capítulo 18



Enquanto atravessavam o saguão e subiam um lance de escada para chegar à sala de Snape, Sarah não dissera uma única palavra, nem lhe dirigira o olhar novamente. Ele percebia claramente o que lhe ia na mente, sem nem precisar usar a legilimência. Sabia que as lembranças haviam aflorado abruptamente, ao contrário do que ele planejara. As circunstâncias haviam trabalhado contra ele, mas talvez assim fosse melhor, ele explicaria tudo de uma vez. Entraram, ele se sentou calmamente, mas Sarah continuava ali, de pé, olhando pra ele com expressão indignada. - Por que? – Sarah suspirou longamente, parecendo não ser nada todas as coisas que tinha se lembrado, apenas importando o fato de que ele tinha "ousado" mexer com a mente dela. - Por que? - ela repetiu a pergunta, desta vez com o tom mais incisivo Snape a fitou, como se já esperasse por isso, e já pensasse que até demorara. - Sente-se, Sarah. – foi só o que ele disse. - Você não vai me tratar como a um de seus alunos, vai, Professor Snape? – Sarah estava fora de si, não parecia em nada com a profissional sempre serena e firme de quem ele se lembrava. Ele a olhou mais uma vez. Sem dizer nada. Sarah sustentou seu olhar por alguns segundos, então capitulou. - Está bem, desculpe. – ela disse, depois de se sentar na cadeira que ele apontara. Então, fechou os olhos, respirou fundo e se preparou para o que tinha tudo para ser a mais longa conversa de sua vida. Mas, como ele bem lembrara, ela tinha “todo o tempo do mundo”. Snape a observava, agora, com uma expressão levemente divertida, uma sobrancelha erguida sinalizando sua curiosidade em ver o que ela faria ou diria. Sarah, porém, mantinha os olhos fechados, tentando colocar em ordem seus pensamentos. Os acontecimentos do ano anterior, os verdadeiros acontecimentos, desfilavam por sua mente a uma velocidade incrível. Reviu o misterioso Sr. Smith na enfermaria E, os pequenos insights de lembrança, a conversa em companhia de Felipe, quando ela falara dos registros que André encontrara na net inglesa. Só agora compreendia tudo. Na época, mesmo quando ele se lembrara de ser realmente Snape, não haviam pensado naquele anúncio de “procura-se”... bem, pelo menos não ela. Mas reviu o Natal, o episódio estranho do seu pingente, os presentes que ele conjurara com a varinha para cada um, o quanto riram disso, os dois sozinhos, o reveillon na praia e então, alguma coisa ainda permanecia nebulosa, pois agora lembrava-se apenas de estar frente a frente com Harry Potter, que apontava sua varinha para Snape. E então... que acordara no hospital, em virtude de uma “queda de pressão”, com Felipe ao seu lado, apreensivo e carinhoso. E nada de Harry Potter na mente, além da lembrança de ter lido os livros e visto os filmes em companhia dos sobrinhos. 


Por todo aquele ano em que tantos acontecimentos marcaram sua vida, não se preocupara mais com o fato de Harry Potter e bruxos de verdade existirem ou não, até poucos minutos atrás. Mesmo quando assistira aos filmes novamente com as crianças da Fundação, o assunto merecera dela alguma atenção especial. Nem mesmo quando sonhava com aquela figura de quem nunca se recordava direito ao acordar...


Finalmente, quando Snape já começava a pensar se não era melhor usar mesmo a legilimência, Sarah abriu os olhos. A princípio, não olhou diretamente para ele, mas examinou o ambiente, constatando a austeridade simples, a estante de livros, os objetos ligados à magia que esperaria encontrar com certeza, mas não muitos ou todos que imaginara. Depois, analisou o homem à sua frente, comparando mentalmente com a lembrança de seu “hóspede de verão”. Percebeu que ele agora estava seguramente em seu ambiente natural, e bastante à vontade nele. Ostentava novamente as vestes negras, não usava mais a barba e perdera o leve bronzeado que tanto melhorava sua aparência, ficando bem parecido com o Snape tão bem personificado por Alan Rickman e também, mais próximo do que JK Rowling descrevera. Mas havia algo mais, talvez aquela aura de magia real... - Então? – ele perguntou, irônico quase que sem perceber, e Sarah sorriu. - Bom... Sem dúvida, você É Severus Snape. Não há como negar, nem que eu queira. E tenho que concordar com JK, em relação à sua aparência... a falta de sol não lhe faz bem, sua pele está meio macilenta...e por algum motivo, seu nariz parece maior do que me lembro... - E você – ele a interrompeu, “sacando” a varinha e apontando pra ela, com ar de estar profundamente ofendido – Continua gostando de viver perigosamente, arriscando-se a levar uma bela imperdoável. Sarah recuou, instintivamente, e o medo se estampou em seu rosto sem que pudesse evitar. Afinal, por dois meses havia convivido com aquele homem sem receio algum, mesmo acreditando que era um bruxo de verdade, mas agora, era diferente. Ela estava em “seu mundo”, no mundo bruxo. Embora não tivesse ainda assimilado isso totalmente, percebera a inversão de sua posição. Agora, ela era a “estrangeira”. E completamente indefesa contra feitiços e maldições, compreendeu em um segundo. Seu movimento de recuo, praticamente se afundando na cadeira, assim como a expressão de medo em seu rosto, atingiram Snape como uma bofetada. Ela se assustara de verdade, quando sua intenção fora apenas brincar como fizera daquela vez, em sua varanda. - Sarah, me perdoe. – ele murmurou, levantando-se e contornando a mesa para chegar até ela. Sarah o fitou, meio perdida. Snape, o grande Severus Snape, lhe pedindo perdão? Qual leitor de Harry Potter pensaria em ouvir isso? Pensar nisso a fez sorrir, e ele suspirou aliviado. - “Minha” Sarah está de volta – ele comentou sorrindo. - “Sua” Sarah? – ela retrucou, já senhora de si como sempre – Que história é essa de “sua” Sarah, Professor Snape? - Calma, sem nenhuma segunda intenção. Eu não sou um daqueles bobões com quem você convive na sua terra. Como aquele rapaz que você queria ter azarado lá no shopping. E pare de me chamar de “Professor Snape”, me chame de Severus, como sempre fez... ou John - ele sorriu. - Você... ainda se lembra disso? – Sarah se surpreendeu. - Sim, de cada detalhe, de cada um dos melhores dias da minha vida. Aliás, era uma outra vida... Sarah sentiu a amargura em sua voz, e a interpretou mal. - Sinto muito se minha presença trouxe tudo de volta... Agora, você é quem você é, e tem sua vida de antes e... deve ter percebido quanto tempo perdeu, naqueles meses em que... Ele tomou suas mãos entre as suas, aflito. - Não é nada disso! – Snape falou o mais suave que conseguiu, depois pareceu se exasperar – O que aconteceu pra você ficar assim? Não é a mesma... - Não, não sou a mesma. Passei o pior ano de minha vida, se você quer saber! – Sarah explodiu. Snape foi tomado de surpresa e soltou suas mãos. Sarah se ergueu, começando a andar de um lado pro outro,nervosa. Não, não queria falar daquilo tudo de novo... - Se você não falar, vai acabar explodindo – Snape comentou em voz baixa. Sarah o fitou, a princípio com raiva, mas suspirou, entendendo que ele tinha razão. Sentou-se novamente, respirando lentamente para conseguir ganhar forças... e tempo. Snape conjurou um copo de água, e estendeu-o a ela, que o pegou com mãos trêmulas. Antes que ela formulasse o pensamento súbito, ele disse: - Fique tranqüila, não tem nem meia gota de veritaserum aí. Mas... uma poção calmante, nós podemos providenciar... Ela fez que não, e tomou uns goles de água. Sentia-se tranqüila, agora, e pela primeira vez depois de muitos meses, as lágrimas verteram, silenciosas. E ela começou a falar: - Papai... mamãe... eles morreram. Foi horrível. Um louco embriagado invadiu a contra-mão e bateu de frente com o carro deles...Eu estava no carro de trás, com Berenice e Felipe. Não conseguimos fazer nada... a não ser tirá-los do carro, já estavam mortos. Se não fosse isso, nem seus corpos teríamos para enterrar, porque... o carro explodiu minutos depois, nunca tinha visto uma explosão como aquela... – ela respirou fundo – Depois disso, nem sei dizer. Eu fiquei tão abalada, que não vi quem chegou, quem saiu, o que aconteceu com o outro motorista... nada! Snape trouxe a cadeira para o seu lado e sentou-se, esperando que ela continuasse. - André foi para o enterro, levou a namorada... ele tinha programado ir no feriado da Páscoa para apresentá-la à família... a doce Susan... ela foi um amor de pessoa...sempre do meu lado, prestativa e gentil. - E depois? - Bem... cada um seguiu sua vida, é o que resta a ser feito, não é? Em abril, Berenice casou-se. Com o filho de um colega de farda do papai, olha que engraçado! Ele foi ao enterro, eles prestaram uma homenagem bonita... Eu voltei pro meu apartamento, meu trabalho... e só. Foi só o que eu fiz, trabalhar. Não podia fazer mais nada, nada tinha importância mesmo... - Minha criança! – Snape a abraçou, hesitante. Nunca consolara ninguém em sua vida, à exceção do pequeno Alan, o que também fora algo difícil de fazer. Sarah chorou, amparada em seu inusitado abraço, por um longo tempo. Parecia que seu peito queria por tudo pra fora, definitivamente. Quando se acalmou, balbuciou um pedido de desculpas, molhara suas vestes. - Não tem importância. O que são algumas lágrimas em minha roupa, se temos o mesmo sangue nas veias? - Ah, claro, a transfusão. – Sarah o olhou, um sorriso tênue começando a se firmar – Eu tinha até esquecido... Aliás, agora que você falou... como foi para um sonserino, ainda por cima um ex... é ex, não é? – ela o fitou, meio receosa ainda - Er... um ex-comensal, descobrir que recebeu sangue de uma trouxa? Que baque! - Você não... – ele se interrompeu, bruscamente – Venha, vou lhe mostrar a escola. Parece que Molly não conseguiu fazê-lo, afinal. - Não foi culpa dela, desculpe. Eu parei no meio do caminho, quando... - Se lembrou. – Snape concluiu, mas mudou de assunto - Espero que você aprecie nossas instalações. Claro, não somos como sua Fundação, aquele espaço lá era excelente para crianças, aqui temos algumas limitações, e nem todas podem ser solucionadas... com um agitar da varinha. Ele sorria, e Sarah sorriu de volta. Se pretendia mesmo pegar aquele emprego, precisava antes conhecer o lugar direito. E o seguiu, pelos corredores e salas, novamente a profissional atenta e séria de sempre. ==================== Sarah olhou-se no espelho, perguntando a si mesma se aquela era a decisão certa. Por várias vezes, pegou no telefone, para tentar falar com seus irmãos... e desistiu. Aquela decisão era sua, não deles. Cada um tinha sua vida, não tinha? Todos haviam seguido seu próprio rumo, distanciando-se cada vez mais. Já estava decidida antes, por que mudar de idéia? Só porque seus novos patrões eram bruxos? Pelo menos, ficando ali, estaria perto de André, teria um pedaço da família ao alcance... de uma coruja. Este pensamento a fez rir para seu próprio reflexo. Quem diria, André, casado com uma bruxa! - Bem, está na hora. Ou vou agora, ou desisto. Afinal, é um projeto interessante, um trabalho novo, um desafio. E um desafio é tudo que preciso pra lembrar que estou viva! E foi pra isso que vim pra cá! Decidida, terminou de arrumar as malas. Fitou com carinho a foto dos pais em sua carteira, sorriu para eles como se lhes pedisse sua benção, e deixou o pequeno apartamento, pensando que era uma sorte ter consigo os negativos, pediria ao Snape para revelar novas fotos naquela tal poção. O táxi a deixou na mesma rua de antes, mas desta vez ela caminhou segura até à porta da velha casa e bateu, não resistindo à tentação de imitar o “tan-tan-tan-tan” da 5ª sinfonia. Como da primeira vez, Alan atendeu à porta, e lhe sorriu sem reservas, saudando-a com um jovial: - Bom dia, tia Sarah! Sarah estranhou o cumprimento. Até onde sabia, os jovens e crianças inglesas eram bem formais no tratamento a professores e funcionários de suas escolas.. Será que estavam tentando implantar um costume diferente por ali? Mas o garoto continuava falando. - Que bom que você pode vir para o Natal, não é mesmo? Assim, nossa festa vai estar completa, a família reunida de verdade, pela primeira vez. Natal! Sarah quase se esquecera de que era véspera de Natal! Respondera aos cumprimentos naqueles dois dias, sem nem se dar conta de que estava tão próximo. Claro! – ele bateu na testa com a mão – André marcara o casamento para a semana do feriado, assim ficaria mais fácil pra todos comparecerem. E ela nem se lembrara de comprar presentes, pro irmão e a cunhada... e também, em levar alguma coisa para os “moradores” da casa, para onde estava se mudando neste minuto. Que distração a sua! Alan pegou suas malas, pedindo que o acompanhasse com um sorriso gentil. - Seus aposentos são lá em cima, vou lhe mostrar. As meninas estão todas ajudando Vovó Weasley, desculpe. - Vovó Weasley? É assim que vocês a chamam? – Sarah se espantou. - Bom... eu a chamo só de vovó, mesmo. Os outros é que a chamam assim. O rapaz explicou, meio desconcertado. Levou-a até seu quarto no segundo andar, despediu-se dizendo que “seu pai” a esperava no escritório, assim que ela se acomodasse. - Pai? – mas o garoto já sumira pelo corredor. Sarah deduziu, pelo fato do garoto parecer imitá-lo em tudo, menos no mau humor, que Alan só podia estar se referindo a Snape, e sorriu. Então, Snape tinha um filho? Que interessante! Observou o quarto que lhe fora destinado, curiosa e satisfeita. As janelas davam para os fundos da casa, onde ela via um imenso parque, que desconfiou ser mágico... afinal, o quarteirão inteiro era um aglomerado compacto de prédios, não poderia haver aquele parque ali... a menos que os prédios é que fossem “projeção”, pensou com um sorriso, para parecer um bairro normal. É, devia ser isso, afinal, o que via à sua frente eram arcos de um mini campo de quadribol, com toda certeza! Riu, pensando nos vizinhos de seu prédio e no quanto reclamavam do prédio vizinho, que tinha uma quadra de esportes, e de repente sua vida na capital mineira pareceu exatamente isso: outra vida. Agora, estava em outra cidade, outro país... outro mundo! Sim, estava em Londres, mas a Londres que só os fãs de Harry Potter “conheciam”: a Londres bruxa. Apenas um pequeno detalhe: não era bruxa. Então, e sentiu tristeza ao pensar nisso, talvez não conseguisse visitar todos aqueles lugares que vira descritos nos livros, e conferir se eram tão maravilhosos como nos filmes... Mas não queria ficar triste na véspera de Natal – seu primeiro Natal sem sua família. Sua família... O que o garoto dissera? Que a família estaria reunida de verdade... Pelo jeito, eles consideravam ali como uma família, e ela era o novo membro. Este sentimento a reconfortou, era bom se sentir incluída. Resolvida a não pensar mais nisso, ou ficaria realmente deprimida, deixou o quarto, e desceu um lance de escada, tentando se lembrar do caminho para a sala de Snape. Para sua surpresa, ele vinha ao seu encontro, e lhe sorrriu. Ela sorriu de volta, reparando em como sua capa realmente parecia voar, quando ele andava. Lembrou-lhe vagamente outra capa esvoaçando, mas balançou a cabeça. Dizer-lhe que parecia o Batman, seria desastroso... Ele não gostara de saber-se comparado a um morcego, quando tomara conhecimento dos sites de Harry Potter... - Isso não é engraçado. – ele disse com cara zangada, mas sorriu novamente ao lhe estender o braço, conduzindo-a para sua sala. E preferiu não dizer a ela sobre um certo encontro com uma figurinha difícil que o chamara de Morcegão... Sarah ia abrir a boca para reclamar mais uma vez de sua “invasão”, mas desistiu. Resolveu deixar passar, devia ser involuntário...e não queria brigar com seu novo patrão no primeiro dia, ainda mais sendo véspera de Natal. E pensou em como era engraçado começar na véspera de Natal. - Isso. Vamos conversar questões de trabalho, somente na quinta-feira... ou talvez não. Estou pensando em lhe dar folga até dia 02 de janeiro. Aliás, teremos muita coisa pra ver nesses dias, antes de começar efetivamente o trabalho. Sarah suspirou, ele sorriu, de forma enigmática. Sabia que ela, mais uma vez o recriminara intimamente por usar a legilimência. Isso o lembrou de que tinha assuntos muito sérios a tratar com ela, e não podia adiar mais. Mas quando se sentaram em sua sala, ele simplesmente lhe perguntou se aceitava um chá com biscoitos, pois o almoço demoraria um pouco. - Algumas crianças foram “adotadas” para o Natal. - Verdade? - Sim. Está vendo? Você nem começou, e uma de suas idéias já funcionou. Lembrei-me de você dizendo algo a respeito... e resolvi experimentar. Claro que o mérito é da Molly e do Arthur. Eles fizeram os contatos, combinaram tudo. Agora, Molly está atrapalhada na cozinha, por mais incrível que isto possa parecer, pois resolveu fazer um almoço especial. A maioria parte à tarde. Os “anfitriões” vêm buscá-los a tempo do jantar em família. - Sei... O Alan falou algo sobre família, inclusive. - Aquele boca-grande... Vou sugerir que o Hagrid o adote, ele vai ver só.... Talvez assim, ele aprenda. - Mas ele chama a VOCÊ de pai! – Sarah retrucou, demonstrando o quanto estava curiosa com isso. - Er.. isso é uma longa história – ele começou, interrompido pela aparição de um elfo, que cumprimentou Sarah com uma reverência, após colocar sobre a mesa uma bandeja com chá e biscoitos, como Snape sugerira. - Não me olhe assim! – ele falou, quando o elfo aparatou em seguida – Ele é um elfo livre, assalariado, com folga amanhã para estar com os amigos ou seja lá o que for que eles façam em suas folgas. Sarah ficou contente em saber disso, mas sentia uma tensão no ar, que não entendia. Sabia que Snape queria dizer alguma coisa, e estava de rodeios. E isso era estranho para ela, ele sempre fora um homem direto. Mas aceitou a xícara que ele lhe estendia, e provou um biscoito. “Em Roma, faça como os romanos... ou espere pra ver” – pensou consigo. Snape, por fim, pareceu se cansar do silêncio, e disse: - Agora é minha vez de te perguntar: a sua memória “voltou” toda, ou você só lembra de partes? - Como assim? – Sarah o fitou, intrigada – Lembro-me de tudo a partir do momento em que você entrou na Emergência, claro. Sua falta de identificação, a transfusão, nossas primeiras conversas... até... Ela parou. Só se lembrava de vê-lo frente a frente com Harry Potter, e depois acordar naquele hospital, acreditando que tivera uma queda de pressão. E também que o Prof. Jonh Smith já terminara seu trabalho no Departamento de Química na Universidade e retornara para a Inglaterra. - O que mais? – Snape perguntou. - Nada. Por que? Há mais alguma coisa a ser lembrada? Ele a fitou intensamente por um minuto. Parecia a ponto de lhe lançar um feitiço qualquer, mas desistiu. Ao invés disso, foi até o armário atrás de sua mesa e voltou de lá com algo parecido com uma bacia de prata... uma penseira. - Acredito que você saiba o que é isto, não? Ficará mais fácil você ver o que aconteceu, do que eu simplesmente contar. Ela respondeu que sim, imaginava o que era. Ele, então, puxou sua varinha, encostou-a na fronte, e Sarah pode ver o frio prateado muito fino que se formou. Ele tocou a superfície estranha da penseira com a varinha, fazendo Sarah se lembrar vagamente do filme de HP. Então, quando o líquido brilhante se estabilizou, pegou-a pela mão: -Pronta? Ela fez que sim com a cabeça e, guiada por suas mãos, ela mergulhou no que lhe deu a impressão de ser uma nata gelada, para logo depois se sentir caindo como que em câmera lenta, no que reconheceu como sendo a praia em que haviam passado o último revellion. Era noite, sentiu até a brisa vinda do mar, arrepiando sua pele. Snape pôs a mão em seu ombro, e disse em voz alta. - Acredito que você já saiba onde e quando estamos. - Sim – ela sussurrou. Acabara de vê-lo, parado a certa distância. Era estranho saber que ele estava atrás de si e ao mesmo tempo vê-lo à sua frente, mas tentou pensar que estava apenas em um daqueles antigos “cines 180°” que visitara quando criança. Onde as imagens eram projetadas à sua volta, dando a impressão de estar onde não estava. Mas ficou atenta à cena que se desenrolava à sua frente... Viu Snape jogando o feitiço de memória sobre sua família e projetar o patrono. Viu-o se afastar sem ver que ela estava distante, na água, e também o moento em que Harry apareceu à sua frente, num brilho azul. Escutou o diálogo dos dois, viu a si mesma correndo para alcançá-los, e ficou surpreendida em ver que Snape, e não Harry, a atingira com um feitiço. Estupefaça, acompanhou a conversa dos dois enquanto Snape alterava sua memória, antes de partir com Harry... Uma névoa se formou em volta, demonstrando que a memória chegara ao fim, e Sarah foi puxada por Snape, de volta ao seu escritório. - Então... – ela conseguiu dizer com voz fraca – Foi isso que aconteceu... mas... do que vocês falavam, afinal? Como Harry pode ter me reconhecido, se eu nunca estive... - Você não se lembra? A cena que me contou ter vivido, em sua visita a Londres, anos atrás... Sarah arregalou os olhos, muda de espanto. Não era possível! Então, naquele momento, ela estivera realmente no meio de uma luta entre membros da Ordem e comensais da morte? Em frente ao Caldeirão Furado? Lembrou-se que despertara em frente a uma livraria... - Ao lado, há com efeito, uma livraria trouxa. E uma loja de calçados, se me lembro bem. – Snape comentou. Sarah assentiu. E sua mente voltou ao momento da praia. Só se lembrava, mesmo depois de ter visitado a penseira, do instante em que reconhecera Harry e saíra em disparada, achando que Snape estava em perigo. E depois, que acordara meio zonza de uma súbita tontura, vira que os outros estavam meio longe, caminhara até eles, caindo em frente a Felipe, novamente desmaiada. - Acho que o feitiço teve um efeito retardado. Você voltou a si, momentaneamente... entretanto, foi bom que acontecesse dessa forma. Você pode ser socorrida, sem muita dificuldade. - Sim... – Sarah respondeu, num fio de voz. Ainda pensava em como correra, pensando apenas em “salvar” Snape. Que idéia tola a sua, achar que poderia defendê-lo de Harry Potter. Pensar que pudesse se interpor entre dois bruxos poderosos como eles... - Você agiu por instinto, como da primeira vez. Sarah não atinava com o que ele dizia. Como assim? Já tentara defendê-lo antes? Não estava entendendo. Snape percebeu sua confusão, porém preferiu deixar o resto pra depois. Temia que ela sofresse um colapso mental, era muita informação nova de uma vez só. Providencialmente, Alan bateu levemente à porta e entrou, para informar que o almoço já seria servido, que todos só esperavam por eles. - Que vergonha! – Sarah exclamou – Fazer todos esperarem por mim... - A culpa é minha, que estendi demais nossa “conversa”... embora tenhamos que continuá-la mais tarde. Sarah concordou e o seguiu pelo caminho até a sala de jantar.


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(pequena edição pra corrigir um lapso que minhas leitoras também nem notaram... Alan ainda é menor de idade, não poderia ter usado a varinha pra levar as malas de Sarah. corrigi a falha. )


 

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