A resposta de Gina



Nota da autora: Bem, aqui está o final. O último capítulo e o epílogo. A Nena termina aqui... E eu nem sei o que dizer. Acho melhor deixar vocês lerem tudo antes de falar qualquer coisa. Boa leitura!




- Então... foi isso?
- Sim, Hermione. – Lupin explicou pacientemente. – O que eu sei é que Dumbledore já tinha alguma idéia do que fazer, o que ele queria era enganar Voldemort, ganhar tempo. Ele e Harry estavam tentando chegar a uma maneira, e Dumbledore estava com essa idéia e, no final, ela realmente aconteceu. Mas Harry só soube disso de verdade quando Dumbledore o fez se lembrar e lhe deu a idéia de fingir que ainda estava sem memória... Ele não estava fingindo antes disso, Hermione.
Ela não respondeu de imediato. Fitou os jardins ensolarados através da janela da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas. Rony e Gina já deveriam ter desistido de esperá-la para visitar Hagrid, de tanto que ela estava demorando. Defesa Contra as Artes das Trevas era a matéria que Harry mais gostava... Sentiu uma pontada ao perceber esse pensamento involuntário.
- Tem razão, professor. – ela respondeu depois de muito tempo. Lupin a tinha esperado pacientemente e sorriu ao ouvir a resposta. – Na verdade, acho que isso não faz diferença mesmo...
Hermione se ergueu, e Lupin a acompanhou com os olhos cansados.
- Obrigada mesmo assim.
Ele acenou com a cabeça apenas. Porém, quando ela já estava abrindo a porta para sair, ouviu a voz rouca dele perguntar:
- Hermione...?
- Sim? – ela se virou.
- Não precisa responder se achar a pergunta indiscreta, mas... – ele hesitou um segundo. – Você vai aceitar o convite da Profª McGonagall? Ela comentou comigo, estava muito ansiosa...
Hermione fitou o professor por alguns momentos, sem saber o que responder. Não sabia muito bem o que fazer, depois de tudo que tinha acontecido, tudo ficara tão confuso, que nem pensar na sua carreira – algo que seria sua prioridade algum tempo atrás – ela conseguia. Pensou no que Rony tinha dito “Eu acho que você deveria aceitar. Você é ótima nessa matéria, Hermione, sempre foi. Mas em que matéria você não é boa, não é?”. Sorriu.
- Vou aceitar sim.
Lupin sorriu abertamente.
- Fico muito contente de ser seu colega. – o bruxo disse, surpreendendo Hermione. Ela nunca tinha parado para pensar que seus professores seriam seus colegas de trabalho. – Sabe, você me lembra muito a mim mesmo, Hermione...
- Por quê? – ela perguntou curiosa.
Ele riu de mansinho.
- Tiago e Sirius às vezes me chamavam de “sabe-tudo” também, só porque eu estudava sério e tudo mais... – ele suspirou, seu olhar nostálgico. – Nunca pensei que fosse sentir tanta falta disso...
Houve um minuto de silêncio entre os dois. Hermione se lembrou, com carinho, de Rony e Harry, quando eram mais novos, implicando com ela pelos estudos... Era muito estranho pensar que jamais os três se sentariam juntos novamente, nas suas poltronas preferidas no Salão Comunal, tarde da noite, os dois meninos com os deveres atrasados, e ela, penalizada, ajudando-os e corrigindo suas redações...
Ela se despediu do professor, que também parecia perdido em pensamentos, e somente secou os olhos quando estava sozinha no corredor. Estava tão deserto... silencioso... como um filme mudo ou um quadro preto-e-branco. Ela sabia que os alunos deveriam estar lá fora, aproveitando o dia de sol nos jardins, rindo e brincando, mas, para ela, até aquilo parecia sem som... como se de repente tivessem tirado algumas notas da música da sua vida.
Foi então que ela viu, sentados à beira do lago, à sombra de uma faia que ela, Rony e Harry costumavam sentar juntos, duas pessoas de cabelos muito vermelhos. Eles não estavam conversando. Gina abraçava as pernas e observava o lago, distraída, enquanto Rony tinha sua cabeça encostada ao tronco da árvore. Seus olhos vazios encontraram os de Hermione e, à medida que ela se aproximava, Rony abriu um sorriso suave.
- Você demorou... – disse de mansinho, assim que Hermione sentou-se ao seu lado, descansando a cabeça em seu ombro.
– Estava... fazendo uma coisa... Desculpem o atraso.
Não quis contar o que estava fazendo na frente de Gina, mesmo que a garota estivesse tão absorta em seus próprios pensamentos, que parecia nem ouvi-los.
- O Hagrid mandou um bilhete para a gente... – Rony começou a dizer, então fez uma pausa, respirou fundo e lançou um olhar oblíquo para Gina, que não lhe deu atenção. – ... pela Edwiges. Ele quer nos ver daqui a pouco.
- Ah, sim... – Hermione ergueu-se. – Vamos logo então... Você vem, Gina?
Houve um minuto no qual ela não respondeu. Rony levantou-se também, trocou um olhar com Hermione e, então, tocou gentilmente o ombro da irmã. Hermione nunca tinha visto de verdade a relação dos dois desse jeito. Geralmente eles eram aquele tipo de irmãos que brigavam, mesmo se amando. Gina respirou fundo e se levantou, ainda sem olhar para eles.
- Eu vou sim.
Foi Hermione que bateu à porta da cabana; quando esta se abriu, Canino saltou em cima deles, contente, e fez festa para Gina, que ele não estava muito acostumado a ver. Eles ouviram um “Entrem, entrem” lá do fundo e, quando Gina fechou a porta atrás de si, Canino ficou olhando a porta por algum tempo, como se esperasse mais alguém.
- Pare com isso, Canino! – Hagrid apareceu com seu casacão de pele de toupeira, uma chaleira fumegante na mão, afastando Canino da porta com a mão livre; o cão estava arranhando a madeira, choramingando. – Oras, cachorro tolo, poderia ter saído se quisesse!
Ele abriu a porta, mas Canino não saiu. Sentou-se muito reto, quieto, observando a porta aberta e quando, resmungando, Hagrid a fechou novamente Canino correu para a cama do gigante e começou a tentar alcançar algo sobre ela. Rony olhou com estranheza para o local; o cão estava fazendo a mesma festa que tinha feito para Gina, mas não tinha ninguém ali.
- Cachorro burro. – Hagrid resmungou. – Está assim há dias! Deve ser porque está velho. – então ele sorriu para os três garotos. – Que bom que vocês vieram! – exclamou, realmente satisfeito. – Muito bom, muito bom mesmo.
Ele fez os garotos sentarem-se à mesa e serviu chá aos três. Hermione notou que Gina, sem saber, sentou-se à direita do local que Harry costumava ocupar quando vinha ali. O lugar, no entanto, ficou vazio. Hagrid pegou uma cadeira a mais para ele.
- Então, estão de folga, hum? – o meio-gigante perguntou meio animado. – Desculpem ter tirado vocês do sol lá fora...
- Você é mais importante que o sol lá fora. – Hermione disse para ele, que abriu um enorme sorriso lacrimejante.
Rony recostou-se ao banquinho, observando a cabana com uma certa nostalgia. – Vou sentir falta daqui. – ele disse repentinamente. – Vou sentir saudade das vezes que escapamos para vir visitá-lo aqui, Hagrid... Hey, você tem alguns daquele bolinhos que grud... – ele pigarreou, mas Hagrid pareceu não notar. – Digo, aqueles bolinhos muito bons?
- Ah, claro, vou pegar. – o amigo disse prontamente, como se nada o fizesse mais feliz do que oferecer bolinhos que grudavam os maxilares para Rony. – Não gostou do chá, Gina? – ele perguntou delicadamente, enquanto oferecia uma bandeja cheia de bolinhos para Rony, que pegou um e o observou longamente, Hermione não sabia se com medo de comê-los ou apenas por saudade mesmo.
Gina segurava a xícara próxima, mas ainda não tinha sequer tocado no chá. Observava, distraída, seu reflexo no líquido.
- Esse cheiro... – ela sussurrou, então, como se um arrepio percorresse sua espinha, ela olhou depressa para o lugar vago ao seu lado, onde Harry costumava sentar. – Hum... não, Hagrid, imagine. – ela completou mais tarde, voltando-se para o meio-gigante. – Não, não, o chá está ótimo.
Ela tomou um gole breve, ainda fitando o lugar, curiosa.
- Então... – Hagrid suspirou profundamente. – Vocês estão saindo de Hogwarts... – ele sorriu para Rony e Hermione. – É difícil acreditar que esse dia chegou...
Ele lançou um olhar triste para o local que Harry costumava ocupar na mesa, e novamente um silêncio pesado se fez entre eles. Rony pigarreou e tentou mudar de assunto.
- Difícil acreditar que vamos deixar de ver a Mione aqui correndo para a biblioteca ou enlouquecendo pelos exames, não?
Hagrid e Rony riram. Gina pareceu não escutar; ela pousou a xícara, intocada, sobre a mesa, e começou a tentar acariciar Canino, que agora tentava alcançar o lugar ao lado de Gina, mas não subia.
- Mas não é por que terminamos a escola que vamos deixar de estudar, Rony! – Hermione disse depois que os dois pararam de rir. – É muito importante nunca parar de estudar e...
Gina recuou. Canino não parava de pular, fazendo a mesa balançar. Hagrid xingou e começou a puxá-lo debaixo da mesa.
- Cachorro burro! Será que vou ter que prendê-lo lá fora, Canino?
Hagrid puxou o cachorro com dificuldade, até que finalmente ele saiu debaixo da mesa, e o meio-gigante o colocou para fora da cabana. Eles ainda ouviram os uivos dele lá fora, arranhando a porta para entrar.
- Eu não entendo, está assim desde... – então Hagrid parou de falar, sentando-se e observando novamente o lugar vazio de Harry. – Não importa, esse cachorro está maluco mesmo.
Eles continuaram a conversar depois disso, comentando sobre as profissões que Rony e Hermione iriam seguir. Rony tinha conseguido alguns contatos no Ministério da Magia; talvez conseguisse entrar para o Departamento de Esportes Mágicos, mas havia uma vaga no Departamento de Execução de Leis em Magia, que Hermione insistia que ele se empenhasse em conseguir, assim como sua mãe. Hermione contou sobre o cargo de Transfiguração, e Hagrid ficou muito feliz que ela tivesse aceitado, assim não deixariam de se ver. Gina apenas disse que ainda tinha mais um ano em Hogwarts para se decidir quando perguntaram a ela o que gostaria de fazer. Eles comentaram sobre Neville, que ia fazer um estágio no Hospital St. Mungus, até que Hagrid falou sem perceber:
- E o Harry?
Novamente o silêncio caiu sobre eles, e foi como se um vento frio passasse ao redor deles na mesa. Gina ficou ainda mais calada que antes. Rony e Hermione se entreolharam.
- Quer dizer... – Hagrid tentou consertar, encabulado. – Fico pensando o que ele faria se...
- Eu acho que ele jogaria quadribol! – Rony disse com um fingido entusiasmo. – Não acha, Mione?
Porém, antes que ela conseguisse responder, eles ouviram o tom sério da voz de Gina:
- Eu acho que não... – ela passeava os dedos pela xícara de chá ainda cheia. – Ele não conseguiria ficar longe da ação... talvez ele fosse Auror, ou coisa parecida...
Ninguém comentou nada depois disso. Hermione tentou se concentrar com seu chá, mas foi aí que ouviu um soluço ao seu lado. Hagrid estava chorando.
- Hagrid...?
Ele tapou os olhos com as grandes mãos, seu corpo enorme se remexendo de soluços que ele tentava reprimir. Gina e Rony pareciam simplesmente chocados demais para fazer alguma coisa. Hermione, confusa, levantou-se e colocou a mão no ombro dele, e Hagrid deu tapinhas na mão da garota, ainda descontrolado. Seus olhos estavam muito vermelhos e molhados, as lágrimas grossas corriam pelo rosto, perdendo-se na barba emaranhada.
- Hagrid... oh, Hagrid, não fique assim... – ela tentou consolá-lo.
- É-é-é... t-tão... injusto! – ele urrou entre soluços. – E-ele s-só tinha d-dezessete anos! T-tão jovem... E-e nun-nunca teve uma vi-vida normal! – ele passou as mãos pelos olhos com força, mas eles ainda estavam molhados. – E-eu ainda-da me lembro d-de quando o co-conheci... T-tão surpreso de s-ser bruxo! E-ele insis-sistiu q-que eu tinha me enganado! Ima-magine, lo-logo ele!
Hermione conjurou um copo de água com açúcar para ele, que ainda chorava descontrolado. Era horrível vê-lo daquela maneira.
– Hagrid, beba isso...
- N-não quero me-me acalmar! – ele tirou o copo de sua frente, e ele se espatifou em pedacinhos no chão. – O Ha-harry não po-podia ter mo-morrido! Por-por que ele f-fez isso, por-porque ele deixou a gente? E-ele pó-podia estar a-aqui! Por-por que ele foi embo-bora?
Hermione olhou para Rony e Gina, buscando alguma ajuda. Gina tinha uma expressão desconsolada. Rony parecia perdido.
- Hagrid... – ele murmurou quase envergonhado. – Ele sabia que tinha que ser assim... Não tinha jeito...
- Ti-tinha que ter um je-jeito! – Hagrid urrou. Ele respirou fundo, em silêncio por algum tempo, controlando os soluços. Limpou o rosto novamente, os olhos extremamente inchados e vermelhos. – Ele veio aqui, sabem... ele vinha muito aqui, sozinho... Ele me contou o que ele e o Prof. Dumbledore estavam fazendo, e acho que foi a primeira vez na minha vida que eu realmente fiquei muito zangado com o que o professor estava fazendo!
Ele encarou os meninos, com uma expressão dura.
- Tinha que ter outro jeito! Por que eles tiveram que fazer isso, por que ele teve que fazer o Harry mentir daquele jeito, aquilo estava matando-o! – ele fez uma pausa. – Ele... ele veio aqui uma vez. Arrasado, é como ele estava. E me contou... Ele achava que vocês jamais iam perdoá-lo, que jamais iam olhar para ele novamente se descobrissem... e certamente um dia vocês iam descobrir. Eu falei para ele contar, que vocês iam entender, mas ele disse que já tinha se tornado grande demais, e que ele não podia, de qualquer jeito... que ele não queria perder vocês... Ele me fez jurar que não contaria também...
CRASH.
Canino latiu alto lá fora. Ao lado de Gina, a sua xícara, cheia de chá, que estava bem no centro da mesa, caiu pra fora dela e ficou em pedacinhos. Hermione imediatamente se lembrou da lembrança de Harry que viram na Penseira...
“Ei, eu ainda não tinha terminado meu chá, Sirius!”, Luna tinha dito... Seria possível...?
Eles conseguiram acalmar Hagrid e, mais tarde, quando caía a tarde, deixaram a cabana do amigo. Ninguém comentou sobre a xícara quebrada. Na verdade, eles não falaram mais nada por muito tempo. Ainda havia alguns alunos aproveitando o final da tarde, mas os três seguiram para o castelo. Gina estava começando a preferir que Rony e Hermione a deixassem sozinha; talvez desse uma desculpa qualquer e fosse para o seu dormitório. Rony tinha desenvolvido o hábito irritante de segui-la para todo lado, como se achasse que ela fosse um vaso idiota prestes a quebrar. Era como se todos estivessem tentando ficar perto dela o maior tempo que podiam, apenas para ela não pensar, como se fosse possível esquecer que Harry não estava mais entre eles. Foi quando eles viram Neville, no terceiro andar, observando com os olhos perdidos pela janela do corredor.
- Hey, Neville. – Rony cumprimentou. – O que está fazendo aí, sozinho?
- Anh... – ele pareceu desconfortável. – Apenas... pensando um pouco. E vocês?
- Fomos no Hagrid. – Hermione disse. – Ele mandou parabéns a você pelo estágio.
Ele deu um sorriso um tanto artificial.
- Obrigado... – murmurou. – Anh, eu vou...
- Neville? – Gina chamou. Os três a fitaram ao mesmo tempo. – Eu preciso dar uma palavrinha com você... – ela lançou um olhar oblíquo para Rony e Hermione. – Em particular...
Rony abriu a boca para perguntar algo, mas Hermione o puxou pelo braço.
- Vamos, eu quero ir a biblioteca ver uma coisa.
- Hermione, nós nos formamos! – ele exclamou indignado ao longo do corredor. – O que há para ser visto na biblioteca? Mofo?!
Gina esperou a discussão dos dois morrer à distância para começar a falar. Já fazia algum tempo que queria conversar isso com Neville, mas também fazia algum tempo que Gina não conseguia simplesmente raciocinar direito após a morte de Harry.
- Tem uma coisa que eu preciso entregar a você, Neville.
Alguns minutos depois, Gina estava descendo as escadas do dormitório feminino com um globo de vidro cuidadosamente seguro em suas mãos. Harry tinha feito um último pedido a ela, e confiado-lhe aquele globo. Era hora de entregá-lo ao seu dono.
Neville estava esperando-a sentado em frente à lareira apagada, sozinho. Os alunos estavam todos aproveitando o final do semestre, e não confinados na Sala Comunal. Gina sentou-se de frente a ele no sofá. Ele observou intrigado o que Gina segurava.
- Eu lembro disso... – ele murmurou lentamente. – Daquela primeira vez que fomos ao Departamento de Mistérios, Harry apanhou um globo como esse... – então ele corou. – Eu o quebrei...
- Esse é outro, Neville. Você se lembra que Harry nos disse que havia três profecias? – ela estendeu o globo para o garoto. – Ele me pediu que lhe entregasse a última delas...
Neville, intrigado e com as mãos ligeiramente trêmulas, apanhou o globo em suas mãos. Os olhos dele se arregalaram.
- Mas aqui está... está o meu...
- O seu nome. – Gina completou calmamente. – Harry me pediu esse último favor antes de... antes de morrer. – ela disse firmemente. – Ele me pediu que lhe entregasse essa profecia. Ela é sua.
- Mas... – ele parecia totalmente confuso. – O que isso significa, Gina?
- Eu não sei. Acho que cabe a você descobrir por si mesmo, Neville...




O Salão Principal não estava decorado como de costume. Havia faixas negras descendo do teto encantado – refletindo o céu nublado e escuro de fora do castelo –, representando o luto da escola, assim como quatro anos antes, quando Cedrico Diggory morrera, e Lord Voldemort retornara.
Agora, as coisas estavam diferentes. Lord Voldemort se fora definitivamente, porém, junto com ele, foram também Alvo Dumbledore e Harry Potter. E todos ali presentes tinham certeza de que Hogwarts guardaria esse luto para sempre.
Mesmo que estivesse cheio, o salão guardava algumas lacunas nas mesas das Casas. Restavam poucos alunos na mesa da Sonserina e, até mesmo em outras mesas havia alunos faltando. Alguns, porque padeceram na batalha derradeira contra Voldemort. Outros, porque revelaram a que lado realmente pertenciam e, por esse motivo, não fazia mais sentido estarem ali.
Luna Lovegood era de um desses poucos alunos que restaram. Ela estava sentada na mesa da Corvinal, sozinha como de costume, mas, desta vez, não porque as pessoas não quisessem ficar perto dela por ser uma louca aberração. Não, assim como tinha sido quando ela entrara no Departamento de Mistérios pela primeira vez, as pessoas agora queriam falar com ela, pois sabiam que ela tinha participado da batalha contra Voldemort e seus seguidores no Ministério da Magia. Porém, agora, era Luna que queria ficar sozinha.
Ela brincava com seu copo, cheio de suco de abóbora, intacto, assim como o de todos os outros estudantes no salão. Eles esperavam que a nova diretora, Minerva McGonagall, fizesse seu discurso de final de ano para que, depois, pudessem brindar. Mas todos ali sabiam que, mesmo que a guerra tivesse terminado, não havia nada para comemorar naquela noite.
Os olhos de Luna bateram na mesa da Grifinória. Dentre as pessoas que procurava, encontrou apenas Rony Weasley e Hermione Granger, sentados, cabisbaixos e calados, lado a lado, no lugar que sempre costumavam ocupar. Havia um lugar vazio perto deles. Luna sabia a quem pertencia. Desde que Harry se fora, nem Rony ou Hermione permitiram que alguém ocupasse o lugar que era dele. Parecia que os dois queriam terminar Hogwarts com aquele lugar intacto, como se o amigo dos dois ainda estivesse ali, formando-se junto com eles.
Porém, Luna notou a ausência de mais dois grifinórios àquela noite. E entendia perfeitamente porque Gina Weasley não queria estar ali. Era óbvio que a Professora McGonagall falaria a respeito de Harry em seu discurso e, para Gina, ainda era muito doloroso ouvir sobre ele. No fundo, ela jamais aceitaria de verdade o que tinha acontecido. Para Gina, era como se Harry tivesse ido viajar para um lugar muito distante, porém, quando menos esperasse, ele retornaria. Luna sabia que esse pensamento não estava muito errado; a única coisa que era diferente era que Harry jamais retornaria – e sim, um dia, seria a própria Gina que o encontraria. Mas isso era outra história.
O que Luna não entendia, entretanto, era porque aquela outra pessoa não estava presente. Quando estava prestes a se levantar, a fim de procurar saber onde ele estava, a diretora pediu a atenção dos presentes, que se calaram imediatamente. McGonagall respirou fundo e observou seus alunos com melancolia antes de começar a falar.
- Eu estou aqui, esta noite, em um lugar que jamais gostaria de ocupar. – ela começou, não firme como sempre fora, mas ligeiramente hesitante, com a voz trêmula de emoção. – Sabia que um dia iria ocupá-lo, mas não queria que esse dia chegasse, pois sabia, também, que quando ele chegasse, um mestre admirável e, mais do que isso, um grande amigo, teria ido embora.
Todos sabiam que ela se referia a Dumbledore e permaneceram calados, esperando as próximas palavras da diretora. Antes, ela fitou o corpo docente, demorando-se em Hagrid, que não conseguia deter as lágrimas, brilhando em sua barba enorme; depois, em Snape, que tinha se tornado o vice-diretor e também mantinha a cabeça baixa, em respeito a Dumbledore e, por último, ela fitou Lupin, que acenou discretamente para a professora, como que a incentivando a prosseguir.
- Não há palavras suficientes para expressar que grande homem foi Alvo Dumbledore. – ela disse emocionada. – Muito menos para mensurar a enorme falta que ele fará entre nós e, principalmente, aqui em Hogwarts. Dumbledore se foi, mas se foi com toda a dignidade que sempre possuiu. E deixou marcas tanto nessa escola, como em cada um de nós, que jamais serão apagadas. – ela ergueu sua taça. – Um brinde a Alvo Dumbledore.
Todos ergueram suas taças e beberam em homenagem ao diretor. A diretora esperou alguns minutos antes de continuar.
- Porém, não é somente Dumbledore que fará falta entre nós. – todos olharam instantaneamente para a mesa da Grifinória. Rony passou um braço pelas costas de Hermione, e ela tombou a cabeça em seu ombro. – Ele também deixou marcas que jamais serão apagadas, e é a ele que devemos a dádiva de estarmos todos aqui, em paz, livres das atrocidades com as quais éramos obrigados a conviver por tanto tempo. Harry Potter foi um exemplo de coragem, amizade e lealdade até o fim. – ela ergueu novamente sua taça. – Um brinde a Harry Potter.
A exemplo do brinde anterior, todos ergueram suas taças e murmuraram em uma única voz o nome de Harry.
- Que este seja o começo do resto de nossas vidas e um novo começo na história da magia. – a diretora disse com a voz rouca. – Que tenhamos dias em paz daqui para frente, dias mais felizes, dias de sol.
Luna tomou um gole de seu suco, mas não conseguiu engolir todo o conteúdo do copo. Sentia-se enjoada. Sabia que só havia uma explicação para ela se sentir daquela maneira, um enjôo que vinha do nada e ia embora tão subitamente quanto aparecera. Aquela sensação... ela olhou para os lados, mas não viu ninguém. Olhou para os pratos cheios de comida, seus colegas ao redor servindo-se com vontade. Não adiantava, não conseguiria comer enquanto não resolvesse isso.
Levantou-se. Ainda arriscou um olhar de relance para a mesa da Grifinória, mas não viu ninguém. Rony e Hermione conversavam baixo entre si. Luna suspirou e deixou o Salão Principal. Provavelmente estava próximo, mas não ali.
Ninguém percebeu que ela estava deixando o castelo; não fazia mesmo muita diferença agora se um aluno andava de noite pela escola. Não havia estrelas no céu àquela noite. Uma neblina fina e gelada atrapalhava a visão; Luna sentiu o gramado úmido ao pisar. Seu estômago deu mais uma volta enjoante. Estava se aproximando.
Ela caminhou serenamente até as estufas. As plantas ali estavam molhadas pelo sereno. Paralisou. Aquela presença...
- Então você resolveu aparecer... – disse com a voz sonhadora e com um leve tom de contentamento.
- Você sabe que sou eu? – disse a voz, grossa como sempre, mas divertido.
- Tive muito tempo para me acostumar com você, não?
Luna se virou calmamente e fitou Sirius Black dentro de seus olhos azuis, agora brilhantes, um brilho que não existia antes, como se tivessem recebido uma lufada de ânimo.
- Então, no final, você se acostumou? – ele perguntou sorrindo.
A garota deu de ombros.
- Fazer o quê? Não há remédio, há? – ele meneou negativamente a cabeça, rindo com aquela risada canina. – Mas isso não quer dizer que te ache legal.
Ele fechou os olhos, sorrindo e jogando a cabeça para trás, tirando os cabelos do rosto.
- E você é uma maluca! – riu novamente daquele jeito canino.
- Sorte sua que não precisa mais dos favores da maluca. – ela alfinetou. Então, respirou fundo, tornando-se mais séria, finalmente tocando no assunto que, sabia, por ele Snuffles tinha aparecido. – Então... você veio se...
- Despedir. – ele completou pesaroso. – Sim, eu vim por isso, Loony.
- Eu imaginei. – a garota abaixou a cabeça, deixando os cabelos loiros cobrirem seus olhos. – Então... acho que é isso, não?
Houve um momento de silêncio, no qual nenhum dos dois pareceu saber exatamente o que dizer. Luna desejou que ele acabasse com aquilo de uma vez. Não era fã de despedidas, mesmo que soubesse que elas eram apenas “até logo”.
- Obrigado por tudo, menina. – Snuffles disse sinceramente. – Jamais esquecerei tudo que você fez por mim...
- Obrigada por ter me feito enxergar quem eu sou de verdade. – Luna ergueu os olhos, sorrindo. – Também não vou esquecer.
Eles se entreolharam por mais um instante, então Sirius suspirou e deu as costas a Luna. E, foi só então, que ela se deu conta de quem estava esperando por Snuffles, encostado displicentemente ao corredor da estufa. Os olhos verdes dele cruzaram com os de Luna, que estava sem palavras. Ela tentou correr até ele, mas parecia que seus pés estavam grudados na grama úmida. Sentiu aquele enjôo de novo, e entendeu o porquê. Era por causa dele.
Ele se desencostou da parede de folhas que envolviam as estufas, sorrindo serenamente para Luna. Snuffles chegou próximo a ele, mas ele pediu que o padrinho esperasse. Então ele disse, dirigindo-se a Luna:
- Você vai fazê-la entender que isso não é um adeus?
Era quase um pedido.
Luna assentiu, sem conseguir formar as palavras. Sua garganta estava muito enrolada e ela estava enjoada demais para arriscar abrir a boca.
- Diga a ela para se lembrar do que me prometeu. Por favor, Luna.
- E-eu direi. – ela respirou fundo. – Eu direi, Harry.
Então, ela não sabia como; em um momento, eles estavam lá e, no minuto seguinte, não estavam mais. Era difícil aceitar que seria a última vez – pelo menos em muito tempo – que os veria.
O enjôo tinha passado, mas as pernas ainda estavam bambas. Pensou se Gina acreditaria ou aceitaria o que tinha a lhe dizer. Queria ter tido mais tempo, perguntado mais alguma coisa, descoberto algo mais... Porém, sabia que sua função não era essa, e que tudo o que ele precisava dizer, tinha dito com aquelas poucas palavras.




O globo da profecia estava quente, apesar de ser uma noite fria. Era verão, mas havia um vento gelado, como se ele sussurrasse na escuridão que, apesar de estar tudo bem agora, muitas lágrimas tinham sido derramadas e ainda o seriam, e aquela tristeza demoraria a ir embora.
Neville estava sozinho, sentado na grama, à beira do lago. As águas pareciam calmas e brilhantes sob a luz da lua crescente. Ele ainda não tinha tido coragem de escutar o que aquela profecia dizia. Na realidade, não fazia idéia de como faria para escutá-la, e nem tinha tentado descobrir uma maneira.
Ele pensou inexplicavelmente em seus pais. E imaginou como eles se sentiriam se soubessem o que ele tinha feito. Neville não tinha contado para sua avó, muito menos para ninguém... aliás, ele achava que somente Luna sabia o que tinha acontecido àquela noite, na Sala da Morte, entre ele e Bellatrix Lestrange. Ele achou que sua avó, do jeito que era, talvez ficasse feliz, talvez se sentisse orgulhosa até, talvez finalmente dissesse que ele era filho de seus pais de verdade. Mas Neville não achava que isso o faria se sentir melhor. Pois ele não tinha orgulho, e nem achava que seus pais teriam se soubessem dizer isso...
Neville ficava repetindo para si mesmo o que Luna tinha lhe dito, que não tinha sido ele, que não tinha sido sua culpa, mas ele não sabia o que pensar. Um lado seu sentia que era sua culpa sim, que Luna estava apenas tentando consolá-lo, e que ele tinha feito aquilo e, agora, teria que conviver com isso pro resto de sua vida. Havia um outro lado seu que dizia que ela merecia, que ele fez o certo, mas mesmo assim, ele não se sentia melhor. Era como se algo ruim tivesse se instalado ali e não fosse mais sair.
Ele colocou a profecia entre a palma de suas mãos e fitou o globo enevoado, sentindo-se finalmente pronto para ouvir o que quer que fosse sair dali. Sabia que precisava da resposta, fosse ela boa ou ruim. Respirou fundo, e não precisou pensar no que fazer. Simplesmente uma voz saiu do globo – uma voz que ele conhecia, da Profª Trelawney, mas um pouco mais firme, e não aquela voz etérea e fingida.

“O final do Lorde das Trevas se aproxima... E será o poder que o Lorde das Trevas desconhece que fará o escolhido derrotá-lo, mas o escolhido terá de abdicar do que lhe é mais precioso... Pois o escolhido e o Lorde das Trevas terão suas almas muito próximas no final, e o único meio de se separarem, será o fim... será a morte... E o outro terá que fazer algo parecido no final... O outro que não foi escolhido... E ele terá que escolher entre o que é fácil e o que é certo... E o que é certo, será sua dúvida até o fim de seus dias... O único meio de vencer o Lorde das Trevas é escolhendo o certo...”

Então, tão subitamente como começaram, as palavras morreram, e havia apenas o silêncio frio da noite, e não mais a voz de Sibila Trelawney. E Neville sabia o que tinha acontecido. Ele tinha sua resposta. Ele tinha feito o certo, e aquilo iria até o fim com ele... Até o fim.
- Neville?
Ele ouviu a voz calma e sonhadora de Luna. E aquilo de certa maneira acalmou as batidas fortes de seu coração. Era como se ela o tranqüilizasse, como se ela o fizesse perceber que havia um lugar para Neville naquele mundo e que, afinal, as coisas um dia pudessem ficar bem. Apenas o tom da sua voz...
Ele sentiu Luna se aproximar, e o aroma suave que ela emanava. Ela se sentou ao seu lado, e ele sabia que ela o observava. Ele ficou imaginando se ela teria ouvido a profecia ou não, mas depois percebeu que isso não importava de verdade. Tudo o que importava era que ela estava ali.
- Você está bem?
Ela tocou seu ombro gentilmente e, quando Neville finalmente conseguiu olhá-la, viu que ela sorria amavelmente para ele. E seu olhar era tão doce e carinhoso, que ele finalmente se sentiu querido. Tudo ficaria bem.
- Estou, Luna. Eu estou bem agora.
Ela sorriu novamente, e apanhou uma das mãos dele, envolvendo-as delicadamente nas suas. Os olhos dela brilhavam com o que parecia ser lágrimas.
- Você é uma pessoa de bom coração, Neville, e muito corajoso. E eu quero ficar com você para sempre, se você também quiser.
Neville finalmente sorriu sinceramente. Aquilo significava tudo para ele.




O dormitório masculino do sétimo ano estava vazio, exceto por uma única pessoa. O malão de Rony já estava pronto para a viagem de volta para casa no dia seguinte, mas ele estava arrumando as coisas de outra pessoa. Aquilo era estranho. Ele não costumava arrumar nem as próprias coisas, imagine as dos outros. Mas aquelas tinham um valor especial. Fazer aquilo tinha um significado especial, por mais que doesse dobrar cada peça de roupa, por mais que machucasse empacotar cada livro ou objeto pessoal do seu melhor amigo.
Doía estar sozinho naquele quarto, sem Harry...
Ele não estava mais ali e jamais estaria. Fosse para rir com Rony – ou de Rony –, fosse para tacar travesseiros nele, fosse para planejar aventuras ou coisas perigosas, fosse para discutir assuntos importantes, fosse até mesmo para brigar com Rony, por algo idiota que ele tivesse feito ou por alguma outra coisa qualquer, fosse para falar de garotas, fosse para reclamar de como Hermione poderia ter feito o dever deles, fosse apenas para conversar, para fazer companhia, para ser seu melhor amigo...
Não fazia tanto tempo assim que Rony o tinha visto pela última vez – e se despedido – mas parecia que fazia décadas já. E Rony sentia uma saudade que doía no peito, uma saudade que ele sabia que continuaria ali para sempre, e tudo o que ele conseguia pensar era que podia ter aproveitado melhor aqueles anos, havia tanta coisa a ser dita, a ser feita... Por que ele não tinha feito tudo aquilo? Parecia que tinham tido tão pouco tempo, apesar de se conhecerem há tantos anos e terem feito tanto juntos... Mas não seria suficiente, nada teria sido suficiente...
Rony teve vontade de voltar no tempo. Vontade de voltar a ter apenas onze anos e nenhuma preocupação a não ser os exames, vontade de estar sentado naquele banco no Expresso de Hogwarts, comendo doces e comparando figurinhas de bruxos famosos, dividindo a cabine com ninguém menos que Harry Potter, que ele, naquele momento, jamais saberia que um dia seria, para ele, apenas Harry, o seu melhor amigo.
A Capa de Invisibilidade de Harry escorregou pelos dedos de Rony como água gelada, e ele, após alguns momentos de lembranças, guardou-a cuidadosamente também no malão. E depois havia um livro, encadernado em couro. Rony não resistiu à tentação e o abriu, e viu que não era um livro, mas sim um álbum de retratos. A primeira foto era de uma família, um pai, uma mãe e um bebê, todos sorridentes.
O pai de Harry era igualzinho a ele, só que um pouco mais velho. A mãe dele poderia ser uma Gina mais velha, só que de olhos muito verdes, como os de Harry, e um sorriso mais amável. Harry era um bebê sorridente, de cabelos muito negros, olhos verdes brilhantes e nenhuma cicatriz.
Havia outras fotos, e Rony reconheceu Sirius, Lupin e até mesmo Perebas, só que todos mais jovens. Ele virou folhas daquele passado, e imaginou quantas vezes Harry tinha olhado aquelas páginas, e finalmente entendeu o que Harry queria dizer com a vida de Rony ser maravilhosa. Por um instante, Rony imaginou o que sentiria se fosse ele a ver fotos assim de seus pais, dos seus irmãos, sem eles por perto, para lhe dar tudo o que ele tinha recebido deles por tantos anos...
Mas foi a última foto do álbum que fez lágrimas saltarem aos olhos de Rony. Nela estavam ele, Harry e Hermione. Eram apenas crianças. Deviam ter onze, doze anos no máximo... Hermione ria despreocupada, ela ainda tinha os dentes grandes e os cabelos eram ainda mais cheios que eram agora. E ele, Rony, brincava com Harry, abraçando seu pescoço, e Harry ria, socando a barriga do amigo. E Rony viu que eles eram felizes ali, três amigos com um futuro enorme pela frente... E agora eles não estavam mais juntos, nem jamais estariam.
Rony não soube por quanto tempo chorou até sentir mãos suaves ao redor de seus ombros, e os cabelos cheios de Hermione tocando seu rosto, molhando-se em meio às lágrimas que ele não conseguia deixar de derramar. O corpo dela tremia junto ao seu, mas ele de alguma maneira se sentiu confortado só de saber que ela estava ali, mesmo que ela não dissesse nada. Ele não a tinha ouvido chegar, mas isso não importava também. Os minutos se passaram lentamente, até que finalmente os soluços de Rony se tornaram mais escassos, e ele conseguiu se controlar.
- Eu não consegui ficar sozinha, Rony. – Hermione disse depois do que pareceu muito tempo, no ouvido dele. – Depois que você se despediu de mim, e eu fiquei lá no dormitório, sozinha, pareceu que tudo voltou mais forte, tudo o que a Profª McGonagall disse, e tudo o que Harry disse antes de... Ah, Rony!
Ele se virou e a abraçou com força, escondendo o rosto molhado entre os cabelos dela. Sentia o coração dela batendo contra o seu muito forte, e sabia que ela sentia o mesmo.
- Acho que somos só nós dois agora, não é? – ele perguntou com a voz engrolada.
Hermione apenas assentiu, mas não conseguiu articular palavras inteiras. Eles ficaram por mais um momento abraçados, em silêncio.
- Hermione, você vai ficar comigo?
Ele não pôde controlar aquela pergunta tão infantil, mas que significava tanto para ele. Ele se afastou do abraço e segurou o rosto também molhado e triste dela entre as mãos. Hermione sorriu.
- É claro que eu vou, Rony. Para sempre. Você vai ficar comigo?
- Para sempre. – ele a imitou, sorrindo. – Eu quero viver o resto dos meus dias com você, Hermione, eu quero ter filhos com você, eu quero envelhecer ao seu lado... Eu não quero perder você, jamais, nunca me deixe sozinho...
Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela encostou a cabeça no peito dele, e Rony a abraçou forte.
- Rony?
- O quê?
- Você disse que um dia quer ter filhos comigo...
- Sim?
- Eu já sei o nome de um deles.
Rony sorriu.
- Eu já sei também. Será “Harry”...
Ele sentiu que ela sorria também.




Gina observou aquela sala, sentindo como se fosse a última vez. Provavelmente seria. Mesmo que retornasse a Hogwarts no ano seguinte, tinha prometido a si mesma que não entraria mais ali. Observou cada canto, lembrando... Lembrando de tudo que tinha vivido ali. Engraçado pensar que, por mais que aquela fosse a Sala Precisa, para ela e para Harry, ela sempre se transformava na sala em que treinavam para a Armada de Dumbledore.
Parecia que fazia tanto tempo...
Talvez porque tivesse sido um lugar especial para eles, e não era necessário que ela se transformasse em nada mais.
Mas Gina sabia que era impossível que aquela sala se transformasse no que ela precisava. Ou melhor, em quem.
Não adiantava continuar ali, só estava fazendo-a sentir-se ainda mais miserável. Mal tinha acabado de encostar a porta atrás de si, quando deu de cara com duas pessoas que pareciam estar esperando-a.
- Por que vocês estão aqui? – perguntou. Luna e Neville se entreolharam; Neville parecia ligeiramente nervoso, mas Luna sorriu para ele e fez um sinal para que deixasse com ela. A garota, então, deu alguns passos até Gina.
- Eu preciso dar uma palavrinha com você, Gina. – ela disse sorrindo, com aquele tom avoado dela. – É uma notícia boa... eu acho.
Gina estava começando a ficar preocupada. Não estava gostando do rumo daquela conversa.
- Como vocês sabiam que eu estava aqui? – ela observou Neville dar algumas voltas, observando o teto, como se não quisesse realmente ouvir a conversa.
- Tive... uma intuição. – Luna deu de ombros, e Gina logo viu que não adiantava entrar em detalhes. Era mais uma daquelas coisas inexplicáveis a respeito da amiga. – Então, mas eu preciso lhe contar...
- Diga de uma vez, então, Luna!
A garota respirou fundo.
- Eu o vi, Gina.
Gina continuou na mesma.
- Quem?
- Harry. – Luna disse como se tivesse simplesmente esbarrado nele no Salão Principal junto a Rony e Hermione. Gina não gostou e fechou a cara.
- Pare com isso, Luna! – e se virou para ir embora, mas Neville se colocou à sua frente.
- Luna também me contou. – ele disse um tanto hesitante. – Você não acredita nela, Gina?
Ele fazia uma cara tão doce, que foi difícil continuar irritada. Gina se voltou novamente para Luna, encurralada pelos dois.
- Você tem certeza?
Luna assentiu, sorrindo.
- Estava com Sirius. – ela contou animada. – Estava bem. Falou de você.
Gina sentiu o coração dar um salto.
- E-eu? – pensando ainda se deveria ou não acreditar.
- Claro. – Luna retrucou com simplicidade. – Pediu que eu a fizesse entender que isso não é um adeus e... – ela fez uma pausa muito longa. - ...e disse para você não esquecer do que prometeu.
“Você vai me prometer, Gina, não vai? Vai me prometer... que vai ser muito feliz e vai viver todos os seus dias tão intensamente quanto fez até agora, não vai?”
Houve um momento muito longo de silêncio. Luna e Neville esperaram pacientemente até que Gina se pronunciasse.
- Ele... disse isso mesmo? – Gina perguntou sem olhar nos olhos da amiga.
- Sim, Gina. Ele disse isso, e eu precisava contar a você.
Gina sentiu que tremia, assim como sua voz tremia ao falar com Luna. Ela se virou, sem olhar para nenhum deles e, sem dizer mais nada, adiantou-se para se retirar e sentiu Neville tocar seu ombro.
- Eu vou com você... para a sala comunal...
- Não. – Gina disse firme e sentiu que foi grosseira. – Não, obrigada, Neville. Eu vou sozinha. – ela olhou para Luna pelo canto dos olhos. – Obrigada, Luna.
Neville esperou Gina se afastar para dizer:
- Você acha que ela acreditou?
- Eu fiz o que devia, se ela acreditou ou não, não é mais minha obrigação. – Luna disse calmamente, ainda observando o lugar por onde Gina tinha ido embora. – Mas, sim, Neville, ela acreditou.
Enquanto isso, Gina alcançou a serenidade de seu dormitório na Torre da Grifinória. Ela se sentou na beirada da cama, parcialmente iluminada pela luz da lua que incidia pela janela aberta, e levou as mãos à cabeça. Como cumpriria sua promessa? Não achava que isso seria possível, o mais provável era que decepcionasse Harry, seja lá onde ele estivesse.
Ela escorregou para o chão, as costas juntas aos pés da cama. Harry não podia exigir isso dela, era demais. Ela não estava preparada para isso, não estava preparada para o que tinha acontecido, aliás, não achava que estava preparada para coisa alguma. Tudo simplesmente foi acontecendo, e Gina foi levada por essa maré incontrolável, arrastada, e sentia que estava naufragando...
Foi então que ela viu. Estava sobre seu malão, meio jogado de qualquer maneira, com um monte de meias espalhadas por cima dele. Seu ridículo diário. Por que tinha tido a idéia idiota de escrever nele, afinal?
Lembrou-se. Porque não tinha coragem de dividir com ninguém que ainda gostava daquele Harry Potter...
Gina se esticou para apanhá-lo e voltou a se encostar à cama. Com o diário sobre os joelhos, começou a folheá-lo. Leu algumas passagens, sentindo como se fosse outra pessoa que tivesse escrito aquilo. Parecia tão... tolo. Palavras tão sem sentido, de um passado tão distante, de outra vida. Ela estava tão diferente agora... tão... vazia.
Vazia como as últimas páginas do diário. Em branco. Não, não tinha ânimo de escrever mais nada. Quase fechou o diário, mas, sem saber porquê, continuou a folhear as páginas em branco. Podia ter escrito tanta coisa ali... sua história, com Harry. Não, não deveria mais pensar nele, ele tinha ido embora, para sempre...
Mais uma folha em branco. E outra. E mais outra. E...
Havia algo escrito nas últimas páginas.
E não era com a letra de Gina.




Notas da autora: E aqui termina o último capítulo. Ainda tem o epílogo, mas antes disso, eu quero agradecer a todos os comentários e todos que acompanharam a fic. ;)
Aliás, antes de tudo, pedir desculpas (também como sempre) pela enorme demora dos capítulos... Realmente, me desculpem! Eu nem vou tentar me explicar, porque vocês já devem estar cansados de ouvir minhas explicações, mas enfim, eu disse que não largaria a fic e não larguei mesmo, porque eu precisava terminar, por vocês e por mim. E eu adorei escrevê-la! Muito obrigada por todas as reviews, uau, são todas maravilhosas e fazem meus dias mais felizes!
Muito obrigada mesmo e... até o epílogo!
Beijos!

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