O seu sorriso



O cérebro de Gina parou de funcionar por alguns segundos. Ela ficou ali, paralisada, apenas encarando Harry, que ainda a olhava com desconfiança. A chuva parecia cair cada vez mais forte, mas Gina não se importava.

Harry tinha perdido a memória. Isso ecoava na cabeça de Gina sem parar. Era inacreditável, mas estava acontecendo...

Finalmente, o cérebro da garota começou a funcionar novamente. É claro, o ferimento dele na testa... Deveria ter batido a cabeça, ou algo parecido. Mas será que ele não se lembrava de nada mesmo?

- Qual é o seu nome? - Gina perguntou lentamente, ainda um pouco entorpecida pelo baque que teve.

Harry abriu a boca, mas parou e não disse nada. Ele piscou, olhou para os lados, franziu as sobrancelhas e voltou a encarar Gina, com uma expressão confusa.

- Eu... eu não sei.

"Ai, meu Deus... Quem sabe se eu perguntar outra coisa?"

- Qual o nome da sua escola? - Harry respirou fundo, abaixou os olhos e não disse nada. Gina insistiu. - Como se chama seu bichinho de estimação? Qual o número do seu sapato? Ah, responde alguma coisa! - ela pediu com nervosismo.

- Eu não sei! - ele gritou e depois levou as mãos à cabeça. - Você tá me confundindo... Minha cabeça tá doendo muito...

Gina percebeu que estava sendo grossa. Aproximou-se mais um pouco dele, que não a viu por estar com a cabeça abaixada pela dor e acabou não se afastando dessa vez.

- Desculpe... - ela murmurou. - Deixa eu te ajudar.

Ela levou uma das mãos até a cabeça dele e, dessa vez, ele não gritou ou teve algum ataque histérico. Para falar a verdade, ele parecia muito atordoado naquele momento para dizer alguma coisa. Gina passou os dedos pela testa do rapaz e viu que ela estava sangrando muito. Precisava cuidar daquilo, mas também não sabia se era seguro tentar voltar para Hogwarts, onde Madame Pomfrey poderia cuidar melhor dele. Talvez fosse melhor encontrar um lugar para se abrigarem enquanto esperavam.

Gina se levantou, e Harry olhou para ela intrigado. A garota estendeu a mão, dizendo:

- Vem comigo. A gente precisa achar um lugar para se esconder dessa chuva. - Ele ponderou por alguns instantes, olhando para a mão dela. - Confia em mim, por favor. Eu quero te ajudar; não vou te machucar, prometo.

Ainda um pouco hesitante, ele aceitou a mão dela, e Gina o ajudou a se levantar. Harry cambaleou um pouco e levou novamente a mão à cabeça, parecia um pouco tonto. Gina apoiou o braço dele no seu ombro e o ajudou a caminhar.

Eles andaram em silêncio, lentamente, por entre as árvores esparsas. A terra estava tão molhada que seus pés afundavam nela com facilidade. Gina estava cada vez mais preocupada. Harry não estava nada bem; ele caminhava com dificuldade, e seus olhos pareciam fora de foco. Várias vezes, os dois tiveram que fazer pequenas pausas porque ele estava tonto.

Depois de muitos minutos, eles encontraram uma pequena caverna escondida na mata. Gina nunca tinha ido até ali e quase perguntou a Harry se ele sabia onde estavam, mas depois se lembrou que, se ele não sabia o próprio nome, também não teria a mínima idéia se ali era seguro ou não. Por precaução, ela resolveu sacar a varinha e colocá-la em punho, em caso de necessidade. Harry olhou com curiosidade para a varinha, mas parecia muito mal para dizer alguma coisa.

- Lumus! - Gina exclamou assim que entraram na caverna.

O lugar era bem pequeno, mas dava para se abrigarem mesmo assim, Gina observou. Havia várias pedras nos cantos da caverna, o que diminuía o espaço consideravelmente. Pequenas estalactites pendiam do teto, e as sombras que elas projetavam ao serem iluminadas pela luz da varinha de Gina davam um aspecto levemente sombrio ao local.

- Que lugar é esse? - Harry perguntou lentamente. Gina se surpreendeu ao ouvi-lo; ele não tinha dito nada o caminho todo.

- Na verdade eu não sei. Mas acho que será melhor ficarmos aqui para nos esconder, digo, nos abrigarmos da chuva.

Ele apenas deu um murmúrio de assentimento; parecia atordoado demais para discordar de algo. Gina o ajudou a se sentar encostado numa pedra, e Harry fechou seus olhos, segurando a cabeça com uma das mãos.

- Seria melhor acendermos uma fogueira. - Gina comentou, mais para si mesma do que para Harry. Pelo menos a caverna ficaria iluminada e mais aquecida também. - Se ao menos tivéssemos alguns troncos de árvore... - ela lamentou, olhando ao redor e verificando que não havia nada que pudesse ajudá-la.

Harry abriu um olho e observou algo que estava aos seus pés.

- Isso serve? - ele perguntou baixinho, enquanto apontava um monte de folhas secas aos seus pés. Gina arregalou os olhos.

- Ajuda bastante.

A garota se adiantou até o lugar, onde começou a catar as folhas. Harry tentou ajudá-la, mas ela não deixou e mandou que ele se encostasse à pedra, pois não estava em condições. Gina juntou as folhas em um pequeno monte, apontou sua varinha e exclamou:

- Incendio!
Um jato de luz avermelhada atingiu as folhas, que imediatamente começaram a queimarem sozinhas, formando uma chama razoável, que os aqueceria por algum tempo. Harry estava de queixo caído, olhando abobado para a varinha de Gina.

- Como você fez isso?

Gina pensou por alguns instantes antes de responder. Então Harry tinha esquecido até o que era magia?

- Anh... Isso não importa... - ela falou rapidamente, adiantando-se e ajoelhando-se de frente a ele. - Eu preciso cuidar de você, agora.

- O que era aquela luz que saiu do graveto? - Harry perguntou, apontando para a varinha na mão de Gina. Parecia que sua curiosidade era maior que sua dor.

- Não é um graveto. - ela explicou, procurando entre as vestes um lenço que sempre carregava consigo. - Chama-se "varinha".

- Varinha? Mas isso não é coisa de bruxos?

- Será que você pode ficar quieto por um minuto? - Gina perguntou, levemente irritada. Aquelas perguntas dele estavam lhe enervando; era muito esquisito explicar o que era uma varinha para Harry Potter. - Eu vou cuidar de você agora, depois a gente conversa, tá?

Ele a olhou um pouco magoado. Gina lembrou, um pouco tarde demais, que ele não tinha culpa de não saber o que era uma bendita varinha. Talvez ela também o enchesse de perguntas se a situação estivesse invertida.

- Eu te explico tudo depois, prometo. - ela falou, um pouco mais delicada. - Mas agora eu preciso cuidar do seu ferimento, ok?

Ele assentiu sem dizer nada. Gina suspirou e finalmente encontrou seu lenço. Umedeceu-o com um pouco de água que tirou da varinha, o que fez Harry a olhar com curiosidade novamente, mesmo que não tenha dito mais nada. Depois de preparar o lenço, ela começou a limpar o ferimento dele. Havia muito sangue e, apesar de aparentar ter perdido a memória, Gina ficou aliviada de que não tivesse acontecido nada mais grave com Harry do que aquilo. Com um ferimento daqueles, a situação poderia ser bem pior.

- Ai! Isso dói! - Harry exclamou, assim que Gina começou a mexer no ferimento. Ele afastou a mão dela levemente, impedindo que continuasse.

- Só vai doer um pouco... - ela disse aflita; estava com medo de machucá-lo ainda mais, pois não tinha prática em cuidar de ferimentos. - Depois vai parar, só agüenta mais um pouquinho.

Ele, um pouco hesitante, permitiu que ela continuasse. Apesar de algumas caretas, ele parou de reclamar. Gina podia ouvir o fogo crepitar na fogueira atrás dela, e a chuva que ainda caía insistente lá fora. Já deveria estar tarde. Mas também não podia voltar sem ter certeza de que era seguro. Porém, quando voltasse, como explicaria o que aconteceu com Harry?

- Está bom? Não está muito apertado? - ela perguntou ansiosa, depois de amarrar o lenço em torno da cabeça de Harry, cobrindo o ferimento. As mechas negras do cabelo dele caíam rebeldes sobre o tecido.

- Tá ótimo, obrigado. - ele respondeu devagar. - Você sabe o que aconteceu comigo?

Gina se sentou mais relaxada sobre o chão de pedra da caverna e encarou Harry por alguns segundos. Como explicar tudo para ele?

- Nós caímos de um barranco. - ela começou. - Você acabou se ferindo mais do que eu, e por isso, eu acho, que você está assim... sem se lembrar de nada.

- É tão esquisito isso. Parece que tem um enorme vazio na minha cabeça... Um espaço em branco...

- Talvez seja temporário! - Gina sugeriu, tentando se convencer disso também. - Talvez, depois de ser medicado, você possa começar a se lembrar...

- Tomara que esteja certa.

Um silêncio constrangedor caiu sobre eles. Gina não sabia o que dizer. Era esquisito falar com alguém que conhecia há tanto tempo como se ele fosse um completo estranho. Dava uma enorme sensação de desconforto.

- Do que você me chamou mesmo àquela hora? - Harry perguntou subitamente.

Gina, que estava absorta, virou a cabeça bruscamente para olhá-lo. Harry a observava atentamente.

- Harry... O seu nome é Harry. Harry Potter.

Ele suspirou.

- Harry? Eu não gostei.

Gina sorriu ligeiramente.

- Vai ter que se acostumar. Todos lhe chamam assim, é o seu nome!

- Não pode ser outro?

- Não... Tem que ser esse.

Ele fez um bico engraçado. Gina se segurou para não rir da cara dele.

- Tá bom. - ele disse emburrado. - Mas e você, como se chama?

- Gina... Quer dizer, na verdade eu me chamo Virgínia, mas todos me chamam de Gina.

- Posso te chamar assim também?

- Claro. - ela sorriu. - Você sempre me chamou assim.

Ele respirou fundo, lentamente.

- É tão esquisito isso... Ter feito coisas que eu não sei que fiz... - Gina o encarou. Era esquisito para ela também. E desanimador. - Como nos conhecemos?

Gina correu os olhos pelo teto da caverna. Ela reparava que Harry a encarava com atenção. Devagar, ela começou a contar para ele algumas situações que passaram juntos. Obviamente, ela omitiu as partes que diziam respeito à sua antiga "quedinha" por ele. Ela também não comentou coisas como a Câmara Secreta e a batalha no Departamento de Mistérios. Era coisa demais para ele saber nesse momento e, além disso, não se fazia necessário nesta situação. E sua idéia era que, em pouco tempo, ele se recuperaria e começaria a se lembrar de tudo.

- Espera um pouco. - Harry pediu, no momento em que Gina começou a falar sobre Hogwarts. - Escola de magia? Você tá querendo dizer que eu e você estudamos em uma escola de magia?

- É... - Gina começou, um pouco desconcertada por Harry não lembrar nem ao menos disso. - Nós somos bruxos, Harry. Sabemos fazer magias, feitiços, poções... É tudo o que aprendemos na escola.

Harry parecia espantado.

- E eu sei fazer isso também?

- Claro que sabe. Saber fazer e... muito bem.

Os olhos de Harry correram rapidamente para a varinha na mão de Gina. Ela notou isso e deu um pequeno sorriso; tinha acabado de ter uma idéia.

- Procure nas suas vestes algo igual a isso. - ela pediu, indicando sua própria varinha.

- Eu também tenho uma dessas? - ele perguntou, enquanto vasculhava todos os bolsos da sua capa, um pouco desajeitado. Gina assentiu. - Eu não tô achando, não...

Gina se aproximou, impaciente.

- Deve estar aqui. - ela disse, colocando sua mão em um dos bolsos da capa dele, onde normalmente os bruxos guardavam suas varinhas para serem sacadas com mais facilidade.

Gina só percebeu o que estava acontecendo quando Harry a olhou embaraçado. Eles estavam tão próximos, que podiam sentir a respiração quente de cada um sobre si. O vento que formava pela respiração de Harry movia lentamente os cabelos de Gina. Ela percebeu que estava tocando a cintura dele. Rapidamente tirou sua mão, trazendo a varinha junto. Sentia que poderia fritar um ovo no rosto.

- De-desculpe... eu não percebi, eu...

Harry riu. Um riso alegre, espontâneo e... verdadeiro. Gina o olhou abobada. Há quantos anos não via aquele riso? Gina observou cada parte dele. Os olhos verdes brilhavam e até pareciam mais bonitos; ele apoiava a mão na barriga, que se contraía a cada riso. Os lábios formavam um largo sorriso, fazendo ele parecer outra pessoa. Gina poderia jurar que ele estava vivo novamente.

Aos poucos, ele foi parando, à medida que notava que Gina o observava com atenção. Quando ele finalmente parou, a olhou intrigado, mas o sorriso ainda permanecia no rosto.

- O que foi? Por que você tá me olhando assim?

- Ah... - ela suspirou, desviando o olhar e observando a varinha dele, que estava ainda nas suas mãos. - Por nada, só é que... bem... você nunca ri assim. Quero dizer, faz muito tempo que você não ri dessa maneira.

Ele franziu as sobrancelhas.

- Por quê? Eu não tenho motivos para rir, por acaso?

- Não! Quer dizer... Ah, Harry, é melhor não comentarmos sobre isso agora.

Ela se levantou subitamente. A chuva caía ainda mais forte lá fora, se isso era possível, e o barulho dela caindo se misturava ao som do fogo crepitando.

- Você quer que eu te ensine algum feitiço, Harry? - Gina perguntou, tentando mudar de assunto. Não queria comentar para Harry as partes ruins da vida dele. Não naquele momento.

Ele sorriu ligeiramente. Gina imaginou se conseguiria se acostumar em vê-lo sorrir de novo. Se bem que é mais fácil se acostumar com as coisas boas.

- Mas como eu vou aprender?

Gina se abaixou de frente a ele e devolveu sua varinha. Ele olhou nitidamente confuso para o objeto.

- O que eu faço com isso?

- Isso é a sua varinha. Por exemplo, você a aponta para... - ela olhou ao redor, procurando algo que a ajudasse. - ...aquela pedra, e diz "Vingardium Leviosa".

- Vinagre leve?

Gina gargalhou. Não sabia se era pela besteira que ele disse ou pela cara de bobo que ele fez.

- Não... É "Vingardium Leviosa". - ela explicou, tentando controlar o riso e dizendo as palavras mágicas o mais lentamente e corretamente que pôde. - Aponta para aquela pedra e diz isso, do mesmo jeito que eu falei.

Harry parecia um pouco descrente de que aquilo fosse mesmo dar certo. Ele apontou para a pedra e disse:

- "Vingarde Leviósa!"

Uma luz esbranquiçada saiu da varinha dele e atingiu uma estalactite, que caiu com estrondo do teto. Harry olhou contente para Gina.

- Eu consegui? Acertei?

- Não exatamente... - ela suspirou. Aquilo seria mais complicado do que imaginava. - Aconteceu o contrário do que era esperado. O feitiço era de levitar, e a pedra caiu.

- Ah, eu estava achando mesmo que não conseguiria... Você tem certeza que eu sou mesmo um bruxo?

- Claro que tenho. Você só não está acostumado com isso. - ela segurou a mão dele, apontando para a pedra. - Primeiro, você não apontou para a pedra certa, depois, você disse as palavras errado. Mas com o tempo você aprende. Tente de novo.

Eles estavam novamente próximos. Seus ombros estavam se tocando. Harry parecia tão concentrado no que tinha que fazer, que nem notou, diferente de Gina. Mas por que ela estava se sentindo assim, afinal? Não tinha prometido a si mesma que o esqueceria? Talvez tê-lo visto sorrir novamente tenha mexido com ela...

- Vingardium Leviosa!

A pedra levitou alguns centímetros, para depois cair novamente. Harry estava maravilhado e entusiasmado.

- Eu consegui! Veja, eu consegui!

Gina voltou à realidade com um baque súbito. Harry olhava para ela com um sorriso no rosto e um olhar de contentamento. Gina rapidamente soltou a mão dele e se afastou.

- É, eu vi. - ela murmurou. - Eu não disse que era só você se acostumar?

- Você tem outros feitiços para me ensinar?

Gina suspirou e observou Harry por alguns instantes. Droga, porque o seu estômago tinha que dar aquelas reviravoltas desagradáveis? Ela não iria começar com aquilo de novo, iria? Harry era uma parte do seu passado, da sua infância, e ela não voltaria a pensar dessa maneira nele. Naquele momento, ele estava frágil, e ela iria ajudá-lo a se recuperar, como uma amiga, uma colega. Porém, logo ele se lembraria de tudo, e as coisas voltariam a ser as mesmas. Ele não sorriria, nem a trataria dessa maneira.

- Acho melhor irmos embora.

Ela se levantou e se aproximou da entrada da caverna. A chuva tinha melhorado bastante, e já poderiam seguir para Hogwarts. Gina não tinha certeza se já era seguro ou não, mas pelo tempo que passaram ali, era provável que os Comensais já tivessem se afastado de Hogsmeade. Pelo menos era o que ela esperava.

- A chuva está quase passando. - Gina falou, enquanto voltava para perto de Harry. A chama da fogueira estava quase se extinguindo. - Vamos voltar.

- Voltar? - ele perguntou alarmado. - Mas...

- O que foi? Você não está bem para andar?

- Não é isso, é que... - ele parecia estar com vergonha de dizer o que queria. - Eu não sei, estou um pouco temeroso do que vá acontecer quando chegarmos lá...

Gina sorriu compreensivamente.

- Não se preocupe. Você vai ser bem recebido. Todos lhe conhecem em Hogwarts.

- Mas eu não os conheço. Esse é o problema.

Gina o observou por alguns instantes. Deveria ser realmente difícil para ele. Praticamente, Harry estava entre pessoas que não conhecia, e deveria ser no mínimo complicado confiar em pessoas que, em sua cabeça, nunca viu na vida.

- Harry, eu sei que talvez você não confie muito em mim, mas eu posso lhe garantir que você vai estar entre boas pessoas. Eu mesma me encarregarei disso. Além do mais, provavelmente você vai ser medicado e, logo, vai se lembrar de tudo e de todos.

Ele assentiu lentamente, mas ainda parecia chateado. Por alguns instantes, o único barulho era o da chuva fina e do último crepitar do fogo, que tinha acabo de se extinguir por completo. Harry se levantou lentamente e com uma certa dificuldade.

- Quer que eu te ajude? - Gina perguntou.

- Não, tudo bem. Acho que posso sozinho.

Ele levou as mãos na cabeça e, quando viu a expressão preocupada de Gina, sorriu ligeiramente.

- Já podemos ir. Eu tô bem.

Os dois começaram a se encaminhar para fora da caverna. Gina queria ajudar Harry, mas ele parecia decidido a fazer aquilo sozinho. Ela suspirou e começou a pensar. Ele estava certo em suas preocupações; o que aconteceria quando chegassem em Hogwarts e vissem o estado dele?

- Gina?

Ela se assustou ao ouvir seu nome. Olhou para Harry, que a encarava com um olhar que ela não conseguia compreender. Era esquisito. Até mesmo o jeito dele pronunciar seu nome parecia estar diferente do que o usual. Aquele era um Harry diferente.

- O que foi?

- Por que você está fazendo tudo isso por mim?

A chuva batia fina no rosto dos dois. Já era noite, e a lua estava escondida atrás das nuvens. Era possível ouvir o lento farfalhar das folhas, e o som da água escorrendo por entre as pedras do chão.

- Porque sou sua amiga. Só por isso.

Ele sorriu.

- Obrigado. Você deve ser uma grande amiga. Sinto não me lembrar de você.

- Tudo bem. Eu me lembro.

"É, eu me lembro de você, Harry. Eu me lembro do que sentia por você. E tenho medo de estar começando a sentir isso novamente."

Eles continuaram caminhando por entre as árvores, com a chuva batendo fina nas suas faces, mas dessa vez, apenas escutando seus próprios pensamentos.

*******

- Ele vai ficar bem?

Já era a terceira vez que Luna perguntava isso para Madame Pomfrey. No entanto, a enfermeira estava tão atarantada com todos aqueles pacientes a atender, que não ouviu nenhuma das perguntas de Luna.

Desanimada e cansada de perguntar, a garota se sentou em um dos bancos da ala hospitalar. Luna nunca tinha visto aquela sala tão cheia. Parecia que todos os alunos, professores e funcionários de Hogwarts estavam amontoados ali dentro. Ela sabia que isso não era verdade, pois muitos outros alunos estavam pelo resto da escola, conversando alarmados sobre o ataque, mas que parecia, parecia.

O ataque. Mesmo já tendo passado por situações adversas, como a do seu quarto ano em Hogwarts, quando Luna foi até o Departamento de Mistérios no que ela chamava de "missão de resgate", ela ainda assim ficou um pouco assustada. Nunca poderia esquecer todas aquelas cenas de desespero e violência que acabara de ver em Hogsmeade. Era aterrorizador.

Ela e Neville acabaram se perdendo de Gina na confusão. Mas isso não era o pior. O pior foi quando encontraram aquela dupla de dementadores. Também havia um Comensal da Morte. Neville tentou lutar com ele, mas os dementadores se aproximaram, e Neville ficou desesperado. Luna nunca esqueceria a expressão de dor no rosto do menino; ela sabia que dementadores podiam trazer as piores lembranças de uma pessoa à tona, pois ela também se lembrou de uma coisa ruim: a morte de sua mãe. Ficava pensando se Neville estaria se lembrando de seus pais também...

Quando eles voltaram para Hogwarts, a confusão já estava estabelecida. Luna trouxe Neville direto para a ala hospitalar. Ele não parecia bem; estava muito abalado depois do ocorrido com os dementadores. Luna nunca poderia descrever exatamente como escaparam deles e do Comensal. Ela mesma estava tão atordoada, que nem se preocupou em observar isso. O importante mesmo era que tinham escapado.

- VOCÊS PRECISAM AJUDÁ-LA! RÁPIDO!

Luna se virou rapidamente para olhar a porta. Conhecia aquela voz. Mas havia tanta gente na frente que ela não conseguia enxergar patavina. Ela se levantou, tentando se desviar das pessoas. Algo passou apressado do seu lado, esbarrando nela com tanta força, que a garota quase caiu no chão.

- Oh, desculpe, Luna.

Hagrid não tinha tempo para parar e ver como Luna estava, ela pôde perceber. Ele seguiu apressado na direção da porta, com suas enormes passadas. Luna o seguiu, aproveitando o caminho que ele abria por entre as pessoas. Quando Hagrid parou de andar, e ela se desviou do enorme corpo dele para ver o que estava acontecendo, quase tombou para trás de susto.

- Hagrid, ela está mal, vocês precisam fazer alguma coisa por ela... - Rony pediu, quase chorando. Seu rosto estava vermelho, e ele ofegava. Em seus braços, trazia Hermione, desmaiada.

- Não se preocupe, Rony, eu vou levá-la lá para dentro. - Hagrid disse solícito, pegando Hermione em seus braços com uma incrível facilidade. - O que aconteceu com ela?

- Eu não sei... - Rony disse desesperado. - Jogaram um feitiço nela, eu não sabia que magia era aquela... Devia ser magia negra, sei lá... Ah, Hagrid, ela vai ficar boa, não vai?

- Eu vou levá-la para Madame Pomfrey. - Hagrid falou, já se afastando. - Não se preocupe.

- Espera! Hagrid!

Mas ele já estava longe quando Rony gritou. Ele suspirou desanimado, e ficou encarando o chão com tristeza. Luna sentiu pena dele; ele realmente deveria gostar de Hermione e, pela cara dela, ela não estava nada bem.

- Ei, é melhor você se sentar... - Luna disse, conduzindo Rony até o banco mais próximo. Ele estava tão atordoado que nem se deu conta disso. - Senta aí e tenta se acalmar, ok?

Ele levantou a cabeça, lentamente.

- Ah, é você, Loony...

Ela estava tão penalizada pelo garoto, que nem se importou em ser chamada assim. Rony abaixou a cabeça novamente. Luna procurou ao redor e achou uma jarra de água sobre uma mesa próxima. Ela foi até lá, pegou um copo com água e, mesmo depois de tudo isso, quando voltou, Rony ainda estava na mesma posição de antes.

- Toma. Vai te fazer bem.

Ele olhou para o copo que ela praticamente tinha enfiado na sua cara. Por alguns instantes, parecia não entender o que estava acontecendo, até que aceitou o copo e começou a engolir o líquido lentamente.

- O que houve? - Luna perguntou, sentando ao lado dele.

- A Hermione... - ele disse com uma voz murmurante, depois de acabar de beber a água. - Nós fomos atacados por um Comensal, e ele jogou um feitiço esquisito nela. Eu não consegui protegê-la... Ah, droga, e se acontecer algo ruim com ela? - ele perguntou mais para si mesmo do que para Luna, enterrando os dedos nos cabelos. - Eu nunca vou me perdoar...

- Calma, ela vai ficar bem... Você vai ver...

Rony levantou a cabeça e olhou para ela.

- E você? Por que tá aqui?

- Neville... Ele ficou meio atordoado depois que nos encontramos com dementadores, e eu o trouxe pra cá.

Rony parecia estar pensando.

- Ei, espera um pouco. Você estava com a minha irmã, não estava?

- Estava...

- E por que ela não está aqui com você? - ele perguntou, novamente começando a se desesperar.

- Nós acabamos nos perdendo dela na confusão... Eu sinto muito, mas não sei o que aconteceu com ela. Também estou preocupada.

- COMO NÃO SABE? - Rony gritou, arregalando os olhos para Luna. - VOCÊ PRECISA SABER!

- Calma, garoto, eu não sei! - Luna recuou, assustada. Depois ela que era a maluca, não é? Porém, ela viu duas pessoas entrando na sala. - Mas talvez agora eu saiba...

Rony se virou para ver o mesmo que Luna estava vendo e se levantou assim que reconheceu aqueles dois que entravam na ala hospitalar.

*******

- Nossa... - Harry exclamou longamente. - Esse lugar é enorme!

Gina riu baixinho. Eles finalmente tinham chegado a Hogwarts. Os jardins estavam encharcados pela água da chuva, que finalmente tinha cessado. A noite estava nublada agora, mas pelo menos não chovia mais. Porém, se estivesse chovendo não faria a menor diferença; ela e Harry já pareciam que tinham acabado de sair do lago da lula gigante mesmo... Um pouco mais de água não importaria.

- Esse é o castelo de Hogwarts, Harry. - Gina explicou. - É onde moramos e estudamos.

- Ele deve ter uns vinte andares! - ele disse ainda surpreso.

- Na verdade, só tem sete. Mas por dentro parece ainda maior.

- Isso tudo é incrível... Eu ainda não posso acreditar...

Se a situação não fosse tão séria, Gina poderia achar graça. Harry estava muito cômico; ele se surpreendia a cada mínima coisa que via. Ele quase caiu para trás quando viu um unicórnio perto da cabana de Hagrid, e eles ficaram quase uns dez minutos observando o Salgueiro Lutador, porque Harry tinha ficado maravilhado ao ver uma árvore que se mexia. Era no mínimo peculiar estar com Harry dessa maneira; Gina não sabia se poderia se acostumar.

- Mas aqui tá meio vazio, não acha? - ele perguntou subitamente.

Gina observou ao redor. Pensando bem, ele tinha razão. Não havia ninguém ali nos jardins.

- Todos devem estar dentro do castelo. Só espero que esteja tudo bem...

- Eu ainda não entendi o que aconteceu. - Harry falou. - Você comentou enquanto vínhamos que tinha havido um... ataque naquele povoado onde estávamos.

- É um pouco complicado para você entender agora. - Gina respondeu, enquanto os dois subiam os degraus de pedra. - Quer dizer, tem muita coisa que você precisa saber antes para poder entender melhor... Por enquanto, só te digo que pessoas muito ruins atacaram aquele lugar e, provavelmente, muitas pessoas se feriram... para não dizer coisas piores.

- Mas por que essas pessoas atacaram o povoado? Qual o motivo?

Gina parou de frente à porta de mármore e se virou para olhá-lo. Não era o momento certo para explicar a ele sobre Voldemort. Ainda mais porque falar sobre Voldemort implicaria sobre falar dele mesmo, Harry Potter.

- Eles atacaram a mando de um bruxo maligno. Mas não vamos falar sobre isso agora. Mais tarde, eu poderei te explicar melhor. Ou então você mesmo vai se lembrar.

Quando ela empurrou a porta, viu que ele ainda permanecia parado onde estava, encarando vagamente o chão à sua frente.

- O que foi?

- É só que... - ele começou, escolhendo as palavras. - Eu... não sei o que vou encontrar aí dentro.

Gina lhe lançou um olhar de compreensão.

- Não se preocupe. - ela segurou a mão dele. Ele ergueu seus olhos para vê-la. -Só confie em mim, por favor.

Ele assentiu e respirou fundo. Quando os dois entraram, Gina tomou um susto tão grande que quis soltar a mão de Harry, instintivamente. Ele, por sua vez, a apertou ainda mais, e eles permaneceram de mãos dadas.

O Hall de Entrada estava entupido de alunos, que conversavam em altas vozes entre si. Gina podia avistar alguns monitores tentando controlar a situação, mas era impossível. Porém, esse não era o problema. O grande problema era que todos tinham parado de falar no momento em que as portas de carvalho se abriram, e Harry e Gina entraram no salão.

Gina queria, desesperadamente, soltar a mão de Harry, mas ele parecia tão assustado que não permitia isso. Ela sentiu seu rosto ferver, e sua vontade era que o chão se abrisse sob seus pés para que ela não tivesse mais que olhar para as expressões de espanto e surpresa de todas aquelas pessoas. Nem queria imaginar o que eles estariam pensando, mas tinha certeza que eram coisas muito erradas ao seu respeito e de Harry...

- Ora, ora. - uma voz arrastada quebrou o silêncio que tinha se formado, e Draco Malfoy apareceu entre os alunos. Seu distintivo de monitor reluzia sobre suas vestes da Sonserina. - Mas não são o cicatriz e a Weasley pobretona?

- Cala a boca, Malfoy. - Gina disse entredentes. Naquele momento, seu rosto fervia, mas de raiva. Ela só queria mesmo era sacar sua varinha e jogar um feitiço Furnunculus naquele rosto debochado.

Ele a ignorou solenemente e parou de andar bem de frente a Harry. Seus olhos cinzas estavam estreitos e fuzilavam os olhos verdes de Harry que, por sua vez, nitidamente não estava entendendo nada. Malfoy sorriu com deboche.

- Sempre o centro das atenções, não é, Potter? Nunca vai se cansar de ser o palhaço do circo?

Alguns alunos riram alto, a maioria sonserinos, Gina pôde notar. Seu sangue corria quente nas suas veias. Ah, como queria estalar seus dedos naquela cara ridícula de Malfoy... Mas ela não podia, pois Harry, estranhamente, não largava sua mão de jeito nenhum. Parecia que ele a apertava cada vez mais.

Gina o observou. Sua expressão era serena. Harry encarava Malfoy profundamente, como se estivesse estudando-o. Gina respirou mais fundo; tinha que tirar Harry dessa, mas não sabia como. Harry sorriu lentamente, mas não era mais um daqueles sorrisos sarcásticos que ele sempre costumava mostrar a Malfoy. Era um sorriso divertido.

- Eu sinto muito. - ele sorriu com inocência; Malfoy ergueu as sobrancelhas. - Não queria atrapalhar seu trabalho. Me desculpe.

Dessa vez, vários alunos gargalharam, bem como Gina. Os olhos de Malfoy queimavam de fúria, e ele deu passo na direção de Harry, que o olhou com curiosidade. Malfoy abaixou os olhos lentamente, e encontrou as mãos de Gina e Harry entrelaçadas. Um meio sorriso surgiu nos seus lábios finos.

- Hum... Quer dizer que, enquanto Hogsmeade era atacada, vocês dois estavam fazendo coisas mais divertidas? Interessante... Desistiu do heroísmo barato de costume e resolveu aproveitar a vida, Potter?

- Ora, seu... - Gina quase gritou, com raiva. - Como ousa?

Malfoy a encarou com um brilho de zombaria no olhar.

- Pelo menos poderia ter feito uma escolha melhor... Mas eu sempre soube que você tinha mau gosto, Potter.

Harry finalmente largou a mão de Gina para, agora, poder segurá-la pelos ombros firmemente. Gina estava com tanto ódio daquele loiro aguado, que poderia dar um tapa naquelas bochechas pálidas ali mesmo, na frente de todos aqueles alunos. Quando Gina se agitou, tentando se soltar de Harry, ela acabou vendo seu rosto por um segundo, teve a impressão de ter visto um brilho diferente nos seus olhos. Mas foi por instante somente. No outro, eles já tinha sido interrompidos por uma voz de mulher:

- O que está havendo aqui?

Os passos de Minerva McGonagall ecoaram pelo chão de mármore. Imediatamente, os alunos silenciaram. Malfoy rapidamente preparou uma expressão inocente, e Harry parecia confuso, mesmo que ainda segurasse Gina pelos ombros.

- Sr. Malfoy, Sr. Potter, Srta. Weasley! - a professora exclamou assim que ficou próxima a eles. - Espero que tenham uma boa explicação!

- Não aconteceu nada de mais, professora. - Malfoy começou. - Só Potter que estava novamente chamando atenção.

A Profª. McGonagall revirou os olhos. Ela pareceu entender que Malfoy estava mentindo.

- O senhor não deveria estar conduzindo seus colegas sonserinos para as masmorras, Sr. Malfoy? - ela perguntou, passando os olhos pelo salão. - Estou vendo todos aqui ainda. Aliás, estou vendo todos os alunos, de todas as casas. Eu não pedi claramente a todos os monitores que levassem seus colegas para as salas comunais?

O movimento foi geral. Em um instante, os monitores das Casas já estavam reunindo seus colegas e dando instruções. A Profª. McGonagall se virou para Malfoy:

- Isso vale para o senhor também.

Ele respirou fundo, nervoso, mas assentiu. Antes de ir, lançou um olhar de fúria para Harry, que apenas o olhou como se Malfoy fosse maluco ou algo do gênero. Realmente, ele não deveria estar entendendo nada do que estava acontecendo ali. Quando a professora se virou para olhar Gina e Harry, seus olhos se arregalaram.

- Pelo amor de Deus, Potter! - ela exclamou assim que viu o curativo mal feito na cabeça dele. - Você está ferido!

- Erm... mas...

- Nada de "mas"! Vocês vão para a ala hospitalar agora! - ela disse, praticamente empurrando Harry e Gina. Os dois se entreolharam assustados. - E a senhorita, também se feriu? - ela perguntou, encarando Gina, enquanto se afastavam do salão, tomando o caminho da ala hospitalar.

- E-eu estou bem. - a garota respondeu, um pouco atordoada pela atitude brusca da professora.

- Oh, ótimo. Assim a senhorita poderá acompanhar Potter até a ala hospitalar. - ela falou, parando de empurrá-los. - Eu tenho muitas coisas para fazer agora. Sigam direto para a ala hospitalar, ouviram? Você precisa se cuidar, Potter!

Depois de dizer isso, ela se virou, tomando o caminho oposto. Harry e Gina se encararam por alguns instantes no meio do corredor. Se até Gina estava aturdida, ela ficou imaginando a confusão que deveria estar a cabeça de Harry.

- O que foi isso? - ele perguntou.

- Essa era a Profª. McGonagall. - Gina respondeu lentamente.

- Ela é esquisita.

- É só agora, por causa de toda essa confusão... Você verá em pouco tempo que ela é bem mais séria e severa do que isso.

- Oh, que ótimo...

- Vamos indo antes que ela volte aqui e brigue com a gente. - Gina falou, puxando-o pela manga.

- E aquele garoto? - ele perguntou, enquanto caminhavam lado a lado.

- Quem?

- Aquele... O loiro.

- Ah... Malfoy. Draco Malfoy. Ele é idiota.

- Por que ele se meteu com a gente? E por que falou comigo daquele jeito? E com você também...

- Eu já disse, ele é idiota. Ele odeia a mim e minha família por sermos pobres.

- Que loucura... - Harry disse espantado.

- Isso não é tudo. Ele te odeia também. Aliás, ele te odeia muito. E você também o odeia.

Harry arregalou os olhos.

- Por quê? Eu não consigo entender...

- Ele te odeia porque você é um grifinório. Você é de uma Casa rival da dele, lembra que eu te disse o que eram Casas no caminho para cá? - ela completou, vendo a expressão atordoada dele. Harry assentiu lentamente. - Mas eu acho que ele tem inveja de você...

- Inveja por quê?

- Porque você é famoso, todos sabem quem você é aqui em Hogwarts e no mundo da magia.

Harry parou de andar e olhou assustado para Gina. Ela percebeu que tinha falado demais.

- Como é que é?

- Erm... Eu te explico melhor mais tarde. Mas, por enquanto, fique sabendo que você é famoso. Só isso.

- E você ainda diz "só"? - ele perguntou, voltando a caminhar. - Você está começando a me apavorar...

- Não se preocupe. Você vai aprender a conviver com isso. Chegamos.

Harry encarou a porta da ala hospitalar com cautela.

- Há mais pessoas malucas aí dentro?

- Depende do ponto de vista. - Gina sorriu, abrindo a porta. Quando os dois entraram, foram surpreendidos por um grito:

- GINA!

Ela tremeu de susto ao ouvir seu nome. Harry olhou curioso para um ponto atrás da garota, que sentiu alguém puxá-la bruscamente para fazê-la se virar. Ela deu de cara com seu irmão, Rony.

- Gina! Eu estava morto de preocupação com você, menina! O que aconteceu? Onde você estava? Você tá inteira? Está ferida? - ele olhou-a rapidamente de cima a baixo. - Por que demorou?

- Rony...

- Se mamãe souber que você estava sozinha, no meio daquela confusão, e que eu não estava cuidando de você...

- Rony...

- Ela me mata, sério, eu vou estar mortinho se ela souber... Você não vai contar, vai? Mas você está bem, isso é o que importa...

- PÁRA! - Luna gritou no ouvido de Rony, e ele ficou paralisado. - Ufa, não agüentava mais... Meu ouvido não é pinico... - ela disse, batendo nas orelhas. Harry estava definitivamente chocado com o comportamento de Rony e Luna.

- Rony, uma pergunta de cada vez, ok? - Gina disse lentamente. Rony parecia meio desligado às vezes, mas ela sabia muito bem o quanto ele se preocupava com ela e todo o resto da família. - Pra começar, eu não estava sozinha. Harry estava comigo.

Rony se virou para olhar Harry, que acenou timidamente para ele.

- Ô, Harry, não tinha te visto aí. - ele disse, já parecendo mais calmo. - O que houve com a sua cabeça?

- Parece que tá com um turbante nela... - Luna comentou. Gina bufou.

- É um curativo. Harry se machucou, e eu fiz um curativo. E ele não parece um turbante, Luna! - Gina completou irritada e ligeiramente ofendida.

- Pra mim parece... - a menina deu de ombros. Rony se virou para Harry.

- Mas se você está ferido, quer dizer que se encontraram com Comensais, não é? O que aconteceu?

Harry abriu a boca, sem ter a mínima idéia do que dizer. Gina atropelou as palavras antes que ele dissesse alguma besteira.

- Não aconteceu nada grave, Rony. Eu explico direito depois, acho que agora Harry precisa cuidar desse ferimento.

- O professor Lupin tá ali, olha. - Luna apontou. - Por que não o chama aqui?

Remo Lupin estava parado do outro lado da sala, falando com uma menina da Lufa-lufa. Ele tinha voltado a dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas no começo do ano letivo. A sua aparência era de um homem que tinha envelhecido assustadoramente em pouco tempo. Na verdade, esse envelhecimento se acentuou depois que Sirius morreu. Quando Gina gritou seu nome, ele olhou para eles, acenou com a cabeça, para logo depois comentar mais algo com a menina e se aproximar.

- Ah, olá, meninos. Estão todos bem aqui? - ele perguntou preocupado. Ele notou o curativo na cabeça de Harry. - O que aconteceu com você, Harry?

- Eu... eu...

- Ele se machucou. - Gina respondeu por ele. - E eu fiz um curativo às pressas. Mas ele precisa ser cuidado direito.

- Claro, eu vou levá-lo para Madame Pomfrey dar uma olhada.

O professor colocou a mão no ombro de Harry, que olhou para Gina pedindo ajuda.

- Ei, professor?

- Sim, Gina.

- Eu posso ir com vocês?

- Se você estiver ferida também, deve vir.

Rony olhou para a irmã alarmado. Gina se apressou em explicar.

- Não, eu não estou ferida, mas...

- Então pode deixar que eu acompanho Harry. - Lupin sorriu e deu palmadinhas nas costas do garoto, que ainda olhava assustado para Gina. Ela fez um sinal para que ele seguisse com Lupin, e os dois se afastaram. Harry ainda olhava de vez em quando para trás, e Gina o incentivava a ir embora, através de gestos. Ela só esperava que ficasse tudo bem. Luna mordeu os lábios.

- Esquisito...

Gina se virou para ela, assustada.

- O quê?

- Esquisito... - ela repetiu. - O que houve, hein?

O cérebro de Gina trabalhou rapidamente. E agora? Deveria contar? O que Luna e Rony diriam? Mas será que era o momento certo? Contar uma coisa dessas, no meio daquela confusão... Além disso, provavelmente Harry logo recuperaria suas lembranças, Gina tinha certeza. Mas talvez fosse melhor contar, mesmo assim.

- Bem, aconteceu uma coisa hoje...

POF. O baque surdo de Rony se sentando interrompeu a frase de Gina. Ele se encostou ao banco, olhando vagamente para a parede à sua frente. Luna e Gina se encararam por um instante.

- O que houve, Rony? - Gina perguntou, sentando-se ao lado do irmão. Luna permaneceu de pé, com os braços cruzados e uma expressão indolente no rosto.

- Estou tão aliviado que você e Harry estejam bem... - ele disse lentamente. - Se vocês também tivessem se ferido gravemente, eu nem sei o que faria...

- Por que está dizendo isso?

- Não está sentindo a falta de alguém, Gina? - Luna perguntou.

- Hermione... - Gina disse lentamente, começando a se preocupar. - O que aconteceu com ela?

Rony suspirou profundamente e começou a explicar. Era complicado entender, porque ele parecia estar muito desesperado para contar direito. Mas Gina pôde compreender que ela estava muito mal, e que eles tinham encontrado um Comensal também. E Rony se culpava por não ter conseguido protegê-la.

- Ela vai ficar bem, Rony... - Gina disse, tentando consolá-lo. Sabia que, mesmo com tantas brigas, ele gostava muito de Hermione. - Ela é forte.

- Tomara que você esteja certa. - ele murmurou, encostando a cabeça e fechando os olhos lentamente, exausto. Gina se virou para Luna.

- E Neville? Você estava com ele quando nos perdemos.

- É, e depois que perdermos você, encontramos dementadores. - Luna falou. - Use sua imaginação, Gina.

Ela fez uma careta.

- Eu sei como são dementadores... Neville não deve estar bem. Mas e você? - Gina perguntou, se lembrando que a lembrança mais triste de Luna deveria ser a da morte de sua mãe. - Como está?

- Bem. Não se preocupe. - ela sorriu, mas Gina notou que não havia alegria no seu sorriso.

- Vamos, vamos! - uma voz fininha mandou. Quando Gina, Luna e Rony, que tinha acabado de abrir os olhos, se viraram para ver, identificaram o pequeno Prof. Flitwick expulsando os alunos da ala hospitalar. - Vamos, voltem para suas Casas!

- Voltar? - Rony perguntou. - Eu não vou ir para a Torre, eu vou ficar aqui até saber como Hermione está!

- Ah, e você acha que vão contar para a gente? - Luna retrucou. - Tá sonhando, né?

- Eu vou ficar! - Rony disse emburrado e decidido.

- Vamos, vamos... - a voz fininha do Prof. Flitwick se fez ouvir. Ele apareceu do lado de Luna, e sua cabeça batia um pouco acima da cintura dela. - Vamos, não há mais nada o que fazer aqui.

- Eu vou ficar! - Rony repetiu, levantando-se e encarando o professor, que engoliu em seco perante o tamanho do garoto. Rony era, literalmente, o dobro do professor de Feitiços. - Eu só arredo meu pé daqui depois que tiver notícias de Hermione!

Os olhos do Prof. Flitwick saltaram das órbitas de medo. Luna começou a rir, e Gina olhou para ela repreendedoramente; não era o momento certo para rir, apesar da cara do professor ser muito engraçada. Ele respirou fundo, ficou na ponta dos pés e mostrou o dedo para Rony.

- Você vai sair junto com os outros sim, Sr. Weasley! - Rony abriu a boca para retrucar, mas o professor foi mais rápido, e seu tom era compreensivo. - Sei que deve estar preocupado com sua amiga, mas não vai adiantar passar a noite aqui. Venha amanhã cedo, e poderá saber dela.

Rony murchou. O professor deu palmadinhas amigáveis no braço do garoto, e sorriu para as meninas.

- Tenho certeza de que devem estar cansados. Dormir vai fazer bem para todos vocês. Amanhã já poderão vir aqui e saber como seus amigos estão.

O sorriso do pequeno professor era tão amável, que eles não puderam recusar. Gina ainda teve que puxar Rony, que não parava de olhar para trás, como se fosse ver Hermione. Luna apenas caminhava com o olhar perdido.

- Aconteceu tanta coisa em um dia só. - ela comentou, enquanto os três caminhavam atrás de um grupo de alunos da Corvinal. - Eu nem posso acreditar...

- Nem eu... - Gina disse mais para si mesma do que para eles, pensando em Harry. Não conseguia tirar da cabeça o que tinha acontecido.

- Eu odeio essa guerra. - Rony confessou, em um tom de voz sombrio. - É a coisa que eu mais odeio no mundo. Por que tem que acontecer?

Luna e Gina se entreolharam. Elas podiam entendê-lo, porque sentiam a mesma coisa.

- Mas temos que passar por isso, não é? - Gina falou.

- É algo que não podemos evitar... - Luna completou com uma voz etérea.

Os alunos da Corvinal à frente deles tomaram um caminho oposto. Luna seguiu atrás deles depois de desejar "boa noite" para Gina e Rony. Mas todos sabiam que aquela seria uma noite péssima.

- Ainda está pensando em Hermione, não é? - Gina perguntou ao irmão, vendo seu olhar melancólico.

- Nós estávamos brigados, Gina. E eu não pedi desculpas a ela... E se...

- Nada de "se". - ela retrucou severamente. - Rony, você vai ver; amanhã ela já vai ter acordado, e vocês poderão conversar como se deve.

Rony a encarou sem parecer ter se convencido por completo.

- Às vezes, eu me canso disso tudo. Eu queria que tudo fosse como quando éramos crianças... As coisas não eram tão complicadas, nem tão sérias...

- Eu sei. - ela respondeu sombriamente. - Era tudo tão mais fácil, não é?

- Agora, eu tenho receio... de perder as pessoas que eu gosto. Parece que todos são tão frágeis diante do que está acontecendo.

- Eu também tenho medo, Rony. Mas lembra o que o nosso pai sempre diz para a gente? Devemos acreditar... acreditar que vai dar certo, que vamos vencer essa guerra, e que tudo vai voltar a ser como antes.

Rony não disse nada. Ele virou a cabeça, e começou a observar os quadros da parede. A maioria deles estava dormindo, mas alguns ainda acenavam ou perguntavam coisas que nem Rony ou Gina estavam com vontade de responder. Ela sabia que Rony não gostava muito de demonstrar suas fraquezas, mas como todos, ele também as tinha. E às vezes, eles gostavam de conversar sobre o que estava acontecendo em suas vidas. Depois que Percy morrera, dava a impressão de que estavam mais unidos, bem como o resto da família.

- Você gosta muito de Hermione, não é?

- Gosto.

- E por que vocês brigam tanto, então?

- Não sei. Nós apenas somos assim... Não dá mais para mudar. Mas eu gosto muito dela.

- E ela de você. Qualquer um percebe.

- Gina?

- O que foi?

- O que aconteceu hoje? Quando você e Harry estavam em Hogsmeade?

Eles tinham chegado ao quadro da Mulher Gorda. Gina ficou de frente ao irmão, sem saber o que dizer. Talvez fosse melhor contar para ele. Afinal, ele era seu irmão e melhor amigo de Harry também. Gina abriu a boca para falar.

- Vocês vão ficar parados aí até amanhã, é? - a Mulher Gorda perguntou irritada. Rony bufou.

- Peskipksi Pesternomi!

O quadro girou, abrindo a passagem para a Torre da Grifinória. Gina entrou, seguida de Rony. Ainda havia poucas pessoas na sala comunal, comentando sobre o que tinha acontecido. Rony suspirou.

- Acho que vou subir, Gina. O Prof. Flitwick tinha razão. Estou mesmo cansado.

Gina sorriu compreensivamente.

- Claro. Durma um pouco, Rony. Eu também vou fazer isso.

Ele deu um meio sorriso e seguiu pela escada dos dormitórios masculinos. Gina olhou ao redor. Não tinha ninguém ali com quem ela quisesse conversar, além disso, ela também estava terrivelmente cansada.

Podia ouvir o som das vozes se afastando enquanto ela subia as escadas para os dormitórios femininos. Na sua cabeça, ainda pipocavam pensamentos; ela não conseguia parar de pensar em Harry. Ele tinha perdido a memória e, até o momento, ela era a única pessoa que sabia disso. Porém, provavelmente, depois de ser cuidado e de uma noite de sono, ele já começasse a recuperar suas lembranças.

Gina não sabia dizer se isso era bom ou não.

As suas colegas de quarto a trataram como sempre quando Gina entrou; ignorando-a. Ela nem se importava mais. Não gostava nem um pouco daquele tipo de garotas metidas a besta. Trocou de roupa rapidamente e se enfiou no meio das cobertas. Sua cama dava para a janela, de modo que a claridade fraca da lua, encoberta pelas nuvens, iluminava seu leito. Gina não conseguia fechar os olhos.

O sorriso de Harry. Ela não conseguia esquecê-lo. Fazia tanto tempo que ele não ria daquele jeito... E era tão bonito aos seus olhos. Droga, porque tinha que voltar a pensar dessa maneira nele? Ela não queria, mas era como se seu cérebro não a obedecesse.

Se ele recuperasse a memória, não sorriria mais daquela maneira.

Mas também não seria o mesmo Harry, e isso causaria problemas para ele. Muitos problemas. E se Voldemort descobrisse que Harry tinha perdido suas lembranças, que não sabia nem ao menos executar um feitiço simples? Era perigoso... Harry estava frágil, se pensasse por esse lado. Talvez fosse melhor não dizer nada a ninguém por enquanto. Mas e se Harry falasse? E se ele fizesse alguma bobagem? Tinha que conversar com ele no dia seguinte.

Isto é, se ele já não tivesse lembrado de tudo no dia seguinte. Se isso acontecesse, as preocupações de Gina seriam sem fundamento, e tudo voltaria a ser como antes...

Gina adormeceu e sonhou com o sorriso de Harry, desejando que ele sempre fosse assim.




Valeu pelos coments, e disculpa a demora... é q eh realmente difícil arranjar tempo p/ postar... mas se alguem quiser ler a fic atualizada, vá no meu site www.serieprofecia.cjb.net . A fic tah ateh o cap 8 lah ;)
Bjus!

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