Pacto de Fidelidade e Morte



- Sevinho, você veio! – Sirius sorria encenando surpresa – Eu adoro recebê-lo em minha humilde casa! Afinal, é sempre bom ter uma pessoa que nos ama tanto, assim como você me ama, por perto, não é verdade? Aceita um chá, amigão? Juro que não tento te envenenar de novo.

- Sirius, esse seu humor sarcástico é tão característico seu que eu nem me incomodo mais.- Snape falava com a voz arrastada, olhando Sirius com ar de nojo. – prefiro não ceder às suas provocações, acho mais sensato de minha parte ignorá-lo.

- Nossa, como você ficou esperto, sevinho! – Sirius batia palmas ironicamente – até que enfim aprendeu que não se discute quando se é um perdedor!

- Sirius... Deixe Severo em paz, por favor. – Harry virou a cabeça para fitar um Lupin cabisbaixo sentado à mesa – não começa com sua criancice.

- E desde quando eu te escuto, Remo?

- Não escuta? Pois deveria, Sirius, desde o dia que eu quero o melhor para você. – Remo levantou a cabeça e Harry pode ver que tinha novas cicatrizes pelo rosto e estava mais abatido do que nunca.

- Remo, eu não me importo – Severo falou sem tirar o olhar enojado de Sirius – afinal, meu conceito de perdedor é ser um ex-detento em Azkaban vivendo enclausurado nessa mansão sem nenhuma ocupação digna de um homem.

Harry viu Sirius ameaçar puxar sua varinha, mas ao mesmo tempo, Remo se levantou irritado da cadeira, fazendo com que caísse bruscamente, e ergueu a voz com um tom de raiva, fazendo com que os presentes voltassem a atenção para ele. Harry nunca tinha visto Remo ter tal acesso de raiva antes.

- Se vocês querem ficar trocando elogios, eu posso ir embora agora mesmo! – disse ele – eu não vim aqui escutar a mesma rincha idiota de quando vocês eram adolescentes!

- Faço minhas as suas palavras, Remo. Me retirarei se Sirius resolver aproveitar o largo tempo vago dele fazendo chacotas, já que o meu é precioso demais para ser gasto da mesma forma. – Snape ainda fitava Sirius.
- Esperem aí! – Harry ergueu a voz – Ninguém vai sair daqui até me explicar o que o idiota do Malfoy está fazendo lá em cima!

Os três homens miraram Harry, e ele, mesmo não sendo um perfeito legilimente, poderia adivinhar o que Snape pensava: “Esse Potter é realmente um moleque insuportável e atrevido, assim como seu pai o era”. Viu Remo recolocar a cadeira em pé e sentar-se nela novamente.

- Ah, quase esquecemos disso – Sirius bradou.
- Você ainda não contou para ele, Sirius? – Remo falou indignado, enquanto recolocava a cadeira de pé e sentava-se nela novamente.
- Irresponsabilidade... Que novidade – Snape caçoou.
- Não! Ele não me contou! – Harry estava impaciente – Mas eu exijo que me contem agora!

- Você está fazendo um ótimo trabalho com Harry, Sevinho – Sirius ignorou Harry – esse garoto está cada dia mais parecido com você: ignorante, resmungão, mal-educado e mal-humorado.

- Sirius, cala sua boca! – Harry olhou para Remo, que parecia ter lido seus pensamentos, pois essa era a frase que desejava falar para o padrinho naquele momento. – Será que você pode falar sério uma vez na vida? Nem os gêmeos Weasley são tão irônicos como você, eles sabem a hora de falar sério!

Harry imaginou que Remo não conhecesse tão bem assim Fred e Jorge Weasley para falar tal coisa, mas achou que um comentário sobre o assunto não seria nada pertinente na atual situação. Mirou Sirius e viu o padrinho olhando incrédulo para Remo, como se quisesse se certificar de que tal reação viesse dele. Sirius abriu a boca, fechou novamente como se engolisse uma frase que já estava para sair, suspirou e virou-se para Harry, certamente não querendo prolongar uma discussão com o amigo.

- A Ordem decidiu acolher Draco, Harry. Ele vai ser útil na localização dos comensais.

O queixo de Harry caiu.

- Vocês estão loucos? Draco armou para matar Dumbledore e, se não fosse Snape, Merlin sabe o que aconteceria a ele! Ele não está do nosso lado, gente, acorda! – Harry sentiu vontade de dar tapas nas caras dos três no intuito de despertá-los para sua realidade.

Snape deu um riso sinistro, que deixou Harry com medo. Era impressionante. Nunca o vira sorrir antes, mas teve a impressão de que ele era mais sombrio ainda quando ria. E entendeu que não era o único a pensar isso quando percebeu que as caras de Sirius e Lupin estavam praticamente tão admiradas quanto a sua.

- Você me subestima, Potter, assim como seu pai fazia – Snape olhava para Harry com a cara de nojo que era sua marca registrada – Acha realmente que sou um incompetente? Pois escute bem, seu moleque – Harry gemeu de raiva ao ser chamado dessa forma – Eu pensei em tudo, nunca deixaria Draco se infiltrar na Ordem sem antes garantir sua lealdade a nós.

- E será que eu poderia saber qual foi sua brilhante idéia para fazer tal coisa? – Harry falava entre os dentes – Conte e quem sabe você não ganha o prêmio de bruxo do ano por seus incríveis feitos.

- Você disse que ele estava cada dia mais parecido comigo, Sirius? – Snape deslocou o olhar lentamente de Harry para Sirius, sem mudar sua expressão – pois eu acredito que ele um misto daquele insuportável do Tiago e seu: Impertinente, atrevido, irônico...

- Fala de novo do meu pai e não responderei por mim!

- ...Ah, sim, e claro, com complexo de herói. – Snape novamente voltou seu olhar para Harry – Não que lhe deva explicações, Potter, mas para seu conhecimento, Draco e eu fizemos um pacto de fidelidade.

- Que inteligente! Genial! – Harry ria como um idiota e sem entender exatamente do que ria – E desculpa, mas me explica desde quando um pacto de fidelidade impede uma traição mesmo? Por que, pelo que me recordo, Pedro Pettigrew tinha um pacto desses com meus pais e os traiu!

- Não Harry – Lupin se antecipou – não era um pacto propriamente dito, Pedro era o fiel de um segredo, como somos daqui do Largo Grimmauld. É diferente. Severo está falando de algo mais sério que um segredo confiado.

- Exatamente. – Severo desfez a ruga de sua testa, certamente orgulhoso por Harry ter sido corrigido por mais alguém além dele. – Fizemos um pacto, Draco auxilia a Ordem no que ele puder em troca de segurança para ele e sua mãe, e caso minta ou traia a ordem, ele morre. Caso a Ordem o traia ou não o proteja, eu morro.

"Ele concordou com esse pacto, pois morreria de qualquer forma pelo seu fracasso no plano de matar Dumbledore. O Lord das Trevas está extremamente irritado com os Malfoy, assim como comigo também. Com Lucio preso, Draco teme por sua vida e a de sua mãe. E ainda que você questionasse se ele não é um suicida, Draco não é do tipo de pessoa que cederia sua vida por quem quer que fosse."

Harry estava confuso. Olhava curiosamente de Snape para Lupin. Nunca ouvira falar que existia um pacto assim, tão sinistro. Imaginou que Draco estivesse realmente desesperado para se propor a receber proteção da Ordem e permanecer no mesmo teto que ele e Sirius. Lembrou de como ele ficou louco ao ser impedido de matar Dumbledore por Snape. Ao pensar nisso, imaginou como Voldermort estaria também irado com o próprio Snape sabendo agora que ele não lhe era fiel, e sim a Dumbledore. Ao perceber a cara de dúvida em seu rosto, Sirius resolveu clarear seus pensamentos.

- Você nunca ouviu falar nesse tipo de pacto porque isso é mais uma das proezas do incrível Príncipe Mestiço. Algo sinistro assim só poderia vir dele e sua mente brilhante e conturbada. – Sirius tinha estampado no rosto um sorrisinho seboso.

- Acho que tenho que concordar com Sirius, pela 1ª vez na vida – Harry viu o mesmo tipo de sorrisinho cínico estampado no rosto de Severo – Ainda bem que temos uma mente na Ordem que não pense unicamente em chacotas e fanfarras, e trabalhe para o bem de todos, sem egoísmo.

- Essa idéia do pacto veio de Severo e foi aprovada pelos demais membros da Ordem, Harry – Lupin fez questão de cortar a conversa paralela – achamos que se Draco estiver aos nossos olhos, além de pouparmos sua vida, estaremos mais preparados para possíveis ataques. Draco nos confiou algumas ações programadas, podemos agir nas sombras sabendo os passos dos comensais. Eles imaginam que Draco esteja fora do país, inclusive.

- Eu fico muito feliz em saber que eu não sou um membro da Ordem, pois ninguém me consultou e nem sequer me informou sobre essa decisão. – Harry cruzou os braços em sinal de protesto – Também, que importa o Harry... Só porque ele tem uma parte do Voldermort dentro dele, não quer dizer que ele seja importante para nós. Talvez vocês estejam pensando inclusive em me matar, imagino. Seria uma Horcrux a menos, não é?

- Não fale besteiras, garoto! – Sirius deu um soco tão forte na mesa que Harry por um momento acreditou que ele havia levado a sério a história de matá-lo – Pelo contrário, estamos protegendo você! E você já tem uma missão à parte com Dumbledore, não se esqueça! Deixe as coordenadas da Ordem sob nossos olhos e fique tranqüilo.

Harry riu para não chorar. Será que Sirius realmente achava que ele poderia ficar tranqüilo, sabendo que era uma parte de Voldermort e conhecendo a profecia que literalmente o jurava de morte? E quanto as demais Horcruxes sendo procuradas por ele e Dumbledore?

Ainda restavam duas, sem contar com ele próprio. Será que eles acreditavam que encontrar Horcruxes era como pescar num dia de verão, que Dumbledore e ele ficavam sentados, batendo um papinho, tomando um suco de abóbora e esperando as horcruxes morderem a isca? Lembrava da AD, dos amigos que ele treinava para uma possível guerra, será que eles estavam cientes de que isso tudo girava em torno de sua vida?

Teve um delírio de se entregar a Voldermort e evitar uma tragédia maior, ficou tonto ao pensar nas vidas que poderiam ser perdidas em uma guerra, lembrou que seus pais morreram por um objetivo, ele poderia morrer por esse mesmo objetivo... Os pensamentos de Harry estavam o enlouquecendo, estava atônito, sentiu-se exausto e derrotado. Olhava os três homens a sua frente com ar de desespero.

- OK, me deixem fora dos assuntos da Ordem se quiserem. Mas eu não vou tratar o Malfoy como um rei só porque vocês têm planos para ele.

- Contanto que você não chegue a matá-lo, por mim, tudo bem. – Sirius sorria idiotamente. Snape revirou os olhos e Remo deu um guincho de impaciência.

- Perfeito. Algo mais que eu deva saber? – Harry mantinha os braços cruzados, encostado na parede.

- Creio que não, Harry, por que não vai descansar? – Lupin pela segunda vez se l
levantou da cadeira, andando em direção ao cabideiro, pegando seu sobretudo desbotado – Eu também não creio ser mais útil aqui agora, certo?

- Muito menos eu – Severo seguiu as ações de Remo, voltando-se para Sirius antes que saísse – Espero não ouvir reclamações vindas de Draco, não é porque ele está de favor em sua casa que ele tem que ser maltratado, não esqueça disso.

- Fica tranqüilo, Sevinho. Quando eu te desapontei nessa vida?

Snape encarou Sirius seriamente, em seguida lançou um olhar fulminante a Harry, como se dissesse “isso vale para você também” e saiu logo atrás de Lupin.

- O tempo passa e cada dia mais doce Sevinho se torna...

- Eu concordo com o que Fred e Jorge disseram uma vez sobre Snape, Sirius – Harry desencostou da parede onde esteve apoiado - Snape é como os um pacote de feijõezinhos de todos os sabores: Mesmo sabendo que tem um monte de porcaria dentro e provavelmente você não irá aproveitar nada dele, há quem goste e às vezes é bom arriscar.

Harry e Sirius riram. Harry sentiu-se um pouco mais feliz depois desse sorriso, o 1º sincero depois de mais de 15 dias de irritação. Deixou Sirius na sala, entrou no quarto, mas ainda não conseguia pegar no sono, mesmo com toda o cansaço que sentia.

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