O ataque ousado



Hogwarts, 22 de maio de 1998.

A minha vida é uma droga. Quando eu penso que as coisas vão melhorar... bam, tudo piora de novo. E fica ruim por muito, muito tempo. Sabe qual é a melhor hora do dia? Quando eu estou dormindo. Dá vontade de dormir o dia inteiro na verdade, só para não ver, saber e pensar em algumas coisas. Ou pessoas.
Hogwarts está insuportável. Nunca pensei que diria isso, mas é a mais pura verdade! Aliás, tudo está insuportável. Eu desisti de olhar o jornal – não agüento mais saber de mortes, torturas e todo o tipo de desastres. Todos nós vivemos em constante aflição. Você dorme num dia, e acorda no dia seguinte temendo que venha a notícia que as pessoas de que gosta estejam feridas ou coisa pior. Tem gente que até tem medo de abrir correspondência com medo de notícia ruim. Perdi a conta de quantos pesadelos tive nos quais a Toca amanhecia com a Marca Negra pairando sobre ela. É horrível, mas você não consegue parar de pensar que isso pode acontecer. Já aconteceu com um monte de gente aqui em Hogwarts. E não dá para ter a ilusão de que se está livre disso.
Os professores estão cada vez mais nervosos. Acho que nunca os vi dessa maneira. Dumbledore parece mais velho a cada dia, e quase não faz mais piadas nas refeições como sempre fez. Mas ele ainda não é o pior. Se você não quer levar uma invertida, desvie o olhar de Snape. E cuidado com o que faz na aula da Profª. McGonagall, ou pode ouvir umas boas. Até mesmo Hagrid está alterado; no outro dia, quando estava saindo da aula de Herbologia com Luna, surpreendi-o falando grosso com um terceiranista que tinha feito algo errado na aula de Trato de Criaturas Mágicas. Não culpo o pobre garoto por ter ficado aterrorizado depois daquilo – até eu fiquei assustada.
Ah, também tem os exames. Estou estudando desde já, mesmo que eles sejam somente no meio de junho, um pouco antes de um certo baile (no qual também não quero pensar muito). E estou estudando pra valer, e olha que é só o sexto ano. Os alunos do quinto e do sétimo estão se matando. Ana Abott teve uma crise de choro no meio do Salão Principal na terça passada. E Hermione andou aterrorizando criancinhas que riam alto no corredor, por estarem fazendo barulho.
Ela me contou outro dia que a poção – sim, aquela poção – ainda não está pronta. Parece que falta um ingrediente que ela encomendou, algo ilegal... Rony me confidenciou que pediu para que os gêmeos comprassem, afinal, eles têm livre acesso a Mundungo Fletcher, perito em ilegalidades. O bom é que ele não faz perguntas, só está mesmo interessado nos galeões. De qualquer maneira, eu não quis saber muito do assunto. Não gosto muito de pensar no quê vai acontecer quando essa poção ficar pronta.
Por falar nisso, eu ainda não estou falando com Harry. Bem, a gente troca algumas frases quando a circunstância nos obriga, na maioria das vezes quando estamos com pessoas ao nosso redor ou no meio de uma conversa, mas tenho a impressão de que isso não pode ser considerado “uma boa convivência”. Hermione chegou a falar comigo, insistir para que parássemos com essa briga, mas eu disse que não vou pedir desculpas por algo que não é culpa minha (mesmo que ela não saiba ao certo o que aconteceu; eu não tive coragem de contar). Tá certo que o Harry tentou falar comigo umas duas vezes... ou três. O.k., em uma delas ele parecia realmente chateado e arrependido, e disse que tinha algo muito importante a me dizer, mas ele tinha que escolher bem a hora que eu tinha que estudar com Luna para resolver falar comigo?
Tá bom. Eu ando sendo meio intransigente também. Mas o que posso fazer se, quando vejo Harry, tenho duas vontades: dar um tapa na cara dele ou sair correndo do lugar onde ele está?
Dumbledore anunciou semana passada, para toda a escola, que haverá um baile de fim de ano depois dos exames. Todos estão alvoraçados. Os professores tinham razão, isso fez com que os alunos esquecessem um pouco a tensão da guerra. Os assuntos das conversas começaram a variar um pouco. Todo mundo está correndo atrás de um par agora. Dois garotos me convidaram, mas eu não aceitei. Não porque eu esteja esperando que aquela outra pessoa o faça... não mesmo! É só que... bem, eu não estava mesmo interessada em ir com eles. Luna repete feito uma matraca todo o tempo que eu estou sendo boba e que deveria ter aceitado, que eu não posso esperar o Harry para sempre e blá, blá, blá... (isso porque eu nem contei que briguei com ele, aliás, nem me lembro de contar que eu estava com ele). A Luna é estranha, parece que ela “capta as coisas no ar”. Bem, de qualquer maneira, eu não queria ir com aquele Kevin “não-sei-das-quantas” da Corvinal. E muito menos com o outro garoto que me convidou... foi inacreditável quando Michael Corner me pediu para ir com ele, mesmo depois de tudo que aconteceu! Eu sei muito bem que ele esteve com Cho Chang o ano passado, mas agora que ela saiu da escola... vai ver que brigaram ou sei lá o quê. De qualquer maneira, eu não iria com ele nem que me pagassem, seria ridículo.
Definitivamente, eu não dispensei Kevin e Michael por causa do Harry. Nunca por causa do idiota e estúpido do Harry, que nem escolher a hora certa de tentar falar comigo sabe!
Ultimamente eu só tenho falado mesmo com ele nos treinos da Grifinória. Aliás, hoje mesmo teve um treino, agora pouco, de noite. Amanhã é o jogo contra a Sonserina, a final. Não quero nem pensar no que vai acontecer... Estou com um mau pressentimento. Como se não fosse o bastante toda a tensão por causa da guerra, com a proximidade desse jogo, a escola está ainda mais tensa entre grifinórios e sonserinos. Algumas pessoas foram parar na ala hospitalar. Amanhã será um dia difícil... além de tudo, no final do jogo, eu terei a detenção com a McGonagall. Não quero nem pensar nisso...
Estou nervosa a respeito do desempenho de Harry no jogo de amanhã. O.k., ele já participou dos outros jogos do jeito que está, mas esse é diferente; é a final, contra a Sonserina!
Droga, tenho que parar de falar do Harry nesse diário. Estou com vontade de me bater por isso. Estúpida, estúpida! É isso que eu sou. Uma perfeita I-D-I-O-T-A!
Ah... vou parar de mentir. Eu queria que o Harry me convidasse para o baile. Eu queria que essa briga ridícula terminasse. Eu queria que ele não me esquecesse. E eu não vou parar de escrever sobre ele nesse diário patético.

Virgínia Weasley





Um balaço passou zunindo por sua cabeça, e Gina se safou dele por milímetros. Ela olhou para o lugar de onde ele viera e viu Crabbe agitar o bastão ameaçadoramente; Goyle, um pouco além, estava pronto para rebater os jogadores ao invés dos balaços – ele já tinha acertado Julliane Lewis na barriga, e a garota precisou de cinco minutos para recuperar o fôlego. A Grifinória tinha ganhado um pênalti por isso, mas Lara Hinch acabou perdendo-o. O placar estava em 130 para a Sonserina e 120 para a Grifinória, e aquele já era o jogo mais longo daquele ano. O pomo de ouro não dava as caras, e qualquer uma das duas equipes tinha chances de vencer.
Juca Sloper, atrapalhado como sempre, acabou jogando um balaço nas balizas da Grifinória, atrapalhando Rony, que deixou passar mais um gol. A torcida da Sonserina vibrou, mas 20 pontos de diferença eram quase nada.
Rony assumiu a goles e passou-a rapidamente para Gina, que contornou dois artilheiros adversários, um balaço de Goyle, e passou para Lara, que marcou. Foi a vez dos grifinórios gritarem; as torcidas da Lufa-lufa e da Corvinal também estavam do lado dos leões e fizeram coro. Gina se aprumou na vassoura e voltou ao jogo, sentindo o vento uivar em seus ouvidos enquanto voava depressa, um sorriso em seu rosto.
O narrador chamou a atenção para a disputa entre os apanhadores; Gina ficou apreensiva no mesmo instante. Ela olhou para cima, como todos, e viu Harry e Malfoy numa disputa acirrada pelo pomo, bem à frente dos dois; qualquer um deles poderia apanhá-lo naquele momento. Malfoy deu uma cotovelada forte em Harry, mas o garoto devolveu com a mesma força; eles pareciam discutir enquanto voavam, e não houve quem não parasse o que estava fazendo para olhar a briga entre os apanhadores. O artilheiro da Sonserina que estava de posse da goles parecia ter-se esquecido que estava no meio de um jogo, pois apenas ficou segurando-a, olhando para cima embasbacado, como se a bola fosse apenas um pacote de doces da Desdosdemel.
A torcida prendeu a respiração quando os apanhadores fizeram uma curva em direção ao chão. Gina fechou os dedos com mais intensidade em torno do cabo da vassoura, aflita. Mas Harry parecia saber o que estava fazendo. Ele praticamente deitou na Firebolt e imprimiu velocidade à vassoura, ganhando uma certa vantagem sobre Malfoy que, enfurecido, deu um esbarrão com o corpo em Harry, que pareceu perder o equilíbrio.
“Falta!”, Rony se esgoelou lá das balizas, e a torcida da Grifinória se levantou indignada. Madame Hooch apitou, mas já era tarde demais. Gina prendeu a respiração; de repente ela percebeu que seu coração estava apertado e que sua garganta estava muito seca. Seus olhos se arregalaram.
Não dava mais para ver o pomo – algum dos dois o tinha pegado. Mas isso era o que menos importava no momento. Gina viu, como em câmera lenta, o momento em que Harry desequilibrou após o empurrão de Malfoy. Eles estavam terrivelmente próximos do chão e das balizas da Sonserina. Harry girou na vassoura, assumindo um ângulo estranho, e ficou dependurado nela, ainda voando numa velocidade incrível. No entanto, ele não foi para o chão sozinho – puxou, pelas vestes, Malfoy junto com ele. Os dois tiveram um tombo feio, engrolando-se na grama até pararem, suas vassouras sendo jogadas uma para cada lado do campo.
Houve um grande e estrondoso uivo da torcida ao redor, mas Gina não estava ouvindo... Ela somente estava consciente do próprio som do seu coração batendo descompassado. Não, por favor, não pode estar acontecendo.
Todos ouviram com clareza o som metálico produzido pela batida dos corpos de Harry e Malfoy na base das balizas sonserinas. Eles finalmente pararam de rolar. Mas não se mexiam mais.
Pelo amor de Deus, não...
Gina embicou a vassoura na direção do chão, voando mais rápido do que jamais tinha voado na vida.
Ela não era a única. Os doze jogadores que ainda permaneciam no ar também se apressaram em voar para o local da batida. O som de centenas de pessoas se levantando ao mesmo tempo, como se fosse uma onda gigantesca, pôde ser ouvido; todos queriam tentar ver o que tinha acontecido.
Na cabeça de Gina, um único pensamento ecoava em sua mente. Não pode... não pode estar acontecendo tudo de novo... não novamente...
Ela aterrizou desajeitada no chão, largou a velha Cleansweep de qualquer jeito e correu para onde estava Harry. No entanto, vários jogadores já tinham se juntado no local. Crabbe balançava o corpo inerte de Malfoy tentando acordá-lo. Gina acotovelou André Kirke para ter uma visão melhor do que estava acontecendo. Ela viu Harry, deitado num ângulo estranho no gramado, seus olhos fechados. Um filete de sangue escorria de sua testa...
Não, por favor... De novo não...Gina ia correr para perto de Harry, mas foi detida por Madame Hooch, que a empurrou para o lado, gritando com Crabbe para que ele parasse de mexer em Malfoy e correndo até os garotos inconscientes. Gina desequilibrou, mas foi segura por alguém; ela olhou para cima e viu Rony, amparando-a.
- Você está bem? – ele perguntou só para se certificar. Gina acenou afirmativamente com a cabeça, ainda atordoada com tudo aquilo, mas se aprumando novamente de pé. Rony virou o rosto na direção do círculo de jogadores ao redor dos apanhadores. – E Harry?
- Não deu pra ver direito. – Gina disse rápido, sentindo o estômago afundar ao se lembrar da imagem do filete de sangue escorrendo em sua cabeça. Tudo estava acontecendo tão depressa, que o cérebro de Gina estava começando a entrar em pane.
Lara e Julliane abriram espaço para que Rony e Gina pudessem enxergar direito o que estava acontecendo. Madame Hooch estava ajoelhada ao lado dos garotos inconscientes, com uma expressão séria no rosto. Ela se virou para Goyle, que deu um pulo de susto.
- O que todos vocês ainda estão fazendo parados aqui? – ela se dirigiu enérgica a todos os jogadores. – Alguém vá chamar Madame Pomfrey e o diretor!
Juca Sloper fez menção de ir, mas estacou antes de começar, virando-se para Madame Hooch de volta.
- Eles já estão vindo, senhora.
Rony e Gina viraram o rosto naquela direção. A garota divisou Dumbledore, Madame Pomfrey, Lupin, Hagrid e a Profª. McGonagall se aproximando rapidamente. Havia alguns alunos vindo atrás deles também. Hermione, que estava entre esses alunos, correu até Rony e Gina.
- Como está o Harry? – ela perguntou sem fôlego, o rosto vermelho e suado pela corrida. – Eu vi... lá de cima...
- Ele bateu a cabeça... – Gina disse com a voz fraca, concretizando seus medos. Hermione arregalou os olhos de pavor e tentou enxergar alguma coisa no meio da confusão de alunos. O filete de sangue tinha feito um rastro no rosto de Harry até pingar na grama.
Enquanto isso, os alunos abriram espaço para deixarem os professores passarem; Dumbledore foi o primeiro. Gina ficou apavorada com o que viu nos olhos do diretor; ela nunca o tinha visto com aquela expressão. Havia medo, medo real, nos olhos dele ao fitar Harry no chão. Gina sentiu que suas pernas ficavam bambas e se apoiou em Rony por um segundo. Hermione respirou bem fundo.
- Oh, meu Deus! – a Profª. McGonagall exclamou espantada, colocando as mãos na frente da boca. – O que aconteceu com eles?
- Eles estão perdendo sangue, diretor. – Madame Hooch, ainda ajoelhada ao lado dos garotos, disse com um tom urgente na voz.
- Precisamos levá-los rapidamente para a ala hospitalar, então. – Dumbledore falou prático. – Se usarmos levitação, será muito lento. – ele se virou para Hagrid, que fitava Harry com os olhos perdidos, mas logo despertou de seus devaneios.
- Pode deixar comigo, eu levo Harry, Dumbledore.
Lupin se adiantou para Draco Malfoy.
- Eu carrego o Sr. Malfoy, Dumbledore.
O diretor acenou com a cabeça, sério, e se virou para Madame Hooch.
- Poppy, siga na frente e ajeite as coisas na ala hospitalar para que eles sejam atendidos assim que chegarem lá.
Ele não precisou falar duas vezes; Madame Pomfrey pôs-se a andar o mais depressa que suas pernas permitiam. Ao mesmo tempo, Hagrid erguia Harry nos braços com cuidado; Gina se deu conta de que como ele parecia pequeno e frágil nos braços do enorme meio-gigante. Ela se pegou pensando naquele dia, há muito tempo, no qual Harry também tinha batido a cabeça. Não pode ter acontecido de novo.
Lupin também ergueu Malfoy cuidadosamente, e ele parecia tão mal quanto Harry. Algumas garotas sonserinas correram até o professor para saber como Malfoy estava; os jogadores da Sonserina fizeram o mesmo. Madame Hooch os dispersou, mandando que parassem de atrapalhar. Os professores começaram a sair do campo rapidamente, e Gina, Rony e Hermione correram para acompanhá-los. Os jogadores da Grifinória também foram junto.
- Será que eles vão ficar o.k.? – Gina escutou Lara perguntar atrás deles.
- Qual dos dois terá pegado o pomo? – André questionou.
- Que pergunta besta! – Julliane retrucou. – Eu não acredito que está preocupado com isso agora!
- Mas era a final!
Gina parou de escutar a conversa dos companheiros. Eles já estavam no Hall de Entrada. Ela percebeu que, bem mais à frente, Dumbledore e McGonagall estavam aos cochichos.
- Será que... – Rony murmurou hesitante, observando o grupo à frente. - ...será que agora que Harry bateu a cabeça... de novo...
- Ele não pode ter perdido a memória mais uma vez. – Gina disse depressa, desesperada para que estivesse certa.
- Eu não ia dizer isso. – Rony falou. – E se ele recuperou a memória?
Hermione enrugou a testa.
- De onde você tirou essa idéia maluca, Rony?
Ele deu de ombros.
- Sei lá... talvez agora... com um novo choque...
- Isso não faz sentido. – Hermione insistiu, descrente.
- Mas e se Rony estiver certo? – Gina divagou, começando a se encher de esperança. – Não precisaríamos usar a poção, não é?
- Claro que não, mas... – Hermione, então, vendo a expressão esperançosa de Gina, amenizou o tom de voz. – Mas não crie muitas esperanças, Gina... Eu duvido que isso possa acontecer.
- Você não pode saber sempre de tudo, Hermione. – Gina retrucou revoltada. Aquela era uma possibilidade. Harry não precisaria mais daquela maldita poção...
Hermione pareceu magoada com a resposta atravessada de Gina, mas permaneceu em silêncio. Rony olhou de uma garota para a outra e suspirou com desânimo. Eles tinham chegado à ala hospitalar.
Os professores entraram rapidamente na ala junto com Harry e Malfoy. Rony, Gina e Hermione entraram correndo logo depois, no entanto, quando eles iam passar pela porta que dava da recepção para a sala dos leitos, a Profª. McGonagall fechou a porta bem na cara deles com estrondo.
- Ei, isso é uma falta de educação! – Rony gritou enfurecido para a porta fechada. – Não se trata as pessoas assim, sabia?
Hermione cruzou os braços e bufou.
- Era previsível que eles não nos deixariam entrar.
- Mas não é justo! – Rony insistiu.
Gina suspirou e se encostou à porta, desanimada. E se Harry esquecesse tudo de novo? E se ele lembrasse de tudo, e ficasse com raiva de Gina? Eles ainda estavam brigados...O restante dos jogadores e alunos chegaram atabalhoadamente. André, Juca, Lara e Julliane se aproximaram dos três.
- E aí? – Juca perguntou a Rony.
- Não nos deixaram entrar. – ele respondeu bravo, soltando um palavrão.
- Então não adianta nada ficarmos aqui, não é? – Julliane disse.
- Nós vamos ficar. – Gina retrucou emburrada, virando-se para Rony e Hermione. – Pelo menos eu vou.
- É claro que nós vamos ficar também, Gina. – Hermione respondeu severamente. – Onde você acha que eu e Rony iríamos numa situação como essa? Tomar um chá?
Gina percebeu que estava sendo infantil e, envergonhada, desviou o rosto do olhar de Hermione.
- Vocês nos dão notícia, então? – Lara pediu. Rony apenas acenou com a cabeça, e eles foram embora em seguida. Gina levantou os olhos e percebeu que não estavam sozinhos; Pansy Parkinson, Crabbe, Goyle e um garoto franzino que Gina sabia se chamar Teodoro Nott estavam montando guarda. Pansy Parkinson estreitou os olhos quando seu olhar cruzou o de Gina.
- Aposto que devem estar bastante contentes, vocês três. – ela acusou. Hermione olhou para ela como se a sonserina pertencesse a outro planeta. – Aquele maldito Potter, fez tudo de caso pensado! É culpa dele Draco estar assim!
- Você enlouqueceu, Parkinson, é a única explicação... – Hermione disse em tom de fingido lamento. Atrás da sonserina, Crabbe e Goyle faziam expressões ameaçadoras. Aquele tal de Nott apenas observava a cena como se estivesse entediado. Rony cerrou os punhos.
- Se alguém aqui tem culpa, esse alguém é Malfoy! – Gina disparou, sentindo o sangue ferver. – Foi ele quem empurrou Harry!
- Eu vou dizer uma coisa, e é bom que escute bem, garotinha. – Pansy Parkinson apontou o dedo em riste para Gina. – Você já está na lista negra pelo que fez com Draco na frente de todo mundo aquele dia... E eu espero poder cuidar de você pessoalmente... – ela ameaçou com o tom de voz perigosamente brando. – Agora o seu querido Potter... O que é dele já está guardado. Vamos ver quem ri por último no final dessa guerra...
Gina sentiu o sangue subir fervente em suas veias. Ela não ia ficar agüentando aquele desaforo. Não iria mesmo.
PAF.
Uma marca vermelha dos dedos de Gina ficou estampada na face de Pansy Parkinson. Ela se virou lentamente para Gina, seus olhos irradiando fúria...
- Ora, sua vaca...
Porém, antes que a sonserina pudesse tentar fazer algo, Rony se interpôs na frente de Gina, segurou os braços da garota e a empurrou ligeiramente.
- Nunca mais ouse falar assim da minha irmã! – ele gritou em tom de ameaça. A sonserina se desequilibrou para trás, mas Goyle segurou-a pelos ombros antes que caísse.
- Rony! – Gina exclamou furiosa por ele ter interrompido.
- Fica fora disso, Gina! – ele exclamou seus olhos postos em Crabbe, que estalava os dedos e se aproximava, pronto para a briga.
A respiração de Hermione estava rasa, mas ela parecia estar prestando atenção em outra coisa que não era a briga iminente entre Rony e Crabbe. Gina acompanhou o olhar da garota e percebeu que a maçaneta da porta estava girando e vozes vinham de dentro da sala onde estavam os professores. Droga. Eles ouviram.
Mas Hermione não parecia ser a única a perceber o perigo. Teodoro Nott puxou a manga das vestes verdes de quadribol de Crabbe e disse num tom urgente.
- Vai ter que adiar isso para mais tarde. – a voz dele era fina, mas havia um tom perigoso naquele garoto. Ele não era de brincadeira. – Vamos embora.
- Mas... – Pansy Parkinson começou a protestar.
- Agora!
No mesmo instante em que a Profª. McGonagall abriu a porta, as vestes dos sonserinos acabavam de sumir. Rony, Hermione e Gina se viraram para a mestra, ainda tensos. Ela franziu a testa e os encarou intrigada.
- O que estava acontecendo aqui?
- Nada, professora. – Hermione mentiu sem o menor pudor, surpreendendo Rony e Gina. – Estávamos somente nós três aqui.
A Profª. McGonagall hesitou por um instante.
- Tem certeza, Srta. Granger?
- Absoluta, professora.
Rony arregalou os olhos em espanto. A professora pareceu acreditar em Hermione e já ia fechando a porta quando Gina a segurou.
- Professora... por favor... como está o Harry?
McGonagall fitou a garota com uma certa pena, deu uma olhada rápida para dentro da sala e saiu pela fresta da porta, esgueirando-se e fechando-a atrás de si.
- Ele ainda está inconsciente. – a professora disse num tom preocupado. – Ele bateu a cabeça e perdeu muito sangue. – ela respirou fundo. – Só teremos certeza de seu real estado quando acordar.
- Professora... há algo sobre Harry que nós não contamos... – Hermione começou hesitante. Rony e Gina se viraram para ela. Ela vai contar aqui, agora? – Ele...
- Eu sinto muito, mas não tenho tempo para escutar agora, Srta. Granger. – a professora se desviou depressa, virando-se para Gina. – A propósito, Srta. Weasley, eu não me esqueci da sua detenção.
- O quê? – Rony perguntou engasgado. – Mas, agora...
A professora apenas deu um olhar de aviso para Rony, que se calou indignado. Gina não estava acreditando no quê estava ouvindo.
- Srta. Weasley, quero que vá até o Sr. Filch...
- Mas, professora...
- ...e peça para ele as instruções...
- Mas, agora...
- Não discuta comigo, Srta. Weasley! – a professora disse severamente. – A senhorita fez algo errado, precisa ser punida e sabe muito bem disso, há muito tempo. – Gina engoliu em seco, e desviou os olhos do rosto da professora, emburrada. – Quero que faça isso agora; quando eu voltar aqui não quero vê-la, entendido?
Gina acenou afirmativamente com a cabeça. Quando McGonagall ia abrir a porta, Hermione ainda tentou falar com ela mais uma vez e segurou o seu braço:
- Professora, por favor, nós precisamos contar que...
- Não tenho tempo agora, Srta. Granger. – ela disse, encerrando a conversa e sumindo pela porta, que se fechou novamente na cara dos garotos.
- Parece até que eles já sabem... – Rony divagou, observando a porta fechada. – E não querem nos ouvir dizer...
Hermione olhou para ele como se o visse sob um prisma totalmente novo.
- Eu não acredito que ainda vou ter que fazer essa detenção idiota! – Gina praguejou irritada, totalmente alheia à descoberta que Hermione tinha acabado de fazer. Ela se virou para Rony. – E você, hein? Porque quis dar uma de irmão protetor àquela hora com a Parkinson?
Rony levou um choque com a pergunta.
- O quê, você ia sair no braço com a garota, por acaso?
- Se fosse necessário, eu iria!
- Não seja ridícula, Gina. – Hermione disse, sem olhar para a garota, mas encarando a porta fechada, ainda pensativa. – E iria fazer isso na frente da Profª. McGonagall?
Já era a segunda vez no dia que Gina ficava com muita raiva de Hermione.
- Eu já ganhei uma detenção mesmo sem isso, não foi?
- Isso foi por causa de outro dia...
- Não precisa ficar bancando a sabe-tudo para mim, o.k., Hermione? – Gina retrucou grosseiramente. – Eu sei muito bem o que eu faço ou deixo de fazer!
Por um segundo as duas apenas se encararam.
- Ei, Gina! – Rony chamou. – Volte aqui e...
Mas a garota já tinha evaporado pela porta, irradiando fúria.
- Gina! – ele continuou chamando e foi até a porta, para tentar alcançar a irmã.
- Deixa ela, Rony... – Hermione disse chateada.
- O quê? – ele exclamou espantado, voltando. Hermione tinha encostado a testa na parede. – Ela não pode te tratar desse jeito!
- Depois ela vai se arrepender... – Hermione sussurrou, o olhar perdido. – Isso está sendo demais para ela... e para a gente também.
Rony suspirou, ainda observando a garota, que não o fitava nos olhos.
- Aonde você está querendo chegar?
- Rony, você falou sério quando sugeriu que os professores já sabem? – Hermione perguntou, finalmente encarando o garoto nos olhos. E seu olhar era bastante profundo. – Você acha mesmo que eles estão nos evitando? Que eles não querem nos ouvir?




Gina parou de andar a caminho para a sala de Filch, desolada. Droga... não deveria ter dito tudo aquilo...Ela se encostou-se à parede fria de pedra por um momento. Tinha sido injusta. Hermione não tinha culpa de suas aflições. Não tinha culpa de ter achado um método de recuperar a memória de Harry, mesmo que esse método implicasse em acabar com os sonhos de Gina. Não tinha culpa por Harry e Gina estarem brigados. Hermione não tinha culpa por ser realista e tentar trazer Gina de volta a Terra.
Era muito pouco provável que Harry recuperasse a memória só porque bateu a cabeça de novo. Havia muito mais chances de ele perder a memória novamente do que recuperá-la. E Rony tinha feito o certo impedindo-a de brigar com Pansy Parkinson; McGonagall assistindo a mais uma confusão entre eles e os sonserinos era a última coisa de que precisavam.
Gina se sentiu envergonhada. Tinha sido dura com Hermione, pior, fora injusta. Pensou em voltar e pedir desculpas para ela, mas se a Profª. McGonagall a visse poderia trazer mais problemas para si mesma. Gina respirou fundo; seus pensamentos e sentimentos estavam uma bagunça. Estava preocupada com Harry, e uma sensação de culpa a invadia por ter passado todo aquele tempo brigada com ele e agora ele estar mal. Estava se sentindo horrível por Hermione, e até mesmo por Rony, que só estava tentando protegê-la. Ainda estava nervosa pela briga com Pansy Parkinson e tudo que ela havia dito... E queria se bater por ser tão idiota.
A garota desistiu de tentar ajustar seus pensamentos. Não podia voltar e se desculpar com Hermione naquele momento, de qualquer maneira. Preferiu esperar e seguir para aquela maldita detenção. Talvez houvesse boas notícias quando retornasse.




- Não, Mione... Eu não acredito nisso... não é possível... Você tem que estar enganada dessa vez... Tem que estar...
A última frase de Rony era quase um pedido desesperado. Hermione não poderia estar certa em suas suspeitas. Era loucura pensar daquele jeito! Nunca, nunca em um milhão de anos, Rony pensaria que... não, essa possibilidade não poderia existir.
- Eu não sei, Rony... – ela suspirou, hesitante. Os dois estavam na sala comunal da Grifinória; não houve comemoração por causa da final de quadribol. Primeiro, porque Harry não estava bem, e segundo, porque ninguém ainda sabia quem tinha vencido. Não deu para ver se fora Harry ou Malfoy que pegara o pomo naquela confusão, por mais que Rony colocasse fé que fora seu amigo que o tivesse pegado. – Você tem razão, eu posso estar enganada... – a garota murmurou.
Mas Hermione não era muito de errar em suas suspeitas.
Alguns minutos depois, a passagem da Mulher Gorda se abriu e por ela entrou uma desanimada Gina. Hermione olhou para ela, mas logo virou o rosto, suspirando em seguida. Rony continuou encarando a irmã até que ela se sentasse na terceira poltrona vaga próxima à lareira, aquela que costumava ser ocupada por Harry quando o trio se reunia.
Gina parecia extremamente sem jeito; sentou-se dura na poltrona e se mexeu várias vezes para tentar encontrar uma posição. Somente depois de muito tempo, ela murmurou um envergonhado “oi”.
Hermione não respondeu. Rony bufou e perguntou como tinha sido com Filch.
- Limpei uma bagunça que Pirraça tinha feito na sala de Feitiços. – Gina murmurou com a voz abafada; ela tinha o queixo apoiado nas mãos, enquanto observava perdida a lareira apagada. – Não foi tão ruim assim...
Um silêncio tenso e desconfortável caiu sobre eles depois disso.
- Vocês conseguiram ver o Harry? – Gina perguntou rapidamente, mas não parecia ser isso que ela tinha a intenção de dizer quando abriu a boca. Ela olhou nervosamente para Hermione.
- Não, mas o Hagrid saiu depois e nos disse como ele estava. – Rony contou. – Madame Pomfrey já cuidou dele e de Malfoy, mas eles continuam inconscientes.
Houve uma pausa.
- Ei... – Gina murmurou hesitante, torcendo as mãos de nervoso. – Me desculpem por ter dito aquelas coisas... àquela hora... Eu não estava pensando direito... – ela continuava olhando a lareira apagada. Hermione se virou para ela, negligentemente. – Eu falei umas coisas idiotas... principalmente para você, Hermione...
Os olhares das duas se encontraram por um momento tenso.
- Tudo bem. – Hermione murmurou, um sorriso mínimo se formando no canto de sua boca, enquanto ela voltava a desviar o olhar, pensativa. Rony sabia que ela ainda estava um pouco chateada. – Às vezes, eu também falo umas coisas duras para as pessoas... É bom ouvir de vez em quando...
Rony tinha experiência nesse assunto, mas preferiu ficar calado naquele momento. Gina respirou fundo e encostou a cabeça nas costas da poltrona, encarando o teto em meio a devaneios.
- Eu queria que tivesse um jeito de vermos Harry.
- Só se entrarmos lá sem ninguém saber.
Gina desencostou a cabeça tão rápido que poderia destroncar o pescoço.
- É uma idéia... – murmurou tão sonhadoramente quanto Loony Lovegood. – Eu acho que vou ir ver Harry, então.
- O quê? Agora? – Rony retrucou alarmado, seus olhos se arregalando do tamanho de galeões ao encarar a irmã. Hermione observou os dois calmamente.
- Não, Rony, mês que vem! – Gina retrucou sarcástica.
- Então a gente vai com você!
- Claro que não, vocês já estiveram por lá na ala todo esse tempo, eu é que precisei ficar atolada naquela detenção idiota!
- Mas você não vai sozinha!
- É claro, o “homem do saco” pode me pegar no caminho... Rony, por favor!
- Eu não vou permitir que você vá sozinha! Olha a hora!
- E o quê você vai fazer, Roniquinho? – Gina cruzou os braços com um sorriso maldoso. – Tirar meus pontos? Ou quem sabe me aplicar mais uma detenção...
Hermione, que até o momento apenas se deteve a girar seus olhos de um Weasley para outro, resolveu se manifestar:
- Mas você não pode andar assim por aí, Gina... – Rony soltou um irritante “Viu?”, mas calou-se após um olhar perigoso de Hermione. – Eu estou querendo dizer: você não pode andar por aí sem proteção... – ela se virou para Rony. – Você sabe onde está a capa do Harry, não é?
As duas garotas o encararam; Gina abriu um sorriso. Rony engoliu em seco, seus olhos girando da irmã para Hermione.
- É claro que sei. – ele se voltou para Gina. – Mas não vou buscar se você continuar querendo ir sozinha!
Gina bufou como um gato e parecia capaz de socar a cara do irmão naquele instante. Hermione girou os olhos e disse calmamente:
- Apenas vá buscar a bendita capa, Rony.
- E se eu não for?
- Se você não for, eu mesma vou!
- Ah, e você vai entrar sozinha num quarto de garotos e mexer nas coisas de um deles, monitora Hermione?
Hermione ficou vermelha como um pimentão. Gina só não sabia se era pelo que Rony tinha acabado de dizer ou se por raiva mesmo.
- Rony Weasley, você vai buscar essa capa agora mesmo ou vai se ver comigo! – a garota replicou com os olhos ardendo de fúria.
Rony inclinou seu corpo na direção dela, sorrindo marotamente.
- E o quê você vai fazer se eu não for, Hermione?
- O que eu já deveria ter feito há muito tempo... – ela retrucou com o mesmo sorriso maroto e uma voz perigosamente doce. – Dar um pé na sua bunda!
- Você não faria isso...
- Ahhh, faria sim... Num piscar de olhos...
- Isso é chantagem! – ele apontou de uma garota para a outra. – Vocês duas estão mancomunadas contra mim, isso sim!
- O quê? – Gina riu. – Eu estou quieta aqui!
Hermione ergueu as sobrancelhas para ela, mas sorriu divertidamente. Rony parecia simplesmente lívido; ele lançou um olhar fuzilante para Hermione, mas subiu as escadas para o dormitório masculino, resmungando implicações contra as duas garotas e batendo os pés.
Gina não agüentou e começou a rir.
- Do quê você está rindo?
- Vocês dois... – ela respondeu entre gargalhadas. – São muito parecidos com meus pais!
Foi a vez de Hermione ficar lívida.
- Repita isso mais uma vez e eu não te ajudo mais, Gina.
Gina tratou de se controlar rapidamente, mesmo que não conseguisse apagar um sorriso do rosto. Hermione estreitou os olhos para ela, e a garota apenas murmurou:
- Mas que parece, parece!
- Gina!
- Tá bom, tá bom! Não tá mais aqui quem falou! – Gina pigarreou por um segundo para se controlar. Então, percebeu que precisava dizer algo muito importante a Hermione. – Por favor, eu sinto muito, Mione... Eu não pensei quando te tratei daquele jeito mais cedo.
Hermione apenas girou os olhos para ela.
- Eu já disse que está tudo bem, Gina.
- E você até está me ajudando...
- Eu sei que você precisa muito falar com o Harry... – Hermione falou com tamanho conhecimento de causa, que mais parecia ler os pensamentos de Gina. A garota arregalou os olhos, espantada. – Ora, Gina, eu também sou uma garota. – ela sorriu. – Você está se sentindo culpada por estar brigada com Harry, agora com essa situação toda, e o jeito que ele está...
- Acho que é isso mesmo que eu estou sentindo... – Gina murmurou. – Eu queria... falar com ele... pedir desculpas por ter sido tão cabeça dura...
- Ah, acho que ele vai dizer que está acostumado com isso. – Hermione riu. – Você é igualzinha ao Rony, Gina, e Harry está bastante acostumado com isso.
Gina sentiu como se Hermione soubesse algo que ela não sabia. Ela tinha falado a última frase de um jeito... esquisito. Mas antes que Gina conseguisse perguntar algo, Rony voltou com a capa escondida entre as vestes e sentou-se com estrondo na poltrona.
- Você demorou! – Hermione reclamou só por reclamar.
- Harry a tinha mudado de lugar... tive que procurar. – o garoto retrucou, franzindo as sobrancelhas e assentando melhor a capa sob as vestes. – Ela estava debaixo do colchão, pode? Embrulhando o livro de quadribol dele...
Hermione estreitou os olhos em suspeita, mas quando o seu olhar encontrou o de Gina, ela mudou rapidamente a expressão.
- Hum... é melhor você esperar todo mundo ir dormir, Gina. – Hermione desviou o assunto como uma flecha.
- Sim, e aí eu vou com você. – Rony insistiu.
- Como... você... é... teimoso! – Hermione frizou as palavras.
- Nem vem, Hermione!
Gina suspirou profundamente.
- Rony, por quê, exatamente, você está tão preocupado que eu vá sozinha?
- Porque... porque... – as orelhas dele assumiram rapidamente um tom vermelho vivo. – Porque sim, oras!
Hermione subitamente começou a rir.
- Não acredito que é por isso, Rony! Que bobagem!
Rony ficou mais vermelho ainda, mas não disse nada.
- O quê?
- Ele está preocupado que você e Harry fiquem sozinhos... – Hermione começou hesitante. - ... de noite... você sabe.
Gina sentiu que eram o seu rosto e suas orelhas que agora estavam muito, muito quentes. Ela se lembrou daquele dia na sala do A.D. e engoliu em seco.
- Eu nem... sei o que dizer, Rony! – ela replicou num tom ofendido, mas sentiu que sua voz protelou um pouco.
Rony também parecia desconfortável. Hermione fitou os dois com um olhar astuto e resolveu mudar de assunto novamente.
- Além disso, vocês dois não caberiam na capa do mesmo jeito.
- Como não? – Rony retrucou. – Eu, você e o Harry cabíamos!
- É claro que cabíamos, Rony! – Hermione usou um tom sarcástico. – Isso porque nós tínhamos onze anos e metade do nosso tamanho!
Rony se calou, emburrado, mas segurando ainda mais a capa sob suas vestes. Gina olhou de esguelha para ele; sabia muito bem qual era o ponto fraco do irmão e como tirar aquela capa dali. Ela esperou que Simas e Dino, os últimos remanescentes, subissem as escadas e se inclinou para a poltrona do irmão.
- Rony... – começou mansamente; Hermione enrugou a testa. – Roninho...
- Que foi? – ele perguntou desconfiado.
Gina rapidamente colocou sua mão no lado esquerdo do tórax do irmão, um pouco acima da cintura, num lugar frágil que ela conhecia muito bem desde que tinha quatro anos de idade. Foi instantâneo. Rony começou a rir descontroladamente de cócegas e deixou a capa desprotegida, tempo suficiente para Hermione, que tinha percebido o plano, agarrar o objeto.
- Gina, Gina... pára! PÁRA! – Rony mandou inutilmente, entre gargalhadas, tentando segurar as mãos ágeis da irmã. – Gina, você vai pagar caro por isso, páaaara!!!
Gina deu um pulo para trás, afastando-se do irmão antes que ele a segurasse. Hermione, rindo, atirou-lhe a capa de Harry, em meio a protestos de Rony, que estava recuperando o fôlego e levantando-se. A garota ainda acenou para o irmão com um sorriso cínico, colocou a capa rapidamente e sumiu pela passagem da Mulher Gorda.
Rony tentou correr atrás da irmã, mas foi detido por Hermione e seu sorriso maroto. Ele parou de chofre, os olhos arregalados.
- Não, Mione...
- Agora eu descobri seu ponto fraco... – ela agitou os dedos ameaçadoramente. Rony recuou com uma careta.
- Ah... não... Mione... – ele disse recuando. – Você não vai fazer isso comigo, vai? – ela continuou se aproximando. – E se alguém escutar?
- Todo mundo foi dormir...
Ele tropeçou nos próprios pés e caiu por cima da poltrona. Não dava mais para recuar.
- Hermione...
Ela se inclinou sobre ele, seus cabelos castanhos caindo sobre o rosto de Rony como uma cascata, o sorriso malicioso dela muito próximo dos lábios dele, seu perfume entorpecendo-o... e as suas mãos alcançando aquele lugar acima da cintura dele...
- Não, Mione! Tira a mão daí!
Mas já era tarde.




Gina ajeitou melhor a capa sobre o corpo; um sorriso brincou em seus lábios ao ouvir as risadas de Rony dentro da sala comunal. Hermione deveria estar se divertindo com ele depois daquela descoberta. Deveria ter contado antes a ela. Era a retribuição da garota por Hermione tê-la ajudado tanto, mesmo depois de todas as injustiças que Gina disse a ela.
Os corredores estavam sinistramente silenciosos; um arrepio percorreu a espinha de Gina. Um vento gelado agitava as tochas, produzindo sombras sinuosas nas paredes. A garota caminhou o mais depressa e silenciosamente que pôde, tomando cuidado ao dobrar corredores para não dar de cara com alguém.
Por uma abençoada sorte, não havia ninguém por todo o caminho. A garota olhou para os lados antes de entrar cautelosamente na ala hospitalar; a porta estava encostada e rangeu ligeiramente quando Gina a abriu o suficiente para passar. A saleta da recepção estava vazia; provavelmente Madame Pomfrey deveria estar em seu consultório, descansando. Gina abriu a porta posterior, que dava para a sala dos leitos, e entrou com cuidado.
Ela encostou a porta atrás de si silenciosamente; pôde enxergar as várias camas iguais dispostas uma do lado da outra, dos dois lados da enorme sala. Uma luz opaca da noite, proveniente das janelas grandes e altas, iluminava muito fracamente o ambiente, deixando-o obscurecido. Gina caminhou entre as camas, procurando a de Harry; a maioria delas estava vazia. Logo de cara, ela fez uma careta ao enxergar Draco Malfoy, remexendo-se e resmungando durante o sono. Maluco. Gina continuou a andar.
A garota imobilizou a alguns metros da cama de Harry; ele estava num leito ao fundo da enfermaria, o mais longe possível de Malfoy, provavelmente uma precaução muito prudente dos professores. Gina permaneceu parada por alguns minutos, apenas observando Harry.
Ele estava deitado de lado, respirando lenta e calmamente, uma de suas mãos escorregando para fora do colchão. Várias mechas de seus cabelos negros caíam sobre seu rosto tranqüilo; sua boca estava entreaberta. Gina mirou-o hipnotizada; como podia gostar tanto assim de uma única pessoa?Não havia explicação para que gostasse dessa maneira de Harry. Ele já errara tanto com ela... por tantos anos tratou-a como se fosse invisível, depois, por algum tempo, fora rude o bastante para que Gina chegasse a ficar com raiva dele e desistisse de seu amor bobo, e por último tornara-se tão distante, que ela nunca mais pensou em se aproximar. Então, eles tinham ficado juntos, brigado, e Gina tinha ficado tão furiosa com a atitude dele, que nem falar mais com ele falava. Mas, agora, fitando-o dormindo daquele jeito, com aquela expressão suave, Gina não conseguia mais se lembrar por que tinha ficado tão brava, muito menos remoer os erros de Harry – e os seus próprios – ou ainda deixar de querer estar perto dele. Ela não conseguia entender como ficara tanto tempo longe dele sem correr até Harry e dizer que estava tudo bem.
O que ele tinha que a fazia se sentir daquela maneira?Sentia-se extremamente tola, mas era bom se sentir daquele jeito.
Gina sorriu e caminhou até a cama dele, respirando fundo, ouvindo as próprias batidas do coração tal era o silêncio. Quando estava bem próxima à cama, Harry abriu os olhos subitamente e seu olhar passou por ela sem enxergá-la.
- Quem está aí? – ele murmurou fracamente, e Gina se deu conta de que, mesmo que estivesse dormindo dois minutos antes, ele já estava alerta naquele momento. Ela ficou paralisada de espanto. Harry tateou a mesa de cabeceira ao lado da cama e colocou os óculos no rosto, apoiando os cotovelos no colchão e gemendo ligeiramente pela dor do movimento. – Eu sei que tem alguém aqui.
Gina soltou a respiração e abaixou o capuz, revelando seu rosto. Harry arregalou os olhos em espanto, sério.
- Gina? – ele parecia surpreso. Gina permaneceu em silêncio, tensa. – O que está fazendo com minha capa?
Que pergunta estúpida! Gina imaginaria milhões de perguntas que ele poderia lhe fazer, mas nunca “O que está fazendo com minha capa?”. De qualquer maneira, a pergunta pegou a garota desprevenida, e somando-se a isso o fato de ela estar bastante nervosa na presença de Harry, ela não sabia o que dizer. Milhares de pensamentos passaram por sua cabeça antes que formulasse uma frase decente.
Ele parecia surpreso. E fizera aquela pergunta. Será que ele tinha se lembrado? Ou será que tinha esquecido? O cérebro de Gina deu um nó, e a resposta que deu conseguiu superar a pergunta de Harry no quesito estupidez.
- Eu... peguei-a emprestada. – Harry franziu as sobrancelhas. Gina riu nervosa. – É claro, não de você. Rony pegou-a para mim.
- Rony mexeu nas minhas coisas?
Gina não conseguia entender por que ele estava fazendo aquelas perguntas.
- Não, ele só... pegou a capa. Você está bravo por isso?
- Não. – Harry murmurou rapidamente, como se percebesse que não deveria falar mais nada sobre o assunto. Ele voltou a encostar a cabeça no travesseiro, fazendo uma careta. Sua cabeça deveria estar bastante dolorida; havia um enorme curativo nela, que estava um pouco manchado de sangue. – Não, tudo bem, não tem problema.
Mas ele parecia pensativo. Gina não soube o que dizer, nem o que fazer, até que Harry se virasse para ela, com uma expressão totalmente renovada e um fraco sorriso no rosto.
- Tire a capa. – ele pediu com um tom divertido. – É engraçado falar com uma cabeça flutuante no escuro.
Gina riu ligeiramente também, imaginando o quanto deveria estar esquisita daquele jeito. Ela tirou a capa, voltando a ser visível, e colocou-a sobre a cama de Harry, aos pés dele. O garoto abriu espaço na cama e apenas a fitou. Gina percebeu a deixa e, apesar de um pouco desconfortável, sentou-se próxima a ele. Harry observou-a por vários instantes, com um olhar profundo.
- Então, você veio me visitar?
- É, eu estou aqui. – ela disse bobamente, sorrindo sem jeito. – Você já estava acordado quando eu cheguei?
- Não. – ele sorriu, sem deixar de encará-la. – Apenas tenho o sono leve e seus passos me acordaram.
- Disseram para mim que você estava inconsciente.
- Eu estava. – ele disse com simplicidade, como se aquilo fosse algo banal. – Mas despertei há algum tempo e como não tinha ninguém por aqui, voltei a dormir.
- Como está a cabeça?
- Dói um pouco, mas não vou morrer por isso.
Gina sentiu um calafrio e respirou fundo. Ela desviou o olhar do dele por alguns instantes.
- Todos ficamos muito preocupados... Você sempre nos deu cada susto...
Harry riu ligeiramente. Gina voltou a fitá-lo.
- Eu nunca tinha visto Dumbledore tão preocupado.
Harry fez silêncio por um momento, seus olhos fundos. Foi a primeira vez que ele desviou o rosto do de Gina desde o início da conversa.
- Harry? – a garota insistiu, reunindo coragem para perguntar o que queria. – Você lembrou?
- Lembrar o quê? – ele repetiu, ainda observando um ponto distante atrás de Gina. Ela sentiu o ar faltar.
- Harry, você...
Ele subitamente voltou a encará-la, então se deu conta do quê exatamente ela falava.
- Ah, Gina... Não, eu continuo esquecido. – ele disse em tom de brincadeira, mas havia algo em sua voz que indicava que ele escondia algo, como se estivesse deprimido por alguma coisa.
- Mas você ao menos se lembra de... – Gina desviou o olhar do dele, sentindo a garganta seca. – Lembra...
- Eu me lembro de quando nos beijamos e dançamos na sala comunal. – Harry disse seriamente, sua voz fraca e baixa pelo esforço de falar. Gina voltou a encará-lo. Havia algo muito sincero nos olhos verdes de Harry. – Eu me lembro da cachoeira, e que você tem medo de nadar, mas que eu te abracei para que passasse. – o coração de Gina estava descompassado. Harry continuou a fitá-la, daquele jeito profundo e dolorosamente sincero. – Eu me lembro que nunca senti tanto desejo em minha vida quanto naquele dia na sala do A.D. E que ainda imagino como seria fantástico o que iria acontecer ali... – Gina percebeu que se sentia quente, que a respiração estava difícil, e que não conseguia desviar os olhos do verde profundo e verdadeiro dos olhos de Harry. – Eu me lembro da angústia que senti durante todo esse tempo que você não quis nem olhar para mim. – ele respirou fundo. – Eu lembro que te amo, se é isso que quer saber.
Gina abaixou os olhos, temendo que Harry visse as lágrimas que se formaram neles após aquelas palavras. Ela tinha tantas coisas para dizer, e no entanto, não conseguia dizer palavra alguma. De repente, ela percebeu que a sua garganta estava seca demais, e que um doloroso e angustiante nó tinha se formado nela, impedindo que falasse.
Ela sentiu o colchão sobre si abaixar ligeiramente e ouviu o barulho do ranger das molas do colchão. Harry segurou seu queixo delicadamente e fez com que Gina o encarasse; ela o fez, relutante, sentindo os olhos arderem pelas lágrimas que tentava conter. Percebeu que Harry tinha sentado, com dificuldade – havia no seu rosto uma nesga de dor pelo movimento – e que ele a fitava com ternura.
Gina se deu conta do quão tola fora todo aquele tempo que manteve Harry distante. Tinha sido estupidamente intolerante, não entendera que Harry tinha feito o que fizera somente para protegê-la; ele poderia ter agido como qualquer garoto naquele momento, mas ele preferiu pensar primeiro em Gina do que em seus instintos. Não era qualquer um que fazia aquilo... Harry tinha percebido que não era o momento certo para Gina. Ela é que não percebera que ele tinha feito aquilo por ela, porque a amava.- Harry... – ela murmurou, sentindo os lábios tremerem. Ele colocou uma mecha de seu cabelo para trás e acariciou seu rosto. – Eu... sinto... muito... por...
Mas ele não permitiu que ela terminasse seu pedido de desculpas. Harry se aproximou de seus lábios, e Gina sentiu que fechava os olhos. Não foi um beijo forte como aquele na sala do A.D.; era terno e cheio de sinceridade. Harry apenas acariciou os lábios de Gina com seus próprios, e ela sentiu que era a melhor forma de Harry lhe dizer que a perdoava por tudo que tinha acontecido.
Ele afastou seus lábios lentamente, encostando a testa na de Gina, e acariciou seus cabelos, enquanto os dois apenas se encaravam e sorriam. Harry parecia cansado, e Gina percebeu que aquilo era o máximo que ele podia fazer naquele instante. Não importava, era mais que suficiente, e Gina se sentia plena por aquele singelo momento.
- Eu sei... – Harry sussurrou lentamente. – ...que milhares de garotos já devem ter te convidado para ir àquele baile... – Gina arregalou os olhos, sentindo como se seu estômago tivesse se transformado numa pedra de gelo; Harry, porém, sorria divertidamente. – Mas você poderia dispensá-los para ir comigo?
Gina sorriu, sem acreditar.
- Vou fazer esse esforço. – ele sorriu. Ela acariciou seu rosto. – Claro que vou com você.
Eles permaneceram apenas se encarando por vários minutos, hipnotizados um pelo outro, até que um barulho súbito os assustou. Eles se viraram para a porta, mas o barulho tinha parado.
- Será que é o Malfoy? – Gina sussurrou, voltando-se para Harry. Ele parecia pensativo.
- Não. – murmurou. – Escute.
Gina apurou os ouvidos. Eram vozes. Alguém se aproximava.
- Não podem te ver aqui. – Harry sussurrou com urgência. As vozes se tornavam mais altas. – Vamos, se esconda!
Gina se levantou depressa, e Harry lhe jogou a capa. Ela olhou para trás e viu a porta se abrindo; havia sombras no chão. Harry indicou o espaço vazio debaixo da cama; Gina fez uma cara de interrogação, mas ele a apressou. A porta rangeu. Gina praticamente se jogou debaixo da cama, e atrapalhada, jogou a capa por cima de si do melhor jeito que conseguiu.
Ela viu o estrado da cama se movimentar e ouviu o ranger das molas do colchão; Harry deveria ter deitado. Gina sentia o chão duro e frio sob suas costas, mas seu corpo estava quente de adrenalina; ela prendeu a respiração e ouviu o som de sapatos batendo contra o piso; vozes murmuravam. Olhou para o lado e, bem ao longe, viu pés se aproximando. Reconheceu de cara a quem pertenciam; uma capa roxa, cheia de luas e estrelas, e uma esverdeada, com bordados vermelhos e dourados. Eram Dumbledore e a Profª. McGonagall. Gina permaneceu sem mexer nenhum músculo, mesmo que estivesse horrivelmente desconfortável.
- Será que ele já acordou, Dumbledore? – era a voz preocupada da professora. – Malfoy ainda está dormindo...
- E vai dormir por muito tempo ainda. – o diretor respondeu. – Falei com Madame Pomfrey, e ela ministrou uma excelente poção do sono para ele.
Gina apurou os ouvidos. Os pés estavam cada vez mais próximos.
- Alvo! Eu não sabia disso.
- Se ele acordasse em um momento inoportuno, seria perigoso, Minerva. – Dumbledore explicou tranqüilamente. – Ele poderia ouvir algo que não desejamos. Você sabe a quem ele se reporta.
Gina arregalou os olhos, intrigada.
- Sim, é claro... Lúcio Malfoy soube por ele e passou a informação a Você-Sabe-Quem, você me contou.
- Prefiro que o chame pelo nome, Minerva. Voldemort, se não se importa.
Os pés pararam ao lado da cama. A capa roxa de Dumbledore chegou a raspar seu nariz. Gina prendeu a respiração. Pareceu a ela que algum dos professores quase disse algo, então a Profª. McGonagall soltou uma exclamação abafada. A capa dela se moveu nervosamente, num passo para trás. Gina prestou mais atenção. Os joelhos da professora se dobraram ligeiramente e, por um segundo delirante, Gina pensou que ela fosse olhar debaixo da cama. Mas um segundo depois, Gina se lembrou que, mesmo que a professora fizesse isso, ela estava coberta pela capa de Harry.
- Ele ainda está dormindo. – Dumbledore sussurrou, num tom totalmente diferente. – Vamos, Minerva, podemos voltar mais tarde.
Gina esperou que os pés passassem pela porta e os passos sumissem, então, silenciosamente, saiu debaixo da cama e ficou de pé, abaixando o capuz. Harry abriu apenas um dos olhos, desconfiado, e depois pegou os óculos que escondeu debaixo do lençol.
- Eles não desconfiaram? – Gina perguntou sem fôlego.
- Acho que não. – Harry respondeu sem olhar em seus olhos. – Eu... fingi que estava dormindo.
Gina apenas controlou a respiração por alguns instantes; ela se virou para Harry e pensou em discutir com ele sobre o que Dumbledore disse sobre Malfoy, mas achou que faria mais sentido contar aquilo para Rony e Hermione.
- Acho que é melhor você ir embora agora, Gina... – Harry sussurrou cansado. – Eles podem aparecer de novo.
Gina apenas assentiu.
- Amanhã eu venho te visitar. – ela sorriu. – Oficialmente.
Ele sorriu também, mas parecia diferente. Quando Gina ia embora, porém, ela lembrou de algo que queria perguntar:
- Harry, quem pegou o pomo?
O garoto enrugou a testa.
- Quem você acha que pegou?
Gina riu.
- Você, é claro.
- Confia tanto assim em mim?
- Plenamente. – Gina respondeu com convicção, fitando-o divertidamente. – Por que a pergunta?
Harry a fitou por alguns instantes, e havia algo mais naqueles olhos verdes. Então, subitamente, ele esticou o braço, abriu uma pequena gaveta da mesa de cabeceira e vasculhou-a até encontrar o que desejava.
Gina observou, com um sorriso maroto, o pomo de ouro agitando-se inutilmente entre os dedos de Harry. Ele, por sua vez, sorria cansado para Gina.
- Nós vencemos.
- Eu estava certa em confiar em você.
Harry não respondeu, mas seus olhos ficaram fundos e tristes.




- Qual o seu par, Lilá? – Parvati perguntou curiosa, enquanto pintava os olhos. – Não vá me dizer que é o...
- Simas, é claro. – a garota respondeu abafando risadas. – E você que pensou que eu não fosse fisgá-lo, hein, Parvati?
As risadas encheram o quarto. Hermione, porém, estava com a cabeça bem longe da conversa das garotas.
Ela fitou seu próprio rosto no espelho. Tinha os cabelos soltos, apenas uma pequena parte deles presa no alto da cabeça; eles estavam mais lisos do que de costume, e somente algumas poucas mechas onduladas caíam-lhe sobre os ombros. Seu vestido era azul. Ela sorriu tímida, imaginando se Rony gostaria de vê-la.
- E você, Parvati? Vai com aquele loirinho da Lufa-lufa?
- Sim, ele me convidou há duas semanas. Engasgou todo o tempo, não é meigo?
Hermione sentou na beirada da cama e abriu a primeira gaveta, em busca de alguma coisa para colocar em seu pescoço. Não tinha nada que servisse. Ela continuou procurando e esbarrou em um frasco minúsculo, com um líquido escuro dentro dele. Ela ficou paralisada no mesmo instante e umedeceu os lábios, nervosa.
Agarrou o pequeno frasco e segurou-o na mão direita, ao mesmo tempo em que encostava a gaveta aberta. O vidro era tão pequeno, que cabia na palma da mão. Hermione o encarou por vários minutos, sua cabeça perdida em pensamentos.
Já fazia três dias que tinha terminado aquela maldita poção. A primeira coisa que tinha feito fora procurar Rony e lhe contar, confusa, perguntando o que deveria fazer. Rony se surpreendeu; Hermione não era de se sentir insegura e procurá-lo pedindo conselhos. No entanto, para a garota, já era de algum tempo que Rony representava mais que um amigo ou um namorado; era um companheiro, alguém que Hermione sabia que podia compartilhar seus segredos e aflições. Apesar das brigas infantis de vez em quando, ela sabia que Rony tinha se transformado; ele não era mais tão imaturo quanto antes. É claro que às vezes brigava por coisas inúteis, mas, por algum motivo (ou por várias coisas que aconteceram em sua vida), ele tinha amadurecido e não era mais aquele garoto inseguro, que discutia com ela por qualquer bobagem. E ele foi a primeira pessoa que veio à cabeça dela quando se encontrou naquele dilema.
Apenas três gotas daquela poção fariam Harry se lembrar de sua vida anterior... e esquecer desta. Por muito tempo, Hermione tentou se convencer de que era a melhor solução; ela preparou a poção com todo o cuidado, temendo que pudesse errar em alguma coisa e o resultado ser catastrófico. Mas ela sabia que estava tudo correto, e que Harry podia ingeri-la. No entanto, agora que o momento chegara, ela não tinha mais tanta certeza do que era certo ou errado.
Desde a final de quadribol e da recuperação de Harry, ele e Gina estavam se dando tão bem... tão felizes. Hermione não se lembrava de ter visto seu amigo assim em anos... Talvez por todo o tempo que o conhecesse. E Gina também, estava tão contente... Hermione tinha mesmo o direito de acabar com aquela felicidade? Tinha o direito de fazer Harry voltar àquela outra vida tão dolorosa? E de tirar Harry de Gina, quando ela finalmente tinha conseguido ficar com ele?
Ela não sabia de mais nada. Quando fora perguntar a Rony o que achava, ele apenas disse que também não gostava daquela situação, mas que Harry não podia continuar daquele jeito para sempre. No entanto, ele também disse que era uma decisão de Hermione; afinal, fora ela que começara com aquilo. Com a poção, eles teriam certeza. Seria o momento da verdade.
- Com quem você vai, Hermione?
A garota despertou de seus devaneios com um sobressalto. Ela fechou os dedos em torno do pequeno frasco, tomando uma decisão, e se virou para Parvati, que tinha feito a pergunta.
- E ainda precisa perguntar, Parvati? – Lilá sorriu marotamente, virando-se para Hermione. – É claro que já sabemos com quem a monitora aqui vai...
Hermione se levantou, alisando o vestido negligentemente, como se não desse bola para o que as garotas disseram.
- Eu vou com Rony.
- Previsível. – Lilá retrucou. – É claro que os dois monitores-chefes iriam juntos.
- Ah, mas Rony está bem bonito agora... – Parvati suspirou. – Nem parece mais aquele garotinho ruivo de sardas que conhecemos...
Hermione apenas lançou um olhar perigoso de aviso para as duas.
- Mas ele já tem dona, é claro. – Parvati finalizou rapidamente, e Lilá segurou um sorriso. – E Harry, com quem vai?
Hermione ficou em silêncio por alguns instantes, sem saber o que dizer. Será que Gina não iria gostar se contasse? Bem, de qualquer maneira, todos iriam ver os dois dali a alguns minutos. Mas Lilá foi mais rápida e disparou antes mesmo que Hermione conseguisse responder:
- Ele vai com a irmã do Rony, não é? Que sortuda...
- Mas ele dança mal. – Parvati retrucou. – Eu me lembro muito bem do Baile de Inverno do quarto ano.
- Mas que ele é lindinho com aqueles cabelos revoltados e os olhos verdes, isso ninguém pode negar... – Lilá suspirou.
Hermione respirou fundo, bem lentamente.
- Anh, meninas, eu preciso ir... – ela disse depressa. – Até mais.
Cinco minutos depois, Hermione estava nos corredores dos dormitórios femininos, aquele frasco ainda bem seguro em sua mão. Sentia que não podia mais adiar aquilo; algo lhe dizia que não podia demorar para entregar aquela poção. Ela passou pela porta do dormitório do sexto ano e parou bruscamente; hesitou por alguns minutos antes de entrar sem bater.
Várias garotas estavam entretidas se arrumando e nem notaram que havia alguém a mais no dormitório. Hermione logo avistou quem queria; Gina estava ajeitando seus cabelos em frente ao espelho, um sorriso em seu rosto.
Ela tinha feito uma bela trança em seus cabelos ruivos, que pendia para frente, do lado esquerdo do rosto. Usava um vestido vermelho, com detalhes dourados, que também estavam no cabelo. Tinha feito um belo trabalho; Harry iria gostar.
Hermione se aproximou da garota e parou atrás dela, inclinando ligeiramente o rosto. Gina sorriu para ela ao vê-la pelo reflexo no espelho.
- Você caprichou. – ela disse, rindo. – Rony vai ficar bobo quando te ver. Bem, ele já é bobo de qualquer jeito mesmo.
Hermione riu da piada dela, e parou de frente à garota, cruzando os braços observando-na. Instintivamente, escondeu o frasco da poção na mão fechada, e se deu conta de que a sua determinação estava se esvaindo ao ver o rosto feliz de Gina.
- O que você achou? – ela perguntou, referindo-se à sua aparência.
- Eu acho que Harry também vai ficar bobo. – Hermione sorriu, sentindo-se um pouco desconfortável. – Gina, eu queria te contar...
- Ele me convidou naquele dia na ala hospitalar. – Gina contou contente, checando se estava tudo certo no espelho. – Aquela noite que você torturou o Rony com cócegas, lembra?
- Lembro... – Hermione sentiu um peso enorme na barriga. Não iria conseguir contar a ela sobre a poção, não teria coragem. – Gina...
- Ele foi tão gentil. – Gina prosseguiu. – Eu nunca pensei que pudesse ser tão bom estar com ele. E você nos ajudou tanto, Hermione...
O peso no estômago de Hermione aumentou insuportavelmente. “Eu sou horrível”, pensou com nojo de si mesma. “Sou um monstro, e ela ainda me agradece por isso! O que eu faço?”- Gina, eu acho que vou descendo. – disse, a garganta engrolada. Não suportava mais continuar ali. – Você precisa de alguma ajuda?
- Não, tudo bem. Já estou quase terminando por aqui, logo desço também.
Hermione apenas assentiu e saiu depressa do dormitório, sentindo-se a pior pessoa do mundo. O que ela estava prestes a fazer levaria a dois caminhos: ou Harry esqueceria tudo aquilo ou... não, não queria pensar na segunda alternativa. Hermione sabia que a segunda era pior, muito pior, mas qualquer uma das duas arrasaria Gina.
A garota chegou na escada que dava para a sala comunal. Hermione parou e respirou fundo, segurando o frasco com mais força. A resposta para todas as suas dúvidas estava em suas mãos, literalmente. Ela desceu as escadas.
A sala comunal estava entupida de garotos esperando seus pares descerem. Hermione enxergou Rony e Harry do outro lado da sala, próximos à lareira, rindo com Neville, Simas e Dino. Hermione parou por um momento para admirar Rony; um sorriso se formou em seu rosto, e naquele minuto, ela se esqueceu do que tinha que fazer. Rony estava com uma veste azul marinho, aquela mesma que Fred e Jorge tinham lhe dado de presente no quinto ano. Ele também tinha feito algo com o cabelo, parecia um pouco maior e mais arrumado, e dava a impressão de que Rony era mais velho do que realmente era. Hermione se aproximou dos garotos, sorrindo satisfeita.
- Olá, meninos.
Eles se viraram e a cumprimentaram jovialmente. Rony, porém, não disse nada; ele apenas arregalou os olhos e deixou a boca aberta, embasbacado, até que Harry desse uma forte cotovelada na sua barriga, fazendo Rony engasgar. Hermione riu.
- A baba tá escorrendo! – Simas troçou, fazendo Neville, Dino e Harry rirem. Rony olhou feio para eles, mas depois se virou para Hermione e fez de novo aquela mesma cara de bobo.
- Erm... Herm... mione... – ele pigarreou. – Você está... está...
- Obrigada, Rony. – ela completou por ele, e Rony sorriu, como se estivesse grato. Os outros garotos riram ainda mais.
- Ah, eu vou encontrar meu par lá embaixo. – Neville disse.
- Com quem você vai? – Dino perguntou curioso.
Neville abriu um grande sorriso. Hermione, Rony e Harry se entreolharam; sabiam muito bem quem era. Hermione só esperava que Luna Lovegood não aparecesse com seus brincos de rolhas de cerveja amanteigada, para o bem do pobre Neville.
- Ah, depois vocês vão ver quem é ela. – Neville respondeu misterioso, abrindo um enorme sorriso presunçoso.
- Eu vou com você, espera aí. – Dino disse apressado, seguindo Neville. – Meu par também está lá.
Simas também se despediu quando Lilá desceu as escadas, deixando Harry, Rony e Hermione sozinhos. A garota respirou fundo, segurando mais forte o frasco em suas mãos, que tremiam, e encarou Harry.
- Anh, Harry... Eu queria ter uma palavrinha com você.
Ela olhou para Rony rapidamente e ele, lançando um olhar ligeiro para a mão de Hermione, entendeu o que estava ocorrendo.
- Eu espero a Gina aqui enquanto vocês estão fora. – ele avisou.
Harry fez uma expressão intrigada, mas acompanhou Hermione para fora da sala comunal. Eles se afastaram um pouco do retrato da Mulher Gorda, que saboreava bombons de licor com sua amiga Violeta, até que Hermione parasse de frente ao amigo.
- E então, Hermione? – ele perguntou. – O que você quer me dizer?
Ela respirou fundo e estendeu a mão, abrindo-a para que Harry pudesse ver o frasco estendido em sua palma. Os olhos dele demonstraram surpresa no início, mas depois houve uma expressão de entendimento em seu rosto.
- Eu terminei a poção, Harry.
Houve um silêncio tenso. Harry apenas fitou o frasco na mão de Hermione, o olhar perdido. Ela respirou fundo novamente.
- Você deve tomar apenas três gotas dela, Harry, e preste bastante atenção: nenhuma gota a mais ou a menos. Isso é muito importante. – Hermione pigarreou e puxou a mão dele; Harry a fitou com surpresa, mas a garota depositou o pequeno frasco na palma da mão dele e fechou seus dedos cuidadosamente. – Só tome essa poção quando sentir que é realmente o momento certo, Harry. – Hermione fitou-o profundamente; a expressão de Harry era desolada. – Você é quem sabe se deve tomá-la... ou não. Eu já fiz tudo o que podia.
- Hermione... – ele murmurou, seus olhos vidrados. – Talvez, agora, eu precise dizer...
- Não. – ela disse enfática. – Se você tem que dizer alguma coisa, Harry, não é para mim primeiro. Há uma pessoa que deve ouvir antes.
Hermione sentiu que um nó estava se formando em sua garganta. Ela estava certa. Harry abaixou os olhos, apertando ainda mais o frasco entre os dedos e fitando-o com uma expressão desconsolada.
O quadro da Mulher Gorda girou. Hermione enxergou culpa nos olhos de Harry quando ele viu Gina.




Gina sorriu. Harry usava aquela sua antiga veste esverdeada; os cabelos dele estavam tão bagunçados como sempre, mas ela adorava aquilo. O modo como as suas mechas negras desengonçadas caíam sobre seus olhos verdes encantavam-na. Ela respirou fundo, sem conseguir desviar os olhos dele.
Harry a encarou de volta, com o que parecia ser uma triste admiração. Gina não entendeu aquele olhar.
- Então vamos, não é? – Rony, que tinha saído atrás de Gina, quebrou o silêncio. Ele caminhou apressado até Hermione, que observava paralisada Harry e Gina, e puxou-a pela mão. Os dois sumiram de vista num piscar de olhos, cochichando.
Harry guardou algo no bolso e caminhou lentamente até Gina, sem tirar os olhos dela. O verde deles estava mais escuro e pareciam mais fundos. Ele a observou e abriu um sorriso triste.
- Você está tão bonita. – ele murmurou pesadamente. – Eu não mereço tanto.
Ela riu, sem jeito.
- Você também está.
Ele puxou a mão direita dela, cuidadosamente, e beijou-a com carinho.
- Eu vou fazê-la feliz esta noite, Gina. – ele a fitou sinceramente. – Para você se lembrar mais tarde...
Ela riu mais uma vez, com nervosismo, sentindo um arrepio. Alguma coisa esquisita estava acontecendo.
- Por que você está falando assim, Harry?
Ele não respondeu com palavras, apenas a beijou. E Gina sentiu algo estranho naquele beijo. Algo que fez seu coração doer.
Era como se Harry estivesse se despedindo.




Neville olhou no relógio pela terceira vez. O Hall de Entrada estava lotado de alunos de várias casas tentando encontrar seus pares. Neville começou a bater o pé direito no chão, repetidamente, com impaciência. Onde Luna tinha se metido? Ela não podia ter esquecido. Aí já era demais!
Ele bateu os olhos em um grupo que vinha subindo as escadas que levavam para as masmorras. Neville fez uma careta. Draco Malfoy vinha acompanhado de Pansy Parkinson, além de todo o resto dos sonserinos, mas o estranho era que todos, sem exceção, usavam preto. Neville desviou o rosto, sentindo algo estranho no topo do estômago; ele associara aquela visão com... não, era melhor não pensar daquele jeito.
- BU!
- AHHH!!! – Neville gritou assustado, virando-se rapidamente. Luna sorria marotamente para ele. – Por que você gritou no meu ouvido?
- Por que não é a minha cara dizer “oi, meu bem”. – ela respondeu vagamente e girou em torno de si mesma, fazendo a saia do vestido rosa claro rodar. Neville sorriu; os cabelos dela estavam soltos e caíam em cachos ao redor de seus olhos azuis. Ela não usava rolhas nas orelhas. – O que achou? – ela perguntou, parando de rodar e rindo para ele.
- Eu acho que vão ficar com inveja de mim.
O sorriso dela se desfez.
- Você não se importa mesmo de entrar comigo?
- Claro que não, Luna, senão não tinha te convidado!
- É que... – ela hesitou. – Bem...
Ele segurou a mão dela, sorrindo.
- Ninguém vai rir de você, Luna. – ela continuou fitando-o com aqueles olhos protuberantes. – Eu prometo. Vamos...
Ela continuou parada, porém seus olhos vagos focalizavam a enorme porta de carvalho. Neville olhou para ela, mas a porta continuava a mesma. Ele se virou novamente para Luna.
- O que foi?
Ela demorou algum tempo para responder.
- O que foi o quê?
Neville enrugou as sobrancelhas, mas Luna começou a puxá-lo para que entrassem no Salão Principal.




A cabeça de Gina estava encostada no peito de Harry, e ele a abraçava, enquanto moviam-se suavemente. Gina gostava daquela música; era lenta e relaxante, e fazia-a se sentir confortável, principalmente perto de Harry. Mas ela ainda estava confusa.
Havia algo estranho acontecendo, e estavam escondendo isso dela. Rony fora desajeitado ao explicar por que Harry e Hermione não estavam com ele na sala comunal. Hermione esteve distante todo o tempo, quando encontraram-na no Salão Principal, na mesa que ela e Rony tinham segurado. E Harry... ele estava gentil e cuidadoso demais com Gina.
Ela observou os outros pares ao seu redor. Todos pareciam contentes e descontraídos. Dumbledore e a Profª. McGonagall passaram próximos a eles, valsando, e Gina conseguiu ver um sorriso no rosto do diretor ao fitar Harry e Gina. Quando eles foram embora, Gina desencostou o rosto do peito de Harry e o encarou.
- Está tudo bem?
Houve uma pausa.
- Claro, Gina.
Ela voltou a encostar a cabeça, mas ainda se sentia confusa e aflita.
- Depois do baile, Gina, eu quero conversar com você.
- Por que não fala agora?
- Agora não. Agora eu só quero estar com você.
Ela sorriu, tentando se tranqüilizar.
- Tudo bem.
Dali a pouco tempo, ela viu um outro par passar próximo a eles. Luna acenou para Gina, com um enorme sorriso no rosto. Neville estava de costas e Luna apoiava o queixo em seu ombro. Gina acenou de volta. Luna deveria estar bastante feliz; por tanto tempo gostara de Rony – um caso perdido desde o começo – e nunca percebera que havia alguém ao seu lado que gostava dela. Gina cutucou Harry.
- Que foi?
- Olha lá, Luna e Neville. Eles combinam.
Harry sorriu para Gina. A música terminou. Gina puxou Harry para fora da pista, e os dois caminharam até uma mesa onde estavam Rony e Hermione, conversando. Eles pararam subitamente quando Harry e Gina chegaram.
- Estou morrendo de sede. – Gina reclamou ao se sentar, abanando-se com a mão. Sentia o suor escorrer por seu rosto. – Tem alguma coisa aqui para beber? – ela perguntou, agitando uma garrafa de cerveja amanteigada vazia.
- Ah, eu vou buscar alguma coisa, então. – Harry se mexeu. Gina encarou Hermione, que parecia desconfortável.
- Rony, vá com ele. – Gina pediu.
- Por quê?
- Porque Hermione parece com sede também.
- Eu? – ela levou um susto, mas se calou ao perceber o que Gina queria. – Hm... pode ir, Rony.
Gina esperou os dois garotos se afastarem para começar a falar.
- Vamos, Hermione, abra o jogo. O que vocês estão escondendo?
Hermione quase engasgou com a própria saliva.
- Escondendo? – ela perguntou tossindo. – De onde você tirou isso, Gina? – a garota apenas fitou Hermione, que mordeu o lábio inferior. – Como você percebeu?
- Você e Rony estão esquisitos. E Harry também.
Hermione respirou fundo.
- Eu terminei a poção. – ela disse tão depressa, que as palavras se juntaram umas nas outras. Gina arregalou os olhos. Seu estômago despencou. – Eu a entreguei a Harry hoje.
- Hoje? – Gina repetiu sem fôlego, revoltada. Ela fez uma pausa para se recuperar. – Harry já a tomou?
- Eu acho que não. – Hermione respondeu sem emoção. – Ele continua o mesmo com você, não é?
Gina se virou na cadeira e enxergou Harry e Rony voltando com garrafas de cerveja amanteigada nas mãos. Ela se virou novamente para Hermione.
- Quer dizer que vocês três sabiam disso e eu aqui era a única otária que estava por fora?
- Claro que não, Gina! – Hermione protestou. – Nós só não contamos ainda porque você estava tão contente que...
- E o que iria acontecer depois? – a garota retrucou num tom um pouco mais alto. – Harry iria tomar sem que eu soubesse também?
- O que está acontecendo aqui? – Rony perguntou confuso assim que chegou, colocando as garrafas na mesa. Gina se virou para ele enfurecida, e se levantou soltando fogo pelos olhos.
- O que está acontecendo, Ronald, é que se vocês pensam que eu sou idiota, acabam de descobrir que eu não sou! – ela gritou, esbarrando numa das garrafas, que tombou e se partiu, fazendo com que a cerveja escorresse para o chão.
- Ronald? – Rony repetiu em choque, virando-se confuso para Hermione, que fez uma careta. Gina se virou para Harry, sentindo o sangue ferver nas veias.
- Você não tinha esse direito! – ela disparou, apontando o dedo em riste para ele. – Não podia ter escondido de mim que estava com a poção!
- Gina...
- Como você iria fazer, Harry? – ela continuou, sem dar tempo de resposta a ele. – Num dia estaria tudo bem e no dia seguinte você nem se lembraria de mim, era isso? – ela fez uma pausa, sem fôlego. – Pra mim é o bastante!
Rony observou a irmã partir, com os olhos arregalados, então se virou para Hermione.
- Que diabos deu nela?
A garota suspirou.
- Eu acabei contando da poção.
- Tá brincando?!
Harry se virou para o lugar por onde Gina tinha ido.
- Eu vou atrás dela. – ele disse, colocando as garrafas de cerveja amanteigada na mesa e sumindo na direção do Hall de Entrada. Rony se virou para Hermione novamente.
- Vamos também.
- Não, Rony! – Hermione segurou sua manga. – É assunto deles.
- Não, é nosso assunto também. – Rony retrucou seriamente. – Nós quatro estamos juntos nisso. E ela é minha irmã.
Os corredores estavam vazios quando eles saíram correndo o mais depressa que conseguiram por eles; todos estavam no baile. Rony corria na frente, e Hermione ia atrás.
- Vamos logo, você está nos atrasando! – ele reclamou.
- Tenta correr com esse vestido, Sr. Apressadinho! – ela respondeu emburrada. – Isso é loucura, Rony, nós nem sabemos onde eles estão!
- Eu tenho um palpite. – ele disse, puxando-a pela mão, e os dois prosseguiram correndo. Hermione já estava ficando sem fôlego.
- Qual? – houve um estalo em sua mente. – A sala do A.D.?
- Você tem alguma idéia melhor?
- Sim, parar de nos meter em assuntos alheios!
- Nem vem, Mione...
- Rony, espera! – ela parou de correr por um momento, apurando os ouvidos. – Você não sentiu isso?
- O quê?
- Parece que o chão tremeu.
- Ah, deve ser só a música alta lá embaixo... Vamos logo!
Rony estava certo. Eles encontraram Harry e Gina em frente à tapeçaria que retratava a insensata tentativa de Barnabás, o Amalucado, de ensinar balé aos trasgos. Rony e Hermione se esconderam na dobra do corredor, observando Harry e Gina.
Eles discutiam. Gina parecia simplesmente enfurecida. Ela estava um pouco mais além, andando de um lado para o outro, sem parar de falar. Harry estava de costas, e falava pouco.
- Você não podia ter feito isso, Harry, não podia!
- Gina, eu...
- Você ia tomar aquela poção sem que eu soubesse?
- EU NÃO IA TOMAR AQUELA POÇÃO!
Gina se calou por um instante.
- Como não?
Rony se virou interrogativamente para Hermione.
- É, como não? – ele sussurrou. – A não ser que...
- Eu não acredito... – Hermione observou os outros dois. – Não, Harry, você não pode ter feito isso...
- Eu não ia tomar a poção porque... – a voz de Harry soou; ele pareceu respirar fundo. Gina o encarava atônita. – Há algo que eu deveria ter lhe contado há muito tempo, Gina, talvez desde o começo...
Mas ele não conseguiu contar nada.
O chão tremeu tanto daquela vez, que Rony e Hermione se desequilibraram e caíram no chão, um por cima do outro, estrondosamente. Harry e Gina se viraram para eles, espantados.
- Rony? Hermione? – Gina perguntou. – O que estão fazendo aqui?
- Erm...
Um vento gelado apagou todas as tochas.
- O que está acontecendo? – Rony perguntou alarmado.
Hermione se levantou e olhou pela janela. Seus olhos se arregalaram em espanto e ela recuou alguns passos. Aquilo não podia estar acontecendo.- Gigantes... um monte deles...
Rony se virou no momento certo. Foi como um filme em câmera lenta. Ele viu Harry apontar a varinha e gritar “Abaixem-se!”; Rony não pensou duas vezes e jogou Hermione no chão um segundo antes de Harry gritar “Estupefaça!”.
- Mas o quê...?
Eles ouviram um gemido abafado e se viraram. Sombras se aproximavam pelo corredor oposto. Hermione, ainda deitada no chão, viu pessoas com capas e capuzes negros, carregando tochas que produziam sombras fantasmagóricas nas paredes. Ela não podia acreditar... Comensais da Morte em Hogwarts?
- Pensou rápido, Potter. – o comensal que liderava o grupo disse com uma voz arrastada. – Não pensei que pudesse fazer algo do jeito que está.
Hermione sentiu que Rony a puxava para se levantar, e os dois ficaram de pé atabalhoadamente. Rony a empurrou de maneira brusca para a parede, tentando protegê-la instintivamente. Hermione não podia acreditar que estava assistindo àquela cena. Harry continuava com a varinha apontada, bem na direção do comensal que encabeçava o grupo; havia um olhar de verdadeira fúria no rosto dele. Gina estava atrás de Harry, completamente pasma.
Havia pelo menos umas quatro pessoas no grupo de encapuzados. Dois deles seguravam tochas. Um terceiro, enorme, chutou algo no chão e disse com a voz engrolada:
- Potter o acertou.
- Deixe-o aí. – o líder disse com sua voz arrastada; metade de seu rosto pálido podia ser visto, e ele sorria sinistramente. – Ele é um inútil, não fará falta.
Foi então que Hermione, em meio à confusão de sua mente, se deu conta de quem ele era: aquela voz arrastada só poderia pertencer a...
Os dois que seguravam tochas jogaram-nas nas paredes, ateando fogo na tapeçaria de Barnabás, o Amalucado, e num quadro de uma bruxa velha, que saiu correndo de sua moldura. O corredor ficou iluminado apenas pelas chamas, e o ar ficou quente ao redor deles. Um cheiro acre de queimado impregnou o ambiente.
O líder deu mais um passo à frente. Tirou o capuz. Rony soltou um sonoro palavrão.
- Filho da mãe desgraçado!
Draco Malfoy se virou para ele com um enorme sorriso no rosto. Os outros também mostraram seus rostos; Hermione não acreditou no que estava vendo. Atrás de Malfoy, estavam Pansy Parkinson, Gregory Goyle e Teodoro Nott. Crabbe estava no chão, estuporado pelo feitiço de Harry.
- Então vocês viraram mesmo Comensais! – Rony exclamou rouco.
Malfoy sorriu desdenhosamente.
- Alguém tem que subir na vida por aqui, Weasley. – ele se virou para Harry, que permanecia impassível, a varinha ainda apontada. – É hora de acertar nossas contas, Potter, se estiver disposto.
Harry sorriu selvagemente.
- Ainda tenho tempo para perder com você.




Luna corria o máximo que podia, mas aquela porcaria de vestido estava atrapalhando. Neville segurava sua mão e a puxava para que fossem mais rápido. Estava acontecendo... exatamente como ele descrevera.Neville não acreditava que aquilo estivesse acontecendo. Hogwarts não era mais o local protegido que um dia fora. Nem em um milhão de anos ele imaginaria que aquela fortaleza seria invadida por Comensais da Morte e criaturas das trevas. Mas o dia tinha chegado.
Eles pararam de chofre ao dobrar um corredor, chocados com a cena que presenciaram. Dois vultos encapuzados pronunciaram uma maldição, e o lugar se encheu de uma luz verde. Duas pessoas caíram no chão, num baque surdo. Neville, pasmo, se lembrou de um dia distante.
“Ah, a última e a pior... Avada Kedrava... a maldição da morte...
Houve um relâmpago de ofuscante luz verde e um rumorejo, como se algo vasto e invisível voasse pelo ar...”

Luna reconheceu os dois corpos no chão. Antônio Goldstein e Susana Bones.
“Não... isso não pode acontecer...”
“Mas vai, menina, e você vai ver muitos caírem. Mortos.”

Estava acontecendo tudo como ele disse.
- Vamos embora... – Neville sussurrou em pânico, recuando, sua mão apertando tanto a mão de Luna que chegava a doer. Um dos encapuzados se virou e seus olhos brilharam no escuro, ameaçadores. – Agora...
Eles correram na outra direção, sem olhar para trás, e Luna se deu conta de que nunca correra tanto em toda a sua vida. Dobraram um corredor, dois, e nunca pararam de correr. O chão tremia sob seus pés. Neville sentiu suas entranhas congelarem; parecia que o ar tinha virado gelo.
Luna deu um encontrão nas costas de Neville quando ele parou bruscamente pela segunda vez. Ela viu, com espanto, as paredes de pedra congelarem lentamente, formando um enorme bloco de gelo ao seu redor.
- Dementadores... – Neville murmurou, e uma nuvem de fumaça saiu de sua boca.
Havia uma meia dúzia deles. Deslizavam no ar, lentamente, como se não tivessem a menor pressa de abocanhar suas presas. Neville recuou, e Luna o acompanhou aos tropeços. Ela nunca mais seria feliz na vida...
Ela tinha nove anos. Seus pais trabalhavam no Departamento de Mistérios... Eles eram tão inteligentes...
- Papai, mamãe não vai voltar?
- Não, Luna... – seu pai respondeu abraçando-a e enxugando suas lágrimas. – Ela ultrapassou o véu... e fez uma grande viagem...

Neville sacou a varinha; seus dedos tremiam em torno dela, ao mesmo tempo em que sentia Luna agarrar suas vestes por trás, em desespero. Ela parecia estar tendo pesadelos horríveis. Mas não era a única. Por mais que tentasse, Neville não conseguia encontrar nenhum pensamento feliz em sua mente. Ele sabia que essa era a chave para conjurar o Patrono; foi o que Harry tinha dito, naquela aula... Mas ele não conseguia tirar aquela lembrança da cabeça...
Ele tinha quatro anos de idade. Ele e sua avó caminhavam por um corredor branco de hospital, de mãos dadas. Sua avó parecia enorme.
- Vovó, porque papai e mamãe não sabem que eu sou filho deles?
Sua avó se abaixou. Mas ainda era enorme.
- Preste bastante atenção, Neville. Seus pais eram corajosos. Lutaram por você. Um homem mau fez isso com eles.
- Eles nunca vão ficar bons?
Sua avó enxugou suas lágrimas.
- Eu rezo todas as noites para que esse milagre ocorra...

Alguém gritou um feitiço atrás deles. Quando Luna se virou, era tarde demais...
Neville segurou Luna em seus braços antes de ver aqueles olhos brilhantes lhe encararem no escuro. Não houve tempo para reagir.
Estava acabado.



Não fazia sentido. Gina não podia acreditar. Simplesmente não podia.
Harry e Malfoy trocavam feitiços com uma velocidade impressionante. Havia ódio em seus olhos. Uma luz negra saiu da varinha de Malfoy, mas Harry conseguiu rebatê-la; o feitiço, porém, era forte demais e empurrou Harry para trás, fazendo-o voar e bater de costas na parede de pedra, estrondosamente.
- HARRY! – Gina gritou desesperada.
Mas ele já tinha balançado a cabeça e se levantado, seus olhos faiscando na direção de Malfoy, que caminhava com a varinha apontada...
Hermione arregalou os olhos.
- Harry, atrás de você!
Ele se virou rapidamente. Havia um outro comensal atrás dele, com a varinha apontada. O capuz foi retirado, revelando uma mulher de cabelos negros e com traços que, algum dia, poderiam ter sido belos, mas que agora eram marcados por uma expressão selvagem.
Bellatrix Lestrange.
Gina viu a expressão no rosto de Harry ao ver Bellatrix. Era a mesma daquela ocasião, no penhasco, quando eles duelaram naquele dia horrível. Quando tudo começou...
Malfoy apontou a varinha para as costas de Harry, e Rony percebeu que ele não tinha honra o suficiente para ter vergonha de atacar um oponente pelas costas. Sacou a própria varinha no momento exato.
- Expelliarmus!
O feitiço que Malfoy estava conjurando foi desviado e ricocheteou nas paredes, atingindo o lustre no teto, que rompeu e pendeu perigosamente. Malfoy se virou para Rony com os olhos em chamas.
- Parece que vai ter que se contentar em duelar comigo agora, Malfoy. – Rony provocou com um sorriso irônico.
Goyle devolveu a varinha de Malfoy. Este, por sua vez, devolveu um sorriso sarcástico a Rony, apontando a varinha para ele.
- Nem vai dar nem para me divertir, Weasley...
Hermione encarou os olhos frios de Teodoro Nott. Ele não disse nada, apenas a fitou com um sorriso horrível. Ela respirou fundo e segurou a varinha com maior firmeza, pronta para a luta.
Gina estava paralisada. Bellatrix Lestrange ria loucamente, fitando Harry com uma expressão desvairada no rosto massacrado por Azkaban.
- Oh, o bebê Potter ainda sabe brincar... – ela caçoou, imitando uma voz estridente de criança. – Quer brincar comigo, bebezinho? Será que você se lembra?
Harry apontou a varinha. Gina entrou em pânico. Ela não entendia o que estava acontecendo com ele, mas não queria que ele lutasse com aquela mulher horrível. Tinha um pressentimento ruim...
- Harry!
Ela tropeçou, como se um fio invisível estivesse no chão. Virou-se para trás, enfurecida, e viu o rosto sorridente de Pansy Parkinson.
- Azaração do Tropeço, garotinha! – o seu tom perdeu o ar de gozação. – Eu disse que cuidaria de você pessoalmente...
- Não me chame assim, sua vadia! – Gina gritou, levantando-se e entrando na luta. – Riddikulus!
- Protego! – o feitiço ricocheteou no teto. – Isso não vai funcionar comigo, garotinha.
- Eu já mandei que não me chamasse desse jeito!
Gina gritou uma nova azaração, que acertou a sonserina em cheio dessa vez, atordoando-a. Ela aproveitou o momento para olhar para os lados, mas não viu mais Harry ou Bellatrix; Hermione duelava com Teodoro Nott, ao mesmo tempo em que Rony tinha uma batalha acirrada com Draco Malfoy.
Mas Gina pagou por sua distração e foi atingida por uma Azaração das Pernas Bambas, que a fez tombar no chão. Pansy Parkinson riu – mas muito cedo; Gina devolveu com um bem colocado Furnunculus, que fez a sonserina gritar de dor no momento em que furúnculos preencheram todo o seu rosto.
- Protego! – Hermione gritou, e a maldição que Teodoro Nott conjurou rebateu na sua barreira.
Aquele garoto sabia uma variedade de feitiços que muitos bruxos adultos nem faziam idéia. Hermione arfou de cansaço, mas aparentemente Nott não era sujeito a esse tipo de fraqueza. De onde surgiu esse garoto? A aparência franzina dele em nada refletia sua magia; ele não parava de lançar azarações e maldições, uma atrás da outra, e Hermione fazia o possível para rebatê-las, até que...
O ar faltou em seus pulmões, e ela sentiu um braço forte em seu pescoço. Tentou inutilmente detê-lo, mas quanto mais tentava, mais se mostrava impossível; o aperto se tornava cada vez mais forte e impiedoso. Não havia mais ar. Ela enxergou, nebulosamente, o rosto de Teodoro Nott abrir um sorriso malicioso; ele apontou a varinha. No entanto, Hermione desmaiou antes de ser atingida pela maldição.
A sua varinha quicou estridentemente no chão de mármore ao cair de sua mão.
Rony arregalou os olhos ao ver Hermione ser jogada por Goyle no chão, desacordada.
- Hermione! – ele gritou desesperado, tentando correr até ela, mas foi detido por Malfoy, que se interpôs em seu caminho. – SAI DA MINHA FRENTE! – ele bradou cego de raiva, esquecendo de vez a magia e dando um soco bem no meio dos olhos de Malfoy, que tombou para trás como um bêbado.
Rony tentou correr até Hermione, mas esbarrou em Goyle, que o jogou para trás. O garoto deslizou pelo chão, levantou os olhos enfurecido para Goyle e o mandou para um lugar que não mandaria na presença de sua mãe. Estava se levantando quando ouviu a voz de Malfoy exclamar:
- Diffindo!
Quando Rony se deu conta do que estava acontecendo, já não era possível escapar. Malfoy tinha soltado o lustre pendente do teto bem em cima dele.
- Finite Incantatem! – Gina exclamou, mirando a própria perna, que parou de tremer no mesmo instante. Ela se levantou e apontou a varinha para Pansy Parkinson, ainda desesperada por causa de seus furúnculos que lhe adornavam o rosto. No entanto, antes que dissesse o feitiço final, Gina ouviu o barulho estridente de metal e vidro se estatelando no chão. Ela se virou imediatamente e sentiu o coração parar ao enxergar Rony debaixo dos restos do lustre, inconsciente e sangrando.
Foi tempo suficiente para que Teodoro Nott a desarmasse. Gina recuou, e enxergou Draco Malfoy caminhando em sua direção, com um sorriso maldoso estampado no rosto pálido.
Era o fim para ela.
- Eu disse que me vingaria. – ele disse com um prazer insano na voz arrastada, apontando a varinha na direção de Gina, enquanto caminhava tranqüilamente. – Você vai pagar pelo que me fez.
O feitiço que atingiu Gina era aquele mesmo que Malfoy tinha tentado utilizar em Harry; ela sentiu o corpo paralisar aos poucos quando a luz negra a atingiu. Primeiro, a sua voz sumiu, depois, aos poucos, dolorosamente, seus membros foram paralisando, um a um. Ela não escutava mais. Foi como se suas pernas virassem pedra, e ela caiu no chão. A única coisa que conseguia fazer era mover os olhos. Ela viu o rosto de Malfoy debruçado sobre si e teve vontade de cuspir nele, mas não conseguia.
A última coisa que viu foi o seu sorriso malicioso antes de tudo ficar escuro.

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