Quase em Flagrante



Por Enquanto e Para Sempre




Capítulo Três – Quase em Flagrante


Seguiram-se os dias no Largo Grimmauld. Como Quim lhe dissera, o estresse do Ministério sempre podia ser aliviado na Ordem da Fênix. Era bem verdade que muitas vezes passava o dia todo limpando a velha mansão, sendo insultada por quadros e elfos domésticos, mas não tinha a menor vontade de sair dali uma vez que entrava. Bem diferente do que acontecia em seu expediente como auror.



Sirius já lhe dissera que ela não devia conhecer mais da metade de todos que compunham a Ordem da Fênix, mas ela não chegara a levar tão a sério. Andava um pouco aborrecida com Dumbledore, ainda por temer que ele achasse que ela era desqualificada para alguma missão mais perigosa. Não se atrevia a dizer isso a ele, mas mesmo que resolvesse fazê-lo, Tonks não estava certa se encontraria alguma oportunidade. O diretor de Hogwarts passava rapidamente pela Mansão Black, e apenas conversava com Sirius e Remus. Às vezes Minerva McGonagall também vinha; Tonks se lembrava de ter tido aula com ele em seus tempos de Hogwarts.



Alguém que muito a surpreendera ao aparecer em pessoa no Largo Grimmauld foi o prof. Severus Snape, com quem tivera aula também. Não esperara que ele fosse se associar a Dumbledore contra Você-Sabe-Quem. Sinceramente, sempre esteve quase certa de que ele era um Comensal da Morte. Poucos dias depois de entrar na Ordem, quando viu-o pela primeira vez, não resistiu a comentar o assunto com Remus, Sirius e Héstia.



-Você não sabe? – Sirius replicou, intrigado, frente ao comentário da prima. – Ele foi mesmo um Comensal. Nos tempos em que Você-Sabe-Quem ainda não havia pegado o Tiago e a Lílian.



Tonks abriu bem os olhos (naquela ocasião cinzentos), surpresa.



-Mas como... Então, o que ele... Por que Dumbledore o aceitou na Ordem?



-Pelo mesmo motivo que todos nós – respondeu Héstia. – Ele confia em Snape.



-Então a única pergunta que resta é por que alguém confiaria no Ranhoso. – sibilou Sirius, venenoso.



-Isso ninguém sabe – acrescentou Remus, em resposta ao olhar confuso de Tonks. – eu já disse a vocês, Dumbledore raramente expõe todas as razões do que faz.



Bem, aquilo não satisfazia muito a curiosidade da metamorfomaga; tampouco a impulsionava a também confiar no mestre de Poções de Hogwarts. Ele também nunca parecera considerá-la mais do que um tapete, seja quando seja aluna, seja agora que ambos estavam na Ordem. Ela, honestamente, pouco se importava.



Enquanto caminhava até a mansão, seu pensamento se fixou em pequenas imagens congeladas daquele dia em que falaram sobre Snape. Nada relacionado com o arrogante professor, e sim com o modo como Remus parecia preocupado.



Tonks passou algum tempo imaginando o que poderia ser. Os relatórios da maioria dos integrantes da Ordem eram animadores. O humor de Harry melhorara consideravelmente, apesar da audiência disciplinar a caminho. Seria a audiência o que preocupava Remus? Dificilmente, pensou ela. Se o garoto fosse expulso de Hogwarts, estaria até mais protegido na Mansão Black. E ela percebera como Sirius no fundo adoraria que o afilhado fosse condenado; Tonks até o compreendia. Devia ser horrível passar dias a fio fechado entre aquelas paredes, apenas com um elfo doméstico bem mal humorado como companhia.



Supondo que Harry não fosse a preocupação de Remus, que mais seria? Ela percebera como o homem pouco partira em missões; tinha a sensação de que ele era uma espécie de líder da Ordem, em se tratando dos que não entravam em Hogwarts. Nas reuniões, ele era o primeiro a ser procurado por quem chegava de suas missões.



Chegou ao Largo Grimmauld e Molly Weasley a recebeu carinhosamente, apesar de Tonks ter percebido como ela se apressava para tirar qualquer coisa do caminho onde Tonks pudesse tropeçar. A Sra. Weasley não tinha culpa; apenas estava sendo realista, e evitava acordar novamente o quadro da Sra. Black.



-Quais as novidades, Molly? – perguntou ela, tropeçando num tapete e disfarçando imediatamente.



-Oh, querida, creio que nada muito especial – respondeu a mulher, sendo seguida por Tonks até a sala de estar. – A reunião de ontem foi bastante completa, não acha?



Tonks achou melhor não comentar nada sobre as reuniões da Ordem em plena sala de estar; tivera a impressão de ter visto alguma cabeça ruiva espiando por trás da porta, apesar de não saber dizer o nome de seu dono.



-Hum-hum. – murmurou em resposta. – E os outros? Remus, Sirius...



-Bem, Sirius está com o Bicuço lá em cima... Mesmo agora acho que ele não perdeu o costume de conversar com aquele hipogrifo. Remus eu já não sei; saiu logo cedo, parecia um pouco apressado.



A Sra. Weasley se sentou e apontou a varinha para um tricô jogado sobre a lareira, que começou a se fazer sozinho.



-Oh, querida – disse ela, lembrando-se de alguma coisa. – poderia me fazer um favor? Vá até a cozinha e pegue uma caixa de novelos de lã, estão bem no alto do armário. Coloquei lá para que Kreacher não possa pegá-los; na realidade eu e Héstia encontramos a lã no quarto da mãe de Sirius. Acho que compreende.



Tonks assentiu e tomou o caminho da cozinha, esforçando-se para não tropeçar em nada. Em compensação, acabou derrubando um vaso antigo. O barulho assustou-a e ela ficou morrendo de vergonha por um tempo, olhando em volta, até se lembrar finalmente de usar um feitiço para consertar a peça. Só então chegou à cozinha.



Esticou o braço, ficou na ponta dos pés mas não conseguia alcançar o topo do armário; olhou para o lado e pegou um banquinho, subiu em cima e ainda não alcançava. Se fosse uns dois centímetros mais alta...



-Apenas trouxas precisam de malabarismos para pegar alguma coisa. – ela ouviu uma voz fria e desdenhosa do batente da porta, que a assustou.



Tonks caiu do banquinho e se apoiou na mesa, e Snape não se mexeu.



-Por Merlin! Não me assuste assim!



Snape não se incomodou e passou reto pela cozinha, indo parar nos cômodos seguintes. Tonks esperou que ele saísse para sacar a varinha e convocar a caixa. Mas esta voou com tanta força na sua direção, que a mulher foi pega de surpresa e derrubou cerca de quatro novelos no chão.



Abaixou-se para pegá-los, quando Snape voltou.



-Onde está Lupin?



Tonks ergueu-se com um novelo vermelho na mão, o rosto da mesma cor da lã.



-Molly não disse?



Ele parecia irritado com ela. Como se Tonks fosse alguma espécie de retardada.



-Não. – a voz sarcástica.



-Bem, ele saiu cedinho. – Tonks disse, dando as costas para ele. – Agora, se tivesse um pouco de educação, poderia ter perguntado a ela e evitado todo esse passeio pela casa.



A crítica não foi capaz de irritá-lo mais.



-Suponho que o modo como me comporto não tenha grandes interesses para você, Srta. Tonks.



Ela virou os olhos sem que ele percebesse. Afinal de contas, ele não era mais seu professor. Não tinha que falar com ele como se o temesse.



Força do hábito.



-Continua o mesmo arrogante, Prof. Snape – ela disse, tropeçando no nome e querendo chamá-lo pelo apelido que Sirius costumava usar. – Será que não pode ser educado com ninguém?



-Isso não é da sua conta. – foi tudo que ele respondeu. – Avise a Lupin que tenho um relatório a entregar para ele.



E saiu.



- “Avise a Lupin” – Tonks murmurou consigo mesma, erguendo finalmente a caixa. – Como se ele mandasse em mim. Não sei como Dumbledore o suporta...







~~~~



Pela terceira vez aquela semana, Tonks tropeçou na escada e a mãe de Sirius recomeçou a gritar a plenos pulmões.



-Ralé imunda! Sangues ruins filhos da imundície que sujam a casa de meus antepassados! – e olhando para Tonks, alucinada. – VOCÊÊÊÊ! Bastarda inferior escória da raça humana! Tenho vergonha que tenha o meu sangue misturado nessa lama toda!!



-Ah, que droga... – Tonks xingou baixinho, puxando as cortinas com as mãos enquanto a mulher na pintura quase arrebentava seus tímpanos.



-Vejam o que fizeram com a linda casa onde vivi... Suja e habitada por mestiços e seres inferiores!!



-Mas que coisa, qual será o problema dos mestiços? – Tonks gritou, descontrolada, puxando sem êxito as cortinas.



Foi quando Sirius chegou, presenciando a cena toda. Sacou a varinha e puxou as cortinas numa tranqüilidade que Tonks ficou envergonhada. Por que não pensara naquilo?



-Porcaria – reclamou ela para o primo. – Sempre me esqueço...



-Deixa pra lá – disse Sirius rindo. – Ei Tonks, posso perguntar uma coi... Esquece.



Ela se virou para procurar o que o interrompera e viu Hermione e Gina descendo as escadas. Disfarçou com um sorriso.



-Se estão indo procurar alguma coisa pra comer – adiantou ela. – Acho que não tem nada pronto lá. Posso ir com vocês, se quiserem – acrescentou, seu tom repentinamente mais alegre.



Elas assentiram e Tonks foi com elas, sem que Sirius fizesse alguma objeção.



-Então – disse ela, tentando começar algum assunto depois de quase derrubar um armário antigo pelo caminho. – O Harry está muito preocupado com a audiência disciplinar dele?



-Bem, digamos que talvez ele fique, assim que acabar de vingar de nós – respondeu Hermione, com ironia. – Ele ainda está muito chateado com Rony e eu por não termos dito nada a ele.



-Mas vocês não me disseram que Dumbledore os proibiu...?



-Sim, nós também dissemos isso a ele – continuou Hermione, enquanto Tonks começava a revirar nos armarinhos algo para elas. – Mas não adiantou muita coisa. Sabe como é, aqueles Dursley são uns monstros, eu até entendo que ele esteja tão furioso de ninguém tê-lo avisado de nada.



-Você entende mesmo, Mione – disse Gina, virando os olhos. – Mas o Rony já está começando a ficar tão rabugento quanto Harry.



-Mas sabem, eu ouço falar muitas coisas dele – disse Tonks, incerta, tentando fazer alguns lanches com acenos de varinha. - E pelo que sei ele é mesmo um garoto formidável...



-Sim, ele é mesmo – apressou-se Hermione a concordar. – Mas acho que dessa vez foi demais pra ele, entende... Acho que ele pensa que não estamos nem aí pro que ele já fez até hoje e por isso fica nos lembrando o tempo todo.



Continuaram falando sobre Harry e sobre o que poderia acontecer na audiência pela qual teria que passar enquanto comiam os lanches que Tonks conseguiu preparar – depois, claro, de derrubar algumas gavetas e seus conteúdos inteiros no chão - , Gina percebeu um pedaço de papel no bolso frontal das vestes de Tonks.



-Ah, está falando disto? – disse ela, segurando o pequeno pedaço de pergaminho. – Relatórios que tenho que entregar a Remus... Alguns são de Quim e outros meus, de nossas... missões. Acho que não posso falar mais do que isso.



As duas baixaram a cabeça, perdendo a esperança de que Tonks deixasse escapar alguma informação sobre a Ordem.



-Mas Molly me disse ontem que talvez ele não aparecesse hoje... Disse que ele andou doente, outra vez. Não sei por quanto tempo vou conseguir carregar estes papéis sem transfigurá-los, queimá-los ou pulverizá-los por acidente, então seria mesmo bom que ele viesse. É sempre ele que passa essas coisas a Dumbledore quando ele não pode vir para as reuniões.



-Hã... Doente? – Gina disse, trocando olhares hesitantes com Hermione.



-É, foi o que me disseram – replicou a metamorfomaga, inocentemente. – Por quê?



-Bem, é estranho que ainda não tenham te contado – murmurou Hermione cautelosamente. – Mas acho que vai ficar sabendo, mais cedo ou mais tarde...



Tonks ia perguntar de uma vez o que ela estava insinuando, quando passos adentraram à cozinha com rapidez.



-Olá garotas – cumprimentou o próprio Remus em pessoa, tirando a capa e jogando-a sobre o encosto de uma cadeira.



Tonks teve a impressão de que as duas tomaram um susto enorme, mas resolveu não perguntar nada mais.



-Olá Remus – disse ela. – Molly me disse que você esteve mal...



Foi a vez dele parecer hesitar antes de responder, olhando com cautela nos olhos dela.



-Ah, sim, é verdade – disse ele. – Receio que ela tenha exagerado, foi só uma pequena indisposição... Mas preciso falar com você – ele se apressou a acrescentar – sobre a Ordem.



-Claro – balbuciou ela, com um olhar de relance para Gina e Hermione.



~~~~~~~~~~





-Diga – ela falou quando viu-se a sós com ele, no andar de cima.



Remus tomou fôlego para falar e ela teve a impressão de que ele não queria dizer nada sobre a Ordem. Encarou-o antes de pensar melhor no que estava fazendo. Por Deus, de onde saíra aquele pensamento? Subitamente se sentiu mais desajeitada que o normal, se é que isso era possível.



-Bem... – ele murmurou, passando a mão pela nuca. – Não sei se Dumbledore está certo em fazer isso, mas... Ele designou uma nova missão pra você.



-Por que ele estaria errado ao fazer isso? – Tonks retrucou, tentando não se ofender. – Que eu me lembre, tenho algumas habilidades úteis para a nossa causa.



-Por favor, não se ofenda – Remus de apressou a consertar, parecendo consternado. – É que se trata de fazer com que você se infiltre na Travessa do Tranco. Terá que se entrosar rapidamente com alguns Comensais. Ouvi alguns rumores com Snape sobre alguma festinha.



-E por que toda essa preocupação? – ela não estava entendendo muito bem. – O que pode haver de tão perigoso nisso?



Remus desviou os olhos dela, mudando a perna de apoio.



-Perdoe-me, Tonks – disse, por fim. – Eu andei pensando algumas besteiras. Claro que você saberá cumprir isso facilmente. Pode ir amanhã de manhã?



-Se quisesse eu iria agora mesmo – replicou ela, forçando um sorriso, mas ainda querendo entender o que se passava pela mente de Remus.







N/A – Me desculpem pelo pouco romance... Prometo que logo logo o clima vai esquentar...*cara maliciosa*

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