Reconhecendo o Inimigo



Harry não podia esperar. Ao pensar nessa louca hipótese de Juan ser realmente Snape, ficou tão inquieto que se levantou novamente, indo ao encontro de Rony e Hermione.

- Eu acho que sei quem é Juan! – Harry vomitou as palavras de tão rápido e afobado que falou.
- Como? – Rony e Hermione perguntaram juntos.

- Snape... – Harry sussurrou, ao ver que chamara a atenção dos alunos mais próximos.
- SNAPE? – Rony gritou
- Obrigado, Rony... – Harry revirou os olhos e Hermione deu uma tapa no braço de Rony.

- Mas, Harry? De onde tirou essa idéia? – A menina perguntou, ainda olhando feio para Rony.
- Não é nada improvável, como nós sabemos... – Harry disse baixinho, esperando que eles entendessem o que queria dizer. – Ele implica comigo, me odeia nitidamente e não podia voltar para Hogwarts como professor...

- Ah... – Hermione sacou na hora – Rony, já terminou de comer, não é mesmo?
- Não...
- Já terminou, sim...
- Não acabei não, Hermi...
- Vamos... – Hermione não deixou que ele falasse mais nada, e o puxou para levantar. – Vem, Harry, tive uma idéia para sabermos quem ele é.

Os três saíram da mesa da Grifinória, seguindo para o Salão Comunal. Antes de saírem do Grande Salão, Harry deu uma última olhada para a mesa da Sonserina, mas os quatro alunos de intercâmbio não estavam mais lá.

- Esperem... – Harry parou abruptamente – Cadê o Juan?

Percorreu os olhos por todas as mesas. Viu Daniel e Draco juntos, conversando com alguns alunos da Lufa-Lufa, mas não conseguiu localizar Sophie e Juan. Perdeu algum tempo olhando, mas foi inútil: eles não estavam ali. Pensou besteira na hora.

- Eles não estão aqui... – Rony comentou, distraído – E para onde nós estamos indo?
- Salão Comunal, claro... – Hermione falou impaciente.
- Onde eles foram? – Harry estava começando a ficar nervoso.
- Eu não sei, mas vamos descobrir, Harry...

Hermione deu um risinho para ele, acenando para continuarem em seu caminho. Chegaram ao Salão Comunal da Grifinória, passando rapidamente pela Mulher Gorda, que cantava uma ópera horrorosa (“Cada ano que passa, ela consegue piorar! É incrível!” Rony resmungava). A menina começou a olhar em volta, para se certificar que os demais alunos ainda não estavam por ali. Geralmente, todos esperavam o fim do banquete. Estavam sozinhos, de fato, então, poderiam conversar mais abertamente.

- Harry, é fácil sabermos se Juan é mesmo Snape! – Hermione sorria.
- Ah, já sei! – Harry captou a mensagem imediatamente – O Mapa!
- Isso! – A garota deu um gritinho.

Harry imediatamente subiu para o Dormitório Masculino, onde seu malão já estava ao lado de sua cama. O abriu com pressa, remexendo em seus objetos, até encontrar aquele pergaminho precioso, que sempre o ajudara. Saiu correndo, tão desesperado que tropeçou e rolou uns cinco degraus da escada. Rony e Hermione, que estavam aproveitando sua ausência para se beijarem, se largaram rapidamente ao ouvir o barulho de Harry caindo escada a baixo.

- Harry! – Hermione correu amparar o amigo – Você está bem? Se machucou?
- Não, eu estou legal... – Harry levantava, olhando para seu próprio corpo, para se certificar que realmente estava bem.
- Belo começo para seu sétimo ano, Harry! – Rony não escondeu o riso – Eu nunca te vi rolando as escadas!
- Rony! – Hermione o encarou, aborrecida.

- Desculpa... – Rony tentava parar de rir – Mas foi engraçado!
- Está bem... – Harry ficou sem graça – Vamos ver logo, estou nervoso!

Eles sentaram em volta do mapa. Harry sacou sua varinha e dizendo “Juro solenemente que não irei fazer nada de bom” para ter acesso a toda a movimentação de Hogwarts. Começaram os três a percorrerem os olhos pelo mapa, procurando a descrição “Severo Snape”, mas não o localizavam de jeito algum. Harry, então, começou a procurar por “Sophie LaCroix” estampado no mapa. Logo, viu um pontinho se movimentando por um corredor, com a descrição procurada em cima. Havia outro pontinho ao seu lado, se movimento na mesma direção. A descrição fez Harry arregalar os olhos.

- Que foi? Encontrou? – Hermione percebeu a expressão do amigo.
- Vocês se lembram da visão que tive... – Harry cochichou, antes de mostrar o que vira – De alguém sendo torturado... Amanda pedindo para parar e tal?
- Sim, por quê? – Rony e Hermione se entreolharam, confusos.
- Lembram do nome que eu disse que ela gritou? – Harry disse, virando o mapa, para que os amigos vissem o que ele acabara de ver.

Ao lado do pontinho “Sophie LaCroix” estava um pontinho descrito por “Christian Stonebreaker”.

- Merlin! – Hermione estava chocada.
- Então... Ele é o filho daquela mulher! – Rony concluiu, sabiamente.
- É o que parece! - Harry não acreditava no que vira – Mas... Por que ele tem o nome da mãe? E não o do pai? Ela não era casada?
- Vai ver ele não é filho do marido dela... – Hermione deu com os ombros. – Ou não é filho, é irmão, parente...

- Sirius disse que ela não tinha parentes com esse nome – Rony lembrou.
- Mas que ele conhecesse... E se é um parente distante?
- Ela não estaria tão desesperada se não fosse alguém que ela amasse... – Harry acompanhava os pontinhos com os olhos – Ela não parece ser do tipo de mulher que liga muito para “parentes distantes”. Será que a Ordem sabe disso? – Harry não desviou o olhar dos dois pontinhos em momento algum. – Daniel... Temos que falar com ele! E se estiverem mentindo?

- Mas se a Ordem souber que esse garoto é filho, ou sei lá o que da Amanda... Então, estão do lado dela também, não acham? – Rony comentou.
- Pode ser, mas não saberemos até falar com alguém que realmente saiba... – Harry parara de falar, como se tivesse uma idéia súbita – Esperem, eu vou seguir esses dois, para ver se descubro algo...

- Harry! – Hermione se meteu – Não faz isso, ele já não vai com a sua cara, se provocar, vai ser pior...
- Relaxa, Mione, ele não vai me ver... – Harry piscou e mostrou a capa de invisibilidade – Bom, eu vou levar o Mapa, depois a gente se fala!

Ele deixou a sala correndo, com os olhos atentos à localização de Christian e Sophie. Ao se aproximar do ponto onde eles estavam, se escondeu atrás de uma parede e vestiu a capa. Se aproximou lentamente. Estavam andando, olhando para os lados, e Harry ia ouvindo o que falavam. Teve certa dificuldade, pois estavam praticamente aos sussurros.

- Você acha que eles são confiáveis, mesmo? – Christian perguntava para Sophie.
- Claro que acho, e você não deveria ter dúvidas quanto a isso! Eles estão te ajudando, tanto quanto a mim! – A menina respondeu, com tom de irritação.
- E se for só um joguinho? Do tipo, dão ajuda agora para ferrar a gente depois?
- Chris... Você tem outra opção? – Sophie parou e cruzou os braços, encarando o rapaz, aborrecida – Poderia estar em melhor situação do que a atual?

- Não, não poderia... – Ele também parou – Eu estou confuso, Sophie! Minha mãe! Está correndo perigo!
- Eu sei, Chris! Mas não temos nada para fazer agora! Eu quero tanto quanto você justiça! Sabe que sua mãe é como uma mãe para mim!

- Sophie... Se eu perder minha mãe... Nada mais fará sentido! Eu perdi Laura, perdi seu pai, que foi o pai que eu conheci...
- Eu vou vingar a morte de Laura e de papai, Chris... Eles eram minha família, é questão de honra! Foi para isso que vim para cá...
- E eu também! Quero vingá-los! – o rapaz bradou com raiva e Harry já não estava entendendo mais nada – Laura era minha vida!
- Você tem a mim, Chris, não se esqueça disso! Não podemos perder nosso foco, não agora! Estamos juntos nessa!

- Então, Sophie, fica longe do Potter! Vai estragar tudo se envolvendo com ele!
- Eu não estou me envolvendo com o Potter, Chris!
- Ah, não? E o beijo na festa? – Harry estava perplexo por baixo da capa de invisibilidade, e tentava anotar mentalmente todos os nomes que ambos falavam.

- Foi por impulso! Harry é muito bonito... Eu sou uma garota, estávamos dançando...
- Me poupa de desculpas idiotas, Sophie! Eu sei que você gosta do Potter! E ele de você, mas não vou deixar você ficar com ele...
- Chris, eu NÃO vou ficar com o Potter, dá pra para de me encher agora?

Sophie ficou nitidamente irritada e Harry se sentiu um inútil ao ouvi-la afirmar com tanta convicção que não sentiu nada além de um “impulso” por ele. Mas, pensou consigo mesmo, por que ela naquele dia ficara tão desesperada, dizendo que não poderia fazer aquilo, se não gostasse de fato dele? Só parou de se preocupar com isso quando escutou Sophie perguntar ao garoto o que ele queria muito saber.

- Por que tanta implicância com o Harry, Chris? O que ele te fez? Ele nem sabe que você existe!
- Mas eu sei que ele existe, sei exatamente quem ele é, um idiota que se acha muito superior aos outros, exatamente como minha mãe disse que o pai dele era!
- E daí? Não precisa ser o melhor amigo dele, mas não precisa tampouco ser arrogante e nojento como você tem sido...
- Eu sou aluno da Sonserina, Sophie! Se eu bancar o bonzinho, acho que me enxotam de lá, sabe? – Christian falou com tom de ironia – E tem mais, não defende o Potter! Foi por culpa do pai dele que...

Mas Christian não continuou a falar. Parou de andar do nada e Harry teve que parar também, pois estava exatamente atrás dele. Sophie o olhou, intrigada, esperando uma explicação. Por um momento delirante, Harry achou que ele sabia que estava sendo seguido.

- Sophie, Sirius é o padrinho desse babaca, não é?
- É sim, por quê? – Sophie ficou curiosa com a pergunta, assim como Harry também estava.

- Ah, que legal... A essas alturas, ele já deve saber que meu nome não é Juan...
- Como? – Sophie arregalou os olhos e Harry sentiu o coração disparar. – Sirius não te conhece, lembra? A Ordem não faz idéia de quem você é, a não ser Daniel e Draco...
- Não, sabem sim! Sabem que eu não sou Juan, muito menos espanhol...
- Não foi isso que eu quis dizer...
- Mas Harry saberá do meu sobrenome e vai ligar o nome ao da minha mãe. Lembra? Dan disse que ele teve a visão maluca dele, lá... E mais: Sirius não tem nada a ver com isso... Não diretamente.

- Dá pra explicar? – Sophie estava ficando nitidamente irritada.
- Não. Deixa pra lá... Eu acho melhor voltarmos e ficar perto dos alunos, vamos... Diremos que sentimos enorme vontade de conhecer Hogwarts e não pudemos esperar pelos monitores...

Harry estava tonto com tanta informação junta. Odiou Daniel por um momento, mas tomou a iniciativa de ir conversar com ele. E não poderia esperar. Estava tudo muito confuso, ele exigia uma explicação. Despiu a capa de invisibilidade, e novamente conferiu o mapa, para certificar que não seria pego de surpresa por alguém. Não havia ninguém por ali, mas ficou feliz ao ver no Salão Comunal da Grifinória o pontinho escrito “Draco Malfoy” logo ao lado do “Ginevra Weasley”. Decidiu voltar até lá e descobrir o que Draco sabia sobre o caso, pois ele era mais maleável que Daniel. Saiu correndo pelo corredor. Contudo, esquecera de conferir o Mapa novamente e acabou dando de frente com Christian, voltando ao lado de alguns alunos da Sonserina, e entre eles, Dafne Greengrass e Pansy Parkinson disputavam a atenção do garoto, ambas quase se jogando em cima dele. Blás Zabini, Tracey Davis e Emília Bulstrode estavam entre os alunos presentes, assim como Gregório Goyle e Vicente Crabbe, mais lerdos que nunca. Harry sabia que sem Draco, Crabbe e Goyle estariam provavelmente procurando outro líder, já que eram ainda mais idiotas que o de costume quando estavam sozinhos.

- Mira! – Christian avistou Harry, que se odiou por se deixar ver – Nuestro “herói”...

Os alunos da Sonserina romperam em risadas. Harry encarou com ódio o garoto, que ria debochadamente.

- Potter é um perdedor, Juan... – Pansy dizia, com ar de superioridade.
- Perdedor? Só? – Dafne ria exageradamente – Ele se acha o tal, coitado... Só não sabe que o fim dele está mais próximo que nunca...

- Eu não preciso ouvir vocês... – Harry saiu sem discutir. Era maluco, mas nem tanto de travar uma discussão, sozinho contra oito.

- Se dependermos de você para nos salvar, heroizinho... – Christian falava sem sotaque nenhum – Estaremos mortos antes do dia acabar.
- Vocês eu não sei, Juan... – Harry virou-se, falando com raiva e sem pensar – Mas sua mamãe, quem sabe...

Christian fechou imediatamente o sorriso.

- Repete isso, Potter, e você não terá tempo nem de deixar uma carta de despedida para seus amigos derrotados!
- Repetir o quê? – Harry deu um risinho cínico – Que sua mamãe está sob a mira do seu tão querido “Lord” e pode nem estar viva agora?

Christian não pensou duas vezes. Sacou a varinha na hora e partiu para cima de Harry. Ao perceber isso, ele também sacou sua varinha.

- Everte Statum! – Gritou Christian
- Protego! – Harry se defendeu – Estupefaça!
- Protego maxima! – Christian provavelmente era bom em duelos – Reducto!

Os dois começaram a duelar, ao passo que os alunos que ali estavam se afastaram, nervosos, olhando a cena abismados. Logo, Hogwarts inteira soube que Harry Potter e Juan Ramirez estavam duelando em pleno corredor. Draco, Rony, Hermione e Gina vinham correndo, avistando o duelo de longe. Sophie e Daniel também estavam correndo na direção aos dois que duelavam. Sophie se meteu na frente de Christian, quase sendo acertada por um feitiço estuporante.

- Ficou louco? – Sophie tinha lágrimas de desespero nos olhos – Pára já com isso!
- Harry, pelo amor de Merlin! Que está fazendo? – Daniel se colocou a frente dele, pálido.

- Ele me desafiou! – Harry gritou.
- Cala sua boca, Potter! Não se faz de vítima! – Christian retrucou – Eu não tenho medo de você, se você pensa isso! Não vai tirar vantagem comigo!

- Que palhaçada é essa aqui? – Filch chegara, acompanhado pela irritante gata, Madame Nor-r-ra – Os dois, Potter e Ramirez! Quero saber o que houve, agora!

Nenhum dos dois respondeu à pergunta de Filch. Harry e Christian se encaravam duramente. Ainda era estranho olhar para ele, Harry pensava, sentia que o conhecia. Não pelo fato de ser ignorante com ele, mas em sua maneira de se portar.

- Não vão dizer nada? – Filch riu sarcasticamente – Então, vou ter que levar os dois à Minerva. Que interessante, Potter, logo no primeiro dia do ano letivo, você já ganhará uma detenção...

- Eu comecei o duelo, velho estúpido! – Para espanto geral, Juan se pronunciou – Potter é tão patético que nem para isso ele serve!
- Que petulante! – Filch o encarou, frustrado – Chega em Hogwarts achando que pode fazer o que der na telha, rapaz? Eu sabia que trazer um espanhol para cá daria nisso...

- Não, em vim para Hogwarts convidado, para aprender sobre a cultura daqui, e não para ser ofendido por um idiota que se acha muito importante! – ele revidou com raiva – Potter me faltou com o respeito, e eu não tenho sangue de barata! Acho que ele deveria receber melhor um aluno de fora...

- Que baboseira! – Harry estava vermelho – Eu não faltaria com respeito se você desde que chegasse não implicasse comigo! Empatamos, meu caro! Eu também não tenho sangue de barata...

- Gina... – Draco sussurrou em outro canto do corredor, ele estava suando frio – Eu preciso voltar! Tenho que tomar a poção!
- Ah, Merlin! Vamos rápido! – Gina pegou na mão do garoto e saiu correndo – Hermione, Rony! Depois nos conte o que houve! Temos que ir!

- Qual o motivo da pressa? – Rony perguntou distraído, mas Hermione o dera um soco no braço.
- Ele tem que se acomodar, lembra? – a menina o fitou com severidade, enquanto ele esfregava o braço.

- Não quero mais saber de nada! – Filch continuou – Os dois! Potter e Ramirez, me sigam!

Os dois, que ainda se encaravam com raiva, seguiram Filch até a entrada da sala da Diretora. Durante o percurso, não se olharam ou trocaram qualquer palavra, ao passo que Filch murmurava com sua gata qualquer coisa do tipo “esses pestes pensam que podem tudo, mas não podem, não é? Eu sou tão esperto...” Chegaram finalmente na sala de Minerva, que os recebeu com um olhar fulminante e duro. Filch fez questão de contar sua versão da história.

- Ótimo, obrigada, Filch, mas agora nos deixa a sós... – Minerva ainda os encarava – Preciso ter uma conversa muito séria com esses mocinhos aqui.

Filch saiu acariciando aquela gata insuportável, mas não antes sem lançar aos dois rapazes um olhar de vitória. Ao se certificar que estava longe o suficiente para não ouvi-la, Minerva colocou as mãos nos quadris, encarando os dois como se fosse uma mãe. Harry, inclusive, se lembrou da Sra. Weasley por um momento.

- Vocês dois, estão loucos? Logo vocês, que achei que seriam melhores amigos?

Ao ouvirem Minerva, Harry e Christian se entreolharam, confusos.

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