Brincando com o inimigo

Brincando com o inimigo



Capítulo 7- Brincando com o inimigo

Draco respirou mais aliviado quando finalmente viu a paisagem familiar de Londres, toda aquela viagem já o tinha cansado muito. Por entre as ruas olhava incisivo para as pessoas, esperando algum sinal de comoção nos olhos delas, mas não havia nada que denunciasse que algo havia mudado. Alguns não o reconheciam, e os que o faziam lhe acenavam cordialmente. Nada de olhares de pena ou piedade. Droga, ela era mais forte do que ele pensava.

"Ela estava ardendo em febre, o corpo muito fraco. Pálida... Como diabos essa mulher sobreviveu?" pensou irritado. "Talvez eu devesse ter ordenado que não dessem comida a ela. Não... Aí ficaria óbvio que era um homicídio". Bom, era como diziam, se quer algo bem feito, você mesmo deve fazer. A questão é que não tinha coragem de matá-la com as próprias mãos. No fundo de si ainda restava algum resquício de simpatia pela mulher que um dia fora apaixonado. Não suportaria vê-la sentir dor. É, teria que pagar alguém para fazer isso, ou induzí-la a cometer suicídio.

Quando a carruagem finalmente parou, ele desceu esperando ver sua mãe, ou talvez Ginevra lhe esperando, mas nenhuma das duas estava presente.

-Onde está minha esposa e minha mãe? -perguntou a uma das empregadas.

-Sua mãe partiu ainda essa manhã, senhor. E a Sra. Malfoy se encontra no quarto, repousando.

Por que sua mãe partiria no dia em que sabia que ele chegava? Alguma coisa estava diferente naquilo tudo. Subiu as escadas com passos firmes, decidido a acordar Ginevra e lhe exigir explicações. Abriu a porta violentamente, mas surpreendeu-se ao ver que ela não estava dormindo, mas sim penteando seus cabelos calmamente em frente ao espelho.

-Cheguei -foi tudo o que disse.

Ela nem sequer se virou para olhá-lo, apenas lançou-lhe um olhar estranho através do reflexo do espelho que lhe deu arrepios. O que havia de diferente nela? A ruiva estava vestida de maneira simples, com uma camisola vermelha, como se fosse passar o dia inteiro deitada descansando, mas seu semblante não parecia nada cansado. Estava tão acostumado a vê-la dopada, que estranhava quando ela estava sã.

-Como tem passado, querida? -perguntou, soando um pouco mais simpático- Enviei-lhe de volta, pois achei que aqui teria melhores cuidados.

Ela ainda o olhava daquele jeito meio enviesado, sem falar nada. Aquela situação esta o irritando. O que havia com ela? Ela continuava a pentear os cabelos vagarosamente, num jeito manso e sereno, mas o olhar que ela lhe lançava através do espelho era extremamente frio e indiferente, carregado de uma insensibilidade que estava o assustando. Ginevra era uma mulher de emoções fortes e ridiculamente descontrolada, ser fria não era o forte dela. Mas agora ela era uma pedra de gelo, ele não podia descobrir nada que se passava na cabeça dela, pois o olhar indiferente e o sorriso congelado eram duas barreiras que ela nunca tinha levantado contra ele.

-Não vai me dizer nada? -perguntou ele, colando seu rosto ao dela e olhando-a através do espelho também.

Mas ela continuava calada.

Ele bufou e jogou um vaso contra a parede, e olhando-a com raiva em seguida.

-Que porcaria de jogo é esse, Ginevra?

Ela deu um sorriso maldoso e finalmente virou de frente para ele.

-É engraçado conviver com um estranho, não é? -disse ela, ainda com aquele olhar e o sorriso maldoso.

Fosse o que fosse que ela tinha, ela realmente começava a assustá-lo. Tinha um punhado de inimigos perigosos, mas não dormia com nenhum deles. Tudo o que não precisava era ter despertado algum instinto assassino na própria esposa. Ela levantou-se e ele estremeceu. Ela andava devagar em sua direção, com seus quadris gingando levemente através do tecido fino e vermelho da camisola. Há tempos que não a via tão linda. Nunca a vira tão sensual. A sensualidade era algo que ela tinha perdido por completo depois da tragédia que lhe acontecera. E ela vinha insinuante em sua direção, com aquele olhar estranho e o sorriso que já se tornava macabro. Céus, depois de tanto tempo, sentia que desejava-a violentamente.

"É uma armadilha, Draco. É uma armadilha! Não a toque! Faça o que fizer, não a toque!" pensou, já angustiado. Deu dois passos para trás e respirou fundo para se recompor. Então voltou a encará-la no tom frio que sempre usara.

-Por que minha mãe partiu antes que eu chegasse?

Ela parou de andar e adquiriu um tom meio inocente.

-Não sei, talvez o seu pai precise mais dela do que você.

-Meu pai está doente? -preocupou-se.

-Não sei -respondeu ela, num tom infantil.

Droga, ela ainda estava jogando.

-Me diga o que está acontecendo, Ginevra.

Ela manteve o tom infantil e seu rosto parecia sereno, mas a ironia das palavras dela era cortante.

-Realmente não sei. É incrivel como se pode não saber de tanta coisa, mesmo convivendo com as pessoas todos os dias.

-Do que está falando? -esbravejou. Seu pai podia estar doente e ela ali, lhe confundindo a cabeça.- O que há com meu pai? Ou melhor, o que há com você?

-Eu não tenho absolutamente nada. -disse ela, com tanta segurança como ele não se lembrava que ela pudesse ter- Nada.

Ele ainda não a entendia, mas ela lhe lançava um olhar enfático, como se ele devesse estar entendendo algo. Ele continuou perdido e ela lançou seu olhar calmamente para os frascos de seus remédios. O sangue dele gelou, ela teria descoberto? Como?

-Ginevra... -gemeu ele, levantando uma mão para tocá-la.

-Eu vou me trocar -afastou-se ela- Tenho muitas coisas a resolver.

-Tem...? -espantou-se.

Ela o olhou meio surpresa.

-Ora, querido. Em breve comemoraremos nossos aniversário de casamento. Uma data muito especial, não?

Ela saiu para se trocar e o deixou confuso e ligeiramente assustado. Mil perguntas fervilhavam na sua cabeça, mas tinha certeza de que não conseguiria as respostas que queria facilmente. Teria que jogar com ela. Ginevra sempre fora uma esposa de temperamento manso, submissa e fraca em todos os sentidos. Pode ser que ela não aguentasse esse seu próprio jogo e em breve vacilasse. Ou talvez ele estivesse vendo surgir a pior inimiga que teria.

Ele ainda estava parado quando ela saiu do toucador. Usava um vestido vermelho que constratava muito com seu cabelo e estava perfeitamente arrumada para sair. Ela já deixava o quarto quando o olhou e comentou com ar casual:

-À propósito, sabe que dia é hoje?

Ele balançou a cabeça negativamente e permaneceu calado. Ela lhe jogou um calendário velho, em que um dia estava riscado. Ele pegou e viu que o dia marcado era o dia de hoje, porém há cinco anos atrás. Havia sinais de lágrimas no papel e o dia estava totalmente riscado, sombreado por caveiras e cruzes.

-Eu... Não sei que dia foi esse, querida.

-O pior dia da minha vida -disse ela, novamente naquele tom frio. Ele a encarou e ela exalava algo parecido com ódio- Mas acredite, a partir de hoje, será um dia negro para você também.

Ela sustentou aquele olhar por mais um centésimo de segundo, então sorriu de modo cálido e lhe mandou um beijo no ar, saindo do quarto em seguida.

-E não esqueça -gritou ela, já de fora do quarto- Hoje sairemos para comemorar!

Ele ficou com o calendário nas mãos agora trêmulas. Jogou o calendário na cama e foi até o criado mudo onde pegou os frascos dos "remédios" dela. Todos vazios. Ela descobrira e jogara os comprimidos fora. "Ou então os guardou para usar contra mim" alarmou-se. Olhou para todo o quarto e pensou onde ela poderia esconder algo se quisesse. Para manter sua paz de espírito, teria que vistoriar todas as coisas dela.

Olhou pela janela e a viu entrar na carruagem, pronta para sair e independente como nunca. Abriu uma caixa de jóias dela. Nada. Bom ainda ia ter muito o que procurar. Olhou pela janela de novo e viu que ela o encarava. Ela lhe sorriu e acenou antes de entrar na carruagem com um sorriso maldoso. Tinha criado um monstro.

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Harry desembarcou com o corpo doendo, odiava viajar muito em espaços pequenos de tempo. Nos últimos meses, desde que saíra fugido de Paris, metade da sua vida tinha sido passada dentro de navios, carruagens ou estradas. Já não aguentava mais. Pegou sua mala pequena e esperou até que ninguém o visse para saltar e fugir. Essa vida de passageiro clandestino era outra coisa que lhe cansava.

Assim que se viu longe do porto, parou para comer alguma coisa e recomeçou a andar, mas por mais que quisesse chegar em casa logo, não podia manter seus passos muito rápidos, não podia deixar transparecer que seu corpo estava tenso e não podia deixar que percebessem que estava de volta.

Londres, enfim.

Se havia um lugar no mundo que poderia considerar o inferno na Terra, esse lugar era Londres, sua tão querida cidade natal. Fez o trajeto mais longo até sua casa, mas que lhe pareceu mais seguro. Sua dúvida maior era: chamar por Nina ou já entrar de uma vez? Um estranho entrando numa casa era algo que os vizinhos notariam, mas também notariam se ele a chamasse, era inevitável não olhar quando se escuta alguém gritando. Merda, o inevitável mesmo era todos saberem que ele estava de volta. Bom, entraria de uma vez, as chances dos outros o perceberem eram um pouco menores.

Reconheceu a casa simples e apertou o passo discretamente, pisando macio para não ser notado. Entrou despercebido e jogou suas coisas em cima da mesa, largando-se no sofá. Seu coração estav disparado, só de pensar que alguém poderia tê-lo reconhecido, tremia de medo. Ficou deitado esperando acalmar-se, mas então o sofá velho e desgastado lhe parecia bem confortável e ele adormeceu.

Seu sono foi pesado, quase não tivera sonhos. Em alguns breves momentos ele via uma imagem de uma Fada Verde aparecer na sua frente, mas sempre que tentava alcançá-la a imagem fugia. Então Gisele aparecia vestida de branco, como um anjo, e lhe estendia a mão, como que para resgatá-la, mas a mão dela sempre estava longe demais.

-AHHHHHHHHHHHHHHHH!

Ele levantou de supetão e sua primeira reação foi agarrar Nina e lhe tampar a boca.

-Sou eu, Nina, fique quieta! Shhh!

A mulher continuou ofegante, mas calou-se. Ela o empurrou e colocou a cabeça para fora da janela.

-Foi só uma ratazana grande, mas já a matei! -disse, com um sorriso amarelo para alguém lá fora.

Ela então fechou a cortina e o olhou. Encarava-lhe num misto de surpresa e raiva. Ela usava um vestido já meio velho e que lhe acentuava as curvas. Tinha virado uma mulher.

-O que faz aqui, Harry?

Ele não esperava uma festa mesmo. Sabia que a recepção seria assim.

-Eu não ganho um abraço da minha irmã?

Ela pegou uma panela que estava ao alcance da sua mão e lhe atirou contra a cabeça, e que ele desviou no último segundo.

-Seu cretino! Agora você lembra que tem uma irmã, não é? Pois talvez a sua irmã não queira lhe abrigar! Saia! Saia!

-Nina... -chamou ele, com a voz firme, segurando com uma mão os dois braços dela.

-O que você pensa, Harry? Que está tudo bem?! Você armou toda aquela confusão e desapareceu, háa mais de oito anos não manda notícias! A nossa vida virou um inferno por sua causa!

Ela parou de se debater e ele a soltou. Ela ainda o encarava furiosa.

-Onde está mamãe? -perguntou ele.

Ela deu um muxoxo de desprezo e a raiva dela aumentou.

-Morreu. Três meses depois que você se foi.

Ele empalideceu e caiu sentado numa cadeira, totalmente chocado.

-Eles...? -perguntou, receoso.

-Não -cortou ela- Desgosto mesmo. Você sabia que ela tinha coração fraco. A saúde dela nunca mais foi a mesma depois que papai se foi.

Papai. Tinha tanto a contar para Nina sobre ele. Mas não agora.

-Como foi isso? -perguntou ele, sem coragem de encará-la. Olhava para o chão desejando que um buraco se abrisse e ele pudesse entrar nele.

-Eles nos visitaram todos os dias depois que você fugiu. Ameaçavam muitas coisas. Algumas vezes inventavam que tinham capturado você, e que nós entregássemos o que eles queriam lhe deixariam sair. Um deles sempre vinha aqui descrever as torturas que fazia com você. Nós choramos muito, mas não diziamos nada. Desde o momento em que eles entravam até o momento que iam, a gente só ficava abraçadas uma a outra com medo e chorando baixinho. Um dia eles finalmente se convenceram de que nós realmente não sabíamos de nada e nos deixaram em paz. Mas tinha sido dois meses de aflição, além do fato de você nunca mandar notícias.

Nina se calou e limpou os olhos. Ela o encarou com o que seria um traço de piedade, então continuou.

-Teve um forte surto de gripe logo em seguida, muita gente adoeceu. Bom, a saúde dela já não ia bem, e a gripe a levou.

Harry fechou os olhos tentando controlar a vontade violenta que sentia de chorar e de quebrar tudo ao redor. Não sabia se devia ter voltado, mas agora tinha certeza de que nunca devia ter partido. Sua mãe estava morta e a culpa era dele.

-Eu tinha catorze anos, Harry -disse ela, sua voz carregada de raiva. Ela estava lhe culpando por tudo, e ele sabia que merecia- Eu tinha catorze anos quando fiquei sozinha no mundo e totalmente à mercê daqueles monstros.

De repente uma luz acendeu em sua mente e ele a olhou petrificado.

-Eles não... Eles não tocaram em você, tocaram?

Seu coração teve um alivio imenso quando ela balançou a cabeça negativamente. Mas ela ainda tinha o rosto coberto por um sentimento ruim.

-Não, eles não.

Harry encarava a irmã com o coração apertado.

-O que quer dizer?

Ela engoliu a seco e outra lágrima rolou pelo rosto dela.

-Que eu tive que me casar com o primeiro que aparecesse.

As frases curtas e pouco explicativas dela estavam o deixando louco. Harry olhou para os lados esperando ver o marido dela.

-Ele era um homem bom, até a hora que bebia. Aí ele virava um demônio. Mas graças a Deus ele também já se foi. Eu sou viúva.

A porta se abriu de súbito e entrou uma menina loura correndo, mas que parou assim que o viu.

-Natália, feche a porta -ordenou Nina.

A menina devia ter uns sete anos, tinha o cabelo louro escuro e os olhos verdes característicos da família. Ela lhe encarava assustada, pelo visto Nina recebia visitas amedrontadoras com frequencia.

-Vá para o quarto -disse Nina, apontando a porta com a cabeça.

Harry não parava de olhar a sobrinha que só agora descobria a existência. Assim que a menina fechou a porta, ele olhou para a irmã.

-Eles ainda a visitam?

-Não. Mas não duvide, que eles virão em dois tempos. A organização deles cresceu muito. Tom Riddle tem muitos seguidores agora.

-Mas nem todos conhecem o meu rosto.

-Vamos esperar que que sim.

Os dois ficaram se encarando, até que ela perguntou o inevitável:

-O que te trouxe de volta?

Ela perguntava, mas tinha certeza das resposta. Ele se sentiu impotente para mentir.

-Vim atrás de uma mulher.

Nina lhe lançou outra panela, mas dessa vez ele não desviou. Merecia a dor.

-Abandonou sua família nas mãos daqueles loucos e nunca mais deu notícia! E agora volta novamente por causa de uma mulher! Não vê que você arruinou a nossa vida por causa dessas vagabundas? -ela coemou a lhe bater e ele não ofereceu resistência, nem sequer podia encará-la- Não vou abrigar você! Não vou deixar que você arrisque a vida da minha filha por mais um caso amoroso irresponsável seu!

Ela lhe bateu até ficar fraca e ele não respondeu nada. Assim que ela cansou, sentou em frente a ele.

-Por quê, Harry? -perguntou ela, com tristeza.

-Ela é diferente, Nina. Precisa ser protegida ou o marido a matará.

Nina revirou os olhos.

-Casada... Novamente.

Ele apenas confirmou com a cabeça.

-Você não vai destruir a minha vida de novo, meu irmão. Aqui você não ficará.

É, ele já esperava por isso. Apenas queria ver a irmã, mas sabia que ela lhe expulsaria. Pegou sua mala e colocou o chapéu de modo a esconder seu rosto.

-Não posso conhecer minha sobrinha antes de ir?

-Para eles ameaçarem a minha filha também? -ironizou ela.

Ele suspirou fundo e deu um beijo no rosto da irmã.

-Enquanto eu estiver aqui tentarei manter contato.

Ele colocou a mão na maçaneta e ela o chamou.

-Harry... Tenha cuidado. Eles estão em toda parte. Não fale seu nome verdeiro em hipótese nenhuma.

Ele deu um sorriso para a irmã e saiu rapidamente. A partir desse momento, não estava seguro em lugar nenhum.

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A noite ele se arrumou e entrou com toda a pose no restaurante. Cumprimentaram várias pessoas, e ele via nos olhos de cada uma como todos estavam surpresos pela "cura" dela. Ginevra ria e conversava com todos, mostrando-se simpática.

A simpatia dela o assustava. Tudo nela agora o assustava. Não achara os comprimidos, agora teria que ter muito cuidado, vigiar cada comida e bebida sua. Por fora aparentava sua calma e frieza de sempre, mas por dentro só Deus sabia o tanto que temia. Deus... e ela. O olhar doce que ela lhe lançava parecia vir com uma mensagem em anexo: "Eu só comecei".

E ainda tinha a festa de aniversário de casamento. Se ele sobrevivesse até lá.

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N/A: Olá, pessoal! Tá aí mais um cap. Bom, eu compliquei um bocado as coisas, não? É, eu me divirto com isso! rsrsr E nem demorei a atualizar. Bom, se vc leu até aqui e quer me matar pq eu não revelo nada sem prender outra informação, então entre na campanha "Eu faço uma autora feliz" e deixe uma resenha, nem que seja pra me xingar a vontade! hehe. Bjusss, Asuka

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