O julgamento



Christian estava rígido, olhando com incredulidade para todos a sua frente. Era impossível, eles estavam malucos, pensou. Por fim, o rapaz deu uma gargalhada dissimulada. Os demais ficaram chocados.

- Posso saber do que você está rindo, imbecil? – Harry avançou, mas Remo o deteve pelo braço.
- De vocês, claro... – Christian não se intimidou, partiu pra frente de Harry, o encarando friamente – Acha mesmo que eu sou um traidor?
- Acho! – Harry grunhiu, se libertando da mão de Remo.
- Ótimo! Vá em frente,então... Chamem a Ordem, acreditem mais uma vez em Pettigrew... Mas, não sei se vocês se recordam... Cometeram um bocado de injustiças com Sirius Black, não é mesmo? Forcem a memória...

Christian tinha um sorrisinho de vitória agora que via Remo e Harry com ar pensativo, como se estivessem pensando nas injustiças cometidas com Sirius. Remo não só lembrou de Sirius como parecia o ver ali na figura do rapaz. Isso o fez reconsiderar, mas não amolecer.

- Veritasserum, Christian... – Remo repetiu, mais para ele mesmo do que pra outra pessoa.
- E o que aquele estúpido do Pettigrew sabe? Ele sabe o que dizem a ele! Oras, Remo! Eu odiava o Harry, sim, mas... Perante Merlin, eu seria incapaz de romper o pacto!
- Ai, eu não sei... – Hermione comentou com voz trêmula – Christian tem razão! Pettigrew contou o que ele sabia... Isso não quer dizer que está certo!
- E quanto ao seqüestro de Sophie? – Harry lembrou – Ele nos contou que Amanda está por trás disso! Ela o colocou dentro de Hogwarts, para deixar-nos longe, dando tempo para Sophie sair com ela, pela passagem da Sala Precisa...
- Sophie foi por vontade própria? Ele disse isso? – Christian cruzou os braços na frente do corpo. Harry enrugou a testa.
- Claro que não! Ela não está participando disso!
- E onde eu entro no plano? Porque... Até onde eu sei, eu não arredei o pé daqui, estive ao lado de Sophie o tempo todo, desmascarei Pettigrew...
- Ah, não... – Harry ergueu a mão – Você fez um alarde todo quanto a presença dele aqui... Quem sabe não nos estava distraindo, para que sua mamãe pegasse Sophie a força?

Christian ficou um momento em silêncio, mas não por não ter resposta, e sim por não acreditar no que havia acabado de ouvir. Riu alto novamente, para irritação de Harry, que estava a ponto de atacá-lo. Era debochado demais, talvez se tivesse sido criado por Sirius, não fosse uma cópia tão fiel do pai. Harry odiou isso.

- Meu, você é tão estúpido... – Por fim falou, olhando sorridente para Harry.
- Cala sua boca!
- Certo... Vamos recapitular... – Christian olhou para todos, ignorando a fúria de Harry – O rato diz que minha mãe entrou aqui, pegou Sophie e foi embora, certo?

Ninguém disse nada, pelo contrário, estavam num silêncio tão profundo que o único som era o da respiração acelerada pela raiva de Harry. Christian entendeu isso como um “sim” e prosseguiu.

- E Sophie, filha de consideração da minha mãe... Foi com ela, como sequestrada. Não tem algo estranho nessa história? Não, porque... Se minha mãe é do mal, e isso faz com que vocês pensem que eu estou do lado dela... Sophie não deveria estar com o pé atrás também?
- E se Amanda a levou a força? – Harry falou entre os dentes.
- Ah, claro... Quem sabe ela não a lançou um feitiço e a deixou inconsciente... Afinal, Howarts não é nada segura, podemos fazer muita coisa aqui sem sermos denunciados... Se liga, se minha mãe tivesse usado qualquer feitiço ou força contra Sophie, logo chamaria a atenção!
- Mas... – Harry continuou, e Christian não o deixou falar.
- Mas nada! Eu só quero saber onde meu nome entra nessa história!
- SUA MÃE! – Harry gritou, explodindo – Ela está do lado deles! Pettigrew foi categórico quando disse que ela sempre sabe das informações de Hogwarts, que tem um aliado muito fiel dentro de Hogwarts... Quem mais seria, se não você...? – Harry abaixou o tom de voz, até um silvo agudo quando seu coração disparou com uma outra possibilidade – Ou... Sophie...?
- Ou... – Hermione olhou para o amigo em pânico também, entendendo de imediato seu súbito espasmo – Daniel!
- Não, Daniel, não. – Remo balançou a cabeça.
- Como pode ter certeza? Rony e eu presenciamos uma cena... – Ela começou, mas Remo a cortou.
- Daniel tem um tratamento especial dentre os nossos novos... Digamos, aliados. – ele explicou.
- Hã? – Rony parecia ter se ligado na conversa só agora – Como é isso?
- Não vou explicar nada agora... O que importa é que hoje à noite discutiremos isso em um tribunal da Ordem... Eu já os convoquei, Christian... Eu quero acreditar que você não tem nada a ver com isso.
- Por que não usa veritasserum comigo também? – O rapaz propôs tentadoramente. Hermione gemeu baixinho e Harry arregalou os olhos.
- É uma possibilidade. Vamos ver. Estejam reunidos às 21:00h, na minha sala. Agora... – Remo olhou atentamente para cada um dele, detendo o olhar em Harry – Nada de maiores histerias... Vamos discutir isso civilizadamente. Até lá, Christian... Se importa de vir comigo?
- Não mesmo... – Ele respondeu, se colocando ao lado de Remo, mas não sem antes lançar um olhar de desprezo a Harry.


***

Já era horário do jantar em Korõaran. Os alunos, trajando seus uniformes leves, condizentes com o clima do país, estavam sentados às suas mesas, degustando todas as delícias da culinária brasileira. Como era de costume, os diretores das casas sentavam-se entre os alunos. Era como um momento de igualdade entre eles. Se havia algo muito interessante naquela escola, era que, além de super jovens, os diretores e professores eram chamados pelo primeiro nome, como velhos amigos dos alunos, e passavam a maior parte do tempo entre eles. Era exatamente isso que Liah, Julio, Mariú e Rosário estavam fazendo naquele momento.

Quando Liah se aproximou dos alunos de sua casa, Rudá, ela parecia saber exatamente ao lado de quem queria sentar-se: pediu permissão para uma menina bronzeada para sentar-se ao lado de Liz. A menina sorriu, mas seu sorriso não era muito convincente. Liah sabia exatamente o que estava acontecendo.

- Vocês brigaram... – Ela afirmou, olhando para a mesa da Tupã, onde Mariú estava sentado ao lado dos irmãos, e Cauã estava com cara de poucos amigos.
- Cauã é um cabeça dura, Liah... – Liz revirou os olhos.

Quando Liz atentou para a expressão de Liah, se ajeitou na cadeira, olhando mais curiosamente para ela. Liah sempre foi espontânea e seu humor era sempre tão radiante quanto o sol do Brasil. Mas, não agora. A diretora parecia muito mais pálida que o normal, e sua face estava ligeiramente cansada.

- Que houve? – Liz sentiu o coração acelerar – Não me diz que... Oh! Você viu algo acon...
- Shhh! – Liah levou um dedo à boca de Liz, evitando um surto de pânico desnecessário – Fala baixo!
- Liah, você viu algo do torneio? Cauã? – Liz sentiu as lágrimas começarem a surgir.
- Isso não é um papo muito digestivo para o jantar... – Liah a recriminou – Aliás, você não tocou na comida.
- Nem você!
- Isso é diferente...
- Não é! Liah, eu te conheço há pouco tempo, mas o suficiente para saber que você previu alguma tragédia!
- Ai, Liz... – Liah escondeu o rosto entre as mãos, desconcertada – Faz um favor... A gente conversa depois do jantar... Eu preciso... Te contar... Ou melhor... Te pedir algo...
- Não, vamos falar disso agora – Liz ia se levantando, mas a mão pequena de Liah a jogou novamente na cadeira.
- Nada disso, você vai comer... – A mulher apontou para o prato intacto de Liz – Eu te espero na diretoria, após o jantar...
- Não...! Por favor... – Liz gemeu.
- Eu vou falar com Julio... Após o jantar! – Liah se levantou tão rápido que não deu tempo de Liz contestar sua decisão.

Liah sorria para os outros alunos, andando em direção à mesa da Îasy, casa da qual Julio era diretor. Os dois eram namorados desde a época de alunos. Todos na escola os consideravam o “casal-modelo”. Julio era um homem maravilhoso, e Liah, era a criatura mais encantadora do mundo. A história dos dois e os méritos que os deram a diretoria das casas se encontravam em vários pontos. Quando passou pela mesa da Y-îara, Liah correu os olhos para ver a expressão de desgosto que Rosário ainda mantinha. Tentou sorrir, mas a mulher virou o rosto, em sinal de desprezo, fingindo se interessar no comentário de algum aluno ao seu lado.

- Meu amor... – Julio exclamou, fazendo romper da mesa um murmurinho de “aê!” dos alunos.
- Querido... – Liah sorriu sinceramente. Apenas ele conseguia fazê-la sentir-se tão bem – Eu preciso... De você... Agora – Ela sussurrou entre os comentários de amor dos alunos da Îasy.
- Claro, minha princesinha... Eu já terminei aqui... – Julio deu um beijo na testa de Liah, arrancando suspiros das meninas de sua casa – Olha, não nos invejem... Um dia, a Lua concederá a vocês um amor tão lindo quanto minha rainha aqui... – Ele fez Liah dar uma voltinha, guiando-a pela mão. Ela ruborizou. Os alunos aplaudiram freneticamente a demonstração de carinho pública.
- Ai, ele me mima tanto... – Liah comentou, timidamente.

Ela aproveitou o momento de excitação dos alunos para tirar Julio dali. Guiou o namorado pela mão até a saída do Salão Principal, quando ele a pegou pela cintura, dando um beijo na face. A expressão de Liah estava mais branda, mas ele sabia que ela tinha algo importante a dizer. Foram até uma parte do jardim interno da escola, local um tanto cativo deles, desde o início do namoro, ali era o local preferido de Liah, por entre as árvores e flores nativas. Lembrando os tempos de adolescência, Liah subiu numa árvore mais baixa, sem nenhuma dificuldade, sentando-se em um galho mais largo. Julio a seguiu, com uma flor vermelha na mão, colocando-a nos cabelos pretos da namorada e dando um beijo em seus lábios. Ela sorriu pela delicadeza dele, e até se odiou por quebrar o clima com um papo chato.

- Então, querida, que houve? – Ele a contestou.

Liah suspirou fundo.

- Eles vão antecipar a vinda. Acabei de ver isso pelo pêndulo.
- E isso é mau? – Ele fez uma careta.
- Mais ou menos... Os inimigos deles já sabem disso também.
- Como?
- Eu não entendo... Acho que eles têm uma espécie de trato, ou pacto... Eu não consigo ver quem é o bom ou o mau deles! É confuso, eles mesmo não se entendem! Julio, não sei mais, talvez Rosário esteja certa... Estamos trazendo perigo para nossos alunos e... – Ela parou abruptamente de falar.
- Que foi? – Julio ficou mais alerta.

Liah não falou, só balançou a cabeça, pesarosa e quase frustrada. Julio pegou sua mão, beijando-a, como se a apoiasse. Ela se inclinou, abraçando-o e recostando a cabeça em seu peito.

- Eu não consigo ver o futuro de um deles... Estou com medo. Vi algo terrível acontecendo com um dos nossos alunos...
- O que será campeão da Korõaran? – Julio acariciava os cabelos de Liah, delicadamente.
- Não... Não exatamente...
- Você sabe quem será o campeão?
- Sei... Mas não sei se é certo, afinal... Tudo pode mudar, sempre.
- Como é isso, de não ver o futuro de um deles?
- Eu não sei... É como se ele não tivesse... – Liah procurou outra palavra, mas não tinha muitas opções – Futuro!
- Como se ele fosse morrer?
- Não, como se ele fosse morto.

Julio ficou pensativo. Liah ergueu a cabeça, mirando-os nos olhos. Por um momento, era como se tivessem se comunicando mentalmente.

- Você... Falou isso com Bernardo? – Julio perguntou, por fim.
- Aham... – Ela mordeu o lábio inferior – E ele tem uma idéia tão bizarra quanto a minha.

Cauã mexia e remexia a comida no prato. Ao seu lado, Mariú o observava, trocando olhares de vez em quando com Tainá, a irmã mais nova dos dois. Era uma garota simplesmente linda, com a pele tão morena quanto a dos dois, e cabelos negros que caíam graciosamente pelas costas até o quadril, exceto pela franja acima dos olhos ligeiramente puxados, típico de descendentes indígenas. Mesmo com seus 15 anos, era uma garota exuberante.

- Cauã... – Mariú cochichou
- Diz... – Cauã não levantou os olhos, continuou garfando o pedaço de frango em seu prato.
- Sabia que é feio brincar com a comida?

Cauã soltou um chiado estranho, enquanto Tainá tentava não soltar uma gargalhada.

- Vai falar o que está te deixando de focinho virado ou eu vou ter que usar de força contra você? – Mariú falou em tom de ameaça.
- Vai pro inferno! – Cauã falou entre os dentes.
- Foi como eu pensei, Tata... – Mariú ignorou o irmão, rindo para Tainá – Ele e a cara-pálida brigaram.
- Uh... Disso eu já sabia! – Tainá apontou com a cabeça para a mesa da Rudá, onde Liz fazia o mesmo gesto de remexer comida que Cauã – Olha lá, a estranha... Ela também está brincando com a comida...
- Estranha é sua cara, Tainá! Para de implicar com a Liz! – Cauã jogou o garfo com força contra a mesa.
- Ih... Mas é um cavalo mesmo... – Tainá repreendeu.
- Eu agradeceria que vocês parassem de implicar comigo! – O rapaz levantou irado da mesa e se retirou.

Na outra mesa, Liz levantou os olhos para mirar o garoto que saía em fúria, e lançou-lhe um olhar severo, recebendo em troca um olhar meio arrependido. Ela não cedeu, e desviou o olhar, como se seu prato fosse mais interessante que Cauã. Ela aguardou alguns minutos após a saída dele, e ela própria se levantou para seguir rumo à sala de Liah, não se aguentando de curiosidade. Liah ainda não estava lá quando ela entrou. Decidiu ficar ali e aguarda a Diretora. Quando chegara no Brasil, Liz sentiu-se tão perdida quanto poderia estar alguém numa selva. Liah a recebeu de braços abertos, acolhendo-a em sua casa, Rudá. Viraram tão amigas, Liz a considerava como uma irmã. Aproveitou enquanto estava sozinha para observar os paramentos de adivinhação, com os quais ela não tinha nenhuma intimidade. Era decepcionante, mas nas aulas de Liah, de adivinhação, ela era a pior aluna, talvez só perdesse para as de feitiços, com Mariú. Liz, definitivamente, era mais trouxa que bruxa, e não se importava nada com isso.

Andando entre os pêndulos e bolas de cristal, Liz avistou algo estranho e novo para ela: uma espécie de pia, feita de pedra, no fundo da sala. Ela se aproximou, super curiosa, para ver que dentro daquele estranho objeto, uma substância prateada e fluida se movimentava. Ela se inclinou um pouco mais para observar melhor, mas se desequilibrou, caindo de cara na tal pia. Tentou gritar, mas seus gritos não eram mais ouvidos. Na queda, mais profunda do que ela esperava ser, abriu os olhos quando sentiu que seus pés tocaram levemente o chão, ao contrário da queda brusca que esperava ter. Um homem loiro, com algumas cicatrizes no rosto pálido, estava a sua frente, com expressão de desilusão. Ela tremeu.

- Ai, senhor! Desculpa! – Ela tentou se explicar, embora não estivesse entendendo nada – Eu só estava...

Mas o tal homem avançou, com um olhar que era impossível de decifrar. Liz arregalou os olhos, vendo aquele homem alto avançar em sua direção e quando esperou que eles se chocassem, o corpo dele transpassou o seu. Incrédula, Liz virou-se para ver o que ele estava fazendo.

- E você acha seguro antecipar a ida ao Brasil? – O homem falava em inglês, Liz agradeceu por ser americana.
- Sim, eu creio que isso vai dar menos tempo pra eles se organizarem... – Uma voz falou, mas Liz não conseguia ver quem era. A imagem do outro homem era turva.
- Sabe que... Eles nos seguindo... Estaremos colocando todos os alunos em risco, não sabe? – O loiro falou novamente
- Não se preocupe... Acho que o pessoal do Brasil deve estar se preparando bem para o evento, lembre-se: eles são extremamente bem treinados, os alunos recebem aula de tática de guerrilha com os índios, isso é realmente incrível...

O assunto morreu um instante. Liz pensou que tinha batido a cabeça com força, e estava em um sonho. Por isso, o outro homem era só um vulto. Ela balançou forte a cabeça para tentar acordar, mas ao abrir novamente os olhos, se deparou com um garoto absurdamente lindo, de cabelos pretos e pele bem branca, mas não pálido.

- Remo? – O garoto lindo falou – Como será essa reunião com a Ordem?
- Calma Chris... Uma coisa de cada vez...

De repente, tudo girou a frente dos olhos de Liz, e ela sentiu seu corpo ser arremessado para longe. Ao abrir os olhos, Liah a encarava, com uma expressão nada amigável. Julio, atrás dela, parecia apreensivo.

- Posso saber o que você estava fazendo, mocinha? – Liz tremeu, encarando Liah, que estava apavorada – O que você viu? Fala! O que você viu?
- Nada! – Liz começou a chorar – Eu não sei! Eram três homens, um deles não dava pra ver... Falavam em inglês...
- Você só viu isso? Jura? – Liah a pressionou, Julio levou a mão ao seu ombro, como se pedisse calma.
- Só! Juro! Eu não…

Liah soltou Liz, e virou-se, com a mão na testa. Liz parecia ter acordado para o que acabara de ver: uma das visões de Liah.

- Era uma visão? – Ainda assim perguntou.
- Sim, era... – Liah parecia ter voltado ao seu estado normal. – Eu temi que você tivesse visto...
- O quê? – Liz se interessou.

Liah e Julio trocaram olhares, e isso matou a menina. Algo a dizia que o que ouviria não seria nenhum tipo de boa nova.

- Liz... Eu vou te contar uma coisa, mas antes... Lembre: adivinhação é uma arte subjetiva... Tudo pode mudar em um piscar de olhos...

A menina disse que “sim” com a cabeça para ela, incapaz de falar algo, não com o nó que acabara de se formar em sua garganta.

***

Já passava das 20:50 quando Christian olhou para o relógio, um tanto temeroso. Não que estivesse com medo, afinal, quem não deve, não teme. Mas uma reunião com a Ordem significaria que ele estaria de frente para seu pai. Isso o dava frio na barriga. Como todo bom britânico era mais que pontual, a porta da sala de Remo se abriu para Harry, Hermione e Rony entrarem. Harry olhou com cuidado para Christian, tentando ler sua expressão.

- Chris... – Hermione falou, se aproximando dele – Não tema, se você sabe que é inocente...
- Eu sei que sou inocente, Hermione... Eu não tenho que provar nada...

A menina não falou nada mais. Nem Harry e nem Rony também disseram nada, nem perguntaram por Remo. Quando ouviram novos passos e a porta de abrindo, Hermione deu um gemido baixo quanto viu Daniel entrando porta a dentro. O rapaz parecia ligeiramente cansado, com olhos fundos sobre a pele pálida do rosto.

- Alô, amigos... – O rapaz disse alegremente, mas Rony parecia em pânico só de olhar para ele.

Daniel enrugou a testa, olhando de Christian para eles. O menino fez um aceno, como se dissesse que não teve tempo de conversar com os dois. Daniel voltou o olhar para eles, atentamente.

- Hermione, Rony... Eu queria me desculpar com vocês por hoje mais cedo... Eu não quero que tenham medo de mim, nem nada... É que eu...
- Você...? – Hermione levantou uma das sobrancelhas, com ar de detetive investigativo.

Daniel a olhou sem se deixar intimidar. Não estava errado quando disse a Christian que ela era esperta demais, e ficou curioso e temeroso ao mesmo tempo ao pensar qual a sua tese para a cena na sala de Remo.

- Ai... Eu sofro de... Uma doença... Grave. Estava procurando uma poção que tenho que tomar para não sentir essa... Dor... Maldita... – Daniel parecia sofrer ao dizer essas palavras.
- Nossa, cara... – Rony deu um assobio – Que barra...
- Sério, Dan? Por isso Remo disse que se esqueceu... É uma poção... – Harry comentou – Por que não contou antes?
- Eu não gosto de comentar isso... Eu sinto dores que... Me fazem... Enlouquecer. – Ele completou.
- Que coisa... – Hermione comentou, mas Daniel sabia que não a tinha convencido.

Remo entrou na sala ligeiramente, batendo a porta atrás de si e fazendo todos os ali presentes se assustarem, pois estavam absortos no assunto sobre a doença de Daniel. Ele os olhou demoradamente antes de falar.

- A Ordem já está aqui. Vamos? – Ele apontou a porta.

Rony deu a mão para Hermione, e saíram na frente, logo seguidos por Daniel. Harry ainda trocou um olhar faiscante para Christian, que não baixou a guarda, e o encarou sem temer.

- Harry... – Remo mostrou novamente a saída.
- OK.. – O garoto saiu sem olhar para trás.
- Chris... – Remo o deteve – Eu quero acreditar em você...
- Eu sou inocente, Remo. Acredite ou não, eu não estou com medo, tenho minha cabeça leve e poderei dormir a noite independente desse maldito julgamento. – Christian falou sem tremer a voz, e saiu seguindo os demais.

Harry, enquanto andava, tentava não pensar que Christian realmente pudesse estar do outro lado. Seria doloroso demais saber que ele, ou pior ainda, Sophie, estavam o tempo todo mentindo para ele. Olhou de relance para trás, vendo Christian avançar lentamente, rumo a um julgamento que era dele. Será que ele imaginava que tipo de tribunal era aquele? Harry temeu o que veria. Não sabia nada ao certo sobre o pacto que a Ordem mantinha com ele, mas sabia que tinha algo a ver com vida e morte, com certeza. Os pensamentos de Harry foram interrompidos pela aparição da porta de madeira pesada à sua frente.

Rony, Hermione e Daniel já estavam entrando, com Harry em seus calcanhares. Vários rostos conhecidos estavam ali, e quando Sirius o viu, foi em sua direção para um abraço. Christian, entrando ao lado de Remo, sentiu o estômago revirar quando viu a cena. Remo o olhou com certo quê de pena, mas conduziu Christian a uma cadeira mas afastada dos demais.

Harry se soltou de Sirius, mas não trocaram nenhuma palavra. Ele estava tenso demais para isso. Resolveu olhar em volta, fingindo estar interessado pela sala. A Sala Precisa era um perfeito tribunal. Havia uma plenária, onde alguns membros da Ordem estavam. Os demais estavam sentados em uma platéia simples. Havia um púpito, onde o juiz sentaria. Ao lado desse, duas bancadas, uma de defesa e uma de acusação, Harry pensou. Em uma delas, Minerva McGonagall já estava sentada. Christian fora conduzido até uma cadeira lateral, e Remo não saiu do seu lado. Havia também uma cadeira central, a pessoa que sentaria ali com certeza seria o centro das atenções, ou seja, não seria Christian a principal atração da noite. Harry sentiu o coração tremer quando viu quem seria o juiz: Alvo Dumbledore se aproximava do púpito. Todos ficaram de pé.

- Caríssimos... – Dumbledore começou, com a voz suave – Vamos dar inicio ao tribunal. Espero que saibam... Isso não é um tribunal comum. Estamos colocando em votação, apenas, a confiabilidade em um dos membros pactuados conosco.

Dumbledore fez um aceno e todos sentaram-se novamente. Sirius apontou uma cadeira para Harry, ao seu lado. Rony e Hermione sentaram-se na fila da frente, ao lado de Arthur Weasley, que virou-se para cumprimentar Harry.

- Então... Acho que está na hora de trazer aqui o nosso principal acusador... – Dumbledore prosseguiu, sem modificar o tom de voz. – Severo...?

Severo Snape entrou, carregando Pedro Pettigrew pelo colarinho, sem nenhum cuidado, e sem desviar a varinha dele. Sentou o pequeno e roliço homem quase o jogando, e não saiu de seu lado.

- Certo... Agora, o julgamento começa de verdade. – Dumbledore falou, satisfeito. Harry sentiu um estranho desconforto, logo seguido por uma dor infernal na testa. Tentou não se denunciar, mantendo a atenção no julgamento, mas logo tudo ficou escuro. Ele não estava mais ali.

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