Epílogo - O Paciente Cego



Epílogo
O Paciente Cego


Ele abriu os olhos e descobriu que estava cego.
A explosão era a última coisa da qual se lembrava. Era noite e ele estava numa trincheira, sentido frio e solidão, quando o bombardeio chegou. Ele escapara a salvo. Aparentemente, tudo parecia bem consigo. Então o dia amanheceu. Suas vistas estavam turvas e mal podia abri-las. Ao entardecer, não conseguia ver mais nada.
Levaram-no para um hospital. Não era um bom hospital. Mas, droga, eles estavam em guerra; havia um monte de problemas para todos. Tiros, mortes, desespero. Mal se via médicos naquele lugar. Só um monte de enfermeiros e voluntários. Deixavam-lo largado num canto com os olhos vendados e lhe davam de comer. Ele desejou estar morto.
Às vezes, ouvia vozes próximas. Também tinha a impressão de ver alguns vultos. Mas devia ser só impressão. Uma mulher, que se dizia médica – embora ele duvidasse –, dissera que ele ficaria cego para sempre. Um outro médico, um homem, dissera que ele estava cego porque queria estar cego.
Malditos médicos.
Como ele poderia querer algo assim? Odiava sua cegueira.
Sentia falta daquela pedra. Não se lembrava do que lhe acontecera. Aliás, não se lembrava de muita coisa dos últimos meses. Devia tê-la perdido em algum lugar. Mas quando tentava se lembrar, tudo o que havia era vazio. Depois ele se metera nesta guerra. Por que tinha de se alistar? O serviço militar já o tinha dispensado. Ele estivera muito confuso. Sua mente parecia partida em duas.
“Tua hora chegará”
Ouvia essa voz de vez em quando. Era uma boa voz. Uma que lhe dava esperança na vitória final. Que lhe dizia que ele era especial.
“Quando a tua vez chegar, todos os que te machucaram caíram. E você triunfará sobre eles”
“E quando será essa hora?”, ele se perguntava.
“Mais breve do que você poderia supor”
“Eu queria que fosse agora”
“Então deve permitir-se levantar desta cama, só assim encontrará teu destino”
“Eu quero, mas não posso. Estou cego”
“Você não está cego... você quer estar”
“Não é verdade”
“Sim, é”
“Então, como posso mudar?”
“Deixe-me assumir o controle novamente”
“Não quero voltar pro lugar escuro!”
“Você já está num lugar escuro”
“Mas aqui é quente, e seguro. O outro lugar é mau”
“Será por pouco tempo e você será retribuído. Vejo dentro do teu coração, minha criança. E se me ajudares, eu lhe darei toda a vingança pela qual tua alma clama.”
Adolf apertou os lábios e então murmurou:
“Está bem”
Imediatamente, ele caiu nas trevas mais escuras. Depois, subitamente, emergiu.
Ele podia ver outra vez. Abraçou-se. Estava frio. Mais frio do que jamais estivera. Ele com certeza não se encontrava mais no hospital. Havia sido transportado para alguma terra distante. Estava perdido em meio a uma grande nevasca e congelava rapidamente. Tudo o que via a sua frente era uma extensão infinita de gelo.
“Alguém!”, Adolf gritou, completamente aterrorizado.
É um pesadelo, pensou. Eu não posso morrer aqui. É um pesadelo.
“Adolf”, chamou uma voz que poderia ser a sua própria.
“Sim”
“Está tudo bem agora. Estou aqui com você. Lorde Grindewald guiará teus passos por esta terra inóspita. Preciso de tua ajuda para visitar velhos amigos. Não se assuste, minha criança. No futuro, não terás nenhuma lembrança desta experiência.”
“Aonde vamos?”
“Ao lar de criaturas tão antigas e tão terríveis quanto você pode sonhar.”
“Eu tenho medo. Elas podem me machucar, não podem?”
Grindewald não respondeu. Mas ele sabia que sim. Após um minuto de indecisão, pôs-se a caminho. Uma minúscula figura solitária na imensidão de neve.


FIM


Nota do Autor: Eu sei que a maioria dos leitores ficará chateada com o final em aberto que eu escrevi para a história. Mas desde o início este era o final idealizado. Na verdade, esta era a primeira de um conjunto de três histórias, que contariam a respeito de Grindewald, sua estreita ligação com o holocausto nazista e Hitler, e, mais tarde, sobre sua derrocada final. Não sei se um dia escreverei uma continuação do enredo, mas pelo menos agora posso descansar tranqüilo de que os meus leitores ao menos terão uma resposta para todos os principais arcos dramáticos abertos nesta fic, com todas as principais questões resolvidas. Quanto ao que se seguirá, bem, isso é uma outra história, que agora eu deixarei a cabo da imaginação do leitor. Espero que aqueles que chegaram até aqui tenham aproveitado a viagem. E me desculpem pela demora - ela também me irritou profundamente, acreditem. Mas afinal a fic está terminada e todos podemos agora voltar para nossas casas com a missão cumprida.
Esperança é mesmo uma boa coisa.

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