu Gina, irritada. – Acho que vocês deveriam procurá-la para resolver isso. Ela está bem chateada com essa história.

-Certo.
– concordou Harry – Vamos falar com ela, Rony.

-Hmm...
– fez o ruivo – Está bem, Harry. Vamos. – disse, vencido.

-Mas onde vamos encontrá-la? – indagou Harry, enquanto se levantavam e rumavam para fora do salão principal.

-Ora, Harry, qual é o lugar preferido da Hermione em todo o mundo?

-Para a biblioteca então?
– falou Harry, sorrindo para o amigo.

-Sim, para a biblioteca.


*****



Hermione estava sentada numa mesinha pouco iluminada da biblioteca. Sua cabeça estava repousada sobre seus braços, como se ela estivesse se escondendo. E na verdade estava. Mas não adiantava fugir, pois aquilo que a afligia estava mais perto do que deveria estar. Estava dentro dela. Na forma de um sentimento horrível de solidão e rejeição. Ninguém em Hogwarts gostava dela... Harry não gostava dela... RONY a achava insuportável...! Estes pensamentos não estavam ajudando em nada, aliás, estavam fazendo aqueles sentimentos a corroerem ainda mais. Exasperada, a garota ergueu a cabeça e deu de cara com dois pares de olhos a fitando preocupados. Sentiu seu coração bater à garganta e voltar à posição normal no instante em que viu o segundo par de olhos. Por que Rony tinha olhos que a queimavam por dentro? Há perguntas que nunca poderemos responder, nem mesmo se você for Hermione Granger...

-Oi! – cumprimentou Harry.

-Er... olá, Harry. – respondeu ela, sem graça.

-Olha, Mione, nós já sabemos porque você está assim. – disse Harry, sem rodeios.

A garota pareceu se engasgar. Gina já abrira a boca, então? Iria matá-la...! Ah, se iria...

Baixou os olhos para a mesa e murmurou, desajeitada:

-Não é nada, está tudo bem.

-Gina nos contou sobre a Parvati.
– continuou Harry, a ignorando. – Mas o que me admira é que logo VOCÊ tenha dado ouvidos a ela... Como é que você foi acreditar nessas baboseiras, Hermione?

-Er... eu, eu... eu não acreditei, Harry!
– exclamou ela, com as bochechas se tingindo de vermelho. – Não realmente...

-A gente gosta de você, você é nossa AMIGA, não apenas alguém que mantemos perto só para copiarmos suas lições!


Hermione sorriu. Levantou-se da cadeira em que estava e se lançou nos braços do amigo.

-Ah, Harry! Eu… eu… eu realmente adoro você!

Rony mantinha-se sério. Olhava estranhamente para os outros dois, uma leve ruga aparecendo em sua testa.

Hermione largou Harry e arriscou um olhar esperançoso para Rony. Mas este simplesmente desviou os olhos e a garota não soube disfarçar a expressão de decepção que cobriu seu rosto. Harry gostava dela e era um grande amigo. Mas e quanto a Rony?...

-Bom, já que está tudo resolvido, vamos indo? Estou curioso para saber quem é o novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas... – falou Harry, começando a caminhar para a saída.

-Hum... Certo. – Falou Hermione com a voz fraca, virando-se para seguir o amigo. Mas parou ao sentir alguém segurar de leve o seu pulso. Olhou para baixo e viu uma mão sardenta sobre seu braço. Não soube dizer se era a mão que tremia ou seu pulso que formigava violentamente, mas o fato era que o sangue de algum deles estava circulando mais depressa naquele local onde se tocavam.

-Hermione... – Rony falou fracamente. – Eu... eu... eu só queria que você soubesse que eu não te acho insuportável... Muito pelo contrário. – A última frase foi dita quase num sussurro, mas seu efeito fora grande. Hermione abriu um largo sorriso e tomada pela emoção respondeu um “Que bom, Rony!”. Em seguida, hesitou por um instante mas ficou nas pontas dos pés e deu um estalado beijinho na bochecha do ruivo, que ofegou. Harry olhava a cena com uma expressão divertida. Sorrindo meio de lado, seguiu rumo à sala de Defesa Contra as Artes das Trevas, acompanhado de perto por seus dois melhores amigos, ambos vermelhos como sol poente.


*****



-Qual será a surpresa que vão nos dar esse ano? – indagava Dino Thomas na fila de alunos da Grifinória, quando o trio chegou em frente à porta da sala de aula minutos mais tarde.

-Só espero que seja boa, não temos muita sorte com professores nessa matéria, não é mesmo? – falou Neville.

-Bom, de qualquer forma não pode ser pior do que a sapa velha da Umbridge, não acham? – falou Rony, entrando no assunto.

-O que sei é que estamos realmente atrasados com a matéria. – Hermione disse sabiamente – só tivemos um professor de verdade no 3º ano e se não fosse pela AD não teríamos conseguido fazer metade do que nos pediram no exame dos N.O.M.s!

-Boa tarde!
– uma voz simpática, porém firme, saudou. Todos se viraram para verem a dona da voz: uma bruxa alta e magra, com grandes e profundos olhos castanhos. Ela tinha os cabelos presos num coque que a deixava com um ar sério e parecia lhe fazer apresentar mais idade do que ela realmente possuía.

-Vamos entrando, por favor! – pediu ela, abrindo a porta da sala para os alunos passarem.

Harry, Rony e Hermione se acomodaram em lugares bem à frente da sala, ansiosos.

-Meu nome é Rebecca Brinks e eu sou a nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. – começou ela – Devido a alguns imprevistos eu não pude comparecer à escola ontem para ser apresentada à vocês, mas felizmente cheguei a tempo para o primeiro dia letivo. – disse, sorrindo.

-Bom, pelo menos aparenta ser simpática, não? – sussurrou Rony para os outros dois.

-Não sei. – Harry murmurou de volta – Ela me dá uma sensação estranha...

-Pelo que Dumbledore me disse, vocês perderam muito tempo no último ano, não? Nada de prática?

-Não durante as aulas, mas nós conseguimos nos virar!
– exclamou Dino. A professora se virou para encará-lo.

-Certo, Sr....?

-Thomas! Dino Thomas.

-Certo, Sr. Thomas, Dumbledore também me informou de um certo grupo clandestino de prática de Defesa Contra as Artes das Trevas...

-E aprendemos muito, professora!
– disse Neville, empolgado. Ela sorriu bondosamente ao garoto.

-Sr....?

-Longbottom, Neville Longbottom.

-Bem, Sr. Longbottom, isso é ótimo... Mas eu queria deixar claro à vocês que NÃO APOIO grupos clandestinos...


Vários alunos se entreolharam, ligeiramente temerosos, inclusive Harry, Rony e Hermione.

-...Entretanto, sou totalmente A FAVOR caso queiram legalizar esse grupo.

A classe se encheu de burburinhos agitados e animados.

-Suponho que você seja o Sr. Potter, estou certa? – perguntou a professora, mirando Harry com seus grandes olhos profundos. O garoto mexeu-se incomodamente na cadeira e, esfregando sua testa, afirmou com a cabeça.

-Muito bem, Sr. Potter, o Sr. é quem ministrava os encontros desse grupo, correto?

-Sim, professora.
– respondeu Harry, meio pálido.

-Estaria disposto a continuar? – perguntou ela.

Harry nunca esperava por aquilo. Continuar com a AD realmente era tudo que ele precisava para melhorar seu estado de ânimo. Poder ajudar, poder fazer algo de útil. Impedir que mais inocentes caiam nas garras do mal. Pelo menos ensinar às pessoas como se defenderem disso, como lutar... O garoto olhou para Hermione que sorria radiante. Virou-se para o outro lado e encontrou a mesma expressão de satisfação no rosto de Rony. Mas ele estranhamente não se sentia feliz. Se sentia, mas a presença daquela mulher de pé ali na sua frente, sorrindo para ele e aguardando uma resposta, o impedia de desfrutar dessa felicidade. Ela tinha algo estranho... Algo sombrio...

-E então, Sr. Potter? – insistiu a professora. Agora toda a classe olhava ansiosa para Harry também.

-Eu... eu... é claro que eu aceito, professora!

A classe irrompeu em aplausos. Os grifinórios certamente ficaram muito felizes em continuar com a AD, agora legalizada.

-Ah, isso é tão maravilhoso! – dizia Hermione.

-É, cara!! – disse Rony feliz – A AD está de volta!

Harry deu um sorriso amarelo e confirmou com a cabeça.

-Bom, bom... Agora silêncio, turma! – chamou a professora severamente. – Vamos dar andamento porque não podemos nos dar ao luxo de atrasar com a matéria!

A turma se calou e encarou a professora, ansiosos e sorridentes.

-Vocês estão iniciando esse ano uma nova fase. – continuou Rebecca – A partir do sexto ano as aulas ministradas a vocês são de maior importância, pois vocês já têm maturidade para lidar com certas coisas que antes não tinham... Vamos estudar assuntos muito sombrios mas que precisam ser conhecidos para que vocês saibam como se defender deles. Iremos estudar diversas criaturas perversas e diversas formas que os próprios bruxos encontram para prejudicarem uns aos outros... Estou falando sobre as maldições. Alguém sabe me dar uma definição para “maldição”? – perguntou. A mão de Hermione logo se ergueu, como o esperado. Rebecca virou seus olhos para ela e a encarou por um breve momento, parecendo assustada.

-Sim, Srta...?

-Hermione Granger.

-Hermione Granger.
– repetiu ela, olhando profundamente para a garota. Balançou então a cabeça como se para clarear seus pensamentos e continuou:

-Pode nos dizer, Srta. Granger.

-Uma maldição é uma das formas mais poderosas e perigosas de magia, destinada a gerar dor, sofrimento, doença, má sorte ou até a morte de alguém.
– falou Hermione.

-Muito bem, excelente! – exclamou Rebecca sorrindo e ainda olhando Hermione de uma forma profunda. – Dez pontos para a Grifinória.

Hermione sorriu de volta e a professora prosseguiu com a aula.

-Nosso primeiro assunto será Zumbis, que não deixa de fazer parte de uma maldição. Agora, algum de vocês sabe me dizer o que é um Zumbi?

As atenções se voltaram a Hermione, que como o previsto, erguera sua mão novamente.

-Srta. Granger? – falou Rebecca mirando-a.

-Um zumbi é basicamente um defunto ambulante – um ser que parece humano mas que não tem inteligência, alma, nem vontade própria e apenas obedece às ordens de seu criador. – respondeu Hermione sem hesitar.

-Magnífico, Srta. Granger! – exclamou a professora. – E você sabe dizer à turma como são chamados os criadores de zumbis?

-Sim, professora Brinks. Eles são chamados de “bokors”.

-Parabéns Srta. Granger! Espantoso!... Trinta pontos para a Grifinória!


Rony sorriu timidamente para Hermione e ela sentiu seu coração acelerar. Desviou os olhos e seu olhar recaiu sobre Harry, que estava extremamente pálido e tinha a testa molhada de suor.

-Harry? – chamou Hermione baixinho, enquanto a professora passava uma longa anotação sobre zumbis no quadro negro. – Você está bem? Você parece meio pálido...

-Há algo errado. Minha cicatriz...
– falou ele.

-É Você-Sabe-Quem, Harry? Ele está muito nervoso, feliz ou algo do tipo? – perguntou Rony temeroso.

-Não sei... – respondeu ele, esfregando sua testa.

Assim que a sineta tocou os grifinórios saíram excitados da sala. Aparentemente Rebecca Brinks tinha agradado. Fora uma aula extremamente interessante. Rony, Harry e Hermione ainda ajeitavam suas mochilas para saírem, quando a voz da professora os interrompeu:

-Srta. Granger? – chamou ela. Hermione ergueu os olhos para a professora que estava de pé em frente ao trio.

-Sim, professora Brinks?

-Apenas gostaria de lhe falar que fiquei impressionada com a Srta. Tem uma inteligência rara e uma atenção incrível...
– disse ela, olhando Hermione de uma forma orgulhosa e quase saudosa.

-Er... Obrigada. – agradeceu Hermione, sorrindo e tentando parecer modesta. A professora sorriu novamente para os três e os acompanhou até a porta.

-Afinal, parece que as coisas serão boas para a Grifinória esse ano, héim? – comentou Rony assim que deixaram a sala. – A professora Brinks gostou mesmo de vocês.

-Ah!... Ela é realmente boa, não acharam?
– perguntou Hermione.

-Bem melhor que a Umbridge! – concordou Rony. – Não é mesmo, Harry?

Mas o garoto não respondeu. Estava distante e continuava com o rosto da cor de algodão.

-Harry? – chamou Hermione preocupada. – Ainda está se sentindo mal?

-Um pouco... Mas suponho que seja normal esse incômodo agora que Voldemort está forte, não é? – respondeu ele.

Mas no fundo Harry sabia que algo não estava certo. A professora Brinks parecia ser uma boa pessoa, mas por que ele sentiu uma carga tão negativa perto dela? Seria só impressão? Talvez coincidência...? Isso só o tempo seria encarregado de responder...


*****



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