Em Busca de Novas Alianças



Gina olhou para a amiga, que certamente tinha o mesmo olhar que ela, de arrependimento. Mione mordia o lábio inferior, obviamente segurando-se para não falar nada. Mal sabia ela que a situação ainda iria piorar.



- Quem devemos procurar? – Perguntou Harry, sem notar a preocupação de Gina.
- Os anões, nas Cavernas Brilhantes. – Começou Anaryon – Os Elfos em Ithilien, e na antiga Lothlórien, onde ainda existem colônias. E Rohan, o outro reino dos homens.
- Certo! Quatro lugares para visitarmos, somos quatro, então tudo bem. – Harry começava a andar pelo quarto, pensando alto.
- Cinco! – Disse Cho, da cama – Eu também vou.
- Não senhora. – Ralhou Mione – Pode ir tirando o Hipogrifo da chuva que desta cama a senhora não sai tão cedo.
- Mas eu não posso ficar aqui parada enquanto vocês lutam. – Protestou ela.
- E não vai, pode ter certeza. – Assegurou-lhe Harry – Mas agora precisamos decidir quem irá para onde.
- Para onde quer que seja, vocês não irão sozinhos. – Interveio Anaryon, que trocava olhares de aprovação com Arwen – Como representantes da família real, iremos com vocês para ajudar a convencer que falam a verdade e selar a aliança.
- Seria melhor se viajássemos sozinhos. – Intercedeu Rony – A viajem pode ser perigosa e se estivermos sozinhos e surgir algum perigo, podemos nos virar muito bem. Mas não será fácil se estivermos em grupos.
- Viajemos em pares então. Não levaremos escolta, assim não chamaremos a atenção. – Disse Arador.
- Pode ser. – Concordou Harry, olhando para Rony, que concordava com a cabeça – Assim, se ocorrer algo, podemos aparatar, evitando um confronto. Levanta menos suspeita também, é claro.
- Podemos usar roupas simples, ninguém saberá que somos da família real. – Intrometeu-se Éolyn, fazendo com que seu irmão e primos se virassem para ela.
- E quem disse que você vai? – Ararorn inquiriu – És uma jovem donzela, não podes ficar viajando pela Terra Média, ainda mais desacompanhada.
- Faço parte desta família tanto quanto você. Perdi meus pais exatamente como você, meu irmão. Ou você, Anaryon. – Disse a jovem, ao ver que o primo ia partir em apoio ao seu irmão – Não sou mais criança, não posso ficar de braços cruzados enquanto uma nova guerra paira sobre nosso povo. Tenho as mesmas obrigações e responsabilidades para com esse povo que vocês, e se o mínimo que eu posso fazer é representá-lo como embaixadora, então é isso que farei.
- A garota parece dura na queda. – Riu Rony, disfarçando logo em seguida, ao receber o olhar mortal de Ararorn.
- Que bom que você ache isso, Rony. – Disse Harry – Por que ela vai com você.
- O quê? – Todos disseram, em uníssono.
- Apesar de vocês já estarem lutando muito bem, meninas... Rony é quase tão bom quanto eu, é mais seguro para a princesa que vá com ele. – Esclareceu Harry.
- E eu posso saber, Harry! – Mione não agüentava mais se segurar, o ciúme aflorando em suas palavras – Por que é que o meu noivo tem que ir com a linda princesa e não você? Já que é o mais experiente e apto para defender a honra da... Donzela?
- Porque? – Riu Harry, do olhar mortal que Gina lançara à amiga ao ouvir estas palavras – Infelizmente Mione, eu acho que o Mago Branco e o Governante de Gondor devem ir juntos até Rohan. Seria péssimo se isso não acontecesse.
- Eu sou obrigado a concordar neste ponto. – Anaryon fez uma careta, não gostava nada da idéia de viajar a sós com Harry – Nós temos que buscar o apoio do rei dos Rohirin, e ele não verá com bons olhos se o Mago não for comigo. Sentir-se-á insultado.
- Podem confiar em meu irmão. – Interrompeu Gina – Ele não fará nada que possa desonrar a princesa.
- E que garantia teremos disso, minha Lady? – Perguntou Ararorn, olhando desconfiado para Rony, que fazia uma cara indecifrável, olhando de um para outro no quarto.
- Simples! – Respondeu a ruiva – Você confia sua irmã a ele, que por sua vez confia a dele a você.
- Como é? – Rony se pronunciou, confuso.
- Você viaja com Éolyn enquanto eu viajo com Ararorn, Rony. Entendeu? – Concluiu ela, sem notar uma nuvem passar pelo semblante de Harry.
- Isso significa que eu devo acompanhar Lady Hermione na empreitada? – perguntou Arador, mal conseguindo esconder sua felicidade.
- Parece que sim. – Resmungou Rony, não muito contente com a divisão.
- Muito bem, se já acertamos os pares, agora vamos dividir os destinos. – Retomou Harry, recuperando-se do pequeno ataque que tivera – Obviamente, eu e Anaryon vamos para Rohan. Rony, você e Éolyn podem visitar os anões?
- Certo! – Concordou o outro, extremamente conciso.
- Mione, você e Arador irão para Lothlórien. E Gina e Ararorn, vocês ficam com Ithilien.
- Esqueceram de mim? – Perguntou Cho, novamente.
- Não, eu não esqueci. – Respondeu Harry, virando-se para a amiga – Cho, o que você fez com o seu broche?
- Eu o enterrei. Foi a primeira coisa que fiz quando me vi sozinha, na caverna. Não podia correr o risco de alguém o descobrir e suspeitar o que era. Malfoy estava louquinho pra descobrir nosso meio de comunicação e transporte. – Disse ela.
- Vamos precisar dele, pra manter contato agora. Pode me mostrar onde está? – Harry perguntou com jeito, sabendo que a amiga ainda estava fragilizada pelas diversas violações de Malfoy.
- Harry! – Escandalizou-se Mione – Como você pode pensar em propor algo assim pra ela, nas atuais circunstancias?
- Eu não estou querendo invadir a mente dela à força, Mione. Não vou machucá-la. – Retorquiu ele.
- Não é essa a questão, Harry. – Retomou a moça – Eu sei que você não a machucaria, mas a mente de Cho já foi muito castigada nos últimos dias, você não pode lhe pedir que abra sua mente pra você. Ela talvez nem consiga.
- Não há outro meio Harry? – Questionou Gina, preocupada.
- Não temos tempo pra esperar Cho se recuperar e poder buscar o broche. – Respondeu Harry – Se houvesse outra forma, eu não insistiria nesta.
- Eu confio em você, Harry. – Disse Cho, com a voz fraca – Se não tem outro jeito, pode fazer o que for necessário.
- Tem certeza? – Perguntou Anaryon, preocupado – Não posso permitir que seja ferida novamente, ainda mais por um amigo.
- Tenho! – Respondeu Cho, sorrindo para o príncipe – Eu confio no Harry. Sei que ele vai fazer o possível para não me machucar.
- Pode ter certeza disso. – Respondeu Harry, sentando-se na beirada da cama novamente, ficando de frente para Cho e dizendo – Concentre-se na memória que precisamos... Tente se lembrar claramente do local onde você enterrou o broche. Deixe que esta imagem venha e ocupe totalmente sua mente.



Cho relaxou, e aos poucos, mesmo com o medo crescente pelo fato de saber que teria sua mente invadida novamente, conforme ela ouvia a voz de Harry, se sentia mais confiante. Ela sabia que ele não faria nada para machucá-la, então respirou fundo e concentrou-se na horrível e úmida caverna, onde passara vários dias confinada. Quando a imagem ficou bem nítida, ela sentiu uma pequena pressão em sua mente. Por instinto, sentiu sua mente se retrair, mas Harry falou novamente, suavemente, tomando suas mãos entre as dele – “Calma, não precisa ter medo, sou eu. Não vai doer nada, já está acabando.” – Ela voltou a relaxar e, realmente, em instantes o incomodo passou. Ela abriu os olhos, e Harry estava sorrindo para ela.



- Você está bem? Está sentindo alguma dor? – Perguntou ele, e continuou assim que ela negou com a cabeça – Muito bom Cho, você foi perfeita.
- Conseguiu ver onde está? – Perguntou ela, também sorrindo e voltando a se deitar, apreensiva e exausta.
- Claramente. – Harry se levantou, ainda sorrindo, e disse para todos – Já volto.



Com um giro gracioso, Harry desaparatou. Anaryon se aproximou da cama e perguntou para Cho.


- Tem certeza de que está se sentindo bem? Não está machucada?
- Não, estou ótima. Mal senti a mente de Harry tocando a minha, ele foi muito delicado. – Respondeu ela, olhando em seguida para Gina e apertando-lhe a mão, em sinal de agradecimento por ela ter permanecido ao seu lado.
- Eu sabia que ele só faria se fosse seguro pra você. Ele não suporta a idéia de ferir os amigos. – Disse a ruiva.
- Pois eu fico impressionado como vocês conseguem isso, desaparecer no ar e aparecer noutro lugar. É fantástico. – Disse Ararorn, olhando para o local onde Harry estava há poucos instantes.
- Não é tão fácil quanto parece. – Respondeu Mione – Se você se distrair na hora, pode acabar com metade do corpo aqui e metade lá. Não é uma cena bonita, posso lhe assegurar.
- Nossa! – Assombrou-se o rapaz, perdendo instantaneamente o interesse na aparatação.



Pouco mais de cinco minutos após ter partido, Harry ressurgiu no meio do quarto, as mãos ainda sujas de terra e o broche entre os dedos. Gina o tomou, limpou-o e entregou-o para Cho, enquanto Harry lavava as mãos numa vasilha d’água que estava sobre uma mesa. Quando terminou, retomou a palavra.



- Muito bem. Cada dupla deve partir o quanto antes, com a missão de contatar uma das cidades da Terra Média. Cho ficará aqui, vigiando o avanço dos inimigos e zelando por Lady Arwen. Qualquer problema que houver, qualquer ataque que ocorra, os outros devem ser avisados. Se alguma dupla for atacada, deve abandonar a missão imediatamente e retornar para Gondor.
- E quando partimos? – Perguntou Éolyn, que mal podia esconder sua euforia com a viagem.
- O mais rápido possível. – Disse Harry.


Discutiram mais alguns detalhes, programando as partidas para dali a dois dias. Depois deixaram Cho descansar, dispersando-se pelo castelo. Harry estava em uma das diversas sacadas, apreciando a paisagem enquanto pensava. Gina se aproximou e postou-se a seu lado, também apreciando o horizonte por alguns instantes, vislumbrando as montanhas distantes, encobertas pela neve. Então, quando viu que Harry não tomaria a iniciativa, resolveu tomá-la.



- Por que você não me contou sobre a viagem antes? – Perguntou, ainda com os olhos distantes.
- Não tive oportunidade. – Respondeu ele, dando de ombros – Não conversamos muito nos últimos dias.
- É, acho que não. – Concordou ela, virando-se para ele – Esta estória toda é para nos punir?
- O que você acha? – Respondeu ele com outra pergunta, algo que Gina odiava. Mas ela não queria brigar, então respirou fundo e respondeu.
- Eu acho que você já tinha planejado a viajem, e não contou pra gente só pra fazer nos sentirmos culpadas por termos parado de falar com vocês. – Disse ela.
- Tem razão. Eu já havia planejado nosso próximo passo, mas só não contei antes por que vocês não ouviriam. Vocês queriam nos punir por aquela discussão idiota, e agora todos vamos sofrer com a separação. – Disse, amargurado – Ou você pensa que eu gostei da idéia?
- Deu pra perceber que não. – Ela começou a se aproximar, tocando em seu peito – A cara que você fez quando disse que tinha que viajar com Anaryon...
- Eu queria saber o que esse cara tem contra mim. Está obvio que ele não vai com a minha cara, não quer gostar. – Ele aceitou o carinho, estava morrendo de saudade de sua ruiva. Aproveitou para abraçá-la, trazendo-a ainda mais para junto de si.
- Vai me dizer que você não entendeu o motivo daquele show, Harry? – Perguntou ela, não conseguindo suprimir um sorriso e revirar os olhos, com a negativa dele – Ele está com ciúmes, amor. Ciúmes da Cho.
- Ciúmes? Você acha que ele está gostando da Cho?
- Pra mim ta na cara. – Respondeu ela.
- E por que ele é tão hostil comigo? Será que ele pensa que nós temos algo? Será que ele não enxerga que eu só tenho olhos para você?
- Eles passaram muito tempo presos, juntos. Provavelmente, pra não se deixar entregar ao desespero, Cho deve ter falado muito sobre você. Então, de repente você aparece, a resgata e se torna mais uma vez o herói da vez. Enquanto ele, que presenciou todo seu sofrimento, não pode fazer nada para ajudá-la. Ele se sentiu inferiorizado, o que deve ser um grande golpe para um príncipe, futuro rei de Gondor. – Explicou ela, pacientemente.
- Eu juro que um dia gostaria de entender como vocês, mulheres, conseguem compreender tão bem esses assuntos do coração. Eu sou uma negação. – Disse ele, assombrado.
- Não é difícil, basta prestar atenção. – Riu ela – Dá um tempo pra ele Harry. Pega leve daqui pra frente.
- Ah! Agora eu é que tenho que pegar leve com o príncipe apaixonado? Engraçado, ninguém me “deu um tempo” quando ele me atacou outro dia. – Disse, sentido.
- Você está certo. Desculpe-me, é que eu fiquei com tanta raiva com a briga de vocês que nem pensei direito. Não devia ter me afastado de você esses dias, estou muito arrependida agora.Não gosto de me separar de você.
- Eu também vou sentir sua falta.Mas devem ser poucos dias. E não pense a senhorita que eu gostei de quem vai ser seu acompanhante na viagem... – Brincou ele.
- Ora, mas vejam só. O grande Harry Potter, o Mago Branco, parece estar com ciúmes do jovem príncipe Ararorn. – Divertiu-se Gina. Era bom saber que despertava ciúme em Harry – Só espero que você não o agarre pelo pescoço como fez com João Carlos aquela vez.
- Não me lembre daquele abusado. – Ralhou – Eu devia ter dado uma lição nele. Mas pode ficar tranqüila, não pretendo fazer nada com o garoto. Principalmente por que sei que não tem perigo algum, confio em você.
- Acho bom mesmo que confie. Mas porque você acha que não tem perigo? – Perguntou, curiosa.
- É que ele morre de medo da gente, não percebeu ainda? Ele não se sente muito à vontade quando a gente faz algum feitiço. Deve ter medo de virar sapo. – Explicou Harry, e ambos caíram numa gostosa gargalhada.
- Pois eu acho bom que tenha medo mesmo. – Gina disse, quando parou de rir – Virar sapo é a menor das preocupações dele se ousar alguma coisa.
- Eu sei. Minha ruivinha é arisca, tenho até dó do rapaz se cometer essa loucura.
- Mas Harry... E quanto a Rony e Mione? – O semblante da jovem se anuviou um pouco.
- Que têm eles?
- Estou preocupada com aqueles dois. Não gostei da cara que o Arador fez, quando viu que ia viajar com a Mione. E a Éolyn é praticamente uma adolescente, e está me parecendo que ela se encantou pelo meu irmão.
- Não seja boba. Aqueles dois se amam, tanto quanto nós. Nada pode interferir na relação deles.
- Espero que tenha razão amor. Não posso nem imaginar aqueles dois separados.
- Fique tranqüila. Não vai acontecer nada que não deva acontecer. – Disse ele, de forma enigmática, o que deixou Gina pensativa, mas ela resolveu não insistir. Queria aproveitar o pouco tempo que teria com o namorado.



Assim que saíram do quarto de Cho, Rony foi para o seu. Não estava de bom humor, sabia que logo teria que enfrentar Mione. Não deu outra. Minutos após ele ter fechado a porta, a jovem irrompeu pelo quarto como se fosse um furacão, seus olhos faiscando de fúria.



- Muito bonito, senhor Ronald Weasley. Espero que esteja satisfeito com seu par para a viagem. – Gritou ela.
- Como é? – Perguntou ele – Do que é que você ta falando, Mione?
- Que você vai conseguir viajar com a bela princesa, que certamente, vai te dar toda a atenção que você, o grande herói dela, merece. – Mione desdenhou.
- Não fui eu quem quis... Você estava lá, a idéia foi do Harry. – Defendeu-se ele.
- Mas eu não ouvi você reclamando nenhuma vez. Não fez nada para fazê-lo mudar de idéia, não é mesmo?
- Mas se nem você conseguiu convencê-lo, como é que eu ia conseguir? Ele tinha ótimos argumentos, ora essa. – Rony estava extremamente vermelho – E eu também não vi você reclamar dos pares depois que ficou sabendo que ia viajar com o Arador.
- Quê? Mas não tem nada a ver, só vou viajar com ele por que não tinha mais ninguém. E não adianta desviar do assunto, nós estamos falando de você com a princesa ninfeta.
- Pois pra mim é a mesma coisa sim. A Éolyn é praticamente uma adolescente, você acha mesmo que eu me interessaria por ela? Agora o Arador... Segundo na sucessão, bonito, rico, educado...
- Sei. Ela é uma adolescente muito da espertinha, pro meu gosto. Você acha que eu não vi a cara de felicidade dela, quando soube que ia viajar com você? E que baboseira é essa que ta falando sobre ser rico e educado? Se eu ligasse pra isso, nunca teria concordado em namorar e noivar você, seu grosso.
- Quer dizer que agora eu sou grosso, né? Eis a volta do “legume insensível”, senhoras e senhores. E eu não sei de onde você tira esse monte de bobagens, a menina só está agradecida por nós a termos resgatado da prisão.
- O problema é saber como ela pretende mostrar esse agradecimento todo. – Ironizou Mione, conseguindo o que queria. Ferir Rony.
- Hermione, eu sempre amei você. Desde que nos assumimos, nunca mais olhei pra outra mulher. Não me interessa mais ninguém além de você, mesmo quando você me ignora, me maltrata ou me ofende. E não será agora, por causa de uma menina (que você acredita estar gostando de mim) que isso vá mudar. Eu realmente pensei que você confiasse mais em mim. – Respondeu o ruivo, em tom baixo, sentido.
- Não era isso que eu queria dizer. – Tentou corrigir Mione, mas o estrago já estava feito.
- Mas já disse. – Respondeu ele, dirigindo-se para a porta e abrindo-a – Eu gostaria de descansar um pouco, ok?
- Você... Você está me mandando embora, Ronald? – Empertigou-se ela, também ressentida.
- Preciso ficar sozinho e pensar um pouco. Acho que esta viajem, separados, talvez até seja bom pra gente repensar algumas coisas, sabia?
- Parece... Parece que sim. – Disse Hermione, dirigindo-se para a porta, uma pontada no coração, ciente de que enfiara os pés pelas mãos e talvez pusera tudo a perder.





*****




Li abriu a porta e entrou, acompanhado de um Uruk Hai, gigantesco. Malfoy e Chú estavam conversando, sentados em uma mesa, anteriormente usada para reuniões do conselho. Quando se aproximaram, voltaram suas atenções para os recém chegados.


- E então, conseguiu descobrir como fugiram? – Perguntou Chú, para Li.
- Não meu mestre. – Começou este, fazendo uma respeitosa referencia – Terminamos de remover os entulhos, mas não conseguimos nenhuma pista. Sem dúvida, desaparataram.
- E o carcereiro não se lembra de nada mais?
- Não mestre. Ele afirma que foi atacado por dois Orcs, acompanhados por dois homens. Vasculhamos sua mente e ela não foi alterada, ele está dizendo a verdade. Não há indícios do resgate ter sido conduzido por nenhum bruxo.
- Como não? Quem você acredita que demoliu os dois lados do corredor? E como eles fugiram desaparatando, sem a ajuda de um bruxo? – perguntou Malfoy.
- Isto me parece obvio, Draco. – Disse Chú, sarcasticamente – Se você tivesse matado a garota ao invés de ficar brincando com ela, nada disso teria acontecido.
- Chang estava mais morta do que viva quando a mandei de volta para a cela naquela manhã. Não poderia ter fugido. Não poderia ter conseguido convocar sua varinha, que estava guardada comigo e escapado daquela maneira.
- Parece que você a subestimou, meu caro. A mim, parece que dois de nossos guardas foram rendidos e obrigados a ajudar. Depois de escaparem, os guardas foram abandonados fora da cidade, nus.
- Pois para mim tem dedo do Potter nessa estória. – Grunhiu Malfoy.
- Essa sua obsessão por Harry Potter já está cansando, Draco. Não existe a menor possibilidade dele ter nos seguido. – Chú disse, rispidamente – Apaguei da memória do velho a informação de como chegar até aqui, já disse isso.
- Então deve ter outra maneira, alguma coisa que você deixou escapar. Eu gostaria de ter interrogado os guardas que ajudaram na fuga. – Malfoy agora lançou um olhar para o Orc, que estava encostado, displicentemente numa das grossas colunas que sustentava o teto, e fez uma cara de nojo.



O Orc estava encostado, e sequer se deu ao trabalho de levantar a cabeça e devolver o olhar que recebia, ocupado que estava. Tinha uma faca de caça, que mais parecia uma pequena espada de aproximadamente uns trinta centímetros, e o fio era todo serrilhado, lembrando um pequeno serrote. A segurava com a mão esquerda, enquanto cravava a ponta na palma da mão direita, abrindo um corte recém cicatrizado e aumentando-o ainda mais. Um fino filete de sangue já escorria pela palma de sua mão e pingava sobre o belo tapete que cobria o piso da sala. Sem se abalar, respondeu.



- Orcs não dão chance para traidores se explicarem. A punição é imediata e eficaz. Meus guardas fizeram o que tinham que fazer quando o carcereiro identificou os dois.
- Mas eles poderiam nos dar algumas respostas. – Malfoy ainda olhava enojado para o Orc, não resistiu e perguntou – Você tem mesmo que fazer isso, Grork? É nojento.


O Orc finalmente levantou sua cabeça, parando o que estava fazendo, e encarou Draco. Abriu um sorriso com sua bocarra torta, fazendo uma grande cicatriz que cruzava sua face se acentuar ainda mais, e respondeu.


- Eu gosto da dor. Me acalma. Gosto de senti-la quase tanto quanto gosto de causá-la. Mas o som dos gritos de meus inimigos, num campo de batalha, enquanto morrem, é insuperável. Puro prazer.
- Claro. Depois eu é que sou o obsessivo e louco por aqui. – Respondeu Draco, desviando o olhar para Chú e continuando – Mas enfim, o que vamos fazer agora? Qual é o seu plano?
- Já que perdemos a oportunidade de conquistar Gondor sem luta, vamos ter que conquistá-la à força mesmo. Vamos convocar todas as tribos Orcs para se reunirem aqui, de onde lançaremos um ataque devastador contra a cidade. Todos, menos os Orcs que vivem em Mória. – Explicou Chú.
- E porque os de Mória não se juntarão a nós? – Quis saber Li.
- Tenho outros planos para eles. Quero que vá para Mória, Li, e os lidere. Eles devem distrair nossos inimigos enquanto nos preparamos.
- Distrair como? – Li perguntou novamente.
- Leve alguns homens. Mande-os, com alguns Orcs, atacarem os Elfos em Lothlórien. Me disseram que a floresta é protegida pela magia dos elfos, então leve bons bruxos para que consigam superar a magia protetora.
- Certo. E quanto a mim?
- Você deve marchar com o restante dos Orcs sobre Rohan. Elimine suas defesas e domine o povo. Viaje a noite, devido nosso novo aliado. Depois que devastar a terra dos cavaleiros, atacaremos Gondor por todos os lados, não lhes dando a menor chance de defesa.
- E quanto aos anões? E os tais pequeninos, que o nosso espião, que ainda existe em Minas Tirith, disse ter visto chegando em companhia de viajantes? – Perguntou Draco.
- Não conseguimos descobrir a localização da cidade dos anões. Não devem saber sobre nossa chegada ou o que estamos prestes a fazer. Não serão uma ameaça. Quanto a estes pequeninos, ou Hobbits, ou o que quer que sejam... Você acredita mesmo que criaturas tão pequenas possam ser alguma ameaça para os nossos planos? – Desdenhou Wang Chú.
- Claro que não. – Sorriu maliciosamente Malfoy.
- Partirei imediatamente, mestre. – Concordou Li, também sorrindo.
- Ótimo. Grork, mande mensageiros às todas as tribos, convocando-as a se juntarem a nós, imediatamente.


O Uruk Hai não respondeu, apenas anuiu com a cabeça, guardou a faca que voltara a riscar a pele e encaminhou-se para a porta, seguido de Li. Chú voltou a olhar para Draco, após a saída dos dois e disse.


- Mal posso ver a hora de me sentar no trono de Minas Tirith.
- Só não se esqueça, meu caro, de que vamos dividir este trono. E o de nosso mundo, obviamente. – Respondeu Draco.
- Claro Draco. Só não diga isso aos Orcs, pois eles realmente estão acreditando que vamos deixar tudo isso para eles depois que vencermos a guerra. – Riu Chú.
- Ridículo. Será que eles realmente acreditam nisso? Que deixaríamos esses animas dominar um mundo tão rico e promissor? São uns verdadeiros idiotas. – Draco acompanhou o amigo numa bela gargalhada e completou, depois de alguns instantes – Que vamos fazer com eles depois que não nos servirem mais?
- O que acha? Erradicá-los da face da terra, é claro. Não suporto nem o cheiro dessas criaturas repugnantes. – E gargalharam ainda mais.



*****




Durante os dois dias em que cuidavam dos preparativos para a partida, Harry e Gina tentaram de todo jeito convencer Rony e Mione a voltarem a se falar. Mione estava arrasada com a situação e se culpava, mas era orgulhosa e não dava o braço a torcer. Rony, por sua vez, dizia que não tinha feito nada de errado, portanto não tinha que pedir desculpas por nada. Quando amanheceu o dia da partida, já estavam no pátio preparando sua partida a primeira dupla, Mione e Arador. Seriam os que iriam mais longe, portanto seriam os primeiros a sair.Haviam chego à conclusão que seria mais seguro e chamaria menos atenção se partissem separados e com algum intervalo, para que não fossem notados. Tentariam deixar Minas Tirith o mais anonimamente possível. Concluíram também, que a barraca deveria ficar com Rony e Éolyn, para dar um pouco mais de conforto à jovem, o que não estava agradando nem um pouco Hermione. Não que ela se importasse com conforto, mas ela não conseguia deixar de imaginar Rony com ela dentro da barraca, e isso estava acabando com seu humor. Estava verificando sua mochila, num canto do pátio, conversando com Gina, que tentava pela ultima vez fazer com que os dois fizessem as pazes.



- Mione, fala com o Rony. É uma grande besteira vocês não estarem se falando e viajarem assim. – Disse a ruiva.
- Eu não tenho nada para falar com seu irmão. Ele mesmo decidiu isso, quando me expulsou do quarto dele outro dia. – Respondeu a outra, fingindo procurar algo dentro da mochila.
- Mas vocês dois estavam de cabeça quente, e você mesma admitiu ter dito coisas que não deveria. – Gina estava cansada de repetir aquilo.
- Não interessa. Ele me expulsou, então ele que venha falar comigo, se quiser. Mas parece que agora, a única com a qual se importa é a princesa. – Sua voz saiu um tanto esganiçada.
- Mas ele te ama, Mione. É loucura sua achar que ele está a fim dela. – Gina estava com vontade de socar a amiga, mas sabia que se fosse com Harry provavelmente ela também se sentiria insegura.
- Mas você reparou no quanto ela é linda? É meio-elfa, então puxou a beleza de Arwen, a pele dela parece brilhar. E viu como ela anda? É hipnotizante, todos os homens olham para ela. E é mais nova do que eu, está na flor da idade. E vai passar dias viajando com o Rony. E você sabe muito bem como são os homens, Gina. Não conseguem resistir a um rabo de saia, por mais que amem alguém, os hormônios falam mais alto, e aí...
- Mione, você está condenando o Rony por algo que ele não fez, algo que ele certamente não fará. Eu sei que a garota é linda e está a fim dele, mas isso não significa que ele vai se deixar envolver por ela. Mas se quer saber a minha opinião, sua atitude está jogando ele nos braços dela. Ele está se sentindo rejeitado, não amado. E ela pode usar isso muito bem, se quer saber.
- Então por que é que ele não vem aqui e diz que me ama e que não vai acontecer nada, e que vai sentir a minha falta e... Ah, sei lá, qualquer coisa?
- Por que ele já disse tudo isso e você não o ouviu? – Inquiriu a ruiva – E está com receio de tomar outra patada?
- Droga! – Suspirou tristemente Hermione – Porque eu sou tão teimosa?
- Não sei. Mas agora o tempo acabou, está na hora de partirem.



Harry se aproximava, acompanhado de Rony, Arador e Anaryon, trazendo os cavalos. As garotas se abraçaram, despedindo-se. Mione pendurou sua mochila nas costas, então abraçou Harry, dando-lhe um forte abraço. Este sussurrou em seu ouvido “Dá um tempo pra ele”, ao que esta balançou negativamente a cabeça. Harry se afastou. Mione se despediu de Anaryon com um cumprimento de cabeça, e instintivamente se virou para Rony. Com muito esforço segurou a vontade de sorrir. Não podia negar que ele estava lindo, com suas orelhas vermelhas. Estava tentando enfiar as mãos no bolso, mas a túnica que vestia não possuía bolsos e quando ele percebeu isso, ficou ainda mais se jeito. Como ele não falava nada, apenas se mexia no lugar, completamente sem jeito, ela tomou a iniciativa.



- Bom, então é isso. Tchau. – Disse ela, um sentimento estranho subindo por sua garganta, parecendo que se embolava ali, dificultando sua respiração e impedindo que falasse algo mais.
- É. Tchau! – Respondeu ele, com a voz falha. Pareceu tomar coragem, e continuou – Mione, lembre-se... Se acontecer alguma coisa, se precisar de ajuda, é só chamar que a gente vai na hora, está bem?
- Eu sei me cuidar muito bem, Ronald Weasley. – Ela disse, sem pensar – Adeus!



Deu-lhe as costas, indo para o lado de Arador, que a recebeu com um sorriso. Ficaram lado a lado, então Harry disse.


- Muito bem. Não se esqueça, aparatem no lugar onde construímos os barcos, na orla norte da floresta de Fangorn. Estarei enviando seus cavalos, paralisados, logo em seguida. Tomem cuidado e boa sorte.
- Certo. Até a volta. – Tentou sorrir Mione, pegando no braço estendido de Arador, girando e desaparatando.



Harry lançou um feitiço “Imobilus!” Sobre os cavalos e os fez desaparecer em seguida. Então se virou para o amigo, que tinha a cabeça baixa e o semblante pesado, bateu em seu ombro e tentou consolá-lo.


- Vai dar tudo certo, você vai ver. Quando voltarmos da viajem vocês vão conversar e se entenderem novamente.
- Nem estou pensando nisso. Só espero que nada aconteça com ela durante essa viajem, Harry. Se acontecer alguma coisa com a Mione eu acho que morro, cara. Morro. – Respondeu o ruivo, virando-se e seguindo para o castelo, para terminar de arrumar suas coisas e partir, dali a algumas horas.



Duas horas depois, todos estavam novamente no pátio. Era a hora de Rony e Éolyn partirem. Rony despediu-se rapidamente de Harry, e deu um forte abraço em Gina, dando-lhe um beijo na testa e dizendo “Se cuida, maninha.”, ao que ela respondeu “Você também, maninho!”. Saudou Ararorn e Anaryon com um gesto, desarrumou o cabelo de Andy, fez uma reverencia para Arwen e montou em seu cavalo, esperando por sua companheira de viajem. Éolyn, ao contrario de Rony, que estava sério e circunspeto, era pura alegria. Estava eufórica com a viajem, não só pela possibilidade de fazer algo de útil, mas também por poder ficar a sós com Rony. Ela se despediu de lady Arwen, depois abraçou o irmão e o primo. Deu um tchauzinho para Harry, um abraço rápido em Gina, e então finalmente montou. Ambos cobriram suas cabeças com o capuz de suas capas de viajem, lançaram um último adeus e partiram, calados.



Após o almoço, era vez de Gina e Ararorn. Senar estava terminando de preparar as montarias. Harry já se despedira do rapaz, e agora estava meio afastado do grupo, pensativo. Gina terminava de se despedir de Arwen, após ter feito o mesmo com Anaryon e Andy. Então se aproximou de Harry, abraçando-o pelas costas.


- Vai dar tudo certo, você vai ver. – Disse ela.
- Eu sei. Confio em você, sei que não vai te acontecer nada de mais. Mas mesmo assim me preocupo. E a idéia de não lhe ter perto de mim, de não poder sentir o seu perfume, tocar sua pele ou ver o seu sorriso... Isso sim está acabando comigo. Como conseguiu suportar isso por quatro anos? – Finalmente ele se virou, encarando-a.
- Não foi fácil. Mas eu tinha esperança de que voltaria a vê-lo, e isso me dava forças para me levantar da cama dia após dia. E finalmente tive minha recompensa. Olha, esta viagem não deve demorar muito, em poucos dias estaremos juntos novamente. – Disse ela, aninhando-se em seu peito, sentindo seu perfume pela ultima vez em vários dias, enquanto sua mão percorria sua pele, tentando absorver o tato, a sensação do corpo amado e guardá-lo na lembrança.
- Prometa-me que vai tomar muito cuidado, está bem? – Suplicou ele.
- Mas eu sempre tomo. Meu nome do meio deveria ser Cuidado e não Molly. – Brincou ela.
- Sei. Como se eu não te conhecesse, Ginevra Molly Weasley ( futura Potter ).
- Hei! – Ela deu um soco de leve em seu tórax - Não me chame de Ginevra, você sabe que eu não gosto.Mas de Potter pode.
- Eu estou falando serio, Gina. Se acontecer alguma coisa, me chame imediatamente, está bem? Jure pra mim.
- Ok. Eu juro. – Harry não percebeu seus dedos cruzados às costas – Bom, agora temos que ir.
- Ainda não. – Disse ele, com a voz mais rouca do que o normal, colhendo seus lábios em um beijo ardoroso e apaixonado, já cheio de saudades, que foi correspondido com a mesma intensidade.



Quando finalmente, com muita dificuldade eles se separaram, viram que eram observados por todos. Arwen sorria, deixando claro o quanto admirava e reconhecia o amor dos dois. Os outros, sentiam-se constrangidos em ver a cena de despedida dos apaixonados, e tentavam disfarçar a emoção que sentiram em presenciá-la. Gina finalmente soltou da mão de Harry, montou em seu cavalo, cobrindo a cabeça com seu capuz, gesto imitado por Ararorn. Ainda lançou um ultimo olhar a Harry, e então atiçou o cavalo a partir, velozmente, dando a impressão de que se demorasse mais um minuto, desistiria de ir. Harry permaneceu parado onde estava, olhando para onde os cavalos haviam desaparecido por minutos, até que alguém bateu em seu ombro, chamando sua atenção.



- Nossa vez, Potter. Vamos nos aprontar. – Disse Anaryon.
- Sim, vamos. – Respondeu ele, sem tirar os olhos do caminho. Então se virou e entrou no castelo.




Mais duas horas, e Harry e Anaryon já estavam prontos. Agora no pátio, para se despedirem, apenas Arwen e Andy, além de Senar, que cuidara pessoalmente dos cavalos de todos. Anaryon se aproximou de seu comandante e disse.
- Cuide de minha senhora Arwen. E cuide de lady Chang também, não a deixe se esforçar em demasia. Ela ainda está muito debilitada.
- Sim meu senhor. Pode deixar que tomarei conta de tudo na sua ausência. – Assentiu Senar, com uma meia reverência.


Assim como os outros, Anaryon pediu a benção de Arwen, despediu-se de Andy com um aperto de mão e montou em seu cavalo. Harry saudou a senhora élfica com uma reverência, depois se aproximou de Andy, dando-lhe um abraço e pediu.

- Não deixe Cho exagerar, está bem? Ela é meio teimosa, mas se for preciso, tome a sua varinha e a deixe trancada no quarto, para que se recupere totalmente.
- Trancá-la? – Assustou-se o Hobbit.
- É brincadeira, Andy. – Riu Harry – Só não a deixe abusar, ok?



Harry também montou, e calados os dois homens deixaram Minas Tirith.




*****




Haviam partido em direção noroeste, rumo à base das montanhas brancas. Cavalgaram boa parte da manhã em silêncio, e só pararam para almoçar quando Éolyn não agüentou mais e pediu para que parassem. Rony parou, contrariado, procurando um lugar onde pudesse montar um acampamento provisório, suficiente apenas para o tempo que levassem para preparar a refeição. Rony se encarregou de buscar lenha, fez o fogo, mas Éolyn se prontificou a preparar o almoço. Assim que terminaram a refeição, levantaram acampamento e partiram novamente. Antes de cair a noite, resolveram acampar. Rony montou a barraca para Éolyn, depois saiu em busca de madeira para acender o fogo. Quando voltou, ela já havia tomado banho e estava esperando por ele. Prepararam a refeição, e depois Rony se sentou à beira da fogueira que acendera, pensativo. Passado um tempo, Éolyn resolveu falar com ele.


- Sinto muito pelo ocorrido entre vocês, mestre Weasley.
- Quê? Ah! Oi Éolyn. Não, tudo bem. Não foi culpa sua. A Mione é meio esquentada mesmo. – Respondeu ele, chamado de novo à realidade.
- Ela não deveria tratá-lo desta maneira. Está lhe fazendo sofrer, e o senhor não merece isso.
- Ela não faz por mal. É o gênio dela, é assim mesmo. Desde que éramos crianças, sabe? Ela sempre foi assim, meio estourada. A Gina é pior, sorte do Harry que a minha irmã está numa fase boa. Precisa ver ela na TPM. – Rony não pode conter um sorriso ao lembrar da irmã.
- Como? – Perguntou a jovem, sem entender.
- Ah! Deixa pra lá. – Envergonhou-se o rapaz. Não poderia falar sobre aquilo com uma moça, ainda mais uma princesa – Com sorte vocês aqui não sabem o que é.
- Mas nada justifica tratar alguém que se ama da maneira como ela o está tratando. O senhor é tão nobre e bom, merece alguém que o ame e lhe sirva como companheira.
- Mione é minha companheira. Só está com ciúmes, não sei porque. Nunca dei motivos pra isso, só tenho olhos para ela.
- Se eu estivesse no lugar dela sentiria o mesmo. Qualquer mulher gostaria de roubá-lo dela, pode ter certeza. Enquanto saíamos da cidade, eu mesma fiquei enciumada ao ver as mulheres lhe lançando olhares cobiçosos.
- Olhares cobiçosos? Háh! – Rony riu, com gosto.
- Olhares cobiçosos sim, Ronald Weasley. Não se menospreze, pois és um belo homem. Alto, forte. Um grande mago e certamente um grande guerreiro. Observei-o treinar algumas vezes, em companhia de mestre Potter. Um homem apaixonante. – Declarou a jovem, com um brilho diferente no olhar.
- Er... Olha Éolyn... Está ficando tarde, acho melhor descansarmos para partirmos amanha bem cedo, ok? – Aquela conversa estava tomando um rumo perigoso, quase tão perigoso quanto o olhar que a jovem lhe lançava.
- Claro! – Concordou ela, levantando-se e seguindo até a entrada da barraca, onde se virou e continuou – Esta sua barraca encantada é realmente incrível, Rony. Tem muito espaço aqui dentro, tem certeza de que não prefere dormir aqui e não ao relento?
- Não, tudo bem. Estou muito bem aqui, prefiro assim. – Respondeu ele, não deixando de registrar que ela lhe chamara de “Rony” e não “Ronald” ou “Mestre Weasley”, o que podia ser um sinal de perigo.
- Muito bem. Mas o inverno ainda não acabou, a noite pode ficar realmente muito fria. Se isto acontecer, não se acanhe e venha se aquecer. – Propôs, com malicia.
- Certo! – Rony concordou, atônito. Ele teria que tomar muito cuidado com aquela garota, mas mesmo que morresse congelado à noite não entraria naquela barraca – Qualquer coisa eu apareço, ok? Obrigado e boa noite.
- Boa noite! – E Éolyn entrou sorrindo na barraca.



Rony pegou seu saco de dormir, estendendo-o, armou uma cobertura improvisada com um dos cobertores e lançou um feitiço, para que permanecesse uma temperatura agradável ali. Atiçou o fogo, para que não se apagasse durante a noite, e finalmente dormiu. A partir dali, Rony viu que Mione estava com certa razão sobre Éolyn. Apesar dele não sentir nada por ela, a jovem não perdia uma oportunidade em se insinuar para ele, de tentar convencê-lo de que gostava mais dele do que Mione. Ao final da tarde do terceiro dia de viagem, ele não agüentou mais as indiretas e resolveu dar um basta naquilo. No dia seguinte chegariam nas Cavernas Brilhantes, local onde Gimli havia construído uma das cidades de anões, a mais próxima de Gondor. Eles acabavam de desmontar dos cavalos e a jovem tentara se insinuar novamente, então resolveu mandas às favas a educação e ser duro com ela.

- Escuta aqui princesa. – Começou ele, seco – Já cansei desta estória de você ficar dando em cima de mim. Que saco, eu já disse que gosto da Hermione.
- E eu já disse que gosto de você mais do que ela, Rony. Só quero uma chance de lhe mostrar o quanto. – E ela passou a mão sobre seu tórax bem definido.
- Chega! Para com isso, garota. Será que você não entende? Eu amo a minha noiva. Isso não é uma disputa pra saber quem ama mais ou menos. E outra coisa, o que é que você sabe sobre amar? Você ainda é uma menina, nunca deve ter amado na vida.
- Sei tudo o que eu preciso saber sobre o amor. E sei que amo você, meu bravo mago e cavaleiro. – E agora sua mão tocava sua barba cerrada.
- Isso que você sente não pode ser amor, Éolyn. A gente mal se conhece. Você está confundindo as coisas, acha que gosta de mim por eu ser diferente. Um bruxo, de outro mundo, que usa uma espada e uma varinha para lutar. Deve ser algum tipo de fixação, de agradecimento por ter ajudado no seu resgate, sei lá. – Ele afastou-se dela, urgentemente.
- Se fosse assim, por que não me apaixonei pelo Harry? Ele é ainda mais poderoso do que você, não é? E talvez até mais bonito também. Mas não pra mim. Para mim, você é o mais bonito, másculo e viril homem que eu já conheci.
- Obrigado! – Ele não pode impedir que um rubor lhe cobrisse as faces.
- E é tão humilde... Bem humorado, delicado, sensível... Os homens daqui são uns brutos horríveis, não sabem como tratar uma mulher. Com exceção dos Elfos, claro. Mas não sinto atração por eles, não sei porque.
- Olha! – Rony tentou trazer a conversa de volta ao ponto principal – Você também é uma garota linda, sensível e delicada. Tenho certeza que encontrará um cara legal, que vai se apaixonar por você e te dar tudo que deseja. Mas esse cara não sou eu. Eu amo a Mione.
- Mas ela não te ama como você merece. Ela tinha que fazer de tudo para te deixar contente, para lhe ver feliz. E ela só briga com você, te humilha e nunca lhe dá atenção. Eu não faria isso com você, já disse. Daria-te todo o meu amor, eu te amo mais do que a minha própria vida, Rony. – Podia-se perceber o tom de desespero na voz da garota, e seus olhos marejando.
- Éolyn! – Suspirou Rony, coçando a cabeça – Por isso é que eu sei que o que você sente não pode ser amor. Você não pode amar outra pessoa mais do que a si próprio. Você tem que se amar, amar muito mesmo, para conseguir amar outro, para conseguir se doar à pessoa amada sem esperar nada em troca. É assim que eu amo a Mione. Não me importa se ela me ama mais do que eu a amo. Eu a amo, e me amo por amá-la desta forma. E eu sei que ela me ama da forma dela, e isso me basta. Preenche-me, entende?
- Não, eu não entendo, Ronald. Mas, se é isso que deseja, então não insistirei mais, pelo menos por hora. Ficarei aguardando, até que você me chame. – Consentiu ela, empertigando-se.
- Não perca seu tempo, não chamarei. – Disse ele, afastando-se para procurar lenha.
- Sim, procurará, Ronald. E eu estarei esperando, para provar todo o meu amor. – E a jovem começou a tirar a bagagem de seu cavalo.


Rony não gostou daquela última frase. Enquanto colhia a madeira, ficou lembrando que Éolyn era descendente de Arwen, uma poderosa Elfa, que tinha dons premonitórios. Passados alguns momentos, resolveu esquecer o assunto e voltou para o acampamento improvisado, para acender a fogueira e montar a barraca.


Era meio da manhã quando avistaram a entrada das cavernas. Havia um guarda escondido, que lhes ordenou que parassem, perguntando quem eram.



- Sou Éolyn, filha de Anardil e sobrinha de Aragost, último rei de Gondor, descendente de Elessar, o grande rei. Venho, em nome de meu reino, pedir uma audiência com o governante da Cidade dos anões. – Pronunciou pomposamente a jovem, causando o impacto desejado no guarda, que mal conseguiu disfarçar sua surpresa. Desviou seu olhar para Rony, gesto que não passou despercebido de Éolyn, que o apresentou – Meu companheiro é Ronald Weasley, o Mago Cinzento.



O guarda agora literalmente deixara o queixo cair. Imediatamente, pronunciou palavras em sua língua, abrindo uma porta disfarçada na rocha. O casal desmontou e o seguiu pela abertura, ingressando em um corredor longo, e incrivelmente bem iluminado. A espaço de aproximadamente três metros uma da outra, suportes acondicionavam tochas, que despejavam sua luz bruxuleante pelo caminho. As paredes eram escavadas na rocha, mas de maneira tão perfeita que pareciam ter sido escavadas por máquinas e não por mãos. Em vários nichos, ao longo do caminho, estátuas de anões, portando machados, picaretas ou trabalhando em bigornas. Andaram por mais de uma hora, atravessando cavernas gigantescas, forradas de estalagmites e estalactites. Noutra, um imenso lago de água mineral, proveniente das entranhas da montanha. Pouco depois, desembocaram em uma caverna gigantesca, onde fora construída a cidade dos anões.


A cidade era toda construída com blocos de rochas. As casas e edifícios, erguidos de mármore branco ou negro, assim como Minas Tirith. Também havia granito em abundância, e outras rochas que Rony não conhecia, mas que davam à cidade uma beleza impar. Enquanto atravessavam a cidade, eram observados pelos moradores, que se punham a conversar em pequenos grupos. Quando chegaram em frente a um suntuoso palácio, no centro de uma praça, entregaram as rédeas de seus cavalos a outro guarda, e subiram a escadaria. Seguiram pelos seus frios corredores, até chegar em uma vasta sala, com um trono de mármore negro ao fundo. Um anão estava sentado sobre o trono, que era forrado por peles de animais, apenas. O anão aguardou até que se aproximassem, então o guarda fez sinal para que esperassem enquanto ele falava com seu rei. Momentos depois, o soberano dispensou o guarda, levantou-se e se aproximou do casal.


- Eu não acredito que esta bela mulher é a pequena Éolyn. – Disse, alegremente – Eu devo realmente estar ficando velho.
- Já faz dez anos, Ghunter. Eu não passava de uma menina a última vez que nos visitou. – Riu ela, abaixando-se e abraçando o anão.
- Bom, isso não muda o fato do tempo estar pesando sobre meus ombros. Mas eu estou curioso, minha jovem. O que a traz aqui, em companhia de um mago? – E Ghunter cumprimentou Rony com uma reverência – Onde estão seus pais e seu irmão?
- Meu pai e meu tio estão mortos. Os Orcs estão se juntando, para tentar dominar a Terra Média. – Disse ela, com tristeza no olhar.
- Não diga mais nada agora, minha filha. Vou convocar uma reunião dos anciões. – Cortou o anão, batendo palmas, com força. Dois anões entraram urgentemente, ele passou as instruções e saíram para obedecer às ordens.




Uma hora depois, o conselho já estava reunido. Rony e Éolyn explicaram a situação, e para grande surpresa do ruivo, foi por um consenso geral do grupo que resolveram ajudar. Na verdade, os anões pareciam estar afoitos para entrar numa briga. Discutiam em voz alta, definindo quantos homens poderiam dispor, como avisar as outras cidades dos anões, etc. Gunther se aproximou dos visitantes, acompanhado de outro anão, que aparentava ser bem mais jovem do que ele.



- Este é meu filho, Gloryn. Ele comandará nossos homens nesta empreitada. – Apresentou ele.
- Muito prazer Gloryn. – Cumprimentou Rony – Sou Ronald Weasley.
- O prazer é todo meu, mestre Weasley. – Retribuiu o anão, após beijar a mão de Éolyn e apertar a mão que Rony lhe estendia, com um sorriso – É uma grande honra conhecer um Mago Cinzento. Reza em nossa história, os grandes feitos que esta magnífica ordem tem feito através dos séculos.
- A honra é minha, senhor. Na verdade não tenho feitos tão heróicos assim, posso garantir. Nada que mereça aparecer em livros e coisas do tipo. – Riu Rony, encabulado.
- Como não? – Interrompeu Éolyn – Então, entrar em uma fortaleza guardada por mil Orcs, disfarçado como um, invadir suas masmorras e libertar a todos os prisioneiros sem derramar uma gota de sangue é pouco para você Ronald? Fico imaginando o que seria então, um ato digno de um herói.
- Não fiz aquilo sozinho, estava com Harry, Arador e Senar. – Defendeu-se Rony, agora definitivamente corando.
- Mas quanta modéstia, meu jovem. – Disse Ghunter, batendo em suas costas – Isso é admirável, admirável. Mas não menospreze o seu feito. Entrar e sair de uma fortaleza tão bem guarnecida, apenas em quatro e sair vivo, não é coisa para qualquer um. Sinto que teremos muito a conversar, e nada melhor do que contar e ouvir estórias em frente a um belo banquete, regado com boa cerveja.


Rony e Éolyn foram acomodados, enquanto os anões preparavam um banquete para aquela noite. Quando foram conduzidos ao grande salão onde seria servido o jantar, este já estava abarrotado. Não parecia que os presentes estavam prestes a partir para uma guerra, todos cantavam, bebiam e brincavam. Rony mal pode acreditar na cena. Sentaram-se à mesa do rei, e logo lhes foi servido o que comer e o de beber. Para variar, Rony estava faminto, e não se fez de rogado. Ao ver os anões atacando a comida com as mãos, arregaçou as mangas e, literalmente, caiu de boca. Por um instante, os anões o olharam, parecendo não acreditar que um mago, que notoriamente eram tão contidos e finos, pudesse estar agindo daquela maneira. Mas, passado o susto, caíram numa estrondosa gargalhada. Até mesmo Éolyn, que se portava como uma princesa deveria se portar, riu embevecida com a cena. Era mais uma das características que ela tanto gostava em Rony. A naturalidade de suas ações. Ele ficava lindo comendo daquela forma.


Logo a conversa corria animada pela mesa. Gloryn sentou-se ao lado de Rony, e os dois conversavam bastante em voz alta, bebendo canecas e canecas de cerveja. Rony não demorou a se lembrar de que a cerveja era fornecida pelos Hobbits, o que o deixou ainda mais satisfeito em sorvê-la. Em certo momento, quando a bebida já começava a surtir efeito, Rony se virou para seu novo amigo e perguntou.


- Onde estão suas mulheres? Não vi nenhuma até agora.
- Como não, meu amigo? Estão por aí, várias delas. Você não deve ter prestado atenção.


Rony não questionou, mas continuou procurando pelo salão, ainda não achando nenhum sinal de presença feminina. Seu olhar cruzou com o de Éolyn, sentada a sua frente, que fazia grande esforço para não rir. Ela lhe disse, formando as palavras sem emitir nenhum som “Elas também têm barba!”. Rony arregalou os olhos, se engasgou com a cerveja e parou de procurar. Pouco depois a princesa deixou a mesa, alegando estar cansada e que pretendia se recolher. Procurou Rony com o olhar, mas este deixou claro que pretendia continuar um pouco mais, então ela partiu sozinha. Pelo visto ele beberia até tarde da noite.




Era alta madrugada, e ela caminhava com cuidado pelos corredores do castelo. Aproximou-se da porta do quarto, onde colou seu ouvido procurando por algum som em seu interior. Silêncio. Olhou para um lado e outro do corredor, para confirmar se estava vazio. Levou a mão à maçaneta, e estava começando a girá-la quando uma voz grave e rouca, às suas costas, fez um “Hum-Hum!”, fazendo com que desse um pulo e um grito, virando-se com um giro nos calcanhares para ver quem era.Um pequenino vulto estava sentado em um nicho do corredor, e deu passo para a luz.


- Não creio que seja muito prudente estar aqui, princesa. Poderia se comprometer.
- Gloryn! – Disse ela, ainda com a mão sobre o peito – Que susto. Você quase me matou do coração.
- Perdoe-me, princesa. Mas minha intenção foi apenas evitar que faça algo constrangedor, tanto para você quanto para nosso jovem amigo. – O anão tirava calmamente um enorme cachimbo do bolso e ateava-lhe fogo.
- Eu não sei do que está falando. – Protegeu-se a jovem – Só vim ver se Rony estava bem, vi que ele estava bebendo demais e fiquei preocupada.
- Claro, eu compreendo princesa. Mas, enquanto bebíamos, Ronald me contou sobre sua noiva, e de como o relacionamento anda um tanto abalado nos últimos dias. Sei que suas intenções são as melhores possíveis, mas não acho sensato entrar no quarto de um homem bêbado, no meio da madrugada, que deve estar morrendo de saudade da noiva, que está longe. Ele pode não discernir que não se trata de sua amada, e inconscientemente fazer algo de que, depois, os dois se arrependam. – As pequenas nuvens de fumaça subiam de seu cachimbo, enquanto Gloryn voltava a se sentar, no nicho e balançava as pernas displicentemente.
- Tem... Tem razão. Não quero lhe causar nenhum problema a mais com a noiva. Mas mesmo assim, estou preocupada com ele. – Èolyn esfregava as mãos nervosamente, tentando disfarçar a vergonha em ter sido pega em flagrante.
- Não se preocupe, minha senhora. Ficarei de olho em mestre Weasley a noite toda. O rapaz é ótimo para conversar, mas um tanto fraco para a bebida. Sinto-me responsável por seu bem estar. Insisto para que a senhora volte para seus aposentos e descanse, pois amanhã já estarão de partida novamente.
- Claro! Com certeza farei isso. Muito obrigada, Gloryn. – Disse Éolyn, seguindo pelo corredor.
- Boa noite, princesa. – Respondeu o anão, com um sorriso nos lábios e voltando a se recostar onde estava sentado.



Rony acordou tarde na manhã seguinte, e com uma enorme dor de cabeça, herança da ressaca em que estava. Sua boca estava amarga e seca. Quando se levantou da cama, avistou Gloryn sentado em uma cadeira, observando-o.



- Bom dia, mago. – Cumprimentou ele, cordialmente.
- Bom dia. – Respondeu Rony, com dificuldade – É muito tarde?
- Nem tanto. Mas já está na hora de levantar-se, se realmente tens a intenção de retornar a Gondor hoje.
- Certo. Está tudo bem? Não fiz nenhuma besteira esta noite?
- Não, não fez nada além de falar. Não há nada do que se envergonhar, posso lhe assegurar.
- Ainda bem. Já estou tão enrolado, que se acontecesse alguma coisa... Nem mesmo o fato de estar bêbado me livraria a cara.
- Você só estava precisando afogar as mágoas em uma boa caneca de cerveja. Não há nada demais nisso, às vezes. Mas só às vezes, heh?
- Numa caneca talvez... Mas em vinte? Não é meio exagerado?



O anão riu prazerosamente, e ambos deixaram o quarto. Enquanto Rony tomava um café reforçado, Gloryn lhe contava sobre as providencias que seu pai já havia tomado, como mandar mensageiros, através dos túneis, para as outras cidades, avisando sobre o ocorrido e convocando tropas. Depois, trataram de providenciar provisões para a viagem de volta, e por volta das dez da manhã tanto ele quanto Éolyn já estavam prontos para partir novamente. Ghunter e Gloryn acompanharam-nos até a saída das cavernas, para se despedirem.



- Então é isso. – Disse Rony, prestes a montar em seu cavalo – Somos muito gratos pela hospitalidade e, principalmente, pela ajuda.
- Em breve nos encontraremos de novo, Mago Cinzento. Então, poderemos mostrar aos Orcs o estrago que sua espada e meu machado podem fazer se provocados. – Disse Gloryn, brandindo sua arma.
- Com certeza. – Concordou Rony – Nos veremos em Minas Tirith, então. Até breve.



Éolyn despediu-se discretamente dos anões, fato que não passou despercebido a Rony. Mas ele estava de ótimo humor, como não se sentia há dias, e não queria saber de correr o risco de estragá-lo. Uma coisa que Gloryn dissera naquela manhã era a mais pura verdade. Ele realmente havia afogado suas mágoas na noite anterior. Não costumava beber, mas tinha que admitir que estava se sentindo mais leve, mais aliviado. Talvez o fato de ele estar voltando a Minas Tirith, e a idéia de que logo reveria Hermione também tivesse alguma influência em seu estado de espírito. Talvez.



*****




Quando deixaram Minas Tirith, rumaram para nordeste, acompanhando o leito do grande rio Anduim.A viagem até ali fora tranqüila, não haviam encontrado viajantes. Gina gostara da companhia de Ararorn. O rapaz era gentil e educado, apesar de demonstrar um pouco de receio dela. Mas aos poucos, ela conseguiu superar essa barreira e eles conversavam agora normalmente. Era a manhã do último dia de viagem. No dia anterior haviam vencido o maior obstáculo que encontraram, transpor o platô sobre o qual Rauros, a grande cachoeira, despejava suas águas. Dormiram sob o som hipnotizante da água caindo, um verdadeiro espetáculo da natureza. Mas mal prestaram atenção nisto, pois estavam extremamente cansados. Gina não se importava com os desconfortos da viagem, e ficou comovida quando o rapaz mostrou-se preocupado com isto. Mas, depois de tantas semanas cruzando aquela terra, ela realmente não se importava em dormir no chão.


Já haviam tomado o café e estavam cavalgando. Tinham pressa, pretendiam chegar na cidade élfica de Ithilien até o meio dia. O som de gritos à frente, no caminho, os fez parar imediatamente. Desmontaram de seus cavalos, prendendo-os em uma árvore, fora da estrada. Caminharam com cuidado, tentando ver o que acontecia, sem se revelarem. Mais à frente, após um leve declive no caminho, avistaram dez Orcs cercando uma carroça com algumas pessoas dentro, provavelmente uma família que estava viajando. Os Orcs cercaram a carroça, e riam com gosto do desespero da família. O homem, de meia idade, portava uma foice em sua mão direita, e estava apavorado. Sentado no lugar do condutor, soltara as rédeas e procurava, desesperado, uma maneira de salvar sua família. Ao seu lado, sua esposa chorava, agarrada a uma menina de uns nove anos, enquanto atrás da carroça, um menino de uns doze protegia a retaguarda, com um cutelo que, certamente, não adiantaria para nada. O sangue da ruiva subiu, no mesmo instante.



- Temos que ajudá-los. – Disse ela.
- Não podemos fazer nada, lady Weasley. São dez deles contra apenas dois de nós, não temos a mínima chance. – Arararor segurou seu braço, impedindo-a de se levantar – E mestre Potter disse para não procurarmos encrenca.
- O Harry não manda em mim. – Respondeu ela, puxando o braço – E tenho certeza de que ele não ficaria parado assistindo, enquanto uma família fosse massacrada na frente dele. Não mesmo. E podemos vencê-los, confie em mim. Só precisamos ser rápidos.
- Mas senhora, és uma dama, não pode se envolver em uma luta como essa. Irei eu então...
- Sem chance, garoto. Vão fazer picadinho de você.
- E de você não? – Perguntou o rapaz, descrente.
- Não se você fizer o que eu disser. – E a ruiva não conseguiu conter um sorriso maroto – Escuta aqui. Eu vou ao encontro deles, enquanto você permanece aqui, escondido. Vou provocá-los, e quando eles vierem pra cima de mim, você usa seu arco e abate o Máximo deles que conseguir.
- Esse é seu plano? Servir de almoço pros Orcs? Eu não posso atingir mais do que uns dois ou três antes deles a pegarem. É suicídio, lady Weasley.
- Não é não. Já lutei contra um bando maior que esse. E estava assustada, haviam nos surpreendido e ferido Harry e Rony. E você está se esquecendo da minha varinha, ela pode causar um grande estrago. Não se deixe enganar pela minha aparência frágil, Ararorn. Deixe esta falha para nossos inimigos. – Respondeu Gina, segura de si.
- Muito bem então. Vamos lá.


Gina deixou seu esconderijo, retomando a estrada. Enquanto ela caminhava firme em direção ao grupo, desarmada, Ararorn preparava seu arco, fixando uma flecha e tencionando a corda em seu máximo, esperando o momento certo. Durante alguns instantes, ninguém percebeu a aproximação da pequena figura ruiva que se aproximava. O primeiro a notar, foi o homem. Enquanto fitava os agressores, notou a jovem, que vinha em sua direção, andando tranqüilamente. Ele arregalou os olhos, e deixou o queixo cair um pouco. A jovem só poderia ser louca. Ao notarem o olhar do homem para além de onde estavam, eles também a viram. Começaram a se cutucar e apontar, dando estrondosas gargalhadas. A mulher, desesperada, gritou.


- Fuja menina. Corra enquanto pode.


Mas Gina a ignorou. Parou, quando estava a uns cinco metros da carroça, e disse.


- Bom dia. Só vou pedir uma vez, para que deixem estas pessoas e partam em paz.


Os Orcs, praticamente choraram de rir, enquanto a família fazia uma cara ainda mais assustada. Gina aguardou pacientemente as risadas cessarem, e um dos Orcs responder.


- E o que pretende fazer, pequenina, caso não cumpramos suas ordens?
- Não gosto de violência, mas se insistirem em atentar contra a vida destas pessoas ou a minha, serei forçada a tomar medidas extremas. – Disse, calmamente, enquanto prendia o cabelo num rabo-de-cavalo.


O gesto foi compreendido pelos Orcs, que pararam de rir. Um deles, que deveria ser o líder, berrou.


- Peguem-na!


A partir daí as coisas aconteceram de maneira muito rápida. Gina girou, sacando sua espada, com um feitiço não-verbal e desaparatou, deixando o campo de visão livre para Ararorn, que começou a disparar suas flechas, atingindo dois inimigos antes que eles percebessem o que estava acontecendo. A ruiva aparatou atrás da carroça, desferindo um golpe certeiro nas costas de um Orc, que gritou e tombou, morto. O grito chamou a atenção dos outros, que avançaram sobre a ruiva.


Gina não se intimidou. Gritou para a família – “Protejam-se!” – E cruzou espadas com um segundo Orc. Este tentou atingi-la na cabeça, mas ela desviou-se com agilidade e alvejou-o no peito. Mais um se apresentou, agora com um imenso machado, que quase lhe arrancou o braço, devido a forte pancada. Numa segunda tentativa, ela decepou seu braço, que caiu no chão ainda segurando o machado. A criatura soltou um uivo de dor, rapidamente interrompido pelo golpe contra sua garganta. Uma mão passou raspando por seu rosto, e Gina se jogou no chão, dando uma ágil cambalhota, desferindo um golpe no abdômen de outro enquanto se levantava. Parou, tomando um fôlego, e foi o suficiente para ser atingida fortemente na lateral de seu corpo, lançando-a longe. Com o baque, sua espada voou de sua mão, e ela se sentiu meio tonta.


Uma sucessão de gritos de jubilo demonstrava a felicidade dos Orcs em tê-la derrubado. Levantou os olhos, e viu que eles corriam para cima dela, espadas e machados em riste, olhos injetados de fúria, prontos para matá-la. A espada estava longe demais para alcançá-la, e não havia tempo de sacar a varinha. Uma onda de pânico começou a dominá-la. Raiva, por morrer daquela maneira tão estúpida. Mas o que mais a chateou foi imaginar a cara de Harry quando soubesse de sua morte, desobedecendo a suas recomendações. Ele ficaria sozinho, e ela nunca mais sentiria seu perfume. Nunca mais o veria ajeitando os cabelos. Nunca mais o beijaria. Uma lágrima solitária surgiu em seus olhos, acompanhada de uma onda de ódio, que percorreu seu corpo. Raiva dela mesma e daquela situação. Uma onda de energia que ela nunca havia sentido antes, que fazia seu corpo todo formigar. Uma energia que ela precisava liberar. Seus olhos brilharam, e quando o primeiro Orc pulou sobre ela, Gina sabia o que fazer. Levantou sua mão direita para o peito da criatura, e esta parou em pleno ar. Arregalou os olhos, mal podendo acreditar naquilo. Com um grito de fúria, lançou o Orc a, pelo menos, vinte metros de altura, sob os olhares atônitos de seus companheiros, que pararam seu avanço. Instantes depois, ele voltou ao solo, com um baque seco. Gina levantou-se, fitando com aqueles belos olhos castanhos, que pareciam ainda maiores do que eram. Ainda brilhavam excessivamente, deixando à mostra todo o poder que exalava da jovem.


****


Tal fato não passou totalmente despercebido. Em Minas Tirith, lady Arwen estava passeando por seu jardim, quando sentiu uma onda de energia. Ao mesmo tempo, em uma mesa de reuniões em Rohan, os olhos de um certo moreno brilharam ainda mais, intensificando seu verde. E um sorriso abriu-se em seu rosto.


****


Um grito, e outro inimigo se aventurou a atacá-la. Com muito mais firmeza, Gina moveu o braço, erguendo o atacante e lançando-o no meio do leito do rio, no meio da caudalosa corredeira que dava vida a Rauros. O alto som da queda d’água abafou qualquer grito que ele poderia ter dado, até engolfá-lo impiedosamente. Gina convocou sua espada, procurando pelos os inimigos restantes, ainda em tempo de ver um tombar sob a foice do carroceiro, e os outros dois estavam aos pés de Ararorn, que entrara na luta com sua espada.


Ela respirou fundo, buscando recuperar o controle de suas emoções e fazer seu coração voltar a bater normalmente. Limpou e guardou sua espada, então sorriu para o rapaz, que se aproximava, aparentemente desesperado.


- Belo trabalho, príncipe Ararorn. Não disse que dávamos conta? – Brincou ela, tentando disfarçar o nervosismo na voz.
- A senhorita está ferida. – Foi tudo o que o rapaz disse, chegando onde ela estava.
- O quê? – perguntou ela, sem entender, olhando para onde ele apontava, uma grande mancha de sangue em seu ombro – Ah! Isso não foi nada, nem tinha percebido.
- Mas está sangrando, precisamos tratar logo. Pode estar envenenado. – Insistiu ele.
- Certo! Tenho uma poção na minha mochila, você poderia pegar para mim?



Arararor nem discutiu. Voltou correndo para onde havia deixado os cavalos. Enquanto isso, a família se aproximava, temerosa. Gina tirou uma mecha de cabelos da frente do rosto e deu um sorriso sincero para eles.


- Estão todos bem? – Perguntou.
- Sim minha senhora. – Agradeceu o homem – Devo-lhe a vida da minha família.
- Não me deve nada. Não podia deixar aqueles monstros matá-los. – Respondeu, encabulada.
- A senhora chamou seu companheiro de príncipe Ararorn. É verdade? Acabamos de conhecer o descendente de Isildur?
- É. É sim, Ararorn é príncipe de Gondor.
- E a senhora? – perguntou a mulher – Como conseguiu fazer tudo aquilo? Só pode ser magia. A senhora é uma maga?
- Sim, eu sou. Mas não me pergunte como eu consegui fazer tudo aquilo, nem eu mesma sei. – Respondeu Gina, divertida.


Pouco depois, Ararorn estava de volta com os cavalos, e Gina pegou em sua mochila o que precisava. Uma poção para tratar o ferimento, que não estava envenenado, mas era razoavelmente fundo. Em poucos instantes estava cicatrizado. Depois, juntaram os corpos e, ao invés de atear fogo, o que poderia chamar a atenção de outros Orcs, Gina resolveu transfigurá-los, transformando-os em pedras. Como para comprovar que era realidade, realizou o feitiço sem varinha, apenas movendo as mãos sobre os corpos, que ficaram na beira do caminho. Ararorn orientou a família para que fosse até Minas Tirith e procurassem por Senar, dizendo que ele os enviara, mas Gina pedira que não contassem nada a mais ninguém, visto estarem viajando incógnitos. Já estavam montados, quando ela pareceu se lembrar de algo e disse, meio encabulada.


- Posso lhes pedir um favor? – E continuou, assim que o casal consentiu com um menear da cabeça – Se encontrarem alguém chamado Harry Potter, por favor, não contem sobre essa confusão.
- Não contaremos minha senhora. – Garantiu o homem.
- Obrigada! – A ruiva agradeceu, aliviada – Se o Potter descobrir que a gente procurou briga, é bem capaz de me matar.


Partiram novamente, e no inicio da tarde chegaram a seu destino. Uma pequena floresta, no centro do Ithilien. Assim que desmontaram, um Elfo surgiu dentre as árvores, com seu arco em guarda. Ararorn se apresentou e a Gina, e foram conduzidos para dentro da floresta. Conforme seguiam pelo caminho, a jovem ficava maravilhada com o que via. Não parecia que ainda era inverno. A grama era verde e estava alta, parecendo um imenso tapete. As árvores, frondosas e com frutos, não deixavam o vento frio que uivava do lado de fora entrar. As flores exalavam seu perfume, inundando seu olfato com uma gama surpreendente de fragrâncias. Quando chegou na pequena cidade, teve certeza de que, se Hermione estivesse ali, teria dado um gritinho de satisfação. A cidade era uma perfeita simbiose entre a natureza e as construções élficas. Não dava para saber onde uma árvore começava e uma parede terminava, pois tudo se mesclava. Chegando ao centro, um belo Elfo os esperava. Gina, que até então só tinha conhecido Arwen, finalmente conseguiu compreender o fascínio de seu irmão por ela. O Elfo era alto, com quase dois metros de altura. Louro de olhos extremamente azuis, possuía um corpo esguio, e movimentava-se de tal forma que parecia estar flutuando sobre a grama. Vestia uma túnica azul, o que destacava ainda mais sua beleza. Após uma breve conversa com o guarda, este se aproximou e saudou-os.



- Meu nome é Melroch. Sou o representante de Lady Arwen nesta cidade. É muito bom vê-lo novamente, príncipe Ararorn.
- É bom vê-lo também, Melroch. Trago uma mensagem de nossa senhora, Lady Arwen.
- Procuremos um lugar para conversar, então. – Respondeu o elfo, indicando o caminho.



Seguiram por uma alameda florida. Sem que percebesse, em instantes Gina estava subindo por um gigantesco tronco de árvore, que formava uma passarela e subia até uma construção situada na copa das árvores. Adentraram um amplo salão, sentaram-se no chão, de pernas cruzadas, e logo depois dois elfos entraram trazendo frutas e refrescos para eles. Os viajantes explicaram toda a situação, à qual Melroch ouviu atentamente, sem interromper sequer uma vez. Ao final da narrativa, este comentou.

- Já há algum tempo os elfos estão esperando por este dia. Fomos avisados por lady Arwen. Mas isto não significa que estejamos prontos. A maioria de nossos irmãos retornou para Lothlórien, se deixarmos a cidade para lutar e a deixarmos desguarnecida, nossas mulheres e crianças poderão sofrer um ataque. Mesmo com toda a magia que envolve a floresta, se não tivermos guardas nas imediações, podemos ser surpreendidos a qualquer momento.
- Quanto a isso, acho que posso ajudá-los. Existe um feitiço de ocultamento, que quando lançado impede que qualquer pessoa indesejável consiga encontrar um lugar. – Disse Gina.
- Ocultamento? – Questionou Melroch.
- Isso. Eu posso lançar um feitiço sobre a cidade, ocultando-a. E guardar o segredo em um fiel, um guardião deste segredo. Apenas as pessoas que essa pessoa quiser poderão encontrá-la. Isso significa que, mesmo que os Orcs atravessem a cidade, não conseguirão vê-la.
- E quem seria esse “fiel”? – O elfo mostrou-se bastante curioso e interessado.
- Teria que ser alguém de confiança. Você mesmo, de preferência.
- A idéia me parece interessante, lady Weasley. Assim, poderíamos ajudar em sua tarefa mais tranqüilos. – Melroch sorriu, satisfeito.
- Mesmo assim, acho que não poderiam deixar a cidade totalmente desguarnecida. – Ararorn finalmente se pronunciou sobre o assunto – Seria importante deixar alguns soldados de guarda.
- Sem dúvida. O Elfo concordou – Agora, se me dão licença, preciso comunicar meu povo.



Melroch bateu palmas, e novamente os dois elfos entraram. O líder conversou rapidamente com eles, provavelmente passando instruções. Após isso, estes se aproximaram do casal e pediram para que os acompanhassem até suas acomodações. Tomaram o caminho de volta, porém não desceram a árvore. Seguiram por uma alameda suspensa, que ligava umas às outras, criando um emaranhado de vias e pontes de corda. Passaram por várias árvores, até pararem em uma, onde foi indicado um quarto simples, mas aconchegante, para Gina. Não havia luxo, mas era confortável. Ararorn seguiu em frente.


Gina depositou sua mochila ao lado da cama e deitou-se para descansar um pouco. Conferiu o ferimento, que estava praticamente cicatrizado, graças às poções de Mione. O som de pássaros cantando e o farfalhar das folhas das árvores embaladas pelo vento, logo a venceram, e ela mergulhou num sono tranqüilo. Acordou ao final da tarde, sendo chamada por um outro belo elfo, dizendo que Melroch pedia a sua presença para que pudesse lançar o feitiço do fiel. Mas não voltaram à sala onde haviam conversado. Tomaram um outro caminho, e mais uma vez Gina se viu ao nível do solo, em frente a centenas de elfos. Tomou um susto, mas tentou disfarçar. Ararorn veio até ela, explicando a situação.



- Melroch explicou superficialmente sua idéia, e gostaria que você a explicasse a todos. E então, lançasse o feitiço.
- Claro. – Concordou ela, um tanto envergonhada. Não gostava de ser o centro das atenções. Virou-se para sua platéia e começou a explicar - Olá a todos. Bom, o que eu propus foi...



Depois de explicado minuciosamente como funcionava, Gina lançou o feitiço, nomeando Melroch como fiel do segredo. Mais tarde, uma nova refeição, novamente a base de frutas e verduras foi servida, acompanhada de um hidromel fabricado pelos próprios elfos. Conversaram por mais algum tempo e recolheram-se novamente. Após se banhar, e finalmente se deitar, Gina pode ouvir o canto dos Elfos. Ela não conseguia entender a letra, mas podia sentir que era uma música em ovação á natureza. A voz que cantava era feminina, muito lembrava a de Lady Arwen, e logo Gina sentiu-se envolvida pela melodia e, ainda conseguiu, com um sorriso, pensar em um certo moreno com uma cicatriz, antes de adormecer. Quando o dia amanheceu, apesar de toda a calma dos elfos, Gina percebeu uma certa agitação. Os moradores de Ithilien estavam se preparando para a guerra. Mas ela não poderia esperar. Também arrumou suas coisas, e no meio da manhã ela e o jovem príncipe já estavam de partida. Estava afoita em rever Harry.




*****




Alguma coisa lhe dizia que aquela viagem seria extremamente tediosa. Após deixarem Minas Tirith, cavalgaram rapidamente pelas planícies de Gondor, rumo a Rohan. Não se falaram, não tinham o que falar. Ao final da tarde, montaram acampamento e só então, começaram a falar, dividindo as tarefas. Harry, que era mais acostumado, assumiu a função de cozinhar. Durante o jantar, novamente o silencio. Depois, Harry limpou a louça com um feitiço. Anaryon então resolveu puxar conversa.



- Posso lhe fazer uma pergunta, Potter?
- Pergunta? – Harry ergueu uma sobrancelha, mas concordou - Claro, pode perguntar.
- O que houve entre você e lady Chang? – As palavras saíram um pouco mais rudes do que pretendera, mas ele não pôde evitar.
- O que houve entre a gente? – Harry não conseguiu reprimir um leve sorriso. Já esperava aquela pergunta, desde que tivera os olhos abertos por Gina – O máximo que houve foi um beijo entre adolescentes. Quando eu tinha quinze anos.
- E posso saber por que não houve nada, além disso? – Agora Anaryon parecia aliviado.
- Por que eu descobri Gina. Eu já a conhecia, mas nunca a tinha visto como mulher. Um dia, de repente, comecei a vê-la não mais como a irmãzinha do meu melhor amigo, e sim como a mulher que eu queria para viver ao meu lado. Deste dia em diante, não olhei para nenhuma outra. – Harry não acreditava que estava se abrindo assim com uma pessoa que, obviamente, não gostava dele – Mas Cho também é uma pessoa muito especial. Se Gina não fosse minha alma gêmea, talvez eu conseguisse olhar para ela de outra forma, que não fosse como amiga. Mas isso é impossível, e já deixamos isto bem claro entre nós.
- Mas ela só falava de você enquanto estávamos presos. Tem uma verdadeira adoração por você.


Harry fez uma careta, e respondeu.


- Isso infelizmente é meio normal de onde venho. Desde que derrotei Voldemort com um ano de idade, me tornei alguém famoso. “O menino que Sobreviveu”. Não pense que eu gosto disso. E a coisa piorou depois que eu “ressuscitei”, após quatro anos morto. Mas, no caso dos amigos mais próximos, como a Cho, e principalmente na situação em que ela estava, acho que era mais uma maneira de manter a esperança. Algo para se manter vivo e racional, levando em conta a situação toda pela que ela passava.
- É possível. Realmente eu a vejo reagindo muito bem quando você e sua noiva estão juntos. Será que ela já superou a situação? O rompimento de vocês? – E Harry percebeu, mesmo à luz da fogueira, que o príncipe ruborizava.
- Com certeza. Cho é uma garota de fibra. Foi ela que sustentou Gina, quando pensaram que eu estava morto. Mostrou-se uma grande amiga. E merece ser feliz. Torço muito para que ela encontre alguém.
- Ela não teve mais ninguém depois de você? – Aquela conversa estava ficando intima demais, pensou Anaryon.
- Ela namorou um outro membro dos Guardiões, Miguel. Mas ele morreu lutando, nas mãos Chú e seus homens.
- Entendo. – O homem esfregava nervosamente as mãos.
- Anaryon, posso lhe dizer uma coisa? – Harry olhava com seriedade para o outro.
- Claro! - Concordou este, empertigando-se e acreditando que Harry lhe exigiria explicações sobre o motivo de tanto interesse em sua amiga.
- Conheço Cho há bastante tempo. Quase dez anos. E percebi que há um clima entre vocês dois. Eu quero muito que ela seja feliz, entende? Se você tem algum interesse sincero por ela, vai fundo. – Ao ver o olhar confuso, corrigiu – Isso quer dizer, invista. Seja franco e verdadeiro com ela.
- Você está dizendo que lady Chang está interessada em mim? – Perguntou Anaryon, incrédulo.
- Está. Eu já vi como ela fica quando você está no quarto. – Harry percebeu o rapaz abrir um sorriso, e parecia não ter percebido isso – Mas eu só apoio isso se suas intenções por ela forem sinceras. Cho já sofreu demais, não merece uma desilusão amorosa na atual conjuntura.
- Meu interesse por sua amiga é verdadeiro, Mago Branco. – Harry sorriu, era a primeira vez que o príncipe o tratava por seu titulo de forma respeitável – Nunca conheci mulher tão corajosa. Possui fibra e bondade. Seria uma grande rainha para Gondor.Caso eu seja coroado, claro.
- Anaryon, os costumes daqui são diferentes de meu mundo. E mesmo em meu mundo, alguns ainda dão muito valor à pureza e virgindade. Ainda mais para uma pretensa rainha. E Cho não é mais isso, você sabe muito bem. Vocês podem enfrentar problemas por causa disso. – Harry não gostava de tocar no assunto, mas não queria ver a amiga iludida.
- Eu estava lá quando aquele maldito a obrigou. – Uma nuvem negra cobriu os olhos do rapaz, fato que não passou despercebido a Harry – Ela se sacrificou para preservar a honra de minha prima. Qualquer um que ousar falar contra ela estará ofendendo a mim e a minha família. E terá de pagar por isso.
- Muito bem. – Harry sorriu, satisfeito – Então fale com ela, Anaryon. Mas com cuidado, ela ainda está muito traumatizada com tudo que aconteceu. Você precisa ter muito tato, ou vai assustá-la.
- Sou um homem rude, Harry Potter. Não sei tratar as mulheres como se deve. – Lamentou-se.
- Sabe sim. Já vi como se preocupa com Cho. Ouvi você ordenando a Senar para que tomasse conta dela. Durante sua recuperação vi como a tratava. Vai saber como chegar nela sem assustá-la.
- Também vi que pediu a Andy Wise Gangi para zelar por ela. Tenho que admitir que é uma pessoa que se importa muito com os amigos. – E pela primeira vez desde que se conheceram, Harry viu um sorriso dado a ele por aquele homem.
- Não posso dizer que tenho família desde que tinha um ano, Anaryon. Meus amigos são minha família. São tudo o que eu tenho. É meu dever cuidar deles.



Nada mais precisava ser dito. Quando se prepararam para dormir, minutos depois, nenhum ressentimento havia entre eles. E quando acordaram na manhã seguinte, pareciam ser bons amigos há anos. Conversaram alegremente, e o restante da viagem prometia ser bem melhor do que o primeiro dia. Enquanto retomavam o caminho, Anaryon disse.



- Como ainda é inverno, o rei não deve estar em Édoras, a cidade de onde governa Rohan. Nesta época do ano ele transfere seu governo e boa parte de seu povo para seu castelo de inverno, no Abismo de Hell.
- Nome interessante para uma residência de inverno. – Retrucou Harry – Lá é seguro?
- Provavelmente tanto quanto Minas Tirith. O que pode significar muito, no caso de um ataque. – Explicou Anaryon.
- Assim espero. – Anuiu Harry.



O resto da viajem foi sem novidades. Avançaram em ritmo acelerado, e na manhã do terceiro dia avistaram o belo castelo. Harry entendeu imediatamente porque ele era tão seguro quanto Anaryon lhe falara. O castelo ficava no fundo de um desfiladeiro, incrustado em um precipício. Só havia uma maneira de se aproximar, e era de frente, estando em campo aberto e a mercê de seus arqueiros, que poderiam se dispor ao longo das centenas de metros de muros que existiam contornando a cidadela. Por trás, não existia a menor possibilidade de aproximação. Ao redor, um gigantesco fosso, e a única maneira de alcançar os gigantescos portões era por uma ponte que havia e era fortemente guardada.



Assim que pararam em frente ao portão, um dos guardas veio recebê-los. Anaryon solicitou audiência com o rei, e depois de alguns minutos foram introduzidos ao pátio interno da fortaleza, onde uma tropa de cavaleiros, os famosos Rohirim, executavam manobras. Seguiram pelas estreitas alamedas, carregadas de pessoas, até o palácio de inverno do rei. Desmontaram de seus cavalos, rapidamente tomados por um cavalariço que os levou ao estábulo. Subiram as escadas e passaram pelos corredores, até a sala do trono, onde um homem, de aproximadamente cinqüenta anos esperava por eles, sentado em seu trono.



- Príncipe Anaryon! – Saudou este, levantando-se e vindo em sua direção – Fiquei sabendo de sua perda. Aceite minhas condolências.
- Rei Eldest! – Os homens apertaram as mãos e fizeram uma leve reverência – Agradeço em nome de minha família os cumprimentos de Rohan.
- As noticias que recebi deixaram-me muito preocupado. Disseram que você era prisioneiro dos Orcs.
- E eu era. Fui salvo por Harry Potter, o Mago Branco. – E Anaryon indicou Harry, ao seu lado.
- Mago Branco? Não é um tanto jovem para ser um mago? – Eldest olhava desconfiado para Harry, que forçou um sorriso e respondeu.
- É o que todos dizem. Mas lhe asseguro que não é a idade quem faz o mago e sim sua perícia e conhecimento da arte. E isso eu já tenho de sobra, majestade.
- O que ele diz é a mais pura verdade, meu senhor. Já o vi transformado em Orc. Foi assim que invadiu a fortaleza e soltou a mim e meus primos do cárcere. Depois, com outra magia, transportou-nos do calabouço diretamente para a sala do trono em Minas Tirith. No começo eu mesmo cheguei a duvidar de que alguém tão jovem poderia ser um mago, mas estou convencido, a cada dia que se passa, de que este homem realmente é tudo que esperamos de um Mago Branco. Ou mais.
- Muito bem. Só me resta acatar seu julgamento. Mas agora, o que traz o futuro governante de Gondor e o Mago Branco a Rohan? – Eldest lhes indicou onde se sentarem para conversar.



Harry e Anaryon explicaram toda a situação. O que sabiam e o que acreditavam que poderia acontecer. Eldest não pareceu se surpreender com as noticias, era um homem experiente e sabia que a morte de seu amigo e monarca, Aragost, significaria guerra entre homens e Orcs. Mas mostrou-se preocupado quanto a Wang Chú e seus homens.



- O que sugerem então? – Perguntou, ao final da narrativa.
- Precisamos nos unir uma vez mais, majestade. – Disse Anaryon – Os povos da Terra Média precisam estar juntos novamente para rebater as forças do mal, que ameaçam nossa existência.
- Concordo em reatar as velhas alianças, Anaryon. Mas não temos como reunir todos num só lugar. Também não acho prudente, pois se caíssemos, toda a raça dos homens pereceria de uma vez. – O rei caminhava de um lado para o outro agora, pensativo.
- Também não vemos sentido em juntar todos. Não haveria espaço. Mas, se juntarmos o maior número de pessoas aqui ou em Minas Tirith, acredito que elas estariam em maior segurança do que espalhadas pelas pequenas vilas e cidades do reino. – Disse Harry.
- Você quer que eu traga todo o meu povo para cá? – Estranhou o rei – E onde eu as colocaria? Não há espaço.
- Anaryon me disse que há cavernas sob o castelo. Poderia acomodar as pessoas ali, meu senhor. – Explicou Harry.
- Nas cavernas? Mas lá não há espaço também. Nem condições para que as pessoas vivam. – O homem parecia estar ficando irritado.
- Podemos dar um jeito nisto. Alguns feitiços e deixamos o lugar maior e em melhores condições. Se o senhor concordar, posso começar imediatamente. – Explicou Harry, sem se abalar.
- O senhor só precisaria enviar homens a convocar seu povo para vir para cá. – Complementou Anaryon.
- Preciso ver o que o mago pensa em fazer, antes de me decidir. – Respondeu Eldest, olhando fixamente para Harry.
- Muito bem. – Respondeu este, levantando-se – Mostre-me a caverna.E vou precisar também de uma barraca ou tenda, qualquer coisa parecida.


Eldest, que não esperava aquela reação de pronto, e sim alguma desculpa para não atender seu pedido, sentiu-se meio perdido por alguns instantes. Depois, indicou o caminho aos dois, e foram em direção às cavernas. Durante o caminho, ordenou a um de seus guardas que trouxesse o que Harry pedira. Quando chegaram às cavernas, que eram ocultas por gigantescas portas, na parte detrás do castelo, Harry abriu um sorriso. Eram bem maiores do que ele imaginava, não seria tão difícil abrigar o povo ali. As cavernas deveriam ter uns trinta metros de altura, por mais uns cinqüenta de cumprimento e a mesma medida de largura. Ele faz um sinal para os monarcas para que ficassem atrás dele, fechou os olhos, abriu os braços, num gesto de quem queria abraçar tudo que via e lançou o feitiço para aumentar o espaço. Os dois homens sentiram uma pequena vertigem. Inconscientemente piscaram os olhos, na esperança que esta passasse, e quando os abriram, sentiram a boca abrir, tamanha a surpresa. O grande salão que era a caverna havia dobrado de tamanho, tanto em sua largura quanto seu comprimento, assumindo o tamanho de um estádio. Harry virou para eles, dizendo.



- Desculpem-me. Esqueci de avisar que era melhor fecharem os olhos. O efeito de ver o feitiço surtindo efeito pode ser meio desagradável. – E continuou, estendendo a mão – A barraca agora, por favor.
- Cl... Claro. – Sussurrou Eldest, ainda zonzo.



Harry pegou a barraca de sua mão, e com um gesto rápido, esta alçou vôo e pousou no chão, já montada. Harry a indicou com um gesto para os homens, e disse.


- Entrem, por favor. – E ele não conseguia esconder um pequeno sorriso no canto da boca, já antevendo a reação de ambos.



Um tanto quanto desconfiados, os nobres abaixaram-se e entraram na pequena barraca, engatinhando. Mas, quando entraram, assombraram-se uma vez mais, como Harry mesmo já havia se assombrado quando entrou pela primeira vez numa barraca magicamente ampliada, durante a Copa Mundial de Quadribol. Esta que eles estavam agora não era tão grande nem possuía tantos recursos, na verdade estava vazia. Mas era, sem dúvida nenhuma, espaçosa o suficiente para receber uma família de cinco ou seis pessoas. Harry, que entrou por último, fez uma fingida careta de desgosto, e disse, assustando os dois.


- Até que não está mal. Mas tenho certeza de que a Mione ou Gina podem fazer melhor nas próximas. Este tipo de feitiço não é o meu forte, entendem? – Riu ele, mas ficando sério emendou – Então, o que acham? Será o suficiente para acomodar uma boa parte do povo ou não?
- Tenho que admitir que estou impressionado, Mago Branco. – Respondeu Eldest, após alguns minutos. Ele havia andado pela barraca, como para comprovar que não era uma ilusão e voltava para a entrada, onde os outros estavam parados – Sem dúvida, vamos poder abrigar muita gente aqui dentro.
- Isto foi apenas uma amostra do que tenho em mente. Nos próximos dias, eu e meus amigos vamos deixar esta e as outras cavernas daqui em condições de abrigar seu povo. – Explicou Harry – E multiplicaremos as barracas, de modo que centenas de famílias possam viver aqui por vários dias, se necessário.
- Perfeito! – Eldest respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e soltando logo em seguida, num longo suspiro, dizendo – Muito bem então, vamos sair daqui e tomar as providências necessárias.


Retornaram ao castelo, seguindo até uma sala de reuniões, onde Eldest convocou seus generais, despachou mensageiros para as cidades, e começou a discutir planos de ação. A reunião durou até tarde da noite, e quando Harry se recolheu estava completamente exausto. Mesmo assim, seu último pensamento antes de cair nos braços de morfeu, foi numa linda ruiva, que àquela hora deveria estar dormindo em algum lugar daquela imensa terra. Por um instante, sentiu-se culpado por estar em uma cama macia, entre lençóis limpos e ela estar dormindo a céu aberto. Ainda teve tempo de pensar que, provavelmente, assim como seu último pensamento era direcionado a ela, sabia que o dela fora direcionado a ele também. Com este pensamento e um sorriso maroto no rosto, o sono finalmente o venceu.



No dia seguinte, logo cedo, estavam novamente na sala de reuniões. Anaryon e Harry já haviam decidido partir naquele dia mesmo, e estavam acertando os últimos detalhes com Eldest.



- Vamos deixar parte de nossas tropas de prontidão, então. – Dizia Anaryon, analisando um mapa sobre a mesa.
- Correto! – Concordou Eldest – Como não sabemos onde se iniciará o ataque, temos que ter forças de sobreaviso para partir em defesa do outro o mais rápido possível.
- Mas para que não percamos tempo, o farol deve ser aceso assim que as forças inimigas surgirem, não se esqueçam. – Ponderou Harry.
- Nosso farol nunca falhou, mago. Pode ficar tranqüilo. – Respondeu o rei de Rohan.
- Onde quer que se inicie o ataque, estaremos presentes para ajudar na defesa... – Dizia Harry, mas parou no meio da frase, sentindo uma sensação estranha, uma sensação de pânico que lhe comprimiu o peito, ele largou-se na cadeira, olhos fechados e sussurrou – Gina!
- O quê? – Perguntou Eldest, surpreso. Não havia reparado em Harry, mas assustou-se ao ver a palidez do rapaz.
- É a noiva dele. – Sussurrou Anaryon, preocupado – Ela está viajando com Ararorn até Ithilien. Potter! – Chamou, com cuidado – Harry! Aconteceu alguma coisa?



Harry não respondeu de imediato. Continuou sentado, concentrado no que sentia. O sentimento de pânico sumiu, sendo substituído por uma forte onda de poder. Uma intensa sensação de calor, fazendo com que ele sorrisse. Então finalmente ele abriu os olhos, mais uma vez assustando os homens a sua frente, pois estes brilhavam de um verde tão intenso que pareciam duas pedras preciosas, que durou pouco tempo, pois logo voltavam ao tom normal. Engolindo em seco, Anaryon perguntou novamente.


- Harry, aconteceu alguma coisa?
- Desculpem-me senhores.Minha atenção foi atraída para fatos que ocorrem longe daqui. – Respondeu Harry, tentando manter a calma.
- Você não me respondeu, Harry. – Insistiu Anaryon, temeroso. – Aconteceu alguma coisa com Ararorn ou lady Weasley?
- Por um instante eu temi que sim. Mas está tudo bem, acho que não estão seriamente feridos. – Harry começou a explicar, e vendo a cara dos dois, continuou – Acredito que eles tenham sido atacados por Orcs, mas se saíram bem.
- Como pode ter esta certeza? – Inquiriu Eldest, descrente.
- Eu e Gina somos almas gêmeas. Assim, temos uma certa ligação. – Harry disse, calmamente – Quando algo grave acontece com um, o outro sente isto, mesmo à distância. Uma vez, quando fui apunhalado, Gina sentiu na mesma hora. O que eu senti hoje, no início foi uma onda de pânico. Ela estava para ser morta e sentiu medo por alguns instantes. Pensou em mim, e isso selou o contato. Mas então, senti uma grande onda de magia, e tenho certeza de que os Orcs se arrependeram muito do ataque. Duvido que tenha sobrado algum.
- Nos pregou um grande susto, mago. Pensamos que estivesse tendo um ataque. – Exasperou-se Eldest, finalmente relaxando e sentando-se em sua cadeira novamente – E por que você parece tão feliz agora?
- Porque, meu caro... Se minhas suspeitas estiverem certas, Temos um novo elemento entrando em cena. Algo que eu estava esperando há semanas, e que finalmente parece ter despertado. Algo que, sem dúvida, será um grande reforço para nossa empreitada. – Harry tinha um sorriso maroto nos lábios. Sentou-se, juntando as mãos numa posição característica de seu ex-diretor, Alvo Dumbledore, e ficou assim por mais alguns momentos, até que as discussões sobre os assuntos estratégicos voltaram à tona e ele voltou a se concentrar no presente.



Era meio da tarde quando finalmente deram por encerrada a reunião e Harry e Anaryon decidiram voltar para Gondor. Eldest ainda insistiu para que partissem no dia seguinte, por estarem cansados, mas eles insistiram em partir imediatamente. Assim, enquanto o sol começava a se por no horizonte, duas figuras encapuzadas deixavam a fortaleza do Abismo de Hell, cavalgando velozmente.




*****




Aparataram na orla da floresta. Com muita dificuldade, Arador conseguiu segurar o mal estar causado pela viagem. A sensação de desconforto, como se um gancho o puxasse pelo umbigo e o virasse do avesso era mil vezes pior do que estar num campo de batalha e ser alvejado por uma flecha Orc. Mas ele não demonstraria sua fraqueza em frente a Hermione, então respirou fundo, enchendo os pulmões de ar, fechou os olhos, até a vertigem que sentia desaparecer, e só então os abriu, deparando-se com os belos olhos castanhos da maga, fitando-o com um leve sorriso.


- Não é nada agradável, não é mesmo? – Perguntou ela.
- Existem coisas piores, com certeza. – Respondeu, fazendo uma careta – Se bem que no presente momento, não consigo me lembrar de nenhuma.
- Eu também odeio aparatar. – Riu Mione, olhando em volta, procurando os cavalos que Harry enviara e acabavam de surgir a uns cinco metros à sua direita – Ah! Os cavalos!



Ela foi até os animais, acompanhada por Arador. Este segurou as rédeas dos animais, para que não fugissem, então Mione sacou a varinha e desfez o feitiço “Imobilus!” Que Harry havia lançado sobre os animais. Estes, livres e assustados, tentaram fugir, mas foram firmemente seguros pelo príncipe. Aos poucos, com muito jeito, conseguiram acalmar os animais. Então montaram, e Mione perguntou.


- E agora, para onde vamos?



Arador estava prestes a responder, quando um som às suas costas, vindo do interior da floresta, chamou-lhes a atenção. Ele rapidamente sacou sua espada, enquanto Mione apontava a sua varinha para o local de onde vinha o som, apenas para arregalar os olhos, incrédula.



- Me diz que você está vendo o mesmo que eu, por favor. – Suplicou, sem reação.
- Calma Hermione. Não se assuste. – Disse Arador, guardando a espada, enquanto com a outra abaixava a varinha de Mione – Pensei que nunca chegaria a ver uma destas criaturas. Hermione, este é um Ent, um dos guardiões da floresta.


Uma criatura, com mais de cinco metros de altura, havia acabado de sair dentre as árvores. Na verdade, na opinião de Mione, ERA uma árvore andando em sua direção, com olhos penetrantes e, por mais incrível que pudesse ser, uma barba feita de musgo. Com mais dois longos passos o Ent chegou a eles. Arador rapidamente fez uma reverência, saudando o recém-chegado.


- É uma honra vê-lo, ò guardião da antiga floresta de Fangorn. Sou o príncipe Arador, filho de Aragost, rei de Gondor. E esta é lady Granger, uma maga Cinzenta.
- Uma Maga? – Perguntou a criatura, numa voz rouca e profunda, de alguém que não tinha o costume de usá-la – Já faz algum tempo que os magos não visitam a Terra Média. E muito mais desde a última vez que vi uma maga. Meu nome é Barbárvore... O que traz um príncipe dos homens e uma maga à minha floresta?
- Estamos apenas de passagem, senhor. – Hermione falou, com a voz um tanto esganiçada ainda – Nosso destino é Lothlórien, a terra dos Elfos.
- Homens, magos e agora Elfos. Sempre que estas raças se juntam, significa derramamento de sangue, dor e guerra. – Suspirou Barbárvore, balançando a cabeça tristemente.
- Infelizmente tem razão, Barbárvore. – Concordou Arador – Novamente estamos na eminência de uma nova guerra. Os Orcs se reuniram com magos renegados, e pretendem dominar a Terra Média. Estamos em busca de ajuda para combatê-los.
- Lembro-me do jovem Sarumam, quando se deixou corromper pela ganância e cobiça. Muitas árvores sofreram na mão dele e de seus Orcses. – Disse o Ent, ressentido.
- Estamos tentando evitar o pior. – Disse Mione – Mas toda a ajuda seria bem vinda.


Não houve uma resposta de imediato. O Ent virou-se para o horizonte, assistindo o nascer do sol sobre as árvores da floresta. Então disse.


- Gosto de assistir o alvorecer deste lugar, nesta época do ano. – Mione e Arador se entreolharam, sem entender absolutamente nada, mas antes que comentassem algo, Barbárvore prosseguiu – Nós, os Ents, não costumamos nos meter nas discórdias dos outros povos que habitam esta terra. Mas não permitiremos que nossos irmãos e irmãs sejam sacrificados pelos Orcses para alimentar suas fornalhas e construir armas. Nenhum Orc que entrar em Fangorn sairá com vida, isto eu lhes garanto.
- Nós lhe agradecemos senhor. – Disse Mione, enquanto o Ent se virava, e em dois largos passos embrenhava-se novamente na floresta. Ela respirou fundo e suspirou – Uau!
- Sei o que quer dizer. – Riu Arador, virando seu animal e começando a cavalgar – É uma criatura magnífica, não é? Vivem por milênios, os Ents. Nem sabia que ainda existiam, só ouvi histórias deles e de como ajudaram meu antepassado a derrotar o mau.
- Fascinante! – Foi o único comentário que ela conseguiu fazer, enquanto atiçava o cavalo e emparelhava com ele.




Cavalgaram o mais rápido que puderam. Sabiam que o tempo era curto, e eles eram os que tinham que ir mais longe para buscar ajuda. Fora o inusitado encontro com o Ent, nada mais de anormal aconteceu nos dias que se passaram. Apesar da vontade em conversar com Mione, os dois pouco se falaram. Tentavam poupar suas energias e concentrar-se em sua missão. Ao final do quinto dia de viagem, foram obrigados a parar um pouco mais cedo, pois já estavam próximos da floresta e não era uma boa idéia adentrá-la à noite, pois os Elfos poderiam julgar que era um ataque e matá-los antes mesmo que tivessem chance de se apresentarem. Arador catou lenha e tratou dos cavalos, enquanto Mione preparava uma refeição. Depois de se lavarem, sentaram-se e colocaram-se a comer. Terminada a refeição, Arador tomou coragem e resolver falar.



- Estou realmente impressionado, Hermione.
- Impressionado? Com o que? – Perguntou, curiosa.
- Com sua disposição. Não conheço muitas mulheres que enfrentariam uma viagem como esta, com tantos dias andando a cavalo, dormindo ao relento em companhia de um quase estranho, sem luxo nenhum e não reclamar uma única vez. – Disse ele, deixando seu prato de lado e olhando-a com interesse.
- Ah! Por isso? – Sorriu ela, não conseguindo deixar de corar e tentando arrumar o cabelo, que sabia estar completamente armado – Não sou uma mulher bonita, muito menos vaidosa. E convivendo esses anos todos com os meninos... Bom, a gente acaba se acostumando com essas coisas.
- Mentira. – Disse ele, de supetão, fazendo ela dar um pulo de susto – Como podes dizer que não és bela? Ou vaidosa? Eu a vi, no dia que chegaram, ao se ver com aquele vestido. Estavas linda e sabia disso, você se sentia linda.
- Isso por que antes eu estava parecendo um trasgo, isso sim. – Riu ela.
- Ainda não é verdade. Ainda agora, mesmo depois de cinco dias viajando, continuas linda. – Insistiu ele, tentando tocar seu rosto.
- Arador! – Exclamou ela, levantando-se e afastando-se dele – Olha, é melhor você parar com isso. Eu sou noiva, e amo Ronald.
- Me perdoe, eu não queria ser leviano ou abusado. – Ele também se levantou e tentou se aproximar, mas Mione se manteve a uma distância segura – Entenda, eu não tenho nada contra Ronald. Até gosto dele, é uma ótima pessoa. Bem humorado, parece ser um ótimo combatente e, sem dúvida, um grande mago. Mas você merece mais.
- Isso é um absurdo! – Espantou-se ela.
- Não, não é. Me escute! Você é uma mulher culta, inteligente, envolvente, sedutora. Sabe porque fica tão irritada com seu noivo tantas vezes? Por que ele não acompanha seu raciocínio. Por mais que se esforce, tem uma capacidade intelectual inferior à sua, e você sente falta de alguém assim. Alguém com quem possa conversar. – Mione olhava para Arador, boquiaberta – Você merece um homem que te ame, não só por sua beleza ou capacidade como curandeira, mas principalmente que valorize todo o potencial que este cérebro privilegiado tem.
- Mas... Mas... – Hermione tentava se recompor. Não sabia o que mais a deixava chocada, se era a ousadia de Arador em estar lhe falando tudo aquilo ou a sensação de que, lá no fundo, ela também não achasse aquilo um pouco.
- Case-se comigo Hermione. Seja minha esposa, e juntos governaremos uma das cidades de Gondor. – Propôs, finalmente.
- Chega! – Gritou ela, parecendo se recuperar finalmente, sacando sua varinha e apontando para ele – Nunca mais diga uma coisa dessas, está ouvindo? Não vou me casar com você, eu vou me casar com Ronald. Está me entendo? E ele é muito inteligente sim... É o melhor jogador de xadrez bruxo que eu conheço.
- Xadrez bruxo? – Riu ele – Nunca ouvi falar, mas realmente deve ser muito difícil.
- E é mesmo. – Tentou convencê-lo – Nem mesmo o Harry consegue vencê-lo. Olha aqui, você deve estar acostumado a ter todas as mulheres correndo atrás de você, por ser um belo príncipe e tal, mas isso não vai funcionar comigo.
- Quer dizer então, que me acha bonito? – Perguntou, galanteador.
- Não! Quer dizer... Acho, claro que você é bonito, mas esta não é a questão. – Mione tentou se explicar, confusa, e sem perceber abaixou a varinha – Mas isso não significa que eu me interesse por você, nem que vá acontecer algo entre nós.



Mas Arador não estava prestando mais atenção em suas palavras. Ao vê-la abaixar a varinha, avançou rapidamente, prendendo a mão com a varinha para baixo e, com a outra, puxando-a pela nuca. Devido ao susto, Mione ficou sem reação, e ele se aproveitou para beijá-la. Por um instante, achou que o beijo estava sendo correspondido, mas em seguida, foi empurrado com força, e a última coisa que viu foi uma luz roxa sair da varinha, apontada para seu peito, e então escuridão.



Quando acordou, não sabia se havia se passado horas ou apenas alguns minutos. Percebeu que estava sentado, recostado em uma árvore. Sua cabeça doía e sentiu seu corpo preso, abaixou os olhos e viu que estava completamente amarrado, dos pés ao pescoço. Hermione estava em pé a sua frente, com uma cara péssima.



- Como você ousa... Como pôde fazer uma coisa dessas? – Bufou ela, ainda lhe apontando a varinha.
- Sinto muito. – Respondeu, completamente sem jeito. Tinha que admitir que a havia subestimado. Normalmente, quando agarrava alguém e beijava, era correspondido. Raríssimas vezes havia levado um tapa na cara, mas definitivamente nunca havia sido nocauteado e amarrado daquele jeito.
- Sente muito? Sente muito? – Urrou Mione, ameaçadoramente – Você tem sorte que temos uma missão para terminar, senhor “Príncipe Galante”. Ou eu o faria passar o resto da vida comendo moscas.
- Não vai se repetir Hermione, eu prometo. É que não consegui resistir, eu estou apaixonado por você. Não agüentei vê-la tão linda, tão solitária...
- Cala a boca! Não ouse me falar mais nenhuma sandice dessas, está me ouvindo? Nunca eu trocaria o Rony por você, não sei de onde tirou um absurdo desses. Ele é muito mais homem que você. Ele pode até não ser tão inteligente quanto você diz, mas tem uma qualidade que você não deve conhecer. Fidelidade! A mim, à família, aos amigos. E na hora que você me deu esse beijo, me provou uma coisa, pela qual eu realmente tenho que agradecer. Eu o amo, e a única boca que eu desejo é a dele. E como eu sinto a sua falta, você não faz idéia. – Agora lágrimas escorriam por sua face, lágrimas de saudade e de arrependimento – E não vejo a hora de voltarmos e poder falar isso pra ele.
- Certo! – Arador percebeu que não teria a mínima chance – Não tentarei mais nada com você, Hermione. Será que pode me soltar agora?
- Não. Acho melhor você dormir assim. Pra não correr o risco de se transformar em algo pior, entende? Não costumo quebrar promessas, e daria muito trabalho explicar porque transformei o príncipe de Gondor em um sapo. Amanhã pela manhã eu o solto, para terminarmos nossa viagem.



Conformado, o rapaz ajeitou-se o melhor possível, para passar o que ele tinha certeza, seria uma noite longa e cansativa. Agora, um novo pensamento lhe vinha à mente. Se Hermione contasse ao noivo o ocorrido, ele, Arador, podia se considerar um homem morto. Ele já havia visto o ruivo treinar com Harry, e sabia que era um adversário magnífico. E se resolvesse usar magia então, ele não duraria um segundo sequer.



Na manhã seguinte, quando acordou, percebeu que já estava livre. O corpo estava terrivelmente dolorido, seus membros estavam entorpecidos. Com muita dificuldade conseguiu se levantar, e avistou Hermione próxima à fogueira. Caminhou até ela, que percebeu sua aproximação e levou a mão à varinha.


- Calma! Muita calma, Hermione. Não precisa ter medo, não vou fazer nada com você. – Disse ele.
- E quem disse que eu estou com medo de você? No Máximo, estou com medo do que posso fazer com você se não se comportar. – Respondeu ela, de cara amarrada.
- Certo. Não vai precisar fazer mais nada, aprendi a minha lição. Não se preocupe.
- Não estou preocupada. Você está? – Perguntou, finalmente virando o rosto para ele.
- Pra ser sincero, estou. Com Ronald. – Admitiu ele, contrafeito.
- Ah! – Finalmente ela sorriu, mas não para ele e sim dele – É, isso pode ser um problema, sabe? Se Rony souber do que aconteceu ontem à noite, duvido que você veja outro por do sol com vida. Ele é um tanto ciumento, e se não percebeu, não gostou nada de estarmos viajando juntos.
- É, percebi. – Disse Arador, nervoso – Você não vai contar a ele, vai?
- Claro que não. – Respondeu, impaciente – Já tenho muita coisa na cabeça pra me preocupar, não quero mais isso na minha consciência. Mas se você bancar o engraçadinho novamente, Arador...
- Não! Nunca mais, eu juro. Não encosto mais em você, nem vou dizer mais nada sobre meus sentimentos. – Apressou-se em dizer, cortando-a.
- Melhor assim. Tome seu café, temos que partir o quanto antes. – E Mione saiu, indo preparar os cavalos enquanto Arador se sentava para comer.


Retomaram o caminho, e pouco depois chegaram na orla da floresta de Lothlórien. Com muita calma, adentraram entre as árvores, e logo foram cercados por cinco Elfos, armados com arco e flecha. Imediatamente Arador os saudou em seu dialeto, e eles abaixaram suas armas. Em seguida, pediram autorização para vendar Mione, pois nenhum estranho podia ver o caminho até a cidade. A jovem deu de ombros, consentindo, e logo estavam caminhando por entre as árvores. Para espanto de Mione, os únicos passos sobre as folhas que ela ouvia eram os dela e de seu companheiro, pois os Elfos pareciam caminhar sem tocar o chão, de tão leve que eram seus passos.



Passadas algumas horas, ela teve a sensação de que chegavam em uma clareira. Pararam, e sua venda foi retirada. Como previra Gina, quando avistou a cidade em Ithilien, Hermione não conseguiu segurar um gritinho de êxtase ao ver a cidade. Para tentar sufocá-lo, praticamente enfiou uma das mãos na boca. A cidade era muito parecida com a outra. A mesma simbiose entre a natureza e as construções élficas, a mesma beleza nas ruas e alamedas. Porém, a floresta era mais antiga, assim como a cidade, o que dava um ar nostálgico e imponente às construções, que estavam a mais de trinta metros de altura. Sua arquitetura era marcante, com formas alongadas e leves.



Enquanto olhava para tudo aquilo maravilhada, Mione não percebeu a presença de um casal de Elfos, até que um deles lhes dirigiu a palavra, lhe dando um tremendo susto.


- Arador! Há quanto tempo não o vejo. Quem é sua amiga? – Perguntou um Elfo Louro, com belos olhos azuis e penetrantes, alto e esguio.
- Mellon!Mirië! – Saudou Arador, abraçando o Elfo e fazendo uma reverência para sua companheira – É bom vê-los novamente. Há anos não nos visitam... Bom, esta é a Maga Cinzenta, seu nome é Hermione Granger.
- Uma maga? Mas é um imenso prazer conhecê-la. – Disse Mirië, uma bela Elfa com os cabelos castanhos e uma pele sedosa, olhos verdes, abrindo um sorriso e virando-se para Mione – Há muitos séculos não ouvimos falar de uma maga na Terra Média.
- O prazer é todo meu. – Mione também cumprimentou com uma reverência o casal – É engraçado... É a segunda vez que ouvimos isto nos últimos dias.
- Verdade? – Interessou-se Mellon – E quem mais lhes disse isso?
- Um Ent, chamado Barbárvore. – Respondeu Mione.
- Os Ents são tão antigos nesta terra quanto os Elfos. Seria natural ele se lembrar de algo assim. – Mellon sorriu, em sinal de compreensão, e continuou – A que devemos o prazer da visita do príncipe de Gondor e de uma maga?
- Infelizmente não temos boas notícias, meu amigo. Trago uma convocação da senhora dos Homens e dos Elfos, lady Arwen. – Disse Arador, solenemente.
- É chegado o momento, então. – O Elfo olhou para sua companheira, pesaroso – Há muito aguardamos esta convocação, meu caro. Quando lady Arwen teve a visão sobre a sombra que encobriria a Terra Média, ela nos alertou. Há muito estamos aguardando este dia.
- Precisamos conversar e tomar algumas decisões então, meu marido. – Disse Mirië, tocando o braço de Mellon.
- Sim, minha querida. Chegou o momento de partir para a guerra novamente. Mas há de ser a última, depois desta nos prepararemos para deixar esta terra e voltar para a terra dos imortais. – Mellon retribuiu o gesto, acariciando a mão da esposa, e continuou olhando para os visitantes – Venham! Precisamos organizar nossa partida.



Subiram em uma das árvores, entrando em uma das enormes construções. Logo foi convocado um conselho, e vários Elfos compareceram para discutir as medidas que se faziam necessárias. A reunião entrou pela noite afora, terminando apenas em alta madrugada. Mione estava exausta, tendo contado toda a estória de Chú e o que eles acreditavam ser os planos para o domínio da Terra Média. Finalmente ela foi levada por uma bela e jovem Elfa até uma casa, para descansar. Antes de cair na cama, exausta, lançou um feitiço para se proteger de Arador, caso este resolvesse visitá-la enquanto dormia. Nem tirou sua roupa ou se preocupou com o ronco em seu estomago, desabou na cama e dormiu imediatamente.


Na manhã seguinte, a mesma jovem veio lhe chamar, o que foi uma sorte, pois se fosse um homem teria tido sérios problemas com o feitiço protetor. Trouxe uma bandeja com o desjejum, à base de frutas e sucos, além de um pão típico feito pelos Elfos, pão de Lembas. Apesar de não ter muito gosto, o pão alimentava e dava uma gostosa sensação. Durante aquele dia, ela mal viu Arador, que continuava a tratar da organização das forças élficas. Ela aproveitou então, para conhecer a cidade. Perambulou entre as pontes, que ligavam uma árvore à outra. Visitou a biblioteca, com uma coleção estupenda de pergaminhos, alguns com datas de milhares de anos. À noite, os Elfos resolveram fazer uma festa para os visitantes. Um banquete, regado a hidromel e muita música, que durou até tarde. Para felicidade de Mione, Arador não tentou se aproximar dela nenhuma vez. Em compensação, Mirië mostrava-se muito interessada nela, não a deixando sozinha um minuto sequer. Conversaram bastante, a Elfa parecia extremamente curiosa em saber como era a vida de uma maga. Ficou extasiada ao saber que Havia mais duas ali com ela. Quis saber sobre Harry e Rony, e mostrou-se muito preocupada quanto à situação do relacionamento dos dois.


Mione também aproveitou a oportunidade para se inteirar mais sobre a cultura e os hábitos dos Elfos. Ficou sabendo que Mirië e seu marido, Mellon, haviam sido indicados como representantes de Arwen no comando da cidade. Soube também, que apesar das Elfas aprenderem a lutar desde cedo, não era costume elas participarem de batalhas. Assim, só os Elfos partiriam, deixando para trás as esposas e os filhos. Mione pode perceber que ela não gostava muito desta situação, e só a acatava para não contrariar os rígidos costumes de seu povo. Com o final da festa, todos foram dormir. No dia seguinte eles teriam que partir. Os outros já deveriam ter retornado, e deveriam estar preocupados com a demora deles. Haviam combinado que voltariam aparatando diretamente dali, para não perderem mais tempo, e Mione queria fazer isto logo que amanhecesse o dia. Deitou-se e dormiu. Parecia que acabara de fechar os olhos, quando ouviu uma voz lhe chamando com urgência.



- Senhora! Acorde, precisam de sua ajuda na sala do conselho. – Disse a jovem Elfa, já conhecida de Mione.
- O que? Aconteceu algo? – Perguntou, ainda sonolenta.
- Um aviso dos guardas de nossas fronteiras, senhora. Meu senhor Mellon solicita sua presença agora mesmo.



Mione levantou-se apressadamente, e correu atrás da jovem. Quando entrou na sala do conselho, um grande número de Elfos já estava lá, discutindo, além de Anaryon.



- O que aconteceu? – Perguntou ela, dirigindo-se a este.
- Orcs. E parece que esses tais Comensais também. Invadiram as fronteiras ao norte, vindos de Mória. – Explicou Arador.
- São muitos? – Mione tentou esconder o susto. Não esperava que já estivessem começando a se movimentar.
- Pelo que nossos guardas informam, são pelo menos uns cem Orcs, acompanhados de três desses Comensais. – Antecipou-se Mellon – Nossos guardas tentaram impedir seu avanço, mas não conseguiram. Os homens estão usando algum tipo de magia para se protegerem e aos Orcs. Já perdemos três guardas na tentativa de atingi-los.
- Precisamos encontrar uma maneira de detê-los antes que cheguem aqui. – Disse Mirië, preocupada.
- Hermione será que se chamarmos seus amigos, eles chegarão a tempo? – Arador perguntou, pensativo.
- Creio que não. – Respondeu ela, também pensativa – É meio da madrugada, e estão dormindo. Até conseguirem reunir homens e virem pra cá, pode ser tarde. Logo os Orcs estarão aqui. Precisamos ir ao encontro deles e impedi-los.
- Mas como passaremos pela proteção deles? – Arador perguntou, receoso sobre a resposta.
- Eu cuidarei disso. – Mione respondeu com firmeza, um silencio absoluto tomando conta da sala.
- Mas... Mesmo sendo uma maga como eles, Hermione. – Começou Mirië, em tom baixo – Eles são três, e você apenas uma. E ainda por cima, mulher. Que chance pode ter de vencê-los?
- Muita, Mirië. Eu já luto contra esses comensais há anos, conheço suas táticas e fraquezas. – Começou a explicar, e um brilho surgiu em seus olhos. Uma determinação e vontade de se provar que ela não sabia de onde vinha – Eles não sabem da nossa presença, portanto podemos usar o elemento surpresa a nosso favor. Eles não devem ter preparado nenhuma proteção contra minha magia, vou poder chegar perto o bastante para distraí-los para que vocês possam lançar um ataque contra os Orcs.
- De modo algum. – Retorquiu Mellon, imediatamente – Não posso permitir que arrisque sua vida desta maneira. Precisamos encontrar outra forma.
- Mellon, esta é a razão de estarmos aqui. Apenas nós podemos com eles. – Mione falou, virando-se para o Elfo.
- Mas não posso permitir que uma dama se lance numa batalha e ficar assistindo. – Insistiu ele, contrariado.
- Não ficará, só preciso de alguns segundos para atrair a atenção deles. Quando eu surgir perto deles, tentarão me matar, e relaxarão o escudo que devem ter conjurado. Então vocês atacam e me ajudam.
- Você pode se ferir seriamente, Hermione. – Mirië disse, ainda não convencida.
- É um risco que todos nós corremos e o qual estou disposta a correr. – Mione estava começando a ficar impaciente, estavam perdendo muito tempo.
- Eu acho que ela está certa. – Arador finalmente se pronunciou – Eu já vi como funciona esse negócio de viajar com magia, posso ir junto para a proteger.
- Não, não vai. – Ela foi categórica – Você passou mal quando aparatamos, não posso correr o risco disso acontecer novamente e ter que te proteger dos comensais ou dos Orcs. Sozinha eu consigo fazer o que é necessário, confiem em mim.
- Pelo visto já tem um plano em mente. – Sorriu, vencido, Mellon.
- Sem dúvida. – Mione sorriu de volta – Vamos? Estamos perdendo tempo.



Mais alguns sussurros entre os presentes, e logo estavam se preparando para partir. Arador, que não havia gostado nada da maneira que Hermione o havia dispensado, mas teve que admitir que admirava ainda mais a garota, por sua coragem e determinação. Em um canto reservado, Mellon e Mirië conversavam em voz baixa.



- Deixe-me ir com vocês, meu marido. – Dizia Mirië.
- De maneira alguma. Já basta estarmos levando a maga, não vou colocá-la em risco também. – Negou-se ele.
- Mas ela pode se ferir, Mellon. E neste caso, nenhum de seus guerreiros a tratará como se deve. E pode não haver tempo para trazê-la para mim, para ser tratada. É uma maga, não podemos perdê-la. – Insistiu a Elfa.
- Neste ponto você tem razão. Duvido muito que ela saia incólume desta luta, pode realmente ser bom ter alguém que possa tratar-lhe. – Cedeu Mellon, conformado.



Em poucos minutos estavam prontos. Não era um grupo muito grande, não passavam de oitenta, pois resolveram deixar uma parte de prontidão na cidade caso falhassem, como segunda linha de defesa. Seguiram pela floresta, na madrugada fria e clara de inverno. Mione lançou um feitiço “Abaffiato!” Sobre ela e Arador, de modo que nenhum som de pés era ouvido enquanto andavam. Os Elfos portavam seus belos arcos, e suas aljavas carregadas de flechas, além de espadas penduradas ao lado do corpo. Mirië caminhava ao lado do marido, e também trazia sua arma, apesar de seu arco ser um pouco menor que os outros.



Depois de algum tempo caminhando, Mellon fez sinal para que parassem e escutassem. O dia já amanhecera, e ao longe podiam ouvir o som de dezenas de passos Orcs atravessando a floresta, sem se importar nem um pouco em ocultar seu avanço. Com um sinal, todos se esconderam, e continuaram avançando lentamente, com todo o cuidado. Logo entraram em seu campo de visão. Os Orcs avançavam em colunas, entre as árvores. Riam e rosnavam, felizes por finalmente avançarem pela floresta Élfica. Um pouco atrás, também em linha, mas distantes uns dez metros uns dos outros, três bruxos vestidos de negro. Agitavam a varinha incessantemente, lançando feitiços ao redor da tropa e na floresta, para desestabilizar as defesas que os Elfos haviam lançado nela.


Mellon instruiu seus guerreiros a se espalharem, cercando os atacantes. Olhou para Mirië, depois para Arador, que estava ao seu lado, e finalmente para Mione, que correspondeu o olhar com entendimento, sacou a varinha e a sua espada, deu um giro e desaparatou, surgindo atrás dos Comensais da Morte. Antes que estes a percebessem, apontou a varinha para o bruxo do meio e começou a luta.



- “Expelliarmus!” – Lançou, desarmando o bruxo, que se virou, assustado.



Imediatamente, os outros dois se viraram para ela, mas antes que pudessem fazer qualquer coisa, Mione já apontava a varinha para o bruxo da esquerda, lançando um “Estupore!”, que o atingiu no peito, lançando-o longe. Um jato de luz verde passou raspando por seus cabelos, sinal de que quase fôra atingida por uma maldição da morte. Mione virou, bem a tempo de conjurar um escudo contra uma chuva de outras azarações que o comensal lançava contra ela, enquanto uma chuva de flechas passava sobre sua cabeça, disparadas pelos Elfos, que neste momento deixavam seus esconderijos e partiam para cima dos Orcs. Chocados com a perda de sua proteção, demoraram algum tempo para reagir ao ataque, tempo muito bem aproveitado por Mellon e seus soldados, que atacaram ferozmente.



Enquanto isso, Hermione começava a ser acuada. O bruxo que perdera a varinha havia conseguido recuperá-la, e estava tentando empurrá-la de encontro ao companheiro. Em uma tentativa de se proteger deste, Mione acabou baixando a guarda para o outro, que aproveitou a oportunidade para, também com um - Expelliarmus!”– Desarmar-lhe. Sem a varinha, Mione ergueu sua espada, à espera do próximo ataque. O bruxo que ela havia desarmado sorriu, apontou a sua varinha para a jovem, e começou a pronunciar o feitiço que mais gostava.


- “Avada...”



Mas não conseguiu terminar a frase, pois uma flecha certeira atingiu-o no pescoço. Mione olhou na direção de onde viera o disparo, e viu Mirië, ainda com o arco em riste, sorrindo para ela. Sorriu levemente, em sinal de agradecimento e voltou sua atenção para o último comensal que ainda estava em pé, que avançava ferozmente para ela, também com sua espada na mão. Encontraram-se no meio do caminho, o bruxo era grande e forte, mas extremamente desajeitado. Ela desviou-se facilmente de seu golpe, tentou atingir-lhe a perna, mas ele também conseguiu se esquivar, e tentou um golpe em diagonal visando sua cabeleira. Mione o bloqueou, mas ele realmente era mais forte que ela. Começou a pressionar as lâminas, procurando atingir-lhe o rosto, enquanto ria, mostrando a boca desdentada e fétida. Como último recurso, Mione desferiu-lhe uma joelhada no baixo ventre, que fez o homem urrar de dor e se afastar, o que foi suficiente para ela desferir um golpe na horizontal em seu peito, sem defesa. O bruxo tombou de costas, morto.


Respirou fundo, tentando recuperar o fôlego, quando ouviu um grunhido às suas costas. Virou-se rapidamente, bem a tempo de aparar um golpe de machado desferido por um Orc. Desvencilhou-se dele, deu um giro na espada e cravou-a no peito da criatura. Colocou-se em guarda, à espera de um novo atacante, mas o que viu foi Mirië vindo em sua direção, sorrindo. Próximo, Arador acabava de derrotar um inimigo e também vinha em sua direção. Ainda havia pequenos focos de combate, mas eram escassos e a supremacia dos Elfos era evidente.



- Você está bem? – Perguntou ele, antes ainda de se aproximar dela – Não está ferida?
- Não, estou bem. – Sorriu Mione – Só falta uma coisa.

Mione caminhou até onde o comensal estuporado estava caído, conjurou cordas e amarrou-o, lançando também um feitiço anti-aparatação, que o impedia de fugir.



- Acho que conseguimos um prisioneiro. – Disse, com simplicidade.
- Você foi magnífica, Hermione. – Disse Mirië.
- E luta muito bem também. – Completou Mellon, que também se aproximara – Tem uma ótima técnica, move-se de maneira rápida e precisa.
- Mas eu sinto que falta alguma coisa, parece que não luta com afinco. O faz por obrigação. – A Elfa completou o raciocínio do marido.
- O Harry diz a mesma coisa. Por mais que eu tente, tem alguma coisa errada. Não sei o que é. – Mione parecia um tanto desconcertada.
- Você luta com o cérebro, Hermione. Não com o coração. Não gosta de lutar, não tem a motivação certa para isso. Quando desejar, volte e talvez possamos ajudar-lhe a encontrar esta motivação. – Mellon propôs, com sinceridade.
- Vou pensar no assunto, obrigada. Mas agora, precisamos voltar para Minas Tirith. – Agradeceu ela.
- Vá. Reunirei meus homens e partirei o quanto antes, através do Anduim. Em alguns dias nos encontraremos novamente. – Disse Mellon.
- Você será sempre bem vinda em nossa cidade, Hermione. – Disse Mirië, em tom de despedida.
- Certo. Ah! E obrigada por salvar minha vida agora a pouco. – Mione deu um belo sorriso para a Elfa, que recebia um olhar questionador do marido, que não havia visto o que esta fizera durante a luta.




Hermione pediu ajuda a Arador, e juntos puseram o bruxo de pé. Este já estava acordado, e tentava se desvencilhar de qualquer forma. Pegou em seu braço, dando o outro para o príncipe, e desaparatou.




*****




Harry sabia que seriam os primeiros a retornar. Haviam cavalgado rapidamente, mesmo durante a noite, parando apenas o essencial para os cavalos descansarem e eles tirarem uma pequena soneca. Quando atravessaram os portões da cidadela do castelo, sentiu uma sensação de alivio percorrer seu corpo. Saltou, assim como Anaryon, e ambos entraram pelos portões. Não se podia dizer que os dois haviam se tornado grandes amigos, mas pelo menos a relação deles era cordial e respeitosa. Isso facilitou bastante a missão e a volta. Era hora do almoço, e estavam famintos. Seguiram diretamente para o salão de refeições, onde encontraram lady Arwen e Andy. Lavaram-se, depois se sentaram à mesa e, enquanto almoçavam, contaram como havia sido a viagem. Estavam no final da refeição, quando a porta foi aberta e uma Cho Chang possessa entrou por ela.



- Então vocês estão mesmo aí! – Bradou ela, extremamente corada de raiva – Será que algum dos senhores pode me explicar que história é essa de deixarem dois cães de guarda tomando conta de mim?
- O quê? – Perguntou Harry, sem entender nada.
- Qual é Harry. Eu sei muito bem que vocês dois mandaram esses dois. – E Cho apontou para Andy, que tentava se encolher ainda mais atrás da mesa e Éomer, que entrava atrás dela – Ficarem me vigiando e não me deixarem fazer nada? Até minhas refeições na cama esses caras estão me obrigando a fazer. Francamente!
- Perdoe-nos, lady Chang. – Tentou justificar-se Anaryon, extremamente sem jeito, enquanto Harry tentava segurar um acesso de riso – Nossa intenção era apenas poupá-la para que se recuperasse o mais rápido possível.
- Pois vocês quase conseguiram que eu transformasse esses dois em dois carrapatos, isso sim. Não largaram do meu pé um minuto sequer. Chega, estão me ouvindo? Já estou bem o bastante para poder me virar sozinha, entenderam? – E uma varinha surgiu perigosamente na mão da moça.
- Ok, Ok. Já entendemos o recado, Cho. – Harry fingiu medo, levantando as mãos, divertido.
- Ótimo! – consentiu ela, largando-se em uma cadeira, emburrada, e completando – Me desculpe lady Arwen, mas eu já estava ficando doida com isso.
- Não há nada a ser desculpado, minha querida. – Respondeu Arwen, que se divertira bastante com a situação.
- Sabe, vocês dois precisam parar com essa mania de fazer as mulheres gritarem com vocês. Deve fazer mal para os ouvidos, não acham não? – Disse um ruivo, que estava parado à porta, rindo.
- Cala a boca, Rony. – Respondeu Harry, ainda em tom de brincadeira – Como foi a viagem?



Rony se sentou, seguido por Éolyn, e uma nova rodada de conversas aconteceu.


No dia seguinte, pela manhã, Harry, Rony, Cho e Anaryon estavam na sala de reuniões, quando Senar entrou.



- Meu senhor? Há uma família de viajantes que veio ao castelo, segundo eles, por ordem de Ararorn e lady Weasley.


Anaryon olhou para Harry, lembrando-se imediatamente do ocorrido alguns dias atrás, ainda em Rohan, e saiu da sala, seguido pelos outros. Entrou na sala do trono e sentou-se, enquanto os outros se espalhavam pelo ambiente. Harry foi até a janela e ficou olhando a paisagem.



- Meu comandante diz que trazem notícias de meu primo e de lady Weasley. – Anaryon disse, em voz grave, para o casal que estava em pé no meio da sala, extremamente deslocado, segurando os filhos pelas mãos – Que notícias são essas?
- Sim meu príncipe. Encontramos os dois numa estrada há alguns dias, seguindo para o norte. Eles nos salvaram a vida, e nos mandaram procurar pelo comandante da guarda. Apenas isso, meu senhor. Nada mais.
- Ela ficou muito ferida? – Perguntou Harry, antecipando-se aos demais, ainda olhando pela janela.
- Como, meu senhor? – Gaguejou o homem, virando-se para ele – Não entendi a pergunta.
- Eu quero saber se Gina ficou muito ferida na luta contra os Orcs. – Insistiu Harry, finalmente se virando e encarando o homem.
- Gina lutou contra Orcs? – Assustou-se Rony – Por que não nos avisou? E como é que você sabe, Harry?
- Nossa ligação, lembra? Eu senti na hora em que ela estava lutando. Mas não sei se está ferida ou não. E então, meu senhor. Ela está? – O moreno adiantou-se se aproximando do homem, que não conteve um leve tremor ao ver a figura imponente que se aproximava.
- O senhor é o senhor Potter? – Perguntou, mas já sabendo a resposta, continuou – Ela se feriu na luta, mas nada grave. Tratou-se com algo que tirou de seus pertences e logo o ferimento cicatrizou.
- Obrigado. – Agradeceu Harry com sinceridade, soltando um suspiro de alivio.
- Senar, arrume acomodações para esta família e funções para eles, aqui no castelo. – Decretou Anaryon, no que o casal agradeceu comovido, deixando a sala em companhia do comandante.



Finalmente no dia seguinte, Gina e Ararorn retornaram. Estavam cansados, pois também haviam cavalgado incessantemente. Assim que chegaram, foram ter com os outros, que estavam na sala do trono. Gina, assim que viu Harry, correu em sua direção e pulou em seu pescoço, beijando-o com ardor, não se importando com o restante dos presentes. Depois que se soltaram, disse.


- Oi! Estava morrendo de saudades, sabia?
- Eu também, ruiva. Eu também. – Disse Harry, em tom suave, acariciando-lhe o rosto com as costas dos dedos, suavemente – Como foi a viagem?


Gina e Ararorn fizeram seu relatório, explicando tudo que viram e combinaram em Ithilien. Quando terminaram, Harry olhou para eles, ergueu uma sobrancelha e perguntou.


- Só? Não estão se esquecendo de contar nada não?
- Não, não estamos. – Mentiu Gina – Tipo o que, Harry?
- Do tipo lutar com um bando de Orcs para salvar a vida de uma família, ruiva. – Disse Harry, numa seriedade que realmente estava muito difícil de fingir.
- Ah! Isso. – Gina ficou rubra, tão vermelha quanto seus cabelos – Não foi nada demais. Só uns Orcs que encontramos pelo caminho.
- Uns... Quantos? – Perguntou Rony.
- Só uns dez, acho. – Respondeu ela, fazendo pouco caso – Como vocês descobriram? Eu pedi para não contarem nada.
- Não foram eles que contaram, Gina. – Harry disse, abrindo um sorriso – Nosso vínculo, não se lembra? Senti na hora que estava lutando o pânico e o medo de morrer que você sentiu. E algo mais...
- Tinha me esquecido disso. – Sorriu ela, mas em seguida franziu a testa – Não sabia que funcionava com você também... E o que mais você sentiu?
- Por que não me diz o que VOCÊ sentiu? – Ele devolveu a pergunta, seus olhos começando a brilhar de expectativa.
- Foi estranho. De repente, uma onda de poder, uma força que eu não sei de onde surgiu cresceu dentro de mim. E eu fiz magia sem varinha, Harry. Você pode explicar o que foi isso? – Pediu ela, em tom de súplica. Desde que ocorrera aquilo não saia de sua cabeça.
- Lembra-se que mestre Caine disse que você tinha um grande potencial? Eu mesmo já disse isso, Gina. E foi isso que você sentiu aflorar em você neste dia. – Ele se aproximou ainda mais dela, pegando-lhe as mãos.
- Não entendo Harry. O que você quer dizer?
- As coisas não acontecem por acaso, Gina. Você é a sétima filha, da sétima geração de uma família bruxa de sangue puro. Sempre teve o potencial mágico latente em seu sangue. Comigo, demorou anos e muito treinamento, mas para você, assim que começou a aflorar, foi questão de pouquíssimo tempo. – Explicou, mas vendo que ela continuava sem entender, emendou – Você ascendeu, Gina. Atingiu um patamar mais elevado no mundo da magia. Ainda precisa de treinamento, é claro, mas a partir de agora, temos dois Magos Brancos nesta luta. Ou melhor, um mago e uma bela e ruiva Maga Branca.



O silêncio dominou a sala, enquanto as pessoas assimilavam a revelação. Gina dava uma risada, como se tivesse sido objeto de uma piada, então olhou para Arwen, e esta balançou a cabeça. Indicando que tudo era verdade. Ela havia se tornado uma Maga Branca. Não tão poderosa quanto Harry, talvez, mas com o mesmo potencial, sem duvida nenhuma.



Já fazia quatro dias que eles havia retornado, e nenhuma noticia de Hermione. Rony estava começando a ficar desesperado. No dia anterior, haviam ido a Rohan, e Gina e Cho haviam melhorado o trabalho de Harry nas cavernas, que agora era um grande salão com centenas de barracas.


Estavam tomando café, quando um som de aparatação chamou-lhes a atenção e Hermione surgiu no meio da sala de jantar, com Arador e mais um homem, amarrado. Estava toda desarrumada, seus cabelos estavam desgrenhados, mas nada disso importou para Rony, correu em sua direção.


Assim que surgiu, Mione soltou os dois homens, e procurou pelos amigos em volta. Sentiu mãos fortes pegarem em seu braço e a forçarem a se virar, seu coração deu um pulo ao sentir o perfume de Rony. Sentiu-se abraçada por ele, e retribuiu o abraço, acariciando o tórax onde descansava o rosto. Mas a sensação durou pouco tempo, muito pouco tempo.



- O que aconteceu, Mione? – Perguntava Gina, que também se aproximara.
- Lórien foi atacada por Orcs e homens de Chú. – Respondeu ela, sua voz ainda abafada por estar com o rosto enfiado no peito de Rony.
- O quê? – Este gritou, afastando-a e olhando para ela, a procura de ferimentos – Você está bem? Foi ferida?
- Estamos bem, não se preocupem. – Interrompeu Arador, mostrando tédio – E Hermione ainda conseguiu um prisioneiro.



Só então Rony prestou atenção no homem, que ainda estava com as mãos amarradas, olhando para eles com puro ódio. Rony transformou-se, sua face transparecia ainda mais ódio do que a do bruxo. Largou Hermione e desferiu um poderoso murro contra seu estomago, que fez o homem se curvar de dor. Em seguida, desferiu uma joelhada contra seu rosto, fazendo pular de sua boca pelo menos dois dentes. Agarrou-o pelo pescoço, prensando-o contra a parede e sacando sua varinha, encostou-a em seu rosto.



- Eu vou te matar, seu desgraçado. Tentou ferir a Mione, e por isso eu vou acabar com você.
- Rony, para! – Gritou Harry, segurando sua mão – Precisamos interrogá-lo, para saber o que Chú e Malfoy estão planejando.
- Então interroga, e depois eu mato. – Grunhiu ele, entre dentes.
- Rony, não é assim que fazemos. Não somos assassinos, somos pessoas civilizadas. Eu não trouxe este homem para ser assassinado na minha frente. – Mione disse, chocada com a reação do ruivo.


Rony pareceu pensar por algum tempo, olhando fixamente para o prisioneiro, que esboçava um sorriso debochado em seu rosto. Então, largou-o e se virou, voltando para perto dos amigos, guardando a varinha. O homem levantou-se e falou, provocativo.



- Então é verdade mesmo? O grande auror, Ronald Weasley, é controlado pela noiva. Faz tudo o que ela manda.
- Cala a boca, seu idiota. Não percebeu que ela acabou de poupar a sua vida? Por mim, teria deixado Rony terminar o serviço. – Disse Cho, de onde estava.
- Chang! – O comensal fingiu surpresa em vê-la. Cuspiu um pouco de sangue que tinha na boca, e continuou – Saudades do Malfoy? Sabe, agora você vai ter que dividi-lo com a Weasley e a Granger. Estamos loucos para ouvir o som que vocês fazem, aquela noite que o Draco te pegou foi uma verdadeira sinfonia, a noite inteira.



Rony até pensou em voltar e terminar o serviço, mas um vulto passou por ele antes. Anaryon passou feito um raio pelos outros, puxando de uma bainha em seu cinto um punhal. Como Rony, agarrou o pescoço do comensal, e, sem dó, cravou o punhal em seu ombro esquerdo, arrancando um grito agudo deste.



- Anaryon! – Gritou Mione, mas este a ignorou.
- Como ousa, seu porco imundo? Eu deveria arrancar a sua língua pelo que falou dessas mulheres. – Grunhiu ele, apertando o punhal ainda mais fundo.
- Ora, e onde foi parar toda aquela civilidade? – Perguntou o comensal, gemendo de dor.
- Eu vou ser coroado rei dessa terra, não preciso ser civilizado. Crio minhas próprias leis, e não há ninguém que possa questioná-las aqui. – Retomou o príncipe.
- Continuamos precisando interrogá-lo, Anaryon. – Repetiu Harry, às suas costas. Não gostara nada do que havia ouvido, por isso não estava se esforçando muito para fazer parar.
- Pergunte o que quer saber, mago. Garanto que nosso amigo vai falar tudo que sabe. – E girou o punhal dentro da ferida, arrancando novo uivo de dor de sua vitima.
- Qual é o plano de Wang Chú? – Perguntou Harry, ignorando o grito – O que estavam fazendo em Lothlórien?
- A idéia era termos três frentes de combate. – Começou ele – Uma atacando Lothlórien, e depois descendo para Ithilien. Uma segunda, vinda também de Mória, atacará Rohan nos próximos dias. E a terceira e maior, virá de Minas Morgul diretamente sobre Minas Tirith.
- Qual o tamanho da força que está a caminho de Rohan? – Harry perguntou novamente – E daqui?
- Não sei, não os vi saindo. Mas são mais de três mil Orcs, sob o comando de Li. Quanto aos que virão para cá, ainda não sabemos quantos se juntarão a nós.
- Certo. Depois continuaremos. Agora, precisamos arrumar uma cela, com alguns feitiços de proteção e tratar desses ferimentos. – Encerrou Harry, fazendo Anaryon retirar seu punhal do ombro do comensal, que não escondeu seu alivio.
- Eu cuido disso. – Adiantou-se Cho, pegando-o pelo braço – Talvez ele fale mais alguma besteira pelo caminho, e eu tenha a oportunidade de terminar o que Anaryon começou. Pode me mostrar as masmorras, Senar?


Ninguém falou nada enquanto o trio deixava a sala. Senar havia tomado o bruxo das mãos de Cho e encostado sua espada em suas costas, deixando bem claro que não pensaria duas vezes em usá-la. Rony estava parado em um canto, ainda rígido e de cara fechada.Mione se aproximou dele, chamando-o.



- Rony. Você está bem?
- Não Hermione, eu não estou bem. – Gritou ele, assustando-a – Por que você não nos chamou? O que é que tinha na cabeça de enfrentar esses caras sozinha?
- Por que está gritando comigo? Eu não chamei ninguém por que era meio da madrugada, e vocês estavam dormindo. E também por que não daria tempo de vocês chegarem até a gente antes deles chegarem na cidade. Não tive opção, Ronald. Fiz o que tinha que fazer, droga. – Descarregou ela, frustrada.
- Mas colocou a sua vida em riso, Hermione. Podia ter sido ferida, ou até mesmo morta. – Continuou o ruivo, com a voz embargada. Como queria abraçá-la, mas o pensamento de que poderia tê-la perdido o paralisava ainda.
- Mas não fui. Eu sei me defender, Rony. Não sou mais aquela donzela que precisava de um cavaleiro para protegê-la. – Agora, estava se sentindo ofendida.
- Eu me preocupo com você, droga. Estava morrendo de preocupação por não ter voltado, daí você me aparece com um comensal a tiracolo. Eu me assustei, oras. Fiquei com medo de te perder.
- Existem várias formas de se perder alguém, Ronald. Inclusive falta de confiança. – Respondeu Mione, e antes que ele retrucasse, finalizou – Preciso tomar um banho e dormir um pouco.



Dizendo isso, saiu da sala, sendo seguida por uma ruiva, que não conseguia entender o porque de mais aquela briga. Rony ficou ali, parado, olhando para onde Mione estivera, tentando recuperar na memória os poucos instantes em que a tivera em seus braços. Como queria não ter estourado daquela maneira, mas ele simplesmente ficou apavorado ao vê-la chegando e compreendendo o que deveria ter acontecido. Se algo acontecesse a ela, temia que poderia morrer, que nada mais lhe restaria no mundo.



Quando Gina entrou no quarto, Mione estava esparramada sobre a cama, chorando. Sentou-se ao seu lado, acariciando-lhe os cabelos. Mione levantou a cabeça, dizendo.


- Eu só queria abraçá-lo. Só queria senti-lo me dando apoio, Gina. Quase morri esta manhã, não merecia ser recebida daquele jeito, aos gritos.
- Ele estava apavorado, Mione. Há dias está uma pilha de nervos pela falta de notícias. Quando viu que o medo dele tinha um certo fundamento, perdeu a razão. Gritou pra extravasar esse medo, foi isso. – Tentou amenizar a situação Gina.
- Eu não queria mais brigar, Gina. Estou tão cansada disso. Não agüento mais. – suspirou Mione, extremamente cansada.
- Vocês precisam sentar e conversar. Precisam se acertar, não podem ficar assim. A gente vê de longe, toda a tensão que vocês exalam, todo o desejo de se abraçarem e ficarem juntos. Mas daí brigam de novo. Isto tem que parar. Vocês se amam, Mione. – A ruiva continuava a acariciar os cabelos da amiga, que agora deitava em seu colo.
- Não quero falar com ele por enquanto, Gina. Estou muito cansada disso tudo. – Encerrou Mione, fechando os olhos e tentando dormir, sob o carinho da amiga.


Já fazia quase uma semana desde que Mione retornara. Durante esses dias, haviam conseguido extrair várias outras informações do comensal, que descobriram chamar-se Mc Murray. Como por exemplo, que Li tinha mais seis homens com ele.


Uma nova frente fria havia avançado, trazendo chuva e neve. O inverno estava no final, mas ainda se fazia presente. Aquela manhã, especificamente, estava gelada. O fogo crepitava na lareira, tentando aquecer o ambiente. Estavam tomando o café, quando Senar entrou apressadamente, fez uma leve referência e, sem esperar, disse.



- O farol. Rohan acendeu o farol, estão pedindo ajuda.



Um clima de suspense pairou por alguns instantes, então Harry se levantou de sua cadeira e caminhou até a grande janela, onde ao longe, podia-se ver o fogo crepitando sobre a montanha. Abaixou sua cabeça, e por um instante, pareceu que pesava sobre seus ombros o peso do mundo. Mais ainda, de dois mundos. Mas foi só por um momento, logo ele se empertigou novamente, respirou fundo e disse.



- Que assim seja! Se é guerra que eles querem, guerra eles terão. – Virou-se, e seus olhos verdes brilhavam com uma determinação ferrenha – Eu lhes garanto, meus amigos. Esta será uma guerra que os Orcs nunca esquecerão.





N.A. – É isso aí, pessoas. No próximo capítulo, chega de preparações e tudo mais. É GUERRA! Começa a ser decidido o destino dos nossos personagens.

Queria agradecer ao Daniel, pela indicação do livro A Arte da Guerra, de SunTzu. Eu o comprei, e acredito que a partir do próximo capítulo, veremos o reflexo de alguns de seus ensinamentos.

Sei que este capítulo demorou a sair, mas espero que compreendam a complexidade do capítulo. Também não queria quebrá-lo, de forma a interromper o ritmo.


Agora, vamos a alguns comentários:


Bruna Potter – Seja bem vinda, fico feliz que esteja gostando.

Nath Potter – Eu realmente fiquei comovido com o seu comentário. É isso que nos motiva a escrever, é isso que nos alimenta. Saber que conseguimos atingir nosso objetivo e mostra para as pessoas uma nova maneira de enxergar o mundo que nos cerca. Parabéns por sua iniciativa, e espero que ela se prolifere muito. E muito obrigado por estar acompanhando as fics, significa muito pra mim.


Tati – Não se esqueça de que, quando mestre Caine conjurou o portal, ainda estava muito debilitado. E precisava ensinar Harry, então que melhor didática do que fazer na pratica? E os Guardiões vão aparecer sim, e não demora muito agora.

Sheil@ - Tái mais um pouco de girls power neste cap. Espero que tenha gostado. Adorei o coment, e espero ter atendido um pouco do que pediu.


Tonks – Pedido atendido, taí um cap com mais de 50 pags. Quase me matou, mas consegui terminá-lo.



Por hoje é só, pessoal. Até o próximo capítulo, que eu espero, não demorará tanto quanto este.


Beijos e abraços,


Claudio

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