Reencontro



Harry passou mais de uma semana trancado em um quarto de uma pensão barata se embebedando e tentando esquecer aquela situação. Há muito tempo não lembrava como era a sensação de o mundo estar se abrindo debaixo dos seus pés e não ter para onde fugir. Sua mãe estava morta, sua irmã, infeliz, Gisele ele não sabia por onde andava, e levando em consideração toda a sua sorte, ela podia estar morta também. Tinha arriscado sua vida voltando para Londres por causa de um defunto. Bom, em breve ele podia unir a ela.

Depois de todo esse tempo deitado e acovardado, numa hora qualquer de um dia que ele já não sabia qual, ele finalmente tomou vergonha em sua cara. “Tenho que saber como ela está. Se estiver morta, ótimo, adeus Londres. Pego Nina e Natália e sumo daqui. Se ela estiver viva... Se ela estiver viva... Bom, se ela estiver viva eu penso no que fazer”.

Arrumou algo para se barbear e pediu a dona da pensão que lavasse suas roupas, pagaria a ela pelo serviço. Ainda deu um jeito de cortar seu cabelo ele mesmo, e ficou razoavelmente bom, afinal, nessa vida também já tinha trabalhado como barbeiro. Quando se olhou no espelho, estava ali o homem bonito que estava acostumado a ver.

Saiu da pensão com a aba do chapéu inclinada para frente, tampando parte do seu rosto. Gisele lhe preocupava, mas sua maior preocupação nesse momento era com a sua própria vida. Sua cabeça estava marcada para morrer há anos, e se ele vacilasse, não haveria uma segunda chance. Tinha que saber como a situação estava. “Tom Riddle tem muitos seguidores agora” dissera Nina. Poderia voltar lá e perguntar algo mais a irmã, mas desconfiava que ela não saberia lhe dar tantas informações quanto precisava. Havia um lugar e uma pessoa que certamente seria mais útil.

Depois de algum tempo de caminhada, ele finalmente reconheceu a vizinhança. Um sentimento estranho de pavor e nostalgia tomava conta de si. Passara muitos bons momentos naquele lugar, mas a sua vida começara a ruir ali também, e se não tomasse cuidado com as pessoas que passavam e lhe encaravam, terminaria ali de vez.

-Ei, menino! -chamou para um garotinho com cara de inocente. Detestava crianças espertas, elas nunca faziam o favor que deveriam- Quer ganhar um trocado?

O menino apenas balançou a cabeça com cara de feliz.

-Sente aí -ordenou Harry. O menino obedeceu e sentou-se em um caixote de madeira, enquanto Harry tirava um papel sujo do bolso e uma caneta velha. Escreveu algumas linhas e entregou o bilhete para o menino- Tome, vá até aquele sobrado ali e entregue esse bilhete para a Peixinha, ouviu bem? Peixinha. Se não te derem atenção, chore, esperneie e faça o que quiser, mas entregue esse bilhete nas mãos da Peixinha. Depois que fizer isso, espere ela ler e a resposta dela. Ou ela o acompanhará até aqui, ou lhe dará outro bilhete, que você vai esperar ela escrever. Está muito difícil para você? -perguntou, desconfiado.

O menino balançou a cabeça negativamente e pegou o bilhete das mãos de Harry. Por precaução, ele aunda descreveu como era a mulher a quem o bilhete se dirigia.

-Depois que tiver feito isso, volte aqui e eu lhe pago.

O menino saiu em disparada e Harry se sentou no caixote de madeira, tirando um cigarro do bolso. Não gostava muito de fumar, ao contrário do resto dos homens. Cigarro lhe deixava com mau-hálito, e as mulheres sempre elogiavam que a boca dele não tinha gosto de cigarro. Adorava certos prazeres que a vida ofereia, a bebida e o cigarro sendo algumas delas, mas adorava ainda mais as mulheres, e se as mulheres lhe diziam para não fumar... Bom, ele era um eterno escravo delas. Ainda assim, nesse momento o cigarro era necessário. Um homem sentado num caixote à toa era algo estranho, mas um homem sentado num caixote fumando era algo perfeitamente normal. Droga de molque que não voltava nunca.

Ela ainda viveria ali? Estaria disponível no momento? A dúvida de tudo isso fazia a espera parecer ainda maior. Se ela não estivesse ali, então teria que procurar Nina mais uma vez, a última pessoa confiável naquela infeliz cidade. Deu uma tragada e apoiou a cabeça na parede, esquecendo de manter seu rosto encoberto. Era incrível como um simples lugar podia lhe deixar tão diferente. Era alegre, boêmio e sem preocupações. Mas Londres, e em especial esse bairro, lhe deixava preocupado, sério e tenso.

Olhou novamente para o sobrado a procura do menino, mas nem sinal dele. Ele podia estar esperando que ela escrevesse um bilhete, ou poderia estar chorando lá até agora a procura dela. De qualquer forma, a demora excessiva dele não era um bom sinal. Ela não viria. Esperava o moleque voltar ou não? O cigarro já estava acabando e ele não tinha outro, não poderia ficar ali por muito tempo. Já que seu tempo era pouco, pelo menos esperaria o cigarro acabar e ainda daria uns dois minutos de crédito pro garoto. Afinal, necessitava de uma resposta, mesmo que fosse “a Peixinha não mora mais ali”.

Oito anos. Sim, era muito tempo. Além disso, a vida útil delas não durava muito. Talvez ela não estivesse mais ali, e se não estivesse, Harry não saberia por onde começar a procurá-la. Inferno. Tudo estava conspirando para que Tom Riddle colocasse as mãos nele.

-Anjinho? -chamou um doce voz feminina.

Ele olhou para o lado e teve um susto. Ela, ao contrário do esperado, estava mais bonita que antes. Situação estranha. Levantou-se e a olhou por inteiro, dando um sorriso para ela, então.

-Peixinha! -disse, abraçando-a. Nunca fora tão feliz por ver aquela mulher.

Colocou a mão no bolso e tirou algumas moedas, que deu para o menino antes de despachá-lo.

-Eu... -começou a dizer, mas ela lhe tampou a boca.

-Aqui não... Venha.

Ela lhe puxou a mão e saiu andando em direção aos fundos do sobrado.

-Porão? -perguntou ele.

-Não. Há a casa da faxineira atrás, Madame Rouge construiu há alguns anos. Ela é minha amiga, vamos conversar lá.

Chamar aquilo de casa era bondade dela, pois não era mais que um barracão. Alguns móveis toscos e velhos, umas flores num jarro trincado e o que seria uma pequena cozinha, ao lado do banheiro.

-Ela não está no momento. De dia ela limpa o sobrado. -disse ela, então ficaram em silêncio, apenas se encarando. A lembrança que tinha dela era sempre bem vistosa, com roupas chamativas e sensuais, mas no momento era usava um vestido simples, sem brilho, como se fosse apenas uma mulher comum. Ela também via várias diferenças nele. Harry era pouco mais que um rapaz a última vez que se viram. Apesar de estarem observando os traços dos outros, ele já sabia qual seria a pergunta que ela faria- Por que voltou, Harry?

Ele suspirou, cansado daquela pergunta e continuou a encará-la. Ela deu um muxoxo e balançou a cabeça.

-Você não tem vergonha? Uma mulher destruiu a sua vida, vai deixar que outra faça o mesmo? -ela se calou meio indignada, até que empalideceu e o olhou surpresa- Ou é a mesma?

Harry deu um sorriso irônico.

-Eu bem queria que fosse. Teria algumas perguntas para fazer a ela. Ela nunca voltou?

-Não. -disse ela, sentando com um ar de cansaço- Ela sempre foi mais esperta que você.

Ele deu um sorriso amarelo e sentou ao lado dela.

-Antes que eu pergunte tudo o que eu quero saber, e que você faça o mesmo, só uma coisa: você subiu?

Ela não conseguiu disfarçar um sorriso.

-Ora -disse ele confuso- Você sempre reclamava comigo que ficaria para trás, que Cadence era mais bonita que você, que ela era a preferida, que você seria deixada para trás...

-Bom, de fato, ela era mais bonita. Mas eu fui mais esperta. -ele a encarou e ela deu um sorrisinho maroto- Trouxe minha irmã do sul. Sou gêmea, lembra?

Harry deu um assobio e um gargalhada. Ela continuou.

-Bom, Cadence era mais bonita, tinha até mais classe e também era mais culta que eu. Mas nós éramos duas gêmeas, e isso mexia muito mais com os homens. Que homem não quer duas mulheres em sua cama? Cadence ficou e nós duas subimos.

-Alto escalão? -perguntou ele.

-Alto escalão -confirmou ela- Parvati e Padma, nós fomos a sensação por muito tempo. Hoje temos só os clientes VIPs, não aceitamos outros. É uma vitória, sabe? Estabilidade.

-Imagino que sim -disse ele. Estava contente por Parvati, mas, nesse momento, mais contente por si. Sendo uma prostituta do alto escalão, ela podia ter muito mais informações que imaginava.

-Você pensativo -riu- Está querendo conhecer minha irmã?

Ele deu um sorriso amarelo e ficou muito sério em seguida.

-Não, estou querendo que você me fale sobre Tom Riddle.

Ela ficou séria também e tirou um cigarro da bolsa, oferecendo a ele, que rejeitou. Ela deu uma tragada profunda e soltou a fumaça pelo nariz, encarando-o então.

-Pelo visto você já sabe que ele é grande, agora -Harrry acenou com a cabeça- Bom, eu teria um milhão de coisas para falar dele, mas o que quer saber exatamente?

-Quero saber como eu posso ficar nessa cidade o tempo que eu precisar sem morrer por causa disso. Como posso fugir e me esconder dele. Ele ainda trabalha com o submundo?

-Submundo também, mas não só isso. E digo mais: ele tem inúmeros seguidores do submundo espalhados pelo país. -Harry empalideceu, mas ela lhe fez um muxoxo com as mãos- Fique tranquilo, o resto do país não te oferece problema. Tom Riddle abafou o caso Harry Potter, não ia querer que todos ficassem sabendo do seu fracasso grandioso. Você só corre perigo aqui, por que por mais que ele tentasse te apagar, aqui em Londres seu nome é lenda.

Harry pareceu mais calmo, mas ainda tinha muita coisa lhe afligindo.

-Me conte exatamente como a situação ficou depois que eu fui.

Parvati olhou pro nada e deu um sorriso sonhador.

-Você foi o fiasco dele, entende? Todos achavam que você ficara amigo dele e o roubou, ok, não me faça essa cara, eu sei que não foi você. Mas o fato é que se comentava isso. Bom, ele mudou muito depois disso, você o odiaria se o conhecesse hoje.

-Por que diz isso?

-Ora, Harry, você só gostou dele porque estava bêbado e ele tinha umas idéias malucas. Era a marca dele, aquela obsessão por artefatos estranhos. Mas depois que você o manchou, ele resolveu construir sua reputação do modo normal, traficando coisas de real valor.

-E ele é grande agora?

-O maior. Você conheceu um ladrão, Harry. Hoje ele é um assassino. Talvez já fosse naquela época, sem que a gente soubesse.

Harry engoliu a seco, suas pernas tremendo.

-O que quer dizer?

-Bom, você não perguntou que fim teve Cadence... Bom, ela está morta.

Inferno, desde que voltara ele só ouvia falar de pessoas mortas. Isso não era bom sinal.

-Eu creio que o episódio com a Cadence marca de uma vez o reinado dele, sabe? Ela teve uma morte horrível, e quem fez o serviço deixou o corpo dela mutilado na praça. Foi uma confusão horrível na cidade. As prostitutas não têm valor, mas era um crime hediondo, todos queriam que o culpado fosse preso, pois era horrível pensar que um assassino daquele porte estivesse a solta. Os jornais noticiavam isso todos os dias, o caso não tinha fim. Até que um dia nenhum jornal falou nada. Na polícia, nada. Qualquer lugar que se pergunta, nada. Tom Riddle abafou o caso.

-Ele que...?

-Não, um dos homens dele. Cadence estava se envolvendo muito com esse povo, estava sabendo demais, e por isso ela foi eliminada. Deve ter descoberto alguma coisa que não devia. Mas o fato é que o serviço foi mal-feito, entende? A cidade não podia ter sido alertada pro tipo de gente que começava a dominar. Era pra ser silencioso. Como se ela simplesmente tivesse sumido. Bom, o cara que fez o serviço errado pagou por isso.

Harry não queria perguntar o que aconteceu, seu estômago já estava dando voltas.

-Sim, Harry. Ele foi morto pelas mãos de Riddle.

Harry teve que controlar uma vontade enorme de vomitar. Por que diabos tinha voltado?

-Eu tenho como me esconder dele?

-Bom, se você permanecer muito tempo, de um modo ou outro ele saberá. Mas se sua estadia for rápida... No submundo, os que estão a serviço dele são uns idiotas, você saberia enganá-los facilmente. Na classe média, é um número bom, mas insifuciente para dar conta de tudo, é possível disfarcá-los. E na classe alta são muito poucos, mas eu não acho que você tenha vindo para mexer com peixe grande.

-E se eu tiver?

Ela ficou um pouco pálida e mais séria, então lhe encarou desconfiada.

-Qual o nome da mulher pela qual está apaixonado?

-Não estou apaixonado! -rugiu.

Ela deu um muxoxo.

-Os homens só arriscam suas vidas por um amor, Harry. Ou pelo amor a uma idéia, como os seguidores de Riddle, ou pelo amor a uma mulher. Você não viria aqui por um caso qualquer.

Ele sentiu as bochechas corarem. Não podia estar apaixonado.

-Vamos -inquietou-se ela- Pare com essa cena e diga logo o nome dela.

-Gisele -lamentou-se.

-Por favor me diga que você sabe o sobrenome dela. Não me diga que você veio arriscar sua vida por causa de uma “Gisele” que você não sabe como achar!

Ele ainda estava afetado pelas palavras dela, sobre o fato de estar apaixonado. O nome de Gisele nesse momento lhe dava calafrios.

-Gisele Malfoy -disse choroso- Conhece os Malfoy?

Paravati ficou lhe encarando de forma estranha. Então balançou a cabeça.

-Você não pode estar apaixonado pela Sra. Malfoy. -disse, olhando-o de modo desconfiado, como se já começasse a se arrepender de tê-lo recebido.

-Por que não?

-Por que ela é mulher doente. Ninguém nunca a vê, e os que já a viram nem sequer sabem dizer como ela é, de tão apagada que é. Você não pode tê-la conhecido.

Ele suspirou cansado. Já tinha repassado tantas vezes aquele Carnaval em sua cabeça, que ter que explicar a história para Parvati lhe parecia tedioso. Mas tinha que fazê-lo, a confiança dela lhe era muito cara, não podia deixar isso passar. Só havia duas pessoas em quem confiar naquela cidade: Nina e Parvati. Se perdesse uma das duas, estaria perdido.

Começou a contar desde o incidente com o Conde em Paris e como fora para em Veneza, contou da moça sorridente correndo e de como ela se transformou em uma mulher depressiva e depois se atirou no rio. Falou sobre a falsa doença dela e de tudo que aconteceu, por fim, Parvati parecia encantada com a história.

-Harry... -disse ela, com os olhos marejados- Você tem idéia de que é uma história de amor linda? Você já a salvou uma vez, e está prestes a salvá-la outra! Vocês poderão sair dessa cidade e irem viver felizes em qualquer outro lugar!

Talvez pelo tom meloso com que Parvati falava, mas o fato é que aquilo estava lhe dando náuseas.

-Ok, vamos deixar isso de lado. Sabe algo de interessante dos Malfoy?

Parvati sorriu parendo feliz por lhe ajudar.

-Sei que hoje eles vão dar um Baile de Máscaras -disse ela, sorrindo de orela a orelha.

Ele parecia confuso, há alguns dias atrás Draco tentara matar Gisele, por que dariam uma festa agora?

-Vão comemorar o aniversário de casamento -respondeu ela, mesmo sem ele perguntar.

Não sabia o porquê, mas não gostava disso. O fato de ela comemorar seu aniversário de casamento parecia que ela era feliz com Draco. Será que ele fazia bem em querer vê-la? “Deixe de ser idiota! É só uma conveniência, você sabe que ele sequer toca nela!” lembrou-se.

-Um Baile de Máscaras, certo? -sorriu ele- Perfeito.

Parvati sorria também.

-Venha, vou lhe arranjar uma fantasia. Aqui nós temos muitas...

Ele entrou no bordel e ela lhe puxou rápido para o quarto dela, que era muito mais luxuoso que da última vez que o vira. Pouco depois entrou a irmã dela, Padma e ele ficou surpreso como as duas realmente eram parecidas. Parvati expulsou a irmã e ele começou a experimentar. Decidiu-se pela primeira, tinha ficado boa e o importante era entrar na festa.

-Parvati... Sabe como poderei entrar na festa?

Ela o encarou sorridente.

-Ora, meu caro. Até parece que você não me conhece mais...

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Ontem à noite, eu conheci uma guria
Já era tarde, era quase dia
Era o princípio num precipício
Era o meu corpo que caía

Ele acordou e parecia que uma corrente elétrica passava pelo seu corpo. Dentro de muito pouco tempo estaria com ela novamente. Fugiriam ainda hoje? Ela pediria alguns dias para poder organizar tudo antes de fugir com ele? Será que se amariam ainda essa noite?

Ele fez uma careta involuntária. “Já estou falando 'fazer amor' ao invés de 'sexo'. Isso não é bom sinal”. Londres estava cheia de maus sinais. Sabia que era fascinado por Gisele, mas pensar que estava apaixonado lhe parecia algo horroroso. Melhor não pensar nisso.

Vestiu o uniforme de garçom. Entraria pela cozinha, como se fosse um empregado. A faxineira do bordel amiga de Parvati trabalharia lá esta noite e tinha conseguido esse uniforme para ele. Enquanto se vestia não pôde impedir de deixar sua mente vagar. Até um mês atrás era um simples boêmio, que bebia, fazia farras e não tinha nenhuma perocupação na vida além do que iria beber amanhã. Agora toda a sua vida estava de cabeça para baixo.

Lembrou-se dela se atirando no rio e de como ele se atirou atrás para salvá-la. Desde aquele momento unira a vida dos dois, e se a vida dela era o inferno, ele estava em queda livre até ela. Sentia-se perdido e com medo como há muitos anos, desde o último encontro com Tom Riddle, não se sentia. Riddle, Malfoy, tinha dois inimigos perigosos numa única cidade. “Pelo menos Malfoy ainda não sabe que eu sou seu rival...”, pensou positivo.

Saiu da pensão e tomou um carro de aluguel, não sabia onde era a Mansão Malfoy, mas o cocheiro sabia. Ficou todo o trajeto calado, olhando para a sacola onde estava sua fantasia. Chegaria lá, e assim que possível iria ao banheiro se trocar, só tinha que visualizar a casa, para saber como era o jeito mais fácil e seguro de fazer tudo.

“Baile de Máscaras... Não poderia ser melhor” podia andar todo o lugar sem ninguém perceber que ele não era um convidado. Quem teria tido essa idéia. Draco ou Gisele? Bom, de qualquer forma era perfeita. E o melhor de tudo é que ela era impossível de não se reconhecer. Os cabelos ruivos dela lhe atrairiam como ímã.

Entrou pelos fundos com os outros empregados e cumprimentou a amiga de Parvati, que foi lhe dando instruções.

-Saindo da cozinha há um corredor a esquerda, cuja primeira porta é um banheiro. Deixe a sua sacola debaixo da mesa de frios que está ao lado desse corredor.

Ele fez exatamente como ela mandou, e depois de quase meia-hora de serviço ele finalemnte teve uma brecha. Pegou a sacola discretamente e entrou rápido no banheiro, trocando-se e jogando a roupa de garçom na sacola, que entregaria para a mulher novamente.

-Boa sorte -disse ela com um sorriso meloso. Desconfiava que Parvati tinha contado sua história a ela.

Ele sorriu para a mulher meio nervoso e foi apara a festa. Por alguns instantes estava perdido e suspeito para quem o visse. Não conhecia aquele povo, não sabia o que conversar com eles para disfarçar. Poderia entregar-se facilmente. Estava já desesperando-se quando resolveu colocar a cabeça no lugar. “Acalme-se, Harry. Você não precisa conhecê-los.” Suspirou fundo e foi procurar o estranho e excluído da festa. Todas as festas tinham um. Era só começar assim, fazendo perguntas, e o estranho ia falando todas as informações que precisava. Depois era só ir se misturando, bebendo com um aqui, bebendo com um ali, até que tivesse a chance de chegar nela.

Ele identificou o estranho parado no pé da escada com uma cara triste, e imediatamente ficou feliz. Mas então a sua felicidade foi complementada pelo coração disparado. Ela tinha aparecido no alto da escada.

Ontem à noite, a noite tava fria
Tudo queimava, nada aquecia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão

A última vez que a vira ela era um anjo febril adormecido, mas agora era uma rainha. Estava ao lado do marido, toda sorridente, olhando a todos do alto. Parecia uma mocinha que vai ser apresentada à sociedade. Ele sentia a boca seca e as pernas bamabas, mas mesmo com o coração disparado por vê-la, ainda assim sentia que tinha algo errado. Ainda não sabia o quê.

Ela estava vestida de grega, com um vestido branco que tinha um cinto dourada na cintura, além de todos os acessórios dourados. O cabelo estava solto e a máscara que cobria seu rosto dessa vez era dourado. Ele reconheceu a boca e os traços finos do nariz, e mesmo sem ver os olhos, tinha certeza de que ainda eram tão lindos como ele se lembrava. Lindos e tristes? Estranho, talvez por tê-la conhecido bêbada e depois depressiva, aquele sorriso no rosto dela lhe parecia estranho. Fechou os olhos por um instante e lembrou de como ela sorria quando corria bêbada pelas ruas e do mesmo sorriso em seus lábios quando ele a girou no quarto e fizeram amor. Não, aquele não era o verdadeiro sorriso dela.

Era uma máscara.

Todas as pessoas da festa tinham duas máscaras. A primeira era o objeto que estava em seus rostos, e a segunda era o sorriso falso e esnobe que exibiam uns para os outros, numa falsa sensação de felicidade, poder e riqueza. Esperava aquele sorriso inventado em qualquer pessoa, menos nela. Ela desceu as escadas de braços dados com o marido e quando ela passou ele sentiu todo o corpo arrepiar quando sentiu o perfume dela novamente.

-Parece uma deusa, não? Um deusa grega... -disse alguém do seu lado.

Harry olhou para ver quem conversava com ele e ali estav o estranho da festa, aquele com quem ninguém queria conversar.

-É, parece... -foi tudo o que disse, ainda embrigado pelo perfume dela.

Ele ficou observando-a durante alguns segundos e então riu de si. Ele tinha uma musa! Pronto, agora só faltava subir em algum lugar e declmar poemas. Estava virando um romântico e isso não lhe agradava nada. Mas simplesmente não conseguia lutar contra isso.

-Ela se curou mesmo, hein? -falou o estranho novamente, numa clara tentativa de conversar com alguma pessoa.

Harry sorriu para o homem, seu orgulho falando mais alto. Sua vontade era contar que ela nunca esteve doente, e quem percebeu isso foi ele, Harry Potter, mas controlou-se.

-Talvez tenha sido um milagre -disse.

O homem se surpreendeu que alguém finalmente tinha lhe dado atenção e, aproveitando o assunto de milagres, começou a contar casos que já tinha ouvido. Era uma conversa insuportável, mas a toda vez que ele olhava para os lados e a via conversando com alguém, ele tomava uma injeção de ânimo e forçava a si a conversar com aquele homem. Tirou muitas informações tolas, mas necessárias naquele momento. Quem eram boa parte dos convidados, o que faziam, quantos filhos, escandâlos, o tipo de humor que usavam.

Depois que se livrou do estranho com a desculpa de ir ao banheiro, saiu conversando com vários convidados e fazendo gracejos, tornando-se íntimo de um ou outro já fragilizado pela bebida. A cada um perguntava coisas diferentes e se fazia amigo como se o conhecesse há tempos, ainda inventando algum caso de que se conheceram em tal lugar, tantos anos atrás.

-Sabe, Orson -disse um senhor barbudo a ele, que usava um nome falso- Eu não me lembrava de você, mas estou realmente feliz que a gente tenha se reencontrado.

-Faço minhas as suas palavras -disse Harry- Aliás, gostaria de convidá-lo para almoçar comigo amanhã.

O senhor pareceu muito contete.

-Será um prazer, meu caro.

-Pois, bem. Então assim será! Mandarei meu criado ir buscar-lhe.

-Posso levar minha senhora?

-Será um prazer ainda maior. Como vai a Sra. Polls?

-Forte, como sempre. -"gorda", pensou Harry- Minha esposa é um poço de saúde.

-E por falar em saúde, a Sra. Malfoy nos surpreendeu, hein?

O homem fez uma cara de espantado.

-Eu realmente não acreditaria se não a estviesse vendo com meus próprios olhos. Todos os anos a gente aposta se ela vai morrer ou não. Bom, perdi. Sorte do Adolfo, esse ano foi o único que apostou que ela iria se curar.

Harry deu uma risada sem graça, mas achou macabro as pessoas apostarem a morte de outra. Nem mesmo ele, que não tinha princípio algum fazia uma coisa pavorosa dessa.

-Eu gostaria de ir cumprimentá-la... -disse Harry, com um tom acanhado- Mas receio que ela, assim como muitos dessa festa, não se lembre de mim.

O Sr. Polls pareceu encantado ante a idéia de poder fazer um favor a Harry, ou a Orson, como ele pensava.

-Pois fique aqui um instante que eu irei buscá-la.

O coração de Harry disparou assim que o senhor saiu para buscá-la. Parecia-lhe um tanto irreal que estaria novamente face a face com ela, que ela finalmente deixaria de ser uma lembrança ou um sonho inalcansável. Suas mãos estavam suando demais, e na sua cabeça passavam mil flashes da primeira e última vez que se viram.

O Sr. Polls a abordou.

...ela corria vestida de verde pelas ruas de Veneza...

Ela olhou na direção do Harry e pela máscara parecia não tê-lo reconhecido.

...ela se atirou no rio...

O Sr. Polls deu o braço a ela e a trazia até ele.

...ele a levou até em casa...

Os dois pararam por um segundo e ela cumprimentou alguém.

...ele soltou o cabelo dela e juntos tomaram absinto...

Eles voltaram a andar na sua direção.

...a máscara verde. O vestido verde. A Fada Verde.

-Aqui está, Sr. Welles. Sra. MAlfoy, lembra-se dele?

Harry sabia que talvez não devesse fazer isso, mas tirou sua máscara e sorriu para ela, ansioso como um garotinho apaixonado. Ela deu um sorriso amarelo por trás de sua máscara.

-Não, sinto muito -disse com a voz polida.

A voz dela era como veludo, e parecia música. Mas dessa vez o disco estava arranhado. Como assim, não lhe conhecia?

Ele tentou disfarçar o desapontamento.

-Nos conhecemos em um Carnaval... -disse, enfatizando a última palavra.

Ela continuou com o sorriso sem-graça.

-Desculpe, Sr. Welles, mas este ano foi a primeira vez que fui a um Carnaval, e ainda assim não pude ir para festa por motivo da minha doença. Receio que o senhor se enganou.

A voz dela era educada e formal como se ela tivesse falando com um estranho. Por Deus, e tudo que tinham vivido?

Ele a encarava atônito demais até para disfarçar a sua frustração. O Sr. Polls, numa desculpa, foi pegar uma bebida para si e deixou os dois a sós.

-Diga que disse isso porque o velho estava aqui -rugiu ele, a voz carregada de raiva, mas o tom era baixo.

Ela pareceu surpresa.

-Não chame o Sr. Polls de "o velho", é um senhor muito bom -brigou ela, parendo indignada.

-Ora, não faça esse teatro. Pare de fingir que não me conhece!

Ela ficou calada, olhando-o totalmente desconcertada.

-Desculpe, Sr. Welles, mas...

-E pare de me chamar de Sr. Welles quando sabe meu nome! -rugiu novamente, sua voz se tornando apenas um sussurro.

Ela deu um passo para trás, já meio assustada com ele.

-Desculpe, mas não sei quem o senhor é, que nome tem e não sei, mas gostaria de saber como entrou aqui.

Ela o olhava atônita, da mesma forma que ele olhava para ela, cada um com sua razão. Ele não conseguiu a emoção na voz.

-Não finja que você não lembra. Não finja que não aconteceu...

Conseguia entendê-la, se tentasse. Ela era uma mulher casada com toda uma vida justa e correta e apenas esse recente deslize, era óbvio que ela tentaria finjir que não tinha cometido aquele erro. Provavelmente foi até o padre e se confessou e julgou estar perdoada, não tendo nunca que lembrar disso.

Mas ele estava ali. E estava ali para levá-la junto com ele, pra qualquer lugar do mundo longe de Draco.

-Eu... Sinto muito, Sr. Welles, mas deve estar me confundindo com outra.

-Alguma outra Gisele Malfoy? -irnonizou.

Ela sustentou a irnonia dele com outra.

-Talvez, quem sabe. Afinal, meu nome é Ginevra Malfoy -disse, pronunciando seu nome devagar, como se fosse para uma criança.

Ele ficou parado, sem reação, a encará-la. Ela pareceu brava e entendiada.

-Não sei que tipo de brincadeira é essa senhor. E se foi contratádo por meu marido, bom, avise a Draco que ele não vai me enganar nunca mais. Agora, se me dá licensa...

Ele segurou o braço dela.

-Peço que me solte, o Sr. está me machucando.

Ele não soltou.

-Sabe que nada tenho com o seu marido e eu vim te buscar. Você não precisa ver Draco nunca mais na sua vida, é só vir comigo.

Ela parecia novamente assustada e olhou para os lados, como que para pedir ajuda. Mas de máscara ninguém veria os olhos assustados dela, e ela retirou a máscara dourada que cobria seu rosto, olhando aflita para os lados.

-Me solte agora ou eu farei um escândalo! -sussurrou ela, entre o susto e a raiva.

Ela olhava para os lados e ninguém via a aflição dela, era como se estivesse sozinha. Novamente sozinha, assim como naquele Carnaval. E novamente só ele estava ali com ela. Reconhecia nela uma solidão ao lado de outras pessoas, algo que só ele poderia compreender nela. Afinal, ela fora sua como nenhuma outra, assim como ele tinha sido dela como de nenhuma antes.

-Você não precisa mentir para mim. Eu sou o único que está do seu lado. Não ia sair de Veneza à toa. -disse com uma voz calma e confortante, e afrouxando a mão que prendia o braço dela.

Ela soltou o braço e o encarou confusa.

-Por Deus, o que quer que eu fale que me lembro?

-Quero que se lembre que saiu para comemorar o Carnaval sozinha porque seu marido lhe abandonara. -falava com a voz embargada de emoção e uma raiva contida- Quero que se lembre que bebeu absinto de um desconhecido e saiu correndo pela rua. Quero que se lembre que eu te encontrei, girei e sorri com você e quando tentei te beijar você fugiu. Quero que lembre que você pulou no rio e eu me joguei para te salvar. Que se lembre que te levei na sua casa e você me convidou para entrar para me dar roupas secas. Que se lembre que eu te contei que a sua doença não existia -ele respirou fundo e a encarou de modo profundo- E quero que se lembre da noite mais perfeita da minha vida e provavelmente da sua também.

Os olhos dela estavam muito arregalados e ela corara furiosamente. Ainda assim, a expressão de nojo e raiva tomava conta do semblante dela.

-Não sei por que tipo de prostituta me toma, mas não sou quem você pensa.

Ele se inchou de raiva.

-É, percebo. Sua vadia!

Assim que pronunciara o "vadia" a mússica cessara, e como tomado pela raiva sua voz saiu mais alto que devia, então todos do lugar ouviram. Draco Malfoy empalideceu profundamente e caminhou devagar e firme até os dois. Primeiro encarou Harry, que apesar de saber que estava perdido, ainda olhava fixamente para ela com muita raiva. Então encarou a esposa, que estava corada, pálida e muito assustada.

-Quem é esse homem, Ginevra?

A voz de Draco era novamente uma cobra pronta a dar o bote, fria e cortante. A mulher tremeu e os olhos delas estavam marejados. Harry teria mesmo acreditado nela, se não soubesse que ela estava mentindo.

-Eu não sei, Draco -choramingou ela, as mãos tremendo e o rosto muito pálido- Ele apareceu, mentiu de alguma forma para entrar aqui e começou a acusar de coisas que não fiz. -ela andou e abraçou no marido- Tire ele daqui, por favor.

Draco apenas olhou para os seguranças e eestes vieram e pegaram Harry pelo braço, que foi sem oferecer resistência. Durante todos aqueles longos segundos, ele encarou a ruiva nos olhos.

..ela corria vestida de verde pelas ruas de Veneza...ela se atirou no rio...ele soltou o cabelo dela e juntos tomaram absinto...ele a levou até em casa...a máscara verde. O vestido verde. A Fada Verde.

Todo o encanto se quebrara.

Ela lhe dispesara, e ficava para sempre à mercê de um marido perigoso e que já tentara contra a vida dela mais de uma vez. Por quê? A cena lhe parecia surreal, ela nos braços dos marido que quase a matara. Novamente, por quê? Olhou fundo nos olhos dela e dessa vez sentiu até um pouco de piedade. Ela estava sozinha outra vez.

Ontem à noite eu conheci uma guria que eu já conhecia
De outros carnavais com outras fantasias
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão
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N/A: Meo Deus, eu nunca mais atualizei aki! Q autora má q eu sou! Please, não me deixem fazer isso d novo!!!rsrsrs A letra usada aki é 'Piano Bar' dos Engenheiros do Hawaii. Se vc se lembrou dessa fic, ou se começou a ler e chegou até aki, então entre na campanha 'Eu faço uma autora feliz' deixe uma resenha! Bjinhusss, Asuka

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