Terror em Família



- Ele disse isso? – Hermione sussurrou, os olhos apontando discretamente para a mesa da Lufa-Lufa.
- Disse... - Harry balançou a cabeça positivamente - E tem mais: eu não agüentei e perguntei sobre a tal doença dele...
- Não...? – Os olhos dela rolaram até ele, desesperados.
- Mas não teve nada demais, ele só explicou que é uma doença incurável, na qual ele sente dores que preferia estar morto para não sentir. – Harry evitou o olhar severo da garota.

Estavam no café da manhã, a mesa da Grifinória estava um fervo com a recém notícia da antecipação da ida ao Brasil, então, entre os sussurros de Harry e Hermione, ninguém entenderia uma só palavra do que tratavam. Para todos os efeitos, Minerva também anunciara a pouco que Kurt Andreiev e Sophie LaCroix voltaram mais cedo par a suas famílias, explicando a ausência de ambos. Hermione estava muito interessada na mesa amarela e preta, e isso começou a incomodar Rony.

- Está olhando o gay? – falou, com a voz ácida. – Acho que ele tem uma queda pelo McMillan...
- Não enche, Rony... – Ela revirou os olhos. Harry engoliu um riso.

Daniel estava sorridente, parecia que tivera uma noite muito melhor que a de Harry, que, por mais exausto que estivesse não conseguiu pregar os olhos. Estava falante, cercado por alunos da Lufa-Lufa que pareciam amá-lo com todas as forças. Ele resolveu observar o que Hermione falara na noite anterior, sobre todos os olhos na mesa da Lufa-Lufa quando ele lá estava, e era fato: Na da Grifinória, Lilá e Parvati trocavam comentários e risinhos olhando para lá, e discretamente apontaram algo muito interessante lá também, que fez Sarah rir junto. Nem precisava olhar mais para as outras mesas, a tese já estava comprovada.

- Reparem numa coisa... – Hermione cochichou com Harry e Rony – Daniel mantém uma distância segura das pessoas, embora esteja conversando alegremente com todos ao mesmo tempo...
- Será que a doença dele é contagiosa? – Rony fez uma careta. – Ou será que ele tem medo de não se segurar e agarrar um dos meninos?
- Não... Quer dizer, eu não sei – Hermione falou sem olhar para Rony. – Deixa de ser idiota, Rony! Estou falando sério!

De repente, na mesa da Lufa-Lufa, algumas pessoas olharam para Ernesto McMillan, que mostrava algo na mão, se tornando o centro das atenções por um momento. Daniel, pelo que Hermione pôde ver, o olhou, e seu rosto endureceu. Em pouco tempo, o rapaz levantou-se, falou algo que parecia ser uma desculpa qualquer, e saiu da mesa, quase correndo.

- Será que o McMillan mostrou a foto de uma garota nua? – Rony comentou malignamente, com um sorrisinho de vitória.
- Rony, você hoje acordou tão engraçadinho... – Hermione fez cara de tédio.
- Eu vou atrás dele... – Harry levantou-se num pulo
- Não! – Hermione se colocou de pé com urgência – Não! Eu vou lá... Esperem...
- Arrumando um jeito de ficar a sós com ele? – Rony arregalou os olhos, o rosto ficando vermelho como seus cabelos. - Você não vai chamar a atenção dele, pra isso, precisa ter um...
- Cala a boca, Rony! - Ela o olhou severamente, antes que terminasse de falar a indecência que pensara - Esperem! Já volto! – E saiu correndo antes que Harry pudesse soletrar “fui”.

Daniel andava mais devagar agora, Hermione reduziu o passo quando se aproximou. Ele ouviu seus passos, disso ela tinha certeza, mas fingiu não ouvir e prosseguiu. Ela o acompanhou.

- Daniel! – Gritou – Espera!

Ele parou, mas não olhou para trás. Hermione manteve uma distância considerável.

- Sim, Hermione?
- Por favor... Eu preciso... Falar com você...
- Sobre o quê? – Ele não se virou, ainda assim.
- Eu sei... – ela sussurrou – Sobre sua... Doença.

As mãos de Daniel se fecharam contra o punho, e Hermione quase desistiu de tudo quando viu os músculos dele se contraindo.

- O que você sabe? – Ele falou entre os dentes.
- Um pouco. Pode confiar na minha discrição... – Ela arriscou.
- Hermione... – Daniel se virou nos calcanhares para mirá-la. Ela mordia o lábio inferior com força e estava pálida – Você é a pessoa mais inteligente que eu já conheci... Não haja como uma estúpida logo agora. Volta pra sua mesa e finja que eu não existo.

Seja por pavor ou prudência, Hermione não se mexeu e nem falou mais nada. Daniel lançou a ela um olhar de reprovação e seguiu seu caminho. Entretanto, o terror que fazia o corpo da garota tremer não a deixou voltar para o Salão Principal. Seus olhos estavam mareados de lágrimas pela confirmação que tivera naquele momento. O mais improvável, então, era sim, verdade. Mais uma vez, Hermione deu um xeque-mate certeiro.

***
Rosário estava sentada num banco, por entre as flores dos jardins de Korõaran. O rosto lindo estava curvado numa tristeza profunda, e ela segurava uma rosa na mão, apertando-a vez ou outra com raiva, deixando que os espinhos furassem suas mãos delicadas, sem se importar com a dor que sentia. O ódio que queimava dentro dela era maior que a dor. Escutou alguém se aproximando, e ao perceber quem era, ajeitou-se no banco, dando lugar para que sentasse. Um jovem homem, alto e branco, tão branco quanto Liah, de cabelos negros como uma noite sem luar, sentou-se ao seu lado, com um sorriso no rosto, mas não olhou para Rosário.

- O que te aflige, Rosa? – Ele perguntou, a voz era aveludada.
- Esse maldito torneio! – Ela respondeu entre os dentes.
- Não fica bem para uma moça tão linda quanto você guardar tanto ódio no coração.

Ela fez uma expressão de descrença, mas permaneceu calada por algum momento. O homem riu, e continuou.

- Rosário, sua beleza te ofende?
- Não... – a mulher falou, mas sua voz era trêmula.
- Então, não acha que pessoas lindas como você não deviam ter sentimentos que não sejam nobres?
- Por que diz que sou linda? - A voz de Rosário soou desesperada.

O Homem, ainda sem voltar a cabeça para ela, juntou as sobrancelhas, fazendo sua testa enrugar, como se a pergunta dela fosse uma questão de prova super difícil.

- E você não é linda?
- Mas... Como pode saber, Tarso? Você não... – Ela parou de falar, sentindo as bochechas corarem.
- Eu não posso te ver? -Ele riu, como se isso fosse uma piada – Oras, eu acredito quando dizem que você é linda.

Aquele homem era cego, e ela sentiu-se envergonhada por sua atitude idiota. Paulo de Tarso era professor de Misticismo, Lendas e Folclore Brasileiro, matéria que em Korõaran substituía a tradicional História da Magia – com algumas variações, como por exemplo um tópico de espiritualidade – mas nasceu cego, nunca tivera a oportunidade de mirar o horizonte, as árvores, a luz do sol ou o brilho da lua. Mas Tarso via o interior das pessoas. Ele conhecia cada um como era realmente. E Rosário era simplesmente apaixonada por ele. Ela passou os dedos entre os cabelos negros de Tarso, e mesmo sem poder enxergar, ele sabia que ela estava chorando. Mas esperou que ela mesma confessasse isso.

- É tão... Injusto. – Ela sussurrou, entre lágrimas – Minha beleza é a única coisa de bom que eu tenho... E você não pode vê-la.
- Não pense assim, Maria do Rosário. Eu já te disse, não pense só no seu exterior, o fruto pode ter uma casca brilhante e sem imperfeições, mas se seu interior estiver podre, ele não servirá de alimento a quem tem fome.
- Eu te amo, Tarso... Ela fechou os olhos, fazendo uma careta, como se aquilo doesse – Eu te amo e não posso te seduzir, não posso usar minha beleza para te encantar! Isso é injusto! Eu posso ter o homem que eu quiser, e aquele que eu quero não posso ter!

Ele não disse mais nada. O silêncio era constrangedor. Rosário parecia estar sofrendo de alguma dor intensa. Tarso era um homem muito sábio, entendia a alma dela, mas não entendia como ela podia ter um interior tão rancoroso. O que a natureza lhe dera de beleza, não dera de humildade e gratidão. Então, após uma longa pausa, ela prosseguiu, a voz era aguda, tomada por ódio.

- A vida é injusta comigo! Veja Liah! A sorte e a fortuna sempre ao lado dela! Julio é um cachorrinho pra ela, eles se amam, eles foram feitos um para o outro! Eu os vejo, eu sinto tanta inveja dela! Ele a trata com tanto carinho, tanto amor... Por que ela? Eu sou linda, perfeita, eu colocaria todos os homens da Terra aos meus pés, se eu quiser! Por que ele se encantou por ela? Por quê? Por que eu não posso ter quem me ame? Por que você não me ama?
- Rosa...?

Uma voz soou doce, embora levemente embargada, por trás do banco onde estavam Rosário e Tarso. Era Liah. Estava ali, chegara para chamar a diretora da Y-Îara para a reunião que Bernardo convocara. Rosário sentiu uma pontada no peito ao ouvi-la, e ao mirá-la, soube que ela escutara tudo. Liah tinha os olhos mareados de lágrimas e uma expressão triste.

- Bernardo pediu que fôssemos à sala dele... – A pequena mulher disse, com olhos vazios.
- Eu já vou. – Rosário respondeu secamente, enxugando os olhos.
- Liah? – Tarso sorriu ao dizer o nome
- Oi, querido... – A doce mulher se aproximou e abaixou-se ao lado do homem, pegando em sua mão – Estou aqui...
- Eu senti sua presença encantadora... – Ele beijo sua mão delicadamente. Rosário comprimiu os lábios em fúria. – Eu sei que seu coração é nobre e puro, Liah... Não leve as palavras de Rosário a sério.
- Eu não as levo... – Liah beijou a mão de Tarso carinhosamente.
- Mas ela te ofendeu. Não quer descontar seu ódio? – Ele comentou em tom jocoso.
- Eu não vou retribuir... Se nós retribuirmos o ódio com ódio, ele se tornará mais forte... – Ela levantou os olhos para Rosário, e a mulher tremia em fúria – Mas se ao invés disso, fizermos que ele experimente o amor... Aí, sim, as trevas se dissipam.
- Essa é a diferença, Rosário... Beleza interior, a beleza que os olhos não podem ver, mas a alma pode sentir – Tarso balançou a cabeça positivamente.
- Poupem-me dessa baboseira ridícula! – Rosário girou nos calcanhares tão rapidamente que seus longos cabelos cor de avelã desenharam um arco no ar.

Liah fechou os olhos e duas lágrimas rolaram pela face ainda mais pálida pela decepção, caindo nas costas da mão de Tarso. Ele passou a mão pelo rosto delicado dela, e com um sorriso nos lábios. Liah sorriu, pois aquele sorriso valia mais do que qualquer angústia. Tarso era um homem incrível, era praticamente impossível ficar triste perto de uma pessoa de espírito elevado como ele.

- Aqueles que não aprendem pelo amor, aprenderão pela dor. – Ele sussurrou.
- Eu sinto muito, não queria que Rosário se sentisse assim em relação a mim... Queria ser amiga dela, ela não tem que me invejar...
- Liah, minha fada dos sonhos... Aprenda: pessoas iluminadas sempre atrairão inveja, o que as difere dos fracassados é o modo como elas combatem esse sentimento horrível, e como você falou, é com o amor.

Rosário seguia com passos duros, chorando copiosamente e consumida de raiva. Seu ego não permitia ser ofendida, seu orgulho não permitia se envergonhar, por mais que soubesse que Liah não merecia tal coisa. Aquela ira a deixava tão possuída que não viu quando Mariú a segurou pelos ombros, encarando-a duramente.

- Que foi dessa vez, Rainha do Baile? – A voz era áspera, embora irônica.
- Não te devo satisfações, Curumim!
- Oh, como a escamosa é doce e delicada... – Mariú fez uma falsa expressão de surpresa – Vamos lá, diga? Quem foi o infeliz que provou do seu veneno...
- NÃO ENCHE! Me solta agora, seu papa-goiaba!
- Qual o estresse, Sereia? O espelho disse que seu cabelo estava feio hoje?

- Ei! – Julio correu e ficou entre os dois – Vocês estão muito estressados, não acham? Se eu fosse vocês, eu respiraria fundo e tentava manter a calma... Porque temos uma reunião importante pela frente e Bernardo não precisa saber desse rincha ridícula e desnecessária!

Como por encantamento, Mariú e Rosário se largaram e afrouxaram os músculos, antes tensos num pré-combate. Os dois diretores sempre se estranharam: Rosário sempre dizendo que ele era muito jovem, irresponsável e achava que a vida se resumia a força física, e em contrapartida, Mariú dizendo que Rosário era mimada, maligna e egocêntrica demais para ser líder de alguma coisa maior que de seu reflexo no espelho. Julio e Liah sempre ficavam entre a briga dos dois e, por sorte, Julio era um ótimo pacifista.

Liah voltava dos jardins, de braços dados com Tarso. Ela apenas olhou para os três, sentindo a irritação de Julio. O namorado lançou a ela um olhar de “está tudo sob controle” e ela apenas assentiu com a cabeça. Eles não precisavam de muito para se entenderem, era incrível como se comunicavam quase que por telepatia.

- Julio? – Tarso estava sorridente, indiferente ao clima tenso no recinto.
- Olá, Tarso! Como está bem acompanhado, heim? – Julio riu.
- Ah, sim, sua namorada é a mulher mais doce do mundo... – Ele pegou a mão de Liah dando um beijo delicado.

Mariú observava Rosário de canto de olho, e como ela trincou os dentes num ruído audível. O rapaz sentiu um ligeiro prazer de vê-la sofrendo.

- Eu sei, eu tirei a sorte grande, não é mesmo?
- Imagina... – Liah estava corada – vocês são dois exagerados!
- Ora, a reunião já começou sem a minha presença!

Bernardo vinha andando suavemente, de mãos dadas com uma mulher de rosto redondo e olhos cor de mel sobressalente na pele parda. Os cabelos tinham um tom de castanho clareado pelo sol e seu corpo era robusto, embora sinuoso. O sorriso dela era espetacular.

- Obrigado pela pontualidade – Ele comentou e todos, exceto Rosário, sorriram para ele. – Espero que Paulo de Tarso possa participar também...
- Oh, mas será um prazer! – Tarso estava radiante – E como está hoje, Emília?
- Vou muito bem, Tarso, meu querido! – A mulher responder, seu sorriso iluminado na face, embora Tarso não o pudesse ver.

Emília Reis era esposa de Bernardo e professora de Transfiguração de Korõaran. Se casaram logo após concluírem os estudos, com 18 anos apenas. Um ano depois, Emília ficara grávida, mas por uma tragédia, perdera o filho e nunca mais pôde engravidar novamente. Dessa forma, quando Bernardo foi convidado para ser o diretor, ela não hesitou em se candidatar à vaga de professora para que seu marido pudesse agarrar essa oportunidade ímpar.
A reunião que Bernardo convocara se estendeu a todos os professores, que já chegavam para o compromisso, pontualmente. Uma mulher de pele negra e traços finos com roupas com motivos afros, um homem precocemente calvo e com a pele moreno-jambo um pouco acima do peso e um outro alto, com porte de atleta e cabelo com corte militar trajando roupas esportivas e leves se aproximavam do demais.

- Graça! Marcos! Felipe! – Bernardo os saudou, sorridente, como se estivesse recebendo visitas muito queridas há muito não vistas.

- Estamos atrasados? – A bela negra perguntou, olhando para todos, mas detendo os olhos em Rosário.
- Nenhum pouco, ainda estamos na concentração! – Mariú riu.
- Diz aí, Mariú franguinho! – Felipe empurrou o rapaz com o cotovelo, em falsa provocação.
- Qual é, grandão bobão... – Mariú deu um soco no braço musculoso do outro.
- Esses dois não param nunca... Parecem dois primeiranistas... – O homem roliço comentou, embora risse dos dois jovens.

Maria da Graça Viegas lecionava Herbologia e Fitoterapia – Matéria que além da Herbologia tradicional também trazia em seu currículo os cuidados, potenciais curativos e utilização de plantas naturais da flora brasileira; Marcos de Sant’Anna lecionava Trato de Criaturas Mágicas e Animais Especiais – Na qual os alunos tinham contato direto com a fauna amazônica e Felipe Honório lecionava Quadribol e Vôo – Diferente dos trouxas, a paixão dos brasileiros bruxos não era o futebol, e sim, óbvio, o quadribol.

O corpo docente da Escola brasileira contava, ao todo, com 9 professores, além de Graça, Marcos e Felipe, Julio Santos lecionava Feitiços e Defesa Mágica – Em Korõaran, não existia Defesa Contra as Artes das Trevas, então nessa matéria, os alunos aprendiam o básico de defesa; Mariú Nhandeara era o professor de Técnicas Mágicas de Defesa em Combate, uma matéria ensinada mais por tradição do que por necessidade, provinda de tribos indígenas e passada de geração em geração, na qual a magia se unia à destreza e camuflagem de combate; Liah de Almeida, professora de Adivinhação e Astrologia – as duas matérias eram unificadas em Korõaran; Maria do Rosário Albuquerque ensinava Poções; Paulo de Tarso Gouveia, professor de Misticismo, Lendas e Folclore Brasileiro e Emília Reis ensinava Transfiguração.

Uma vez os nove professores juntos, Bernardo os indicou a entrada de sua sala, onde havia uma mesa com exatamente 10 cadeiras. Todos tomaram seus assentos de costume e Bernardo sentou-se na ponta. O rosto divertido do diretor lentamente se transformou numa máscara de preocupação.

- bom, eu creio que não é segredo o motivo da reunião, certo? – Ele começou a falar, todos os olhos apontando em sua direção – Como manteremos a segurança de nossos alunos durante o torneio... – Os olhos de Bernardo rolaram até Julio, e ao perceber os olhos sobre seu namorado, Liah apertou delicadamente a mão dele, que estava entrelaçada à sua por baixo da mesa - Julio me procurou essa manhã, e ele tem uma ótima idéia. Por favor, Julio, poderia expor sua idéia aos demais?

O rapaz branco ficou ligeiramente corado quando os olhos dos outros professores o focaram. Liah murmurou um “vai dar tudo certo” em apoio, com um sorriso iluminado nos lábios.

- Eu propus a Bernardo que ensinemos, nesses dias que antecedem o Torneiro, algumas técnicas de Defesa Contra as Artes das Trevas para nossos alunos, já que não há essa matéria em nosso currículo.

Houve um silêncio profundo, mas as expressões dos professores eram simplesmente reprovadoras. Marcos foi o primeiro a se contrapor.

- Mas isso é um absurdo! Estamos esperando um Torneio Tribruxo ou um ataque de Bruxos das Trevas?
- Eu não entendo... – Graça comentou, pensativa – Para que Defesa contras as Artes das Trevas se preparamos tão bem nossos alunos para combate sem necessidade dessas práticas tenebrosas!
- Não são tenebrosas! – Julio se defendeu, calmamente – Escutem... Como vocês sabem, meus pais, assim como os de Liah, vieram de Portugal, e é comum nas escolas Européias o ensino de DCAT. Meu pai me ensinou muito sobre isso, e o de Liah a ela... Então, Se não fosse esse nosso conhecimento...
- Julio está pensando no campeão de Korõaran... – Bernardo o interrompeu – ele ficará em desvantagem no caso de provas que exijam esse conhecimento, já que Hogwarts e Yonsenshi lecionam essa matéria. Eu não vejo nenhum problema nisso e por mim, as aulas começam amanhã. Eu gostaria de saber a opinião sincera e sensata de todos vocês, pois eu posso ser o diretor, mas ainda temos uma democracia aqui.

Novamente, houve um momento de silêncio, e agora todos pareciam refletir as palavras do diretor. Julio sentou-se, observando os rostos tensos e pensativos. Trocou um olhar com Liah, que acariciou seu rosto delicadamente. Por fim, todos eles concordaram, pensando na praticidade do campeão tribruxo poder concorrer em igual patamar aos demais alunos.

- Ótimo! – Bernardo bradou alegremente – Julio, você tem total liberdade para convocar os alunos do 6º e 7º ano para as aulas extra, a inscrição vai ser opcional, mas nenhum aluno abaixo do 6º ano poderá se inscrever. Tenho certeza que Liah o ajudará, certo?

Os namorados sorriram, balançando a cabeça positivamente. A reunião seguiu com outros pontos sobre o Torneio, até que Bernardo dispensou os professores, ficando somente com os quatro diretores das casas.

- Agora... – ele os encarou assim que ficaram a sós – Vamos à parte mais difícil do caso.

***
O céu estava negro, as nuvens pesadas cobriam todo o brilho das estrelas e a luz da lua. Um exército encapuzado logo se formou em torno de uma pedra, como um ballet ensaiado em seus passos seguros, no meio de um lugar fechado por árvores altas. Um gemido era ouvido vez ou outra, embora abafado, e vinha de uma cela magicamente montada. Lucio Malfoy estava preso por encantamento, um campo magicamente feito impedia que ele saísse do campo de visão de dois grandes homens emcapuzados, e todas as vezes que ele tentava burlar o bloqueio, levava uma descarga elétrica.

- Você é patético, Malfoy... – Uma risada maligna surgiu da garganta de um dos homens altos protetores da “gaiola” encantada.

- Shh! – Uma voz chiou baixo, fazendo todos calarem tamanho o respeito por ela.

Todos os que estavam presentes no local se viraram para uma figura encapuzada, que se colocou ao centro do semi-círuculo que já estava formado, conduzindo pelo braço um rapaz pálido e ao lado de ninguém menos que Lord Voldemort.

- Vejam, vejam... Quem resolveu voltar para nosso meio – Voldemort comentou em tom irônico. Virou-se para Lucio rindo, sua face ofídica chamuscando de malícia – Olha seu filhinho traidor... Voltou para nossa família! Não vai dar boas-vindas para seu primogênito?

Draco se largou do homem que o segurava, correndo para a cela na qual seu pai, nitidamente fraco e muito machucado, estava o olhando com terror. Quando ele sacou a varinha para tentar desfazer o feitiço, Voldemort foi mais ligeiro, e num aceno leve fez o garoto voar longe. Dois comensais abriram espaço no semi-círculo quando o corpo dele foi arremessado para além deles.

- Não tão rápido, Malfoyzinho...
- Você prometeu que o libertaria! – Draco gritou, se erguendo com dificuldade.
- Ah, e você me prometeu lealdade acima de tudo, e o que você fez, ingrato? Na primeira chance, virou o melhor amigo de infância de Harry Potter...
- Eu voltei, não voltei? Tenho novidades importantes! Mas eu exijo meu pai solto!
- Olhem isso... – Voldemort riu e todos os comensais o acompanharam – ele acha que está em condições de exigir algo... Vamos ver se agora ele vai querer exigir algo... Stonebreaker! Traga a nossa convidada de honra...

Draco arregalou os olhos. Uma mulher com o traje de comensal, porem sem capuz ou máscara, trazia uma outra mulher, não tão machucada quanto seu pai, mas desesperada tanto quanto ele. Amanda Stonebreaker tinha um olhar dissimulado quando seus olhos encararam Draco, jogando a sua prisioneira no chão na frente dele.

- Toma, Cissa, querida... Seu filhinho covarde – Amanda resmungou com um riso de deboche. – Eis aí sua mãe patética, fracassado Jr.
- Mãe...! – Draco se ergueu para abraçá-la, mas o homem que o havia trago até ali se colocou à frente dele.

Narcisa Malfoy chorava copiosamente, soluçando e incapaz de dizer uma palavra sequer. Draco levantou seus olhos em fúria para o homem encapuzado que o havia proibido de chagar a ela. Esse mesmo homem o pegou brutalmente do chão, levantando-o sem nenhum cuidado.

- Não tão fácil, Draco...

A voz era familiar e fez o coração de Draco saltar, batendo descompassado e fora do ritmo. Seus olhos se arregalaram de tal forma que por pouco não saíram das órbitas.

- Vo-você!? – Draco exclamou com a voz trêmula – Não pode ser... Eles confiam... Eles garantem que você...
- Eles confiam na pessoa errada, estúpido. – A voz era seca e o cortou sem nenhum pudor – Assim como você, e veja só como seu fim se deu, moleque idiota...

A mão pesada fez um círculo no ar, atingindo o rosto de Draco, fazendo seu corpo esquálido e trêmulo novamente voar. Narcisa deu um grito cortante, fazendo Amanda também usar a força para calá-la. Lucio berrou, mas ao receber uma nova chicotada de eletricidade, calou-se involuntariamente. Voldemort riu maquiavelicamente.

- Vejam, meus caros! Esse é o final que todo traidor merece! E que sorte vocês terão! Verão uma família inteira ser dizimada... Só estávamos esperando o filho pródigo voltar à casa.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.