Fantasmas de natais passados.

Fantasmas de natais passados.



Cap. 15 - O fantasma dos natais passados.


Jack abriu os olhos lentamente. O ambiente levemente escuro deixava-a ainda mais atordoada. Sentou-se. Percebeu que a cama era demasiada alta para ser a do próprio quarto, então constatou: Estava na enfermaria.


Frascos de poções calmantes estavam dispostos sobre um criado-mudo, iluminado por um pequenino candeeiro, cujos raios de luz produziam um circulozinho tremeluzente que possibilitava a visibilidade de parte de um chapeleiro, onde ela percebeu que as próprias roupas de festa estavam penduradas cuidadosamente...


Ela voltou a atenção ao próprio corpo. Tocou a barriga... - Hummm – ela gemeu baixinho sentindo o prazer da maternidade... Mas estava preocupada com sigo mesma. Havia ficado muito nervosa, e aquilo poderia ter prejudicado seu bebe... Então sentindo uma angustia, sua garganta travou com um nó a medida que voltavam as lembranças dos acontecimentos no escritório de Dumbledore. Aquela premonição... Oh céus! Oh céus! Severus estava se colocando em risco sem nenhum receio de morrer, e aquilo era terrível, mas seria insuportável se além de tudo perdesse seu bebe. Carne de sua carne. Um pedacinho dela e de Severus que havia virado um pequeno ser. Ao pensar nisso um par de lágrimas rolaram de seus olhos. Era cruciante, insuportável, e ela preferiria morrer antes que algo acontecesse ao filho.


Num vislumbre, Jack lembrou-se da premonição terrível que havia tido: A morte do pai de seu filho... Como poderia ela proteger um homem que não queria viver? E então, sem clemência sua mente levou-a às palavras de Dumbledore: “A divida de Severus tem como preço a própria vida” - Jack mordeu os lábios e respirou profundamente buscando o auto controle - Mas era inútil: as lágrimas rolaram, e neste momento ela levantou os olhos para o teto e tapou a boca com as duas mãos para que seus soluços de choro não despertassem Madame Pompy, que com certeza já havia se recolhido.


- Não se exalte... – disse a voz de tom barítono de forma titubeante. E um barulho de móvel rangendo (provavelmente um cadeira) pode ser ouvido. Snape, que havia ido a festa de Slugorn na noite anterior após abandonar Jack e Dumbledore falando sobre verdades a seu respeito, havia descoberto que a moça havia passado mal assim que saiu da festa atrás de Draco. Havia tido uma conversa nada amistosa com o moleque mimado. Tentara arrancar algo sobre o plano que o garoto estava arquitetando, porem, nada havia adiantado: O menino permanecia-se firme na decisão de não contar-lhe nada... Mas agora a única coisa que lhe importava era o que acontecia naquela enfermaria.


Ela tivera uma crise nervosa... Eram apenas 6 horas da tarde quando ele fora com Jack ao escritório de Dumbledore. Provavelmente, agora, no inicio da madrugada, a festa de Slugorn estava em seu ponto alto. Ele sabia que deveria estar na festa, vigiando Potter, procurando saber sobre Draco através de seus amigos de casa que haviam sido convidados também... Mas pela primeira vez em anos, ele conseguiu colocar maldito Potter de lado. Sua mente ocupava-se em preocupar-se com Jack e... e... ... E seu filho! HORAS! E SEU FILHO! POR QUE ELE SE PRIVAVA DE ADMITIR QUE SERIA PAI!? QUE TERIA UM FILHO SEU?! SANGUE DE SEU SANGUE!!!


Ele havia passado todo o tempo sentado em um canto da enfermaria, oculto pelas sombras, apenas observando cada movimento de Jack... Sempre a observar-lhe a respiração que provocava o subir e descer do tórax dela. Era reconfortante para ele tal visão, pois provava fisicamente que ela estava bem... Tão bela a silhueta feminina deitada com uma pequena montanha na altura do umbigo... Era seu filho.


- Não quero que nada de mal aconteça a você ou ao ‘nosso filho’ – Ele disse controlando o tom de voz para parecer o mais natural o possível. Entretanto os olhos de Jack brilharam em uma intensidade tão reveladora, que ele soube que sua tentativa de parecer natural passou desapercebida.


Jack levantou-se acomodando os travesseiros em suas costas, e sorriu despretensiosamente. Um sorriso radiante. E Snape não teve como conter, respondeu ao sorriso dela involuntariamente com um sorriso.


Ela exercia um poder diferente sobre ele... E aqueles olhos brilhantes... Aquelas mãos macias... A pele de textura de pêssego... Os lábios rosados... A forma como ela o deixava a vontade... O toque carinhoso e macio que ela insistia sempre em dar a ele sem motivos... O jeito carinhoso com que ela o olhava, a maneira doce de sorrir e reconforta-lo... ‘Merlin... O que é isso?!’ – Snape pensou sentindo uma palpitação angustiante e ao mesmo tempo deliciosa no peito.


- Sim... – ela disse sorrindo de todos os dentes. – nosso filho! – ofegou ao final como se fosse chorar de emoção.


‘Mulheres’ – Snape pensou.


- Você não pode se exaltar Jack... Sua gravidez esta sendo tranqüila... Mas tudo pode se complicar se você continuar com esses hábitos irresponsáveis para com sigo mesma. – A voz dele era como veludo, e havia cautela em seu tom.


- Eu vou me comportar... – Jack prometeu. Snape aproximou-se da cama. Ele não soube o que o levou fazer tal coisa... Mas simplesmente sentou-se ao lado de frente para Jack, apoiou uma mão no colchão do outro lado do quadril da mulher e com a mão que lhe sobrou, ele enterrou os dedos entre os cabelos louros, acariciou-os e em seguida puxou-a pela nuca fazendo com que ela o beijasse.


Jack não sabia o que pensar. Snape nunca havia se aproximado dela daquela forma, para um simples carinho seguido de um beijo... Pelo contrario, nas ultimas semanas ele se aproximava dela apenas quando queria tê-la... Era ela que sempre lhe dava carinho... O que significava aquilo agora?


- Cuide-se. Cuide-se – Snape disse repetidamente entre os lábios dela. Havia algo de aflitivo e ávido na forma como ele pedia a ela que tomasse cuidado. Tão exótico a personalidade quase sempre gélida, que Jack sentiu um calafrio de mau pressagio percorrendo-lhe a espinha...


Então ela não se conteve: Puxou-o para si. Ele desequilibrou-se momentaneamente deixando o peso do corpo ir sobre o peito dela. O ouvido dele agora estava colado ao coração dela. Ele ficou ali. Ela o acariciou nos cabelos negros.


Ele ouviu a respiração dela misturada às batidas do coração. Ela abaixou o rosto e pousou o nariz sobre o topo da cabeça dele cheirando-o. Ele abraçou-a levemente e em seguida, cuidadosamente se afastou.


Olhos negros nos olhos azuis.


E tudo parecia se resolveria.


- Eu vou tentar. – ele disse como se se desculpasse. Eu ainda tenho que continuar Jack... Eu jurei a mim mesmo... Jurei pela memória de uma pessoa... Talvez a única que me aceitou... Jurei que cumpriria essa missão... – Ele falou no tom mais neutro que conseguiu produzir.


- Eu te aceitei assim de seu jeito Severus. Desde o primeiro instante... E não há nada que você faça que eu não possa compreender... Eu quero te amar. Mas gostaria de um mínimo... Eu sei que você não me ama... E que talvez nunca venha a me amar... Mas... Mas eu posso amar por você... Eu só gostaria que você tivesse um pouco mais de amor por si mesmo, e por nosso filho... Acho que você não precisa me amar... Apenas fique comigo e me prometa que envelheceremos juntos... – Os olhos de Jack equilibravam as lágrimas. Ela realmente o amava... Poderia morrer por ele... Apenas queria doar-se, mas não queria nada em troca além da companhia de Snape, e que ele se preservasse.


Ao ouvir as palavras de Jack, algo revolveu dolorido em seu peito. Será que ele realmente não amava Jack? Não... Não amava-a. E talvez algum dia ela percebesse que não o amava verdadeiramente e o abandonasse também... – ele concluiu, e em seu coração algo revolveu-se dolorido e apertou.


Só em pensar na perspectiva de que ela deixasse algum dia de ama-lo o machucava... Então... Será que ele realmente não a amava??? ‘Besteira Snape!’ – ele se repreendeu. – Você nunca amará mais ninguém além ‘dela’. – pensou lembrando-se dos olhos verdes vivos e dos cabelos vermelhos e brilhantes como labaredas.


Ele levantou os olhos para Jack novamente. Os olhos azuis marejados fez saltar-lhe o coração, e o que foi um desconforto tornou-se uma angustia. Seria possível? Aquela sensação... Merlin... Assemelhava-se tanto... Mas ele não podia aceitar!


Jack olhava-o compenetrada. Algo fez com que ela se reconfortasse. Os olhos negros. A expressão gélida... Algo havia passado pelas feições duras do homem de negro... Jack sentiu-se renovada. A confusão que brevemente viu nas expressões de Snape possibilitou a ela que pudesse sonhar com um amor que Severus negava-se em demonstrar ou exteriorizar...


Então, como num passe de mágica ela sorriu, e mudando de assunto, pois não queria forçar nada naquela situação, ela disse: - Como estava a festa?


Snape agradeceu mentalmente pela mudança súbita de assunto, e lembrando-se de alguns detalhes, ele fez um chiadinho de inconfundível desdém.


Jack então sentou-se e enxugou os olhos nos ombros, olhou com expectativa para o homem e questionou:


- Vamos, me diga, o que eu perdi?


- Aquele garoto insuportável, Potter – ele cuspiu as palavras – e aquela menina maluca Luna Lovegood.


- Ah... Luna! – disse Jack animada. Ela gostava da menina, mas sabia que a garota tinha um parafuso a menos...


Snape percebeu a empolgação de Jack. Ele não gostava de conversar assuntos que fugissem de sua rotina acadêmica, mas – Oh, para seu extremo espanto – ele decidira narrar o fatídico encontro entre ele, Slugorn, Potter, e Lovegood... Considerou que talvez conversar sobre coisas amenas o fizesse esquecer a conversa desagradável que tivera com Draco Malfoy depois de se retirar da festa de Slugorn.


Ele sabia que Draco acabaria lhe trazendo problemas quanto a terrível missão imposta por Dumbledore, então era angustiante ter que tratar com o moleque de forma a não transparecer nada de errado.


- O que aconteceu Severus? – Jack perguntou levemente curiosa com a demora de Snape em relatar-lhe os fatos da noite anterior.


- Potter convidou aquela maluca Luna Lovegood para a festa, e ela disse uma daquelas insanidades que o pai dela insiste em publicar naquela revista demente “o Pasquin”... Algo sobre uma conspiração ‘dentepodre’, arte das trevas e gomose... – o homem de negro falou enjoado.


Jack, que havia sentado ereta, jogou-se para traz e riu gostosamente. Severus não conteve uma leve curvatura de lábios para cima. Ele não sabia se estava rindo da situação que passou anteriormente (pois havia sido tão maluca, que ate mesmo Potter havia engasgado com a bebida no momento) ou se com a risada sincera de Jack... Recuperando-se da gargalhada abafada (afinal estavam em uma enfermaria) Jack falou:


- Luna... Ela é uma pessoa formidável Severus... Existem muitos alunos nesta escola que ainda irão lhe surpreender – disse enigmática.


Snape olhou-a como se esperasse explicações, mas ela nada disse, então ele cortou a situação e disse:


- Tenho que ir Jack. Assuntos importantes a tratar... E... A propósito... Feliz Natal - ele disse.


Jack havia esquecido que a festa de Slugorn havia sido feita em comemoração à véspera...


Sorriu e disse:


- Feliz natal... E ... Tudo bem – ela disse resignada. - vou tentar me comportar.


Ele não a beijou antes de sair. Apenas direcionou um ultimo olhar e retirou-se da enfermaria. Jack acomodou-se timidamente na cama. Sentia um aperto estranho no coração... Tentaria dormir... Minutos depois, ela caíra num sono raso.


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A gravidez era algo maravilhoso e ao mesmo tempo terrivelmente monótono para Jack... Ela passara três dias internada na enfermaria estudando e dormindo o dia todo, até que certo dia, depois de tanto ouvir as reclamações de Jack quanto a monotonia do lugar e as promessas desta de se comportar, Madame Pompy cedeu e finalmente deu alta a sua paciente mais impaciente de todos os tempos.


Neste período que Jack estivera enclausurada na enfermaria, Severus sempre passava no período da noite, logo depois do jantar, para visita-la. O homem de negro sentia-se aliviado por, de alguma forma, Jack esta obrigada a manter-se em segurança... Mas aquele era o ultimo dia de internação da moça, então logo o suplicio de não saber onde ela estaria durante o tempo em que eles não se viam voltaria... Voltaria preocupações, voltaria o desespero...


Jack olhava enfadada para a neve batendo na Janela. Estava muito chateada com a completa falta do que fazer. Graças a deus ela sairia daquela maldita enfermaria no dia seguinte, e poderia voltar ao seu quarto, as aulas particulares que ministrava para alguns alunos de reforço, aos passeios a beira do lago...


Aliás, o que mais sonhava ultimamente era sair para poder experimentar a neve cálida estalando abaixo de seus pés, o vento gélido em seus cabelos... Talvez, pudesse chamar Tonks para montar um bonecão de neve e depois ambas poderiam patinar no lago (se este estivesse congelado, é claro...).


- Jackeline? – Chamou a voz idosa e conhecida. - Professor Dumbledore! – Disse Jack desviando os olhos das janelas para olhar para o diretor.


- Realmente o inverno esta magnífico. – Ele disse olhando para janela. Jack voltou o olhar para a janela novamente e concordou:


- Sim, mas irei achar melhor quando eu puder sair daqui e puder aproveita-lo. Sabe, estou com uma vontade estúpida de comer flocos de neve... Minha boca enche de água só de pensar....


Os olhos do diretor cintilaram e um sorriso espontâneo surgiu nos lábios do velho.


- Você poderá querida. Amanhã... Amanhã... Entretanto, temos outros assuntos a tratar no momento... Severus me falou sobre sua curiosidade a respeito do dito colar... Talvez... Bem. Eu não posso desfazer o feitiço de alteração de memória que você sofreu ainda pequenina. Fazem muitos anos, seria sofrido de mais para você, e alguns bruxos que sofreram tais modificações chegaram a enlouquecer com o contra feitiço realizado depois de anos que se passaram... São muitas memórias infantis.... Memórias de quando você ainda era um bebe, e acho que você sabe, pessoas normais não costumam se lembrar de coisas que aconteceram a elas ainda no berço.


Um feitiço para desfazer o acobertamento dessas memórias antigas poderia trazer tudo a tona como se a um segundo atrás você tivesse sido um bebezinho de colo... Mas eu posso lhe contar algumas coisas que sei...


- SERIO?! – Jack disse sentando-se na cama com vistosa empolgação.


- Sim. – Dumbledore respondeu calmamente. Jack ouviu calada mais informações sobre si mesma... Desta forma, a história dela e dos pais dela ia sendo montada como um quebra cabeças. Como eles havia passado para o lado da luz ao perceber que a filha estava em risco, como eles passaram a tarefa de Dumbledore arrumar outra família para ela, como eles morreram em uma missão suicida para recrutar gigantes...


Jack escutou tudo com calma e seriedade... Ela sabia que o diretor não mentia... Mas era, de alguma forma, insuficiente. Ela ainda queria saber qual era a história daquele colar... Queria saber o que primeiro fez com que seus pais se tornassem comensais, queria descobrir como eles eram fisicamente, como ela viveu a infância....


- Dumbledore... – Ela falou receosa – O senhor me disse que... Que meus pais tinham uma casa... Será que eu poderia... Poderia visita-la?


Como se Já esperasse por este pedido, Dumbledore Levantou-se e disse:


- Claro. Se você deseja... – Disse o velho sorrindo. Sabia que Jack iria querer mais, e sabia que agora que ela não mais ficaria sob olhos vivos de Pompy, a moça poderia fazer uma bobagem, então seria melhor escancarar o que sabia a respeito da família da moça, assim ela se tranqüilizaria e ele e Snape poderiam respirar um pouco mais aliviados.


– A casa é sua querida, e você terá acesso a ela quando quiser. Existe também um cofre em Gringots, o banco bruxo – Disse o velho estendendo a moça uma chave prateada e cravejada de safiras.


Os olhos de Jack brilharam. Se ela sentia-se estranha sabendo que era rica também no mundo bruxo. Mesmo em um mundo que ela não conhecia, já possuía uma história arraigada nas profundezas das raízes das mais antigas famílias bruxas. Não que isso fizesse diferença, mas era interessante saber que possuía uma história, uma história que até pouco tempo lhe fora negada. Uma história! Ela lembrava-se de quando era jovem, como algumas pessoas chacoteavam por ela não ter recordação da infância, e por ser adotada, por não tem uma história de descendência... Nunca soubera dizer suas raízes, se descendia de italianos, franceses, ingleses, alemães, indígenas, negros... Nada. Sendo que todos seus colegas de escola falavam sobre avôs e avós imigrantes com grandes passados, conquistadores ou não, com histórias de luta em guerras e por experiências sofridas em crises econômicas... Seria uma vitória pessoal saber suas raízes...


- Eu quero senhor. Eu quero conhecer a casa de meus pais biológicos. – Jack disse taxativa. Se puder... Agora? – Ela questionou receosa.


- Sim querida. É possível. Venha, me acompanhe até o meu escritório. – E meneando uma varinha, um pergaminho saiu de um bolso interno de suas vestes e voou para o criadinho mudo ao lado da cama de Jack – Apenas um pequeno aviso para madame Pompy. Ela saberá que você esta segura comigo. – Ele disse dando uma piscadela. – Vista-se e encontre-me em meu escritório – Finalizou o homem direcionando-se a porta de saída da enfermaria.


Jack ficara bestificada. Não achou que Dumbledore cederia o passeio na mesma hora... Acreditou que pelo menos teria que ficar até o dia seguinte como dizia as recomendações de Pompy, mas seria melhor assim!


Ela se agasalhou com as roupas que havia separado para quando tivesse alta, e saiu atrás do diretor. Momentos mais tarde, Jack já encontrava-se em frente a estatua de pedra do escritório do diretor. Não foi necessário dizer a senha, pois assim que ela se aproximou, a estatua pulou para o lado, deixando a passagem livre para um Dumbledore vestido com uma grande capa de viagem sair.


- Vamos senhorita? – Dumbledore chamou-a oferecendo o braço.


- Vamos! – Disse a moça com um grande sorriso.


Caminharam juntos na noite gélida, até que ganharam os portões de Hogwarts.


- Será necessário uma pequena desaparatação. A residência de sua família fica na área rural de Hogsmead. Seus pais nunca gostaram da vida na cidade. A fazenda então era mais um refugio do que um meio de lucro.


- FAZENDA??? – Jack perguntou abismada.


- Sim Senhorita Rich – Dumbledore disse rindo-se da perplexidade que a mulher demonstrou. - Vamos? – o velho perguntou estendendo o braço para ela. Jack agarrou o braço do diretor, e no momento seguinte, sentiu a sensação de estar sendo enfiada em uma mangueira apertada, o ar faltou, e quando ela acreditou que não conseguiria ficar mais um segundo sem respirar, sentiu os pés em algo sólido, e o ar gelado da noite entrou em seus pulmões.


O enjôo característico que sentiu em outras desaparatações, apareceu agora potencializado, provavelmente devido a gravidez de 6 meses tão destacada em sua silhueta.


Então Jack deixou-se cair de joelhos no chão coberto de neve, tragou o ar duramente, e o inevitável: colocou para fora toda sopa elfica que havia jantado.


- Aiii... – Ela reclamou logo em seguida de forma envergonhada.


Dumbledore nada disse, apenas aparou-a para que ela se levantasse e com a mão boa, e ofereceu a ela um cálice de água.


Jack levantou-se e bebeu. Estava trôpega. Recuperada deu o primeiro passo, então ambos caminharam lado a lado por uma estradinha coberta de neve.


Logo, Jack percebeu que estavam diante de um grande portão negro.


- Bem, chegamos. Aproxime-se senhorita Rich. Jackeline olhou para os detalhes esculpidos no ferro maciço: rosas e folhas graciosamente distribuídas. Quando ela tencionou tocar o metal, as grades rangeram e se afastaram. Jack olhou abismada para Dumbledore esperando uma resposta:


- Seu sangue e o de seus descendentes sempre serão bem vindos. – Dumbledore falou simplesmente.


- O que? – Jack questionou.


- É um feitiço antigo de linhagem. A muitos e muitos anos atrás era costume entre as famílias mais tradicionais colocar este feitiço em suas residências. É uma espécie de prova de hereditariedade, e o feitiço detecta também quem é bem vindo pelo portador do sangue da família...


- Ah... Então, e se eu estivesse morta? - Então seus bens passariam para a pessoa legada, que no caso, seria a pessoa para quem você deixaria testamento. Por isso, os bruxos tem o costume de desde muito jovens fazer testamentos... As linhagens bruxas estão ameaçadas devido recusa de miscigenação. Bruxos puro sangue, geralmente, não gostam de casar com bruxos mestiços ou trouxas.


- Bah quanta besteira! Eu me caso com quem eu amo. – Jack falou avançando para o interior da propriedade.


Dumbledore aconchegou a mão machucada no interior da capa e sorriu para o nada em quanto acompanhava Jack, que sem perceber, caminhava destemida para o interior da propriedade como se já estivesse muito acostumada a entrar no lugar.


- Por que não desaparatamos aqui dentro? – Questionou Jack.


- Além do feitiço de hereditariedade, ainda existem magias nos muros que servem de proteção para a propriedade. – Falou Dumbledore. – Como nos de Hogwarts... Com uma intensidade menor, pois provavelmente não impediria uma aparatação, mas ainda sim forte o bastante para causar um estrunchamento grave em quem tentar.


Jack Lembrou-se de algumas histórias de estrunchamentos devido a aparatações mal sucedidas... Membros separados do corpo... Era terrível! Então decidiu parar que questionar aquele assunto, pois seu estomago estava demasiado frágil para tais tipos de conversas e pensamentos. Desta forma, instintivamente ela se deixou levar para um caminho que, na realidade, não se recordava.


Quando de tão cansada de andar, já se questionava da sanidade do velho diretor em leva-la para um lugar como aquele, (ela já a acreditava que haviam invadido um gigantesco terreno baldio) Jack avançou por uma curva fechada e arborizada, que ao ser transposta, revelou uma grande construção. Jack considerou que de tão grande, poderia ter o próprio CEP. Uma casa gigantesca. Provavelmente com algumas dúzias de quartos, algumas sacadas dispostas estrategicamente para ornar com a aparência da casa, mas havia uma grande sacada central, que provavelmente seria para o quarto principal da casa. Janelinhas destacavam-se no telhado, atestando que aquele espaço fora aproveitado como sótão, e pequenas janelas retangulares muito próximas ao chão provavam a existência de um porão. Centralizada, uma gigantesca porta principal se destacava orgulhosa...


- Minha nossa!!!


- Sim... Esta um pouco deteriorada... Não é a sombra do que já foi...


Jack nem de perto havia pensado no estado da casa e sim em sua magnitude... Mas ao aproximarem-se, realmente a moça pode verificar que a fachada estava comida por musgos, e a hera invadia as paredes fincando em qualquer pequena rachadura suas raízes duras, de forma a agravar o estado de lamentável abandono.


- Mas tem gente? – Questionou Jack apontando para as poucas luzes acesas no pavimento inferior e para os respiradouros que ficavam logo em baixo do pavimento térreo.


- Elfos. – Bem, acredito que três.


- Mas... Elfos? Mais de um? – Questionou a moça.


- Sim... Sua família era uma das poucas famílias bruxas que permitia a elfos formarem e manterem-se unidos em famílias. Foram três os que restaram em sua casa: Os dois irmãos Koly e Kony, e a mãe May. O pai infelizmente acompanhou seus pais na missão com os gigantes, e também não voltou.


- Nhaimmm. Coitadinhos! Dumbledore nada disse ao ouvir a lamentação de Jack. O velho apenas sorrio e adiantou-se passando por Jack e acenando levemente com a cabeça para que ela o acompanhasse. Só quando estava cara a cara com a porta, é que Jack teve uma boa idéia da grandeza da porta principal e da sacada maior arredondada que avançava sobre a porta como uma marquise.


Novamente ela não precisou tocar a porta, esta simplesmente abriu-se com um rangido quando a mulher tencionou bater. Um grande saguão com piso de mármore branco. A casa estava muito limpa, entretanto, era nítido que nenhum valor monetário era empregado na casa a muitos anos, pois haviam cortinas amareladas do tempo penduradas nas janelas, os moveis estofados estavam rasgando, e as paredes tinham a pintura descascando em vários pontos, e notava-se também algumas infiltrações.


- POP! – E o barulho denunciou que alguém avia aparatado. Jack virou-se rapidamente, e uma elfa vestida com uma fronha florida olhava-a com os olhos esbugalhados e pasmos.


- Mi-minha senhora! – Disse a elfa jogando-se aos pés de Jackeline.


- O... O que é isso? – Jack falou tentando se livrar da elfa grudada ao seu pé direito que começava a chorar rios de lagrimas quentes em sua bota.


- May pensa que senhora morta! – choramingou a elfa - Oh senhora!!!! Senhora voltou para casa!!!


- E-eu não sei do que você esta falando! – Jack taxou pegando a elfinha pelos ombros e levantando-a de seus pés. – E não gosto desta atitude. Por favor, não faça mais isso. – Jack disse aflita buscando ajuda nos olhos de Dumbledore.


O Diretor apenas apontou para uma parede. Jack não entendeu momentaneamente, mas ao seguir o olhar para o lugar que Dumbledore havia apontado, ela quase caiu sentada. Era um quadro gigantesco de um casal. Uma mulher muito parecida com ela, porem, com cabelos cumpridos e platinados, e do outro lado, um homem de feições duras com o cabelo dourado como fios de ouro. Ambos olhavam forma estranha para Jackeline, como que em expectativa, e logo em seguida entreolhavam-se.


- Koly e Kony! Venham aqui! Senhora Ludmila! A senhora Ludmila esta aqui! – Chamou a elfa desesperada quando Jack livrou-se dela para aproximar-se do grande retrato.


- Eles são... Eles são meus... – Jack disse voltando-se para Dumbledore, mas não conseguiu completar, por que foi interrompida por uma voz clara e sedosa que vinha da tela: - Sim, somos retratos de seus pais. – Disse a pintura da mulher. – E você só pode ser a filha. – Disse a pintura masculina com uma nítida expectativa.


- So-sou... – Respondeu Jack.


- Aproxime-se por gentileza – Pediu figura da mulher. Jack aproximou-se e olhou para os olhos do retrato de sua mãe. Ela sentiu como se estivesse em outra vida... Sentiu que nada daquilo fazia parte dela... Era como se ela estivesse invadindo um sonho surreal de algum artista bizarro. Ela se via nas feições de sua mãe, apesar de a mulher do retrato ser muito magra perto dela... Mas o rosto... Era ela. Cada traço... Até mesmo a tonalidade dos olhos... Apenas os cabelos eram diferentes... A mulher do quadro tinha cabelos ondulados e louros quase brancos, em quanto Jack, observando bem, tinha cabelos mais parecidos com o do homem do retrato: Louros de um dourado amarelo como ouro, e lisos.


Era estranho pensar que aqueles haviam sido seus pais biológicos...


- É muito tarde para dizer “me desculpe”... Filha... Tudo que poderíamos ter sido e não fomos... Um capricho meu... Meu... – Disse o retrato da mulher. E lagrimas pitadas escorreram. Neste momento, a figura do homem louro abraçou a figura da mulher e apertou-a contra o peito, e voltou sua atenção para Jack.


- Desculpe-nos filha... Você, na sua inocência infantil era mais sábia do que eu e sua mãe juntos... Nós que chegamos a proibir tua amizade com a garotinha Tonks, por que ela era mestiça...


- Nã-não... Por favor... – Disse Jack aflita. Seu coração estava despedaçando-se ao ver aquelas imagens... Provavelmente programadas de alguma forma, como um velho vhs, para passar aquela mensagem de lamuria e arrependimento... A figura feminina afastou-se da figura masculina, secando os olhos com delicada polidez, e passou a olha-la com um carinho e doçura, que Jack só havia experimentado nos olhos de sua mãe adotiva.


Era estranho ver a figura de outra pessoa olha-la daquela forma.


- Esta é tua casa. Nossa morte protege esta casa filha. Aqui você terá toda segurança que precisa para ter seu bebe. Nosso neto. Continuação de nossa historia. Isto por que esta casa, você será sempre bem vinda, e sempre poderá chamar de lar.


Jack ficou pasma, e olhou para Dumbledore em busca de explicações. Como aqueles retratos sabiam tanto?!


- Não sei se você já percebeu, mas na sala precisa que você sempre invadia, há um retrato de seus pais. Eles sempre foram colaboradores da escola. Ajudavam a manter o caixa para os alunos bruxos que não tinham condições de manterem-se na escola, e por isso, receberam o beneficio da passagem através da sala precisa, pois eles também eram do antigo conselho de pais, e participavam da tesouraria de Hogwarts.


Jack olhou com um sorriso molhado para Dumbledore... E logo seus olhos voltaram-se para um outro retrato. Uma senhora muito velha, com os cabelos brancos e olhos claros, o rosto era parecido com o de sua mãe. Ao lado um senhor muito louro. A Velha olhava-a com feições vazias. Mas o que lhe chamou a atenção não foi a semelhança do retrato de sua mãe com o daquela senhora, o que chamou a atenção de Jack, fora outra coisa: Um colar de pedraria verde pendurado no pescoço da senhora. Ela conhecia. Era o colar que quase matara a garota em Hogwarts.


- Eu pensei que ninguém pudesse usar o colar – Jack disse apontando o retrato da velha.


- E não pode sua tola – falou o retrato da senhora. – Esqueceu que sou um retrato? Desta forma o colar em meu pescoço é apenas uma pintura. Nem eu, nem o colar somos reais. O quadro foi a única forma de verificar como que o colar ficaria no meu pescoço. Somos sombra do que há de magnífico no mundo palpável.


Jack não gostou da forma como o retrato da senhora falava. Havia desdém em cada silaba.


- Cale-se mamãe! – Disse o retrato de Ludmila. E logo a Elfa da casa correu para uma cordinha ao lado do retrato que ao ser puxada, fechou uma cortininha puída sobre o quadro.


- E esta é a figura de sua avó. Ela também faleceu. Mas vou pelas mãos da luz... Um acidente fatídico que foi causado em parte pela forma tresloucada de sua avó combater... Mas deixemos isso para traz – Disse Dumbledore com desgosto na voz. Temos que retornar a Hogwarts... Snape provavelmente já deve ter ido procura-la... – Disse Dumbledore passando levemente a mão sobre a barba.


Jack sentiu algo morno preenchendo-lhe o peito. Sim. Queria voltar. Queria estar ao lado de Snape. Agora ela ficaria com ele todas as noites. Dormiria com ele...


- Snape? Ãh... Snape? Este não é o nome daquela mulher que ganhou o maior premio de poção em... – ia dizendo a figura masculina que representava o pai de Jack, mas Dumbledore interpelou e respondeu:


- Sim, é o sobre nome dela. Mas Severus Snape é que trabalha na escola. É o professor mentor de Jack. – Respondeu Dumbledore.


- Mas ele é o braço direito de Voldemort – disse Ludmila baixinho... Ele... O senhor o mantém na escola? Uma cobra prestes a dar o bote?


- Todos mudam Senhora Ludmila... Você e seu marido são exemplos disso. Exemplos mortos, mas exemplos.


Apesar de Dumbledore estar falando de seus pais, Jack não conseguiu conter uma bufada de riso ao ouvir “exemplos mortos” de Dumbledore. Era algo morbidamente engraçado.


Os retratos ficaram com caras chocadas.


Dumbledore pegou Jack pelo braço e disse: Jack, temos que ir.


- Adeus pequena May. Koly e Kony – Acenou Jack.


Dumbledore fez uma pequena reverencia as criaturinhas e dirigiu-se ao retrato:


- Com licença. A visita foi proveitosa. – Disse o diretor. - Apesar de sua falta de consideração Dumbledore... – Disse a feição masculina que era o pai de Jack, muito obrigado por nos trazer nossa filha de volta a casa que ela pertence.


Dumbledore meneou a cabeça negativamente:


- Eu não a trouxe para ficar. Eu a trouxe para uma visita. O mundo esta perigoso. E como o senhor deve ter percebido: Jack esta grávida. Precisa de acompanhamento. – E convidando Jack com uma mão a acompanha-lo, Dumbledore saiu da casa e aparatou às portas do castelo novamente.


Haviam passado pouco mais de uma hora fora do castelo. Ao chegarem à enfermaria novamente, Severus já estava andando em círculos de forma irritadiça, e Madame Pompy estava com um ar aflitivo observando o homem de negro dar passadas largas, e bufadas desgostosas.


- Oh por Mérlin! – disse Pompy ao ver Dumbledore e Jack entrando na enfermaria.


– Ainda bem – disse ela, e bem baixinho acrescentou apenas para Dumbledore que estacara a um metro da porta, deixando Jack prosseguir de encontro a Severus:


- Ainda bem que vocês apareceram. Estava prestes a ter um colapso com o professor Snape me fazendo caretas assassinas quando lhe dei a carta que o senhor havia deixado para mim justificando a saída de Jack da enfermaria.


Snape planejara dizer poucas e boas para o velho, e repreender a atitude de Jack sair antes da alta, porem, ela o desarmava...


Jack se aproximou e abraçou-o. Ele pousou uma mão sobre o ombro dela afastando-a levemente de seu corpo, e de alguma forma buscou alto controle para reprimir o desejo de beijar-lhe o topo da cabeça e corresponder ao abraço, mas ‘felizmente’ conseguiu manter-se frio.


Entretanto Jack afastou-se envergonhada. Sentindo uma farpa dolorida no coração com a reação de Severus...


- Vamos Pompy, preciso que me ajude com um Elfo que ficou gripado... – Disse Dumbledore.


Snape olhou para Jack. Ela sabia que ele estava bravo com ela. Mas ele não precisava afastado-a daquela forma...


Ele sentia vergonha dela... Ele sentia vergonha dela... Ele sentia vergonha dela... Ele sentia vergonha dela... – O pensamento girava na cabeça de Jack. Ela dirigiu-se a cama. Seria sua ultima noite na enfermaria.


Severus nada disse. Era difícil. Estava irado com o fato de ela ter saído do castelo. Sentia-se também incapaz de demonstrar seus sentimentos. Sentia sim vergonha de deixar transparecer que se preocupava com alguém... Ele deixou a enfermaria, mas retornou varias vezes durante a noite só para averiguar se Jack estava segura. E deleitou-se todas as vezes que a viu dormindo, e escutou sua respiração profunda.


SJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJSJ


Era ante véspera de Ano novo.


Ela finalmente tivera alta.


O castelo estava vazio.


Os alunos faziam falta.


Jack caminhava a beira do lago ouvindo a neve estalar abaixo de seus pés.


- JACK! – o grito a faz virar-se rapidamente apertando a varinha.


Constatou: Era Tonks.


- TONKS! BRUXA LOUCA! – Jack gritou.


- Oi! Vou passar o Ano Novo com meus pais... Só vim trazer algo pra você... – Disse Tonks estendendo um presente à Jack.


- Ah...Obrigado! – Disse Jack – Eu também tenho algo pra você. Eu ia lhe enviar por coruja... Mas já que esta aqui – Disse Jack estendendo um pacotinho para Tonks.


- OBRIGADO! – Tonks falou ao abrir o pacotinho. Era um belo par de brincos, que certa vez Tonks elogiara quando Jack estava usando.


- Eu não pude sair deste castelo para nada... Ate me sinto presa... Então, lembrei que você havia gostado... E embrulhei. – Disse Jack Simplesmente.


- OHHHH! – Exclamou Tonks.


Jack abriu seu presente: Um kit de beleza bruxa: Xampu de crescimento rápido, hidratantes e sabonetinhos e perfuminhos coloridos e com cheirinhos maravilhosos.


- VALEU TONKS! – disse Jack abraçando a amiga.


- De nada... E ai ganhando muitos presentes?


- Eh...Um pouco. Ganhei de alguns alunos, e meu bebe ganhou um leãozinho de pelúcia do Neville Longbotton...


- E Snape? – falou a bruxinha de cabelo rosa.


- Bem. Não sei. Ontem eu o vi apenas a noite... Não sei se o verei hoje – Disse a Loura com um aperto no peito. É véspera de ano novo... Talvez ele vá passar com a Família dele.


- Olha, não fique assim. Lupin ira passar o Ano novo com a família Weasley, ao invés de passar comigo e com meus pais...


- Mas você tem sua família. Eu estarei sozinha...


- Não fique assim amiga – Tonks disse abraçando Jack.


A tarde de ante véspera de ano novo arrastou-se preguiçosa.


Tonks foi para casa, e Jack decidiu que entraria para o castelo. O frio castigava-lhe o rosto.


Um dia acabou e outro começou sem que Jack tivesse notícias de Snape.


No jantar de véspera, havia poucos alunos. Se houvesse 6 era de mais. A maioria dos professores não estavam a mesa. Provavelmente gozavam o dia junto a familiares. Snape era um dos ausentes.


Sentou-se com Sprout, Dumbledore, McGonagall e Flintiwink e jantou. Snape... Nem sinal de Snape. Não conseguiu comer direito. Levantou-se pedindo licença aos que ficavam.


Caminhava sozinha pelos corredores. Ruídos e rangidos. Mas ela sabia do que se tratavam: As armaduras os fantasmas, e os seres mágicos que habitavam o castelo.


Iria para seu dormitório e... Uma idéia. Uma idéia louca e estúpida. Ela poderia ir para sua casa.


Poderia ir passar a virada de ano novo com os elfos de sua casa! Os olhos dela brilharam. Ela sorriu para si mesma. Poderia conversar com os elfos sobre sua antiga família! Desta forma não estaria só! Decidida, caminhou para seus aposentos. Ainda não havia tido tempo para conversar com Snape sobre o pedido que ele havia feito a ela de casamento e de ela passar a morar no quarto dele, então ainda estava no aposento da ex diretora da Lufa-Lufa.


Aquela noite experimentou os sabonetinhos e perfuminhos que Tonks havia lhe dado. Lembrou do retrato de sua mãe. Uma mulher loura de cabelos encaracolados até a cintura. Decidiu que usaria o xampuzinho de crescer o cabelo. Para seu espanto, seu cabelo começou a crescer sem parar até chegar a cintura. Uma cascata loura e brilhante. Mas ela não queria tão cumprido... Bem... Não estava feio.


Deixou os novos cabelos cumpridos soltos, com apenas um grampo de cada lado para evitar que a franja agora muito cumprida, caísse-lhe na fronte.


Vestiu um vestido branco marfim acetinado e um sobretudo negro com gorro que cobria-lhe até o rosto e protegia muito bem seu corpo do frio.


Ela acariciou a barriga em quanto dirigia-se aos portões do castelo, imaginando o que poderia acontecer de errado. Não conseguia pensar em algum comensal ou alguém ruim rondando o castelo, uma vez, que supunha-se que nem ela e nem ninguém nunca iria tomar uma atitude tola daquela.


- Idiota! Volta! – ela disse baixinho para si mesma... Mas algo... Algo brilhava no fundo de sua mente... Luz refletida de pedras verdes... Ela tinha consciência da burrice... Mas por que estava fazendo aquilo?


Parou. Tentou retornar. Mas uma voz baixinha e rançosa dizia-lhe: “Vamos, nada acontecera, eles são tolos, preocupam-se de mais...”


- Mas e se acontecer algo? – Ela perguntou ao vento. Os olhos de Jack estavam distantes. Ela não via nada além do belo colar. – A voz nojentinha disse; “Você precisa saber... É lindo... Você é nobre. Sangue puro. Ele lhe pertence. Vá buscar informações de sua história. Da história dele. Você teve uma família poderosa. Você é tão poderosa quanto aquele colar.”


– Mas e se me acontecer algo? – ela perguntou-se novamente, e como por mágica, a voz melosa mudou de tática: “E ‘ele’ se preocupa com você? Ele não esta nem ligando. Por que ele guardou tantas fotos e recados daquela garota ruiva dos tempos de escola? Você sabe quem ela é. Você já viu os olhos dela pelo castelo. Os olhos dela... Os olhos de POTTER. Exatamente iguais... E se ela é do tempo de escola de Severus... Ela só pode ser parente de Harry Potter... Só pode ser a mãe de Potter... Isso explicaria muita coisa. Seria a ligação entre o ódio que ele tem de Harry Potter com as fotos. Ele provavelmente foi apaixonado pela mãe do garoto, a mãe de Potter não o escolheu... Escolheu o pai de Potter...


Aquilo tudo. Ela sabia que eram coisas que rodavam em sua cabeça desde que ela encontrou a foto. Seria ela mesma pensando? – Enjôo, tontura, tristeza. Ele foi apaixonado pela mãe de Potter! A revelação: Ele protegia Potter pela mãe dele. Ele colocava a própria felicidade de lado, se martirizava, impedia-se de amar de novo, tudo isso UNICAMENTE POR CAUSA DE UMA MORTA!


Jack caiu de joelhos. Socou o chão coberto de neve. Olhou para cima. Estava em frente ao portão. Ela não pensou em nada. Estava com raiva.


COMO COMPETIRIA COM UM FANTASMA? ELA NUNCA TERIA CHANCE COM SEVERUS, POR QUE MORTOS NÃO TEM DEFEITOS!


A fúria. O medo. A dor. O asco. A guerra em seu peito. Jack não conseguia parar de pensar que Snape estava deixando de ser feliz ao lado dela pelo amor de juventude. Ridícula. Ela era ridícula. Deixada por uma morta. Ela que estava grávida de um filho dele. Ela que o amava.


Soberba: Ela nem soube como fez, mas abriu os portões do castelo imitando gestos de Dumbledore.


Ela não se sujeitaria a ele nunca mais.


Ela simplesmente tinha que sair daquele castelo.


Tinha que encontrar ‘seu colar poderoso’.


Aquele idiota. Ela sentia o ciúme queimando no peito.


Ciúme de alguém que não existia. Uma defunta. E o fato de imaginar Severus até hoje apaixonado pela mãe de Potter a fazia concluir que era uma insignificante para o homem. Mas ele veria. Ela tinha uma ‘linhagem bruxa’, ela era puro sangue.


Severus, ela soubera por Dumbledore que ele tivera uma história triste de pobreza.


Ele era impuro.


Mestiço.


Sujo.


Ralé.


Impostor! No meio de comensais de sangue puro... Trabalhando para os dois lados. Um leva e traz imundo! Os olhos azuis de Jack agora pareciam duas pedras preciosas verdes, como pedras do colar que quase matara Kátia Bell.


Ela transpôs os portões. Seu rosto estava marcado com a dureza da altivez de alguém que vivera toda a vida sentindo e acreditando na superioridade da pureza do sangue bruxo.


Uma rajada de vento, e seu capuz caiu, libertando os cabelos louros, que agora cumpridos, voavam selvagens ao sabor do vento. A parte da frente do sobretudo abriu-se revelando parte do vestido branco marfim acetinado.


Ela tinha o maxilar duro. Sentia-se estranha, como se fosse outra pessoa. Tentou lutar contra o que sentia. Algo lhe dizia que não era ela... Mas esta voz que tentava trazer-lhe a realidade, era fraca e baixa, porém persistente. Tanto que ela, num exame de consciência concluiu que no dia seguinte não teria mais aquelas convicções, apenas estava com raiva de mais pela conclusão a que havia chegado com relação a Snape e a mãe de Potter. Conclusão que ela tinha certeza que procedia.


Jack sentia que estava vulnerável. Lutando contra si mesma do lado de fora do portão do castelo, que voltara a se fechar assim que ela saiu.


Ela ouvia bem, sentia o cheiro dos pinheiros, e da neve, o barulho dos galhos


De repente um barulho que a fez ficar catatônica: Ruídos de passos na neve. Passos que não se faziam de rogados. Passos de quem queria ser notado.


- AHAHAHAHAHAHA – A risada estridente cortou a noite como uma facada. Jack voltou-se em direção ao som e viu: Uma mulher de cabelos cacheados e negros com olhos dementes empunhando uma varinha, e junto a ela, mais 4 figuras mascaradas, que de tão altas e corpulentas, só poderiam ser homens.


- Quem é você? – Jack perguntou baixinho. Instintivamente tocou a barriga para proteger o filho, mesmo sabendo que nada adiantaria agora.


- Eu sou Belatrix. - Disse a mulher fazendo a Jack uma reverencia debochada.


- O que quer?


- Quero leva-la para meu mestre Jackeline... Apenas isso. – Falou Bela.


- Eu irei ate seu mestre quando for a hora – Jackeline falou de forma superior, deixando claramente a aversão a figura desgrenhada de Bela. Ela sabia que normalmente não agiria desta forma, mas aquela voz rançosa instigava-a a sentir-se melhor que qualquer ser existente do mundo.


A fúria passou pelos olhos de Bela.


- Quer dizer que você acha que pode ‘escolher’ quando ir ate o Lorde das trevas? Acha-se tão superior que não precisa cumprir a ordem do maior bruxo das trevas do mundo?


°°°Fast°°° A Mulher de cabelos negros que agora falava com Jack estava sendo castigada em algum tempo no futuro. O Homem com cara de cobra a torturava. “por que me desobedece Bela?! Eu não havia dito que Snape cuidaria de Jackeline? Que Snape me traria a moça quando fosse a hora???°°°Fast°°°


Jack voltou da premonição com uma mistura de medo e de triunfo. Medo por que era a prova que Bela poderia leva-la ate Voldemort, e triunfo, por que esta premonição poderia possibilitar uma fuga. Então ela disse:


- Nos duas sabemos que o Lorde das Trevas não a autorizou levar-me a ele... Eu vi. No futuro. Você sabe o que sou capaz de fazer... Neste momento, os mascarados voltaram o rosto para Bela, como com um questionamento mudo.


- Ah agora a inapta, que teve que sair de Hogwarts por não saber magia, ACHA que pode agir como alguém importante? – Bela falou tresloucada em sua defesa quando dois dos comensais que ela provavelmente havia enganado juntaram as cabeças e cochicharam algo.


– Acha que é alguém importante? Onde esta o pai desta criança que você carrega? Por que você esta sozinha a esta hora fora do castelo numa noite de véspera de ano novo se não por ordem do próprio lorde das trevas? Você acha que é alguém? Você é uma tola. O que esta sentindo é efeito do colar. Mas teu tenho a cura para você. – Bela falou apontando a varinha para os olhos de Jackeline. E um fio de fumaça negro saiu dos olhos da mulher loura.


Jack sentiu-se leve. Caiu de joelhos. Respirou profundamente ar congelante. Sentiu-se triste. Lembrou das insanidades que havia pensado. Mas lembrou-se da conclusão que havia chegado a respeito de Snape. Havia caído como uma pata na armadilha.


O colar.


Um pouco daquela sombra que Snape eliminara do corpo de Kátia Bell havia invadido-a...


Ela poderia ter lutado contra, poderia ter banido aquela sombra de dentro de si. Mas ela preferiu alimentar-la ao invés disso.


Jack sentiu o ódio fluindo venenoso nas veias. Ódio de si mesma... Mas logo em seguida ela sentiu-se forte. Superior novamente. Mas não pelos motivos de antes. Mas pelas convicções de vida que tinha. Aquela mulher era louca. Uma retardada mental. Seguindo um demente. Ela sabia que era uma pessoa melhor que a mulher morena. Ela não temia a dor. Devia dar um jeito de sair daquela situação.


- Eu disse. Ela é patética – disse bela para os quatro homens que a acompanhava.


- CALE A BOCA ! – Jack ordenou. Jack pensou em tudo que havia passado na vida... Sofrimento, dor. Aqueles últimos meses no mundo bruxo havia sido uma prova de fogo contra ela... Ela enfrentou perigos que nunca imaginara que enfrentaria...


Bela ficara catatônica por alguns segundos, mas logo soltou uma risada depravada e disse:


- Esta bravinha? A Lufa-Lufa idiotinha esta bravinha?


Então algo a fez chicotear o ar com a varinha, e um fino fio de luz vermelha atingiu o rosto de Bela rasgando-lhe a bochecha direita. E Jack disse calmamente:


- Mantenha sua língua bifurcada atrás dos dentes, não passei por tudo que passei para vir para ao mundo bruxo e perder meu tempo a trocar palavras distorcidas com uma serpente asquerosa como você. Sou muito melhor do que você jamais sonharia ser. Sou muito mais importante para seu mestre do que você. Então sugiro que meça suas palavras, ou o castigo para você vira diretamente dele: Do “seu” Lorde das trevas. – Jack sentiu-se louca ao falar o que havia surgido em sua cabeça. Estaria morta dentro de instantes.


Bela voltou o rosto machucado, sangrando lívido para Jack. Mas o que a irritara, não havia sido os cortes. Fora a forma como foi enfrentada. FOI A FORMA COM AQUELA VACA LUFA-LUFA FALARA! COMO ASSIM A VAGABUNDINHA LOURA SE SENTIA MAIS IMPORTANTE PARA O LORDE DAS TREVAS DO QUE ELA? NENHUMA OUTRA PESSOA ERA TÃO BOA PARA O LORDE QUANTO BELATRIX! ELA ERA O BRAÇO DIREITO DE SEU MESTRE! ENFRENTARIA O MUNDO POR “SEU” MESTRE!!! NINGUÉM PODIA SER MAIS IMPORTANTE DO QUE BELATRIX PARA O LORDE DAS TREVAS!


- CRUCIUS! – Berrou Bela. E Jack caiu de bruços no chão coberto de neve, se contorcendo de dor. Sua barriga grande de grávida fora protegida unicamente pelo chão macio pela neve fresca que caíra a pouco tempo.


A dor a mataria.


Colocou-se em posição fetal numa tentativa de receber a descarga de magia nas costas ou pernas e poder proteger o filho que esperava.


Mas Bela percebera a maior aflição da mãe sendo torturada aproximou-se e direcionou a varinha o melhor que pode para o abdome de Jack. A dor concentrada. Algo molhado em suas roupas.


Um grito de Jack desesperado na noite.


Ela sabia que era a bolsa que havia rompido. Não era capaz de imaginar se o filho recebera da tortura também. Ela rezava pelo filho. Estava pouco se importando se morreria, só não admitia que pela própria burrice o seu filho agora estivesse sofrendo antes mesmo de ter nascido.


Ela perderia a criança. A dor no corpo que estava sendo causada pela magia maligna de bela não foi nada perto da facada do sentimento de amargura e de revolta contra si mesma que ela sentia no coração. Era como se uma faca invisível torcesse em seu peito.


-AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!! – Jack gritou de desespero.


- AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAHAHAH!!! – Bela se regozijou com o grito de Jack.


E assim como começou, a magia parou. Jack tentou manter-se acordada. Ouviu vozes aflitas, dentre elas, uma voz feminina. Um rosto conhecido. Era Draco? Outro rosto apareceu emoldurado pelas estrelas da noite... Uma mulher loura.


Jack seguiu-a com os olhos. “Vamos, me ajude filho” a Loura dizia para Draco. Seria mãe de Draco Malfoy? Ouvira falar nela... Narcisa.


- Bela, você é maluca. Ela é muito importante para o lorde das trevas! Você será castigada! Se ela morrer... Merlin. Não quero pensar. Essa mulher é muito importante!!!


Bela apareceu no campo de visão de Jack com o rosto lívido de ódio. Via-se a morte na forma como Bela olhava para Jack. Ciúme corroendo o coração da bruxa das trevas.


- Céus. Ela esta grávida mesmo Draco! – disse a Mulher loura.


- Eu disse mãe! Acho que no máximo de 7 meses! – Falou Draco.


- BELA! VÁ CHAMAR SEVERUS! – Ordenou Narcisa.


- Eu?! - Falou a bruxa de cabelos encaracolados desafiadora.


- Olha o que você fez! Você sabe o quanto essa mulher é importante para o lorde. Ela e Severus são peças cruciais.


- Cale a boca! Eu sou “a” peça crucial! –Disse Bela.


- Tola! Você morrera! Assim como esses imbecis que você trouxe consigo se não arrumar uma forma de consertar tudo isso.


- Você e Severus combinaram? Você tenta salvar o filho nojento dele, e ele tenta salvar Draco? – Bela falou com olhar maníaco.


Jack sentiu o frio tomar-lhe o corpo. Não conseguia mais lutar. Os olhos revirando. Ela entregava-se... Bela olhou para a Jack no chão.


Lembrou-se de como seu mestre queria Jackeline viva. Ela não podia deixar que seu ódio a dominasse. Quem sabe depois de usada para matar Potter, aquela vergonha para os bruxos que estava ali quase morrendo, com uma hemorragia que tingia de vermelho na altura dos quadris o vestido acetinado marfim que mulher vestia, ela poderia brincar de cobra e rato.


Ela seria a cobra, e a Lufa-lufa o ratinho... –Bela pensou sorrindo. Os olhos de Bela brilharam, e ela ordenou:


- Draco! Vá buscar Snape, ele esta em missão. Você pode. Você tem como o encontrar. Vá até meu marido e peça instruções, diga que foi eu que mandei! E os outros paspalhos, vão buscar um medibruxo para essa vadia! - ordenou Bela


– Vamos Narcisa, me ajude a leva-la para sua casa. Vamos aproveitar que o Lorde não esta, e vamos cuidar dela lá. Vamos, me ajude a aparata-la!


Jack escutou o badalar dos sinos da igrejinha do vilarejo trouxa próximo a Hogsmead anunciando meia-noite. Estava completamente indefesa em pleno ano novo. Suplicou por tudo que acreditava, por um ser superior, aquela época do ano era significativa, seria ela abandonada pelo ser em que acreditava? Forças para si e para o filho, foi para isso que ela rogou, pois o desespero de estar a beira da morte não era nada perto do desespero em imaginar que seu filho poderia não vingar devido a uma tolice dela. E sem mais, perdeu a respiração. Sabia o que estava acontecendo, pois a sensação de estar sendo enfiada por uma mangueira era muito conhecida de desaparatações anteriores, no entanto, ela não se sentia forte o suficiente para suportar acordada ate ver o ambiente configurado para onde havia sido aparatada. Então um zunido em sua cabeça e um peso aveludado de desmaio...


Jack ficou inconsciente.


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Olá pessoas.


Espero que o cap tenha sido bom. Estou com gosto de sangue na boca. Vcs não? O que pensam da vingança?


=)


bjos!

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