Plano fracassado



- Gina... Gina... Gina! – Rony repetia irritantemente durante o café da manhã
- Rony, Rony, RONY! – Hermione estava com cara de poucos amigos
- Por que ela tinha que se inscrever – O ruivo tinha cara de raiva.
- Por que VOCÊ tinha que se inscrever? – A garota o lançou um olhar que poderia matar

- Qual é o problema de me inscrever mesmo? Explica, por que até agora eu não entendi...
- COMO QUAL É O PROBLEMA? – Hermione se descontrolou, alguns alunos a olharam, confusos, e ela ficou ligeiramente corada – Como qual? – Disse murmurando – Acho que você esqueceu que temos uma missão com Harry...
- E daí? – Rony disse com a boca cheia
- Rony, você está de sacanagem comigo, não é? – Hermione negava que o namorado realmente fosse tão lesado – Não pode ser...

-Eu agradeceria se esse papo acabasse agora mesmo... – Harry sussurrou para os amigos, ao perceber que muitos ainda tentavam ouvir o que eles conversavam.

- Ouviu, Hermione? – Rony sorriu debochadamente para a garota.

Harry revirou os olhos. Realmente, não estava nem de longe querendo se estressar com os dois pombinhos. Estava com sono, cansado e por demais desgostoso. Era seu segundo dia em Hogwarts nesse ano letivo e parecia que já tinha prestado as provas dos N.I.E.Ms de tanto estresse. Não parara, nem por um segundo, de pensar na louca idéia de um filho bastardo de Sirius. Olhou para a mesa da Sonserina, procurando por Christian, e lá estava ele: Irritantemente bonito, com ar de “é, eu sou assim mesmo...” e falante. Céus, era realmente parecido com Sirius. Era perturbador. Só perdia para Sophie em matéria de “deixe Harry Potter doidinho”. O garoto não pôde evitar. Seu olhar percorreu, quase que involuntariamente, a mesa da Corvinal.

Lá estava ela, linda, loira e sorridente. Sophie. Conversava animadamente com Padma e Luna, parecia, pelo que Harry podia ver, que se tornaram boas amigas. Ele perdeu um tempo olhando para a garota.

- Merlin, por que tem que ser tão linda, francesinha...

- Como? – Neville olhou para Harry, confuso.
- Nada não, Neville... Eu acho que pensei alto... Mais uma vez...
- Nossa, você anda pensando tão alto que daqui a pouco eu vou achar que sou legilimente! – Neville riu.

Harry não podia deixar de rir. Agora, olhou para Neville, e percebeu que ele também olhava para a mesa da Corvinal.

- Er... Luna... – Harry comentou maldosamente – Está realmente uma beleza...
- Harry, você está me saindo um ótimo cachorro... – Neville fechou a cara.

- Ca... – Harry começou a rir – Cachorro? Eu?
- É! Você! – Neville permanecia firme nas palavras – Que deu em você? Cantando todas as garotas agora? Pois saiba que Luna não é do tipo...
- Eu só fiz um elogio! – Harry tentava parar de rir – Eu não vou cantar sua Luna não, pode deixar...

- Ah... – Neville ficou nitidamente sem graça – Ah... Perdão... E ela não é minha... não...
- Sem problemas...

Só Neville mesmo para fazer Harry rir àquela altura. Agradeceu internamente por aquilo. Ao menos alguém o fazia sentir-se melhor. Terminado seu café, tratou de levantar rapidamente, sem perder Daniel de vista. Ele estava lá, na mesa da Lufa-Lufa, conversando alegremente com Ernesto McMillan, Justino Finch-Fletchley e Zacarias Smith. Como esses meninos eram conhecidos de Harry, ele não pensou duas vezes em ir até lá.

- Ah... Olá... Bom dia...– Harry sorria sonsamente ao se aproximar dos Lufanos
- Oi, Harry! – Os garotos pareciam ter ensaiado em coral a resposta para Harry.

– Er... Posso lhe falar, Daniel? Carter... – Ele tentou não parecer íntimo do garoto.
- Oh, yeah! – Daniel agiu natural e idiotamente, na opinião de Harry – Com liença, fellas, até a aula! – E se levantou para acompanhar Harry.

Harry tentou se afastar ao máximo das mesas, fazendo Daniel o acompanhar para fora do Salão Principal. Daniel, em momento algum, parecia contrariado. Por fim, pararam perto de uma armadura, num longo corredor. Harry se virou com certo olhar duro para o garoto, que enrugou a testa ao perceber sua hostilidade.

- Ok, eu não sei se foi combinado, eu não sei se a Ordem sabe disso, eu não sei quem é você e nem sei mais se confio em você... Mas eu preciso saber... Você está do lado de quem, Daniel?

- Como assim do lado de quem eu estou? – Daniel parecia não ter entendido a pergunta.
- Não se faz de desentendido! – Harry começou a se alterar – Juan não é Juan, ele é filho da Amanda Stonebreaker, a mesma que quer me pegar distraído, a mesma que você disse que não perdoaria se fosse agente dupla...

- Epa, epa... – Daniel fez sinal para Harry parar de falar – Alto lá! Assim você me ofende! Eu já dei provas suficientes de que estou do lado da Ordem!
- Ah, é? Pois, desculpe, para mim não parece que esteja de fato...
- Se a Ordem não julga necessário te manter informado das coisas, Harry, não é culpa minha!

- Vocês não estão brigando, estão?

Harry e Daniel pararam de se encarar para fitar Sophie, que acabara de chegar ali. A garota os olhava, com olhar de apreensão. Harry perdeu até o fio do raciocínio ao vê-la.

- Não, eu só estava comentando com Harry que estamos todos juntos nessa... – Daniel falou naturalmente.

- Eu não sei se acredito, contudo – Harry ainda mirava Sophie – Eu acho que confiança é a chave de qualquer relacionamento... Ainda mais um de vida ou morte.

- É... Eu também acho... – Sophie encarou Harry – Por isso, eu queria o falar... Podemos?
- Falar... Comigo? – Harry arregalou os olhos.
- Não, com Nicolau Flamel... – Sophie revirou os olhos.

Harry sentiu uma leve vontade de rir. Percebeu que não era o único. Sophie agora ria sozinha.

- Bom, não disse que era o Nicolau Flamel para o Chris, quando o conheceu?
- Verdade... – Harry começou a rir também.
- Eu vou os deixar a sós então... – Daniel olhou de um para outro, parecia ser o único que não entendeu a piada – E precisando de outra injeção de confiança, Harry, me procure...
- Certo, pode estar certo que o procurarei... – Harry lançou o último olhar de reprovação ao garoto.

- Temos um lugar mais reservado? Eu sei que tem aula, mas acho que ainda dá tempo...
- Claro que dá! A primeira aula é daqui à uma hora – Harry tratou de garantir uma conversa longa.

- Ótimo, para onde vamos então?
- Vem comigo... – Harry pegou a mão da menina.

Os dois não trocaram qualquer palavra até chegarem à Clareira. Não era comum ninguém ali pela manhã. Aquele era um lugar de Hogwarts que Harry adorava. No ano anterior, gastara várias noites de luar ao lado de Gina. Ao chegarem ali, Harry apontou para Sophie um banco. A garota delicadamente se sentou. Ele percebeu que ela apertava as mãos, era nítido que estava nervosa.

- Espero que não ligue para o lugar...
- Não, é lindo aqui... Lembra Beauxbatons... – Sophie tentou sorrir.
- Que bom... É um dos meus lugares favoritos em Hog...
- Harry... – Sophie não parecia ter ligado para as preferências de Harry – Por favor, eu quero te pedir um grande favor...

- Claro... – Harry ficou sem graça – Pode pedir...
- Para de implicar com Christian, por favor...
- Eu... Eu não entendi...

- Eu estou pedindo para você dar um tempo! – Sophie tentava não ser grossa – Deixar Christian em paz... Ele está muito preocupado e essa rincha ridícula só vai piorar a situação!
- Mas... Eu não entendo... Por que me pede isso?

Sophie deu um longo suspiro, como se estivesse a ponto de dar um berro pela lerdeza de Harry. Porém, ela fez um momento de silêncio, como se refletisse. Permaneceu olhando para um canteiro de flores. Se concentrou nos lírios para formular as palavras que iria dizer. Por fim, voltou a olhar para Harry.

- Se eu te contar... Você vai me odiar... Chris vai me odiar mais ainda... Mas...
- Te odiar? – ele a olhou, preocupado.
- É... Mas... Acho que não tem outra escolha...

A menina desviou novamente o olhar para as flores.

- Adoro lírios... – Comentou num suspiro – Harry... Quando eu te conheci... No seu aniversário... Eu nunca te contei o que acontecera de fato comigo... Por que eu te beijei...

Harry começou a ficar nervoso.
- Não... Embora eu realmente quisesse entender...
- Eu menti... – Sophie não parecia ouvi-lo, ainda olhando as flores – Eu não o beijei porque eu quis, mas porque eu precisava. Era um plano.

O coração de Harry disparou.

- Plano?
- Isso... – Sophie balançou a cabeça lenta e positivamente – Plano... Sabe a Amanda Stonebreaker? Aquela que está planejando te pegar? Pois então, ela é minha madrasta.
- aham, e? – Harry tentava parecer surpreso, mas já sabia da história.
- Não está surpreso? – Sophie deixou de olhar os lírios e encarou Harry
- Estou, mas... Pode continuar?

- Então... – Sophie desviou novamente o olhar, agora para uma fonte, onde alguns pássaros se banhavam – Ela é mãe do Chris, o que os torna irmãos de criação. Na verdade, eu cresci com o Chris. Eu o amo como um irmão mesmo. Ele tem a idade que minha irmã mais velha tinha. Mas isso não vem ao caso... O caso é que quando eu tinha 4 anos, minha mãe fugiu de casa com outro homem e nos deixou, a mim, ao meu pai, e a minha irmã mais velha . Então, meu pai casou-se novamente com Amanda, e ela virou a mãe que eu não tive...
- E onde entra o plano nessa história?
- É onde eu quero chegar... – Sophie novamente o olhou – Amanda certa vez me disse que eu era nostalgicamente parecida com uma garota que ela detestava na época da Escola, uma tal de Lilian Evans...
- Minha mãe...

- Pois é, seu padrinho, Lupin e Snape parece que confirmaram isso...
- Mas se parecem mesmo, eu sei, a diferença é que minha mãe era ruiva. Mas e daí?
- E daí que... – Sophie virou o rosto, e se Harry pudesse a ver, veria que fazia uma careta, como se não quisesse de fato falar – O plano era... Eu me aproveitar disso, contando que você sentisse uma certa queda por uma garota que parecesse a mãe que você não chegou a conhecer... Nem Chris nem Amanda sabem desse plano...
- E por que isso? Pra quê?

- Pra... – Sophie sentiu os olhos encherem de lágrimas – Pra... Salvar minha madrasta e Chris... Eu te seduziria, faria você entrar no meu jogo e...

Sophie parecia incapaz de continuar a falar. Fechou os olhos e duas lágrimas rolaram pelo seu rosto branco. Harry sentia agora seu coração se despedaçando. Era tudo o que ele precisava ouvir para acabar com seu dia, seu mês, seu ano e quiçá, sua vida.

-Então, aquele beijo...
- Foi uma farsa... – Sophie completou a frase – Mas eu me arrependi, como você deve entender agora. Quando eu percebi o que estava fazendo, eu me desesperei. Eu vim para Inglaterra com outras intenções! Eu não vim para ajudar os comensais, eu vim para ajudar a Ordem...
- Então, você confirma que Amanda é realmente uma comensal da morte tramando contra a Ordem?

- Não! – Sophie deu um gritinho – Não é não! Ela está sendo perseguida! Christian tentou se aliar aos comensais para salvar a mãe, mas eles o descobriram. Na verdade, Amanda é uma espécie de “vingadora”. Ela tem treinamento de Auror, mas se juntou aos comensais... Como ela dizia, para pegar um Comensal, pense como um Comensal... Ela tem muitas mortes de comensais nas costas...

-Espera... – Harry não estava entendendo – Então, ela não era nem mocinha, nem vilã?
- Ela é mocinha e vilã...
- E Daniel? De onde ela a conhece?
- Do treinamento de Auror, claro... – Sophie falou como se fosse super coerente sua afirmação – Amanda foi para os Estados Unidos ter esse treinamento. Daniel é um amigo muito querido nosso... Só ele e meu pai sabiam dessa vida louca dela. Nós, Chris e eu, só soubemos após a morte de meu pai...

- Seu pai... É morto?
- Esse foi o motivo que me levou a abandonar Beauxbatons, que levou Amanda a voltar para Inglaterra, que levou Christian aos comensais da morte...
- Sinto muito... – Harry disse isso por não saber o que dizer.
- Não mais que eu... – Sophie voltou a admirar os lírios – Eu estava em Beauxbatons... Eu e Chris... Ano passado. Invadiram nossa casa em Cannes. Estavam só meu pai e Laura, minha irmã.... – Sophie começou a chorar quando começou a contar essa parte de sua história – eles estavam dormindo, Harry! Dormindo! Eles os mataram! E eles nem puderam reagir!

Harry não sabia o que fazer. Sophie estava ali, contando uma história triste, chorando copiosamente...

- Eu... Eu soube na Escola... – ela continuou antes que Harry pensasse em alguma idiotice para falar – E eu decidi, naquele dia... Eu ia me vingar. Custasse minha vida, mas eu ia me vingar.
- Somos dois...
- Somos muitos... – Sophie corrigiu – Eu não pensei duas vezes... Amanda voltou à França quando soube da tragédia. Contou para mim e para Chris toda a história louca dela e disse que voltaria para Inglaterra, para procurar vingança. Foi quando eu pensei que me alistar na Ordem, mas não pude... Afinal, eu tinha 16 anos... Só fiz 17 em agosto. Chris ficou sabendo do pai dele, o pai que ele sempre sonhou conhecer... Então, ele queria vir junto com a mãe, mas Amanda temendo a vida dele... Como se isso segurasse Chris... Ele é terrível, nada o amedronta, nada o intimida...

- Ele saiu ao pai... – Harry deu um leve sorriso ao dizer isso.
- Ah, você já sabe... – Sophie o olhou, curiosa.
- Que Sirius é o pai dele? Acabei de saber...
- Como?
- Você me contou. Eu joguei meu verde. Eu só suspeitava, na verdade... Agora você me confirmou...

- É... – Sophie desviou novamente o olhar e Harry já estava incomodado com aquilo. Era tão difícil fixar o olhar nele? – Amanda engravidou, mas nunca contou para Sirius. Sabe, eu a admiro muito por isso! Ela criou Christian sozinha... Ela era nossa vizinha, até minha mãe sumir e meu pai se apaixonar por ela.

- Sophie... – Harry não acreditava que aquela história teria um final feliz – Por que está me contando isso?
- Para que você saiba que estamos do seu lado – Sophie finalmente desabafou – Daniel, Chris e eu temos um pacto com a Ordem, como Draco o tem. Quando eu soube que não poderia fazer parte da Ordem, eu pedi para Dumbledore me deixar ao menos terminar meus estudos em Hogwarts... Daí ele teve a idéia de colocar a Draco também, como alunos de intercâmbio. Quando Daniel viu que seria importante mais um Auror em Hogwarts, pediu permissão para ser um “aluno” também. Daí, eu convenci Chris a pactuar conosco, e daí você já sabe...

-Sei... – Agora fazia sentindo, mas algo ainda incomodava Harry – E por que você não pode se aproximar de mim?
- Eu já disse! Era um plano

- Sophie... – Harry pegou levemente o queixo de Sophie, fazendo a garota olhar para ele – Não estou perguntando isso, eu digo agora... Por que ficar comigo estragaria seus planos? Que planos? Se você está com a Ordem!

- Como você sabe dessas coisas? Legilimente eu sei que você não é! Não depois do que Snape nos contou sobre suas péssimas habilidades de legilimente...
- Ele já espalhou isso por aí? – Harry fez cara de tédio – Não, isso quem falou foi sei irmãozinho...
- Ele falou, sim, mas não perto de você...
- Não interessa como eu sei, mas que planos são esses, então?
- Bom... Quer mesmo saber? – Sophie o encarou – Soubemos que Você-sabe-quem lê sua mente, e que você não sabe a bloquear. Se ele souber que estamos em Hogwarts, Chris e eu, Amanda está morta. Ele acha que estamos trabalhando para ele... Então, se eu estiver nos seus pensamentos, acho melhor pedir que te obliviem...

- Como não estaria nos meus pensamentos, se depois daquele beijo eu não penso em outra coisa senão em você? – Harry não agüentou – Aquele beijo não significou nada para você, mas para mim, sim...

Sophie ficou ligeiramente corada ao ouvir a declaração de Harry. Ela tentou desviar o olhar novamente, mas Harry não permitiu.

- Olha pra mim... Diz olhando para mim, nos meus olhos... Que você só me beijou por um plano para salvar a sua madrasta... E eu paro de pensar em você, eu paro de te importunar...

Sophie olhou dentro dos olhos do garoto. Manteve o olhar firme, mas não conseguia dizer nada, embora por várias vezes tivesse aberto e fechado a boca, como se tentasse emitir algum som, mas era em vão.

- Harry... Eu... – Sophie gaguejava, mas falou assim mesmo – Eu não te beijei só... Eu...
- Se eu te beijar agora... – Harry a mirava, se aproximando da garota – Você me bate, me empurra, me estupora... Aí, eu saberei que meu beijo não significou nada para você... Mas se você me beijar, Sophie... Eu saberei que você gosta de mim como eu de você, e desculpe, mas eu não vou desistir de você...

E dizendo isso, Harry aproximou seu rosto ao da garota, que não se moveu. Seus lábios se encontraram, ele fechou os olhos, talvez esperando um empurrão, mas isso não aconteceu. Ao contrário, Sophie retribui o beijo. Harry passou uma das mãos pelos cabelos da garota, que o abraçou forte. Os dois se beijaram apaixonadamente, como se esperassem por aquele beijo há muito tempo. Estavam despreocupados, mas não contavam que alguém estava ali, na entrada da Clareira, os observando atentamente.

- Que lindo... Parabéns, Sophie... Você é realmente uma pessoa de palavra... – Christian murmurou entre os dentes consigo mesmo.

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