Ponto de Equilíbrio



N:A: Antes de mais nada, queria agradecer à minha grande amiga Molly, que mesmo estando um tanto afastada deste nosso universo, ainda tem tempo para dar um Help quando a gente está meio perdido e sem saber que rumo tomar. Molly, um grande beijo no coração.



Capítulo 09 – Ponto de Equilíbrio



Domingo sempre fora o dia mais esperado naquela casa. Anos atrás, era o dia em que as crianças ficavam mais serelepes. Dia em que o almoço era mais caprichado, não importando as dificuldades financeiras pelas quais estavam passando.
Depois, conforme cresciam, era uma felicidade a mais, com a chegada de Harry. Uma preciosidade, quando estavam em férias na escola e se reuniam ali para o natal, seu coração se enchia de alegria. Mas estes tempos acabaram. Agora, apesar da tentativa dos que estavam por ali em disfarçar o vazio da casa, apesar das esposas e namoradas, que passavam o dia conversando e rindo, tentando afastar a nebulosidade que cercava seu coração de mãe.


O fato era que os domingos não eram mais os mesmos para Molly Weasley, há mais de cinco anos. Desde que perdera Percy, a coisa não era mais a mesma. E havia piorado muito desde que seus dois filhos caçulas haviam partido em viajem, com Harry e Hermione. Não importava o que diziam, o fato de não receber noticias a estava deixando louca. Já fazia mais de cinco meses, e nada. E naquela manhã, naquele domingo em particular, Molly acordara com a nítida sensação de que acontecera algo a Rony. Sonhara com ele, e neste sonho ele sentia muita dor. Estava em sua cozinha, terminando de preparar o almoço, com a ajuda de Fleur e Vera, quando Gui entrou, trocou um olhar significativo com a esposa e falou.


- Ainda preocupada, mamãe? Não aconteceu nada a eles, tente ficar mais calma.
- Não venha me dizer o que fazer ou não, Guilherme Weasley. – Ralhou ela, apontando-lhe uma colher-de-pau - Meu coração de mãe está me dizendo que algo aconteceu a seu irmão. Eu sei que aconteceu.
- Mas Molly, querida... – Arthur Weasley, que entrava na cozinha, seguido pelo restante da família, que se sentava à mesa, disse – Mesmo que tenha acontecido, não deve ter sido nada de grave.
- Com certeza, mãe. – Interveio Carlinhos, ao lado de sua esposa, Natasha – Aqueles quatro sabem se cuidar. Não deve ter acontecido nada de grave.
- Sabem se cuidar... Mal deixaram de ser crianças... Não deveriam estar envolvidos em guerras e batalhas deste jeito, a maior parte da vida. Não é justo. – Bufou a matriarca.
- Mas nós vamos ajudá-los, assim que nos chamarem, mãe. – Fred lembrou, na tentativa de dar esperanças, mas falhou miseravelmente.
- Ah! E você acha que saber que não tenho metade dos meus filhos a minha volta e que o restante vai se juntar a eles nesta guerra é uma boa notícia, Fred? Que pensar na possibilidade desta casa ficar vazia por mais não sei quanto tempo, enquanto eu fico aqui, com o coração na mão, pode de alguma maneira me acalmar? – Disparou ela, enquanto servia o almoço e se sentava, calada.


Ninguém ousou quebrar o silencio que se instaurou na casa. Todos almoçaram de cabeça baixa, trocando olhares furtivos. Sabiam que a crise de sua mãe era passageira, mas estava se tornando mais freqüente com o decorrer do tempo. Era obvia a angustia que ela estava sentindo e que a tendência era aumentar exponencialmente, assim que os guardiões fossem convocados a ajudar. Quando o almoço estava no fim, Margot, que estava próxima a Molly e tinha percebido que ela mal tocara na comida, não agüentou mais e falou.



- Srª Weasley, não adianta ficar assim. Precisa se alimentar e tentar manter a esperança. Eles voltarão, a senhora verá.
- Eu bem que queria acreditar nisso, minha filha. Mas a cada dia que passa, minha esperança definha, como um visgo sob a luz do sol. – Respondeu Molly, de cabeça baixa, deixando rolar uma lágrima sobre a toalha branca da mesa. Então sentiu um toque em seu ombro, levantou a cabeça e mergulhou fundo no olhar de Lucy, que estava em pé a seu lado.
- Eu não tenho esperança, vó Molly. Tenho certeza. – Disse a menina, secando mais uma lágrima da face enrugada e cansada da mulher, com um olhar brilhante e decidido – Sabe por que? Por que Harry e Gina me prometeram voltar. E eles nunca quebraram uma promessa para mim. Nunca mentiram. Não importa o que aconteça, eles voltarão. Todos eles.
- Minha querida. – Respondeu a mulher, abraçando a menina e beijando-lhe a face – Você tem razão. Não posso perder a esperança nem deixar que vocês percam. Perdoem-me por estragar o dia de vocês, meus filhos.



Molly tentou sorrir e mudar o rumo da conversa, no que foi rapidamente seguida pelos demais. Lucy voltou para seu lugar, a fim de saborear a deliciosa sobremesa, mousse de amoras. Já estava acabando, quando uma conversa lhe chamou a atenção. O sr Weasley perguntava aos gêmeos.



- Meninos, que malões são aqueles que trouxeram esta manhã e guardaram no quarto de Rony?
- Ah! – Fez Jorge, como se lembrasse de algo importante – Já estava me esquecendo. Aquilo é uma encomenda que o Harry nos fez antes de partir. Um “presentinho” que vamos levar na viagem.
- É, mas é muito perigoso. – Continuou Fred, se virando para Lucy – Portanto, baixinha, nada de mexer lá, entendeu? Lançamos vários feitiços protetores e de segurança, mas mesmo assim é bom não abusar. Não mexa ou pode se machucar bastante.
- Ok! – Concordou ela, com olhar angelical.


Após o almoço, enquanto todos conversavam, Lucy subiu para o seu quarto. Afinal, desde que Gina partira, apenas ela o ocupava. Mas não mudara nada nele, permanecia exatamente igual ao que a dona deixara. Trancou a porta e chamou.


- Dobby!
- Menina Lucy - O elfo apareceu num estalo.
- Dobby, acho que descobri uma maneira da gente ir onde estão Harry e Gina.
- Menina Lucy tem certeza que quer fazer isso? - O elfo murchou sua orelhas, obviamente ainda tentava fazer a menina mudar de idéia.
- Tenho! – Ela foi enfática – E se não quiser ir comigo, tudo bem. Eu vou sozinha. Vou ajudar Harry e Gina.
- Dobby também quer ajudar mestre Harry Potter. – Respondeu o elfo – E como nós faremos, pequenina?
- Fred e Jorge trouxeram uns malões, com alguma coisa para levar na viagem. Vamos dar uma olhada e tentar arrumar um jeito de nos escondermos dentro deles.
- Mas é muito perigoso, com todos na casa, menina Lucy. Não podemos fazer isso agora.
- Durante a semana, então. – Concluiu ela – Agora, vamos treinar.


Lucy já havia conseguido dominar os dois feitiços com os quais começara. O da desilusão e o que fazia as coisas explodirem, que ficou sabendo durante o treinamento ser o “Bombarda!”. Agora, Dobby lhe explicava sobre outros feitiços, como o “Protego!” E o “ Reducto!”. Não estava nada fácil, principalmente por não poder usar varinha, mas ela persistia. Treinaram por mais algum tempo, para não levantarem suspeitas, e depois encerraram.



Já era meio da semana quando finalmente surgiu uma oportunidade para Lucy e Dobby entrarem no quarto. Ela voltara mais cedo da escola, e estava sozinha com a srª Weasley, ocupada com o preparo do almoço. Disse que ficaria no quarto, mas assim que a velha senhora entrou na cozinha, ela chamou Dobby e, juntos, entraram no quarto. Empilhados num canto, cinco malões, no estilo dos que usavam em Hogwarts. Falando baixo, para não se denunciar, Lucy pediu para Dobby abaixar um deles. Realmente estava lacrado e não estava fácil de abrir. Dobby precisou usar da magia de sua raça, para conseguir destrancá-lo. Quando conseguiu e a tampa se abriu, viram que ele estava repleto de garrafas.


- O que será que é isso, Dobby? – Perguntou Lucy.
- Dobby não saber. Mas sendo obra de mestres gêmeos, deve ser perigoso. – Respondeu o pequeno Elfo-Doméstico, pegando uma garrafa na mão.
- Mas dá pra gente se esconder aqui? – perguntou, ansiosa.
- Dobby pode aumentar o espaço para nos escondermos sim, menina Lucy. – E com um estalo de dedos, o espaço interno do malão aumentou, até ficar de tamanho suficiente para que eles coubessem ali, encolhidos. Uma separação foi criada, para impedir que o conteúdo do malão caísse em cima deles ou ficasse mal acondicionado.



Fecharam novamente o malão e o guardaram, saindo discretamente do quarto. Enquanto Lucy se trancava em seu quarto, Dobby descia para ajudar a dona da casa a terminar de preparar o almoço.



*****



Luna estava com pressa. Tinha um compromisso urgente, e acabara se atrasando com seus afazeres em casa. Chegou nos portões da escola, que foram abertos para que ela entrasse, distraída. Talvez se estivesse um pouco mais atenta, teria visto um gordo besouro pousado em um galho próximo.


Entrou e foi diretamente ao encontro de seu marido e da diretora, que a aguardavam.


- Olá! – Cumprimentou ela, beijando Neville – Desculpem o atraso, perdi a hora.
- Fique tranqüila, minha cara. Ainda não chegaram. – Respondeu Minerva, cordialmente.
- Tudo bem? – Neville perguntou – Nenhum sinal da Rita?
- Tudo bem, não a vi em lugar algum. – Respondeu a jovem, sorrindo.
- Ainda sem notícias de Rita Skeeter? – O semblante da diretora se contraiu, mostrando certa preocupação.
- Não, diretora. Sabemos que ela continua hospedada em Hogsmeade, mas não sabemos por onde ela anda, onde passa os dias. Mas sabemos que ela não tem entrado no castelo, os feitiços que lançamos impedem sua entrada. – Informou o rapaz.
- Mestre Caine Já chegou? – Retomou Luna, olhando em volta.
- Não, mas deve estar chegando a qualquer instante. – Respondeu Minerva, consultando seu relógio.




Com efeito, instantes depois, enquanto os três conversavam amenidades, um lampejo multicolorido pipocou no ar, anunciando a chegada de uma fênix. Fawkes surgiu, trazendo consigo o velho mestre e Radhi. Assim que surgiram no meio do salão principal, os outros caminharam em sua direção, não conseguindo disfarçar a surpresa ao constatar o estado do ancião.


Mestre Caine não parecia em nada com o homem que conheceram a menos de dois anos. Parecia que havia envelhecido vários anos nos poucos meses desde o ataque que sofrera de Chú. Andava com dificuldade, usando seu cajado para a sua original serventia, que era apoiar o peso do velho corpo. Estava com as costas encurvadas, parecendo carregar o peso do mundo sobre elas, e apoiava-se em Radhi para conseguir andar. Suas mãos tremiam com o esforço, lembrando alguém com Mal de Parkinson.



- Boa tarde, Minerva. Crianças... – Saudou, com a voz fraca.
- Mestre Caine. – Cumprimentou Minerva, não resistindo e emendando – O que aconteceu com o senhor?
- Ah, minha cara. Parece que os anos finalmente decidiram cobrar seu preço sobre este velho corpo. – Respondeu ele, tentando sorrir – Se não fosse pelo jovem Radhi aqui, duvido que poderia ter feito esta viajem.
- Não é culpa do tempo que o senhor esteja assim, mestre. – Interrompeu o jovem indiano, que acabara de cumprimentar os amigos – Temos certeza de que isso tudo é em decorrência do feitiço que Chú usou contra ele.
- Mas que feitiço será esse? – Perguntou Neville, revoltado.
- Não conseguimos descobrir. E este efeito é degenerativo, está ficando pior dia a dia. – Radhi completou.
- Não importa, nada disso importa. – Mestre Caine tentou amenizar a situação – Minha missão já está cumprida, agora posso descansar e esperar pelo fim. Mas hoje, vim ver como está o treinamento de seus Guardiões. Vamos?
- Muito bem. – Concordou Minerva, percebendo que não adiantaria continuar tocando no assunto – Vamos, os outros estão esperando na Sala Precisa.



Subiram as escadas do castelo, até o conhecido corredor do sétimo andar, onde uma porta se destacava da parede. Quando a abriram, ao invés de uma simples sala, eles acabaram em um campo, com grama muito bem aparada, por onde todos os Guardiões estavam espalhados, treinando. Durante algum tempo, percorreram o local, e mestre Caine observava a todos, interessado. Neville andava a seu lado, visivelmente apreensivo. Passada uma hora, Luna, que parecia entediada, virou-se para os demais e disse.


- Acho que vou treinar um pouco também.
- Claro, minha filha. Vá! – Respondeu mestre caine, sorrindo.


A garota retribuiu o sorriso, e distanciou-se do grupo, saltitante. Foi até uma ala do campo onde várias pessoas treinavam com arco e flecha, pegou um conjunto e colocou-se a disparar setas contra os alvos. Neville acompanhou os primeiros disparos da esposa, então se virou para os demais.


- Ela não gosta muito das espadas. Mas se deu muito bem com arco e flecha.
- Eu estou vendo que todos estão se dando muito bem com o treinamento, Neville. Você está de parabéns, fez um excelente trabalho. – Elogiou o ancião, com sinceridade.
- Obrigado mestre. O senhor não sabe o quanto isso é importante para mim. Mas o senhor acredita mesmo que já estejamos preparados? – Retorquiu o rapaz, encabulado pelo elogio.
- Eu acho que mediante o pouco tempo que vocês tiveram para treinar, estão num estágio muito bom. Vão poder enfrentar a batalha que se aproxima sem medo. Não julgo sensato aprofundarmos o treinamento ainda mais, agora o que devem fazer é praticar o que já aprenderam e aprimorarem a técnica. Vocês todos realmente me surpreenderam, mostraram afinco e determinação além do esperado. E tudo isso graças a você, meu jovem. Não desmereça seu crédito.
- Eu apenas fiz o que Harry me pediu. Não podia falhar com ele, não é? – Neville ficava cada vez mais vermelho.
- E não falhou, Neville. Não falhou. - Sorriu a diretora, orgulhosa – Mostrou mais uma vez que é um verdadeiro grifinório e bem filho de seus pais. Eles estariam tão orgulhosos de você quanto eu estou, pode ter certeza disto.
- Mais uma vez obrigado. – Agradeceu mais uma vez o rapaz – Então, agora é só aguardarmos pela convocação de Harry.
- Sim, meu filho. Estejam preparados, pois algo me diz que esta convocação pode chegar a qualquer momento. – Disse mestre Caine, olhando mais uma vez para o mar de guardiões á sua frente – Estejam preparados.









De Volta à Terra Média




Ela abriu a porta cuidadosamente e entrou na ponta dos pés. Não sabia se ele estava acordado ou dormindo, e se estivesse dormindo não queria acordá-lo. Fazia horas que Gina lhe dera o recado, mas ela não viera de imediato, como sempre pensou que aconteceria. Pensara muito durante aquele dia, e agora deveria enfrentar sua realidade.


Ao entrar, percebeu que Rony estava acordado, recostado sobre os travesseiros, com sua espada no colo. Olhou para ela, e por esse olhar ela conseguiu notar a grande tristeza que se abatia sobre ele. Nada do brilho no olhar, uma de suas características mais marcantes. Ou do sorriso, franco e sincero. Apenas dor e desamparo. Sentiu seu coração fraquejar, a vontade que tinha era de correr até ele, pular em seu pescoço e aninhá-lo em seu peito. Beijar-lhe dos pés á cabeça, extravasando toda a alegria que sentia em vê-lo vivo e bem. Mas conteve-se. Aproximou-se da cama, e sem saber o que fazer tentou puxar uma conversa trivial.



- Desculpe não ter vindo antes, estava assoberbada de tarefas. – Ele nada disse, apenas continuou a fitá-la, o que estava deixando-a ainda mais nervosa. Engoliu em seco e continuou – Que bom que acordou e que está bem. Fiquei apavorada quando o vi sendo capturado pelo Balrog.
- Você sabia de tudo, não sabia? –Finalmente perguntou Rony, com uma voz anormalmente rouca – Que eu seria ferido e que Mione me deixaria. Você viu tudo, não viu?
- Não exatamente. – Ela sabia que ele perguntaria algo assim – Eu não sou como minha avó, que tem visões do futuro nítidas. Sou apenas Meio-Elfa, meus poderes são bem menores. Normalmente eu só tenho alguns presságios, nada mais que isso.
- Foi isso que aconteceu então?
- Bom... Eu senti que algo de muito ruim ia acontecer com um de vocês, se fossem lutar contra o Balrog, mas não sabia o que. Ou qual dos dois. Mas temi por você, obviamente.
- E quanto a Mione?
- Eu não vi que ela partia, da forma como ocorreu. Eu tive um sonho, onde vi você pedindo para sua irmã me chamar... Na verdade exigiu isto. Por eu ter ficado a seu lado. Estou certa?
- Basicamente sim. – Rony coçava a barba – Então você não chegou a ver nós dois... Juntos?
- Não. – Ela sabia que ele faria esta pergunta também, mas mesmo assim não conseguiu evitar o rubor lhe preencher as faces alvas – Isso foi suposição minha. Acreditei que, se estava brigando com sua irmã por minha causa, era por que descobrira que estava apaixonado por mim.
- Entendo. – E o ruivo soltou um longo suspiro, ao final do qual esboçou um leve e amargurado sorriso – Isso é um alívio, sabe? Odeio esse negócio de previsões, sempre foi nossa pior matéria na escola. Minha e de Harry. Elas podem ferrar com a vida da gente, sabia?
- Alívio? Como assim? Não entendi. – Ela realmente estava confusa agora. Mas também aliviada, ao ver que aos poucos ele estava voltando ao seu temperamento normal.Isso tornaria as coisas mais fáceis para ela também – Vocês estudaram como prever o futuro?
- Não se pode dizer que tenhamos aprendido alguma coisa – Ele fez uma careta, ao lembrar da professora de adivinhação e suas excêntricidades – Bom, mas o que eu quero dizer é que, se tivesse tido uma visão de nós dois casados ou coisa parecida, seria mais complicado. Mas já que não foi nada disso, fico bem mais aliviado, por que isso significa que não vou magoá-la.
- Me magoar? Continuo sem entender, Rony.
- Éolyn, não é pelo simples fato de Mione ter me deixado que eu vá ficar com você. Não é assim que as coisas funcionam, entende? Não se pode simplesmente desligar o que sentimos por uma pessoa e começar a gostar de outra.
- Eu sei.
- Ainda mais no nosso caso. Conheço a Mione a maior parte da minha vida. Não consigo me lembrar de um momento nos últimos anos, bom ou ruim, em que ela não estivesse lá, ao meu lado. Eu não sei o que aconteceu com a gente, não sei por que chegou ao ponto que chegou. Mas o fato é que, mesmo magoado com ela, eu ainda a amo. Se ela não quer mais ficar comigo, vou ter que me conformar. Mas isso não significa que eu queira ficar com outra pessoa. Não tão cedo.
- Claro. Eu entendo. – Era difícil segurar as lágrimas que queriam brotar em seus olhos, mas ela lutava valentemente contra. Uma mescla de desapontamento e alegria invadia seu coração.
- Que bom que entende. E se sua visão tivesse sido tipo, nós dois realmente juntos, eu teria que te dizer que a visão estava errada. Isso acontece às vezes, não acontece? Afinal, o futuro é incerto, depende das ações que tomamos hoje para que se concretizem.
- Por quê? Por que tem tanta certeza de que seria uma visão que não se realizaria?
- Por que eu não vou ficar aqui muito tempo. Preciso voltar para meu mundo, para minha família. Hoje mesmo eu estava pensando na minha mãe. E no quanto ela deve estar preocupada com a gente. Não poderia ficar aqui e deixá-la sem notícias, ela morreria de preocupação.
- Não sabia que ainda tem uma mãe. – Ela sorriu, lembrando da sua própria, que nunca mais veria, e isso lhe deu coragem para continuar – Preciso ser honesta com você, Ronald. Antes de partir, Hermione me pediu para tomar conta de você durante a sua recuperação.
- Ela pediu isso? Por que? – Espantou-se o ruivo.
- Ela queria ter certeza de que estaria em boas mãos, mãos de alguém que se importasse com seu bem estar. Alguém que o amasse, assim como ela. – Respondeu a orgulhosa princesa, e continuou ao ver a careta de descrença dele – Ah, ela o ama sim, Ronald. Só alguém que ama muito pediria a uma concorrente para fazer algo desta natureza. Ela está com medo de lhe causar mais dor e sofrimento, e está sofrendo muito por isso também. Vi em seus olhos a luta interna que está travando. Acha que não é digna de você. E mesmo achando que poderíamos nos entender, ela me pediu para ficar o tempo inteiro com você.
- Ela disse tudo isso? – Ele arqueou uma sobrancelha, desconfiado.
- Isso e muito mais, que devo guardar para mim, como lição. Sabe Ronald, eu sou uma princesa de Gondor. Desde os quinze anos tenho recebido propostas de príncipes e nobres, deste e de outros reinos. Mas acho que você estava certo outro dia, quando disse que eu fantasiei um pouco sobre você. Talvez eu estivesse alimentando um desejo de encontrar alguém diferente e especial. Alguém assim, de outro mundo. Então você apareceu. Bonito, forte, corajoso, guerreiro. E bem humorado, coisa rara por aqui. E pensei que tivesse encontrado o meu príncipe, finalmente.
- É, só que este príncipe já tem sua princesa. Ou tinha, pelo menos.
- Tem ainda. Vocês vão conversar e se entender quando ela voltar, tenho certeza. – E, por incrível que pudesse parecer, Éolyn sorriu com sinceridade – Por outro lado, tenho uma posição a honrar. Como disse, sou princesa de Gondor, não fica bem para alguém como eu ficar implorando pelo amor de um homem. Não irei mais insistir.
- Vamos ver. Talvez a gente converse, talvez não. É mais provável que a gente brigue de novo. E você, vai ficar bem?
- Vou, pode ficar tranqüilo. Meu coração ainda bate por você, mas vai passar. Finalmente tirei a venda que cobria meus olhos, e consegui enxergar melhor a minha volta.
- Fico feliz por você, Éolyn. Tenho certeza de que alguém especial aparecerá. Muito melhor do que eu, pode ter certeza.
- Se não está precisando de nada, vou dar uma volta. Tenho muito em que pensar ultimamente. – Pediu ela, levantando-se da cadeira na qual estivera sentada, ao lado da cama.
- Isso é normal quando finalmente deixamos a adolescência de lado e nos tornamos adultos. Nem sempre é fácil, quase sempre é dolorido, mas vale a pena. Mas uma coisa eu posso te garantir, mesmo sendo péssimo em adivinhação. Você será muito feliz, Éolyn, princesa de Gondor.


Ela sorriu, se virou e deixou o quarto. Rony recostou-se novamente nos travesseiros, aliviado. Um problema a menos. Se tudo se resolvesse assim, tão pacificamente... Mas algo lhe dizia que sua conversa com Hermione seria muito diferente.


*****




Harry e Gina estavam sentados em um banco, num dos jardins de inverno espalhados pelo castelo. Ele estava deitado, com a cabeça descansando em seu colo, de olhos fechados, enquanto ela, sentada, brincava com seu cabelo, deixando ainda mais bagunçado e revolto. Seus óculos estavam pendurados no decote da túnica branca que ela vestia. Ao fundo, podiam ouvir o som de água caindo constantemente, vindo da fonte instalada no meio do jardim. Seu semblante exalava paz e serenidade, o que arrancava um sorriso de satisfação de Gina.



- Gosto de te ver assim. Calmo, tranqüilo. Sem o peso do mundo nas costas. – Disse ela.
- Pois saiba que eu só me sinto assim, quando estou com você, amor. – Respondeu, abrindo os brilhantes olhos verdes e fitando os enormes olhos cor de caramelo.
- Nem me lembro da última vez que te vi assim, tão sereno. Com tanta coisa acontecendo a nossa volta... Não consigo não me preocupar.
- Tudo vai dar certo, tenha fé.
- Harry, você não acha que já está na hora de chamarmos os Guardiões? Vamos precisar deles.
- Eu sei. – E uma ruga de preocupação se formou em sua testa, cortando sua cicatriz em forma de raio – Mas eu quero retardar isso o máximo possível.
- Por que? – Estranhou ela.
- Quanto mais eles demorarem, mais vão poder treinar. Mais bem preparados vão chegar, e menos baixas deveremos ter. Já perdemos tantos, que não quero mais mortes. Mas você tem razão, já está quase na hora de chamá-los. Assim que Mione retornar, vou cuidar disto.
- Mas será que ela volta logo?
- Volta, volta sim. Eu conheço a Mione, ela logo se recupera.



Enquanto conversavam, passos ressonaram pelo piso do jardim, de mármore branco, chamando a atenção do casal. Cho se aproximava a passos largos, com cara de poucos amigos. Sem esperar, já foi falando.


- Éolyn acabou de sair do quarto do Rony, e estava com uma cara estranha. – Soltou ela.
- Cara estranha? – Perguntou Gina, levantando-se em um pulo – Estranha como? Feliz? Triste?
- Indecifrável. Conversaram um bom tempo, mas não sei sobre o que. Não quis ficar por perto. – Continuou Cho, de braços cruzados.
- Eu vou matar o Rony, se ele fez a besteira que eu estou pensando que fez. – Bufou Gina, começando a ficar vermelha – A Mione não merece uma coisa dessas.
- Se precisar de ajuda para quebrar as pernas dele de novo, pode contar comigo. – Completou Cho, enquanto as duas se viravam para partir em direção ao quarto de Rony.
- Ele não fez nada de errado. Será que vocês, mulheres, não podem confiar que um homem pode ser fiel e resistir a este tipo de tentação? – Perguntou Harry, abrindo os braços, com um sorriso maroto no rosto.
- NÃO! – Gritaram as duas em uníssono, enquanto se dirigiam para a porta, lado a lado.



Harry riu prazerosamente. Era gostoso ver a união das mulheres, como defendiam umas às outras. Mas ele tinha certeza de que elas teriam uma surpresa ao chegar no quarto de Rony. Quando chegaram na porta do quarto, Gina não se fez anunciar e empurrou a porta, com força, assustando os presentes. Lá, visitando Rony, estavam o mestre anão, Gloryn, Tolman e Andy, que deram um pulo, assustados.



- Gina! Como você entra no quarto assim? – Explodiu Rony, mais assustado do que revoltado – Perdeu a noção das coisas? E você também Cho?
- Cala a boca, Rony. – Bradou a ruiva, dirigindo-se em seguida para os outros, que continuavam com cara de espanto – Peço desculpas senhores, mas tenho que trocar umas palavrinhas aqui com meu irmãozinho.
- Gina, não seja indelicada. – Harry, que entrava atrás das duas, com os braços cruzados nas costas, disse – E não há necessidade de ninguém sair, não creio que haja nada que não possa ser dito na presença deles.
- Certo. Desculpem. Se não se importam... – Retomou a ruiva, sem encarar o noivo, que andava pelo quarto, aparentemente alheio a tudo – Ronald Bilius Weasley, eu não acredito que você teve a cara de pau de trair a Mione com a Éolyn. O que é que você tem nessa sua cabeça oca, afinal de contas? Tem idéia de que ela nunca mais vai olhar na sua cara?
- Mas do que é que essa maluca está falando? – Perguntou Rony, de boca aberta.
- Não enrola, Rony. Eu vi a princesa saindo do seu quarto, agora a pouco. – Emendou Cho, ao lado da amiga.
- Ah! Entendi. – Respondeu o rapaz, a compreensão substituindo o espanto em seu rosto.
- Ótimo. E aí? – Gina cruzara os braços, e aguardava uma explicação, batendo um pé no chão de mármore, que ecoava alto.
- Não aconteceu nada. Não tem nada a ver esse delírio de vocês duas. – Respondeu Rony, com sinceridade.
- Não adianta mentir, Rony. Eu me lembro muito bem de como você recebeu a notícia de que a Mione tinha ido embora, e me obrigou a chamar a princesa. Por que seria? – Gina olhava séria para o irmão, e parecia prestes a perder a paciência. Harry estava parado á janela, olhando para fora, com as mãos cruzadas nas costas.
- Não gosto de me meter em assuntos de família, jovem amigo. – Interrompeu Gloryn, coçando sua longa barba – Mas pelo pouco que eu vi, enquanto estiveram nos visitando, acho difícil de acreditar que nada tenha acontecido entre vocês, infelizmente.
- Olha gente! – Recomeçou o ruivo – Eu admito que quando fiquei sabendo que a Mione tinha ido embora, minha primeira reação foi essa. Fiquei magoado, e talvez... Provavelmente... Eu teria feito alguma besteira.
- E não fez? – Perguntou Cho, desconfiada, mas baixando a guarda.
- Não. Logo depois que Gina saiu, eu acabei adormecendo. Quando acordei, minha espada estava em meu colo, com este bilhete.



Rony estendeu um pedaço de pergaminho, que Gina pegou. Franziu levemente a testa ao reconhecer a letra, deu uma olhada para as costas de Harry e leu:

“Mesmo nesta cama, sua espada honrou-o em campo de batalha. Não a desonre fora dele.”


- Tive um tempo para pensar. Não importa se vamos continuar juntos ou não. Temos toda uma estória juntos, toda uma vida. Nunca poderia trair esta confiança dela. Precisamos conversar primeiro e nos resolvermos. E mesmo depois, se realmente não ficarmos mais juntos, não quero saber de ninguém por enquanto. Foi isso que eu conversei com Éolyn e ela compreendeu. No máximo, seremos amigos a partir de hoje.
- Quem deixou este bilhete? – Perguntou Andy, curioso.
- Harry. – Respondeu Rony – Reconheceria esta letra em qualquer lugar.
- Quem... Eu? – Harry fingiu surpresa, finalmente se virando para fitar os amigos – Não fiz nada demais, só devolvi a sua espada.
- E disse uma grande verdade. Mestre Potter lutou com honra, e parecia que você estava no campo, ao seu lado. – Comentou Gloryn.
- Eu havia me esquecido de tudo que aprendi com Harry nos últimos tempos. Já tinha tomado consciência disto antes da luta contra o Balrog, mas me esqueci na hora que acordei. O bilhete me trouxe de volta à realidade.
- Harry, por que você não nos disse nada? – Gina virou-se para o noivo, questionadora.
- Mas eu disse. Lá embaixo, antes de vocês saírem correndo. Não tenho culpa se as duas não acreditaram em mim. – Respondeu ele, ainda com um sorriso maroto no rosto.



O clima se descontraiu, e logo o assunto mudou. Na manhã seguinte, mesmo com Rony ainda acamado, o grupo resolveu voltar para Minas Tirith. Assim, após o desjejum e calorosas despedidas, o grupo preparou-se para partir. Os anões e os Hobbits, que estavam ajudando os Rohirim nos reparos da cidade, comprometeram-se a partir em poucos dias. Andy resolveu permanecer com seu povo. Eldest também se comprometeu a mandar seus cavaleiros para ajudar Gondor assim que a situação estivesse sob controle.


Assim, estavam partindo de volta Harry, Gina, Rony, Cho, Anaryon e Éolyn. Quando surgiram no meio do salão, logo surgiram Arwen, Ararorn e Arador. Após um breve cumprimento, Harry e Gina levaram o amigo para o quarto, os outros se ocuparam de relatar o que havia acontecido.


Finalmente cinco dias após ser ferido, Rony conseguiu se levantar e começou a se exercitar, para retomar o movimento das pernas. O próprio Harry se encarregou de sua recuperação, dedicando horas a ajudá-lo com exercícios para suas pernas e coluna. Leves inicialmente, mas aos poucos foi aumentando a bateria de exercícios, já que não tinham muito tempo a perder. No mesmo dia, as caravanas vindas do Forte da Trombeta chegaram, e foram alocadas dentro dos portões da cidade. Agora só restava aguardar. A cada dia que passava, o clima ficava ainda mais tenso, todos sabiam que não tardaria o dia em que os Orcs atacariam novamente.


*****




Ainda era madrugada e tudo estava escuro. Ela aparatou no meio do recinto, e ficou parada, tentando se direcionar, pensando no que fazer. Antes que tomasse qualquer atitude, a sala foi inundada pela luz de uma tocha, cegando-a. Piscou sucessivamente, tentando adaptar sua visão para a nova realidade, e olhou em direção à claridade. Um vulto estava parado sob o umbral da porta, olhando para ela.



- Hermione? – Disse Mirië, surpresa – É você mesma?
- Olá Mirië. Desculpe ter aparecido assim, sem avisar e há esta hora, mas...


A angústia e confusão que sentia e tentara segurar por toda a noite pareceu eclodir toda de uma vez. Hermione não se conteve mais, não agüentou. Explodiu em um choro forte, sentido, desesperado. A Elfa correu até ela, amparando-a e fazendo com que se sentasse. Acendeu outros archotes, iluminando melhor o ambiente e depois se sentou a seu lado, tomando suas mãos entre as suas. Quando viu que ela estava mais calma, tomou a palavra.



- Você está ferida? – A outra negou com a cabeça – Pelo seu estado, você acabou de sair de uma batalha. Foram derrotados? – Nova negativa, e Mirië resolveu perguntar algo que temia – Seu noivo e seus amigos estão bem? – Mais uma vez Mione negou, e uma nova onda de choro a dominou.


Mirië percebeu que a jovem estava completamente transtornada e que não conseguiria conversar sobre o acontecido por ora.


- Hermione, você está exausta. Vamos deixar para conversar amanhã. Vou lhe preparar um banho, e depois você vai dormir. Está bem?


A apatia da jovem lhe serviu como sinal de consentimento, então a Elfa se retirou. Voltou minutos depois, e percebeu que o choro já parara e ela parecia mais calma.


- Mirië, me desculpe por aparecer assim, sem avisar e no meio da noite, mas eu não sabia para onde ir. – Despejou Mione, assim que a Elfa entrou.
- Calma, Hermione. Fizeste muito bem em vir para cá, será sempre bem vinda em minha casa. – Respondeu Mirië, sentando-se novamente ao lado da bruxa.
- Mas eu não tenho o direito de perturbar você e Mellon. Preciso encontrar outro lugar aonde ir.
- Meu marido e os outros guerreiros já partiram há dias, para ajudar na guerra. Estamos apenas nós, as mulheres com as crianças e alguns soldados que ficaram para ajudar na segurança. Sua chegada não é uma perturbação, pode ficar tranqüila.
- Ah! Eles já foram?
- Sim, e já devem estar chegando em Minas Tirith. Mas isso não é importante agora, depois nós teremos muito tempo para conversar. Agora, você tomará o banho que eu preparei. Depois descansará, pois está parecendo que não dorme há dias. Então, quando acordar, poderemos conversar com mais calma.



Mirië se levantou, puxando a jovem pela mão e levando-a até seu banheiro, onde a banheira estava cheia de uma água perfumada. Hermione despiu-se e entrou, mergulhando sua cabeça na deliciosa água por alguns instantes. Mirië a deixou e saiu, retornando algum tempo depois, com uma toalha e roupas limpas para ela, além de uma xícara de chá. Estendeu-lhe o chá, mesmo antes de deixar a banheira.


- Beba. Vai ajudá-la a descansar e dormir esta noite. – Disse a Elfa.
- Que chá é este? – Perguntou Mione, pegando a xícara e sorvendo o aroma doce com um leve tom de menta.
- Uma infusão de ervas que cultivamos. São relaxantes, pode beber tranqüilamente.



Sem mais questionar, a jovem bebeu o delicioso chá. Saiu da banheira, sentindo-se muito mais leve. Depois, foi levada a um quarto, onde finalmente se deitou e nem percebeu a hora em que Mirië saiu, pois caiu em um sono profundo.



Ela mais sentiu do que ouviu uma presença com ela no quarto. Os últimos meses, e todas as agruras sofridas haviam colaborado para que seus instintos estivessem mais apurados. Não ouviu som algum, mas sentiu uma leve respiração, e sabia que não era Mirië. Instintivamente, sua mão alcançou a sua varinha, depositada ao lado da cama. Hermione de um salto jogou a coberta longe, apontando a varinha para o local onde estava o intruso. Seus olhos encontraram um par de olhos arregalados e assustados, fixos na ponta de sua varinha, pertencentes a um menino, Elfo, de aproximadamente doze anos. Este deu um passo para trás, ao mesmo tempo em que ela abaixava ligeiramente a varinha, curiosa.


- Peço que me perdoe, lady Granger. Não queria acordá-la. – Disse o garoto, fazendo uma reverência, sem desviar o olhar da varinha – Vim ver se estava bem, a mando de minha mãe.
- Quem é você? – Perguntou Mione, ainda um tanto ressabiada.
- Meu nome é Erumo, senhora. Sou filho de Mirië e Mellon. Eu e minha mãe temos vindo ver se está bem durante todo o dia. – Disse o menino, não escondendo seu alivio ao ver Mione finalmente guardar sua varinha. Afinal, ele sabia que aquele era o veiculo que a maga usava para conjurar seus feitiços.
- Ah! Desculpe por isto. – Respondeu Mione, sem jeito – Não sabia que Mellon e Mirie tinham um filho. Você disse que veio me ver o dia inteiro? Que horas são?
- A tarde já vai se encaminhando para o crepúsculo, minha senhora.
- Quer dizer que eu dormi quase o dia inteiro? – Agora era a vez de Mione arregalar os olhos – Por que ninguém me acordou?
- Mirië disse que a senhora estava exausta e precisava de descanso. Deu ordens para que ninguém a incomodasse. – Sorriu pela primeira vez Erumo, e Mione conseguiu distinguir o mesmo sorriso que sua mãe dava, assim como os olhos e tom de cabelo lembrava o pai – Se quiser aguardar mais alguns minutos, pedirei para alguém lhe trazer algo para comer, deve estar faminta.



Hermione concordou com outro sorriso, muito sem graça. Seu estomago roncava de fome, estava parecendo o de Rony. E temia que o rapaz conseguira ouvir.Ele nada demonstrou, fez uma reverência respeitosa e saiu. Minutos depois, a mesma jovem que cuidara dela na visita anterior entrou no quarto, lhe trazendo uma bandeja com sucos, chá, Lembas e frutas. Mione comeu com gosto, e mais uma vez se lembrou de Rony, e sentiu uma pontada de remorso no coração quando isto aconteceu. Imaginou como ele estaria, e o que deveria ter pensado dela quando soube que partira. Tinha quase certeza de que, por raiva e revolta, ele acabaria se envolvendo com Éolyn. E não podia culpá-lo, afinal ela havia sido extremamente insensível com ele. Parecia até que haviam trocado de lugar, ela se tornara o “legume insensível”, totalmente descontrolada e passional enquanto ele estava mais ponderado e racional. Se não fosse a atual situação pela qual passavam, seria cômico. Passada aproximadamente meia hora, Erumo retornou.



- Minha mãe gostaria de saber se já se sente bem, e se gostaria de acompanhá-la em um passeio assistindo o crepúsculo.
- Sim, eu já estou bem. E claro que adoraria passear com Mirië. Só preciso de alguns minutos para me aprontar.



O jovem deixou o quarto. Mione se arrumou rapidamente, e ambos desceram as escadas. Mirië estava parada, conversando com outros Elfos na vasta clareira sob a cidade. Sorriu, pediu licença aos outros e se encaminhou ao encontro dos dois.


- Fico feliz que esteja se sentindo melhor, minha amiga. – Disse ela, abraçando Mione.
- Eu gostaria de lhe pedir desculpas mais uma vez, por incomodar você e sua família.
- Já lhe disse. É um prazer tê-la aqui conosco. Vamos caminhar um pouco e conversar?


Hermione assentiu com a cabeça, e ambas começaram a andar, entrando na floresta. Caminharam em silêncio por algum tempo, até que Mione resolveu puxar conversa.



- Não sabia que você e Mellon tinham um filho. Não o vi quando estive aqui antes.
- Erumo estava fora, estudando com os anciões. É costume em nosso povo, que os jovens recebam seus ensinamentos dos mais velhos e sábios. Mas devido à guerra, nós os chamamos de volta. Era arriscado mantê-los longe. E assim, também ajudam os soldados a manter a segurança da cidade.
- Tão jovens e já devem se preparar para luta? –Lamentou Mione.
- É assim que deve ser. Este é o costume. Apesar de nós, Elfos, sermos amantes da paz e vivermos em comunhão com a natureza, sempre estamos prontos para lutar.
- Eu gostaria de ser assim como vocês, também. – Seu olhar estava distante e triste.
- E você é. Percebi isto da outra vez que esteve aqui. Mas hoje, o brilho em seu olhar está apagado. Não quer me contar o que aconteceu? – Mirië perguntou, parando e indicando para que se sentassem na grama.
- Eu acho que preciso mesmo desabafar. Estou tão perdida, parece que nem sei mais quem sou. – Suspirou Mione, sentando-se de frente para a Elfa, que mantinha nela seu olhar tranqüilo e apaziguador, o que lhe transmitia força e confiança.


Hermione narrou os últimos acontecimentos. Tudo que acontecera desde que partira dali, com seu prisioneiro. As certezas e incertezas que tinha a respeito de sua relação com Rony, o que fizera para deter o ataque Orc. O sentimento de culpa que a assolava por isso, sua infantilidade em culpar Rony por suas ações. O desespero ao ver o amado ferido por, mais uma vez, sua culpa. E a partida, abrupta e covarde. Mirië ouviu tudo com muita atenção. Ao final da narrativa, sorriu e disse.


- Não vejo motivo para tanto desespero, minha cara amiga.
- Como não? Eu fiz tudo errado, você não vê? Na minha cegueira, movida pelo ciúme e a desconfiança, acabei culpando o homem que amo por minhas ações. Eu queria feri-lo, fazer com que sentisse pelo menos uma parte da dor e angústia que eu estava sentindo. E ele quase morreu por isto.
- Hermione, você é humana. E os humanos estão sujeitos a falhas. Todos nós estamos, na verdade, até mesmo os Elfos. Todos erramos e podemos magoar as pessoas a quem amamos. Porém sempre nos é dada a oportunidade de reconhecer estes erros e pedir perdão a quem se feriu. E pelo que me contou, você já caiu em si. Percebeu que estava errada e provavelmente já deve ter sido perdoada por seu noivo e amigos. Só falta uma pessoa para lhe perdoar.
- Quem?
- Você mesma. Precisa se perdoar. Está sendo muito severa consigo.
- Não posso me perdoar. Nem voltar para junto deles. Tornei-me uma ameaça, coloco a segurança de todos em risco.
- Você se considera uma ameaça por ter perdido a confiança em si mesma. E precisamos fazer com que recupere esta confiança, para que volte para os seus e reassuma seu lugar de direito.
- Não sei se vou conseguir, Mirië. Nunca quis ser uma guerreira, não gosto de lutar ou matar.
- É um conflito compreensível, minha cara. Você estudou e se esforçou muito para se tornar uma curandeira, alguém cuja prioridade e missão na vida é salvar outras vidas. E hoje se vê obrigada a usar o que aprendeu para subtrair essas vidas.
- É assim mesmo que me sinto. Sem saber no que acreditar, sem saber o que fazer.
- Nós, Elfos, também procuramos viver em comunhão com a natureza e todos os seres do universo. Mas somos obrigados a optar entre o menor dos males. Lutar e matar os Orcs ou permitir que eles vençam e semeiem caos e destruição sobre tudo que amamos. Nem sempre é uma escolha fácil, mas no final, optamos por defender a natureza e este mundo. Um bem maior. Afinal, se não o fizermos, quem fará? Quem mais compreende o que se passa com o mundo que nos rodeia? O homem há muito perdeu seu vinculo com o meio ambiente.
- Eu bem que gostaria de encontrar este equilíbrio entre a guerreira e a medibruxa, que vocês conseguiram. – Lamentou-se mais uma vez Mione.
- E você pode. Se realmente quiser se reencontrar, acho que posso ajudá-la. Posso orientá-la, ou pelo menos tentar.
- Não sei se posso. Ou melhor, não sei se consigo, se vale à pena tentar.
- Então me diga, Hermione. Você tam algo mais a perder, se tentar? – A Elfa perguntou gentilmente e com um sorriso bondoso nos lábios, mas a pergunta atingiu Mione como se fosse uma marretada. Ela realmente não tinha mais nada a perder.
- Não. Tem razão, não tenho mais nada nem ninguém a perder. Estou sozinha aqui, e não posso voltar para meus amigos assim. Tudo bem então, vamos tentar.
- Perfeito. Mas não agora. Você ainda está cansada, precisa se recuperar totalmente. Descanse hoje e amanhã, e depois quando o dia amanhecer, começaremos a trabalhar. Você já teve treinamento, inclusive aprendeu a meditar, então não deve demorar muito até conseguirmos algum resultado.



Conforme combinado, na manhã do terceiro dia em que Mione estava em Lórien, as duas voltaram a deixar a aldeia. Caminharam de volta até o mesmo ponto onde haviam conversado naquela tarde. Quando lá chegaram e se sentaram, Mirië começou.


- Antes de começarmos, você deve buscar a comunhão com a natureza. Encontrar a paz e motivação no mundo à sua volta. Só depois que redescobrir sua paz interior e o que pode motivá-la para a luta é que poderemos trabalhar em suas técnicas de batalha.
- Técnica de batalha? Mas eu já sei lutar. – Respondeu a jovem, ofendida.
- Você conhece a técnica, já lhe disse isso. Precisa encontrar a motivação, para que juntando os dois possa superar as adversidades. Para que se torne uma guerreira completa, sem peso na consciência pelas mortes que possa causar, precisa descobrir pelo que está lutando. E o primeiro passo para descobrir seu ponto de equilíbrio é se harmonizando com a natureza.
- Se você está dizendo que é necessário, vou tentar. Mas não sei se vou conseguir.
- Deixe seu ceticismo de lado, Hermione. Se Entregue de corpo e alma. Só assim você conseguirá o que procura. Não tenha pressa, ficaremos aqui o tempo que for necessário.



Mione respirou fundo, expirou o ar dos pulmões demoradamente e fechou os olhos. Não sabia muito bem o que tinha que fazer, mas tentou assim mesmo. Logo, a única coisa que ouvia era o som da floresta. O vento, resvalando nas folhas, os pequenos animais e insetos que faziam barulho por todo o lado. Após uma hora, a cacofonia de sons que ouvia a estava deixando irritada e com dor de cabeça. Não agüentou mais e abriu os olhos. Mirië estava sentada a sua frente, de olhos fechados, e mal parecia respirar. Sorriu, e ainda sem abrir os olhos, disse.


- Não tente racionalizar o que ouve, Hermione. Apenas sinta. Deixe ser levada pelos sons da floresta.
- Eu estou tentando. – Ralhou ela, enxugando o suor da testa e voltando a fechar os olhos.



Continuaram assim por horas a fio. Mione já estava esgotada, mas Mirië parecia tão serena quanto no momento em que chegaram. Finalmente a Elfa se levantou, chamando a atenção da maga, dizendo.


- Por hoje basta. Amanhã retomaremos o exercício.
- “Retomaremos o exercício?” – Mione esganiçou-se – Mas não fizemos nada, além de ficarmos sentadas aqui por horas e mais horas. Estou até com dor de cabeça por causa disso.
- Mas este foi o exercício. E você foi muito bem, pode ter certeza. Amanhã continuaremos. – A Elfa sorriu uma vez mais, brandamente, e tomou o caminho de volta para casa.




À noite, após a ceia, as duas estavam conversando. Erumo as acompanhava, muito interessado em conhecer mais sobre a maga. Mione gostara do garoto, e sempre que podia lhe contava como era a vida dela e dos outros desde que entraram para a escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, assunto que o deixava fascinado. Depois que este se retirou, Mione se virou para a amiga, indecisa. Tinha algo que queria perguntar, mas tinha medo de ofendê-la.



- Mirië posso lhe fazer uma pergunta? – E continuou, após concordância da outra – Por que você estava acordada tão tarde na noite em que cheguei? E percebi que vaga durante horas, à noite. Está tudo bem?
- Sabia que era astuta e não demoraria a me questionar, Hermione. – A Elfa não escondeu um sorriso triste, mas que logo desapareceu – Sinto tê-la deixado preocupada.
- Peço desculpas pela intromissão, não queria ser intrometida. – Apressou-se a dizer Hermione.
- Não, minha amiga. Não precisa se desculpar. Você abriu seu coração para mim, não vejo por que não confiar o meu a você. – Mirië suspirou, como se estivesse tomando coragem – Meu coração está pesado com esta guerra. Apesar de nosso povo não temer a guerra, e sabermos que ela viria a centenas de anos, estou com medo. Gostaria de estar ao lado de meu marido nesta hora, mas os costumes de meu povo não me permitem. Tão pouco ele permitiu.
- Não precisa ter medo. Mellon é um grande guerreiro, tenho certeza de que tudo dará certo e logo ele estará de volta.
- Tenho uma sensação ruim, Hermione. Sinto que ele precisará de mim. Gostaria de ir a seu encontro, mas mesmo que parta agora, contrariando os costumes, não conseguiria chegar lá. Não sozinha e com uma guerra às nossas portas.
- Bom, seu meio de viagem não é problema. Pode voltar comigo, quando for a hora.
- Mas... Hermione... Você poderia me levar junto com você? – A Elfa não podia acreditar no que estava ouvindo.
- Mas é claro que posso. Seria um grande prazer poder ajudá-la de alguma forma. Devo-lhe minha vida, lembra-se? E está tentando me ajudar novamente. O mínimo que posso fazer é levá-la para Gondor comigo, quando partir.
- Serei-lhe eternamente grata Hermione. – Agradeceu Mirië com sinceridade, e pela primeira vez desde que conhecera os Elfos, Mione percebeu um seriamente emocionado.




No dia seguinte, nada aconteceu. Mione estava começando a ficar extremamente irritada. Na manhã do terceiro dia, ela estava decidida. Se não obtivesse resultado algum naquele dia, jogaria tudo para o alto e iria embora.


Já estava no meio da manhã. Sua cabeça começava a querer latejar. Mirië, como sempre, estava sentada de frente para ela. Mione resolveu se concentrar no barulho da água que corria pelo leito de um riacho, próximo. Ela só notara o som no final da tarde anterior, e era, na sua opinião, o menos estressante. Concentrou-se, limpando de sua mente os outros sons. Focou no som calmo e constante da água sobre as pedras, correndo rumo ao grande Anduim. Era, realmente, tranqüilizador. Aos poucos sua mente foi relaxando, sua cabeça foi ficando mais leve e ela esqueceu a dor de cabeça, o calor ou Mirië. Com curiosidade, ela percebeu que havia uma coerência no som que ouvia. Era melodioso, compassado. Sorriu, divertida. Ela resolveu expandir sua percepção, e outros sons começaram a se juntar ao primeiro. Percebeu que nos intervalos que ela julgou que houvesse no correr da água, encaixava-se perfeitamente o canto de alguns pássaros. Logo, o som dos animais e insetos da floresta se somaram aos demais, e de repente Mione percebeu estar ouvindo uma sinfonia, tocada por uma grande orquestra sinfônica, cujo tema era a comunhão de todos os seres da floresta, inclusive ela. A música era para ela e sobre ela, era sobre vida e amor, seu amor. Conseguia distinguir, dentre as notas melodiosas, o nome do objeto de seu amor – “Ronald”.


Não sabia quanto tempo havia ficado ali, ouvindo tudo aquilo. Seu coração estava descompassado, sua respiração ofegante e falha. Abriu os olhos, e percebeu que estavam embaçados, pois estava chorando. Mas não de tristeza, e sim de alegria. Uma alegria imensa que inundava seu coração. Olhou para Mirië, e esta lhe sorria de volta, satisfeita.



- Agora você compreende? – Perguntou a Elfa – Sabe pelo que lutar?
- Agora eu entendo. Nunca pensei que fosse tão simples e óbvio assim.
- Muitas vezes ficamos cegos ao que nos rodeia, mesmo que seja algo tão simples. Todo o universo é movido por esta força, a qual chamamos de amor. Toda a natureza exala isto, e quando conseguimos entrar em sincronia com ela, como você acabou de fazer, passamos a fazer parte do todo. Por isso sentiu como se cantassem para você, o amor de sua vida.
- Foi uma experiência maravilhosa. – Mione suspirou – Só agora consegui enxergar o quanto amo Rony e meus amigos. E consegui encontrar a motivação para lutar por eles e por este mundo. E agora, o que faremos?
- Agora, minha amiga? – A Elfa levantou-se, satisfeita em ver o brilho voltar aos olhos da maga – É melhor sacar sua espada e ficar em guarda.




Hermione também se levantou de um salto, sacando sua bela espada, há muito guardada em sua bainha oculta nas costas. As duas mulheres fitaram-se nos olhos por alguns instantes, até Hermione decidir atacar. As espadas entrechocaram-se, e ninguém diria que ali lutavam duas delicadas mulheres. A luta era feroz e acirrada, com golpes precisos que muitas vezes passava a milímetros de distancia da pele. Lutaram por mais de meia hora, até que num golpe rápido e preciso, Mirië desarmou Mione, encostando sua bela espada em sua garganta.


- Muito bom, maga. – Elogiou ela – Mas acho que cabe uma pequena melhora. Teremos mais alguns dias para treinar.
- Ótimo. Mal posso esperar para voltar a Gondor.



Continuaram treinando diariamente, por horas a fio. Mione mudara da água para o vinho, pois agora lutava com segurança e sempre atenta. A partir daí, Erumo começou a acompanhá-las, e assistia fascinado a luta entre as duas belas mulheres. Mirië era ágil e atlética, e quando lutava, em nada lembrava a pessoa calma, pacata e serena que era. Tornava-se uma guerreira, em todo o sentido da palavra. Na tarde do décimo quarto dia do exílio de Mione, elas pararam de lutar mais cedo. Haviam combinado que partiriam na manhã seguinte, então queriam acertar os últimos detalhes. Mione ainda estava preocupada com o jovem filho do casal, mas Mirië lhe assegurara que ficaria muito bem ali, aos cuidados das outras Elfas. Recolheram-se cedo, e na manhã seguinte, tomaram o desjejum e despediram-se. Mione tranqüilizou a amiga com um olhar, pois esta parecia um tanto nervosa. Pegou suas mãos, concentrou-se na sala do trono de Minas Tirith, e desaparatou.



*****




A recuperação de Rony corria muito bem. Ele se esforçava bastante, todos os dias, ignorando a dor inicial e forçando músculos e nervos a voltarem a trabalhar. Em cinco dias já estava andando e começando a treinar novamente. Naquela manhã, enquanto ele treinava com Harry, Cho treinava com Anaryon. Estes também treinavam todos os dias, mas de uma maneira mais relaxada e prazerosa. Não que estivessem brincando, mas os momentos que tinham disponível para o treino eram os momentos de maior proximidade dos dois, e intimamente os dois estavam apreciando muito isto.

Estavam num dos pátios internos, e lutavam há pouco tempo. Anaryon desferiu um golpe mirando seu ombro, e quando Cho levantou sua espada para apará-lo, este desviou o golpe, virando a espada e aplicando uma rasteira na jovem com o cabo. Cho perdeu o equilíbrio e gritou, assustada, certa de que cairia no chão. Antes, porém, que se estatelasse no mármore frio, foi firmemente pega pelo príncipe, que a tomou em seus braços.



- Hei! Isso vale? – Perguntou ela, divertida.
- Numa luta, vale qualquer coisa para se vencer, minha cara. – Respondeu ele, apertando-a mais em seu abraço e sorrindo.



O sorriso de Cho desapareceu rapidamente. Sentiu um arrepio que há muito não sentia, uma palpitação diferente do coração. Aquela posição era, sem dúvida, perigosa. Os olhos que fitava brilhavam incessantemente, e os braços fortes que a envolviam estavam deixando-a louca.


- Acho que já pode me soltar Anaryon. Não vou mais cair. – Disse ela, tentando se soltar.
- E se eu não quiser soltar? – Inquiriu ele, maliciosamente.
- Anaryon... – Suspirou ela, aquele olhar certamente derreteria até aço, de tão quente e provocador que estava – Pára com isso. Não brinca assim comigo.
- Brincar com você? E o que a faz pensar que eu estou brincando com você? – Ele se retesou ao falar isto, dando a oportunidade para que Cho escapasse de seus braços.
- Você é um príncipe. Irá se tornar Rei em breve. Por que flertaria com alguém como eu? – Cho parara de costas para ele, abraçando-se, desamparada.
- Eu sei muito bem quem sou ou o que devo ser. – Respondeu ele, mais agressivo do que gostaria. Ao perceber, amenizou a voz e continuou – Alguém como você? O que quer dizer com isto?
- Olhe para mim. Não sou ninguém. Não sou nobre nem tenho posses, não tenho sangue real ou pertenço a uma família de linhagem numenoriana. Nem mesmo sou deste mundo. Quando tudo isso acabar, preciso voltar para minha casa. Tenho família lá. Não quero me iludir e depois ter de partir com meu coração dividido. Já sofri muito por causa do amor, não quero mais sofrimento. – Ela se virou para olhar em seus olhos, e disse o que a corroia mais – E ainda por cima, você sabe muito bem o que aconteceu comigo enquanto estava presa. Conheço o suficiente de seus costumes para saber o quanto vocês são machistas e prezam a pureza virginal de uma mulher. Não vou negar que já não era mais virgem quando cheguei aqui, mas depois daquilo... Seu povo nunca aceitaria que seu rei se relacionasse com alguém como eu.
- Alguém como você, eu repito... – Anaryon olhava para ela com intensidade, sabia o quão doloroso era relembrar aqueles fatos – Que está valorizando em demasia costumes antigos. Não nego que eles existam e sejam ainda parte importante da nossa cultura. Mas para toda regra existem exceções. Não cabe ao meu povo aprovar ou desaprovar a mulher que escolho para minha companheira. Mas se eles soubessem da grande mulher que és, eles aprovariam com certeza. Alguém que é corajosa, companheira, fiel. Que se sacrifica pelos outros, sem pedir nada em troca. Que se submeteu sim, às atrocidades de seus captores, apenas quando uma inocente foi ameaçada. Eu estive acompanhando você em batalha, vi que não abandona seus amigos. Morreria ao lado deles, se necessário. Perdoe-me, lady Chang, mas não encontrei nenhum motivo que a desmereça como mulher ou como pretendente. Pelo contrário, só encontrei mais e mais motivos para admirá-la e desejá-la como esposa.



Cho nada respondeu. Estava parada, olhando para Anaryon, estática. Este aproveitou e se aproximou dela novamente, tocando seu rosto com sua mão, calejada pelo manuseio da espada.



- Quanto ao fato de sermos de mundos diferentes, e tudo mais... Bom, enquanto eu sou um príncipe, lutando para não perder o trono, você é uma das mais poderosas magas que já pisaram nesta terra. Mais da metade das mulheres de Gondor gostaria de ser como você e suas amigas. Somos de mundos diferentes? Sim, somos. E não acho isto ruim, pelo contrário. Gosto de aprender sobre outras culturas. E é sempre uma grata surpresa quando descubro algo sobre vocês. Você teme o futuro, como será? Eu não sei sequer se estarei vivo ao final do dia. Não quero morrer sem poder viver o tempo que me resta o mais intensamente possível. Eu não contava com a possibilidade de amar agora, mas tenho que admitir que este sentimento me motiva ainda mais no campo de batalha. Talvez você não sinta o mesmo que eu, e é compreensível. Vindo de um mundo tão fascinante e tendo como ideal alguém como Harry, é difícil concorrer. Mas se você sentir que existe uma possibilidade...
- Há muito tempo que eu desencanei do Harry. – Respondeu Cho, sem saber o que mais poderia falar – Mas não sei no que pensar.
- Então vou lhe dar mais algo em que pensar.



Adiantou-se e antes que ela pudesse reagir, o rapaz tomou-a novamente nos braços e beijou Cho, ardorosamente. Por um instante, houve uma tentativa de resistência, mas que não durou muito tempo. Relaxou e mergulhou de cabeça na maravilhosa sensação que a assolava.


Nos dias que se seguiram, os dois assumiram sua relação perante os outros, de forma tímida, e para espanto de Cho foi muito bem aceita. Ficavam o máximo de tempo juntos, aproveitando a trégua enquanto ela durava. O que não foi muito tempo.




*****




Estava sentada em uma bela varanda, tricotando. A cadeira balançava, ao sabor do vento, e ela estava feliz. Ao seu lado, lendo um livro, o homem da sua vida. Seus cabelos brancos, não conseguiam ocultar a velha cicatriz na testa. Os óculos, na ponta do nariz, eram em formato de meia lua. Suspirou, virou o rosto para o pequeno jardim que existia nos fundos de sua casa, onde um casal de crianças brincava na grama. O menino, de uns sete anos, tinha cabelos negros e espetados. A menina, de uns seis, tinha os cabelos rubros como outrora foram os dela, os mesmos olhos castanhos e penetrantes. Seus netos. Sorriu mais uma vez, e então as crianças retribuíram o sorriso. Abriram a boca para falar, mas ao invés das vozes doces e melodiosas que ela esperava ouvir, o som que saiu de suas bocas foi estrondosamente alto, e feria seus ouvidos. Não era algo normal. Então percebeu que o som era de trompas, aquilo era um alarme. Compreendeu, um instante antes de despertar, que estivera sonhando.


Gina pulou da cama, confusa. O som das trompas, anunciando o alarme, ainda ecoava por todos os cantos do castelo. Vestiu seu roupão apressadamente, lamentando o final do belo sonho que tivera. Saiu correndo rumo ao salão do trono, onde já encontrou Harry, conversando com Anaryon e Senar.


- Harry! – Chamou ela – O que aconteceu?
- Os Orcs estão atacando Osgiliath. Pretendem dominar o rio, para poder nos atacar. – Respondeu o moreno.
- E o que vamos fazer? – Perguntou Cho, que entrava naquele momento.
- Mandei parte do exército para o porto, para impedi-los. – Senar respondeu.
- E o que estamos esperando para nos juntar a eles? – Agora era Rony que chegava, com uma terrível cara de sono, acompanhado do mestre anão e Andy.
- Só estávamos esperando vocês, para definirmos nossa estratégia, meu caro. – Respondeu Arador, que também estava presente.



Juntaram-se, e definiram o que fariam. Em seguida, Gina e Cho se retiraram, para se vestirem adequadamente, e quando voltaram, desaparataram rumo ao campo de batalha.

*****




A batalha estava acirrada. O dia já estava amanhecendo. Com muita dificuldade, haviam conseguido repelir a primeira leva de Orcs, que conseguira aportar na cidade. Enxotaram-nos de volta ao rio, e os que ficaram lutavam contra os soldados de Gondor, anões e Hobbits. Harry e Gina estavam no alto da muralha mais alta, voltados para o rio. Harry lançava feitiços ininterruptamente, destruindo várias embarcações ainda no meio do rio. Gina cuidava das flechas que partiam das embarcações, tendo eles como alvos. Transformava-as em aves, que saiam voando pela bela manhã de inicio de primavera, ou simplesmente se desvaneciam no ar. No porto, Rony liderava um grupo de soldados, que combatia os inimigos que conseguiam chegar até a margem. Na cidade, Anaryon e Cho faziam o mesmo, com outro esquadrão. Ao sul da cidade, lutava Arador e ao norte, Senar. Atrás das primeiras fileiras de balsas e barcos, havia outras maiores e mais pesadas, com catapultas. A todo instante, essas catapultas disparavam contra as defesas da cidade, e Harry e seus amigos eram obrigados a explodi-las no ar ou lançá-las de volta ao ponto de origem. Mas mesmo assim, a situação estava insustentável. O rio estava coalhado de embarcações, e por mais que tentassem, algumas estavam conseguindo aportar ao sul e ao norte. Percebendo a dificuldade da situação, Anaryon se aproximou de Harry.



- Harry, precisamos recuar. Estão conseguindo aportar, Senar e Arador não vão conseguir detê-los em terra. Se continuarmos aqui, seremos encurralados e liquidados logo de inicio.
- Você tem razão, o rio está perdido. Ordene a retirada para seus homens. – Levantando a mão, disparou fagulhas azuis, que era o sinal de retirada – Vão na frente, vamos tentar segurá-los para que consigam chegar aos portões da cidade.




Harry e Gina desceram e se juntaram a Rony, que já deixava o porto e atravessava a cidade com seus homens.


- Você está bem, Rony? – Perguntou Gina, ao ver a expressão de dor do irmão.
- Estou. Só está doendo um pouco as costas, acho que devido ao esforço. – Respondeu este.
- Tem certeza de que é só isso? – Perguntou Harry, observando-o atentamente.
- Bom. Já faz quinze dias que a Mione nos deixou. Estou preocupado com ela, não deu nenhum sinal de vida. Será que aconteceu algo? –O ruivo perguntou, ansioso.
- Tenho certeza de que está bem. Não se preocupe. – Respondeu Harry, batendo em seu ombro.
- Gostaria que ela estivesse aqui. – Murmurou Rony, saindo de perto do casal.



Cho se juntou a eles, e juntos começaram a convocar escudos e outras proteções, para salvaguardar a retirada dos soldados, que corriam de volta a Minas Tirith. Recuavam aos poucos, enquanto os Orcs finalmente aportavam e começavam a desembarcar. Do sul e do norte, aqueles que já haviam desembarcado avançavam, ameaçando encurralá-los. Num dos momentos em que virava seu escudo de um lado para o outro, as pernas cansadas de Rony falharam e ele perdeu ligeiramente o equilíbrio, perdendo a concentração e desfazendo seu escudo. Um Uruk – Hai, às suas costas, percebeu. Virou seu arco para ele e disparou uma flecha.



*****




Surgiram no meio do salão, que estava estranhamente quieto. Àquela hora, normalmente seus habitantes estariam tomando café. Ouviram passos, e viraram-se para a porta, por onde Éomer, o jovem príncipe, entrava. Parou de chofre ao ver as duas mulheres ali. Então reconheceu Mione, e não pode deixar de abrir um sorriso.


- Lady Granger. Finalmente retornou. – Disse ele.
- Éomer, onde estão todos? – Perguntou a maga, receosa pela resposta.
- Em Osgiliath. Os Orcs começaram um ataque pela madrugada, parte do exército foi para lá defender o porto.
- E Rony? Onde está Rony?
- Foi junto.
- Mas ele já está recuperado?
- Pelo que sei, ainda não estava totalmente recuperado, mas mesmo assim insistiu em ir.
- Eu não acredito que Harry e Gina permitiram que aquele cabeça dura fizesse uma coisa dessas. – Ela disse, possessa. Respirou fundo, e continuou – Éomer, preciso que me faça um favor. Esta é Mirië. Preciso que a leve até lady Arwen.
- O que vai fazer, Hermione? – Perguntou a Elfa.
- Ajudar meus amigos. – Respondeu ela, desaparatando.



Aparatou num local próximo à cidade. Soldados batiam em retirada, correndo de volta à cidade. Correu na direção da qual vinham, procurando algum sinal de Rony ou dos outros. Avistou Anaryon, que coordenava a retirada de seus homens. Havia Hobbits e anões também. Mais a frente, finalmente visualizou os amigos. Estavam os quatro próximos uns aos outros, protegendo a retirada dos soldados. Os Orcs se aproximavam rapidamente, tentando cercá-los. Rony pareceu tropeçar e seu escudo desapareceu. Um enorme Orc, que estava atrás dele e que ele ainda não havia visto, aproveitou-se da oportunidade e preparou seu arco. Mione sabia exatamente o que iria acontecer, e ficou aterrorizada. Sem pensar em mais nada, desaparatou, aparatando entre o Orc e Rony.



*****



O desequilíbrio foi momentâneo, causado pelo cansaço, uma pequena vertigem. Mas Rony se recuperou rápido. Já estava para conjurar seu escudo novamente, quando ouviu algo às suas costas. Um “ai” sentido. Virou-se imediatamente, e seu sangue gelou nas veias. Mione estava parada ali, de braços abertos, de costas para ele. Mandou a segurança às favas, correu até ela, agarrando-a pelos ombros, enquanto ela desfalecia em seus braços. Olhou desesperado para a flecha que saia do peito de sua amada, sem poder acreditar.



- Mione... Mas por quê? Por que fez uma coisa dessas?



Seus lábios estavam mais rubros do que nunca, devido o contraste com a pele, já empalidecendo. Ela levantou a mão e acariciou a barba que tanto gostava no ruivo. Sorriu, um sorriso dolorido, e murmurou, tão baixo, que Rony precisou ler seus lábios para entender.


- Por que eu amo você, Rony.



Seus olhos giraram nas órbitas, ao mesmo tempo em que a mão caia no chão, inerte, e a consciência a abandonava.



- Mione! NÃÃÃOOOO!





N:A: Certo, não me azarem. Pelo menos por enquanto. Sugiro que aguardem o próximo capítulo. Rsrsrsrs.

O personagem Erumo, que apareceu neste capítulo, não estava previsto inicialmente na estória. Erumo é a tradução de Matheus, e é uma singela homenagem ao pequeno maroto, filho da minha amiga Sheil@ malfoy, autora de O Grande Poder de Harry Potter, que nasceu no dia 07 de Setembro.

Me perguntaram o site onde eu traduzia nomes próprios para o Élfico. O site é http://www.pribi.com.br/nomes/12. Nem todos os nomes estão traduzidos, mas espero que quem queira, encontre o seu.

Agora, respondendo alguns comentários:


MarciaM – Tem alguma bola de cristal embaixo da cama? Quase acertou a previsão, hein. E você é tão dedicada quanto eu, escreve tão bem quanto eu. Muito obrigado pelo coment e pelas desventuras via MSN. Ah! Se possível, deixa o meu “popozão” intacto depois deste cap também, ok?

Juliano – Se toda a crítica que eu recebesse fosse igual à sua, eu seria o autor mais feliz do mundo. Muito obrigado pelo comentário. Mas, acho que não vai dar para atender seu pedido e transformar Rony e Mione em Magos Brancos também.

Luluh – Pode apostar que eu adorei Eldest. E me inspirei um pouco nele, para escrever este cap, você deve ter percebido. Sem dúvidas, um livro muito bom, assim como Eragon.

Guida – Minha querida amiga, você tava inspirada mesmo, hein? Eu sei que você está bem enrolada com a faculdade e a criação do novo site, e com isto sobra pouco tempo. Mas muito obrigado pelo comentário. Também gosta de Dire Straits? Acho os caras demais. Estou novamente com problemas de acesso ao MSN, mas assim que resolver a gente se encontra, ok? Grande beijo.

Fl4v1nh4 – Não fica mais triste, ok? Agora eles não vão se separar mais.

Deby – Espero que tenha gostado do trecho Cho/Anaryon. Já tava na hora deles se acertarem, não é?


Expert – O momento dos Guardiões se reunirem aos 4 está se aproximando. Não deve demorar muito, uns dois ou três capítulos. Aí a briga vai ser realmente boa. Valeu mais uma vez pelo coment.

Alicia – Que bom que gostou das outras. Realmente, o desenvolvimento da estória cresceu muito além do que eu esperava durante o tempo. Seja bem vinda.



Pedro Ivo – Tava sentindo falta dos seus coments, meu amigo. Tava meio sumido. Valeu, taí o cap.

Queria saudar os novos leitores, que felizmente são vários a comentar neste último cap.

Sejam bem vindos, Jhenefer, Lírio, Katz,Bárbara, Tiago e ribeiro. E aqueles que não comentaram, ou que porventura eu tenha esquecido de citar. Vocês estão me dando uma força enorme para continuar. Valeu mesmo.


Ah ! Lírio, de tanto falarem isso, acabei me convencendo. Tanto que meu próximo projeto, ao terminar esta fic é escrever algo próprio. Não sei se alguém vai ser louco o bastante para publicar, mas que eu vou escrever, isso vou.

Ribeiro, me passa o id da sua fic, assim que der eu dou uma passada lá e te digo o que achei, ok?


Beijos e abraços,

Claudio

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