Cruciatus



Capítulo 1- Cruciatus


Uma coruja piou solitária na noite escura. O céu sem estrelas anunciava que em breve cairia uma chuva torrencial. O tempo úmido confirmava isso. O vento forte e gelado corria a todos os cantos mandando que todos se cobrissem debaixo dos cobertores, que abraçassem seus amantes e mutuamente se aquecessem ou que preparassem um gostoso chocolate quente para enfrentar o temporal que vinha por aí.

Mas ela não faria nada disso.

O chão naturalmente frio agora estava congelante por causa do tempo, e as roupas rasgadas e finas que usava não lhe permitiam ter qualquer proteção contra o vento. Encolhida num canto ela olhava para o nada acima dela. O teto feito de pedras duras e disformes se fechava acima dela prendendo-a. O céu estava vermelho e bravo, descarregando sua fúria em raios que caiam o tempo todo antes que a chuva começasse.

Ela se encolheu mais um pouco contra o canto da parede, assoprando em seguida contra suas mãos para esquentá-las, mas isso doía. O corpo extremamente machucado não podia ser friccionado, não podia esfregar suas mãos umas nas outras, pois abriria todas as feridas novamente, e ela já perdera sangue demais. Presa há quase um mês, mal alimentada todos os dias, torturada em tempo integral. Seu corpo estava pele e osso, e seus ossos estavam fracos e quebradiços, não resistindo aos feitiços que lhe lançavam.

Olhou para a perna que estava destroncada. Por causa de suas contorções de dor batera a perna esquerda numa pedra e a destroncara gravemente e os Comensais não fizeram a mínima questão de consertá-la.

-Até quando? –lamentou ela, enxergando o vulto de uma coruja velha que estava empoleirada na árvore.

Era prisioneira de guerra e não seria libertada. Primeiro porque tinha certeza de que a Ordem não tentaria resgatá-la ou tentar uma negociação, segundo porque Voldemort e seus súditos nunca permitiram que a Sra. Potter saísse com vida da Masmorra Negra. Ginevra Weasley, Ginevra Potter. Independente do sobrenome ela seria um alvo a ser atingido de qualquer jeito. Antigo membro da 11ª Divisão, a melhor ladra de informações de toda a Inglaterra, ela já havia criado muitos problemas para o lado negro para que eles não a punissem o bastante e depois tirassem a vida dela.

Triste fim.

Mas o pior não era morrer, era a agonia que tinha que passar antes que isso finalmente acontecesse. Isolada de qualquer pessoa boa ou má ela recebia vistas três vezes ao dia: pela manhã, no meio da tarde e bem à noite. Sempre em horas em que poderia estar fraca o suficiente e tentar dormir ou descansar. Aliás, os Comensais tinham um modo peculiar de lhe alimentar. Primeiro a torturavam por horas ininterruptas, então deixavam alguma gosma que a mantivesse viva para que no próximo dia ela pudesse ser torturada novamente.

Estava morrendo de fome. A comida só era entregue uma vez ao dia, sempre à noite. Passava o calor do dia morrendo de sede, para não conseguir saciá-la nem parcialmente durante a madrugada.

Tentara suicídio uma vez, jogando sua comida fora por cinco dias seguidos. E ainda perdera muita água nesse dias, pela urina, pelo suor e pelas lágrimas, que foram muitas derramadas ao reunir coragem suficiente para levantar com esforço o prato de sopa e jogar o conteúdo pela janela. Estivera bem perto da morte e também da loucura, mas quando ela estava prestes a conseguir êxito seus torturadores perceberam a estratégia dela e impediram. Não que tivesse comido decentemente, lhe deram uma poção que lhe restituiu parte das forças, só o necessário que a mantivesse viva.

Nos intervalos entre uma visita e outra ela costumava fazer algo parecido com tirar um cochilo, mas sua mente nunca se desligava do presente, então era como se somente fechasse os olhos. Às vezes tinha algumas alucinações, quando tinha febre depois de ter o corpo maltratado durante muito tempo. No resto das horas em que estava lúcida, já nem tão lúcida assim, ela pensava em sua vida, infância, escola, família, Harry.

Esse era o seu maior mau. Sabia que ele não podia fazer nada por ela, que o caso dela estava encerrado. Na altura dos acontecimentos era impossível pedir que ele fizesse algo para resgatá-la. Depois de quase uma década reunindo forças Voldemort voltara a ter um poder imenso que conseguira executando uma mesma magia que fora impedido de fazer quando houve a união das Divisões. E mesmo assim não podia deixar de desejar que ele entrasse porta adentro quebrando tudo o que visse e em seguida a abraçando e a levando para casa.

Mas isso era só sonho, ia ficar ali até morrer. E Harry um dia derrotaria Voldemort, viraria um herói ainda mais adorado e ficaria cansado de chorar a perda dela, então conheceria alguma outra mulher se casaria com ela e teria e criaria os filhos que não criara com Gina.

Imaginou o tanto que devia estar feia. O cabelo despenteado, quebrado, mal cuidado e sujo; as unhas enormes, imundas e desregulares; o corpo ossudo; a pele desidratada e ressecada. Talvez se Harry a encontrasse ali a acharia tão horrorosa que a deixaria para trás. Ou talvez a salvasse por caridade e a abandonasse, para ir viver com outra mulher.

-Olhe o que você está pensando, Gina...

Estava morrendo e estava com ciúmes de uma pessoa que nem existia. A que ponto já havia descido.

Uma coruja pousou no chão de um acampamento de três barracas pequenas e de material invisível. Nimphadora Tonks entrou na barraca numero um, magicamente ampliada na parte interna, onde estavam os cabeças da Ordem da Fênix: Alvo Dumbledore e Harry Potter. Bateu numa porta e esperou uma voz da parte de dentro que permitir entrada.

-O que me diz, Tonks? Ainda não achou Gina? –perguntou a voz grave e velha de Dumbledore.

-Depois de três dias finalmente a encontrei.

Ela viu os olhos de Harry se levantarem e iluminarem, ele parecia desperto de um transe.

-Como ela está?- perguntou ele.

Tonks conjurou uma cadeira e se sentou.

-Não vou mentir pra você, Harry. Ela está péssima, se está viva é porque eles não devem permitir que ela morra, devem se precaver contra isso. Magérrima, com os ossos bem a mostra, o rosto e todo o corpo mutilado. Parece estar bem lúcida, mas nunca se sabe.

A expressão dura dele permaneceu, parecia pensar em algo.

-Você obviamente não pôde observá-la durante muito tempo hoje, mas amanhã voltará desilusionada e passará o dia por lá. Uma semana. Fará isso por uma semana, vamos saber o horário exato em que os Comensais invadem a cela dela, e assim traçaremos o plano de resgate.


Tonks olhou para Dumbledore que não falou nada contra. Era absurdamente arriscado regatar Gina nas condições de guerra em que se encontravam. Havia trinta e duas pessoas naquele mini-acampamento. Trinta e duas pessoas fora de combate nas áreas de maior conflito que foram mobilizados para salvar alguém que estava mais para lá que para cá. Trinta e duas pessoas que ficariam sem fazer nada durante uma semana enquanto ela observava e esperava. Aquilo não estava certo. Gostava muito de Gina, mas se nunca haviam tentado regate a algum companheiro, não deveria ser para ela que abririam exceção.

-Claro, Harry. Pode deixar comigo.

Tonks se levantou e saiu da sala, deixando Harry e Dumbledore a sós.

-Você sabe o que ela pensa –disse Dumbledore alguns segundos depois.

Harry acenou com a cabeça.

-É o que todos pensam.

-Eu sei.

-Você acha correto arriscarmos tanto para salvar Gina? Você acha justo com essas pessoas?

-Não.

-Então por que leva isso adiante?

-A vida não foi justa para mim, nunca. E eu nunca tive como mudar o que me acontecia, nunca tive a chance. –parou de falar por alguns instantes e suspirou profundamente- Mas ela está viva, Dumbledore. Viva, entende isso? A minha mulher, a mulher que eu amo está viva. Eu não poderia abandoná-la para morrer, é mais forte que eu. Vamos invadir aquele lugar.

Dumbledore suspirou e saiu do escritório improvisado. Estava ficando velho demais para a guerra, seu coração o dominava com facilidade notável. É claro que entendia Harry, teria feito o mesmo por ele quando este ainda era um garoto, ou até mesmo agora, homem feito. Olhou para o céu vermelho e viu quando a chuva começou a cair, os pingos grossos faziam um barulho muito forte para quem estava dentro das barracas, aumentando a tensão das pessoas que estavam ali dentro. De repente ele se viu desejando estar calmo em Hogwarts, jantando com os estudantes e observando aquele monte de vidas fúteis.


Teve que se arrastar lentamente para outro canto da cela, porque quando a chuva começou a cair acabou por molhar o lugar onde ela estava. Tremendo de frio por estar ligeiramente molhada e por o chão estar ainda mais frio, ela nem percebeu quando um grupo de cinco encapuzados entrou no lugar. Eles olharam a mulher encolhida em posição fetal contra a parede e gargalharam macabramente.

Quando ela ouviu as risadas tremeu involuntariamente de medo, sabia o que vinha depois. O sussurro. Eles sussurrariam aquele feitiço maldito que faria todo o corpo dela ser preenchido por uma dor indescritível, que abalava seus ossos, que rasgava seus músculos e que parava o fluxo do seu sangue. O feitiço que a fazia gritar até perder a força nas cordas vocais e que fazia lágrimas involuntárias saltarem dos seus olhos.

Fechou os olhos e esperou somente alguns segundos até ouvir o encanto já tão conhecido.

-Cruciatus.

N/A: Olá, pessoal! Essa fic, como eu já disse, é continuação da minha fic ‘Memórias de um Tempo’, por enquanto não é necessário que tenha lido, mas mais pra frente certas informções da fic passada serão importantes, portanto é recomendável ler. Essa fic é inspirada no filme Sociedade dos Poetas Mortos, que é um filme lindíssimo, que eu recomendo! Bom, espero que gostem e não se esqueçam de deixar uma resenha! Bjusss, Asuka

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