Erros



Por Enquanto e Para Sempre





Capítulo Sete - Erros




Tonks desejou por tudo no mundo ter uma Capa da Invisibilidade à mão naquele momento. Será que a Ordem sabia daquilo? E se houvesse uma reunião de Comensais da Morte ali e ninguém da Ordem estivesse sabendo? Afinal, ainda que estivesse nas mãos de Dumbledore, a segunda geração da Ordem ainda estava entrando em seu ritmo de trabalho. Com certeza havia falhas nos procedimentos. Mas a maior pergunta naquele momento era se aquilo que estava vendo era ou não uma dessas falhas.



A metamorfomaga franziu a testa. Era um atrevimento e tanto se reunir em pleno Beco Diagonal! Será que era outra daquelas "noites de diversão" sobre as quais Nott lhe falhara na última vez que estivera ali no Beco? Tonks olhou em volta, tentando divisar alguém da Ordem escondido nas sombras. Não, ela pensou, não era possível que alguém estivesse escondido ali.



Então isso significava que ela mesma teria que ir e verificar o que estava acontecendo? Não, talvez fosse melhor chamar alguém para que fosse com ela... Enquanto Tonks procurava o localizador mágico da Ordem, os três Comensais recomeçaram a andar. Não. Perderia muito tempo pedindo reforços... Tonks enfiou o localizador de volta nas vestes. Ela mesma iria dessa vez.



Deixou que os três tomassem distância, e depois começou a se esgueirar muito lentamente, sempre se protegendo atrás de placas de lojas e reentrâncias, para o caso de um dos homens resolver se virar e dar uma olhada na rua às suas costas. Enquanto fazia isso, mudou seu rosto e deixou-o masculino. Faria com que ela parecesse menos frágil, se fosse surpreendida. Diminuiu também o volume dos seios para um disfarce mais convincente. As vestes largas fariam o resto.



Os Comensais viraram uma esquina, e Tonks respirou um pouco, enquanto não podia ser vista. Foi quando ouviu sussurros. Podem ser milhões de coisas, pensou ela, trêmula de nervosismo, sentindo também o seu localizador lhe dar um beliscão nas costelas. A auror achava o método de chamar à atenção do mecanismo um pouco sádico, mas em situações como essa era melhor do que fazer ruídos. Tonks se encolheu e pegou o pequeno aparelho, parecido um rádio de bolso, com uma mão de borracha pendurada ao lado.



-Que droga - sussurrou ela para a maquininha. - Quem é?



Apertou um botão e ouviu apenas chiados em resposta. Interferência. Maldição, aquilo era a magia de Dumbledore! O que poderia interferir ali?



A resposta veio à mente de Tonks de imediato. Magia Negra interferia no poder de Dumbledore. O próprio diretor de Hogwarts alertara sobre aquilo na reunião onde entregara os localizadores. Sendo assim, na opinião dela, os aparelhinhos se tornavam quase inúteis, ora. Não seria justamente quando estivessem perto de grandes amontoados de Magia Negra que precisariam se comunicar?



Tonks tentou mais algumas vezes ouvir qualquer coisa que pudesse no rádio extensível - secretamente inspirado nas orelhas dos Gêmeos Weasley -, mas sem nenhum resultado, acabou desistindo e largou o objeto no bolso mais fundo de suas vestes, onde não pudesse alcançar nenhuma parte do corpo dela para beliscá-la.



Arrastou-se o mais silenciosamente que conseguiu até a esquina. Quando virou-se, sua boca se abriu de susto.



Havia ali um círculo de vultos altos e negros, de varinhas em punho e capuzes erguidos. Faíscas verdes subiam enquanto eles riam, e placas deixadas nas calçadas eram espatifadas por feitiços, e depois incendiadas. Um dos Comensais gritou algo que soou parecido com "morte aos Sangues Ruins", causando um arrepio que percorreu toda a espinha da auror.



De que adiantava estar ali? Tonks logo viu que era outra das festinhas de distração dos Comensais. Sua mão mergulhou nos bolsos das vestes, à caça de sua varinha. Se eles enfeitiçassem alguns dos donos das lojas, aqueles que moravam no mesmo prédio de seu comércio, ela não sabia como reagiria.



As risadas aumentaram. Havia objetos sem forma no meio da rua, queimando, como uma grande e macabra fogueira. Os Comensais riam e Tonks procurava a graça na situação. Ela, pelo menos, não estava achando nem um pouco engraçado.



Lançou olhares furtivos às janelas dos prédios que se amontoavam naquela rua, e teve a impressão de ter visto pessoas se esgueirando por trás das cortinas. Não é possível que Fudge negue a volta de Você-Sabe-Quem amanhã, pensou ela nervosa, não depois dessa performance pública.



Algum tempo depois, quando ela achou que já estava na hora deles pararem de se divertir, um dos vultos mais altos ergueu a varinha e escancarou as janelas de uma das casas. Tonks prendeu a respiração ao ver uma família inteira escondida atrás da cortina então rasgada, tremendo de medo.



A auror não ouvia o que eles diziam. Mas estavam se divertindo. Provavelmente aquela família descendia de trouxas, caso contrário estaria muito tranqüila e confortável em sua cama. Tonks não os conhecida, mas teve a impressão de prever o futuro imediato daquelas pessoas.



Os Comensais fizeram acenos com as varinhas e tiraram um homem e uma mulher flutuando da casa; duas crianças pequenas ficaram chorando no parapeito da janela. Quando o casal começou a ser revirado no ar, veio à memória de Tonks a noite da final da Copa Mundial de Quadribol. Ela estivera lá e não gostava nem de se lembrar.



O casal ficou enjoado e foi posto no chão, ainda sob o ruído das risadas que nunca cessavam. Lançaram a Cruciatus na mulher, enquanto outros continuavam rindo da aflição do homem, que tentava desesperadamente enfiar a mão nas roupas; Tonks imaginou que ele estivesse com a varinha ali. Mas um dos Comensais convocou-a e partiu-a no meio sem a menor dificuldade.



Definitivamente, se houvesse alguém da Ordem ali, esse alguém já teria agido! E como só havia ela por ali... Tonks engoliu em seco. Endireitou-se e virou a esquina, andando devagar, e sob as sombras, para tentar se aproximar sem ser percebida, para depois, quem sabe, nocautear os Comensais sem que eles soubessem de onde os feitiços estavam vindo.



O plano tinha tantas chances de dar certo quando realmente deu; depois dos três primeiros passos de sucesso, Tonks tropeçou e caiu depois de tentar segurar-se a uma porta. O barulho silenciou toda a rua. Tonks cobriu o rosto e rezou para que não a matassem muito lentamente.



Todos os vultos olhavam-na; a mulher, exausta, estava estirada no chão, enquanto o homem era mantido no ar apenas por uma varinha distraída. Tonks sentiu os olhares dos Comensais perfurarem-na, e perguntou-se quando tempo demoraria para que aquilo acontecesse de fato... Burra.



-Quem é você? - perguntou o Comensal mais próximo, que ela não conhecia. Com um aceno de varinha, o rosto masculinizado dela tornou-se visível a todos.



Tonks respirou depressa; num movimento rápido, ergueu a varinha:



-Estupefaça!



Ao menos um estava no chão, pensou ela enquanto erguia a cabeça. No instante seguinte dezenas de feitiços das Trevas de diferentes graus e cores estavam voando em sua direção. Que diferença faria quem era, afinal?



Girou a varinha e conjurou um escudo, saltando para o lado. Uma pedra veio rolando na direção dela, do tamanho de um pomo de ouro, e Tonks fechou a mão nela para atirá-la...



Quando sentiu um puxão no umbigo e reconheceu a situação. Uma Chave de Portal!, exclamou, enquanto fechava os olhos e tentava controlar a respiração. Mas de onde saiu isso??



No instante seguinte, abriu os olhos e viu-se na sua própria casa. Nada estava fazendo sentido! Tonks estava jogada em cima de sua cama, mas sabia que não tinha sonhado. A mesma pedra continuava inalterada em sua mão. Quem fizera aquilo? E como soubera quem ela era, para mandá-la pra casa? Mas ela podia jurar que não havia mais ninguém ali!



Tonks olhou-se no espelho brevemente e voltou suas feições ao normal, tirou a capa suja que usava e vestiu roupas limpas, na maior velocidade que conseguiu. Logo em seguida aparatou com o pouco restante das suas forças na frente da Mansão Black e tocou a campainha cinco vezes seguidas, esperando que alguém, nem que fosse a velha Sra. Black, notasse sua urgência. Tinha que mandar alguém para o Beco Diagonal imediatamente!



A porta se abriu com violência. Remus apareceu, com uma expressão muito irritada.



-Remus! - exclamou ela, desesperada. - Que bom ver você! Ande, precisamos mandar alguns da Ordem para o Beco Diagonal agora! Eu acabei de vir de lá, tem Comensais reunidos em plena rua! Estão torturando uma família, nem sei como consegui escapar e...



-Eu sei, Tonks. - cortou Remus, furioso.



Tonks entrou com cara de interrogação e Remus bateu a porta, respirando devagar e tentando recuperar a paciência.



-Do... do que você está falando? - ela perguntou, com medo de ouvir a resposta.



-E você ainda pergunta, Tonks? - Remus retorquiu, amargo. - EU estava lá, na MINHA missão, junto com Héstia e Emelina! E você...



-Eu estraguei tudo. - completou ela, baixando a cabeça e sentando-se numa das poltronas.



Remus era conhecido por sua calma, mas não conseguia se manter tranqüilo. Estava mesmo furioso com Tonks. Ela tinha estragado todo o plano.



-Era tudo uma armação, Tonks! - ele exclamou, jogando-se no sofá e pondo as mãos na cabeça. - O casal que os Comensais estavam torturando. Eles haviam combinado conosco em se deixar ver, pois nós estaríamos de tocaia ali! E você aparece, do nada, e conseguiu quase ser morta por causa de um tropeção! Héstia e Emelina me fizeram voltar para fazer você saber o que tinha acontecido! Aliás, foram elas quem fizeram a sua Chave de Portal. Nós tentamos te chamar de todas as maneiras. Quando o rádio não deu certo, até tentamos te chamar de onde estávamos, mas você simplesmente nos ignorou!



A mulher estava cada vez mais encolhida e mais envergonhada.



-Elas me mandaram aqui também para ver como você tinha ficado depois de um susto desse, mas estou vendo que saiu dali muito melhor do que eu! - ele exclamou, ainda se esforçando para não erguer muito a voz e não acordar outra vez em cinco minutos a mãe de Sirius. Em seguida, ergueu as mangas da capa e Tonks viu vários arranhões sangrando, sem falar de raspões no rosto que ela notara desde o princípio.



-Minha nossa... - ela conseguiu balbuciar, olhando cheia de pena para os ferimentos. - Venha até a cozinha, Remus, acho que Molly deixou lá algumas poções curativas que...



-Eu sei como cuidar desses ferimentos, muito obrigado. - ele deixou escapar, enterrando a cabeça nos braços.



-O que está acontecendo aqui? - era Sirius, que descera para saber o que diabos estava acontecendo no térreo para toda aquela barulheira.



Remus se levantou depois de respirar fundo pela vigésima vez.



-Lembra-se daquela tocaia no Beco sobre a qual eu te falei? Pois muito bem. Tonks apareceu e estragou tudo, quase morreu e eu tive que deixar Emelina e Héstia por lá consertando as coisas na medida do possível.



Sirius moveu os olhos lentamente até a imagem da prima, que fitava o chão, muito arrependida. Remus virou-se para sair.



-Onde você está indo, Aluado?



-À cozinha. - ele resmungou meramente, dando as costas para eles.



Sirius hesitou um pouco, vendo que Tonks estava à beira do choro, e sentou-se de frente para ela.



-Relaxe, Tonks. - murmurou ele, tentando injetar cautela na voz. - Ele nem está tão bravo assim.



-Ah, ele está - Tonks retorquiu. - E com toda a razão. Não sei o que deu em mim. Com algo tão escandaloso como aquilo, como poderia não haver ninguém de nós por lá? Eu sou mesmo uma burra.



-Não, você não é burra. - Sirius murmurou meio sem jeito. - Ele é assim mesmo. Sempre foi o responsável da turma... Logo tudo voltará ao normal.



Mas Tonks sabia que não era verdade. Eles não estavam em Hogwarts, estavam às portas de uma guerra contra Voldemort, na qual não podia haver falta alguma. Sirius não a entendia. Certo, ele não tinha culpa de ficar preso em casa, sem poder executar as estratégias ele mesmo, mas isso o impedia de compreender as dimensões do que acontecia lá fora, mesmo que Dumbledore aparecesse por lá, muito sério, para lembrá-lo de tudo. Às vezes seu primo simplesmente agia como uma criança. E ELE Remus trata como um adulto, pensou ela, frustrada.



A porta se abriu mais uma vez com barulho, sem campainha nem nenhum aviso. Tonks não precisou erguer a cabeça para saber quem era.



-Suponho que tenha vindo cortar a minha cabeça, prof. Dumbledore. - disse ela.



O velho olhou-a calmamente.



-Na verdade - disse ele, com um olhar rápido para Sirius. - Eu vim avisar que as coisas foram consertadas no Beco Diagonal. Emelina acabou de me relatar tudo. Quanto a você, Tonks, pela falta de Remus aqui suponho que já tenha escutado mais do que merece.



-Acertou em cheio. - replicou Sirius. - Ele estava gritando com ela como se Voldemort tivesse descoberto a sede da Ordem por culpa dela. Então eu desci e vim ver o que estava acontecendo.



-Certo. - Dumbledore estudou os dois primos por um momento. - Ele está na cozinha, suponho.



-Cuidando de alguns ferimentos. - explicou Tonks meramente, por dentro muito aliviada por não ter tido que ouvir outro sermão. Dessa forma ainda acabariam convencendo-a de que ela tinha dezesseis anos de novo.



O diretor saiu e deixou-os a sós novamente. Tonks jogou-se contra o encosto da poltrona num movimento largo.



-Tenho a sensação de que não foi só isso. - disse.



-Talvez. - respondeu Sirius, visivelmente pensando em alguma coisa para dizer a ela.



Ficaram em silêncio por um momento. Ela não conseguia parar de lembrar dos Comensais lançando feitiços na sua direção. Estivera muito surpresa por não ter sido pega por nenhum deles, mas agora já não tinha tanta certeza de que isso fosse mérito seu. Tudo que queria era dormir agora, esquecer das burradas que cometera, quando repentinamente a voz de Sirius quebrou o silêncio.



-Ei, Tonks.



Ela ergueu a cabeça.



-Você quer mesmo saber por que o Aluado te trata como um bebê? - perguntou ele.



-Sem dúvida - ela respondeu, endireitando-se.



-É coisa de Maroto. - ele replicou, com um sorriso vago. - Sempre costumamos proteger demais as garotas que gostamos.



Tonks prendeu a respiração. Era muito para um dia só.



-O que disse?



-Ah, priminha, você entendeu muito bem. - ele insistiu. - Remus está caído por sua causa. Muito me surpreende que você tenha conseguido ignorar isso até agora.



Na verdade, ela NÃO ignorara aquilo. Ela simplesmente tivera dúvidas. E mal tivera tempo ou oportunidade de falar disso abertamente com ele. Além do mais, fazia tanto tempo que não namorava que parecia até ter esquecido como se fazia. Tentou desviar.



-É só impressão minha ou ele vai te estraçalhar se souber que você disse isso pra mim? - ela ergueu uma sobrancelha.



-Não, não é só impressão sua. - Sirius riu. - Mas ele não precisa saber que tivemos essa conversinha, não é?



Tonks sorriu, assentindo de forma cúmplice.



-Ótimo - ele disse. - Isso me dá mais alguns anos de vida. Mas agora me diga uma coisa, o que você acha dele?



-Ah... eu... - Tonks foi ficando vermelha rapidamente. - Isso lá é pergunta que se faça, Sirius!!



-Tonks, vocês dois são adultos. Apesar das deliberações em contrário. Não há nada de errado em vocês passarem um tempinho juntos, se é que me entende. E como seu primo, não te entregaria pra nenhuma outra pessoa, você sabe.



-Não acredito que você está dando uma de casamenteiro, Sirius. Isso nunca fez o seu tipo - murmurou Tonks, bocejando.



-Eu sei, não se acostume. Mas agora acho que você devia dormir. - falou o outro. - Se o meu amigo voltar agora, acho que vocês terão que ajustar os ponteiros agora, e acho que você não está com energia suficiente.



-Seu pervertido! - exclamou ela, levantando-se e se esticando. - E quem disse que eu vou...



Não terminou a pergunta. O primo iria rir dela mais ainda.

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