Começando do zero



A claridade da luz do sol ofuscou seus olhos fechados, e Rony os apertou ainda mais. Podia ouvir as vozes dos seus companheiros de quarto.

Virou-se na cama, de modo que ficou de costas para a claridade que incidia pela janela. Tapou os ouvidos com o travesseiro, mas as vozes de Simas e Dino pareciam martelar na sua cabeça.

Por fim, desistiu de lutar, e deitou de costas na cama, encarando o teto de dossel. Não tinha dormido quase nada naquela noite. Sua cabeça estava perturbada demais com os acontecimentos do dia anterior para poder dormir direito. O pouco que conseguiu foi um sono entrecortado por sonhos ruins. E se havia algo que irritava Rony profundamente era dormir mal.

- Ah, nós te acordamos? - Dino perguntou do outro lado do quarto, assim que Rony puxou as cortinas do dossel e sentou-se na cama.

- Não, tudo bem... - ele respondeu, ainda um pouco sonolento e aborrecido.

- Nós estávamos comentando sobre o ataque de ontem. - Simas começou a falar, e Rony logo previu que eles iriam lhe encher de perguntas. - Eu e Lilá estávamos no "Madame Puddifoot" e tivemos sorte de escapar antes de esbarrarmos em... algum Comensal da Morte.

- É claro que você deve saber o que aconteceu com Harry, não é, Rony? - Dino perguntou, e Rony olhou de esguelha para a cama de Harry, vazia e ainda arrumada do dia anterior.

- Ele só feriu um pouco a cabeça. - Rony explicou um pouco incerto, levantando-se e caminhando até o banheiro. Notou a cama de Neville do mesmo jeito que a de Harry: vazia e arrumada. - Neville teve uns problemas com dementadores, mas deve ficar bem logo.

Tanto Simas, quanto Dino, fizeram caretas ao ouvirem o comentário sobre dementadores. Rony entrou no banheiro e abriu a torneira da pia, deixando a água escorrer por entre seus dedos. Seu pensamento não estava nem em Neville ou Harry; apesar de se preocupar com os amigos, ele tinha visto Harry, e ele não parecia mal, e Neville também superaria o problema com os dementadores. Não eram eles que preocupavam-no; era Hermione. Ele presenciara o que acontecera com ela e também tinha visto o estado da garota... e ela não estava bem.

Ele não tinha conseguido protegê-la. Maldito Comensal! Jogou um feitiço que Rony desconhecia e acertou Hermione em cheio. Rony ainda conseguiu fugir com ela desacordada, pensando que aquilo fosse passageiro e que ela logo acordaria... Mas não era assim. A sua esperança era que, agora, depois de passada uma noite, ela já estivesse acordada e bem.

Rony jogou água no rosto, lavando suas olheiras fundas.

Parecia que qualquer parte do castelo estava uma tremenda confusão naquela manhã. Na Sala Comunal da Grifinória estava um "entra e sai" tão desordenado, que Rony acabou levando duas cotoveladas nas costelas para poder sair do lugar. O resto do castelo não estava diferente; alunos corriam como loucos pelos corredores, para desespero dos monitores e professores. Rony, mesmo sendo monitor-chefe, não conseguiu fazer nada para detê-los. E era até compreensível. Por ele, também sairia correndo para

a ala hospitalar para ver como Hermione estava. Mas, antes disso, ele queria tentar achar Gina para irem juntos. Estava um pouco receoso de ir sozinho e encontrar coisas que não queria ver. Pelo menos com Gina teria uma companhia.

- Ai!

- Ai!

Rony deu um passo para trás, atordoado. Quando levantou os olhos, viu que tinha acabado de esbarrar em Luna Lovegood. Ela não olhou para ele; parecia ocupada demais desentortando seu chapéu da cabeça.

- Luna, você viu a Gina? - ele perguntou de supetão.

- Bom dia para você também. - ela sorriu mostrando os dentes.

Rony suspirou; precisava ter realmente muita paciência com aquela garota. Ele não entendia como Gina conseguia ser tão amiga dela.

- Acabei de vir da ala hospitalar. - Luna completou. Rony prestou mais atenção.

- E você viu como está Hermione? E Harry?

- Ah... bem, eu só falei com o Neville. Ele está bem, logo vai sair. - ela explicou. Rony murchou com desânimo. - Ai, eu fui pra lá sem comer... tô com uma fome...

Rony começou a ter vontade de chutar algo. "Ok, Rony, é só ter mais um pouquinho de paciência... só mais um pouco..." O ruim era que paciência era um item em falta na personalidade de Ronald Weasley.

- E a Hermione? Você a viu? Sabe se ela está acordada?

- Não, eu não vi.

- Nem perguntou sobre ela?

- Ai, esqueci!

Os punhos de Rony estavam se fechando. Sua paciência tinha limite, e era bem curta.

- Ah, mas o Harry já acordou.

- Já? Você falou com ele?

- Não... ele parecia distraído ou pensativo demais para me notar...

Rony sabia muito bem porque Harry não a tinha notado. Provavelmente ele não quis notar Luna Lovegood.

- E Gina? Não vai me dizer que não sabe onde ela está! Vocês são amigas!

- Ah! Por que não perguntou antes sobre ela? - Rony bufou. - Ela estava lá na ala hospitalar também, esbarrei nela assim que saí.

Rony nem se deu ao trabalho de agradecer. Foi embora, deixando Luna falando sozinha.

*******

Gina estava indecisa sobre o que tinha que fazer. A ala hospitalar nunca esteve tão cheia de alunos como naquele dia; pelo menos ela não se lembrava disso. Lembrar... esquecer... Toda vez que ouvia essas palavras pensava em Harry. E pensar em Harry acarretava novamente sentir aquela indecisão.

A primeira coisa que fizera depois de acordar foi seguir direto para a ala hospitalar. Queria ver como Harry estava e, principalmente, saber se ele já tinha recuperado a memória. O esquisito era que, uma parte de Gina (a racional) queria que sua suposição de que uma noite de sono faria Harry se lembrar de tudo, fosse verdadeira. A outra parte (a emocional) não queria isso. Era egoísmo pensar assim, mas esse Harry, sem se lembrar de nada, era um Harry bem mais feliz.

Gina forçou-se a querer a primeira opção.

Tinha acabado de esbarrar em Luna, e ela lhe disse que Harry estava mais para o final da ala. Gina caminhava com passos dessincronizados; em dado momento eram rápidos, querendo chegar ao seu destino; no entanto, em outro, eram lentos, querendo retardar o que veria.

Porém, enfim, ela encontrou a cama de Harry. Ele estava deitado de lado, apoiando a mão no travesseiro e a cabeça na mão. Seu olhar era distante e perdido, e ele estava sem óculos. O curativo que tinha na cabeça era, diga-se de passagem, bem mais bem feito que aquele que Gina havia preparado no dia anterior. Ela se aproximou devagar, e Harry não notou sua presença; parecia perdido demais em seus pensamentos.

- Harry?

Por um segundo, ele pareceu não escutá-la, e Gina pensou em chamá-lo de novo. Mas no segundo seguinte, ele deu um sobressalto e sentou-se na cama, assustado. Olhou para Gina com os olhos desfocados, e ela, por um instante, admirou-o sem os óculos: seus olhos verdes ficavam bem mais ressaltados sem as lentes. Harry tateou na mesa do lado, procurando os óculos.

- Droga, ainda não me acostumei com isso... - ele resmungou.

Gina apanhou os óculos e colocou-os sobre os olhos dele.

- Assim está melhor?

Ele ajeitou a armação no rosto, e finalmente conseguiu focalizá-la.

- Ah, é você? - ele pareceu pensar. - Gina...

Harry não precisava dizer mais nada. Só por aquelas palavras, Gina já tinha percebido que sua suposição estava errada. Harry não tinha recuperado suas lembranças. Mas o que custava perguntar?

- Anh... E então, como você está, Harry? Lembra-se de algo?

Ele abaixou a cabeça e negou. Sentou-se um pouco mais na ponta da cama.

- Por que você não senta?

Gina se sentiu um pouco sem jeito pela situação, mas mesmo assim, sentou-se na beirada da cama dele.

- Então você não se lembra mesmo de nada?

- Só do que aconteceu ontem... - ele disse lentamente. Gina tomou um sobressalto, mas ele logo acabou com o seu susto. - De tudo que aconteceu depois que eu acordei e fomos para caverna e...

- Ah... Pode parar, já entendi. - era tão esquisito conversar com ele assim. Gina realmente não sabia como lidar com aquela situação. Era algo tão... inusitado.

- Você foi a única que veio me ver.

Gina encarou Harry nos olhos. Ele sorriu para ela.

- Eu... tentei vir o mais cedo possível. - ela disse rápido, sentindo uma coisa esquisita no topo do seu estômago ao vê-lo sorrir. - Sabe, para você não se complicar se aparecesse outra pessoa aqui... alguém que não conhece, entende?

- Bem, eu não conheço ninguém.

- Pelo menos comigo você já falou.

- É, você eu conheço. Mas e aquelas pessoas que vimos ontem?

- Quem?

Harry parecia estar forçando a memória. Ele franziu as sobrancelhas.

- Aquele garoto loiro... - ele contava nos dedos. - Aquele outro com os cabelos iguais ao seu... a menina loira... e também tinha aquele homem com cara de cansado que me trouxe pra cá.

- Ah, claro. - ela sorriu, reconhecendo as descrições dele. - O loiro é Draco Malfoy, e eu já falei para você dele. Ele não viria mesmo te visitar, só se fosse para te encher de insultos. O ruivo é meu irmão, Rony Weasley.

- Seu irmão?

- É. Mas antes de ser meu irmão, ele é seu amigo. Seu melhor amigo. - Harry parecia surpreso. - Ele não apareceu aqui porque provavelmente ainda não acordou.

- E os outros?

- A garota loira é minha amiga, Luna Lovegood. Ela disse que passou por aqui, mas você não a viu. E homem a que você se referiu é Remo Lupin, nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

- Defesa Contra as Artes das Trevas?

- É uma matéria que temos.

- Hum... Ei, Gina?

- Que foi?

- O que vamos fazer a respeito disso?

- Disso? Disso o quê?

- Sobre mim... Vamos contar para as pessoas? Você disse sobre o seu irmão, vamos contar para ele?

Gina parou para pensar. Por duas vezes, quase contou a Rony e Luna sobre o que tinha acontecido com Harry, mas pensando bem, ela não saberia dizer se deveria ou não. Rony estava tão preocupado com Hermione, que ficava complicado saber se era ou não o momento certo para falar isso a ele. Foi nesse instante que ela ouviu uma voz conhecida.

- Ah, vocês estão aí?

A garota se virou, e Harry também olhou para onde vinha a voz. Não era que o dito cujo estava ali, bem de frente a eles? Rony cruzou os braços e olhou para Gina e Harry.

- Eu estava te procurando, Gina. Pensei que fôssemos vir juntos aqui.

- Acordei mais cedo... - ela disse rapidamente. - Não te encontrei.

Rony não se importou. Ele olhou para Harry.

- E aí, cara? Como está?

Harry parecia estar entretido em tentar se lembrar dele. Gina começou a temer por ele dar alguma mancada.

- Ah! Rony! - ele olhou de esguelha para Gina, e ela confirmou com a cabeça. - Eu... estou bem.

- Isso é ótimo. Estava preocupado com você também, mas nem precisava, não é? Você sempre se safa das coisas mesmo...

Harry não entendeu o que ele quis dizer, mas Gina sim. Rony descruzou os braços.

- Vocês sabem onde está Hermione? Madame Pomfrey está muito ocupada para responder à pergunta do insignificante Rony Weasley aqui.

- Eu não sei. - Gina respondeu. - Eu vim direto ver o Harry.

Rony ergueu as sobrancelhas exatamente do jeito que Gina não gostava.

- Ver o Harry? Claro... - Harry, mais uma vez, fez uma cara de aparvalhado. Rony se virou para ele. - E você, sabe da Mione?

- Mione?

- Ele não sabe. - Gina emendou bruscamente, temendo pelo pior. - Estávamos justamente conversando sobre isso.

- Ah, que pena... - Rony suspirou desanimado. - Eu queria saber dela, estou preocupado.

- Ela deve estar bem. - Gina o encorajou. - Por que você não pergunta de novo para Madame Pomfrey?

- Acho que é o que vou fazer. Até mais.

Harry esperou até que Rony estivesse longe para falar.

- Quem é Hermione?

E então Gina passou uns bons dez minutos para explicar quem era ela e, o que mais levou tempo: a complicada relação entre ela e Rony. Era óbvio que, se mesmo Gina não entendia isso direito (admita-se que Rony e Hermione eram pessoas complicadas de se entender), Harry entendeu menos ainda.

Realmente, seria um longo dia... Mais do que isso; Gina achava que, dali em diante, todos os dias seriam muito, muito longos e difíceis.

*******

Demorou uns bons quinze minutos para que Madame Pomfrey tivesse tempo para atender Rony e lhe responder a simples pergunta: "Onde está Hermione Granger?". Mas enfim, depois de muita insistência, ele conseguiu.

Segundo a enfermeira, Hermione estava em uma ala separada. Rony também perguntou como ela estava, mas Madame Pomfrey pareceu relutante em responder. Ele desistiu e resolveu checar com seus próprios olhos.

A cama de Hermione era a terceira, contando-se da porta. Rony não precisou se aproximar muito para ver que ela ainda não tinha acordado. Enquanto chegava perto da garota, observou-a dormindo. Estava deitada de costas, respirando calmamente. Nem parecia a Hermione que ele conhecia, que geralmente sempre estava bufando quando ele a provocava por algo bobo.

Rony puxou uma cadeira e sentou-se próximo dela. Ao seu redor, havia outros alunos que tinham se ferido no ataque e colegas que, como ele, também tinham vindo ver como estavam os amigos. Mas Rony não estava olhando para eles. Era como se somente ele e Hermione estivessem ali, naquele lugar.

Às vezes ele não conseguia entender a si mesmo. No momento da provocação, quando ele e Hermione discutiam, ele até achava divertido ver a face dela ficar vermelha e suas bochechas incharem de fúria. Mas depois ele começava a ver que não tinha muita graça. Não tinha graça ficar sem falar com ela nem que fossem dois dias ou uma semana. Não tinha graça acordar e não receber seu "bom dia" junto a um sorriso ou, quem sabe, um beijo.

E agora ela estava ali, dormindo. Rony suspirou. A única coisa que ele queria era que ela abrisse um olho e, até mesmo, virasse-lhe a cara quando visse que era ele que estava ali. Mas nada disso estava acontecendo.

Ela respirou mais forte, e Rony se sobressaltou. Alarme falso.

- Sim, Poppy, eu vou pegar para você. - ele ouviu uma voz feminina gritar.

Assim que se virou, Rony viu a sua professora de Transfiguração, Minerva McGonagall, entrar com um ar atarefado e ocupado. Ela cumprimentou alguns alunos que estavam próximos à porta e, estranhamente, aproximou-se de onde estava Rony.

- Oh, bom dia, Weasley. - ela falou rapidamente, e ele logo percebeu porque ela tinha se aproximado: havia um armário de poções ao lado da cama de Hermione, e a professora estava se esticando para pegar algo no alto dele.

Rony se levantou e, com facilidade devido à sua altura, pegou o frasco para ela, que olhou aturdida para o garoto.

- É isso, professora?

- Erm... isso mesmo, Weasley. Obrigada. - ela aceitou o frasco. - É impressionante como esses jovens crescem hoje em dia... - comentou, vagamente impressionada como Rony era mais alto que ela. A Profª. McGonagall olhou para Hermione na cama. - Como está Hermione?

Ser chamada pelo primeiro nome pela Profª. McGonagall era um motivo de orgulho e satisfação para Hermione, Rony sabia muito bem. Desde que os dois se tornaram monitores e, posteriormente, monitores-chefes, eles tinham bem mais contato com a professora. Ela, pelo menos era a impressão que Rony tinha, sempre simpatizou bastante com Hermione e, obviamente, a garota era bem dedicada que Rony à monitoria. Gradualmente, a professora começou a chamá-la pelo primeiro nome. Por sua vez, Rony não se importava em ser sempre chamado pelo sobrenome. Diferente de Hermione, ele não tinha essa mesma "obsessão" em fazer boa figura aos professores.

- Na verdade, eu não sei direito... - Rony lamentou. - A Madame Pomfrey estava ocupada demais para me dizer algo de concreto sobre o estado dela.

A Profª. McGonagall se aproximou mais um pouco do leito e olhou para Hermione com uma expressão padecida.

- Ah, tenho certeza de que ela acordará em breve. Hermione é forte. E sei que você vai cuidar bem dela, não é? - ela olhou para Rony, e ele engoliu em seco. - Pelo menos eu espero que sim. - ela completou severamente.

- É claro que vou cuidar dela.

A professora sorriu, alçando as sobrancelhas.

- Eu sei. - ela se virou para ir embora. - Está dispensado de suas atividades de monitor-chefe para se dedicar à sua... amiga, Sr. Weasley.

O queixo de Rony caiu, e ele apenas ficou observando, abismado, a professora sair da sala. Olhou para Hermione, ainda dormindo tranqüilamente. Ela ficaria bastante feliz quando acordasse e soubesse que a professora se preocupava tanto assim com ela.

*******

- Isso aqui parece bem melhor hoje, sem chuva.

Harry parecia maravilhado com toda a magnitude de Hogwarts. Madame Pomfrey tinha dado alta a ele, e Gina resolveu lhe mostrar o castelo naquela tarde de domingo. Antes, eles tinham ido visitar Hermione, e ela ainda não tinha acordado. Rony estava fazendo vigília lá o dia todo.

- Você não viu nada. - Gina falou. - Esses jardins ficam bem mais bonitos na primavera.

Eles se aproximaram do lago, e Harry se sentou na grama. Ele tirou os óculos e pendurou-os na gola da camisa. Com a ponta dos dedos da mão direita, começou a mexer na água do lago, despreocupadamente.

- Ei, isso tá gelado. - ele riu.

Gina sentou-se ao lado dele, observando-o. Ele estava tão diferente. Para esse Harry, tudo era novo e divertido. Qualquer coisa o fazia rir, e ele tinha peculiaridades totalmente diferentes do Harry que Gina conhecia. Por exemplo: ele, à todo momento, tirava os óculos, coisa que o antigo Harry nunca fazia. Quando Gina perguntou a ele por que ele não usava os óculos direto, ele respondeu que eles eram pesados e o incomodavam. Só os colocava porque não conseguia enxergar direito.

- Ai! - Gina exclamou no momento em que Harry lhe atirou gotas de água gelada na face. - Não faz isso!

- Por quê? - ele riu. - É engraçado.

Ele parecia um menino. Apenas um menino brincalhão. Mas Gina sabia que isso não estava certo. Harry não era assim na realidade; aquele Harry que ela via agora era apenas uma ilusão. Uma doce ilusão.

- Harry... - ela começou séria. - Nós precisamos conversar.

- Sobre o quê? - ele perguntou, ainda brincando com a água. - Você falou o dia inteiro tentando me explicar o que fazemos nesse lugar.

Ele estava certo. Gina tinha tagarelado sobre Hogwarts durante todo o dia, tentando fazer-lhe se habituar aos hábitos que tinham ali. Mas era bem complicado. Ou Harry não prestava atenção e distraía-se com algo diferente que avistava, ou então, o que era pior, ele não entendia.

- É sobre sua memória. - ele a olhou, ainda com a mão dentro d'água. - Você não pode continuar assim, tem que recuperá-la.

- Ah, claro, e como eu vou fazer isso? Batendo minha cabeça na parede?

Gina suspirou. Ela já tinha notado que Harry não gostava muito de falar sobre sua perda de memória, mas isso era necessário.

- Talvez haja algum feitiço... alguma poção...

- Talvez se você resolvesse contar a alguém o que está acontecendo, esse alguém pudesse nos ajudar. Sinceramente, não entendo porque você diz que temos que esconder isso. Você não acha que será difícil esconder?

- Sim, mas... é o que precisamos fazer.

- Por quê?

Gina ainda não tinha contado muita coisa sobre Voldemort a ele. Estava adiando isso o quanto podia. O porquê dela não querer contar era exatamente por causa de suas aflições a respeito do que Voldemort poderia fazer se soubesse que Harry perdera a memória. E, por isso, ela tinha medo de contar a alguém o que tinha acontecido.

Além disso, havia mais uma razão, que a torturava. Harry só tinha ficado assim por sua, e somente sua, culpa. Se ele não tivesse se arriscado para salvá-la da Maldição da Morte que Bellatrix Lestrange lhe atirara (e Gina se culpava pelo seu descuido), ele nunca teria perdido a memória. Ainda seria aquele mesmo Harry Potter. Triste, calado e solitário.

Oh, não, o seu lado emocional estava aflorando novamente... Por que ela sempre tinha que se forçar a querer que Harry voltasse ao normal?

- É, acho que não tem um porquê... - Harry disse, depois do silêncio de Gina. - Ou então você não está disposta a me dizer.

- Não, é que...

- Boa tarde, meninos! - uma voz ressonante disse atrás deles. Quando se viraram para ver, os olhos de Harry se arregalaram ao encontrarem o meio gigante Rúbeo Hagrid.

- Ah, olá, Hagrid. - Gina cumprimentou. Harry olhou para ela e começou a, silenciosamente, tentar decorar o nome dele. - Nós não vimos você chegar.

- Eu passei por aqui e vi vocês. Por que não vêm tomar um chá comigo na minha cabana e me contam como estão as coisas?

Como sempre, os bolinhos de Hagrid estavam grudentos, e Gina preferiu não experimentá-los. Ela estava sentada na mesa, duas xícaras de tamanho normal e uma do tamanho de uma tigela à sua frente. Hagrid fazia o chá enquanto falava, e Harry parecia muito alegre brincando com Canino, que lambia seu rosto. Tão alegre que Gina estava com medo que Hagrid estranhasse.

- Vocês preferem chá de camomila ou de erva-mate? - Hagrid perguntou lá da cozinha.

- Qualquer um está ótimo, Hagrid! - Gina respondeu, aumentando o tom de voz para que ele ouvisse. Harry riu assim que Canino lambeu seu nariz.

- Você parece bem alegre hoje, hein, Harry? - Hagrid comentou assim que entrou na sala, trazendo o bule de chá. - Fazia tempo que eu não via você brincando com Canino assim.

Harry olhou para ele e sorriu. Gina tremeu. Será que Hagrid não tinha notado algo diferente em Harry? O meio gigante se sentou pesadamente na cadeira ao lado de Gina, e começou a colocar chá na xícara dela.

- Você não vai vir tomar chá, Harry? - ele perguntou, com o bule posicionado sobre a xícara de Harry, pronto para enchê-la.

- Ah... claro. - ele respondeu sem jeito, enquanto Canino lambia suas orelhas.

- É bom te ver assim sorridente. - Hagrid comentou assim que Harry se sentou. O garoto sorriu para ele, e Hagrid se virou para Gina. - Você sabe o que aconteceu com ele, Gina?

- Não. - ela respondeu de um fôlego só.

- Hum... - Hagrid deu um grande gole na sua enorme xícara de chá, lançando um olhar significativo aos dois garotos. - Aconteceu algo que eu não saiba?

O estômago de Gina afundou, e ela engasgou com o chá. Tanto Hagrid, como Harry, olharam curiosos quando ela teve um pequeno acesso de tosse. Gina estava perturbada. Então Hagrid tinha percebido que algo estava errado?

- Aconteceu algo entre vocês dois? - ele sorriu marotamente.

Harry abaixou os olhos e riu ligeiramente para sua xícara de chá. Gina engasgou novamente. Então era a isso que Hagrid se referia?

- Não aconteceu nada, Hagrid. - ela olhou furiosa para o meio gigante. Assim como grande parte da população de Hogwarts, ele também sabia que Gina já tivera uma queda por Harry. Na realidade, Gina achava que o único que nunca notara isso era o próprio Harry.

Hagrid riu, e tomou mais um gole de chá. Harry começou a examinar os bolinhos.

- E então, como está Hermione? Eu não pude ir vê-la... - Hagrid lamentou. - E Rony, está com ela?

- Ah, sim. Ele esteve lá o dia inteiro. - Gina falou. - Hermione ainda não acordou.

- Oh... que pena. Mas, se Deus quiser, ela logo vai estar bem novamente. Andando por aí cheia de livros nos braços e repetindo as matérias que caem nos N.I.E.M.s, não é?

Ele riu, bem como Gina. Harry, por sua vez, não esboçou nem ao menos um sorriso. Provavelmente não tinha entendido a que eles se referiam. Gina olhou para ele e viu que ele movia sua boca de um jeito, no mínimo, esquisito.

- E você, Harry? Como está seu ferimento? - Hagrid perguntou, apontando o curativo na cabeça do garoto.

Harry olhou para Hagrid, ainda movendo seus lábios estranhamente. Gina começou a ter um pressentimento ruim. Estava imaginando o que Harry tinha feito, e não era nada bom. Hagrid riu alto novamente.

- Você está sorridente hoje, mas vejo que ainda está calado.

- Meus... - Harry começou a falar, e sua voz estava abafada. - ...dentes...

- Oh, não! - Gina não se conteve.

Harry abriu a boca. Seus dentes estavam grudados por causa dos bolinhos de Hagrid. Gina suspirou; ela tinha esquecido de avisá-lo para que não comesse. Hagrid ergueu as sobrancelhas quando Harry voltou a mastigar e, finalmente, conseguiu engolir o bolinho.

- Anh... você não gostou? - Hagrid perguntou choroso.

- Gostei. - Harry falou rindo, pegando mais um bolinho. Hagrid parecia feliz e surpreso. - Isso é divertido.

Gina olhou abobada enquanto Harry colocava mais um bolinho na boca e começava a mastigá-lo. Hagrid voltou a tomar, feliz como nunca, seu chá. A garota suspirou. Talvez, em momentos como esse, fosse melhor ter o antigo Harry de volta.

Ou talvez não.


Bem, peço desculpas pela demora dos capítulos... É que eu tenho mta preguiça de postar aqui e acabo só colocando no meu site ou no ff.net... Mas vou tomar vergonha na cara e atualizar a fic aqui tbm ;)
Valeu p/ quem comenta os caps, fiko mtu feliz q gostem :)
Bjks mil e um
Kaka

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