A Fada Verde

A Fada Verde



Capítulo 4- A Fada Verde


Ele gritou quando viu que ela se atirara da ponte. Por um milésimo de segundo ficou sem saber o que fazer, então jogou sua máscara fora e atirou-se no rio também.


A correnteza estava um pouco forte, e ele teve dificuldades para conseguir segurar a mão dela, nadou com muita força para que pudesse segurar aquela mão delicada. Mas ela lhe fazia resistência, aparentemente não queria ser salva.


-Deixe de ser tola! -gritou ele, engolindo água por causa disso- Pare de se sacudir.


Ele se desesperou quando ela conseguiu soltar-se e mais ainda quando ela mergulhou e ele não via mais nem seus cachos ruivos. Mergulhou também, mas não era possível ver nada abaixo d'água. Voltou à superfície ofegante.


"Onde ela está? Onde ela está?" pensava despeserado.


Olhou para todos os lados e não a viu, então não pôde evitar chorar de angústia.


-Deus, por favor, não faça isso comigo! -gritou, olhando para o céu estrelado- Me mostre onde ela está!


Nesse instante ele sentiu algo passando por si e segurou firme, puxando para cima. A ruiva estava novamente com ele, mas desta vez desmaiada e com o rosto pálido muito pálido. Ele fez um esforço sobrehumano para lutar contra a correnteza e levá-la para terra firme, o que conseguiu com muito custo.


Jogou-a na terra e caiu exausto no chão, chorando como uma criança. Nunca havia sentido tanto medo quanto agora. Era horrível pensar que ele presenciara a tentativa de suicídio de uma mulher e quase não fizera nada. Por sua culpa ela poderia ter morrido.


"Se eu não tivesse tentado beijá-la... Se eu tivesse dado atenção ao que ela falava...". Mas, por Cristo, como poderia adivinhar? Era já do seu instinto tentar beijar qualquer mulher que estivesse a seu lado, da mesma forma que era natural dele afastar de mulheres problemáticas que nada tinham a o oferecer. Ele não poderia imaginar. E não podia imaginar o que seria dele se ela tivesse morrido.


Abriu os olhos desesperado e olhou para a moça. Ela não respirava.


-Ah, não... Não diga que você morreu!


Com ambas as mãos, apertou forte o tórax dela, fazendo respiração boca-a-boca em seguida.


-Não morra... -suplicou- Por favor, moça, não morra.


Depois de repetir esse gesto por mais algumas vezes, ela tossiu e expeliu toda a água que engolira, tossindo muito. Ele sentou-se e olhou para ela, aliviado. Assim que ela se recuperara um pouco, voltou seu olhar para ele. No modo que ela o olhava havia um espanto. "Talvez ela esteja se perguntando por que fez isso" pensou ele, já orgulhoso de tê-la salvado.


-Quem lhe pediu que fizesse isso? -rosnou ela, por fim.


Ele parecia ter levado um soco na boca do estômago. Desesperara-se, arricara sua vida para salvá-la, e era assim que ela lhe retribuía?


-Vamos, quem lhe pediu para fazer isso? -repetiu ela, brava, levantando-se.


Ele ainda a encarava sem saber o que responder, pasmo demais para qualquer reação. Ela sacudiu o vestido e olhou para os lados, com uma expressão perdida.


-Olhe, me desculpe -disse ela, com um tom polido na voz- Sei que foi boa a sua intenção em me tirar desse rio, mas eu lhe asseguro que seria melhor que tivesse deixado eu me afogar. -ela abriu a bolsa e tirou todo o dinheiro que tinha- Fique com isso, como recompensa.


Ela foi andando em passos lentos e desengonçados, típicos de alguém que bebera muito, mas ele também indagava se nada tinha a ver com a doença que ela tinha. Olhou para o dinheiro que ela deixara no chão e então foi invadido por uma raiva súbita, uma raiva que nunca havia sentido por ninguém. Levantou-se furioso e correu até ela, segurando-a forte pelo braço.


-Quem você pensa que é, sua vadia? -rugiu ele- Eu poderia estar curtindo essa festa, mas você a estragou para mim! Arrisquei a minha preciosíssima vida para lhe salvar e você me trata como um mendigo, me dando esmola? Ora, vá para o inferno! -gritou ele, atirando o dinheiro na cara dela.


Ela fez uma força para se soltar do braço dele, cambaleando depois disso. Ele a viu cair no chão sem nenhuma piedade. Ela levantou-se com custo e o encarou com indiferença.


-Eu não lhe pedi que salvasse minha vida -repetiu ela, ainda com a voz polida, ignorando o jeito rude dele- E também não lhe forcei a me acompanhar quando eu estava bêbada. Portanto, se pensa que a sua festa foi arruinada, isso é culpa sua, não minha. E se não quer o dinheiro, isso também não me importa. Então, se me dá licença... Boa noite.


Ela voltou a andar com seus passos desajeitados e ele ficou olhando para ela atônito. Que tipo de mulher era essa? Talvez a doença a que ela se referia fosse uma doença mental, que lhe tornava alheia a tudo. Mas não, ela lhe parecia muito lúcida. Quando virou uma esquina, ele se permitiu mais alguns segundos de espanto. Então pegou o dinheiro que estava no chão. A noite não podia acabar assim. Pelo menos uma bebida compraria para animar-se.


Começou a andar e o vento da noite lhe parecia muito frio, agora que estava enxarcado. Onde arranjaria roupas secas? Dobrou a mesma esquina que a moça havia dobrado e seu coração disparou novamente, ela acabara de cair outra vez. Ficou dividido entre o seu orgulho e a piedade. Deixava-a lá ou a ajudava a se levantar? O seu orgulho ferido via com certo prazer a luta dela para erguer seu corpo, e ele inclusive se permitiu um sorriso maldoso.


Escorou-se na parede e ficou assistindo ao esforço dela em se levantar. Quando se cansou disso, começou a andar vagarosamente na direção dela, mas antes que pudedsse ajudá-la, ela finalmente conseguiu reunir forças para levantar-se. Ela ensaiou alguns passos tortos e talvez caísse novamente se ele não a tivesse segurado pelo braço.


-O que você bebeu, hein?-perguntou ele, esquecendo um pouco da sua raiva e deixando a curiosidade falar mais alto.


-Eu não sei... -sussurrou ela, com uma voz baixa e rouca.


Ele identificou aquela voz e a encarou sobressaltado, e num instante segurou-a pela cabeça e virou-a para o outro lado. Ela vomitara um pouco, sujando a barra do vestido, mas, por sorte, nada havia caído nele.


Ela esquivou-se do braço dele e deu alguns passos, sentando-se então num banco em frente a uma pequena casa.


-Sente-se bem?-perguntou ele, sentindo que a pergunta era idiota.


Ela não respondeu, apenas balançou a cabeça negativamente.


-Sabe onde é sua casa?


Ela balançou a cabeça de novo, e ele bufou. “Isso que dá seguir mulher doida... Tinha uma loura do meu lado se insinuando, por que diabos eu fui seguir a ruiva que passou correndo?”.


-É um sobrado rosa, no centro da cidade -disse ela, com certa dificuldade- É perto do coração da festa.


Ele sentou ao lado dela e parou pensativo. Ele era um canalha e ela era uma mal-agradecida, mas ainda assim ele não tinha coragem de deixá-la sozinha, longe da festa, doente e bêbada para que qualquer um abusasse dela. Mas a questão era: permanecer com ela e rodar todo o centro de Veneza até que encontrasse a maldita casa ou levá-la para o centro e deixá-la aos cuidados de alguma outra pessoa? “No caminho eu decido” pensou ele. “Só tenho que me livrar dela logo, para que eu possa aproveitar o resto da noite”.


-Vamos -disse ele, levantando-se e a puxando pela mão- Eu vou te levar para casa.


Ela se soltou da mão dele, mas deu um sorriso sincero.


-Eu agradeço toda a sua ajuda, mas sou casada e não fica bem eu me deixar levar por um desconhecido.


Ele bufou e olhou com raiva para ela, a tentação em deixá-la ali aumentando a cada minuto.


-E por acaso fica bem a uma mulher casada sair sem o marido? Fica bem beber uma bebida que nem sabe o que é? Fica bem tentar um suicídio? Hein?


Ela o olhou desolada, talvez de repente tendo consciência de toda a sua situação. Levantou-se num salto e ignorou as pernas trêmulas.


-Draco irá me matar -foi tudo o que ela disse antes de começar a andar a esmo, sem esperá-lo.


Ela andava com toda a força que restava no seu fraco corpo, e estava forçando a sua mente a continuar sã, a despeito do álcool que havia ingerido. O que faria quando chegasse em casa? Como explicar as roupas enxarcadas e sujas? Teria coragem de enfrentar seu marido e dizer toda a verdade, doa a quem doer?


Foi seguindo o som da festa e então se viu novamente no coração do Carnaval. As pessoas alegres e bêbadas, festejando como se nenhum problema no mundo existisse. Tinha que sair dali. Parou em frente a uma cigana.


-Por favor, você poderia... Hey, volte aqui!


Ela ainda tentou pedir informações a mais uma ou outra pessoa, mas ou todos estavam muito bêbados para entendê-la, ou então simplesmente não queriam dar atenção àquela única mulher angustiada na festa.


-Agora vai aceitar minha ajuda? -disse Harry, com um sorriso maroto, aparecendo ao lado dela.


O rosto dela se iluminou num sorriso.


-Obrigada, senhor. Sei que não nos conhecemos, mas poderia me ajudar a encontrar minha casa?


O sorriso de Harry murchou quando a ouviu. Era nítido que ela não se lembrava de ter estado ao lado dele há poucos minutos. Não se lembrava que correra com ele ou que ele a retirara do rio. Bufou indignado.


-Certo -rosnou ele, de mau-humor- Um sobrado rosa, não é?


Ela pareceu confusa.


-É sim, como sabe?


Ele a puxou pela mão e saiu andando, sem responder nada. Harry não entendia porque estava ajudando aquela desconhecida, sendo que, dessa vez, realmente não tinha nenhuma segunda intenção. Estava simplesmente sendo gentil. “Tenho que me lembrar de não ser gentil da próxima vez...” pensou irritado.


Mas a verdade é que sua consciência pesaria se a deixasse sozinha. Era uma mulher doente e que tentava se matar. O que seria de si, se na manhã seguinte lesse num jornal que uma mulher ruiva se matara? Não tinha obrigação nenhuma para com ela, mas sentia que podia evitar que ela fizesse a maior e a última burrice de sua vida. Além disso, as pessoas tinham que fazer sua boa ação do ano. Ele estava fazendo a dele.


Estavam andando quando ele viu um pobre homem desmaiado, provavelmente por causa de álcool, abraçado com uma garrafa verde. Parou e tomou a garrafa do homem, continuando a andar logo em seguida.


-Você o roubou -disse ela calmamente.


-Ele não vai mais precisar disso... -resmungou Harry, sem encará-la.


Era bom que encontrassem o maldito sobrado logo, pois a ruiva já o irritava. Ele viraria para a esquerda, quando ela o puxou e seguiu em frente, para virar a direita duas ruas depois.


-Achei que não soubesse onde morava... -rosnou ele.


Ela deu um suspiro de alívio quando viu o sobrado rosa, e ele também. Ele a deixou na porta, e esperava que ela entrasse sem nem se despedir, mas ela novamente o surpreendeu.


-Meu marido e eu trouxemos algumas coisas que doaremos para a Igreja e para o orfanato. Tem algumas roupas dele que podem lhe servir -disse ela.


Ele sentiu o rosto corar.


-Já lhe disse uma vez, moça. -rugiu, cada vez mais irritado- Não preciso de sua esmola.


-Não é esmola. Você precisa de roupas secas, não precisa? -retrucou ela, ainda calma.


Ele esqueceu a raiva por alguns instantes. Sim, ela estava certa. Não poderia continuar a andar no vento frio da noite com aquelas roupas molhadas. Resolveu aceitar a oferta dela.


-Espere só um pouco, então. Vou ver se Draco ainda não chegou. -disse ela, tirando os sapatos antes de entrar em casa.


Ele esperou pouco, e ela logo estava de volta. Achou que ela viria com as roupas numa sacola, mas ela não trazia nada.


-Vamos, entre -disse ela. Quando ele a encarou perdido sem sem mover, ela irritou-se um pouco- Entre logo!


-Achei que não ficaria bem a uma mulher casada receber um estranho em sua casa quando o marido não está -ironizou ele, entrando.


Ela não percebeu a ironia e continuou andando, fazendo sinal para que ele a seguisse sem fazer barulho. Ele irritou-se ainda mais com a calma dela. Era a primeira vez que encontrava uma mulher que não se encaixava em nenhum dos seus critérios de classificação. Ela tinha característica de muitos tipos, mas sempre destoava de forma gritante de todos eles.


Harry arregalou os olhos quando viu que ela o conduzira para o quarto do casal. Olhou para ela com um sorriso maroto, mas ela mexia tranquilamente em uma mala, tirando roupas e mais roupas e jogando-as em cima da cama. Aparentemente ela não estava enxergando a maldade que havia naquela situação. Se ao invés de ser um crápula, ele fosse um bandido, poderia se aproveitar dela tranqüilamente, que não haveria ninguém para lhe impedir. Sem saber o porquê, estava preocupado com ela.


-Você não deveria trazer um homem, muito menos um estranho, para o seu quarto, senhora -disse ele com a voz polida, tentando a custo não dar a entender que ele tivesse outras intenções.


-Eu não trago, Sr...?


-Potter. Harry Potter.


-Eu não trago, Sr. Potter. Mas o senhor apareceu no meio da noite e me ajudou, e tem as roupas molhadas. O senhor me ajudou, eu lhe ajudo. -ela se levantou e fechou a mala com os pés- É justo, não?


Ele sentia o coração apertar cada vez mais. Não sabia se ela era ingênua daquela forma, se era a bebida ou a doença, mas sentia que qualquer um podia fazer mal a ela muito facilmente, e isso lhe dava pena.


-Não é bem assim que as coisas acontecem, milady -disse ele, o rosto corando involuntariamente- Um homem poderia oferecer ajuda a você, simplesmente para abusar de você assim que não houvesse ninguém por perto.


Ela ficou calada por um tempo, mas então deu um sorriso fraco.


-Você já teve oportunidade suficiente para fazer isso e não fez, não é mesmo?


O coração dele deu um solavanco. Não sabia se ela estava falando da festa, do rio ou do atual momento. Afinal de contas, ela se lembrava dele ou não?


-Sabe quem sou eu, senhora? -perguntou, com uma ponta de esperança.


-Harry Potter, pelo que me disse.


Ele olhou para o olhar sereno e o sorriso singelo dela e desistiu. Todas as respostas dela sempre lhe deixavam em dúvida. Deixou sua garrafa num móvel e pegou as roupas que ela jogara em cima da cama e foi para trás do provador se trocar.
Enquanto ele vestia-se, nenhum dos dois trocou uma palavra sequer. Ele saiu de trás do provador e se olhou no espelho. Se não fosse pelo cabelo mal-arrumado, estaria mais elegante que quando saíra de casa. Ele olhou para ela, e ela lhe deu o esboço de um sorriso.


-Só peço que leve sua roupa molhada -disse ela- Eu não teria como explicar ao meu marido como ela apareceu aqui.


Ele assentiu com a cabeça e pegou tudo o que era seu e preparava-se para sair quando novamente a questionou:


-Você me pareceu muito infeliz esta noite. Você tem um bom marido?


O fraco sorriso dela se desfês e deu lugar a uma expressão vazia e triste.


-Ele já foi um bom marido um dia... E, além do mais, ele tem direito de agir como age.


“Mais uma tola mulher submissa” pensou ele, num misto de pena e raiva.


-E como ele age? -perguntou, preocupado- Ele bate em você?


Ela espantou-se.


-Não, claro que não! -então o espanto deu lugar a tradicional tristeza- Draco não encosta a mão em mim nem para exigir seus direitos matrimoniais.


Ela corou e então escondeu o rosto entre as mãos. Não sabia porque havia confessado isso a um estranho. Os olhos de Harry se arregalaram de espanto. Já vira inúmeros casamentos infelizes, mas dormindo na mesma cama, qualquer homem sempre se relacionava sexualmente com sua esposa. Era um instinto: tinha uma mulher ao lado e a usava. Não conseguia entender como um homem, dormindo ao lado de uma mulher linda como a que estava a sua frente, não fazia sexo com ela.


-É por causa da sua doença? -perguntou ele.


-Talvez... -respondeu ela, sentando-se na cama- Mas eu acho que não. Nós descobrimos que eu estava doente depois que ele parou de me amar. Os remédios estão aí do seu lado.


Ele olhou de soslaio para vários frascos numa bandeja.


-Qual a sua doença? -perguntou Harry, antes de pegar um frasco em sua mão.


-Eu não sei. É sempre Draco quem trata de tudo com o médico, que é amigo dele. Tudo o que eu sei é que não tem cura.


O coração dele disparou quando viu o título do frasco. Olhou novamente apiedado dela. Aquilo não era um remédio, era um sedativo.


-Quais são os sintomas da sua doença? -perguntou ele, tentado deixar a voz calma, para que ela não percebesse o sobressalto dele.


-Ah, não é muita coisa. Eu tenho tonturas, os meus músculos enfraquecem... Às vezes desmaio repentinamente... Coisas assim.


Sim, aquilo realmente eram sedativos. A ruiva a sua frente não estava doente coisa nenhuma, ela era mantida dopada por seu marido, para que ele não tivesse que tocá-la nem que permanecer ao lado dela. Céus, ela era maravilhosa! Que homem desprezaria uma esposa a tal ponto para que fizesse isso? Podia não amá-la, talvez até odiá-la, mas que homem deixaria de fazer sexo com uma esposa como aquela?


Sentou-se ao lado dela desolado. Tinha que lhe contar a verdade.


-Não sei se essa é uma boa notícia ou não, mas tenho que lhe informar que você não está doente. -disse ele, e os olhos dela se arregalaram. Ela abriu a boca para dizer alguma coisa, mas ele continuou a falar- Como pode ver, senhora, sou um vagabundo, e nessa vida já tive que trabalhar de muitos modos para que tivesse dinheiro para ir para a boemia. Eu já trabalhei como assistente de médico, e posso lhe garantir que isso não é um remédio. Isso é um sedativo e serve para que force o seu corpo a um estado de dormência. É por isso que tem tonturas, por isso que seus músculos enfraquecem e por isso desmaia repentinamente. Se não tomar esse comprimido, não terá sintoma algum.


Ela o olhava espantada e irritada. Abria e fechava a boca várias vezes, sem conseguir falar nada. A respiração dela estava muito ofegante, e era difícil para ele ver o colo dela levantar e abaixar sem que prestasse atenção aos seios dela.


-Draco não mentiria assim para mim -rugiu ela, por fim- Ele não me ama, mas não seria um monstro capaz de fazer isso.


Harry continuou com o rosto impassível. Levantou-se e colocou o frasco no lugar onde estava.


-Você pode fazer um teste se quiser -disse, calmamente- Não tome o remédio da próxima vez, apenas finja. Se sentir-se melhor, verá que eu estou certo. E digo mais, use o comprimido que não tomou e coloque na comida de sua empregada e observe se ela apresentará os sintomas da sua “doença”. Se ela ficar tonta, com os músculos fracos ou desmaiar, verá que eu realmente estou lhe falando a verdade e que seu marido tem mentido e dopado a senhora.


A ruiva o olhava furiosa, ofendida pelas palavras dele. Era impossível para ela imaginar que seu marido pudesse fazer algo assim contra ela.


-Quando se casaram, a sua família era mais rica que a dele? -perguntou ele, entediado, novamente sentando ao lado dela.


-Não. Os Malfoy sempre foram tão ricos quantos os Weasley. Não casamos por dinheiro. -rosnou ela.


Bom, uma hipótese a menos.


-Foi uma casamento arrumado por seus pais ou foi por amor? -perguntou ele, fazendo um deboche involuntário do "amor".


Ela ficou calada por instantes.


-Eu pensei que era por amor.


-Por quê? Ele parecia estar apaixonado?


-Ele estava. Só mesmo estando apaixonado para ter se casado comigo.


Ele bufou e olhou para o lado, cansando dessa brincadeira de detetive. Podia pegar logo suas roupas, sua bebida e dar o fora dali, para curtir o Carnaval com quem sabia aproveitar a festa. Mas estava do lado de uma mulher que se auto-desprezava a todo momento. Qual era o problema dela? Se ela não casou "doente" e se não tinha problema algum, para que se martirizar desse jeito?


-Eu fui violentada quando ainda era noiva -confessou ela, respondendo a uma pergunta que ele não havia feito com palavras- Draco tinha todo o direito de recusar uma noiva que já havia sido desonrada. Mas ele manteve o compromisso e se casou comigo.


Os olhos dele se arregalaram, muita coisa fazendo sentido. Bom, talvez já soubesse o motivo pelo qual o marido tinha nojo de dormir com ela. Um arrependimento tardio pelo casamento, provavelmente. Ele calou-se, já não tinha nada mais que perguntar ou investigar. Aquela era uma história incomum, mas não louca. Um homem apaixonado casou com a noiva violentada porque pensava amá-la, depois arrependeu-se e tomou nojo da própria esposa, dopando-a para não ter que se relacionar com ela. Pronto, sua curta carreira de detetive chegara ao fim. Pegou sua garrafa e bebeu um grande gole. A noite estava pesada demais para ele.


-O que é isso? -perguntou ela, apontando para a bebida.


-Absinto. A bebida companheira dos boêmios.


-Se não houver outra bebida de cor verde, foi isso que eu bebi.


Ele espantou-se. Aquilo era forte demais para uma mulher que não estava acostumada a beber. Isso sem contar que ela ainda podia estar sobre efeito do sedativo, portanto a bebida virava um veneno para ela. Virou a garrafa outra vez.


-O senhor que me ofereceu a chamou de "fada". Achei que era esse o nome da bebida.
Harry não pôde conter um sorriso. Olhou para o líquido verde, lindo. Tomou um novo gole.


-"A Fada Verde": é assim que a chamam. Na verdade, o Absinto tem efeitos alucinógenos, e alguns artistas em delírio julgam que sua criatividade aumenta quando a "fada verde" os visitam.


Ele riu meio descontrolado, afetado pela bebida e pela situação. Olhou para ela e viu que ela lhe dava um sorriso fraco, parecendo achar graça dele. Harry iria respondê-la de um jeito não muito delicado, quando levantou-se e a encarou por inteiro.


Ela era a Fada Verde.


Estava sentada na cama por cima de suas pernas, encarando-o. O cabelo e as roupas molhadas, o sorriso e o olhar sereno, tudo isso envolto naquele vestido verde.


-Perdeu sua máscara? -perguntou ele.


Ela sorriu novamente e tirou o objeto , colocando-o. Harry ficou encarando-a por um tempo não determinado, enfeitiçado por ela. Estava tão bêbado que estava tendo alucinações? Fantasiara toda aquela história de uma ruiva correndo na rua e se atirando no rio? Tudo o que conseguia ver nesse momento era a Fada. Bem na sua frente, e bem real.


-Já fui de tudo nessa vida, mas nunca um artista. -disse ele, com a voz meio rouca pela emoção- Ainda assim, eu poderia pintá-la por inteiro nesse exato momento.


O sorriso dela se dissipou e suas bochechas ficaram coradas. A ruiva tirou a máscara e se levantou.


-Creio que já hora de você partir -disse, abrindo a porta do quarto.


Ele se encaminhou para a porta, mas parou ao lado dela. Ela pensou em gritar quando a mão dele veio em sua direção, mas tudo o que ele fez foi soltar o seu cabelo. Ela ficou parada em frente a ele, com o coração disparado. De repente o conselho dele em não deixar um estranho entrar em seu quarto lhe parecia muito adequado.


-Eu só quero um sorriso seu, antes que eu vá.


Ela corou novamente e forçou um sorriso amarelo. Harry fez um muxoxo com a mão.


-Não, não assim. Um sorriso como aquele quando você corria.


Ela desvencilhou-se dele, um peso súbito na consciência por ter saído de casa e ido para aquela festa maldita.


-Aquilo foi uma tolice -resmungou.


Ele sorriu e a pegou pelas mãos, girando com ela pelo quarto.


-E o que é o Carnaval senão uma sucessão de tolices? As tolices mais profundas e mais sinceras do nosso coração? Vamos, só quero um sorriso.


Ela bateu de leve no braço dele e ele parou de girá-la. Ela estava tonta, caída nos braços dele, sufocando o riso.


-Não, sem reprimir! Vamos, não é tão difícil assim!


Ela riu da situação e da cara dele, a tontura fazendo tudo parecer mais engraçado.


-Você está bêbado... -debochou ela, ainda rindo.


Ele tomou um novo gole e lhe estendeu a garrafa.


-Ora, então fique bêbada você também!


Ela olhou para a garrafa e seu sorriso já murchava quando ele a abraçou por trás e lhe ofereceu novamente.


-Vamos, só um gole. Então você vai sorrir descontrolada, eu me dou por satisfeito e vou embora.


-Eu não devo -disse ela, séria- Isso errado.


Ele balançou a cabeça e riu debochado.


-Nada é errado em noite de Carnaval. Apenas não sorrir é errado.


A mão dela coçava para pegar aquela garrafa, mas o medo estava falando mais alto. Harry então segurou a mão dela e, juntos, levaram a bebida até a boca dela. Ginevra fez uma leve careta ao engolir, mas riu logo em seguida. Harry aproveitou o embalo e começou a dançar com ela pelo quarto. Com sua péssima voz, ensaiou algumas notas de músicas, mas tudo saía errado. Ela ria ainda mais da cara dele.


-Desista dessa profissão! -riu ela- Se você for tão médico quanto é cantor, vou desconfiar de tudo o que me disse!


Ele riu também, na verdade não conseguia parar de rir. Quando acordasse, estava certo de que aquilo tudo seria um sonho. Bebera tanto absinto que julgava estar dançando com a própria fada verde no quarto dela.


-Onde estão as suas amigas fadas?


Ela o olhou confusa, rindo ainda mais da cara dele.


-O quê?


-Ora, você é a Fada Verde! Onde está a Fada Azul, a Fada Vermelha e as outras?


Ela deu uma gargalhada descontrolada, desequilibrando-se. Ele tentou segurá-la, mas estava tão tonto que isso não foi possível. Caíram os dois na cama. Ela o fitou calada por vários segundos.


-Então eu sou a Fada Verde? -perguntou ela, sorrindo.


-Se não é, certamente é mais bonita que ela, e está prestes a roubar o lugar dela -disse ele, encantado.


Ginevra corou, mas não o afastou dessa vez. Estava tão tonta, tudo girava tanto, que ela mesma duvidava se isto estava acontecendo. Provavelmente era mais um de seus sonhos estranhos. Quando acordasse, ia achar graça de tudo isso. Só mesmo em sonho permitira-se estar deitada em sua cama com um estranho que não parava de lhe elogiar.


Harry também julgava não estar muito bem. Já tinha sofrido alguns delírios por causa da bebida, mas esse era, sem dúvida, o mais emocionante de todos. E se era um sonho, um delírio ou uma alucinação, ele não se importava. O que interessava no momento é que isso poderia nunca mais acontecer, portanto tinha que aproveitar esse momento ao máximo. Inclinou-se e a beijou.


Ela suspirou profundamente quando sentiu os lábios dele nos seus. Há anos que não sabia o que era um beijo, e nunca, em toda a sua vida, soube o que era um beijo como aquele. Ela o puxou de leve, e ele mexeu o corpo com cuidado, movendo-se para cima dela.


Ele passou a mão pela nuca dela e a ouviu suspirar. Beijou-lhe o pescoço e ela gemeu baixinho. Suas mãos foram para as costas dela, tentando desamarrar o vestido, para jogá-lo longe.


-Fale alguma coisa -sussurrou ela.


Ele a fitou sério.


-Não existem palavras para eu expressar tudo o que sinto nesse momento, milady.


Ela sorriu e o puxou novamente, beijando-o. Ela sentou-se e ajudou-o a arrancar o vestido fora, indo junto as anáguas. Ele também tirou o paletó, a camisa e tudo mais, inclinando-se para ela mais uma vez. Sua cabeça rodava tanto, que ele não conseguia pensar no que estava fazendo, pois nunca se deitaria com uma mulher casada na cama onde ela dormia com o marido. Não por princípios éticos, é claro, mas e se este chegasse a qualquer momento? Mas Harry já perdera a noção da realidade há tempos, e para ele, estava deitado no ninho de amor da Fada Verde, que lhe visitara por bondade. Ele a beijou com toda a intensidade que tinha, certo de que, pela primeira vez, não faria sexo. Faria amor.
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N/A: Olá, pessoal! Desculpe se vocês estavam esperando uma descrição mais detalhada da noite de amor, mas, sorry, eu não sei fazer isso!rsrs Prometo tentar melhorar isso daqui pra frente, mas não garanto muito. Bom, mas a fic ainda vai pegar fogo, com ou sem cenas explícitas!rsrs E se você chegou até aqui, seja um leitor bonzinho e entre na campanha “Eu Faço uma Autora Feliz!” e deixe uma resenha! Até o próximo cap. Bjusss, Asuka

Ara Potter: Eu também adoro Harry's canalhas!rsrs E esse HArry não seria a mesma coisa se já fosse um romântico convicto!rsrs Mas tá aí a atualização, nem demorei!rs Espero q goste do cap! Bjusss

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