Culpados



Capítulo 3- Culpados


-Eu avisei que esconder a verdade nos traria problemas.


Gina invadiu a sala e pegou a garota no colo, mesmo com toda a resistência de Lola em manter o corpo duro numa posição que ficasse difícil para Gina carregá-la. A ruiva passou pelo Chefe do Departamento dos Aurores lançando um olhar fulminante para ele.


-Sra. Potter! –exclamou ele, colocando-se na frente dela para que ela não pudesse passar- Sinto muito, mas a sua filha está sob a custódia do Ministério! E você e seu marido estão presos. Então não complique a sua situação, deixe a sua filha onde ela estava sentada e espere na sua cela até que eu a chame para interrogá-la!


Gina tremeu de ódio. Canalizando toda a sua raiva ela cuspiu na cara dele com toda força.


-Gina!


-Mãe?!


Lola saíra do estado apático em que estava e olhou para a mãe num misto de surpresa e admiração. Harry a encarava pasmo e Peter Hue estava totalmente sem ação.


-O senhor pode ser até o Ministro da Magia, se quiser. Mas se tentar me impedir de sair desse lugar com meu marido, minha filha e meus familiares, eu quebro a sua cara. De um modo bem trouxa, que vai doer muito.


Ela colocou Lola no chão e pegou a mão da menina, que já não parecia disposta a fazer pirraça e contrariar a mãe.


-Eu e meu marido estaremos na casa dos meus pais, se quiser me interrogar, vá até lá. Amanhã. Hoje a minha família estará muito ocupada para atender o senhor. Me entendeu?


Peter passou a mão pelo rosto retirando com nojo o cuspe e olhou furioso para ela.


-Eu vou lhe colocar em Azkaban...


-Você pode tentar fazer isso. Amanhã. Porque se aparecer por lá hoje, o senhor vai descobrir pelo pior jeito possível como os trouxas acertam as contas deles.


Gina saiu puxando a mão de Lola, que a olhava admirada. Sua mãe sempre pareceu calma e serena, uma professora e uma dona de casa perfeita. Mas a mulher que estava vendo ali não se parecia com sua mãe, estava descabelada e desarrumada e, além disso, estava violenta. Estranhamente Lola não estava assustada, sua mãe estava defendendo-a.


Gina escancarou a porta de uma sala e Draco Malfoy levantou-se assustado, e apontou a varinha para o peito dela quando ela entrou.


-Potter! Solte a garota e vá para sua cela!


Gina sorriu marota e olhou para a filha como se olhasse para uma criança de 5 anos. Ela abaixou-se e ficou de rosto colado com a morena de olhos verdes.


-Lola, você é uma bruxa e isso é muito bom. Mas você vai aprender que nem todos os bruxos são legais, e esse louro aguado que está apontando a varinha pra mamãe não é uma pessoa legal. Ele é o que nós chamamos de traidor, de vira-casaca. Além disso, ele sempre foi uma pessoa mesquinha, metida e esnobe, nunca foi de bom caráter... Então, o soco que eu vou dar nele é bem merecido. Mas não é certo agredir as pessoas, ok?


Draco abriu a boca para falar algo e protestar, mas Gina o atingira em cheio entre as pernas, e ele caiu de joelhos, urrando de dor. A ruiva estalou os dedos e com a mão direita fechada deu um soco bem no meio do rosto dele, que caiu no chão gemendo de dor.


Harry chegou e viu enquanto Draco caía para trás e Lola olhava de olhos arregalados para a mãe.


-Gina! O que você pensa que está fazendo?


-Aquilo que você não está.


Gina abaixou e pegou o molho de chaves de um Draco Malfoy que se contorcia e gemia no chão e entrou numa porta, saindo segundos depois de lá com o resto de sua família. Hermione correu para Lola, abraçando a afilhada.


Gina abaixou-se para conversar com Draco.


-Onde tem pó-de-flu e uma lareira?


Ele resmungou alguma coisa e ela revirou os olhos de impaciência. Seus irmãos olhavam para ela com uma cara de interrogação.


-Diga logo, Malfoy.


-NasaladePeter –respondeu ele num gemido.


-Obrigada.


Ela pegou a mão de Lola e saiu andando, os outros se entreolharam e a seguiram.


-Essa é a minha irmã... –riu Fred.


Ela entrou na sala onde Peter Hue estava sentado numa mesa escrevendo algo furiosamente.


-Olá, sou eu de novo. Você não se importa de usarmos sua lareira, não é mesmo?


-Sra. Potter! Eu juro que vou...


-Que bom que você não se importa! Petrificus Totalus! –lançou ela assim que viu que ele ia oferecer resistência.


Ela pegou um pote em cima da lareira e estendeu para a filha.


-Você vai pegar um pouco disso, vai jogar na lareira e gritar ‘A TOCA’, ok? Só saia quando vir a grade certa.


Lola não estava muito certa das cosias que sua mãe estava falando, mas era melhor não contrariá-la. Pegou o pó e jogou na lareira.


-A TOCA!


O que ela sentiu foi muito estranho. Tudo girava e ela percebeu que não gostava daquilo. Aliás, não estava gostando de nada desde que descobriu que era uma bruxa. Assim que ela saiu da lareira estava mergulhada numa maré de cabelos brancos e vermelhos.


-Pára com isso, vó!


Molly a abraçava muito forte e ela estava sufocando. Depois que Molly a soltou ela pôde ver Hilde conversando alegremente com Hilary e Doug.


-Olá, Lola! Que bom que você chegou! A Toca está diferente, não?


Sim, estava. Vinha à casa de seus avós poucas vezes ao ano, mas tinha certeza que nunca houvera uma vassoura que varria o chão sozinha ou pratos voando pela cozinha. Mas ela não pôde reparar demais, logo depois dela chegaram seus pais e seus tios.


Molly colocou os dois braços na cintura e seu rosto foi ficando cheio de um modo perigoso, de forma que todos ali sabiam que ela ia explodir em uma briga logo logo.


-Nem uma palavra, mãe –fulminou Gina- Se a senhora der um grito sequer, um berrinho que seja, eu pegarei as meninas e vou embora daqui.


Molly olhou com raiva para a filha. “Com certeza está me culpando por tudo” pensou a ruiva.


-A culpa também é sua! Se a senhora e papai não insistissem em falar com todos os trouxas da casa que Lola tinha recebido a carta, eu não teria saído de controle!


-Você não é mais uma garotinha para não aceitar ser contrariada!


-Oh sim, claro. ENTÃO REALMENTE ERA MUITO CERTO ESFREGAR NA CARA DAQUELES TROUXAS TODOS QUE A CASA ESTAVA INFESTADA DE BRUXOS!


Infestada.


Sua mãe e sua avó continuavam discutindo aos berros pela casa diante dos olhares atônitos de todos, mas Lola já não prestava atenção. A casa estava infestada de bruxos. Era uma boa expressão, porque Lola se sentia suja ou nojenta como se ela e tudo ligado à magia fosse uma espécie de inseto horrível e grande. Fechou os olhos, já não ouvia nada do que diziam.

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Harry entrou novamente na enfermaria. Lado a lado estavam mãe e filha, ambas desacordadas e descontroladas. Ele sentou-se num sofá pouco confortável e ficou observando as duas dormirem.


Era sua culpa?


Ele começara toda a mentira. Ele que insistiu em esconder das filhas que elas eram bruxas. Ele que privou Gina do mundo mágico que ela tanto amava e a fez viver como uma trouxa. Se já tivessem contado toda a verdade há muito tempo, se ele não tivesse insistido em fingir que já não tinha ligação com o mundo bruxo, e se não tivesse fugido de seus problemas e se acomodado por tanto tempo... Havia milhares de ‘se’ em sua cabeça, e todos eles apontavam a culpa para si mesmo.


A medida que as garotas cresciam, crescia também a preocupação de Gina e os alertas dela. “Vamos contar a verdade” ou “Vamos voltar para o mundo mágico” e ainda “Essa mentira não nos levará em lugar algum”. Por que diabos não ouvira a esposa?


-Harry, você é o filho da puta mais egoísta que eu conheço –disse para si.


A verdade era essa: egoísmo. Traumatizara-se com a magia e gostava de viver como trouxa, e por isso privou as três pessoas que mais amava de viverem num mundo que lhes oferecia muito mais que algumas viagens pela Europa e parques de diversões.


-Se eu não tivesse feito Lola acreditar tão fortemente que magia não existia...


Mas isso escapou mesmo ao seu controle. Nem ele mesmo pensaria que a filha pudesse ser tão... trouxa. Quem diria que ela e Hilde eram irmãs? Tão diferentes.


E ainda tinha Hilde. Pelo que Molly contara a garota ficara encantada com qualquer coisa mágica que lhe mostravam, até uma pena flutuando, mas a pequena ruivinha estava preocupada com os pais e com a irmã. Principalmente com a irmã.


Eu vi Lola se vestindo de preto, papai. Ela não ficava muito bonita” Foi o que a filha lhe dissera hoje mais cedo, quando ele esteve na Toca para pegar algumas roupas. Hilde estava impressionada com isso tudo, e devia estar tendo pesadelos. Droga, duas filhas para cuidar e não conseguia dar conta de nenhuma delas.


Gina se mexeu e abriu os olhos, e Harry se levantou num pulo para ficar ao lado dela.


-Gina, você está bem?


Ela o olhou com raiva e não respondeu. Levantou-se da cama e foi para o lado da filha.


-Ela já acordou alguma vez?


-Não. Está assim desde a hora em que ela desmaiou na Toca, mas o medibruxo que veio aqui garantiu que ela está bem, só ficou muito perturbada.


Gina acariciou o rosto da filha com cuidado e carinho, depois se sentou derrotada em sua própria cama.


-É minha culpa –disse ela tentando limpar as lágrimas que já desciam pelos seus olhos- Se eu não tivesse me descontrolado na frente dela. Eu tinha que ter sido forte... Ela ficou assustada. Já estava tão desorientada, e eu piorei tudo...


Harry abraçou a esposa bem forte e beijou o topo da cabeça dela.


-Se existe algum culpado nessa história sou eu, que inventei toda essa mentira e coloquei vocês nela. Mas eu te prometo, meu amor, que tudo isso vai passar e nós vamos ficar bem.


Houve um silêncio com o qual nenhum dos dois se importou, Harry continuou abraçando-a. Mas depois de alguns minutos ela soltou-se do abraço e o encarou de maneira firme.


-Eu também tenho minha culpa nessa mentira. Como eu me deixei levar por isso durante treze anos? –ela olhou para o chão, e voltou a falar como se fosse só para ela, esquecendo da presença de Harry ali- No início eu estava tão feliz e tão apaixonada, a guerra tinha acabado e nós estávamos casados. Então Lola nasceu e eu pensei que era hora de deixarmos aquela bobeira de trouxas de lado, mas você não quis... E por que eu não te enfrentei? Depois veio Hilde e novamente eu quis contar tudo para Lola, e criar Hilde para que ela soubesse quem realmente era, mas... Eu me pergunto, que amor era esse que eu sentia que me fazia viver uma mentira?


Harry não gostou do jeito que ela estava falando. Tudo no passado e fazendo parecer que nunca tinham sido felizes.


-Gina...


Mas ele não pôde terminar a fala. Lola mexera-se e abrira os olhos. Cada um ficou parado em seu lugar esperando a primeira reação da garota. A pequena morena olhou em volta e olhou para seus pais. Gina sentada na cama ao lado vestida com uma roupa de hospital e Harry, em pé, ao lado dela. Ambos a olhavam com uma expectativa enorme no olhar.


-Onde estou?


-No Hospital St. Mungus para Doenças e Danos Mágicos.


-Um hospital... Mágico.


-Sim, meu amor.


A garota inflou de raiva e Gina teve medo de que ela pudesse desmaiar novamente.


-Lola? Calma, você não deve...


-O QUE ACONTECEU COM A MINHA VIDA?


Harry deu alguns passos em direção à filha, mas ela estendeu o braço, num gesto de repudia.


-Eu quero que o senhor saia, papai.


Tanto Harry quanto Gina arregalaram os olhos, espantados. Lola sempre fora mais apegada ao pai, sempre pedia apoio para ele quando estava acuada numa discussão. Harry ficou olhando-a por alguns segundos, então girou nos calcanhares e saiu sem falar nada. Mãe e filha ficaram se encarando. Gina extremamente temerosa, Lola com uma expressão dura.


-Isso tem haver com ele, não é? Eu entendi a sua insinuação naquele... Ministério.


Como explicar? Sim, Harry tinha grande culpa, mas não podia fazer a filha pensar que o pai era um monstro.


-Tem muita coisa haver com Harry, sim.


-Como?


Ela fechou os olhos e se concentrou. Tinha que explicar de um jeito simples, mas que passasse a complexidade de tudo.


-Você gosta de números, mas você também conhece história. Pense em Hitler.


-Hitler?


-Isso. Agora pense se ele só tivesse ficado na Alemanha, e uma única pessoa tivesse o derrotado.


-Não entendo onde você quer chegar.


-Digamos que nós tivemos o nosso Hitler do mundo mágico, chamava-se Voldemort. E foi Harry quem o derrotou.


A menina continuava com um olhar confuso e irritado.


-Pense, Lola. Ninguém derrotaria um Hitler da vida antes que este lhe tirasse várias pessoas amadas. Harry perdeu muitas pessoas.


-Do modo como você fala parece que papai tinha a obrigação de fazer isso –disso ela com descaso.


-E tinha. Havia uma profecia. Em nome dessa profecia Voldemort assassinou os pais de Harry quando ele tinha somente um ano. Ele foi criado sem saber do mundo mágico assim que nem você, só descobriu quando recebeu a carta de Hogwarts.


-Ótimo! É bom mesmo você falar nisso... O que é isso? Que carta é essa?


Estava sendo mais difícil do que esperava. Lola não lhe deixava falar livremente, a interrompia o tempo todo. “Ela está confusa” tentou acalmar-se.


-Hogwarts é uma escola de magia e bruxaria, e aos onze anos você é chamado para estudar nela.


-Não vou para lá.


-Claro que vai. E lá vai ser bastante conhecida. Você é Lola Potter, filha de Harry Potter, o menino-que-sobreviveu, e o homem que derrotou Voldemort. Harry é quase uma lenda do mundo mágico.


Ela levantou-se da cama exasperada e irritada, andando de um lado para o outro e gesticulando muito.


isso que eu não entendo! Por que esconderam isso de mim? Que tipo de pais são vocês?!


Gina se levantou irritada e Lola recuou um passo. Ela viu quando a mãe a pegou e a deitou novamente na cama. Pensou que ela fosse lhe bater ou gritar com ela, mas Gina só deu uma ordem:


-Feche os olhos, Lola.


Ela obedeceu. Durante mais de um minuto ficaram em silêncio, e aquilo era muito confuso. Parecia só haver a escuridão, e por mais que soubesse que a mãe estava ao seu lado, ela se sentia perdida.


“Imagine que você não tem pai nem mãe. Você é criada por dois tios que te odeiam. A sua infância foi a pior possível...”


Normalmente ela nunca conseguiria imaginar algo assim, da sua infância só tinha boas recordações, mas no seu atual estado emocional lhe parecia quase realidade que não tinha ninguém e ninguém lhe amava. E isso era horrível.


Agora imagine que você encontrou amigos e pessoas que realmente gostam de você. Que estão do seu lado mesmo quando o resto do mundo parece pensar que você é m monstro. Você ama essas pessoas e elas são tudo para você. Amor, paz e segurança, é o que você sente ao lado delas”.


Lola se permitiu um leve sorriu. Esquecendo-se de toda a agitação dos últimos dois dias ela sentia-se novamente aconchegada em sua família. As festas de fim de ano, todos reunidos na Toca. Ela se sentia feliz e segura.


“Essas pessoas morreram, Lola. Morreram. Elas morreram. Morreram. E tudo isso é sua culpa.”


A garota apertou fortemente os olhos. Não queria que ninguém morresse.


-Todos morreram por sua culpa.


Não queria que seus pais brigassem.


-Morreram por sua culpa.


Queria sua vida de volta.


-Morreram por sua culpa. Por sua culpa. Por sua culpa. Por sua culpa. Por sua...


-PARE COM ISSO!


A garota levantou-se da cama aos prantos. Na verdade todo o seu corpo estava tremendo e ela estava tonta, vendo tudo girar. As lágrimas quentes eram expulsas pelo seu rosto e ela não conseguia parar.


-Pare com isso, por favor... –pediu ela num fio de voz.


Gina abraçou a filha fortemente e lhe beijou imensamente no topo da cabeça.


-É isso que seu pai sentiu toda vez que alguém morreu, Lola. Como se fosse culpa dele. Derrotar Voldemort não foi o suficiente para que ele superasse o trauma. Por isso ele se afastou do mundo mágico. Por isso, que nós escondemos tudo de você.


Lola continuou abraçada chorando no colo da mãe. Gina também estava chorando, doía muito ver o estado da filha, e doía mais ainda ver a que ponto sua vida chegara. Sentia-se frustrada.


-Não era culpa dele, meu anjo. Não era culpa dele. Mas Harry sentia-se obrigado pela profecia a derrotar Voldemort, e quanto mais ele demorava a conseguir matá-lo, mais gente morria. E Harry se culpava por isso. Mas não era culpa dele.


Gina abraçou a filha mais forte e a forçou a encarar bem fundo nos olhos dela.


-E a única culpa que eu tive foi amar demais o seu pai.


Lola entendeu o que sua mãe queria dizer. Mas quem é culpado por estragar é que deve consertar. E se dentro de toda aquela história não havia um culpado pela mudança na vida dela... Queria iria consertar tudo?
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N/A: E aí, pessoal? Mais um capítulo pronto. E se vc chegou até aki vc já sabe o q deve fazer... deixe uma resenha! Por favor, não custa nada...rsrsrs *momento criança pidona* por favor, não custa nada, só um minutinho... fala o q vc tá achando da fic!!! Bjusss, Asuka

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Comentários (1)

  • Natalie Mayer Black

    cara, tadinha da lola, eu até entendo ela.. mas tipo, QUE CRIANÇA NÃO QUER MÁGICA NA VIDA? dkaoskas enfim, estou gostando mto (:

    2012-01-30
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