Carnaval



Capítulo 3- Carnaval


Ele desembarcou em Veneza. Tomara o navio que partia para Londres, mas no meio do caminho mudara de embarcação e, por diversas vezes, mudou a rota do seu destino. Por fim chegava a Veneza, linda cidade. Estivera ali somente uma vez, mas nem havia se demorado, passara só para resolver uns negócios pendentes e partira assim que o assunto foi resolvido. E agora estava de volta, pronto para fixar-se ali, até que alguma confusão o fizesse fugir.


-E viva o Carnaval! –gritou um boêmio que passava.


Harry sorriu e pegou sua maleta com ânimo. Eis aí o motivo lhe trouxera à cidade: o Carnaval, a festa da carne. Estava já na Sicília, e pretendia mesmo ficar por ali, conhecer as bellas ragazzas da região. Mas o carnaval de Veneza falara mais alto.


Entrou no primeiro bar que encontrou e comeu muito, muito mesmo, sem nem mesmo pedir uma taça de vinho. Estava morto de fome, viajara escondido na parte da bagagem de uma carruagem durante toda a noite. Teve que se manter acordado, pois sem segurar-se direito, o sacolejo do veículo poderia jogá-lo no chão. Passara a noite toda comendo poeira e ouvindo a chata conversa de dois padres, dissertando sobre o amor e temor a Deus. Sua vontade, durante esses sermões, era de invadir o lado de dentro da carruagem e exigir dos dois que obedecessem à lei de Deus e lhe fizessem uma caridade: lhe dessem comida, lhe deixassem dormir confortavelmente na carruagem e que ficassem quietos. Mas obviamente se controlou.


Quando terminou de comer, limpou a boca com um guardanapo imundo que havia ali e fez sinal para que o dono do lugar trouxesse a conta. O homem veio e Harry o pagou, mas antes que ele se fosse, ele fez uma pergunta.


-Onde posso encontrar uma pensão barata por aqui?


-Aqui mesmo –resmungou o homem- Alugo quartos aqui nos fundos.


Harry tentou não fazer uma careta. Não tinha problema nenhum com lugares imundos e gente feia, mas aquele homem além de tudo isso, não era simpático. E Harry gostava de ter com quem conversar e beber junto.


-Não, obrigado. –disse, cordialmente- Eu gostaria de algo mais próximo do centro, onde haverá o carnaval. Sabe de algum lugar?


O homem resmungou alguma coisa e andou até o balcão, Harry não entendera o que ele havia dito, mas sentia que devia esperar. Em segundos ele voltou com um endereço escrito num papel.


-Os quartos são pequenos, pouco ventilados e o barulho será insuportável durante a festa –disse ele, de má vontade.


-Tudo bem –sorriu Harry, malicioso- Não pretendo mesmo estar dentro do meu quarto quando a festa começar.


Harry deixou mais algumas moedas com o homem, como um pagamento pela informação. O homem pareceu satisfeito e resolveu dar-lhe mais um aviso:


-À propósito, o local é um prostíbulo. A cafetina costuma alugar alguns quartos. Portanto se alguma mulher aparecer no quarto, só se deite com ela se tiver dinheiro para pagar.


Harry riu e o cumprimentou, saindo dali satisfeito e risonho. Imaginou quantos tolos deveriam ter ficado felizes com uma bela morena aparecendo em seu quarto no meio da madrugada, e depois sendo expulsos do lugar por não ter dinheiro para pagar. Cafetina esperta, não duvidava que ela ainda roubava os pertencesses que tais homens deixavam quando expulsos repentinamente.


Procurou uma carruagem de aluguel para lhe levar até o tal lugar, afinal não conhecia praticamente nada da cidade. Quando chegou ao local, imaginou que tipo de prostitutas haveria num lugar tão feio e mal-cuidado. Entrou com um sorriso cativante no rosto e de cara identificou a cafetina. Ela usava um vestido roxo berrante, com os cabelos negros presos cuidadosamente. A maquiagem era relativamente simples, despistando um pouco a profissão dela. Era possível hospedar-se ali sem saber o que o lugar realmente era. Fez-se de ingênuo.


-Boa noite, madame –cumprimentou ele, tirando o chapéu- Fiquei sabendo que aqui vocês alugam quartos. Tem algum no qual eu possa me estabelecer?


A mulher o encarou de cima a baixo e deu um sorriso largo, mostrando todos os dentes. Harry contou três dentes de ouro, mas provavelmente havia mais.


-É claro que tenho –disse ela, estendendo-lhe uma chave- Mas o pagamento é adiantado –completou, retirando a chave antes que Harry a pegasse- Você sabe, durante o Carnaval a cidade recebe muitas pessoas. E as pessoas que costumam se hospedar aqui, não raro dormem aqui a noite que antecede a festa, vão para a festa no outro dia e nunca mais aparecerem.


Harry abriu a carteira ainda sorrindo, se fazendo simpático.


-Claro que entendo, madame. Você é uma comerciante, é justo que zele pelo seu negócio.


Ela recebeu o pagamento e o olhou bem. Para ela, Harry parecia um tolo burguês que acabava de sair de casa, para rebelar-se contra os pais. Ela já vira muitos desses, que vinham de cidades menores, encantados e iludidos pela vida em Veneza.


-Venha, vou lhe mostrar seu quarto –disse ela, começando a andar. Ao passar por uma faxineira que estava para ali, deu uma olhada enfática para ela. A garota apenas balançou a cabeça, confirmando.


A mulher abriu a porta do quarto e ele nem se espantou, já era bem como imaginava. Uma pequena janela que dava para a rua, por onde entrava um vento úmido e mau-cheiroso, uma cama vagabunda com um colchão fino e um pequeno banheiro, com uma privada encardida e um espelho rachado. Ele sorriu.


-Está ótimo.


Ela sorriu também e já se preparava para sair.


-À propósito, meu nome é Joana Varone. Aproveite a estadia


-Muito obrigado, Sra. Varone.


Ele fechou a porta, olhou para o local e riu. A estadia ali prometia muito.
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Ela desceu da carruagem e olhou pouco animada para a casa.


-Perfeita, não acha? –comentou Draco, empolgado.


Ele fez um sinal para o criado começar a levar as malas para dentro. Então tomou a ruiva pelo braço e entrou.


-Não foi fácil achar essa asa para alugar, deixei para última hora, e todas as boas casas já tinham sido alugadas...


“Pensou em pedir a uma amigo que nos hospedasse, mas a sorte lhe sorriu” pensou ela entediada.


-Pensei até em pedir para que algum amigo nos hospedasse, mas... A sorte sorriu para mim –entusiasmou-se ele, entrando em cada cômodo.


Ela bufou e pegou sua pequena maleta pessoal, procurando o quarto em que se instalariam. Deixou Draco falando sozinho, já ouvira aquela história, com aqueles mesmos comentários, uma centena de vezes.


-Maldita festa –resmungou ela, largando-se na cama.


Quando jovem, ouvira falar muito desse Carnaval, e ele realmente lhe parecia uma festa fascinante, mas atualmente era uma infeliz esposa doente. Draco com certeza a abandonaria e iria aproveitar o Carnaval sozinho. Depositou suas coisas na penteadeira e sentou-se para arrumar o cabelo que despenteara com a viagem. Olhou-se no espelho e se odiou.


O havia lhe acontecido?


Se voltasse à casa de seu pai e perguntasse para qualquer parente ou conhecido que passasse, todos eles diriam que a moça com o futuro mais promissor daquelas bandas era ela, Ginevra Weasley. Ela era a mais bonita, a mais divertida, a mais elegante... E tinha o melhor pretendente. Draco Malfoy sempre fora o sonho de todas as garotas de sua idade, inclusive dela própria. Mas seu casamento fora um tormento desde o primeiro ano, e a tortura crescia ainda mais com o tempo que passava.


-Foi realmente uma sorte muito grande –animou-se Draco, entrando no quarto sem prestar atenção à ela- Quando eu escrever a papai contando essa...


Ela revirou os olhos e permaneceu calada, penteando seus cabelos. A reflexo no espelho mostrava uma bela mulher ruiva, porém com o rosto cansado e triste, além das olheiras visíveis. E hoje ela estava ainda pior, os sintomas de sua doença pareciam ter se agravado. Torcia para não ser nada grave, tudo o que não precisava era de que a sua vida se tornasse pior.


-Comprei para você esta máscara, Ginevra, querida. Olhe, não é bonita? –perguntou ele, entregando-lhe uma máscara verde, ricamente decorada.


Ela pegou a máscara com delicadeza, era realmente tão bonita que ela ficou sem reação.


-Você tem um vestido verde que ficaria perfeito com ela –comentou ele.


Ela desligou-se um pouco do encanto que a máscara lhe causa e o encarou.


-Eu não estou me sentindo bem, Draco. E você sabe disso.


Ele não se abalou, abriu uma maleta e tirou um frasco de lá.


-Exatamente por isso que eu trouxe os seus remédios. Vou até a cozinha pegar um copo d’água para você.


Ela olhou pasma quando ele saiu do quarto para ir até a cozinha. Desde quando ele era tão gentil? Tinha comprado uma máscara para ela ir à festa, trouxera os remédios dela e agora ia ele mesmo pegar um copo d’água para ela. O que tinha dado nele?


-Se for o ar de Veneza que faz isso com ele, quero morar nessa cidade –disse para si mesma.


Ele voltou cantarolando baixinho, trazia dois comprimidos num pires e a água, ambos numa bandeja.


-Aqui está, querida. –disse ele, colocando a bandeja na penteadeira dela- Tome e vá dormir um pouco. Até a noite você já terá se recuperado, então iremos festejar.


Ela sorriu para ele e, pela primeira vez, tomou os comprimidos com certa satisfação. Ele não era tão carinhoso assim desde os primeiros meses de casados. Nunca poderia imaginar que o encanto de Draco por tal festa pudesse transformá-lo de volta num esposo decente.


Ela soltou os cabelos e penteou-os com cuidado.


-Vou deitar-me, então –sorriu ela, começando a se trocar.


-Isso, querida, faça isso –disse ele, encaminhando-se para a porta- Vou sair para acertar os últimos detalhes de hoje à noite. Quando eu chegar nós conversamos direito.


Ele deixou o quarto e ela ainda sorria embasbacada. Conversar? Draco iria querer conversar quando chegasse? Céus, ele estava realmente muito diferente. Do jeito que ela queria que ele fosse todos os dias.


-Bendito seja o ar de Veneza! –comemorou ela, jogando-se na cama. Fechou os olhos suspirando de satisfação, Tinha certeza que dormiria bem.


Teve um sono tranqüilo, sem toda a agitação de seus sonos habituais. Geralmente sonhava que estava correndo, precisando chegar a algum lugar, mas esse lugar nunca chegava. Sempre sonhava que tinha que fazer algo que nunca conseguia fazer. Mas não dessa vez. Não sonhara com nada, simplesmente apagara. Fechara os olhos e mergulhara num sono sem sonhos, como ela bem preferia.


Acordou e não abriu os olhos de imediato, espreguiçando-se e tendo absoluta certeza que se sentia melhor. Levantou-se e o quarto estava vazio, Draco deveria estar na sala.


-Vou dizer a Draco que já me sinto bem –animou-se ela.


Ainda estava com o corpo meio bambo, meio mole, mas certamente estava muito melhor do que estivera durante a manhã. Nada como um bom descanso. Ela saiu do quarto e chegou radiante até a sala, mas ele não estava lá. Procuro-o em cada canto da casa, mas ele não estava em lugar nenhum.


-Mas...?


Olhou pela janela e viu que já anoitecera. Aproximou-se da janela desapontada, e com tristeza a abriu. A sala foi imediatamente invadida pelo som alegre e festivo que vinha da rua. Ela olhou para as pessoas alegres e enfeitadas que passeavam pelas ruas, aproveitando o Carnaval.


Fora enganada.


Draco não pensou em levá-la em momento algum, e talvez fosse por isso que ele parecia tão feliz. Ela largou-se numa poltrona e abaixou a cabeça, irrompendo numa crise de choro.


-Como eu pude ser tão tola? Como eu fui acreditar nele?


Um ruído na sala fez com que ela levantasse a cabeça imediatamente. A criada estava de pijamas, segurando uma vela e encarando-a.


-Sra. Malfoy? Imaginei que estivesse deitada... Deseja alguma coisa?


Ela enxugou as lágrimas e balançou a cabeça.


-Não, estou bem. Pode ir se deitar.


A garota a olhou penalizada.


-A senhora se recuperou? O Sr. Draco disse que estava repousando e que era melhor não acordá-la.


Ela deu um sorriso amargo.


-Estou ótima, já disse. Vá se deitar.


A garota continuou parada, olhando-a com uma expressão de pena.


-Vá se deitar! Eu já mandei! –exaltou-se a ruiva.


A menina balançou a cabeça, assustada, e saiu para o seu quarto. Ginevra ainda ficou largada na poltrona por algum tempo. Deixou as lágrimas voltarem a rolar quando percebeu que se enganara novamente. Quando ouviu o ruído, por um instante imaginou que pudesse ser Draco.


Mas ele não desejava a sua companhia.


Ela levantou-se deprimida e voltou para o quarto. Sentou na penteadeira e olhou a máscara que estava ali. Magnífica. E ele havia comprado só para iludi-la. Ficou um tempo mirando a máscara, quando então olhou o vestido que a criada se dera ao trabalho de tirar da mala. Realmente, o vestido e a máscara ficariam lindos. Mas ela nunca ia usar aquela máscara.


Levantou-se e pegou o vestido com ternura e o colocou em frente ao seu corpo, olhando-se no espelho. Pegou a máscara também, mas não conseguia segurar o vestido e a máscara ao mesmo tempo. Num impulso, tirou seu pijama e colocou o vestido. O reflexo do espelho mostrava uma mulher bonita, mas desleixada. Ela sentou-se na penteadeira e arrumou seu cabelo, e colocou algumas jóias também.


-Bem melhor –disse ela, olhando para si.


Pegou a máscara e a colocou delicadamente. Olhou-se no espelho e sentiu deslumbrante. Linda como nunca havia sido. Mas então aquilo tudo lhe pareceu deprimente. Estava vestida majestosamente, mas ninguém iria vê-la. Todas as pessoas lá fora estavam festejando alegremente, mas ela ficaria deprimida em casa, a espera de um marido mentiroso que provavelmente estava a traindo com alguma vagabunda nesse momento.


Ela ia tirar a máscara, mas encarou-se fixamente no espelho. Primeiro sentiu pena do seu reflexo, então sentiu raiva, muita raiva. Draco era seu marido, mas ele já passara de todos os limites.


-Ele veio para que nós dois pudéssemos festejar, não é mesmo? Ótimo. Ele festeja de um lado e eu de outro.


Ela tirou os sapatos e saiu andando cuidadosamente. Saiu da casa e respirou feliz o ar noturno da noite. O cheiro que pairava no ar estava impregnado de pecado, assim como aquelas ruas. O coração dela estava disparado, se Draco imaginasse o que ela estava fazendo, mataria-a.


-Eu não me importo –disse para si, tentando reunir coragem para realmente abandonar a casa.


Estava parada do lado de fora, mas não conseguia andar para ir festejar. Então apareceu um casal de saltimbancos e a puxou pelas mãos. Eles faziam graça e ela riu dos dois. Juntos, os três rodaram muito, até que os outros dois cambalearam, tontos.


-Aproveite o Carnaval! –gritou a mulher, afastando-se dela, indo em outra direção.

A ruiva ficou parada na rua, extasiada. Aquilo fora fantástico, e ela agora nem sabia o caminho para voltar para casa. Ouviu o barulho alto da festa e seguiu o som. Ela se surpreendeu com a imensidão de pessoas mascaradas, bebendo, rindo e festejando, como se não houvesse nenhum problema no mundo.


-Esse é o espírito do Carnaval... –disse um poeta, abraçado a uma garrafa contendo um líquido verde. Ele se aproximou dela e lhe deu uma rosa. Ela sorriu e ele voltou a falar- Esse é o Carnaval. Você pode ter um pai doente, sua mãe pode já ter morrido, seus filhos podem estar mal-alimentados e você está sem emprego. Mas no Carnaval, nesse dia nenhum problema é permitido. Só problemas não são permitidos, o resto... –ele deu uma risada- O resto pode.


Ele deu uma gargalhada e Ginevra o acompanhou, divertindo-se como nunca havia feito. Nunca teria coragem de conversar com um estranho bêbado na rua, mas talvez porque hoje era Carnaval, hoje isso não parecia ter problema algum.


-Aceita? –ofereceu ele, estendendo a garrafa- A Fada é a melhor companheira de toda a noite.


-Não obrigada –recusou ela, mas ainda sorrindo- Vou andar um pouco, ver mais da festa.


-Não é amarga a bebida –disse ele, ainda lhe estendendo a garrafa- Você vai gostar, lhe asseguro.


O coração dela estava disparado, sabia que era errado beber bebidas desconhecidas, ainda mais quando oferecidas por um estranho como aquele. Ela pegou a garrafa e tomou um gole grande e sorriu, a bebida não parecia forte e tinha um sabor agradável. Ela riu descontrolada, saber que estava fazendo tudo que não podia parecia deixar tudo mais emocionante.


-Obrigada, senhor –disse ela, fazendo uma reverência- Agora vou andar por aí.


Ele sorriu e fez um gesto incitando-a a andar. Ela se despediu e saiu correndo. Não corria desde que era criança, pois depois que crescera, lhe disseram que uma moça não devia fazer isso. Mas hoje era Carnaval e não havia ninguém ali que lhe impedisse.


Ela gritou de felicidade e deu algumas piruetas no ar, então se viu acompanhada por um jovem mascarado, que pegou seu braço e rodopiou com ela pelo ar. Ele gritou de felicidade também e a pegou pela cintura, girando-a no ar. Ela riu muito, mas tocou-lhe no braço, pedindo que parasse. Ficara muito tonta com os giros, e ainda havia a bebida estranha que acabara de tomar e a sua saúde debilitada.


-Prazer, Srta. –disse ele, tirando o chapéu- Posso acompanhá-la?


-Seria um prazer, senhor –respondeu ela, recuando alguns passos- Mas não ficaria bem... Sou casada –disse ela, mostrando a aliança.


Harry sorriu, adorava as casadas. E se ela estava sozinha era porque estava festejando escondido do marido ou bebera tanto que não se lembrava onde tinha o perdido. Em qualquer um dos casos ela lhe parecia perfeita.


-Um motivo a mais para aceitar minha companhia –respondeu ele, girando em torno dela e fazendo-a rir- Há pessoas ruins por aí também, apesar da linda festa de hoje. Não vamos deixá-la sozinha para que ladrões a ataquem, vamos?


Ela sorriu e fez uma cara marota.


-Deixo me acompanhar, mas com uma condição.


Ele balançou a cabeça e riu divertido. Ela lhe parecia cada vez melhor.


-E qual é a condição?


Ela começou a correr, mas virou a cabeça para trás e gritou:


-Você terá que me pegar!


Ele sorriu e saiu em disparada, alcançando-a sem nenhuma dificuldade. Quando a pegou, puxou sua mão e, aproveitando o embalo da corrida, girou-a no ar novamente. Ela riu, mas gritou a ele que parasse. Quando ele parou, ela estava muito tonta e não conseguiu manter-se em pé, sendo necessário ele segurá-la pela cintura para que ela não caísse.


Ele parou e a encarou através da máscara, ela tinha bonitos olhos castanhos. Ele a segurava firme pela cintura, ela tinha a respiração ofegante e a distância entre suas bocas não era tão grande assim. Ele inclinou-se para beijá-la, mas ela se afastou com violência.


-Não! –exclamou ela, com veemência- Eu não vou me igualar a ele!


Harry olhou-a sem entender nada. Achou que ela, tonta, não se daria conta do que estava fazendo e ia se deixar levar.


-O que disse?


-Disse que não vou me igualar ao meu marido –respondeu ela, com a voz firme- Ele me trai, mas não vou descer tão baixo a ponto de me igualar a ele.


Harry deu um passo na direção dela, mas ela se esquivou.


-A sua presença não é mais bem-vinda –disse ela.


Ela saiu correndo e ele ficou um segundo paralisado sem entender nada, mas então a seguiu. Por um instante achou que a tivesse perdido, mas encontrou-a apoiada numa ponte, olhando o rio. O cabelo ruivo dela brilhava ainda mais, iluminado pela lua cheia. Ele se aproximou e viu que ela estava sem a mascara. Era mais linda do que imaginava.


Ele poderia duvidar que estava na frente da mesma pessoa. A mulher que encontrara era uma saltitante mascarada, rodopiando e gritando de alegria, mas a mulher que estava na sua frente neste momento era outra. Ali estava uma esposa amargurada, chorando e deixando suas lágrimas caírem no rio. Ele parou do lado dela e se dirigiu a ela com cuidado.


-Não tive intenção de lhe ofender –disse ele, com a voz rouca.


Ela balançou a cabeça e deu de ombros, e não falou nada. Ficou encarando o rio e chorando.


-Você se sente bem? –perguntou ele, um leve traço de preocupação na voz.


Ela permaneceu calada, e ele cogitou ir embora, mas então ela começou a falar.


-Eu sou uma mulher doente, e a minha doença não tem cura. Alguns dias ela é mais amena, outros dias é mais grave, mas o fato é que não tem cura.


Ele não disse nada e pensou mesmo em ir embora. Tudo o que não queria era envolver-se com uma doente. Sua saúde ia muito bem e ele não precisava tanto de uma mulher a ponto de arriscar-se.


-Eu estava muito mal hoje pela manhã –voltou ela a falar, sem que ele perguntasse coisa alguma- Meu marido me comprou essa máscara e disse que festejaríamos o Carnaval juntos. Viemos da Inglaterra só para isso. Ele me deu meu remédio e recomendou que eu descansasse e que à noite sairíamos juntos. Mas ele me enganou e saiu sem mim, como sempre.


Ele permaneceu calado e olhou em volta. Droga, não havia ninguém por perto, ninguém para poder despistá-la. Como sairia dessa? Ele olhou novamente para ela. Céus, iluminada pela lua cheia, ele via que ela era provavelmente a mulher mais linda que já encontrara. E havia uma certa tristeza no olhar dela que lhe deixava embriagado só de olhar. Seu coração disparou quando ela lhe encarou nos olhos.


-De que vale a vida se é para ser um inferno como o que eu vivo? –perguntou ela, com os olhos fixos nele.


Harry sentia que suas mãos estavam suando frio e o seu coração, por alguma razão tola, estava disparado. Encarava-a nos olhos, mas sua boca estava seca demais para respondê-la.


-De que vale? –repetiu ela, uma nova lágrima rolando pelo rosto dela.


Ele ficou ainda um tempo fitando-a, enfeitiçado. Então sacudiu a cabeça e recompôs-se.


-Desculpe, moça, mas eu não posso ajudá-la –disse ele, recuando um passo e dando-lhe as costas.


Ele havia dado somente três passos quando ouviu aquele barulho estranho. Olhou para trás e viu, pasmo, que ela havia subido na ponte.


-Hei, o que você pensa que está fazendo? –exasperou ele, desesperado.


Ele deu um grito quando ela se jogou.
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N/A: Olá, pessoal! Aki está o terceiro capítulo, espro q estejam gostando da fic. Bom, como eu não tenho nenhum aviso para dar, só peço que entrem na campanha "Eu faço uma autora feliz e deixem uma resenha!". Bjuss, Asuka

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