O desabafo de Draco



Harry estava cochilando quando se assustou com a porta do quarto ao lado batendo. Não foi fechada brutalmente, mas seu sono era leve e ele acordou apressado. Ouviu passos na escada e lembrou-se que Sra. Weasley ainda estava no Largo Grimmauld, conversava com Draco desde a hora que ele descera com Sirius e os gêmeos.

Ele saiu silenciosamente de seu quarto, carregando uma orelha extensível que havia ganhado dos gêmeos Weasley antes das férias. Agora fazia todo sentido o bilhetinho que eles escreveram quando deram o suvenir para Harry: “Nunca sabemos quando o espírito da fofoca nos pega, e se não pegar... a gente finge que está possuído e fofoca assim mesmo!”. Harry esticou com cuidado o fio do objeto escada a baixo, torcendo para eles resolverem não ir para a cozinha.

- Então, Molly, conseguiu conversar com ele? – Sirius mirava Molly sério.
- Sirius, esse menino está apavorado! – Harry sentiu nervosismo na voz da Sra. Weasley.
- Apavorado? Ele é um impertinente de marca maior, Molly! Ele consegue ser mais irritante que o Severo, por mais incrível que isso pareça.
- Não fale assim, ele é só uma criança! Está apavorado com a idéia de perder sua família! Elese abriu comigo e eu estou realmente preocupada. A cabecinha dele está cheia!

Harry tentava digerir a informação: Draco Malfoy desabafando com Molly Weasley e apavorado. Isso parecia matéria de capa do Pasquim, algo que nem todo mundo acreditaria.

- Sirius, ele está se sentindo traído por Severo, que o ajudou em seu plano e denunciou a Dumbledore. Depois que todo trabalho minucioso que ele teve de tentar colocar os comensais dentro de Hogwarts foi desfeito por Severo, ele se desesperou, e me disse que Aquele-que-não-deve-ser-nomeado – Harry revirou os olhos de irritação, com o tempo gasto falando toda essa expressão, ele conseguiria falar Voldermort 3 vezes – Jurou que mataria sua família se ele falhasse! Entendeu? Ele não fez por mal! Fez pela família dele...

Pela 1ª vez em seus 6 anos de convivência conturbada com Draco, Harry se colocou em seu lugar. Pensou como agiria se fosse ameaçado dessa mesma forma e, chocado, concluiu que talvez agiria da mesma forma, mas não acreditou que tivesse coragem de matar Dumbledore.

- ...Imagine, Sirius, a cabeça dessa criança tendo os pais ameaçados! Ele foi levado pelo desespero!
- Pode até ser, Molly, mas esse menino é perigoso. Ele tende para o mau.
- Não pense assim, pense que ele pode ser bom, só precisa de apoio. Ao invés de fugir, ele preferiu o pacto com a Ordem, isso ao menos demonstra que ele na o é covarde.
- Entendo, Molly. Vamos ajudá-lo a descobrir o melhor dele, mas ele tem que querer ser ajudado também, porque se toda vez que tentarmos ele nos agredir, a comunicação ficará impossível.

Houve um minuto de silêncio, Harry não conseguia vê-los, mas imaginou que Sirius olhava Molly e ela estava com aquela famosa cara de quem queria falar mais alguma coisa.

- Sirius, eu sei que isso não tem nada a ver com a Ordem, mas tem um assunto que eu queria lhe falar.

Harry sentiu seu coração desparar. Sabia exatamente sobre o que a Sra. Weasley queria conversar. Desejou desvairadamente ouvir Sirius responder “nada que não seja ligado a Ordem me interessa, Molly!” Mas ao invés disso, o ouviu a pedir que falasse.

- Rony e Harry estão brigados. Eu insisti, mas Rony não me contou com detalhes o que houve e pelo visto, aliciou Hermione para não contar nada também. Só me disse que Harry foi grosso com Gina, mas sei que há algo muito mais grave por trás disso. Draco acabou de me contar algo muito estranho lá em cima. Você sabe de alguma coisa dessa história?

- Fazendo fofocas, Potter? Que feio!

Harry deu um pulo de susto e virou-se com raiva para encarar Malfoy. Agora que escutaria algo interessante de verdade, o metido havia aparecido. Olhou o garoto no intuito de falar alguma grosseria, mas se deparou com seus olhos inchados e uma cara de derrota, e, por mais estranho que isso parecesse, sentiu pena dele.

- Estava ouvindo mesmo, algum problema?
- Não, nenhum. Só estranho porque você, como um dos donos da casa, precise ouvir escondido.
- Eu não quis incomodar com a minha presença desagradável. – Harry esperava que Draco entendesse isso como uma indireta.
- Sei... Escuta, Potter, podemos falar um instante? - Draco falou sem graça, abaixando a cabeça em seguida – se você não quiser, problema seu, porque é de seu interesse.
- Não estou fazendo nada mesmo e acho que minha vida não pode ficar pior, portanto, podemos sim.

Harry e Draco entraram no quarto de hóspedes. Draco sentou-se na cama e Harry, em uma poltrona ao lado. Draco não encarava Harry e parecia não saber ao certo como falar. Harry batia com a mão no joelho em sinal de irritação. Ao perceber isso, Malfoy começou a falar mesmo sem premeditar as palavras.

- Potter, eu não vou com a sua cara e isso não é novidade.
- Não mesmo...
- Certo. Mas eu conversei com a Weasley mãe agora pouco e ela me incentivou a conversar.
- E você ouviu o que ela disse? – Harry arregalou os olhos, surpreso.
- Ouvi sim. Sabe, ela foi a primeira pessoa que me tratou bem, que quis realmente saber como eu me sentia depois daquele desastre todo... – Draco balançou a cabeça negativamente - enfim, eu posso não ir com a cara dela, mas sei reconhecer o seu esforço.
- Que lindo, Malfoy! – Harry ria debochadamente – e o que eu tenho a ver com isso?
- Sobre o que aconteceu entre você e Rony, eu sei que tem a ver com a Gina.

Ao ouvir Draco falar em Gina, Harry sentiu desejo de matá-lo. Sua raiva foi tão nítida, que Draco passou a encará-lo como se criasse coragem.

- Entenda uma coisa, Harry, eu sempre detestei a família Weasley. Acho que um bruxo traidor do sangue é tão bom quanto um trouxa!
- Sério, Malfoy? Eu ia morrer e não saberia desse seu pensamento...
- Sem gracinhas, Potter! Me dispus a falar com você, mas se for para ser irônico, acho melhor se retirar!
- Acho que você ainda não entendeu, Draco, essa casa é minha! Como você, um mero acolhido pode me expulsar assim?
- Eu tentei... Mas é impossível tratar de qualquer coisa séria com você! – Draco se levantou irritado, caminhando até a porta.
- Espera! – Harry bradou – Está bem, fala. Eu não vou interromper.

Draco deu meia volta e encarou Harry sério, mas não voltou a sentar-se na cama, e ainda próximo a porta continuou.

- Gina é linda, eu não preciso nem comentar isso com você, é claro. Eu sempre a achei a garota mais bonita de Hogwarts, mesmo sendo uma Weasley.
- Você e toda a escola... Não há um garoto que não ache a Gina linda, isso sempre me irritou! – Harry estava nitidamente morrendo de ciúmes.
- Mas, não precisa ter ciúmes... Ela não é mais a sua namorada.
- Até onde eu sei, nem sua, Draco!
- Chegamos onde eu queria.

Draco deu um sorriso vitorioso, andou lentamente até a cama sem tirar os olhos de Harry, que cerrou os dentes. Sentiu suas orelhas queimarem, temia o que escutaria, mesmo já sabendo exatamente o que era. Encarava Draco com a mesma intensidade, houve um pequeno momento de silêncio, quebrado por Malfoy, fazendo Harry sentir como se recebesse um soco no estômago.

- Gina e eu, juntos, Potter, é uma realidade. Queria que você soubesse que essa você perdeu.

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