A pantera cor de rosa.



Capitulo4 – A pantera cor de rosa.

- CRACK!

Jack pulou da poltrona assustada! Que barulho fora aquele? Levantou-se aturdida. Forçou sua mente... Via um homem...Tinha que se esconder... Mas antes que pudesse encontrar um lugar, o homem que vira em sua pequena previsão, muito alto vestido de negro com cabelos sebosos na altura dos ombros e de nariz adunco, aproximou-se calmamente... Parecia flutuar... Ela acalmou-se um pouco quando lembrou-se do que acontecera mais cedo: A visita do tal diretor de Hogvarti... Hoguinar...Ou seja lá como se chamava a tal escola de magia do velho...O que importava, era que o homem de preto só poderia ser seu ‘mestre’...

Os olhos negros de Snape foram atraídos diretamente para os olhos azuis como o céu, que Jack não mais cobria com as lentes castanhas. Mergulhou... Eram azuis como o céu de uma manhã clara, porém, possuíam luas negras... Pupilas, que de tão intensas e destacadas, davam à moça um ar felino. Era de se entender por que ela escondia os olhos claros: eram irresistíveis.

Notando os olhos negros pregados ao dela, ela abaixou o rosto lembrando da peculiaridade da tonalidade de suas íris, deixando a vergonha por estar no centro da atenção do homem se sobrepor ao fato de que o mesmo era um completo estranho.

Fazia pouco tempo que havia visto a moça pela ultima vez. Ainda sentia uma réstia de dor entre as pernas pra provar o encontro. Snape, agora livre dos olhos chamativos, pode fazer uma inspeção mais minuciosa da mulher...

Arregalou os olhos. Onde fora parar a barriga de grávida? – Pensou ele.

A pergunta escapuliu de seus lábios antes que ele pudesse se dar conta da besteira:

- Você não estava grávida???

- O-o que? Não... Eu... Espera ai? Quem é você? – ela perguntou dando-se conta de que afinal não havia aparecido com sua barriga para o velho diretor... então não teria como tal ‘tutor’ saber antes.

- Sou seu tutor... Ou mentor... Como queira... – Snape disse fingindo-se enfadado com a situação.

Era fato que não estava grávida... Mas como, se ele mesmo a vira com um barrigão de estagio avançado? A não ser que ela tenha dado à luz... Mas em algumas horas? E Já em pé? Não... Não poderia ser isso. Estava curioso, mas não poderia abordar o assunto. Afinal, ela não se lembrava dele, pois ele havia apagado a memória dela.

- Deus... – Disse a moça como se todos os mistérios do universo estivessem claros em sua mente – Como pude ser tão inocente? É claro!

Snape não estava mais entendendo nada. E agora, de repente, a moça parecia estar se esquivando. Ele observou-a em quanto ela caminhava de costas, sem desgrudar os olhos azuis de cada movimento que ele fazia, para traz de uma bancada.

Jack enfiou a mão em uma gaveta da bancada da cozinha à procura de uma faca. Agora estava tudo muito claro! “Eles” a estavam espionando! Por isso o homem morcego sabia de seu disfarce de grávida! E ela, uma detetive particular, que tantas vezes havia feito esse trabalho, não havia notado! - Burra, burra, burra! – ela pensou consternada. Mas o que eles podiam querer dela? Agora iria tirar aquilo a limpo, mas precisava de algo para se armar... Afinal, o ‘batman’ que invadira sua casa era quase o dobro dela...

- Senhorita. Creio que não nos apresentamos ainda – disse Snape educado – Meu nome é Severus Snape. Acredito que o nome da senhorita seja Jackeline Rich não?

- Não! – ela respondeu rude. Havia encontrado a faca. Mas teria que ter o ‘elemento surpresa’. Iria provoca-lo. Ele se aproximaria. Ela o atacaria. A não ser que ele estivesse armado... Mas tudo bem, ela sabia o limite. Não deixaria que ele se zangasse à ponto de ‘atirar’ antes de se aproximar.

- Como? – Snape estranhou. Será que Dumbledore, aquele caduco, havia mesmo falado com a moça?

- Meu nome não é Jackeline Rich. Meu nome é Jackeline Molder.

- Ah... O nome de seu pai trouxa – Disse Snape com desdém. – Escute. Tive um dia corrido hoje. O diretor Dumbledore informou-me que eu teria que ficar aqui em sua casa durante um tempo... Para ensina-la compreende? Acho que não será por muito tempo, afinal, as aulas estão para começar... Mas definitivamente não começarei com as aulas por hoje. Começaremos amanhã, sim?

- Saia daqui. Diga ao seu “diretor” – ela disse gesticulando as aspas e estreitando os olhos – que mudei de idéia. Voltarei para minha casa na ilha, e espero não ser importunada outra vez, ou então chamarei a polícia!

- O que? Está ficando maluca? O diretor não lhe explicou o que está acontecendo aqui??? – Snape falou com impaciência.

- SAIA! – Jack gritou irritada.

- Não. Não posso. Agora espero que a senhorita se acalme, e pare de gritar, por que se não eu...

- Se não você o que? – A mulher cortou olhando para ele com ar de triunfo...

- Senhorita! Eu tenho ordens de vigia-la e treina-la para o mundo bruxo! Pensei que esta questão já havia sido esclarecida pelo diretor! Por favor, não me obrigue a força-la a...

- É? E vai fazer o que? – Ela falou desafiadora. Estava testando-o. Assustou-se quando o viu mexendo nas vestes. Achou que ele estava pegando uma arma. Preparou-se para se jogar no chão, quando viu-o com um pedacinho de pau apertado na mão. Parecia ter um cabo trabalhado... Mas nada de mais... Apenas uma vara de madeira.

Snape apontava o objeto ameaçadoramente para ela... Jackline não conteve o ímpeto: jogou a cabeça para traz dando uma grande gargalhada.

- QUIÁ QUIÁ QUIÁ QUIÁ!!!

Snape achou que a mulher estava doida. Ela ria descontrolada. Agora apertava a barriga reta e dobrava-se sem fôlego, devido à gargalhada.

- Me diga – ela falou buscando fôlego entre roncadas de risada – como acha que vai me atacar com isso? Se ao menos fosse um taco de basebol... Mas esse rachi*... QUIÁ QUIÁ QUIÁ!!! – ela gargalhou mais uma vez.

Snape deixou os ombros caírem e bufou impaciente. Estava irritado, pois a mulher estava rindo como se ele fosse a coisa mais digna de piada do mundo.

- Escute senhorita... – Mas ela não parava... – Escute – ele tentou novamente... – não era um homem paciente... meneou a varinha e pensou num encantamento. No momento seguinte a sala estava em silêncio, e a mulher que antes ria descontrolada, apertava a garganta e apalpava os lábios (agora colados) totalmente assustada.

- Tome isso como parte de sua primeira lição. Esse é um feitiço não verbal muito eficiente contra alguns de meus alunos tagarelas... – Ele disse sorrindo sadicamente para o desespero da rapariga que agora tentava desesperadamente abrir a boca com a ponta dos dedos.

- Ah... A senhorita não disse se eu poderia... Mas a verdade é que me sinto muito cansado. E se vamos morar juntos por um tempo, é justo que eu me sinta a vontade. Como se sua casa fosse minha casa. – ele falou sentando-se na poltrona caramelada, em que outrora Jack esteve sentada em quanto punha os pés sobre a mesinha de centro.

Jack observou a cena indignada. Por um momento esqueceu-se da boca colada, e saiu de trás do balcão com uma faca afiada em punho pronta para atacar o Ogro que agora colocava os pés sobre sua lustrosa mesinha de centro.

Com um pé ágil, ela chutou as pernas do homem para fora da mesinha. Impaciente ela apontou para as botas sujas, e em seguida para a mesinha polida. Parecia indignada, e grunhia com a boca colada, como se tivesse dando uma bronca. Apontava e em seguida punha as mãos na cintura de forma mandona.

Snape, assustado com uma faca afiada sendo usada em uma mão gesticulando furiosa em sua frente, não teve duvidas:

- Acio faca da mão de Jack! – E a faca soltou-se da mão da moça e foi direto para a mão livre dele.

Agora Jack estava pasmada. Como ele fizera aquilo? Benzendo-se feito louca, ela correu para a porta...

- Petrificulus-totalus! – Snape já estava completamente impaciente. Virou a moça que agora jazia no chão e disse para o corpo estático:

- É bom que comece a se controlar! Acho que a senhorita já percebeu que paciência não é uma de minhas maiores virtudes, portanto, comporte-se! Já que a senhorita não teve a delicadeza de me mostrar meus aposentos em sua casa, eu tomarei a liberdade de escolher. Então, assim que o efeito do feitiço passar, e ele irá passar assim que eu adormecer, – ele explicou - sugiro que a senhorita também vá dormir. Amanhã teremos um dia cheio. Eu levarei você para comprar sua varinha e outros materiais necessários em Londres. E depois darei inicio às primeiras aulas.

Snape retirou uma miniatura de malão do bolso da calça. Realizou um feitiço e o pequeno cubo tornou-se uma grande mala de couro.

- Locomotor malão! – Snape disse o feitiço e caminhou para as escadas. Jack acompanhou-o apenas com os olhos. Nem que pudesse se mover e gritar ela não conseguiria... Estava bestificada.

Antes que terminasse de subir, ele lembrou-se do detalhe:

- Marcarei meu quarto com um brasão verde. E sugiro que nem tente tocar a maçaneta, pois se tentar, provavelmente acabar nocauteada pelos meus feitiços protetores, e eu aviso que tenho um sono pesado, dessa forma provavelmente eu não escutaria, e a senhorita acabaria dormindo no chão do corredor. – Dito isso, ele voltou a subir, e quando galgou o ultimo degrau, ele disse com a voz grave:

- Boa noite.

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Jack sentiu os músculos amolecerem vagarosamente. Sentiu-se dolorida, e com vontade de gritar de raiva... Mas não gritou... Engoliu a fúria e apertando um ponto na coluna, ela subiu curvada ao andar de cima... Não foi exatamente uma surpresa descobrir que justamente a porta de seu quarto fora marcada com um brasão verde desconhecido...

Estreitando os olhos e apertando os lábios ela dirigiu-se à outro quaro. Estava exausta. Havia uma dor de câimbra por todo o corpo... Provavelmente efeito do feitiço combinado à luta que inutilmente ela travara contra si mesma para tentar se mover depois de um tempo... Afinal o homem havia demorado à dormir... Maldição... Precisava de um banho e de uma cama urgente!

Foi com alivio que algumas horas depois ela se viu sendo engolfada pelo sono aveludado.

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Uma batida impertinente e decidida em sua porta.

- Mas que @#%&*! – Ela soltou o palavrão mal educado para o ar.

- Hora de acordar senhorita Rich! E não se acostume! Não te acordarei todo dia! Se não deixar a preguiça de lado e começar a pegar o habito de acordar cedo, serei obrigado à fazer um feitiço despertador em seu quarto! E garanto que não será agradável acordar com um balde de água gelada todos os dias na cara... – Snape disse perverso e com uma voz de veludo do outro lado da porta.

- Mas que diabos de homem infernal! – Jack disse chutando os lençóis raivosa pra fora da cama. – E EU JÁ DISSE QUE MEU SOBRE NOME É MOLDER!!! – Ela gritou histérica.

Caminhou com passadas duras para a porta, e abriu-a com violência. Snape que ainda não havia tido tempo de se afastar, tomou um pequeno e discreto soluço de susto: A mulher estava apenas de blusa e calcinha! Era certo que a calcinha não era pequena... Na verdade, era enorme, mais parecia uma cueca boxer sem pernas... Mas não deixava de ser uma roupa intima...

- Vai me dar licença, ou vai ficar parado feito um dois de paus na minha frente? – Ela falou possessa.

- Esperava que a senhorita tivesse o mínimo de compostura para utilizar no mínimo uma roupa descente para abrir a porta! – Snape falou indignado... Mas não pode deixar de notar as coxas branquinha e roliças, que consequentemente resultavam em um belo e sinuoso quadril.

- Acontece que as roupas que eu estava usando ontem estão sujas, e eu só achei estas aqui, que estavam no varal da secadora! Isso por que minhas roupas estão na minha mala e no meu armário, que coincidentemente encontram-se no meu quarto, que o senhor ocupou! Agora se me dá licença, preciso ir ao banheiro... O famoso xixi matinal saca? – Ela atirou irritada.

- E não podia ter pelo menos dormido no outro quarto que tem banheiro? – Snape disse sem saber com o que mais implicar depois de tão detalhada explicação que a moça lhe dera.

- Não! A outra suíte da casa é muito barulhenta por causa do movimento da rua, por isso eu utilizo o quarto dos fundos. Afinal, eu não tenho o sono tão pesado quanto o seu! – Ela disse batendo a porta do banheiro do corredor logo em seguida.

Snape piscou incrédulo... Ele era mestiço... Mas à muito tempo não se relacionava desta forma com trouxas...Sim, por que Jack, apesar de ser puro sangue bruxo, havia passado tanto tempo em meio a trouxas, que se tornara uma na opinião de Snape.

Havia muito tempo que não trocava nem sequer uma palavra com alguém fora do mundo bruxo... Entre bruxos ele era conhecido e temido... Já entre trouxas, ele não era conhecido, e muito menos temido...

Snape desceu para o andar de baixo. Estava com fome... Pensou em fazer algo para si, mas a cozinha estava vazia... Teria que esperar a mulher para sair e tomar café.

Uma hora havia se passado. Snape não se atrevia a subir e bater na porta do banheiro... Afinal, seria estranho... Mas mais que isso: e se a maluca resolvesse sair nua? Sim, pois ele ouvira quando o barulho de água do chuveiro começara à rolar. Ele havia subido empertigado várias vezes ao andar dos quartos, para ver se suas passadas duras despertava-a do banho demorado... Mas não havia adiantado.

Finalmente Jack apontou nas escadas. Snape levantou os olhos da leitura que a pouco fazia de um livro sobre arte das trevas que havia trazido. Surpreendeu-se com a visão: A moça agora exibia cabelos louros e brilhantes no lugar dos castanhos opacos.

Notando o estranhamento do homem em seus cabelos ela disse:

- É uma tintura castanha que sai ao lavar... Na verdade é um saco, por que eu sempre acabo ficando com pescoço e blusa manchada de marrom quando eu passo... Por isso eu cortei o cabelo curto saca? Mas é necessário pros meus disfarces – Ela falou com naturalidade enquanto caminhava para a cozinha.

- Disfarces? – Snape disse enquanto a acompanhava.

- Sim... Eu sou detetive particular. Trabalho com matrimônios... Mas as vezes surgem uns casos cabeludos... – ela disse evasiva.

A mulher caminhou para uma gaveta e pegou dois quadrados de pano e colocou na mesa, cada um em frente a uma cadeira. Ela pegou uma caixa em um armário, e outra na geladeira. Snape permaneceu observando. Agora ela pegava duas tigelas e duas colheres e colocava de qualquer jeito sobre a mesa. Com uma tesoura ela fez uma abertura na caixa que tirou da geladeira, e com as mãos mesmo, ela abriu a outra caixa.

Para surpresa de Snape, a caixa que estivera na geladeira continha leite, que foi servido dentro das tigelas. Logo em seguida, Jack sentou-se indicando a cadeira da frente para Snape e despejou pequenas rosquinhas coloridas na tigela que pressupostamente era para ela, e logo em seguida despejou na tigela que provavelmente era para ele.

- O que é isso? - Ele perguntou olhando com repulsa para as rosquinhas que flutuavam alegres no leite e soltavam corante.

- Isso é cereal matinal – Ela disse com estranheza – Nunca viu não? A refeição mais nutritiva e balanceada para um café da manhã. – Disse ela dando um sorriso desconcertante e logo em seguida enfiando uma colherada do alimento na boca.

Snape pegou receoso, cheirou, e por fim (sua fome era imensa) provou. Não era ruim... Mas era doce como uma colher de puro açúcar.

- Balanceada você disse? – Ele falou depois de engolir. – Por isso que a senhorita está em plena forma – Ele disse irônico.

Jack soluçou assustada com a ironia.

- Escuta aqui! Eu tenho ossos grandes tá?

- Isso na sua cintura são ossos? – Ele perguntou colocando outra colherada do cereal na boca e mastigando com um sorriso que era puro cinismo. Havia chegado ao ponto. Ela estava vermelha e tinha uma cara pasmada e entristecida. Era tão prazeroso ser um bom provocador...

- Certo! – Disse ela levantando-se empertigada e pegando a própria tigela e em seguida a tigela da frente de Snape, que ficou apenas com a colher que havia acabado de levar à boca. Ela jogou o conteúdo das duas na pia e ligou o triturador. – Então dane-se café da manhã! – ela completou com a voz fraquinha.

Snape notou os olhos azuis cheios de lágrimas se equilibrando para não rolarem.

Ela jogou os recipientes na pia e caminhou para sala. Antes que Snape percebesse ela já estava ganhando a rua.

- Merda – Ele grunhiu para o ar, e saiu atrás dela.

Saiu trancando a porta com um feitiço. Observou-a ao longe. Apertou o passo até que alcançou-a.

- Esqueceu que temos que ir à Londres comprar sua varinha e materiais??? Ele disse baixinho para ela, pois as ruas estavam cheias de pessoas.

- Oh sim... Mas só depois do pó de pirlimpimpim! Ela falou balançando as mãos de forma ‘italiana’ para o ar.

Snape olhou em volta receoso. Pegou-a pelo braço e puxou-a com violência:

- Senhorita, eu já disse que não sou muito paciente! – Snape disse em tom de aviso. Viu duas grossa lagrimas rolarem de cada olho da moça.

- Tudo bem! Não precisa me ameaçar. – Ela falou tristemente.

Hora merda! Ele não havia ameaçado! ... Ou havia?

De repente Snape sentia-se reprimido... Não queria que ela tivesse se sentido ameaçada... Mas não era isso que o perturbava... Eram os olhos tristes cor do céu que o fazia sentir uma coisa estranha no peito... Algo que mais parecia com a sensação que se tem quando sem querer, não se percebe um degrau no caminho se pisa em falso no ar... Aquele soluço no peito...

Ele a viu engolindo o choro em seco.

- Para onde temos que ir então? – Ela falou fechando um sobretudo que Snape notava apenas agora... Ela parecia envergonhada consigo mesma... Com... O próprio corpo... Ele percebeu consternado o ato da mulher, e sentiu mais um soluço de pisada em falso no peito.

- Venha comigo – Ele disse guiando-a para um beco escuro. Continuava a olha-la... Ela parecia vidrada no chão. Não se atrevia a levantar os olhos para ele...

Inferno. Não era isso que ele queria? Machuca-la? Então! Havia conseguido. Mas por que se sentia mal?

- Acho que aqui está bom – Snape falou voltando os olhos negros para os de Jack. Com surpresa notou que ela não estava mais de cabeça baixa. Ela tinha o rosto vazio de expressão.

- Escute senhorita Rich... Eu não quis ameaçar você... Nem poderia... – ele falou soltando o ar que nem sabia que havia prendido. – E sobre aquilo que eu disse na cozinha... Sinto muito... É de minha personalidade estes comentários ácidos... – Ele forçou-se a dizer... afinal, ela poderia dizer algo à Dumbledore... ele justificou para si mesmo o fato de estar pedindo desculpas a ela...

- Tudo bem... Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para retornar sempre inteira.¹ – Ela disse ao homem de negro.

Snape sentiu as palavras de Jack como um soco na boca do estomago. De repente sentia-se enjoado e... triste? Sem ‘nenhuma’ razão...

- Agora será que você pode me explicar como faremos pra ir de Nova York para Londres neste beco imundo?

- Aparatando – Ele falou sem explicações apertando o braço de Jack e desaparatando de New York direto para as ruas emboloradas da Londres bruxa.

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Jack fora tomada de assalto, portanto não conseguiu tempo suficiente para prever o que estava por vir.

Primeiro foi uma sensação de aperto, de estar em uma cinta... Depois parecia que estava sendo enfiada por uma mangueira. O pavor! Agarrou instintivamente o braço do homem ao seu lado. Estava quase morrendo sem fôlego. Então sentiu novamente o chão sob seus pés. Os joelhos falsearam, e se não estivesse agarrando e sendo agarrada fortemente pelo homem de negro, com certeza teria caído de cara no chão de paralelepípedo!

- Seu filho de uma bruxa! Se fizer isso de novo eu juro que acabo com você! Eu picoto o seu... – Ela havia começado a xingar sem nem ao menos levantar a cabeça. Mas quando recuperou-se o suficiente para levantar o pescoço sem correr risco de vomitar, a surpresa foi tanta, que deixou de lado a ameaça à descendência de Snape que havia acabado de formular.

Não havia outra palavra a não ser: Mágico! Estava bestificada. Temia que se voltasse os olhos para Snape, tudo aquilo que via sumiria.

Havia pequenas lojinhas, com barris encardidos na frente para servir de prateleira para produtos exóticos, e pessoas com gaiolas que continham bichos estranhíssimos, e corujas voando em plena luz do dia... Gatos pretos e pessoas vestidas com roupas longas e de cores variadas. Chapeis pontudos, sapatos de fivelas, caleidoscópios, lunetas, globos terrestres amarelados, abóboras, lâmpadas, e muitos outros objetos que ela não podia e nem sabia identificar entre vitrinas e prateleiras!
Arriscou uma olhada para o rosto do homem ao seu lado: Era um sorriso, aquele canto da boca masculina levantada?
Ela não pode conter-se também. Retribuiu-lhe com um sorrisão de dentes brancos como pérolas. Caminhou desorientada por entre os bruxos. O clima de fogue* constatava que sem duvidas estavam em Londres.

De repente, um rosto conhecido: O velho Dumbledore que havia batido em sua casa no dia anterior. Ele lhe acenava... Era a única pessoa que conhecia no mundo bruxo... Sentiu-se a vontade em correr para o velho abandonando seu estúpido acompanhante:

- Dumbledore! – Ela disse feliz.

- Jack, pode me chamar de Alvo, que é meu primeiro nome! – Ele falou.

- Hum... Alvo. Vim comprar uma varinha. – Ela falou.

- Jack. Creio que a senhorita apenas precisará de livros e materiais de estudo. Eu lembrei que havia guardado sua varinha...

- Minha? – A moça perguntou confusa, subindo um pouco o tom de voz para se sobrepor ao barulho de feira da rua.

- Sim. Você estudou em Hogwarts. – Disse o velho estendendo a longa varinha.

Snape, que havia sido abandonado, aproximou-se sorrateiramente e passou a observar a cena por cima dos ombros de Jack.

Jack estendeu os dedos e tocou o cabo da varinha que Dumbledore lhe oferecia. Sentiu um arrepio na nuca, e em seguida seu corpo pulou sozinho, em quanto pequenas fagulhas cor de rosa saiam da ponta da varinha, que juntaram-se e se transformaram em uma linda pantera pink e brilhante.

Snape revirou os olhos... Fagulhas cor de rosa se transformando em uma gata gigante... Era só o que faltava.

Jack olhou admirada. O objeto era longo. Mais longo que a varinha de seu tutor, e era de madeira bem clara.

- Ela ficou tanto tempo longe de você, que até reagiu mais intensamente – Disse Dumbledore. – Um belo exemplar... O senhor Olivaras disse-me a pouco que sua varinha é feita de Sakura* com o cerne de corda de coração de dragão. Uma combinação rara e exótica. Parece-me que foi feito por um mestre de varas do Japão.

Jack não estava entendendo nada. Mas o simples fato de ter visto as fagulhas cor de rosa se transformarem em uma grande pantera desta mesma cor, já deixava-a feliz. Era sua cor preferida...

- Senhorita Rich... Vamos aos livros então? – Snape cortou a conversa.

- Ahhh Severus. Que tal tomarmos um sorvete?

- Uh! Tem de limão por essas bandas? – Jack perguntou em expectativa.

Dumbledore olhou-a como se o natal tivesse chegado mais cedo.

- Sim querida! E é italiano! Uma delicia! UMA DELICIA! – o Velho falou entusiasmado. – Vamos Severus? – Ele convidou.

- Não. Eu não gosto de sorvete – O Bruxão disse azedo. – Irei aproveitar o tempo para comprar os materiais da senhorita Rich. – Voltando-se para a moça, ele continuou:

- Encontramo-nos mais tarde na madame Malquin. Acredito que Dumbledore poderá leva-la até lá.

- Chame-a de Jackeline. – Dumbledore disse alegre. Afinal, aqui somos todos adultos e colegas. E além disso não estamos na escola.

Snape não respondeu. Apenas fez uma pequena reverencia e afastou-se.

Jack olhou o homem ir ao longe... O que será que aquele imbecil tinha na cabeça? Por que ser tão rude e anti-social?

Dumbledore observou a reação da moça: Ela olhava consternada para o bruxo de vestes esvoaçantes que se afastava.

- Não se preocupe senhorita... Ele é assim mesmo... Mas com o tempo a senhorita se acostumará... – disse Dumbledore oferecendo o braço esquerdo para que Jack pegasse.

Jack olhou receosa para o braço do senhor, e perguntou:

- Nós não vamos desparafuzar né?

- Desaparatar Jack. – Dumbledore corrigiu-a dando um pequeno sorriso.

- Que seja... Eu só não quero desintegrar de um lugar pra outro.

- Não. A sorveteria é logo ali – Ele disse apontando à uma bela lojinha com algumas mesinhas na frente.

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- Oh... Maravilhoso – Dumbledore articulou após uma provada na casquinha de sorvete de limão.

- Sim... Adoro sabores azedos... O senhor já provou de maracujá? – Jack perguntou alheia.

- Não... É bom?

- Sim... Uma fruta tropical deliciosa... Além disso é calmante também... – Jack respondeu.

- Interessante. – Dumbledore respondeu olhando para a moça que saboreava compenetrada uma grande bola de sorvete de limão.

- É... Infelizmente para certas pessoas nem que tomasse um pote de 20 litro de sorvete de maracujá se tornaria mais calma... – Ela falou enigmaticamente...

Porém Dumbledore sabia onde a moça queria chegar. Com certeza ela queria saber mais sobre seu tutor. E o comportamento austero deste com certeza a havia inquietado. Dumbledore sabia que seu mestre de poções era um homem rude, e que sabia como ferir as pessoas, dessa forma, com certeza já havia destilado seu veneno contra a moça.

- Então, você e o professor Snape conversaram muito entre ontem e hoje? – Ele perguntou.

- Ahh... Não tive a oportunidade de trocar muitas palavras com o professor Snape – Ela disse.

- Não? – Dumbledore perguntou com uma ruga entre as sobrancelhas.

- Não... É difícil falar com os lábios colados, ou então com o corpo petrificado... – Ela reclamou sentindo o sangue ferver. Estava com raiva do mestre, mas também com raiva do velho Dumbledore que havia designado justamente aquele crápula para ser seu professor.

Dumbledore colocou a mão que não segurava o sorvete sobre a mesa com uma pequena batida.

Jack assustou-se. Não pelo gesto brusco, mas com a forma da mão do Homem. Estava negra. Uma visão mórbida.

- Quando o senhor fez isso na mão??? – Ela perguntou pegando atrevida o punho do velho bruxo.

Dumbledore assustou-se com a reação da jovem. Estava bravo com seu professor de poções, mas o assunto foi expurgado quando ele também percebeu seu deslize.

- Não foi nada Jack. E não se preocupe, eu vou falar com Snape à respeito dos métodos que ele está usando com você.

- Como assim não foi nada? – Ela perguntou segurando ainda o punho do diretor, que num protesto mudo tentava delicadamente se desvencilhar da mão feminina agarrada à seu braço.

- Eu já estava com a mão assim quando me conheceu. Foi um... Um acidente mágico. – ele disse enigmático.

- Credo! Olha, eu quero ficar longe de coisas perigosas que possam causar esse tipo de acidente. – ela disse consternada. – isso aqui está horrível! O senhor vai ter que fazer muita plástica pra concertar...

- Ahhh minha querida... Antes tivesse concerto... Mas não se preocupe. Snape está me ajudando.

- Como não? E como o professor Snape poderia ajudar? O senhor está machucado! – ela disse tristemente.

- Existe muita coisa que a senhorita tem que aprender sobre o mundo bruxo. Este ferimento não tem cura minha querida. Ele foi causado por uma maldição negra. Mas o professor Snape é um ótimo mestre em poções, e me ajudou com uma de suas invenções.

Jack sentiu um aperto no peito. Quem em sã consciência tentaria machucar um senhor como Dumbledore? De repente seu coração se aqueceu um pouquinho com relação ao professor Snape. Afinal, ele havia ajudado o velho diretor.

- Olha diretor... Não precisa falar nada com o senhor Snape sobre os métodos didáticos dele... Bem... eu confesso que não fui muito amigável também...

Dumbledore retirou a mão negra de cima da mesa e escondeu-a com a manga das vestes. Em seguida deu um sorriso para Jack. Era sem dúvidas uma moça de bom coração.

-Bem... Então que tal irmos para madame Malquim comprar suas vestes bruxas? Você não poderá ficar andando pelo mundo bruxo de jeans.

- Ohhh... Tem essas frescuras também? – Ela perguntou.

- Sim... – Dumbledore respondeu rindo.

Assim caminharam até a loja da costureira.

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Quando chegaram, Snape já estava sentado em um banquinho num canto da loja, folhando um livro grosso de capa de couro negro.

- Bem... Está entregue. – Disse Dumbledore guiando com a mão boa a moça para dentro da loja.

- O senhor não vai ficar mais um pouco. – Jack perguntou olhando de Snape para Dumbledore com desconforto. Não queria ficar a sós com Snape. Queria passar a maior quantidade de tempo possível com alguém que impedisse o homem de negro de despejar ironias contra ela.

- Oh querida. Tenho que ir... Afazeres na direção da escola. Mas além do professor Snape a senhorita estará na companhia de madame Malquin...

- Tudo bem – Ela disse pesarosa e abraçou o velho para se despedir.

Snape estranhou o gesto carinhoso... Mas se tratava de uma bruxa que passara a vida toda entre trouxas... Era compreensível.

- Adeus querida. – Dumbledore disse afastando-se e desaparatando do lado de fora da loja.

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- Muito bem o que vai ser? – Perguntou a senhora que havia acabado de sair de trás de um biombo acompanhando uma cliente com vestes longas muito elegantes.

- Ahhh... N-não sei... – Disse Jack olhando para Snape em busca de apoio.

Snape revirou os olhos e disse:

- Algumas vestes tradicionais bruxas, mais duas capas de viagem... E talvez um vestido. – Falou olhando para Jack. – Sempre temos aquelas malditas festas de funcionários... E suponho que você não ficará entre os alunos normais.

- Eu tenho vestidos. – Jack disse.

- Eu me refiro a vestidos de bruxas... E não trapos trouxas.

- HÃ? - Jack exclamou indignada. – Garanto que meus vestidos de grife valem mais do que o que o senhor ganha anualmente!

- Não duvido... Trouxas não tem mesmo nenhum senso de valor.

- Hora seu... – Jack pensou no palavão, mas calou quando a senhora dona da loja olhou-a abobada. Sentiu vergonha de dizer o insulto que estava pensando, então completou apenas com:

– Seu, seu, seu... bobo!

Snape sorriu desdenhoso e falou:

- Ohhh, nunca fui tão ofendido.

- Horas... Por favor senhora e senhor.... – Disse madame Malquin – Não briguemos... Um casal tão bonito!

- Não somos um casal! – Jack respondeu prontamente.

- T-tudo bem... – Disse a senhora querendo cortar a discussão. – queira me acompanhar – Ela completou indo para traz do biombo.

Jack acompanhou a senhora, e antes de se esconder atrás do biombo fez uma careta e mostrou a língua de forma infantil para Snape.

Depois deste gesto Snape não pode mais voltar à leitura... Mas que mulher esquisita. A forma como ela agia era estranha até mesmo para um trouxa. – ele pensou vendo a calça jeans amarrotada e a blusinha mínima da moça serem penduradas no biombo por uma mão branca e fofinha.

Ele permanecia com o livro aberto para fingir a leitura, caso alguém aparecesse e o visse ali... Ele nunca admitiria estar interessado pelo que acontecia atrás daquele biombo. Não que ele estivesse interessado em ver a moça com roupas de baixo... Não. Longe dele... Na verdade estava interessado nas escolhas que a mulher faria... Afinal, talvez ficasse melhor com roupas bruxas, que eram mais largas e consequentemente não ficaram apertadas como as roupas trouxas que a rapariga insistia em usar...

- Não, não, não. Não está certo! Assim perece que estou vestindo um saco de batatas! – Snape ouviu Jack reclamar.

- Mas senhorita! Este tamanho é o ideal. Se eu providenciar um número menor, ficará apertado! – Disse a senhora costureira em tom aflito.

- O que a senhora está querendo insinuar? Não está vendo que esta largo? Olhe isso aqui! – Disse Jack puxando o tecido das vestes – vê o tanto que está sobrando?

- Mas senhorita... – Tentou a bruxa costureira... Porém não houve acordo.

- Ah... E esta cor... Não gostei... Cinza? Que monótono! Não tem nada mais animado não?

- Bem... que cor a senhorita gostaria? – Perguntou a velha.

Rosa não. Por favor – Snape pensou consternado. Não lhe agradava ser visto por “ai” ao lado de uma mulher vestida de ‘rosa’.

- Rosa. – Jack disse enfática.

Era de mais. Ele tinha que fazer algo. Então intrometeu-se:

- Senhorita. Hogwarts é uma escola, e não um clube de campo. Por favor, escolha cores sóbrias.

- Mas que chatice – Jack disse pulando da banqueta e indo para fora do biombo.

Snape assustou-se. Rosa combinava com a pele corada da moça, e com os cabelos curtinhos e louros. Mesmo assim, ele não admitiria... Era... Rosa de mais.

- Que tal verde escuro? – Ele disse meneando a varinha e trocando automaticamente a cor das vestes de Jack.

Jack olhou para o resultado... Era bonito... Mas talvez...

- Não. Se é para ser mais sóbria, então acredito que prefiro um vermelho mais escuro.

- Por que não costuras dourada nas lapelas? – Snape jogou com ironia... Justo vermelho? Se a moça soubesse do revanchismo entre casas, com certeza teria feito aquilo para provoca-lo... Mas como ele sabia que ela o desconhecia... Só poderia ser mesmo mau gosto.

- Hummm – Jack considerou com o rosto contraído numa expressão pensativa.

- Senhorita, eu não estava falando sério sobre as costuras douradas. – Snape disse revirando os olhos.

- E quem disse que eu te levo à sério? – Jack replicou azeda.

- Certo - disse madame Malquin cortando novamente o clima tenso.

- E aperte mais isto aqui! – Jack disse para a senhora em quanto ia para traz do biombo novamente.

Snape manteve-se de boca fechada pelo resto do tempo que passaram na loja. Pensou em fazer mais uma intromissão à respeito de todas os apertos que Jack pedia nas roupas... Mas deteve-se... não era um homem comunicativo, e estava fora de questão discutir as diferenças da moda bruxa para a moda trouxa com uma mulher tão cabeça dura. Afinal... Ela que ficasse ridícula... Ele pouco se importava... Não é?

Não. Definitivamente ele se importava. Estava incomodado. Ignorou com muito esforço as pontuações da moça sobre o trabalho de madame Malquin. Ao final das compras, Snape já estava até mesmo com os lábios marcados, de tanto forçar-se à não dizer nada mordendo-os.

Saiu da loja com o mau humor exponencialmente maior. Já era tarde, e mais uma vez não disse palavra. Puxou a bruxa-sem-noção pelo braço e desaparatou direto para a casa dela em NY.

É certo que ao aparatar a moça tentou arrancar-lhe um olho, mas ele já estava preparado: Desvencilhou-se rapidamente e imobilizou a moça novamente com um feitiço e foi dormir. Deixando-a outra vez no chão da sala até que ele mesmo adormecesse, libertando-a do feitiço que ele havia aplicado.





Notas:
1- Frase de Clarice Lispector.
*Sacura: Arvore cerejeira japonesa.
*Rachi: Pauzinho que se usa pra comer comida japonesa.
*Fogue: Neblina. Típica em Londres.


~*~

N/A
Quero avisar que esta fic terá Spoilers do livro HP-7. Não se preocupem, não é neste e nem no próximo cap... Nos ainda estamos no livro 6 nesta fic. Mas mais pra frente terá. Avisarei no quando houver algum nos caps.
BJOKASSSS
XAU

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