Aprontando



Liv olhou para o relógio no pulso: 2 horas da madrugada.

-Talvez seja hora de dormir, Bev.

Beverly bocejou profundamente e olhou para seu relógio também. Em seguida olhou desanimada para o livro.

-Droga, ainda falta falar das propriedades da erva-estranguladora e terminar uma redação sobre Animagia.

Liv levantou uma sobrancelha.

-Animagia?

-É, estranhei também o tema, mas a professora disse que nós estávamos fracos em nossas transformações humanas, e entender a teoria da animagia ajudaria.

-Você deve estar tendo bastante trabalho pra fazer essa redação...

Beverly bufou.

-Nem me diga! Os livros mais recentes que falam bem sobre isso são de uns 30 a 40 anos atrás. Páginas amareladas e cheias de poeira, minha alergia está voltando!

Liv fechou seu livro e guardou na mochila.

-Se quiser ajuda não tenho a parte da tarde praticamente livre amanhã.

Beverly sorriu, finalmente parecendo animada.

-Ah não, Taylor e eu vamos pesquisar, pode deixar. Você sabe, ele também está na turma de Transfiguração –disse a loira guardando também suas coisas na mochila.

-Está acontecendo algo que eu não saiba?

-Ora, algo a mais você quer dizer?

-Achei que desde o seu vexame no ano passado você tinha desistido de Taylor.

Beverly fez uma cara séria, ligeiramente desconcertada.

-É, eu tinha. Você sabe, Taylor é nosso amigo, mas ele é mestiço, e isso não agrada papai. Achei que não valia a pena contrariá-lo.

-E vale a pena?

-Ora, quem sabe... Tenho quase 17 anos, Liv. Eu preciso viver um pouco mais a minha vida, sabe? Às vezes penso que quem está certo é Charles, com toda aquela loucura dele. Eu me preocupo demais com o que a carreira política do meu pai tem a dizer sobre a minha vida, mais até do que com o que me faz realmente feliz.

-É impressão minha ou vejo um lado rebelde surgindo?

-Não, de rebelde já basta Charles, ele é rebelde por nós dois. Simplesmente penso que não tenho que fazer um relatório de toda a minha vida para o meu pai. Ele não entende tudo como deveria, ainda mais agora, com minha mãe pres...

Beverly calou-se imediatamente, tentando ignorar sua última frase, Liv respeitou a amiga.

-De qualquer forma- continuou a loira- Taylor terminou com aquela aguada que namorava nessas férias, e parece estar correspondendo aos meus olhares indiscretos... Talvez seja o momento de arriscar um pouco.

Liv pareceu desconcertada e ligeiramente curiosa.

-Você não tem medo de comprometer a amizade? Quero dizer... Se por acaso não der certo?

Beverly se levantou da mesa e encaminhou-se para as escadas, quando colocou a mão no corrimão olhou marota para a amiga.

-Ah, Liv... Medo eu tenho, mas você sabe, é como dizem...

-O que dizem?

A loira sorriu com um ar sonhador.

-Carpe Diem, Liv... Carpe Diem.




A primeira semana de aula estava muito mais puxada do que imaginaram, os deveres eram bastante numerosos e extensos, o que deixava pouco tempo de sobra, ao contrário do que haviam previsto. Taylor sentou ao lado de Liv na mesa da Sonserina, a morena bonita hoje estava com olheiras profundas e parecia sonolenta.

-Estudando até tarde, Liv?

-Sim. Hoje travei uma guerra interna para resistir à tentação de continuar na cama –disse ela comendo uma rosquinha açucarada enquanto lia um livro.

-Um conselho? Coma, depois leia.

Liv levantou os olhos para ele e sorriu. Ela fechou o livro e ele viu que era o DCAT.

-Livro estranho esse... –disse ele.

-Eu só leio as partes que ela manda, sobre os assuntos relacionados à matéria. Não vou negar que ela é a primeira professora decente dessa matéria, coordena muito bem o que faz, mas esse livro é o pior que ela poderia escolher...

Charles sentou-se e viu o livro, entendo o motivo da conversa.

-Acho arriscado, acho que ela sai antes do fim do ano.

Os dois observaram o loiro prendendo seu cabelo comprido.

-O que disse Charles?

-Esse livro já foi censurado uma vez, está escrito no fim do livro, nas notas sobre o autor. Eu não entendo o porquê desse livro ter sido censurado, já que sequer é possível entender uma frase dele, mas isso não é bom sinal... Lucio Malfoy sabe o que faz, acredito que ele teve boas razões para isso.

Taylor engoliu o café pensativo, lembrou-se da frase que encerrava o livro.

-Não sabia que ele havia sido censurado... –disse Liv rindo- ...e muito menos que você lê livros, Charles. Aliás, lê o livro e as notas finais.

-Não li. Papai mandou uma carta para Beverly essa semana, fez uma longa introdução sobre a boa educação dela e sobre o seu juízo, e disse que pessoas de bem não deveriam consultar aquele livro senão para fins escolares. Ele comentou isso na carta.

Taylor permaneceu calado enquanto Liv parecia espantada demais para dizer algo. Os três se pegaram olhando para a capa do livro.

-Eu particularmente acho o livro idiota –disse Charles- Detesto quando ela manda consultar o livro para pesquisa... Entender os tópicos sobre animais e feitiços é fácil, mas entre isso há aquelas frases estranhas, o livro me dá dor de cabeça.

-Já pensou em perguntar a professora o que o livro significa? –disse Taylor.

Charles pareceu sério.

-Eu não faria isso, cara.

Charles não deu uma explicação, o que deixou Taylor ligeiramente perturbado. Sempre ficava perturbado por coisas que não entendia. Tentou desviar o assunto.

-Liv, onde está Beverly?

-Ela já foi para a aula de DCAT, aliás, eu estou indo também. Vocês dois, não demorem.

Ela se levantou e sumiu pelo corredor. Charles sorriu maroto para Taylor.

-Até acho a professora simpática, mas você concorda que há coisas melhores para se fazer no horário de DCAT.

Taylor balançou a cabeça negativamente.

-Não, Charles, não vou matar aula com você.

-Ora, Taylor, você nunca foi de se negar a isso...

-Não antes do Inch conseguir autorização para castigos físicos.

Rudeus Inch era o velho zelador de Hogwarts, para o pesadelo de todos os primeiranistas e para o desprazer do resto da escola. Mau-humorado, tendencioso para a ruindade, avarento e mau-cheiroso, Inch estava no cargo há quase cinqüenta anos, e dizia que ainda viveria bastante para ver as crianças melhorarem. Supunha-se que “crianças melhores” na opinião de Inch seriam robôs programados para não fazerem barulho ou desobedecer ordens.

-Você tem medo daquele velho?

-Ora cara, minha prima está no primeiro ano. Se eu fizer algo, ele desconta nela com algum pretexto.

Charles pareceu considerar.

-É, você está certo... –então sorriu e deu um tapa amigável nas costas de Taylor- Você é um bom primo, se fosse eu não estaria me importando tanto.

Charles engoliu o resto do café e seguiu Taylor pelos corredores, chegaram atrasados para a aula.

-Licença, professora.

-Sr. Looker e Sr. Bowl. Não creio que estejam chegando no horário correto...

-Ora, professora, o café deve ser tomado calmante –disse Charles maroto.

-Se gosta de apreciar bastante seu café da manhã, Sr. Bowl, sugiro que acorde mais cedo para que não se atrase. Menos 5 pontos da Grifinória e Sonserina pelo atraso. E que não aconteça mais.

Taylor suspirou e sentou-se no fundo da sala, seguido de Charles. Liv e Beverly não olharam solidárias. A professora foi até o quadro e bateu com a varinha na superfície negra, várias coisas surgiram escritas.

-Aqui estão os nossos objetivos por esse ano.

Todos olharam para o quadro e uma seqüência de textos era lida. “Eu fui ao bar à meia-noite, e no meio do caminho a lua sorriu para mim. A lua não sorri. Continuei andando e esperei que ela parasse de me vigiar. Quando ela se distraiu eu a peguei. Guardei o mal na prisão, e a lua ficou em paz”. Depois desse texto ainda havia outros quatro, tão estranhos quanto o primeiro.

As pessoas olharam confusas. Beverly levantou a mão timidamente.

-Perdão, professora, mas os objetivos não estão muito claros.

-Para vocês não, e isso é uma pena. Vocês não têm grande capacidade de interpretação, não enxergam as entrelinhas –embora as palavras fossem duras ela falava calmamente e sorria gentil- A Defesa Contra Artes das Trevas é uma arte sutil, um dom nos dias de hoje, e não é fácil entendê-la. É preciso saber onde a Magia Negra está e atacá-la, mas ela não se mostrará claramente e por isso vocês devem ler as entrelinhas das situações. Na verdade a Magia Negra parecerá muito atraente, embriagante, como se a lua sorrisse para você. Saber que a lua não sorri é um bom sinal para reagir contra isso.

Os alunos pareciam pouco satisfeitos com a resposta dela.

-Dever de casa –riu ela- Fazer uma redação de 15 ou mais centímetros sobre “Os objetivos essenciais em Defesa Contra Artes das Trevas”. Como material de estudo e pesquisa vocês têm o que está escrito no quadro, somente isso. Não aceito a definição dos livros atuais, quero a originalidade de vocês. Não precisam utilizar vocabulário acadêmico dessa vez, quero uma interpretação livre e pessoal do que está escrito.

Todos fizeram uma expressão infeliz. Ela gargalhou.

-Ora, isso não é tão ruim assim. Agora abram na página 16 e vamos começar a trabalhar duro.

Taylor puxou um pedaço de papel e escreveu um bilhete, amassando-o em seguida e jogando-o para frente. O papel amassado caiu na mesa de Beverly e ela olhou para trás desconfiada. Abriu e leu a mensagem “Ainda vamos pesquisar sobre Animagia?”. Ela sorriu animada e olhou para trás, confirmando com a cabeça.

Taylor cruzou os braços por trás da cabeça, jogando-se na cadeira confortavelmente. Então Charles lhe deu um tapa na testa.

-Ela é minha irmã, Taylor!

-Eu sei disso.

-Não quero que vocês se envolvam.

Charles estava sério.

-O quê?

-Não quero você com a minha irmã.

Taylor ficou um minuto olhando espantado para Charles, até que este sorriu e lhe deu um tapa amigável nas costas.

-Só estou brincado... Você leva tudo muito a sério!

Taylor sorriu relaxando os músculos.

-Você merece um prêmio por boa atuação...

Mas a conversa foi interrompida pela voz da professora, que aproximara-se deles sem que eles percebessem.

-Vocês chegaram atrasados e agora estão conversando na minha aula.

Taylor abaixou a cabeça e Charles simulou uma continência para a professora.

-Recado entendido!

-Espero que sim.

Sally voltou para frente e começou a explicar sobre os feitiços que eram usados em duelos. Os dois amigos pareceram interessados e não foi grande esforço prestar atenção na aula, que passou relativamente rápido, comparada às aulas de DCAT dos anos anteriores.

Ao final da aula Liv e Beverly se juntaram a eles no fim da aula, aparentemente se esquecendo que ambos tinham chegados atrasados à aula, mas Charles pediu que elas fossem andando na frente.

-Que aula, hein? –disse Charles bem animado.

-É, há muito tempo não temos uma assim...

-E você viu o caderno dela?

-Hã?

-Da professora! Ela deu aula com base num caderno, deve ter anotações bem interessantes ali...

Taylor parou de andar e encarou o amigo.

-Você não está querendo roubar o caderno, está?

-Ora, não é roubar... É pegar emprestado!

-Não, Charles, sem essa... –disse Taylor voltando a andar, mas Charles se colocou na frente dele.

-Pense bem, cara. Ela não pode nos emprestar isso, Draco Malfoy teria um enfarto se soubesse disso. Então nós pegamos o caderno, copiamos e devolvemos amanhã no primeiro horário, ela provavelmente nem vai notar que ele saiu do lugar!

Taylor consultou seu horário.

-Não tenho o primeiro horário com ela, amanhã.

-Mas eu sim! Eu devolvo! Pense, Taylor, o monte de coisas que poderíamos fazer...

Taylor pensou um pouco então sorriu maroto.

-Nos encontramos meia-noite, no segundo andar perto da estatua do cavaleiro sem escudo.




Charles desceu as escadas com cuidado, para não fazer barulho. Atravessou a sala comunal e já chegava na saída quando uma voz o assustou.

-Aonde você pensa que vai?

Ele olhou para trás e viu Liv sentada à mesa, com diversos livros abertos perto dela.

-Pô Liv, já são meia-noite! Você está estudando até agora?

-Ao contrário de você, Charles- disse ela se levantando e indo até perto dele-
Eu me importo com o meu futuro.

-Ok, ok... Diga o que quiser, só finja que não me viu.

Ela se colocou na frente da passagem.

-Você não vai sair.

-Liv, sou maior e mais forte e sei onde você morre de cócegas. É claro que vou passar.

-É a primeira semana de aula!

-E daí? E quer saber? Nem estou indo fazer algo tão errado...

-Gostaria de lhe informar que você não tem grandes definições de “certo” e “errado” –disse ela saindo da frente dele.

Charles resmungou alguma coisa e saiu porta afora. Ele virava um corredor quando alguém lhe tocou o braço, alarmando-o.

-Vou com você! –sussurrou ela.

-Não mesmo! Volte pra sala comunal?

-Ora, você diz que não é errado.

Teimosa. Esse era um ótimo adjetivo para ela.

-Faça como quiser, Liv, mas não faça barulho.

Quando ele chegou ao lugar marcado Taylor o olhou pálido.

-Charles, o que Liv está fazendo aqui?!

-Olá para você também, Taylor. E não fale de mim como se eu não estivesse aqui.

-Eu sei, mas não é minha culpa! Quando eu saía ela me viu e veio atrás.

-Você não consegue sequer sair sem ser visto?

-Não tenho culpa se ela estuda até de madrugada!

-Parem de falar como se eu não estivesse aqui!

-SHHHHHH! –disseram os dois em uníssono.

Então Taylor olhou para Charles e suspirou.

-Vamos logo.

Eles começaram a andar e Liv não se conteve.

-Aonde estamos indo?

-Pegar um caderno –disse Charles.

Aquilo não era muito esclarecedor, mas ela não questionou mais, somente quando pararam em frente a sala de DCAT é que ela voltou a se manifestar.

-Não mesmo! Vocês não vão invadir essa sala.

Os dois somente a encararam profundamente, entrando no cômodo logo em seguida. Ela entrou por último e fechou a porta. Taylor foi até a mesa da professora e começou a revirá-la com cuidado, mantendo tudo do mesmo jeito.

-Aqui está! –sussurrou ele comemorando.

-Bom, muito bom – sorriu Charles pegando o caderno das mãos do amigo.

Ele se preparavam para sair da sala quando uma porta atrás deles se abriu e a professora Sally apareceu.

-O que pensam que estão fazendo?

Eles olharam para trás pasmos. Então Liv se adiantou.

-Eu falei com eles que não deveriam fazer isso!

-LIV! –protestaram ambos os garotos.

Sally Dust saiu de seu quarto enrolada num robe vermelho e dourado. E mesmo à pouca luz, Taylor viu que os olhos dela não estavam com raiva, ainda que quando ela começou a falar a voz dela fosse dura.

-Vocês realmente não fizeram um ruído sequer, mas tenho detectores que me avisam se alguém está na minha sala quando não deveria- então ela caminhou até Charles e estendeu a mão, o garoto entregou o caderno.

-Digam, para que queriam isso?

-Liv é inocente –disse Taylor- Ela nos seguiu para tentar nos impedir.

-O que não deixa de ser errado, pois ela está fora de sua cama depois do horário.

Nenhum dos três contestou.

-Para que queriam o caderno?

-Achamos que deveria ter muitas coisas interessantes que não nos é permitido ensinar –disse Charles humildemente- Como a senhora nunca poderia nos emprestar o caderno, nós o copiaríamos hoje a noite e eu devolveria discretamente amanhã na primeira aula.

-Se sabem que há coisas que não posso ensinar então não deveriam ter feito essa besteira –disse ela abrindo a porta- Vamos, vou levar vocês a Inch.

Nenhum dos três contestou, mas Liv ficou realmente pálida. A professora não falou nada durante todo o trajeto, então o único ruído era o som dos passos deles, o que parecia tornar tudo ainda pior. Quando pararam em frente ao escritório do zelador Sally bateu três vezes na porta, segundos depois esta se abriu.

-Boa noite, Rudeus, sinto lhe incomodar tão tarde, mas encontrei esses três perambulando pela minha sala.

Inch sorriu largamente, o que fez os três perceberem que a situação deles não era nada boa.

-Bom, vou deixá-los a seu encargo. Boa noite.

-Os três estão em detenção.

Liv ficou ainda mais pálida, mas Taylor e Charles permaneceram impassíveis, aquilo não era nenhuma novidade.

-Com a Srta. Orchis eu serei mais bondoso, simplesmente deverá limpar a sala de troféus, sem mágica... Mas com vocês dois... Não é a primeira vez.

Taylor e Charles não pareciam muito preocupados com a punição deles, olhavam para Liv, que estava pálida.

-Nunca limpei nada em minha vida –disse ela numa voz arrastada- Não vou conseguir.

-Ótima oportunidade para aprender –resmungou Inch- E saia daqui antes que eu resolva aumentar o castigo.

A garota pareceu com raiva.

-Você sabe quem eu sou? Sou Liv Orchis, descendente da família Loris, você não pode me obrigar a nada!

Inch aproximou seu rosto feio e fedorento do rosto pálido dela.

-E eu sou Rudeus Inch, e vou pedir ao diretor que comunique seu pai sobre subversão e perturbação da ordem caso você pense em levantar a voz para mim novamente, mocinha.

-NÃO! Não... Não será preciso –disse ela se levantando- Esperarei na minha sala comunal pelo horário da detenção.

Assim que Liv saiu Inch foi atrás de sua mesa, procurando alguma coisa. Começou a tirar papéis velhos de cima da gaveta e a colocá-los em cima da mesa, enquanto procurava algo. Taylor olhou para Charles, que tentava lhe dizer algo somente mexendo os lábios.

“O que ele está procurando?” perguntou o amigo.

Taylor deu de ombros.

“Acho que estamos ferrados” sibilou Charles.

Inch colocou um pergaminho velho sobre a mesa, mas em seguida olhou para ele e o guardou na gaveta novamente.

-Isso não, não é bom ficar fora da gaveta.

Ele remexeu em algumas gavetas por mais alguns instantes e então olhou satisfeito para os dois, mostrando um pergaminho.

-Sabem o que é isso?

Ambos balançaram negativamente a cabeça.

-É uma autorização para utilizar castigos físicos em alunos comprovadamente desordeiros.

Nenhum dos dois expressou grande reação.

-Não estão com medo, hein? Não estão agora... Aprenderão a lição em breve. Então deixarão de ser alunos imorais que perturbam a ordem da escola. Pena que é a primeira vez que eu pego a garota... Aposto que ela já esteve aprontando com vocês.

-Liv não é uma garota imoral e muito menos desordeira –respondeu Charles entre dentes.

-Ah claro, se é certo estar na presença de dois rapazes à noite, invadindo a sala de um professor...

-Não fale assim dela. Liv é inocente!

Taylor segurou o braço do amigo, começava a ver as veias dele saltarem.

-“Sou descendente da família Loris” –Inch imitou Liv- À propósito, não é da família Loris que veio aquela prostituta que se tornou famosa... Como é mesmo o nome dela?

Taylor não conseguiu ver quando o amigo se levantou contra o zelador e começou a socá-lo fortemente no rosto.

-CHARLES, NÃO!

Taylor tentou segurá-lo, mas não conseguia grande coisa, Charles era forte e estava incrivelmente furioso. Com muito custo conseguiu tirá-lo de cima do velho, mas o amigo continuava a se debater.

-CHARLES, PÁRA COM ISSO!

-ELE NÃO PODE FALAR ASSIM DA LIV!

-QUE DIFERENÇA A OPINIÃO DELE FAZ?

Charles pareceu ficar mais calmo e parou de se debater, olhando com raiva para o velho caído e sangrando no chão.

-Estou ferrado –disse ele se abaixando para ver o estado do zelador.

-Está. –disse Taylor se abaixando também- Sr. Inch, o senhor pode me ouvir?

O velho resmungou alguma coisa.

-Charles e eu levaremos o senhor para a enfermaria.

-Como se eu quisesse a ajuda de um mestiço imundo –disse ele em seu fio de voz.

Charles o chutou com força.

-Pára, Charles!

-Olha como ele fala de você!

-Pouco me importa o que ele pensa!

Os dois amigos estavam de pé e de frente um para o outro quando o zelador começou a rir debochadamente no chão.

-Uma desfrutável, um mestiço e um delinqüente! O trio perfeito!

Dessa vez Taylor não impediu Charles de chutar Inch, na verdade ele também chutou o zelador. Nesse momento a porta se abriu e a professora de Poções, Joan Took, ficou pálida e furiosa.

-Sr. Bowl e Sr. Looker... O que é isso? –a voz dela era um fio.

Taylor abaixou a cabeça.

-Nós podemos explicar, professora... A culpa é de Inch...

-Ele é um verme –resmungou Charles olhando diretamente nos olhos da professora.

-Para a sala do diretor agora!

A mulher entrou e foi direto ao corpo inerte do zelador. Olhou com nojo para os dois.

-O que ainda fazem aqui?

-É a Sra. que deve nos levar –disse Taylor educadamente, ainda encarando o chão.

Ela imobilizou o corpo do velho e já saía da sala quando olhou para os dois.

-Me esperem aqui.

Foram dez minutos péssimos, durante os quais eles não se olharam e nem falaram nada. Pareceu uma eternidade até que a professora voltou.

-Me acompanhem.

Eles seguiram em silêncio, a seu lado Taylor podia ouvir a respiração forte e descompassada do amigo. “Não diga nada estúpido ao diretor, Charles” pensou ele. Poderiam ser expulsos se desrespeitassem o diretor. A professora os deixou esperando numa sala a parte enquanto conversava com Malfoy.

Quando eles entraram Draco Malfoy estava falsamente controlado, percebia-se em seus olhos que ele estava pasmo e extremamente furioso. Taylor olhou para o diretor, estava envergonhado e com muito custo sustentou o olhar deste.

-Estou decepcionado, Sr. Looker. Não esperava isso do senhor.

-Estou envergonhado, diretor –disse Taylor abaixando a cabeça.

-Quanto a você, Sr. Bowl, seu pai me avisou que com a prisão de sua mãe o senhor poderia estar um pouco mais rebelde. Mas não creio que isso seja motivo para o comportamento de hoje.

-Não envolva minha mãe nisso –disse Charles friamente.

-Não envolva minha mãe nisso, Sr diretor –corrigiu Malfoy.

Taylor observou Charles controlar sua raiva.

-Não envolva minha mãe nisso, Sr diretor.

-Bom, assim está melhor.

-Creio que eu deva comunicar os pais de vocês sobre o ocorrido, mas somente isso não será o necessário. Pensei sobre o assunto e devo dizer que lamento, mas vocês dois estão expulsos do time de quadribol de suas respectivas casas.

Por um momento os dois ficaram pálidos, até que Charles explodiu dando um soco na mesa.

-O QUÊ? ISSO NÃO É JUSTO!

-Sr. Bowl não complique sua situação me desacatando.

Charles diminuiu o tom de voz e tentou parecer uma vítima.

-Não creio que seja motivo para isso. Se essa situação puder ser negociada com base em novos acordos de detenção...

Taylor observou Charles, apesar de contrariar o pai, ele agia da mesma forma. Os mesmos atos políticos, a mesma forma de negociação, sempre usando vocabulário pouco objetivo.

-Não será feito novos acordos, Sr. Bowl. Vocês deixaram o zelador de Hogwarts, funcionário distinto e que está conosco há quase 50 anos, inconsciente.

-Não sei nada sobre ele ser distinto –disse Charles com fúria.

-Não penso que saiba coisa alguma, de qualquer forma.

-ELE FALOU MAL DE LIV! A XINGOU DE PROSTITUTA! E CHAMOU TAYLOR DE MESTIÇO IMUNDO!

-O senhor está expulso, Sr. Bowl.

Taylor observou Charles cair inerte na cadeira, pálido.

-O quê?

-Acabo de decretar a sua expulsão.

Charles respirou fundo.

-Isso só será legitimado caso haja uma declaração formal observando os motivos e sancionado pelo Ministro.

-Devo lhe lembrar que há um motivo mais do que justo, e ainda seu desacato à minha autoridade. E que o Ministro da Magia é meu pai.

Por um momento Taylor esqueceu da situação que estava ocorrendo. Ele olhou confusamente para Malfoy. “E que o Ministro da Magia é meu pai”. Ele sabia que Charles estava errado, mas isso não lhe parecia certo. Utilizar o parentesco para facilitar a burocracia de uma expulsão. Olhou para o diretor com seus cabelos incrivelmente brancos. Era a primeira vez que ele utilizava essa influência ou já teria acontecido mais de uma vez? Ele deteve seus olhos num retrato de Draco Malfoy que estava atrás do diretor, lá ele estava mais novo e seu cabelo era loiro platinado. Aliás, o cabelo era bem loiro.

Cachos Dourados.

-Veremos –a voz do diretor lhe penetrou os ouvidos.

Olhou para o lado e viu Charles bem mais calmo, na verdade parecia inofensivo.

-Vocês estão dispensados.

Taylor se levantou acompanhando Charles. Quando saíram da sala do diretor o amigo lhe sorriu fracamente.

-Não fui expulso, mas estou ferrado pro resto da vida.

Taylor não soube o que dizer.

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