Um Mundo em Guerra



Capítulo 12
Um Mundo em Guerra


Quando Dumbledore era pequeno, costumava surpreender o pai em seu local de descanso, aonde ele ia para ler ou pensar sossegado. Numa dessas ocasiões, encontrara-o acariciando distraidamente a marca da fênix nas costa de uma de suas mãos.
“O que é isso?”, ele perguntou, impressionado pelas formas do desenho.
“O quê? Alvo?”, o homem parecia desperto de um sonho. “Não é nada”, e com um toque de varinha a marca desapareceu sem deixar vestígio.
“Mas...”
“Saía já daqui, moleque atrevido! E bata da próxima vez, se quiser entrar”, esbravejou o pai, com sua costumeira irritação.
Depois, chamou a ama do filho, que o levou dali para o quarto, lugar do qual o garoto nem deveria ter saído, para início de conversa. Afinal, como ele poderia superá-lo um dia se não estudasse bastante?
“Hunf! Na idade dele”, pensou o velho Dumbledore, “eu era capaz de enfeitiçar minha própria vassoura de Quadribol. Esse meu filho é mesmo um cabeça oca. Talentoso, mas preguiçoso. Se eu não me cuidar, será tão inútil quanto o irmão. Mas eu darei um jeito nele.”


O expresso de Hogwarts partiu exatamente no horário previsto. Uma revoada de alunos novos e veteranos fazia uma algazarra pelos corredores. Apenas uma figura, no entanto, parecia deslocada naquela agitação juvenil. Era um homem de boa aparência, de meia-idade, muito austero, mas não o suficiente para afastar a atenção dos jovens. Ele se arrastou com suas malas pesadas de tantos livros e conseguiu finalmente encontrar um lugar vago no fundo do trem. Estava a sós na cabine, e era mesmo o que ele queria.
Dumbledore abriu a janela e sentiu uma lufada de ar frio lhe tocar a face, onde a barba ruiva crescia prodigiosa. Nuvens cinzas de chuva cobriam o horizonte, mas não eram suficientes para estragar a beleza daquele dia.
Sim, ele estava indo para Hogwarts.
Parecia incrível que ele pudesse ter abandonado sua carreira no Ministério, ainda mais agora que Churchill dispusera-se a fazer dele seu sucessor, porém ele o fizera. Ele o fizera de verdade. Não podia mais viver o sonho de seu pai e esquecer-se de viver a própria vida.
Nunca estivera tão feliz anteriormente.
Seu amigo Bargaroff teria ficado contente de saber.
A única coisa que eclipsava sua animação era os terríveis acontecimentos que vinham estremecendo o mundo dos trouxas e sua relação com os bruxos. A Europa estava em guerra. “O mundo em Guerra”, era como anunciava os jornais dos trouxas. Embora Dumbledore não julgasse que era para tanto, ainda era algo para se preocupar. Principalmente, com o sentimento antitrouxa crescendo na comunidade mágica. O temor que assolava por toda a parte dava vazão a um tipo de radicalismo que não o agradava de maneira alguma.
Realmente, aqueles não eram dias bons, pensou o bruxo. Mesmo assim, havia boas coisas no mundo. Havia Hogwarts e havia crianças felizes em alguma parte. E havia esperança. Esperança é uma boa coisa.
Lá fora, o vento soprava as nuvens para longe e tornava limpo o céu, que pouco a pouco ia ganhando tons de azul. Dali uns instantes, havia um sol amarelo despontando sobre o verde das árvores. Enquanto a locomotiva ganhava os campos abertos, o apito do expresso de Hogwarts soava alto.
“Esperança é uma boa coisa”, repetiu Dumbledore.

Continua no próximo capítulo...

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