Uma Segunda Chance



Mal amanheceu e Harry foi acordado por Sirius,Draco e Daniel cantando parabéns em seu quarto. Deu um pulo da cama, assustado, e demorou a entender a situação, afinal, só tinha pegado no sono há umas três horas atrás. Mas se endireitou na cama e tentou sorrir para os três malucos que cantavam e batiam palma na frente dele.

- Viva Harry! – Sirius gritou.
- Viva! – Draco e Daniel acompanharam no coro.
- Nossa, obrigado... – Harry sorria sem graça.
- Não agradeça agora! Espere ver os presentes! – Sirius estava sorridente e acenou para Monstro, que entrou no quarto trazendo três embrulhos.
- Não precisava... – Harry colocou os óculos e pegou os embrulhos que Monstro trouxera.
- Feliz aniversário, meu senhor Potter – Monstro falou cheio de má vontade.
- Obrigado Monstro – Harry fez questão de agraceder.
- Não agradeça, meu senhor, monstro vive para servi-lo... – Monstro saiu do quarto resmungando.
- Que elfo simpático! – Sirius acompanhou com os olhos Monstro saindo.

- Harry – Daniel sorria – eu não sabia o que te dar, mas fiz questão de te comprar algo que acho que será muito interessante para você.
- Obrigado, Daniel – Harry sorriu para o rapaz – Você chegou agora?
- Ah, sim, eu saí logo cedo do Caldeirão Furado. Estou acomodado no quarto que era do irmão de Sirius. – Daniel sentou-se na ponta da cama de Harry.
- Era o único quarto vago, lamento te fazer ficar naquele ninho de cobra – Sirius riu.
- Sem problemas! Eu adorei o quarto. É realmente aconchegante!

- Harry, abre logo os presentes! – Draco falou animado.

- Está bem – Harry puxou o menor embrulho e começou a abrir o pacote. Era um belo relógio de pulso, com pulseira de couro preta e corpo em ouro. Ficou encantado com o presente – Nossa! Que lindo esse relógio!

- Que bom que gostou – Sirius sorriu – Esse é o meu presente. É tradição dar ao bruxo que atinge a maior idade um relógio.

- É verdade! – Daniel concordou e amostrou seu próprio relógio – Meu pai me deu esse quando completei 17 anos, e me explicou que os pais sempre dão um relógio aos filhos que atingem a maior idade...- Harry olhou para o relógio de Daniel e o rapaz parou de falar sem graça, provavelmente se tocou que Harry recebera o relógio de Sirius por não ter seu pai vivo.

- Adorei, Sirius! Obrigado!

Harry levantou da cama, fingindo ignorar o comentário de Daniel, e abraçou o padrinho muito forte. Queria dizer com aquele abraço o quanto seu padrinho era importante para ele, o quanto era grato por tê-lo acolhido desde seus 13 anos, o quanto significava para ele... Foi um abraço demorado, e os olhos de Harry chegaram a encher de lágrimas, mas ele disfarçou bem. Voltou à cama e pegou mais um embrulho. Abrindo, viu um suéter de tricô branco com fios dourados, tinha gola alta e um trançado incrivelmente perfeito. Era uma peça de roupa totalmente diferente de todas que Harry tinha e mesmo sem querer esnobar as peças que ganhara da Sra. Weasley todos os últimos anos, era de material muito superior. Não duvidou que aquele era o presente de Draco.

- Eu não sei se você gosta de roupas assim, mas acho que será muito útil!– Draco sorriu para Harry.

- Merlin... Eu nunca vi um suéter tão bonito... É incrível! Olhem isso! É muito perfeito! – Harry amostrava a peça de roupa para Sirius e Daniel, que tinha a mesma expressão de maravilhados.

- Esse suéter é feito pelas bruxas anciãs de Salamanca, na Espanha. Elas têm um atelier maravilhoso, meus pais sempre encomendaram roupas com elas, porque está para nascer alguém que faça um trabalho tão perfeito e detalhista assim, além de serem peças exclusivas. Elas cobram uma fortuna por suas roupas, pois sabem o seu valor e ainda assim recebem encomendas de todo o mundo! Meus pais sempre foram seus melhores clientes... – Draco sorria orgulhoso e Harry percebeu que ele ainda não deixara de ser soberbo de certa forma.

- Draco, nossa... Muito obrigado...

Pela primeira vez em seis anos que se conheciam, Harry e Draco se abraçaram. Foi algo realmente estranho, Harry pensou, nunca teve vontade de abraçar Draco, mas foi muito espontâneo agora. Sentiu vontade de demonstrar que estava feliz. Draco não esperava pelo abraço e ficou meio sem jeito, mas Harry percebeu que o garoto tinha brilho nos olhos, estava notavelmente feliz. Talvez, Draco sentisse a mesma coisa que Harry. Quando imaginariam que logo eles estivessem tão próximos, a ponto de se abraçarem como somente os bons amigos fazem.

- Não foi nada, Harry, que bom que você gostou! – Draco tinha um sorriso enorme no rosto.
- Gostei? Adorei! Vou usar hoje à noite no jantar! – Harry sorria, voltando a cama e pegando o último embrulho.
- espero que goste, Harry... – Daniel deu uma piscada para Harry.

Harry sorriu para o rapaz, e pegou o embrulho. Desembrulhou com cuidado e viu um livro, ficou atônito quando viu do que se tratava. Era um livro trouxa, Harry nunca teve oportunidade de ler, ou interesse, mas lembrava que tia Petúnia tinha dado um exemplar para Duda, embora Harry tivesse dúvidas se ele sabia realmente ler.

- O Pequeno Príncipe? – Harry sorriu sem entender.

- Conhece? É de um autor trouxa francês, Antoine de Saint'Exupery – Daniel enrugou a testa – Soube que você foi criado como trouxa até os 11 anos, imaginei que o conhecesse.
- Conheço sim, mas nunca li... Não é um livro infantil?- Harry olhava o livro, abriu a página inicial e passou os olhos pela dedicatória, enquanto Daniel falava sorrindo.
- Não exatamente. Leia, você entenderá porque o dei.
- Obrigado Daniel! – Harry deu um abraço no rapaz em agradecimento.
- Não foi nada! – Daniel sorriu.

-Rapazes, vamos ao café da manhã? – Sirius falou empolgado.
- Sim, vamos, eu estou com muita fome! – Draco se antecipou e saiu do quarto. Sirius e Daniel o seguiram, mas Harry se demorou um pouco mais. Olhava o livro que acabara de ganhar e se perguntava por que ganhara um livro infantil. Lembrou de ler a dedicatória escrita pelo rapaz.

“Você deve estar se perguntando por que eu te dei esse livro. Pois bem, só entenderá de verdade quando o ler. Eu não posso te dar seus amigos de volta, Harry, mas posso te ajudar com uma injeção de ânimo. Sabe, quando eu li esse livro eu tinha 15 anos. Meu pai me deu quando estava num momento muito delicado, pensava que não tinha amigos, que minha vida era uma porcaria... Eu não entendi o porquê do livro, até que o li. E posso te dizer: minha percepção de vida mudou a partir dessa leitura. Nós nos preocupamos tanto com coisas inúteis que não damos o devido valor ao que merece. Isso tudo pode ser traduzido por uma frase que você lerá aqui, o ensinamento de uma Raposa muito sábia: ‘- A gente só conhece bem as coisas que cativou, Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!’. Espero que aprecie a leitura! Sinceramente, Daniel R. Carter”

Harry sorriu ao ler a tal dedicatória. Agora entendia o presente, talvez Daniel soubesse o que estava fazendo. Deixou o livro em cima da mesa de cabeceira e desceu as escadas para a cozinha. Lá chegando, gelou ao ver quem o esperava, sentado à mesa junto com Sirius, Draco e Daniel.

- Rony? – Harry empalideceu.

A julgar pela expressão de Rony, ele não estava nada à vontade ali. O menino estava tão pálido quanto Harry e tinha ar de alguém que ia vomitar a qualquer momento. Ao ver Harry, se levantou ligeiro e o encarou.

- Oi, Harry. Podemos falar? – Rony falou friamente.
- Claro... – Harry arregalou os olhos e fez sinal para que Rony subisse com ele ao quarto.

Durante o caminho até o quarto, Rony não disse uma só palavra, e Harry pensava no que falar, mas nada o ocorria. Entraram no quarto e Harry não sabia se encarava Rony ou se fazia de desentendido. Mas Rony tomou a frente e o encarou. A principio, só olhava Harry, não falou nada durante uns instantes. Depois, falou friamente.

- Só estou aqui por Hermione. Ela praticamente implorou para que eu te procurasse. Disse que você tem algo a me dizer. Não vim por minha vontade, quero deixar muito claro, acho que você deveria me procurar, mas ela me convenceu a vir. Se você tem realmente algo a dizer, fale logo. Eu não tenho nada para dizer a você.

Rony ainda encarava Harry. Cruzou os braços à frente do corpo e tinha expressão de quem poderia puxar a varinha a qualquer momento. Harry, porém, sentia vontade de gritar, sair correndo ou cair no chão desmaiado, para não ter que passar por aquela situação, de não saber o que dizer. Se sentiu tão covarde, mal encarava Rony e se manteve num silêncio fúnebre.

- Foi o que eu disse a Hermione – Rony irrompeu o silêncio após um longo período encarando Harry– Você não tem nada a dizer, só queria se passar pelo coitado da situação. Não sei por que ainda perdemos tempo com você.

Rony se dirigiu à porta do quarto pisando firme, deu um esbarrão em Harry, que parece ter sido essencial para despertá-lo, e saiu sem olhar para trás. Harry balançou a cabeça com força, como se colocasse os pensamentos em ordem. O que estava fazendo? Tudo o que queria era pedir desculpas ao amigo, e agora, que estava de frente para ele, não conseguia sequer dizer “me perdoa”. Entendeu que estava fazendo uma grande burrice e foi depressa atrás do amigo. Chegou a ver Rony passando pelos três sentados à mesa, os desejou bom dia sem parar de andar rumo a porta de saída. Harry saiu correndo em sua direção gritando.

- RONY! NÃO! ESPERA! – Harry correu e se pôs na frente do amigo. – Eu tenho que te pedir perdão pelo que fiz!

Ah, lembrou o que tinha que me dizer? – Rony mantinha frieza na voz e não expressou qualquer emoção ao ouvir Harry.

- Rony! Por favor, eu não sei o que houve! Mas, aquele não era eu! Eu nunca quis te magoar, te ferir... – Harry tinha os olhos cheios de lágrimas – Eu sou um idiota, mas há algo em mim que eu não consigo controlar! Algo mau, algo que me faz ser alguém que eu não quero ser!

- Harry, eu...

- NÃO! ESCUTA! – Harry não deixou o amigo falar, pensando que se não fizesse aquilo agora não teria coragem em outro momento – Rony, eu não consigo prosseguir sem você e Hermione ao meu lado! Vocês são mais que amigos para mim, vocês são minha força, minha inspiração, meu conforto! Se eu não tiver vocês do meu lado, eu não tenho mais por que lutar, por que continuar a viver... Eu preciso de vocês! EU PRECISO DE VOCÊS!

Harry começou a chorar tão desesperadamente e Rony não sabia nem o que dizer. Soluçava e estava vermelho. Sirius levantou da mesa e observou de longe, sendo seguido por Daniel. Draco, contudo, foi até os dois. Olhou para Rony, e dele para Harry.

- Rony, acredite em Harry. – Draco falou serenamente e Rony estava corado – Ele não fez por mal. Isso foi obra do Lord das Trevas e eu sei que foi. Harry é um ótimo amigo, mas ele só é bom porque vocês o ensinaram a ser assim, você e Hermione. Eu não tive quem fizesse isso por mim, até que Gina o fez. Gina, você e Hermione... foram os primeiros a acreditar em mim.

Harry ouviu Draco, olhou para o garoto como se agradecesse, mas não conseguiu dizer nada mais. Chorava e chorava. Olhou para Rony e viu que o amigo encarava Draco, logo desviando o olhar para Harry. Ele também tinha lágrimas nos olhos.

- Harry... Eu não... – Rony fechou os olhos como se meditasse e uma lágrima correu por seu rosto.

- Rony, você é o melhor amigo que alguém pode ter na vida. – Harry ainda chorava.

– Eu não podia ter feito aquilo com você, mas como Draco falou, Vol... – Harry parou de falar ao lembrar do que Draco o havia dito sobre monitorar quem fala o nome de Voldermort – Você-sabe-quem sabe que você é meu melhor amigo e sabe que sem você eu não sou ninguém, só sou o garoto que sobreviveu e se manteve vivo até hoje por sorte. Pelo amor de Merlin... Me perdoa, Rony! Me perdoa! ME PERDOA!

Rony não disse nada. Ao invés disso, partiu ao encontro de Harry e o abraçou com força. Começou a chorar também. Os dois amigos choravam feito criança. Sirius e Daniel se emocionaram ao ver a cena, ao passo que Draco estava tentando não chorar. Demoraram no abraço. Aquele abraço falou mais que qualquer palavra que pudessem dizer. Draco abaixou a cabeça e caminhou até Sirius e Daniel.

- Eu sabia que eles se entenderiam – Draco tinha lágrimas nos olhos – Rony e Harry são amigos de verdade. Eu não tive sorte de ter um amigo assim... Minha vida sempre foi de aparências, ninguém se aproximou de mim por quem eu sou, mas pelo que aparento ser...

Uma lágrima rolou pelo rosto pálido de Draco. Sirius abriu os braços para acolher o menino em um abraço. Draco sorriu e o abraçou fraternalmente.

- Agora sua vida está sendo renovada, Draco. – Sirius sorriu para o menino – Todos temos direito a uma segunda chance na vida. Eu tive, Harry e você estão tendo... Todos podemos mudar.

Draco chorava discretamente. Daniel fez o mesmo gesto de Sirius para o menino, o abraçando com carinho de um amigo. Enquanto isso, Harry e Rony se despediam na porta, até que perceberam que Rony havia saído. Harry voltava com os olhos inchados e secando as lágrimas, mas tinha um sorriso brilhante. Olhou para os três em sua frente, mas foi a Draco quem abraçou.

- Obrigado! Obrigado! – Harry apertava Draco. O menino começou a chorar novamente.

- Mas, está me agradecendo por quê? – Draco estava sorrindo, embora chorasse.

- Porque Rony acreditou em suas palavras! Porque você me defendeu! – Harry fitou Draco com um sorriso amigo no rosto – Draco, eu queria agradecer porque você se importa comigo!

- Não foi nada, Harry – Draco enxugou as lágrimas – Você é alguém que vale a pena!

- Você também é Draco. Pode ter certeza!

Harry sorria como nunca.Estava tão feliz que não cabia em si. Esperava a noite chegar para ver novamente Rony, e também Hermione e Gina...

Gina...

Harry parou para pensar em Gina. Ela foi a primeira a perceber que Draco poderia ser alguém especial. Já não estava com ciúmes dela com Draco, sua simpatia pelo garoto era maior que os ciúmes que sentia pela ex-namorada. Harry sabia que Gina tinha personalidade forte, e se estava com Draco, era porque queria. Chegou a pensar que era melhor assim, desejou intimamente que fossem felizes. Talvez, Gina não fosse a mulher da vida de Harry. Algo o dizia que ainda conheceria a garota especial que o faria esquecer dela.

Durante todo o decorrer do dia, Harry se viu tão afobado pela noite, que as horas pareciam se arrastar. Ajudou Sirius com a limpeza, monitorou o preparo do jantar por Monstro, Fez a decoração da sala com Daniel e Draco (os rapazes já estavam tão íntimos de Daniel que o chamavam de Dan) e ainda escolheu músicas para tocar. Aquele aniversário tinha que ser o mais perfeito de sua vida, para traduzir tudo o que Harry sentia. Ele sentia que a vida lhe dava uma segunda chance para ser de fato feliz

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