Férias frustradas



Chovia muito naquela noite, enquanto Harry andava irritantemente de um lado para outro, visivelmente incomodado. Ele havia percorrido todos os cômodos da antiga mansão dos Black, como se estivesse procurando o motivo de sua irritação para que pudesse acabar com ele e voltar a sorrir.

- você vai parar sozinho, ou eu terei o trabalho de sacar minha varinha, apontar pra você e conjurar o Incarcerous, heim?

Harry levou um susto ao ouvir a voz do padrinho. Não havia percebido que ele o acompanhara desde a cozinha até a sala. Pelos cálculos de Harry, era a terceira vez que fazia esse mesmo trajeto em menos de uma hora.

- não se dê ao trabalho, Sirius, se for sacar a varinha, por favor, me mate - disse Harry secamente, se jogando em uma poltrona.
- Nossa, adoro seu senso de humor! Com quem você aprendeu a ser assim? Ah, não fala, eu sei! – Sirius ria ironicamente – Sevinho tem dado aulas particulares de como ser o rabugento do ano! Ele é ótimo nisso, eu tenho que admitir.

Harry fitava o padrinho por cima dos óculos, desacreditando no que ouvia. Deu um longo suspiro e revirou os olhos, olhando diretamente para a janela, vendo que o tempo não estava melhor que seu humor.

-Desculpa Sirius, estou péssimo hoje...
- ... Hoje, ontem, anteontem e nas últimas duas semanas. – completou Sirius, com um gesto imitando quem conta nos dedos.
- que seja... Estou me sentindo um trasgo.
- Continue assim, está no caminho certo! –Sirius deu uma piscadinha para o lado de Harry, que imediatamente voltou a olhar para o padrinho, incrédulo. – mais uma semana nessa fossa e sem lavar o cabelo te confundirão com Severo Snape na rua!

Harry deu um gemido de impaciência ao ouvir o padrinho. Talvez, se não estivesse tão irritado, poderia ter achado graça do que ele falava, mas agora, contava até dez para não puxar a varinha e estuporar Sirius. Preferiu, para o bem-estar da nação, mudar o rumo da conversa.

- Já percebeu que não recebemos nenhuma coruja desde que as aulas acabaram? – Harry voltou a olhar para janela, como se esperasse que, só para contrariá-lo, surgisse uma coruja do além e entrasse sala adentro.
- É mesmo, eu percebi.
- Aí está... –Harry balançava a cabeça positivamente, sem tirar os olhos da janela, quase implorando para que uma coruja se materializasse do nada.
- Aí está o que?
- O meu problema...
- Onde? Cadê? – Sirius levantou da poltrona onde estivera sentado, gesticulando como se procurasse por algo.
- Será que você não vê? –Harry passou a olhar para o padrinho, tendo um pensamento involuntário e maldoso de interná-lo como louco no St. Mungus dentro de alguns anos. Sentiu uma leve pontada de piedade, mas anotou mentalmente a sugestão.
- Não vejo, acredita? Será que tenho que usar óculos também? –Sirius mirava Harry com uma cara ensaiada de admiração – eu sempre soube que mais cedo ou mais tarde a praga do Tiago ia pegar em mim... Pra que eu fui zoar os óculos dele? – Harry cerrou os dentes de raiva ao olhar para o padrinho, que agora balançava a cabeça negativamente, com cara de lamento.
- SERÁ QUE VOCÊ PODE PARAR COM A IRONIA? – Harry gritou ao mesmo tempo em que sua cicatriz o incomodou.
- E será que você pode parar de ser o rei das dores? – retrucou Sirius calmamente.
- Eu não sou o rei das dores, só sou uma cara com uma vida que não faz sentido! – os olhos de Harry se encheram de lágrimas.

Sirius se ajeitou na poltrona, de modo que ficasse mais próximo de Harry. Seu olhar de ironia foi lentamente se transformando num olhar de preocupação. Fitava Harry como se nunca antes o tivesse visto. Desde que Harry havia se mudado para o Largo Grimmauld, havia quatro anos, não se lembrava de vê-lo tão chateado e entediado antes. As férias geralmente eram dias de muita bagunça no Largo Grimmauld, e Sirius notou que Harry falava de seus amigos, desde o final do ano letivo, há 15 dias, não se correspondiam ou davam as caras.

- Olha, Harry, eu sei que você está chateado, mas a solução dos seus problemas não vai entrar voando por aquela janela se você não aprender a perdoar e deixar de ser orgulhoso.
- Aprender a perdoar? – Agora o tom irônico vinha de Harry, olhando Sirius com um sorrisinho amargurado – Eu não errei Sirius! Rony mereceu! E tem mais: Hermione... Está do lado dele! E a Gina... Ela foi o pivô de tudo isso! Por culpa dela, meus amigos se afastaram de mim!

O sexto ano em Hogwarts foi o pior de toda vida acadêmica de Harry. Não só pelo fato de ter que continuar aturando Snape com as aulas de oclumência, ou pelo fato de Dumbledore insistir na busca das Horcruxes. Harry sentia que perdera, de uma só vez, seus dois melhores amigos e sua namorada. Sentia um vazio tão grande, que poderia jurar que havia um dementador atrás do móvel antigo que ornamentava a sala, o qual Tonks sempre esbarrava ao entrar pela entrada principal.

- Até onde eu sei Rony só defendeu a irmã dele e Hermione, provavelmente por ser justa, entendeu isso, diferente de você. E quanto a Gina, vejo que você nem tentou entender os motivos dela, talvez com uma conversa tudo melhorasse.

- Sirius, você não sabe de nada! Portanto, não se meta!

Harry levantou com tanta ignorância da poltrona, que a moveu uns 10 cm de sua posição original. Sirius o viu sumindo corredor a fora, sendo seguido por um barulho ensurdecedor de porta batendo.

Entrando no quarto, se jogou na cama, com a testa latejando de tanto ódio. Sentia sua pele quente, desejou morrer naquele instante. Não resistindo a toda essa raiva, chorou. Soluçando, pegou sob sua cabeceira uma foto, na qual via seus pais, sorrindo e dançando, livres e despreocupados.

- Por que não deixaram ele me matar de uma vez? Vocês eram melhores do que eu! – murmurava entre soluços e lágrimas.

Esticou a mão novamente e alcançou outra foto, na qual a letra inconfundível de Hermione descrevia em sua parte posterior “Armada de Dumbledore: somos gratos por tudo o que você nos ensinou, Harry, na certeza de que aprendemos com o melhor!” Virou a foto para observar os rostos conhecidos, e deslizando o olhar viu Fred e Jorge fazendo caretas para Padma e Parvarti, que abafavam risinhos, ao lado de Lilá, que certamente cochichava com elas sobre Rony; viu Luna sorrindo docemente, ao lado de Neville, notavelmente desconcertado; Viu Cho, linda como sempre e sentiu uma ponta de orgulho de si mesmo por já ter a namorado; viu Simas, Dino e outros tantos estudantes da Grifinória. Corvinal e Lufa-lufa acenando felizes; mas, Harry parou mesmo os olhos nas pessoas que estavam no centro da foto: Via Rony sorrindo espontaneamente ao lado de Hermione, que balançava feliz o cabelo e...

Engasgou quando parou seus olhos sobre sua própria imagem na versão feliz, abraçado com Gina, que sorria lindamente, seus cabelos ruivos emolduravam seu rosto perfeito e caiam graciosos por suas costas. Por um momento, Harry abriu um pequeno sorriso, Gina era como um patrono em meio à escuridão que dissipava as trevas de seus pensamentos mais dolorosos. O sorriso de Harry se desfez ao ouvir baterem na porta. Sem qualquer vontade, falou fracamente enxugando as lágrimas:

- Que foi Sirius? A porta está aberta, e se não estiver... Você é bruxo e sabe como abrir.

A porta se abriu lentamente, mas ao invés do rosto magro de Sirius, Harry viu um rosto redondo e corado, emoldurado por armados cachos ruivos.

- Querido! – bradou Molly ao ver Harry se endireitando ao perceber que não era Sirius a porta – Como está? Estava com saudades, você não apareceu n’A Toca depois do término das aulas!

-S-Sra. Weasley, q-que surpresa... - Harry gaguejou e sentiu-se um idiota em sua tentativa frustrada de parecer bem e feliz com a visita.
Molly olhava Harry com aquela cara de compaixão que ele odiava. Se havia uma coisa no mundo que ele odiava mais que a Voldermort, era que sentissem pena dele. E a Sra. Weasley conseguia irritá-lo com toda sua super proteção, como se ele fosse perpetuamente condenado a ser digno de pena.

- Harry, Rony me contou que brigaram, Gina me contou que vocês terminaram e Hermione não me contou nada, mas está chorando há quinze dias sem parar. Qual o problema de vocês?

Ele engoliu seco, não tinha palavras para explicar a situação. Era constrangedor falar de certas coisas com a Sra. Weasley. Ao mencionar que diria algo, Harry foi interrompido por uma terceira voz vinda do corredor.

- Eu posso lhe explicar, se o Potter não pode.

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