O Visitante dos Pöll



Capítulo Quatro
O Visitante dos Pöll


Entretanto, há quilômetros de distância dali, alguém não dormira ainda.
Ele chamou pelo seu servo, que veio ligeiro, quase rastejando, com as pernas bambas, desengonçadas.
“Trago novidades, meu Mestre”
O Mestre manteve-se em silêncio.
O servo estendeu-lhe o anel, a fênix na superfície reluzindo a meia-luz do ambiente. Naquela luz, a coisa parecia viva.
“Foi encontrado junto às coisas de Alvo Dumbledore, meu Mestre”
“Dumbledore...”, murmurou o Mestre entre os dentes. Pegou o anel. Estudou o objeto, como se o apreciasse, e então o devolveu ao homem curvado a sua frente.
“Fique com ele. Tenho uma importante missão para você”
“Verdade, meu Mestre?”, a voz do servo estremeceu, vacilante, mas mais aliviada que a princípio. Pensara que seria castigado.
“Deve voar para Inglaterra, encontrar o embaixador e matá-lo. Você irá tomar o lugar dele. Use o anel e entre em contato com a Ordem da Fênix. Será meu espião, mas deve ser cuidadoso. Não pode ser descoberto... Mas caso esse infortúnio venha acontecer, mate-se. Os segredos que possuí são muito valiosos”
“Claro, meu Mestre”, disse o homem, se retirando. Uma ruga de preocupação crescendo na testa.
O Mestre acenou e outro de seus servos que estivera escondido nas sombras do aposento saiu do esconderijo. Ele fez uma mesura, que o Mestre não correspondeu; o Mestre nunca correspondia.
“Quanto a você, meu servo, traga o corpo de Bargaroff até mim. Pode ser que ele ainda nos seja útil...”
“É preciso reaver aquela pedra a qualquer custo”


Oswald Pöll acordou pelo meio da madrugada com a garganta seca. Levantou-se e foi até a cozinha, tomando o cuidado de não despertar a esposa. Ele e a mulher tinham dois filhos já crescidos; um vivendo na Suíça, outro ao norte da Espanha. Uma vez por ano os filhos vinham visitá-los, trazendo com eles seus netos pequenos – duas meninas e um menino. Amanhã seria o grande dia quando toda a família Pöll se reuniria outra vez para confraternizar ao redor da mesa oval de ébano (aquisição Oswald, anos atrás) enquanto devorava o maravilhoso bolo de chocolate da Sra. Pöll, que ela sempre preparava especialmente para a ocasião. Oswald, no entanto, sentia-se angustiado, o coração palpitando, quase como se pudesse prever os eventos trágicos que viriam.
Bebeu não um mas três copos d’água. As mãos trêmulas derramaram um pouco do líquido no pijama, mas Oswald não se importou. Sentia o corpo quente, muito quente. As batidas do coração se fazendo ouvir nitidamente no silêncio profundo da cozinha escura.
O que estava acontecendo com ele?
Jogou o copo vazio na pia sem se preocupar em lavá-lo. Foi ao banheiro e tentou mijar. Não conseguiu. Um segundo atrás, poderia ter-se mijado de perna abaixo se não estivesse diante de um banheiro, e agora seu pênis flácido balançava de um lado ao outro sem nada derramar na porcelana lá embaixo.
Molhou o rosto no lavabo.
Devia estar ficando louco.
Voltou-se, e sua visão periférica pregou-lhe uma peça. Por um momento, pensou ter divisado os contornos de outra pessoa ali. Mas só havia o banheiro vazio. Decidiu que era melhor ir dormir. Pela manhã, revigorado pelo sono, esqueceria de todas essas bobagens.
De volta ao quarto, contudo, o vulto que ele pensara ter visto continuava voltando-lhe a mente. Fora uma impressão tão forte. Teve certeza naquele instante que quando acabasse de se virar ir dar de cara com...
O quê?
Um fantasma ou coisa assim?
Essas coisas não existiam. Eram tão reais quanto monstros do armário, elfos e bruxos. Tudo isso era um monte de bobagem, e ele não tinha mais idade para impressionar-se com elas. Nem tinha idade para ficar de olhos fechados com medo de abrir as pestanas e deparar-se com... algo.
Afinal, tudo que veria seria o quarto como sempre fora, imerso na escuridão, coberto de sombras difusas, e vazio. Nenhum bicho-papão aqui hoje!
Então por que não abria os olhos?
Não podia.
Estava paralisado de pânico.
Mas, céus, esse medo era irracional. Estava com medo de quê? Não havia nada ali. Nada. Fora só um vulto no banheiro, uma ilusão criada por uma mente cansada, necessitada de um sono restaurador.
Contou até três e abriu os olhos. Hesitara no finalzinho, na verdade, mas abrira os olhos.
E havia mesmo alguém de pé a sua frente observando-o deitado ao lado da mulher.
Oswald gritou. Um grito rouco. De puro medo.
Margaret Pöll, sua esposa, continuou completamente adormecida.
“Margaret, tem um garoto aqui no quarto”, disse sacudindo os ombros da esposa.
“Não vai adiantar”, disse o garoto se aproximando dele. “Eu a matei”
“Não!”, replicou Oswald Pöll, que tinha como única ambição na vida meter a mão na sua aposentadoria de diretor da Academia de Artes de Viena.
Os olhos do garoto, de um azul incrível, relampejavam no escuro. Ele trazia alguma coisa no pescoço, também de azul profundo, que brilhava intensamente.
“Sim!, sim!, sim!”
“Margaret”, chamou Oswald inutilmente. A frieza da pele já um pouco enrijecida sob a sua palma era inegável.
O garoto cobriu a boca de Oswald Pöll com sua mão tão fria quanto o corpo da morta.
“Agora a gente vai conversar bem de perto, seu judeu de bosta”
Sim! Sim! Sim!

Continua no próximo capítulo...

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