A manhã seguinte

Acordei deitada em minha cama, nua em baixo das cobertas. A claridade em meu quarto deixou meus olhos cegos por um momento. Minha cabeça girava, devido à alta ingestão de bebida alcoólica que eu tomara na noite anterior. Flashes do que havia acontecido, fizeram minhas bochechas corarem. Tudo o que conseguia pensar era “Perdi minha virgindade com Malfoy”, alguma coisa nesse pensamento, não parecia correto, era vulgar e sujo, acordar ali sozinha, depois do momento que tivemos, juntos... Como olharia para ele, depois do que havíamos feito?

Lembro de Lílian me contando sobre sua primeira noite com Richard, ela falara que ele havia sido carinhoso, do começo ao fim, acordando-a não só com beijos, mas com um café da manha na cama. Como vou contar o que aconteceu para ela? Não, definitivamente não posso contar sobre isso para ninguém! Fingir que nada aconteceu é uma ótima idéia...

 

“Péssima idéia!”, pensei ao me levantar, minha cabeça girava violentamente. “Então isso é ressaca?”, segui em direção ao banheiro do meu quarto, sem me preocupar de fechar a porta, ninguém entraria ali. Tomei um banho quente e demorado, que fez um pouco da minha energia, voltar. Enrolei a toalha em meu cabelo e voltei para o quarto à procura do meu malão. Parei em frente ao espelho, e tive que colocar minha mão na boca para conter o grito que se seguira.

- Mas que diabos aconteceu com meu pescoço? – Falei, em meio aos meus próprios berros assustados. Chegando mais perto da minha imagem refletida no espelho. – Mérlin! – Olhei para as varias manchas ao redor do meu pescoço e seios, elas eram pigmentadas de três cores, vermelhas, roxas e em alguns pontos, chegavam a ser preta. Minha cintura estava cheia de pontinhos roxos e claros, assim como minhas coxas, e eu soube então, que eram devido a apertões... – Eu vou matar o Malfoy!

Meu malão estava em um canto do quarto, abri a procura de alguma blusa com gola alta, até achar uma preta, coloquei a camisa da escola por cima, postando meu cabelo, estrategicamente na frente de alguns chupões que a blusa não escondia, vesti então a saia pregada que fazia parte do uniforme. Encontrei meus sapatos ao pé da cama, e desci apressada para o Salão Principal. Alvo, Hugo e Lílian estavam sentados distante de todos os outros alunos da Grifinória. Segui em direção a eles.

- Porque demorou tanto? – Lílian me perguntou assustada. – Estava indo te procurar...

- Pelas barbas de Merlin, fala que você vai tirar essa blusa. – Hugo falou me encarando. – Ta me dando calor só de olhar...

- Rose, priminha, estamos atrasados para a primeira aula... – Alvo falou, impedindo que eu sentasse ou respondesse qualquer pergunta. – Come andando, ou não come. – Disse jogando uma maça em minhas mãos treinadas de goleira. Minha dor de cabeça fazia meus olhos girar. Alvo puxava-me pelo braço, andando para a aula de Transfiguração. – Hugo, Lílian, vejo vocês mais tarde.

- Alvo, para de me puxar. – Disse irritada, minha cabeça doeu em protesto a careta que eu fiz.

- Ta estressada porque? – Alvo parecia ofendido.

- Desculpe, Alvo, querido, apenas acordei tarde e estou irritada, com dor de cabeça. Ah, você sabe, coisas de mulher... – Ele ficara constrangido com minha pequena mentira, mordi a maça que estava em minhas mãos, para evitar conversar.

Chegando em frente à sala de Transfiguração, a porta ainda estava fechada, e alguns alunos se juntavam no corredor, a espera de McGonagal, fiquei brava com Alvo por um momento, ao perceber que eu poderia ter tomado um café da manha descente.

- O Malfoy não perde tempo... – Alvo sussurrou irritado. Por uns instantes achei que ele tivesse descoberto alguma coisa, mas ao seguir os olhos dele, vi Harriet Vaughan, o abraçando feliz demais para o meu gosto, enquanto ele conversava com alguns amigos que estavam chegando. – Olha aquilo... – Alvo falou indignado. - Se alguma menina fizesse comigo, o que fizeram com o pescoço dele... – Não ouvi nada que Alvo falava, estava com meus dois extremos brigando entre si, a vergonha e o ciúme. – Ele deve ter se dado bem nas férias, não é?

- É, ele realmente não perde tempo. – Praticamente cuspi as palavras ao vento. Olhava para Vaughan que ainda o abraçava feliz, meu ciúme vencendo a briga interna, principalmente depois do falso sorriso, que Harriet deu em minha direção. Minha vontade era de matá-la por chegar tão perto dele, o que me assustou, pois nunca, nunca, senti tanta raiva.

Minerva chegou em instantes, abrindo espaço entre os alunos e entrando na sala, todos a seguiram, e Alvo teve que me puxar para eu sair do lugar. As lágrimas foram educadas o suficiente para não se derramarem, e eu fiz um esforço gigantesco para segurá-las dentro de mim.

Não prestei atenção na aula, acreditem se quiserem. Minerva falava alguma coisa sobre os NIEM’s e o que poderia cair no teste, soube disso apenas porque Alvo anotava todas as informações com certo desespero. Encarava Malfoy e sua “amiguinha” descaradamente, pude ver, perfeitamente, o pergaminho que passavam um para o outro. E o sorriso de Harriet, aquela loira aguada, se alongar cada vez que pegava o pergaminho nas mãos. Quando a sineta tocou, juntei todas as minhas coisas o mais rápido que pude e sai correndo para fora da sala, Alvo logo atrás de mim.  

- Rose, espera. – Alvo dizia enquanto tentava acompanhar meus passos pesados. – Onde você está indo?

- Esqueci meu livro de poções, Alvo. Encontro você no Salão Principal está bem?

- Eu vou com você. – Ele falou colocando seu braço por cima do meu ombro, acompanhando-me no meu ritmo apressado. Quando chegamos ao segundo andar, encarei a estátua da Menina e da Cesta, praticamente gritando: “Coração de Dragão”.

A estatua abriu passagem e corri para o meu quarto, enquanto Alvo se acomodava na poltrona vermelha. Abri meu malão com fúria, comecei a tirar tudo de dentro, até encontrar uma malinha pequena, com uma cruz vermelha desenhada ao plástico. Achei o vidrinho que estava procurando, seu rotulo dizia claramente: “Dor de Cabeça”, ao abrir a tampinha à voz de mamãe inundou o quarto “Só tome em necessidade extrema”. Típico de mamãe, fazer esse tipo de coisa. Embora ao ouvir sua voz, eu tenha me acalmado, virei o conteúdo do frasco na boca.

As lágrimas que eu tanto segurei caíram em estrondo, lavei meu rosto na pia do banheiro, ao olhar para o espelho um pensamento passou voando na minha frente: “Não era você que fingiria que nada aconteceu? Engula esse ciúme ridículo. Agora!”. Enxuguei meu rosto na toalha, peguei novamente a minha mochila, o livro de poções que já estava dentro dela, o tempo todo e desci as escadas até o salão comunal dos monitores-chefe. Alvo rodava em minha poltrona feliz da vida.

- Vamos Alvo? – Perguntei, sentia-me bem melhor depois da poção.

A porta que dava para o corredor abriu, vi Malfoy fazer menção de entrar, mas ao ver Alvo ao meu lado, deu meia-volta e saiu pelo corredor. Sem falar nada, segui com meu primo para fora do salão comunal, e fui almoçar.

- Você poderia comer mais devagar, irmãzinha? – Hugo perguntou ao se sentar. – Hoje você realmente está me assustando. Comendo desse jeito, e usando essa gola num tempo tão gostoso como esse...

- Para a sua informação, querido irmão. – Disse ao engolir a ultima garfada. – Não está tão quente assim, e... – Parei para engolir outra garfada. – Eu não tomei café da manha...

- Outra coisa que me assusta. – Hugo falou sentando-se na minha frente. – Nunca vi você tão atrasada e tão mal humorada, como hoje.

- Minha nova cama é mais do que confortável. – Disse soltando outra mentira. – Meu sono de beleza se estendeu. – Coloquei meu cabelo para trás, esquecendo-me do real motivo dele estar praticamente dentro do meu prato de comida.

- Rose, o que é isso no seu... – Lílian olhou arregalando os olhos para o meu pescoço. – No... – Alvo e Hugo encaravam-na esperando que ela terminasse a frase. – Seu... – Ao ver meu desespero em cobrir meu pescoço, apontou sem jeito para a mesa. – No seu copo?

- Vocês duas estão loucas? – Hugo falou se levantando. – SUCO DE ABÓBORA, LÍLIAN, O MESMO DOS OUTROS CINCO ANOS! - Alvo começou a dar risada. Eu ajeitava a gola da blusa preta desesperadamente, colocava o cabelo na frente do meu pescoço.

- Estou satisfeita. – Falei tão rápido que nem ao menos eu me entendera. Tomei um grande gole do suco de abóboras enquanto Lílian se levantava rapidamente. – Quer conhecer meu quarto novo, Lily?

- Adoraria. – Segui mais uma vez para o segundo andar, dessa vez Lílian logo atrás de mim. Nem entrara direito no Salão Comunal dos Monitores, quando Lílian se jogou na minha poltrona. – Quem fez isso no seu pescoço?

Meu cérebro, anormalmente rápido, não sabia o que pensar. Invento uma mentira, conto a verdade ou uma meia verdade? Conhecendo Lílian e sua aversão a família Malfoy, optei pela meia verdade e a mentira descarada.

- Lembra do bar que agente foi? – Lílian assentiu com a cabeça. – Lembra que eu sumi por um tempo? – Ela assentiu mais uma vez, com um sorriso no rosto. – Então, eu estava na área VIP com o... Phill... – Era esse o nome dele? – E agente deu uns amassos e... – Agora vinha a meia verdade, ou então, a meia mentira... Não podia contar para Lílian, que eu tinha perdido a virgindade com um Malfoy, mas podia contar a ela que havia perdido, certo? – E agente transou. – Sorri ao lembrar da noite anterior, e de como tudo soava mágico em minhas lembranças.

- VOCÊ PERDEU A VIRGINDADE COM O PHILL? – Lílian gritou tão alto que me fez lembrar da noite em que ela me contara sobre Richard. – E como foi? – Ela perguntou segurando os braços da poltrona vermelha. Ansiosa por mais informações.

- Foi maravilhoso, Lílian. – Sorri lembrando de Scorpius mais uma vez, e da noite que havíamos tido, até que lembrei de Harriet agarrada á ele momentos atrás. – E ai...

- Então a Weasley perdeu a virgindade num bar? – Scorpius perguntou descendo as escadas dos dormitórios. – Que emocionante! – Meus olhos se arregalaram em sua presença, e o olhar de nojo com que ele me olhou antes de sair pela estatua, fez meu estomago revirar.

- Você não acha que ele vai falar para alguém, não é? – Lílian me perguntou com um sussurro assustado.







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