Uma carta para Lola



Ela ficou sentada na cama com as mãos tremendo. Depois de 13 longos anos a magia batia à sua porta novamente.


A história é a história da luta de classes. Karl Marx.


Para toda ação há uma reação. Isaac Newton.


Posso não concordar com uma só palavra que dizes, mas lutarei até a morte pelo direito de dizê-la. Voltaire.


Frases trouxas aprendidas durante os últimos treze anos. Trezes anos vivendo como trouxas, aprendendo coisas trouxas e tentando se habituar aos costumes trouxas. E tudo agora havia chegado ao fim. Tinha nas mãos uma carta de Hogwarts. Uma carta para Lola.


-Justamente para ela? Por que ela não é a mais nova?


Ainda segurava a carta nas mãos quando a porta se abriu de supetão. Lola entrou correndo e se jogou nos braços de Gina.


-Bom dia, mamãe!


-Feliz aniversário, Lola –disse Gina dando um beijo na testa da filha.


-O que tem aí?


Gina olhou para a carta e rapidamente a guardou no criado mudo.


-É uma carta. Amanhã conversaremos sobre ela.


A garota deu de ombros. Lola Potter era uma garota de estatura média de olhos incrivelmente verdes, puxando ao pai e a avó, e longos cabelos negros. A pele bem clara e o rosto redondo, com algumas poucas sardas, puxadas da mãe. Ela estava usando um vestido laranjado e tinha os cabelos presos numa trança.


-Papai vai levar Hilde e eu ao parque de diversões. Você não vem com a gente?


-Mamãe tem muitos assuntos a resolver. Inclusive fazer nossas malas. Amanhã iremos para A Toca. Mas que você tenha um dia mágico, minha princesa.


Lola riu desdenhosa.


-Mágica não existe, mamãe –disse a garota dando um beijo no rosto da mãe, para depois sair correndo do quarto.


Mágica não existe.


Durante trezes anos tentou viver isso, e por todos os onze anos de vida de Lola a garota acreditara nisso. Mais até do que deveria. Lola não só se parecia mais fisicamente com Harry, mas também acreditava muito mais fácil no que ele dizia. Harry dizia “Mágica não existe” e Lola tomava isso como um lema de vida.


Gina suspirou. Sabia que um dia esse comportamento de Harry ia trazer problemas. Seria um verdadeiro choque para a garota. Lola brincara de boneca até os nove anos, mas nunca fora uma brincadeira comum, como a de qualquer garota. Ela sempre era uma professora e estava ensinando coisas racionais para seus alunos. Quando ela tinha oito anos, Gina percebeu que ela sempre falava de um tal de Newton. Começou a observar a filha e achou que Newton fosse algum coleguinha da escola por quem ela estivesse apaixonada, mas logo descobriu que se tratava de Isaac Newton, um dos mais importantes cientistas trouxas, que descobrira a gravidade após cair uma maçã em sua cabeça.


A matéria preferida da filha era matemática. Era muito boa para lidar com os números, e por conta própria lia alguns livros de ‘Física para crianças’, que Hermione dera de presente e que a garota simplesmente amava. Uma vez Gina comentara com Harry que Lola seria o tipo de neta trouxa que os Dursley adorariam ter. Harry achou o comentário engraçado, mas ela ficara horrorizada. Como iria contar um dia à filha que mágica não só existia, mas como também ela era uma bruxa, e uma bruxa filha de um herói do mundo mágico?


Estava aí todo o problema da questão. A fama de Harry. Após derrotar Lord Voldemort ele se tornara extremamente retraído, ainda traumatizado por tudo o que Voldemort tirara dele. Então um dia ele a pediu em casamento, mas pedindo para dar um tempo para ele, para que pudesse organizar suas idéias. Eles se casaram e foram viver como trouxas até Harry superasse o trauma. Há trezes anos viviam como trouxas.


No início Harry arranjara um emprego de corretor de seguro, e esse fora o motivo da primeira briga conjugal deles, Gina achava que com um emprego desse ele nunca iria voltar a ter vínculos com a magia. Ele largara aquele emprego e passou a ser professor do jardim de infância, para o alívio dela. Ela achava que convivendo com crianças Harry voltaria a ser o mesmo, e como incentivo também passou a ser professora, porem do colegial. Um ano depois eles trocaram de cargo, Harry não tinha paciência com as crianças, tentava inutilmente fazê-las todas acreditar que não existia magia.


Ela sorriu. Lembrou-se de alguns alunos que tivera, e que um dia descobriram ser bruxos. Quando ela descobria que algum filho de trouxa da região era um bruxo, Gina sempre ia fazer uma visita e conversava com os pais e com a criança durante toda a tarde. E nos outros anos quando as crianças voltavam passavam a olhá-la com outros olhos. Não era mais Gina, a professora do jardim de infância. Depois que voltavam de Hogwarts as crianças sabiam que ela era Gina Potter, mulher do Escolhido.


E não eram só as crianças que sabiam quem ela era. Muitas vezes quando ia ao centro fazer comprar, algumas pessoas a paravam e a cumprimentavam com uma constrangedora admiração. Lola não gostava dessas pessoas. “Quem são esses pessoas estranhas que cumprimentam você e o papai?” perguntara ela uma vez. Gina disse que não sabiam quem eles eram e Lola ficou irritada “Então por que os cumprimenta?”


-Eles sabem quem eu sou –disse Gina em voz alta, pensando na filha.


E ela, sabia quem ela era?


-Sou a mãe de uma garota de onze anos que amanhã entrará em crise.


Olhou para o porta-retrato e havia uma foto da família Potter. Harry de mãos dadas com Gina, e na frente deles duas garotas: Lola e Hilde.


-Elas são tão diferentes...


Hilde era cinco anos mais nova que Lola. Ao contrario da irmã, que era o xérox de Harry, Hilde era praticamente idêntica à mãe. Ruiva, de olhos castanhos, pele clara e varas sardas no rosto. Mas não era somente a aparência que as duas eram diferentes. Hilde acreditava em mágica. Não imaginava, é claro, que existia uma escola para bruxos e que em breve iria para lá. Mas Gina sabia que ela o olhar desconfiado que ela dava aos truques de Fred e Jorge estava muito mais perto da verdade que os olhares científicos de Lola.


Hilde não se incomodava com as “pessoas estranhas” que os cumprimentavam na rua. Achava aquelas vestes longas e com cores forte algo engraçado. Tudo o que não havia explicação era fascinante para Hilde, e um desafio para Lola. Quem as visse sozinhas sem saber quem eram seus pais nunca diriam que as duas eram irmãs.


Ela se levantou da cama e tentou afastar todos os seus devaneios. Começou a arrumar tudo manualmente quando olhou para o armário. Ficou parada por uns instantes e então abriu a ultima gaveta do armário. Bem lá no fundo, escondida por vários anos estava a sua varinha.


Olhou para o quarto e girou a varinha, num instante estava tudo limpo.


-Pronto! É tão bom pensar que eu fiz em um segundo o que levaria mais de dez minutos...


-Você fez mágica!


Ela olhou assustada para o lado e deu de cara com uma Hermione indecisa entre o espanto e a alegria.


-Ora, eu gastei quatro horas de trem para vir até aqui, quando eu poderia simplesmente ter aparatado... Mas, não, fui ser uma boa amiga. Vocês não queriam nenhum vestígio de magia...

Gina estava corada. Merlim, há quantos anos não ficava assim?


-Foi um impulso, Hermione...


A morena riu e deu um muxoxo com as mãos, abraçando a cunhada em seguida.


-Estou só fazendo hora com você, fico feliz que tenha voltado a usar sua varinha depois de tanto tempo. O que aconteceu para causar esse milagre?


O semblante de Gina se fechou e ela abriu a gaveta do criado-mudo, mostrando a carta de Hogwarts em seguida.


-A carta de Lola! Finalmente! Afinal, hoje é o aniversário de onze anos dela. Muito bom!


-Bom? Eu ouvi direito?


Hermione olhou confusa para a amiga.


-Algum problema, Gina?


-Hermione! Olhe sobre quem nós estamos falando: Lola! Lola lê “Física para crianças”, adora matemática e o ídolo dela é um professor de Química do ginásio... Como você acha que ela vai reagir quando descobrir que é uma bruxa?


Hermione ponderou as palavras de Gina por um segundo, dando um sorriso meio amarelo em seguida.


-Ela vai levar um choque, mas depois que entrar em Hogwarts vai se acostumar.


-Ela vai ter um trauma! Harry colocou na cabeça dela desde o momento em que ela nasceu que mágica não existe, e de repente o pai dela é um dos bruxos mais famosos do século! Ela vai se sentir enganada, traída. E com razão, diga-se de passagem... –Gina conjurou vassouras e baldes que começaram a limpar a casa sozinhos, então se jogou na cama- Tantas vezes eu falei com Harry que devíamos contar a verdade...


Hermione tinha suas dúvidas se a situação era tão grave quanto Gina imaginava, mas começava a perceber que realmente Lola ia fazer um escândalo. Vinha tempestade pela frente.


-Quando você pretende mostrar a carta para ela?


-Amanhã. Hoje é o aniversário dela, vou deixá-la aproveitar o dia. Até porque haverá amigos trouxas dela aqui em casa e eu tenho medo que ela faça um escândalo ou fale demais... Daqui a pouco vou fazer as malas, amanhã cedo nós vamos de carro para A Toca. Antes de nós irmos eu vou conversar com ela.


-E o que Harry diz a respeito?


-Ele nem viu a carta ainda. Levou ela e Hilde ao parque de diversões...


Hermione riu quando pensou em Hilde.


-Aposto que Hilde vai adorar a novidade.


-Claro que vai, creio até que ela já desconfia de alguma coisa. Quem sabe ela não ajuda a irmã a aceitar a situação...


As duas ficaram sentada na cama em silêncio olhando uma para a outra, sem saber o que fazer. O silêncio só foi interrompido quando, alguns minutos depois, a campainha tocou. Gina desceu as escadas e abriu a porta. Fred e Jorge, carregando um embrulho enorme.


-Olá, Gina! –disse Fred entrando de costas.


-Olá, maninha! –acrescentou Jorge- Hey, Fred, cuidado, ou vai cair no chão!


Gina fechou a porta bufando.


-Vocês estão sem bagagem. De novo.


-Ora, Gina. Já está na hora das meninas saberem que nós não pegamos um trem demorado para vir até aqui –disse Fred impaciente.


-Eu pego –disse Hermione descendo a escada.


-Você é louca –riu Jorge- Viajar como trouxa é a pior coisa que existe.


-O que é isso? –perguntou Hermione, olhando para os gêmeos.


-A carta já chegou? –questionou Jorge, ignorando a pergunta de Hermione.


Gina assentiu com a cabeça.


-O que é isso? –perguntou Hermione mais uma vez, desta vez com um tom de impaciência na voz- Vocês não trouxeram nada suspeito, não é? Porque aquele mini-Einstein que explicava a teoria da relatividade do ano passo foi absurdo!


-Ela gostou –disse Fred com naturalidade.


-Mas ficou desconfiada! –acrescentou Gina- Trouxas não fazem bonecos de Einstein, muito menos bonecos animados que respondem perguntas sobre a teoria da relatividade!


As duas mulheres ficaram olhando impacientes para os gêmeos, que fingiam estar ofendidos por serem questionados.


-Afinal, o que é isso? –perguntou Gina, com a mão na cintura.


-Um planetário –responderam os dois em uníssono.


-UAU!


Com um estrondo a porta se abriu e um bolo de cabelos negros se jogou em cima de Fred e Jorge.


-Um planetário de aniversário? –perguntou Lola sorrindo até as orelhas.


-Lola, vocês não deviam estar no parque de diversões? –perguntou uma pálida Gina olhando intrigada para Harry, que estava parado encostado na porta.


-O parque foi fechado hoje de manhã e deve ficar assim pelo resto da semana –respondeu Harry- Os fiscais estiveram lá e fecharam o parque até que todos os brinquedos passem por uma rigorosa manutenção.


Fred soltou Lola, que ficou parada em frente ao presente que era um poucos vinte centímetros menor que ela.


-Posso abrir?


-Vá em frente!


A menina rasgou os papel de presente e em segundos. A menina ficou paralisada.


-Eu não acredito nisso...


E não dava para acreditar mesmo. Uma enorme bola negra estava fixada em cima de um suporte, dentro da bola negra havia uma luz, o sol, e vários planetas orbitando em volta. Cada planeta do sistema solar com suas respectivas características e luas. Era perfeito.


-Como eles se movem? –indagou ela para si mesma, colocando a cara encostada no vidro- Eu não vejo fios que os sustentem e os desloquem...


-Ah, os presentes que tio Fred e tio Jorge dão são sempre assim meio inexplicáveis –insinuou Hilde olhando o presente da irmã com uma cara marota.


Fred riu.


-Ora, é claro que isso tudo está encantado. E deu muito trabalho.


Gina, Harry e Hermione ficaram brancos ao mesmo tempo que Lola franzia o cenho e Hilde ficava espantada. Gina, que estava atrás das duas filhas, arregalou os olhos para os gêmeos e balançou a cabeça, sibilando “não” com os lábios.


Jorge riu amarelo e olhou para a caixa de correio.


-Acho que uma carta deve ter chegado hoje...


“Mas eu não contei a ela!” sussurrou Gina furiosa. Os dois então forçaram uma gargalhada.


-Poxa, Lola, você acredita em tudo mesmo... –disse Fred.


Lola continuou séria olhando inquisidoramente para os tios.


-O que quis dizer com encantado?


-Que ele conhece os fabricantes e que provavelmente eles tiveram muito trabalho para convencê-los a fazer essa peça exclusiva para você –disse Harry abraçando a filha- Então é claro que não podem contar como foi feito. Seria descortês.


O rosto da garota se iluminou em compreensão e ela abraçou os tios.


-Muito obrigada pelo presente! Imagino o trabalho que deu...


Fred e Jorge olharam diretamente para Harry e Gina quando responderam:


-Você não sabe o quanto...


Harry passou a mão pelos cabelos ainda desconcertado. Mas pegou o planetário e o levantou.


-Vamos levar isso para o seu quarto, Lola?


A garota saiu acompanhando o pai e ficaram os gêmeos, Hermione, Gina e Hilde no hall.


-Esse presente é lindo mesmo –comentou Hilde, sorrindo como se desconfiasse de algo- Mágico, não?


Gina suspirou. O fim de semana seria longo.

________________________________________________________________

N/A: Olá pessoal! Já tava com a idéia dessa fic desde o ano passado, mas realmente não tive tempo de escrevê-la antes. Bom, o projeto inicial é ser um fic relativamente pequena, sem muitos capítulos, e esses de tamanho médio, mas dependo dos cometários e do que vocês pedirem quem sabe eu não acrescento alguma coisa... Se você chegou até aqui, entre para a Campanha "faça uma autora feliz" e deixe a resenha!!!rsrs Bjusss e até a prózima.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.