Lobos e Cordeiros



Por Enquanto e Para Sempre





Capítulo Nove - Lobos e Cordeiros







No dia seguinte, Tonks seguiu satisfeita para a recepção do pequeno prédio onde ficava o apartamento e resolveu tudo o que tinha que resolver. Enfrentou alguns problemas, pois aquele era um condomínio trouxa, mas como o proprietário já tinha uma opinião formada sobre "a garota maluca que mora no segundo andar", ela não se deu ao trabalho de consertar nada em termos de comportamento.



Abriu a porta da Mansão Black sem esperar que a atendessem; a decisão repentinamente melhorara, e muito, o seu humor. Daquela vez, ela nem mesmo se importou quando a Sra. Black começou a gritar, escandalosa: apenas sacou a varinha e puxou as cortinas, numa tranqüilidade e segurança que não estava acostumava em ver em si mesma.



Sirius estava parado ali na entrada, olhando para ela e bocejando.



-Tonks, olá! - disse ele, esfregando o rosto. - O que está fazendo por aqui tão cedo? Acho que os outros só vêm depois do almoço...



-Eu sei, Sirius. - Tonks sorria largamente, erguendo a mala na mão esquerda para que o primo notasse as suas intenções. - Bem, eu vim pensando e... Você me convidou, não é, e por mais distante que eu possa ter sido daqui, eu sou uma Black também, não sou?



O olhar de Sirius se iluminou.



-Está dizendo que veio morar aqui? - perguntou, então muito alegre.



-É, estou - Tonks respondeu, insegura. - Quero dizer, se você não quiser mais, é claro que...



-Ei priminha! O que está esperando? Ande, venha, eu tenho o quarto perfeito pra você lá em cima!!



Subiram as escadas já bastante familiares para ela, entraram num corredor cheio de luz matinal, e Sirius abriu uma porta fazendo uma mesura enorme e alegre.



-Senhorita Nymphadora Tonks, seja bem vinda aos seus novos aposentos na mui antiga e nobre Mansão Black. - disse ele, imitando os trejeitos de Kreacher.



*-*-*-*-*-*-*-*-*



Apesar de continuar com toda a parte burocrática do serviço na Ordem, a alegria de Sirius em não ficar sozinho naquela mansão enorme era gritante. Molly sorriu ao saber da notícia e piscou de forma cúmplice para a metamorfomaga.



-Ei, Sirius me diga uma coisa... - ela murmurou, depois que os ânimos se acalmaram. - Onde Remus se meteu?



Tonks teve a ligeira impressão de que havia um complô entre os habitantes daquela casa, mas ao menos ela tinha perguntado exatamente o que Tonks queria saber, mas estava envergonhada demais de falar de Remus com tão pouco tempo na mansão. Poderia jurar que Sirius havia lançado um olhar malicioso para ela antes de responder.



-Ele vem para o jantar, Molly. Não teve tempo de me dizer exatamente o que ia fazer, mas se não for para vigiar a porta, com certeza é alguma daquelas missões dele de recrutar aliados mestiços e...



-Ora, por que só ele está fazendo os trabalhos com os meio-humanos? - Tonks perguntou, achando que aquela pergunta poderia estar menos relacionada com Remus do que realmente estava.



Sirius gaguejou por um momento e Molly respondeu rapidamente:



-Tonks querida, não é apenas Lupin que está nisso... Hagrid também foi tentar convencer os gigantes...



-Mas Hagrid é um meio humano. - ela replicou, pensativa. - Ele podia ter me colocado nisso também, não podia?



-Deixe isso pra lá, Tonks. Logo Dumbledore vai mandar algum serviço de campo pra você, se parar de reclamar disso o tempo todo. - disse Sirius. - Eu tinha certeza também que eu poderia servir para alguma coisa, ele não tem muitos animagos na Ordem mesmo...



-Não, apenas McGonagall e Tonks, que têm muito jeito com transformações. - Molly ironizou.



-Ah, a velha Minerva todos sabem reconhecer. Além do mais, a agilidade daquela gata velha pode ser questionada já, não acha?



A Sra. Weasley apenas rolou os olhos em réplica.



À tarde, outros membros da Ordem foram chegando e reportando suas missões e qualquer coisa que descobrissem no Ministério. Como ela era necessária o tempo todo na sede da Ordem, Arthur conseguira para ela uma pequena licença saúde, alegando que ela estava com febre cambojana, facilmente curável mas muito contagiosa. Em três dias ela estaria batendo cartão mais uma vez no quartel general dos aurores.



Tonks estava fazendo uma pena dançar salsa na mesa da Ordem, em plena sala de reuniões, guiando-a com a varinha. Em um ou dois momentos a pena se transformou em castanholas latinas, mas felizmente ela conseguira reverter a operação. Estava entretida com o passatempo, mas isso não a impediu de tomar um generoso susto quando a porta se abriu de repente.



Ela respirou fundo, recuperando-se e buscando controle. Porque ela precisaria mesmo de muito controle, se agora ela tinha um relatório de Severus Snape para ouvir.



-Pensei que passaria seus relatórios diretamente a Dumbledore, agora que ambos estão em Hogwarts - comentou ela, apressando-se em tirar o feitiço da pena.



-Não posso ser visto conversando com o diretor o tempo todo. - Snape respondeu, sentando-se sem a menor cerimônia.



Tonks tentou manter a concentração e memorizar tudo o que ele contou sobre suas últimas incursões entre os Comensais da Morte, sobre algumas referências a planos de abrir a porta e alertas para todos os funcionários do Ministério da Magia, pois talvez Voldemort resolvesse enfeitiçar um deles para fazer o serviço sujo. Ela fez as perguntas de praxe a qualquer um que passava-lhe seus relatórios, e como Snape era um membro da Ordem presente em Hogwarts, ela tinha a obrigação de perguntar:



-E sobre o Harry? Tudo está bem com ele na escola?



O lábio inferior de Snape se crispou numa coisa parecida com um sorriso irônico.



-Certamente. Digamos que está descobrindo um outro lado da fama.



Ela tentou refrear o comentário e mexer em suas anotações, mas acabou dizendo.



-Você não devia detestar tanto esse garoto só por causa do pai dele. Ele não tem culpa.



-Potter é exatamente igual ao pai. - Snape sibilou de volta. - E eu me pergunto em quê este assunto interessa a você.



-Eu apenas não acho que seja certo discriminar o Harry pelo modo como o pai dele te tratava. - intimamente, Tonks estava adorando poder dizer aquilo a Snape, mas teve que manter o rosto sério, como se aquele "desabafo" nada significasse. - E já que ninguém te diz isso, achei que seria melhor eu dizer, cara.



-Guarde seus comentários para si mesma. - Snape retorquiu, sem mudanças na expressão. - O modo como trato Potter é unicamente da minha conta. E quanto ao "cara", você pode guardar esse tipo de tratamento para seu querido amante.



Tonks ergueu as sobrancelhas tão alto quanto conseguiu, em surpresa.



-O que disse?



-Nada além do que ouviu. - Snape agora tinha um sorrisinho malicioso no rosto, levantando-se. - Mas como não estou aqui para fazer comentários sobre seu relacionamento com lobisomens, gostaria mesmo que não se intrometesse nas...



-Lobisomens? Mas de que droga de coisa você está falando, afinal? - Tonks cada vez entendia menos.



-Oh, não me diga que ele escondeu de você até agora... - Snape parecia se divertir cada vez mais com a situação. - Isso é realmente lamentável... Eu esperaria muito mais nobreza e coragem de Lupin, mas parece que ele dessa vez...



-Quer dizer as coisas com clareza, Snape? - Tonks só podia estar entendendo mal. Não era possível que ele estivesse simplesmente dizendo que...



-Seu amante, Lupin. - o professor sonserino esclareceu, com a diversão cruel expressa no olhar. - É um lobisomem. E um lobisomem corajoso, se ainda não contou a você sobre sua situação...



-EI! Snape, não seja ridículo! Remus, um lobisomem? EI! - exclamou ela uma segunda vez. - Ele não é meu amante! Nós apenas trabalhamos juntos! Na Ordem!



Snape não respondeu nada. Apenas a fitou, irônico e sarcástico. E, pensando melhor, aquilo era o máximo que ele podia fazer, pois Tonks estava prestes a pular no pescoço dele e esganá-lo até a morte, por brincar assim com ela. Não tinha a menor graça...



-Isso é ridículo... - ela não conseguia absorver a informação. - Simplesmente é impossível...



-Nota-se que você ainda não entendeu bem os mecanismos da Ordem da Fênix. - a voz de Snape pingava de sarcasmo. - Aqui existem Comensais da Morte e metamorfomagas. Por que não poderia haver um lobisomem também?



Ela costumava odiar quando era obrigada a admitir que Snape estava certo, mas seus argumentos eram irredutíveis. Ainda assim, ela não queria mesmo acreditar.



-Suponho que queira esclarecer isso com ele agora. - Tonks poderia jurar ter visto um risinho desdenhoso. - Mas terá que esperar. Eu soube que ele foi decidir alguns assuntos por culpa... das circunstâncias.



Tonks estreitou os olhos. Era sempre tão difícil entender o que aquele homem dizia. Mas ao mesmo tempo que tentava formular alguma resposta inteligente, a porta da sala de reuniões se abriu com estrépito.



Lupin estava ali, arfando e olhando assustado para Tonks.



-Opa - uma sobrancelha de Snape ergueu-se e subitamente ele levantou-se, fingindo estar ocupado. - Vou deixá-los com seus assuntos.



Foi até a saída, e antes de fechar a porta lançou a Remus um olhar quase deliciado; este, por sua vez, já sentia-se bastante pressionado por Tonks. Os dois se olharam longamente, então. Tonks tentava imaginar um lobo oculto em Remus e ele tentava prever a reação dela; talvez até tivesse conseguido, se no fim não estivesse perdido, admirando a beleza simples do rosto dela.



-Então... O Ranhoso te contou tudo.



Tonks queria mesmo ter respondido com seriedade, mas não agüentou e riu. Remus respirou aliviado em ver isso e tomou a liberdade de sentar-se.



-Ranhoso?



-Nós costumávamos chamá-lo assim nos tempos de Hogwarts, Tiago, Sirius, Peter e eu. - ele respondeu, com um brilho sonhador nos olhos.



-Os lendários Marotos. - citou Tonks. - Pontas, Almofadinhas, Aluado e Rabicho.



-É. - caíram em silêncio.



Remus não sabia como prosseguir. Tinha ainda que explicar a ela por que ainda não lhe contara...



-Bem, se não me engano você tinha me feito uma pergunta - bufou Tonks. - E a resposta é sim, ele me contou. E agora é a minha vez: eu queria mesmo saber por que eu tive que saber isso por ele.



Remus ficou em silêncio. Responder sinceramente implicaria numa outra conversa que ele vinha temendo á havia algum tempo. Mas, pensando bem, era um preço que ele precisaria pagar, sem falar que em seu íntimo queria saber como eram as coisas com ela...



Tonks o olhava interrogativamente. Remus sentiu um perfume, algo meio cítrico, invadir suas narinas. O aroma tinha tudo a ver com ela.



-Eu não quis que você soubesse que eu sou um monstro. - ele confessou. - Apenas porque literalmente eu sou uma droga de um lobo solitário que nunca...



-Remus - Tonks o olhava, contendo um sorriso. - Você achou mesmo que eu ligaria para isso? Que seria suficiente para me fazer afastar de você?



Ele não agüentava mais passar por adolescente, mas resolveu deixar isso de lado no momento.



-Quando chega a lua cheia, este detalhe se torna muito mais relevante - murmurou.



-Diga toda a verdade, Remus - Tonks mudou para a cadeira mais próxima e cobriu as mãos dele com as suas. - Não é só isso que você tem a me dizer...



Ele respirou devagar. Se havia algum momento para dizer aquilo, era agora.



-Droga. - acabou xingando. - Há tempo demais que eu não digo isso.



E aquele não era o único agravante para que ele travasse. Tonks estava tão perto, olhando tão fundo nos olhos dele, que Remus chegou a ter certeza de que ela já sabia. Ela se levantou e ficou parada, dizendo de costas para ele:



-E eu pensei que Sirius havia feito seus pequenos serviços de casamenteiro pra cima de você também...



-O que disse? - Remus replicou, atônito.



-Ele passou os últimos tempos tentando me convencer do quanto eu gosto de você e você de mim... - ela revirou os olhos. - Falando comigo e dizendo que, como meu primo, não me entregaria a mais ninguém que não fosse você - concluiu, em tom falso de piada.



Mas Lupin sabia que ela não estava brincando, e tampouco que fazia mal gosto das idéias de Sirius. Ele mesmo, Remus J. Lupin, não sabia o que estava ainda fazendo ali parado.



Apenas faça.



Levantou-se subitamente, eliminou toda a distância entre ele e Tonks.



-O que ainda estamos fazendo tão distantes? - disse, tomado por um impulso.



Antes que ela se virasse, ele já passara o braço por sua cintura e virou-a de frente. Tonks viu um rápido vislumbre dos olhos de Remus antes que se beijassem. Antes que ele a envolvesse com os braços. Antes que ela sentisse que agora conhecia quem estava com ela. Antes que mandasse Snape e Sirius se danarem. Afinal, ela queria mesmo aquele homem que estava beijando-a. O que mais poderia ser importante?



Remus sentiu-se voltando no tempo ao sentir os lábios de Tonks, a boca de Tonks, todo o corpo de Tonks encostando-se a ele. Ela era, simplesmente... perfeita.



*-*-*-*-*



N/A - quero agradecer aos reviews, antes de mais nada. São todos fantásticos. Ei, é sério que o Remus e a Tonks estão... "estranhos"? Isso me preocupou. Mas, de qualquer forma, vou tentar melhorar. Talvez se eu parar de correr com um capítulo por semana, eu possa aumentar a qualidade do texto. Desculpem qualquer coisa, ok? E me digam o que acharam...



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