Memórias de Almofadinhas



Era alta madrugada, e Harry acordou assustado e suando frio. Acabara deter um sonho estranho. Sonhara que estava em um lugar, parecido com a floresta proibida de Hogwarts. Andava com sua varinha iluminando o caminho, até que num passo em falso, caiu em um enorme buraco negro e ouviu gritos de horror. Foi horripilante e o garoto custou a identificar onde estava. Passou a mão por cima da mesa de cabeceira e apanhou os óculos. Olhou todo o quarto, viu Rony dormindo na mesma posição em que deitara (coisa que estranhou, pois o amigo tinha um mal dormir danado) e Draco também dormia, porém esparramado.

Levantou coçando a cabeça. Não conseguia entender o sonho, mas foi algo que o deixou nervoso. Andou até a porta e saiu sorrateiro, fechando com muito cuidado para não acordar ninguém. Olhou um relógio de parede no corredor e viu que era 2 da manhã. Desceu as escadas, ainda tonto de ter se levantado tão rápido, ia seguindo para cozinha, porém parou na sala.

Ouvira vozes. Caminhou lentamente para não denunciar que estava ali e se espremeu contra uma parede próxima a porta de entrada. Como não podia ver quem estava lá, prestou atenção nas vozes, identificando-as imediatamente. O coração de Harry acelerou ao ouvir Dumbledore.

- Os meninos estão tendo dias difíceis, Severo. É normal que Harry esteja mais vulnerável, mas sua visão acabou nos ajudando de alguma forma, não é mesmo, Daniel?

- De certa forma, sim, Dumbledore – Harry ouviu Daniel falando com tom preocupado – Mas essa ligação de Harry com Lord das Trevas... Isso eu não entendo. Será que ele sabe desta ligação? Seria fácil para ele manipular a mente de Harry.

- E por que acha que estou tão decepcionado com os avanços do Potter na oclumência? – Snape falou com tom irônico – Por que eu me sinto péssimo professor? É claro que o Lord das Trevas sabe! Por isso, temos cuidado de Harry e seus pensamentos. Mas ele acha que sua valentia o basta...

- Harry é corajoso, Severo, que mal há nisso? – Sirius cortou Severo brilhantemente. Deveríamos estar felizes por ele ter essa coragem de enfrentar o Lord das Trevas! Se fosse outro, lavaria as mãos.

- Você sabe que a coragem não basta, Sirius – Snape falou friamente – Você deveria saber muito bem disso, o seu amigo corajoso morreu dentro de casa com toda a valentia dele.

Se tinha um jeito de irritar Sirius, e Snape sabia disso, era mencionar Tiago. Harry ouviu um barulho de cadeira caindo e copos balançando. Segurou a vontade que sentiu de entrar na cozinha estuporando Snape e percebeu que Sirius sequer pensou em se segurar, pois ouvia o padrinho gritar sem nenhum pudor.

- Tiago morreu por que você e Pedro o traíram! – Harry imaginou que Sirius estivesse encurralando ou apontando a varinha para Snape, pois podia ouvir Daniel pedindo calma – Ele não morreu por culpa da coragem dele, e sim pela covardia de vocês!

- Eu não traí Tiago, Sirius, eu não era amigo dele, lembra? – Snape mantinha o tom de voz inalterado.

- Não, Tiago você entregou a morte com um sorriso nessa cara feia, mas e quanto a Lílian? Você a traiu, Severo... Você nunca mereceu crédito, eu sempre disse isso a ela. Você se aproveitou da bondade dela, seu covarde! E agradeça a Dumbledore por você ainda estar vivo, minha vontade ao escapar de Azcabam era acabar com você e Pedro no mesmo dia. Só para vingar a morte dos meus melhores amigos!

- Senhores – Dumbledore falou com sua voz serena – Acho que essa não é hora para recordações dolorosas. Viemos por causa da visão de Harry e a possibilidade de termos uma comensal agindo como Auror. Por gentileza, podemos voltar ao ponto crucial da conversa?

Harry admirava a atitude de Dumbledore. Ele era muito sereno, talvez porque já viu coisas demais nessa vida e nada mais o surpreende. Ouviu novamente barulho de cadeiras sendo arrastadas e imaginou que todos estavam se sentando. Dumbledore continuou.

- Pode ficar de olho em Amanda para nós, Daniel?

- Claro, eu já estou. Conversei pessoalmente com Harry e seus amigos, eles estão confiando em mim para isso também. Repito o que disse a eles: Mandy é uma pessoa da qual nunca desconfiei, mas se for preciso, serei o primeiro a tirar essa história a limpo. – Daniel falava confiantemente – Ela nunca disse nada a mim sobre ser comensal, mas eu nunca desconfiei dela, ela é uma exímia Auror, tive o prazer de trabalhar ao seu lado e diversas vezes ela me defendeu, inclusive, assim que comecei e era muito jovem.

- Perfeito, Daniel. Só peço que separe os sentimentos de amizade e os do trabalho de encontrar trevas no passado de Amanda. – Dumbledore advertiu gentilmente.

- Pode contar com meu profissionalismo, Dumbledore. Está em risco a vida de muitas pessoas, eu não seria capaz de traição contra a Ordem.

- Até por que, você sabe das conseqüências – Snape falou sombriamente.
- Sei muito bem, tudo é realmente claro para mim, Severo. Mas agradeço por me lembrar às vezes. – Daniel respondeu sem gaguejar ou tremer a voz.

Um grande ponto de interrogação surgiu na cabeça de Harry. Então, Daniel também era pactuado, assim como Draco? Mas, por quê? Draco era um Comensal da Morte, o pacto fazia sentido, mas Daniel era um Auror renomado. Despertou dos pensamentos ao ouvir Dumbledore se levantando e despedindo-se dos demais.

- É sempre um prazer vir a sua casa, Sirius – Dumbledore falou amigavelmente – Espero que fiquem bem. Qualquer coisa, Severo sabe onde me encontrar.
- Claro, e o prazer é meu por tê-lo aqui, Dumbledore. Espero que possa voltar um dia com mais calma e menos terror no ar para tomarmos um chá. – Sirius foi saindo da cozinha acompanhando Dumbledore e Harry correu rapidamente para outra parede para não ser visto.

- Boa noite, Daniel. Obrigado pelo apoio – Dumbledore sorriu – Até mais ver, caríssimos.

Harry conseguia ver a todos agora. Viu Dumbledore sumindo e Sirius encarar Snape seriamente.

- Você também pode ir, ou melhor, já deveria ter ido.

- Não precisa nem dizer duas vezes – Snape virou as costas e saiu.

Harry viu Sirius com ar revoltado. O padrinho deu um murro na parede que na opinião de Harry deve ter doído um bocado, embora Sirius estivesse no auge da fúria. Daniel o olhou preocupado e foi em sua direção.

- Sirius, posso ajudar em algo?
- Não, Dan, obrigado, mas isso é entre mim e Severo – Sirius saiu rumo às escadas e sumiu.

Daniel o viu desaparecer escada acima. Andou até metade do caminho até a escada e virou-se sorrindo.

- Tudo bem, Harry, pode sair agora, a barra está limpa!

Harry inclinou a cabeça e riu sem graça para Daniel. Saiu de trás da parede levemente desconcertado.

- Você sabia que eu estava aqui, como?
- Eu o vi mudando de posição quando saímos da cozinha. Bom, que sirva para você, caso queira ser Auror um dia: A sobrevivência depende da capacidade de atenção. Devemos estar atentos aos movimentos, por mínimos que sejam.

- Ah, belo trabalho, achei realmente que estava anônimo – Harry sorriu – Eu não quis ouvir, eu desci para beber água, mas ouvi vozes e meu nome, então fiquei ali.

- Não precisa se explicar, eu faria ou mesmo ou pior, se quer saber – Daniel deu uma palmadinha no ombro de Harry e rumou às escadas – Boa noite, Harry.
- Boa noite, Dan.

Harry ainda se demorou um pouco mais, digerindo as informações que escutara a pouco. Amanda Stonebreaker, se uma Comensal da Morte mesmo, deve ser uma ótima atriz, para enganar ao Ministério da Magia. Harry andou até às escadas, mas parou na metade, ao ver Sirius descendo do sótão. O padrinho descia tentando não fazer barulho, e com um aceno de varinha a escada se recolheu, ficando imperceptível aos olhos de quem olhasse para o teto. Harry tentou ao máximo focar o local exato onde a escada sumiu. Sirius deu meia volta e Harry desceu mais uns três degraus para que sua cabeça não fosse vista. Esperou ouvir a porta de Sirius fechando e subiu olhando em direção ao quarto, para ter certeza de que Sirius não apareceria de novo.

A curiosidade invadiu Harry. O que o padrinho poderia estar fazendo às 2:30 da manhã no sótão? Parou na posição que julgou ser a exata das escadas. Lembrava que só estivera umas duas vezes no sótão, para limpeza de bugigangas, mas fazia anos. Talvez, assim que Sirius o trouxe para morar com ele. Harry olhou, olhou e não conseguia ver nada. Das vezes que estivera ali, a escada já estava descida, ele não fazia idéia de como a descia e se odiou por nunca ter perguntado isso ao padrinho. Sacou sua varinha e tentou algumas coisas.

- Accio escada – e nada aconteceu, assim como os outros dois feitiços seguintes que conjurou.

Pensou que poderia abrir por alguma senha. Mas qual senha seria? Se fosse a mãe de Sirius a dar aquela senha?

- Sangue-puro! – tentou inutilmente. – Black! Sonserina! Lord das Trevas!

Não, pensou melhor, Sirius e ele viviam ali há praticamente quatro anos, Sirius já deveria ter trocado a senha a essas alturas.

- Almofadinhas! – E nada – Maroto! Snuffles! Grifinória! Moto! Harley Davidson! Honda! Ai... Inferno!

Essa última não foi tentativa de senha, mas ainda assim nada aconteceu.

Então, ele percebeu que uma parte do teto tinha um contorno retangular, como se indicasse algo. Só com muita força de vontade dava para vê-lo, ou, claro, se a pessoa já soubesse de sua existência. Subitamente, pensou que ao colocar a mão o sótão abriria, reconhecendo que a pessoa era a dona da casa. Mas o teto era realmente alto. Harry olhou em volta e não viu qualquer coisa na qual pudesse subir para tocar aquele retângulo. Tentava não se mexer muito para não perdê-lo de vista. Então, resolveu apelar. Mirou a varinha para suas pernas e tentou.

- Wingardium leviosa – E para sua emoção, subiu lentamente até o local.

Esticou a mão e tocou aquele retângulo. Ouviu alguns craques de madeira, enquanto voltava ao chão. A escada foi descendo graciosa e silenciosamente. Harry subiu olhando para os lados, para ver se alguém estava por ali o observando. Entrou no sótão e se deparou com muitas tralhas.

Caminhou entre elas, aquele lugar lembrava a sala precisa quando precisava-se guardar algo, como quando encontraram o Diadema de Revewclaw escondido por Tom Riddle. Harry viu livros antigos, um armário velho e tantas outras coisas estranhas e sem utilidade. Mas não foi nada disso que chamou a atenção de Harry.

Andou como se estivesse hipnotizado olhando para aquela bacia fumegante à sua frente. Era uma penseira. Harry congelou. Então, Sirius tinha uma penseira e nunca antes contou. O coração de Harry disparou ao pensar em tudo o que poderia descobrir entrando nos pensamentos de Sirius. Se debruçou na bacia, embora relutante e meio receoso, mas sua curiosidade falou mais alto e ele mergulhou com tudo.

Seus pés tocaram o chão do expresso de Hogwarts. Olhou para os lados e se assustou ao ver um menino pomposo e bem arrumado se despedindo ignorantemente da mãe.

-Graças a Merlin estou indo para Hogwarts, e não vejo a hora de nunca mais precisar voltar para aquela casa de novo! – Sirius com 11 anos de idade já sabia usar as palavras para magoar uma pessoa, pensou Harry – E não me espere no natal, eu prefiro ficar sozinho lá do que com vocês em casa! – E virou as costas, puxando seu malão com estupidez.

Harry acompanhou Sirius, que entrou feliz no trem. Esbarrou sem querer numa menina que virou rapidamente.

- Ei! Não enxerga...Ah, veja, é o Sirius... – A menina loira sorriu debochadamente.
- Narcisa, você era a última pessoa que eu queria ver nesse momento, então, me erra, falou?

- E então, Sirius? – Outra voz fina e irritante falou ao lado de Narcisa falou com tom irônico – Pronto para ir para Lufa-Lufa? Não, por que na Sonserina eu tenho certeza que não vão te aceitar, seu traidorzinho do sangue de meia tigela!

- Não que eu lhe deva satisfações da minha vida, Bellatriz, mas queria te agradecer pelo incentivo. Talvez você acha que me ofende com essas palavras, mas tudo o que eu mais quero e ficar longe da Sonserina, de você, da Narcisa e de quem quer que seja.– Sirius não vacilou.

Virou as costas para as duas e entrou na primeira cabine que viu. Só tinha dois alunos. Harry sentiu uma pontada no peito: Era sua mãe, sentada à janela, lindinha aos seus 11 anos, e seu pai, jogado próximo à porta brincando com a varinha. Viu Tiago levantar a cabeça e ajeitar os óculos, sorrindo para Sirius. Sirius sorriu sem vontade e sentou à sua frente. Lílian escrevia em um caderno, talvez um diário, só olhou de relance para Sirius, Harry viu lágrimas em seus olhos, e voltou a escrever.

Harry ficou algum tempo observando. Os três estavam em silêncio. Até que a atenção de Harry foi desviada para um garoto que olhava pelas portas das cabines, como se procurasse alguém. Reconheceria aquele nariz em qualquer idade, e viu Severo Snape se aproximar da cabine, olhando em seu interior e entrando decidido.

- Ei, não sei se lhe foi ensinado, mas “dá licença” se usa! – Tiago tirou o pé do caminho ao ver Severo passando esbarrando nele – Mal educado!

Harry riu, pois foi neste mesmo tom que falou com Snape no dia em que ele foi explicar a Draco o plano de volta a Hogwarts. Severo não deu idéia para Tiago e sentou-se na frente de Lílian. A menina estava chorando ao escrever no diário, mas ao vê-lo entrando, fechou seu diário rapidamente e o escondeu, grudando seu rosto no vidro da janela.

- Eu não quero falar com você... Lílian falou com Severo.

Harry ficou confuso, como se conheciam antes de Hogwarts? Lílian foi criada como trouxa... Mas estava mesmo prestando atenção em seu pai, que se inclinou e deu um suave chute no pé de Sirius. O garoto levantou seu rosto com a cara amarrada, e Tiago fez um gesto para ele, levando a mão ao seu nariz, como se estivesse ressaltando o tamanho, e apontou a cabeça para Severo, que conversava com Lílian.

Sirius olhou e riu para Tiago, que olhava para os dois conversando e balançava a cabeça. Virou a cabeça novamente para Sirius e lhe estendeu a mão.

- Prazer, Tiago Potter! É Seu primeiro ano também?
- Oi, Tiago. É sim, é meu primeiro ano. – Sirius apertou sua mão – Sou Sirius.
- Sirius de quê? – Tiago falava em tom baixo para não atrapalhar a conversa nada animada ao lado – Sirius “não tenho sobrenome”?
- Não... – Sirius riu novamente – Sirius Black.
- Ah, pensei que você fosse igual ao meu cachorro, que só tem um nome, coitado... – Tiago olhou de novo para o casal conversando, mas em seguida abaixou a cabeça e continuou brincando com sua varinha. Só levantou a cabeça ao ouvir o garoto narigudo falar algo que lhe tirou do estado de relaxamento.

- É melhor você entrar para Sonserina! – Snape disse a menina.
- Sonserina? – Tiago disse ofendido – Quem quer ir para Sonserina! Acho que eu desistiria da escola. Você não, Sirius?

Harry viu o padrinho levantar a cabeça e fitar Tiago sem graça.

- Toda minha família foi da Sonserina...
- Caramba! – Tiago arregalou os olhos – E eu achando que você era um cara legal...
- Mas... – Sirius riu – Talvez eu quebre essa tradição...

A visão de Harry embaçou e logo ele estava em Hogwarts, ao lado de Sirius, esperando a seleção de casas. De repente, uma Minerva McGonagall muito mais nova que a que Harry conhecia o chamou.

- Black, Sirius!

Sirius foi sem aparente medo ao encontro da cadeira. Harry olhou o local. A mesa da Grifinória como sempre, cheia de alunos sorridentes, assim como as da Corvinal e da Lufa-Lufa. Olhou para a da Sonserina e sentiu vontade de vomitar: Lucio Malfoy com o nariz levantado, como se sentisse algum cheiro ruim exibindo sua estrela de monitor. Percorreu os olhos e viu a desvairada da Bellatriz Black rindo olhando para Sirius. Harry imaginou que ela estivesse mangando do primo.

O chapéu foi colocado na cabeça de Sirius e Harry chegou ao lado do padrinho para ouvir o que dizia.

- Um Black...
- Sirius.
- Sirius Black!
- Não ligo. Só Sirius.
- Você odeia seu nome, rapaz?

- Deu pra reparar? - Sirius era irônico até com o chapéu seletor, Harry teve que rir.

- E odeia a Sonserina... Não quer ir para lá? Sua família foi dessa casa por gerações... Você seria um bruxo excepcional, todos os Black o são.
- Eu não ligo – repetiu Sirius nitidamente irritado – Eu não estou vivendo para agradar minha família, estou vivendo para ser alguém útil para os outros. Eu não quero aceitar o destino que minha mãe me traçou. Eu quero ser dono do meu destino.

Harry olhava boquiaberto. Nunca pensou que alguém pudesse discutir com o Chapéu Seletor, mas Sirius o fez.

- Traçar seu próprio destino?
- Isso.
- Então... Que seja... GRIFINÓRIA!

Harry riu ao ver a cara de Bellatriz. Ela esperava tudo, menos Grifinória. Sirius por sua vez se levantou sorrindo e saiu correndo para a mesa da Grifinória. Harry pôde ouvir seu pai, que ainda esperava pela seleção, comentar consigo mesmo.

- Caramba! Você disse que ia quebrar a tradição e quebrou mesmo, heim? Esse cara é bom! É um dos meus...

Novamente tudo rodou à frente de Harry e ele estava na biblioteca, com Tiago e Sirius conversando entre sussurros.

- Não, Está louco? Se levarmos mais uma advertência, Minerva nos mata! E Dumbledore não nos contaria uma coisa dessas...
- Qual é, Sirius? Até parece que você tem medo...
- Tiago, não é isso! Mas... – Sirius olhou em volta – Não temos como provar...
- Fácil, perguntaremos para ele!

- Ah, claro... – Sirius debochou – Vamos chegar assim: Remo, tipo... A gente estava reparando que toda noite de lua cheia você some e toma uns bagulhos estranhos de vez em quando...É algum ritual macabro que você faz ou é um lobisomem mesmo? E os frasquinhos? É poção para controlar o efeito ou você é viciado em alguma droga, se for alucinógenos, eu quero experimentar...

- É uma boa idéia, Sirius, vou anotar... – Tiago puxou o pergaminho e escreveu – “Ritual macabro na lua cheia... drogas alucinógenas...”
- Eu não estou brincando, Tiago! Se ele confiar na gente, ele mesmo vai contar!
- Ele não contaria... A menos que perguntássemos!
- Meu... Você é muito insistente... E eu sempre vou na sua, eu acho que eu não tenho personalidade própria...

- Eu não desisto facilmente... – Tiago riu.

Tudo girou e Harry estava em frente a Remo Lupin, pálido e trêmulo. Sirius e Tiago correram em sua direção para ampará-lo.

- Cara, você está legal? – Tiago se inclinou para sentar o garoto em uma poltrona. – Não morre na minha frente não, sou novo demais para ficar traumatizado pelo resto da vida...
- Eu... Eu to bem... – Remo suava frio.
- Quer que levemos você para a Ala Hospitalar? – Sirius se abaixou e observava Remo preocupado.
- Não, eu só... – Remo revirava o bolso das vestes – Eu só preciso de... Ai, cadê? A minha poção! Onde está?
- Não está no dormitório? Quer e eu vá ver? – Tiago começou a ficar com a expressão preocupada e olhava Sirius de canto de olho.
- Não, não está... Acabou... – Remo começou a ficar desesperado.
- Vamos falar com Minerva! – Sirius se levantou rápido.
- NÂO! – Remo gritou – Fale com Dumbledore! Ou Slughorn! Eu preciso disso agora!
- Remo... – Tiago estava ao seu lado – Não precisa se desesperar, eu e Sirius estamos aqui para ajudá-lo.
- Eu sei! Mas eu posso machucar alguém se não for rápido!

- Você é um lobisomem, não é? – Tiago perguntou de uma vez.
- Isso... Por Merlin... Rápido!
- Eu vou chamar! – Sirius saiu correndo pelos corredores.

Harry foi atrás dele. Sirius tinha um pique incrível, se fosse trouxa poderia ser um ótimo jogador de futebol, pensou o menino. Enfim, chegou às masmorras, na sala de Slughorn, parando ofegante. Severo estava com o professor e o mediu de cima a baixo.

- Professor, por gentileza, poderia me acompanhar ao Salão Comunal da Grifinória? – Sirius olhou feio para Snape.
- O que acontece, menino? – Slughorn o fitou preocupado.
- Temos um problema... – Sirius se irritou ao perceber que Snape não os deixavam a sós – Será que poderia nos dar licença? É particular!

- Estou ajudando o professor, se não percebeu – Severo desde sempre tinha o tom de frieza na voz.

- Não, está bem... Pode ir, Severo... – Slughorn pensou rápido – Acho que temo um aluno que precisa de mim.

Slughorn virou-se para uma prateleira e pegou um frasco de tamanho médio. Severo esticou os olhos para ver do que se tratava, mas o professor foi mais rápido que ele e já estava saindo com Sirius para o Salão Comunal da Grifinória.

- Vamos, rapaz... – E saiu com Sirius correndo em um ritmo cinco vezes menor do que o do garoto.

Harry não saiu da sala. E nem Snape. O menino se certificou que não tinha ninguém ali ou próximo da sala, foi em direção ao armário de onde Slughorn tirara a poção e viu um frasco semelhante. Abriu, cheirou a poção ligeiramente, leu seu conteúdo em uma etiqueta presa e murmurou para si mesmo.

- Então, temos um lobisomem na Grifinória... Quem será?

A visão de Harry novamente foi desviada para outro lugar. Viu Tiago e Sirius na frente de Dumbledore, aparentemente indignados.

- Mas, diretor! Ele nos contou! Ele se sentiu confortável em compartilhar esse segredo conosco! – Tiago falava ofendido – Nós podemos ajudá-lo, ele é nosso amigo!

- O que duas crianças de onze anos podem fazer para deter um lobisomem, Tiago? – Dumbledore falava serenamente – Admiro a disposição de vocês em ajudar um amigo, mas Remo não reconhece ninguém quando se transforma.

- E se criarmos um plano para ajudá-lo? – Sirius perguntou sem pensar.

- Pensando em mais alguma detenção, Sirius? – Dumbledore sorriu.
- Não, diretor... Eu só acho que o Sr. poderia confiar em nós dois, Remo confiou, que é o mais prejudicado... Nos conte como ele sai de Hogwarts e nós o ajudaremos todas as vezes!

Harry viu Dumbledore fitar os meninos por cimas dos seus óculos meia-lua. Fez uma expressão de admiração e sorrindo disse.

- Acho que vocês não vão desistir, não é mesmo?
- Não mesmo – Tiago sorriu – Nunca desistimos de um amigo.
- Assino em baixo – Sirius olhou para Tiago sorrindo.
- Pois bem, vou explicar o mecanismo de saída, mas conto com a discrição dos senhores para manterem Remo em sigilo. Dumbledore começou a explicar, Tiago e Sirius o escutavam atentamente.

Agora, Harry estava novamente na biblioteca. Tiago estava debruçado em um livro e Sirius estava na prateleira procurando mais livros. Remo também lia algo e Harry, pela primeira vez nessa viagem nas memórias de Sirius, viu Pedro Pettigrew. Ele só assistia aos meninos pesquisando alguma coisa.

- Nossa, Pedro, obrigado por nos ajudar – Tiago levantou a cabeça mirando o garoto que tinha uma expressão melancólica.
- Eu não sei o que vocês estão procurando, oras! – Se defendeu Pedro
- Como não? – Remo o olhou também – Estamos procurando algo sobre animagos, lembra? Mas não há uma fórmula que ensine a ser um... – Remo fechou o livro que lia.

- Assim não dá – Sirius voltou à mesa indignado – Não tem nada que já não tentamos antes! Todos os livros falam a mesma coisa que já sabemos...
- Só tem um jeito – Tiago disse tirando os óculos e limpando nas vestes – A área restrita.

- Fascinante idéia, Tiago – Sirius sentou contrariado – Vamos chegar e dizer o quê? A sessão restrita não tem esse nome à toa... Só professores têm acesso...
- Mas e sem ninguém nós vir? – Tiago riu maliciosamente.
- Ah, saquei! – Sirius também riu, mas Remo e Pedro se olharam confusos.

De repente, Harry se viu sozinho no corredor. Não tinha ninguém por perto, mas viu a porta da biblioteca abrir sozinha. Entrou atrás de Tiago e Sirius invisíveis. Harry lembrou que em seu primeiro ano em Hogwarts, ele fez exatamente a mesma coisa para pegar um livro na área restrita.

- Sirius, vigia... – Tiago retirou a capa de cima deles – Eu procuro aqui...
- Falou... – Sirius murmurou “Lumus” e clareou a sua visão.

Harry acompanhou seu pai procurando algum livro. Enquanto estava procurando o livro, Harry o mirava. Era realmente muito parecido com o pai. O cabelo, o tipo físico, as caras que fazia...

- Sirius! – Tiago pegou um livro com os olhos brilhando – Achei!
- Jura? – Sirius foi até Tiago – Caramba! Nós somos terríveis, Tiago...

E num giro, a visão mudou a frente de Harry...

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