A noiva



Capítulo 1- A noiva


A conversa já durava mais de uma hora.

Ela estava sentada na sala com a Sra. Malfoy e sua dama de companhia. Ao seu lado estava seu irmão Percy, que conversava pomposamente com as duas damas, recepcionando-as bem e fazendo sala. Ela, Ginevra Weasley, era a dama da casa, ela quem deveria estar comandando os criados e sendo agradável e receptiva para com as visitas.

Mas seu olhar e sua mente estavam longe dali.

A Sra. Malfoy estava dividida entre o sim e o não, entre a piedade e a indiferença. Sempre achara a ruivinha um doce de menina, a noiva ideal para seu filho Draco, mas... Agora as coisas tinham mudado. Muito. Observou o olhar distante e triste da pobre garota. “Coitada, está apavorada. Ela não merecia isso que o destino aprontou com ela”.

-Chá, Sra. Malfoy? –perguntou a criada.

-Sim, obrigada –então voltou-se para a ruiva- Ginevra, querida, está tão calada hoje.

A garota forçou-se a dar um sorriso fraco.

-Perdoe-me, Sra. Malfoy. É que estou nervosa, somente isso.

-Claro que está. Mas ficará tudo bem.

Ela deu um meio sorriso e olhou apreensiva para o irmão. Percy pegou sua mão e a apertou firme.

-Já pegaram o culpado?

-Não, Sra. Malfoy. Papai dobrou a recompensa e colocou mais guardas a procura, mas por enquanto tem sido em vão.

A dama de companhia teve um tremor involuntário. Ela tinha a mesma idade da Srta. Weasley e não podia nem imaginar se algo assim acontecesse a ela. Era de família humilde e não teria a mesma sorte da ruiva sentada a sua frente. Nenhum homem, mesmo que fosse um já conhecido pretendente (o que ela nem tinha) aceitaria se casar com ela depois disso. Era horrível só de pensar.

-Esse homem certamente não terá ido muito longe. Ainda deve estar na região, escondido dos guardas. Tenho absoluta certeza que o Sr. Weasley o encontrará.

Percy sorriu, mas nada pôde responder. A porta do escritório se abrira e de lá saíram quatro homens: Arthur Weasley e seu filho mais velho, Guilherme, acompanhados de Lucio Malfoy e seu filho único, Draco. Ele notou que tanto seu pai como Draco exibiam um sorriso no canto dos lábios, ao passo que Lúcio e Guilherme conservavam uma expressão grave. Todos eles olharam diretamente para a caçula da família Weasley.

“Ela está apavorada” pensou Percy, constatando o mesmo que a Sra. Malfoy já havia constatado. Sua irmã parecia um animal acuado que sabe que será abatido. O olhar dela transmitia medo e angústia, e ele temeu que ela fosse desmaiar de tão lívida que estava.

-Temos boas notícias, minha filha. O Sr. Draco veio até a nossa casa pedir sua mão em casamento...

“E o Sr. Lúcio veio tentar impedi-lo” pensou ela, com tristeza.

-...e eu obviamente a concedi.

Ela sorriu fracamente para Draco.

-Bendita seja a sua bondade, Sr. Draco.

-Não é bondade alguma me casar com a senhorita mais bela, mais educada e mais gentil de toda essa região –sorriu ele ajoelhando-se e tomando a mão dela entre a sua- Ouso dizer que quem está saindo ganhando sou eu.

Ela tremeu involuntariamente e recolheu sua mão. O gesto soou rude e todos os que estavam presentes notaram, tentando esconder suas caras de espanto.

-Perdoe-me –suplicou ela imediatamente- Mas é que...

-Não é necessário pedir perdão ou se explicar, Srta. Ginevra. É perfeitamente compreensível o seu acanhamento.

-Obrigada –disse ela com uma voz baixa e recolhida, voltando seus olhos para o chão.

-Mas agora é tempo de ir –disse o loiro se levantando- Vou providenciar todos os papéis. Casaremos o mais breve possível.

Ela levantou-se e acompanhou as visitas até a porta e esperou-os partir dentro da carruagem para recolher-se de volta para dentro da casa. Ela caminhava direto para seu quarto, mas ouviu vozes exaltadas e ficou ao lado da porta da sala de estar ouvindo:

-Como assim “não concorda”? –rugiu Arthur.

-Não creio que Draco Malfoy a fará feliz!

-Guilherme, coloque a cabeça no lugar: sua irmã foi desonrada! Que homem aceitaria se casar com uma mulher assim? É uma sorte enorme que Draco não tenha desfeito o compromisso e ainda queira se casar com ela!

Ela afastou-se correndo e entrou no seu quarto, atirando-se à cama, chorando. Tudo já era horrível o suficiente sem que seu irmão e seu pai ficassem brigando e gritando a desonra dela a plenos pulmões. Deixou as lágrimas rolarem pelo seu rosto e encharcarem o travesseiro. Queria sumir. Queria morrer. Queria que nada daquilo nunca tivesse acontecido.

Há uma semana atrás sua família fora convidada para uma festa na mansão vizinha dos Ditcher. Seu pai estava viajando a negócios e ela foi em companhia de seu irmão Guilherme e a esposa francesa dele, Fleur. Fleur era muito bonita e havia sido criada entre festas e pessoas a elogiando... Ela nunca deixava uma festa cedo. A própria Ginevra também não gostara de ir cedo, mas não estava passando bem naquela noite e tinha que voltar.

“A carruagem irá te levar, minha irmã. Eu ficarei aqui com Fleur” o irmão lhe dissera.

Ela voltou só dentro da carruagem, a única pessoa que a acompanhava era o cocheiro que guiava a carruagem do lado de fora. Mas no meio do caminho havia uma pedra. O criado desceu para remover aquela grande pedra e ela achou aquilo estranho. “Essa pedra não estava aqui antes. Algo tão grande não aparece assim do nada”.

E não tinha sido do nada.

Ela ouviu o tiro e gritou, o criado estava caído morto no chão. Viu o homem encapuzado vindo em sua direção e pensou em correr. “Esse vestido pesado irá me atrapalhar”. Tinha que arranjar algo para se defender. Tirou os sapatos e preparou-se para lutar.

“Olá, boneca” disse o homem imundo com um enorme bafo de álcool.

Ela chutou, gritou e tentou afastá-lo, mas ele bateu com algo na cabeça dela e depois disso não viu mais nada. Tinha sido violentada e desonrada e agora sua vida estava arruinada. Seu único consolo era o desmaio, que a impedia de se lembrar daquele momento horrível. Se tivesse permanecido consciente enquanto aquele homem fétido lhe possuía... Tremia só de imaginar. Mataria-se, mas não carregaria uma lembrança assim.

-Chorando novamente, Srta? –perguntou uma voz doce alisando seus cabelos.

Ela levantou a cabeça, tentando forçar um sorriso.

-Eu estou bem, Mary –disse com a voz trêmula.

A senhora pôs-se de pé com uma sobrancelha levantada.

-Está tão bem quanto a Lovegood é boa da cabeça.

A ruiva sorriu involuntariamente e sentou-se na cama,enquanto observava a senhora ajeitar suas almofadas.

-Não fale assim dela. Luna é uma boa moça.

-Sei que é –disse Mary de modo não muito convincente- Só não podemos negar que ela é diferente.

-Agora eu sou uma diferente também –disse ela de modo sombrio, abaixando a cabeça.

Mary sentou ao seu lado e lhe tomou o queixo entre as mãos, forçando a ruiva a encará-la.

-Você sempre foi diferente, pequena. Sempre foi a mais bela, a mais educada, a mais espirituosa, a mais elegante. Você sempre foi destaque no meio da multidão. E isso não mudou agora.

-Não, é claro –rosnou ela entre dentes, com os olhos voltando a marejar- Sempre fui a “mais-alguma-coisa”, agora é só incluir o quesito “a-mais-desonrada”! Sempre terá alguém para lembrar e apontar: “olhe, aquela é Ginevra Weasley, a desonrada da região”.

Mary lhe deu uma tapa na mão que fez sua pele clara ficar avermelhada.

-Pare de se martirizar! Entrei nesse quarto imaginando que lhe encontraria comemorando e agradecendo a Deus por ter encontrado um bom partido, mas olhe para você! Deixe de ser ingrata e fique satisfeita que tudo está se resolvendo!

Ela mordeu os lábios fortemente, mas isso não impediu as lágrimas de voltarem a rolar pelo seu rosto.

-Eu queria estar feliz, Mary... Eu queria. Se fosse há um mês atrás, eu seria a pessoa mais feliz do mundo, mas... –ela respirou fundo e olhou o sol que se punha lá fora- Você reparou o ar de nojo com o qual o Sr. Lúcio me olhava? E a expressão de pena da Sra. Narcisa?

-Mas o Sr. Draco te ama! –interrompeu a criada.

-Ama? –indagou ela, levantando uma sobrancelha- Você enxergou amor nos olhos dele hoje?

Mary ficou sem reação. Havia uma dureza na voz da garota que não lhe era habitual.

-Um mês, Mary. Um mês e tudo seria diferente...

A senhora pegou as mãos da menina, então lhe sorriu ternamente.

-Vai dar tudo certo.

-Eu espero que você não esteja errada.

As duas ficaram se encarando alguns instantes, até que Ginevra limpou as últimas lágrimas que teimavam em escorrer.

-Você irá comigo? –perguntou, fazendo uma cara de criança carente.

-Eu adoraria, pequena –suspirou a senhora- Mas eu estou nessa casa há mais de três décadas. É quase uma vida. Eu não me adaptaria em outro lugar, e nem o Sr. Arthur nem os meninos sobreviveriam sem mim.

Ginevra se levantou de súbito, olhando para Mary como se esta a tivesse traído. Sua mãe, Molly, morrera quando ela tinha dois anos, portanto a governanta era a única figura materna que conhecia.

-Os meninos? –indignou-se- Ora, faça-me o favor! De meninos eles não têm nada! Já estão bem grandinhos, por sinal! –ela sentou-se novamente e tomou as mãos de Mary numa súplica- Eu é que preciso de você...

Mary não falou nada, só a puxou para um abraço. Durante algum tempo ficaram assim, simplesmente apoiando uma a outra, consolando-se em silêncio. Uma estava perdendo uma filha, a outra uma mãe.

-Você vai se casar, Ginevra –voltou Mary a falar com um tom conformado na voz, enquanto alisava os cabelos dela- Terá uma casa e um casamento para cuidar. Esse é o destino das mulheres... E quer saber de uma coisa? As mulheres são muito mais fortes que os homens. E você é particularmente uma mulher muito forte, e será mais ainda. Eu junto a você seria só a governanta, mais uma criada da casa. Já aqui eu sou importante, os meninos precisam de mim.

Ela não conseguiu esboçar um sorriso, mas meneou a cabeça em confirmação. Não podia tirar Mary daquela casa, toda a vida dela estava ali.

-Mas você vai me escrever? –perguntou marota.

A senhora deu uma gargalhada e a abraçou novamente. Essa era a garota que costumava conhecer.
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Ela olhou-se no espelho num misto de emoção e tristeza. Estava mais linda do que jamais estivera em toda a sua vida. Além disso, há quase um ano seus sonhos vinham sendo preenchidos com a imagem de um casamento com Draco Malfoy, mas... Seus olhos não tinham metade do brilho que deveriam ter, nem seu sorriso era tão majestoso quanto deveria. O casamento dos seus sonhos não estava saindo conforme o planejado.

Uma longa saia branca rodada caía aos seus pés. A parte de cima valorizava muito o seu colo sem, no entanto, ficar vulgar. Uma cauda se arrastava no chão. Todo o vestido era detalhadamente bordado, e isso somado à tiara em sua cabeça lhe faziam parecer uma princesa. O véu que cobriria o seu rosto viria até a altura do queixo, já a grinalda batia em sua cintura, o branco do tecido contrastando com os seus cachos vermelhos.

-Traga o buquê- ordenou Mary a uma criada, virando-se então para a ruiva- Ansiosa?

-Apavorada –respondeu ela, dando um suspiro- Eu não terei coragem de entrar naquela igreja e encarar toda aquela gente... Os olhares. Todos fingindo que não tem nada de errado...

-Não nada de errado, criança –disse a governanta calmamente- Pare de se maltratar. Você está assustada agora, mas depois de casada verá como tudo isso são tolices da sua cabeça.

Ginevra baixou os olhos para suas mãos vazias, que esperavam a chegada do buquê.

-Será que ele me ama? –perguntou ela mais para si que para Mary.

-Claro que sim! Prova maior de amor que essa não há! A verdade é que nós sabemos que ele teria todo o direito de romper o noivado e desistir do casamento, mas ele não fez isso!

-Pode ser –disse ela, num ar de devaneio- Mas a verdade é que eu sinto que ele faz isso como se estivesse sendo obrigado...

Mary deu um sorriso de escárnio e fez um muxoxo com as mãos.

-Obrigado por quem? Certamente não pelos pais!

A ruiva sorriu também, mas ficou com a mente perdida em seus pensamentos. Esses só foram quebrados pela entrada da criada que trazia em suas mãos o buquê. Ela olhou para as flores e sem saber porque arrepiou-se. Era um buquê de lírios.

-O que foi agora, pequena? –perguntou Mary, aflita.

-Me chame de louca se quiser –disse ela numa estranha obstinação- Mas eu olho para essas flores e sinto que tem algo errado...

Mary bufou impaciente e tomou o buquê das mãos da criada, passado para as mãos da ruiva.

-Deixe de besteiras e se apresse. Já foram avisar ao padre que você já vai entrar.

Ela continuou olhando para os lírios fixamente. Em seus sonhos ela nunca se casava com lírios. Não sabia o porquê, mas achava que estes não combinavam com Draco.

-Me tragam outro buquê –disse ela, de modo imperativo, jogando o buquê para o lado- Essas flores não combinam com Draco!

Mary fez menção de se abaixar para pegar o buquê, mas ela pisou em cima, dilacerando as flores.

-Este não –repetiu ela- Um outro qualquer. Um que não tenha lírios!

Mary a observou pasma, visivelmente irritada.

-Nós já avisamos ao padre que você vai entrar! –rugiu a governanta.

-Pois agora avise que eu vou atrasar mais 10 minutos! –retrucou ela.

As duas se encararam furiosamente por alguns segundos, até que Mary se levantou e deu a ordem para a criada. Assim que esta saiu, o recinto ficou encoberto por um silêncio perturbador.

Elas estavam num cômodo anexo ao prédio da igreja, só levaria alguns segundos para chegar na entrada, mas o tamanho do atraso em si não era a questão.

-Por que você está fazendo isso, Ginevra? –indagou Mary, com um inconfundível tom de decepção na voz.

-Eu...

Antes que ela pensasse em terminar de responder, a porta foi violentamente aberta num estrondo. Parado à porta, Draco Malfoy a olhava visivelmente perturbado.

-Saia daqui, Draco! Você não pode ver o vestido antes do casamento!

-Diga que você não desistiu –disse ele num fio de voz.

Ela deu um grito e procurou um pano, para ocultar o vestido.

-Diga que você não desistiu! –repetiu ele, agora com uma grande ansiedade na voz. Ela tentou se esconder atrás de Mary, mas ele tentava afastar a governanta enquanto repetia a mesma frase.

-Saia daqui, Draco! Trás má sorte!

-Diga, Ginevra!

-Não! Claro que não! Agora saia daqui!

Ele parou e a encarou por um segundo, então começou a se dirigir para a porta.

-Eu estou te esperando, então.

Ele saiu e as duas se afastaram. Mary já estendia a mão para a maçaneta quando a cabeça dele apareceu novamente.

-Só mais uma coisa... –acrescentou ele, nervoso-Tente parecer feliz.

Mary bateu a porta na cara dele e olhou para a ruiva. Alguém bateu à porta.

-SAIA DAQUI! –gritaram as duas em uníssono.

-Mas... –veio uma voz confusa do outro lado- Mas eu trouxe o buquê...

Mary suspirou e abriu a porta, pela qual a criada entrara ainda sem entender nada. A governanta lhe dez um muxoxo com a mão, mandando que esquecesse tudo. Ela caminhou até Ginevra e lhe pouso nas mãos um buquê de rosas amarelas.

-Pronto, criança –disse ela sorrindo- Pode ir. E não se esqueça do conselho.

-Conselho?

-O que ele acabou de lhe dar: tente parecer feliz.

As duas se encararam, a ruiva estava tão desolada que acabou por arrancar uma gargalhada da governanta.

-Do que você está rindo? –perguntou ela, indignada.

-De vocês. Você não vê? Ele estava tão assustado quanto você quando entrou aqui ainda há pouco.

-E daí?

-E daí que isso significa que ele te ama. Que está preocupado para que tudo dê certo e saia como o planejado.

A ruiva sorriu e olhou para o seu novo buquê.

-É, você deve estar certa... É tudo tolice da minha cabeça. Mas e o fato de ele ter visto o vestido antes da hora?

-Isso são só crenças pagãs, criança. Vá. Vá porque o seu noivo te espera.

Ela deu um suspiro profundo e se encaminhou para a porta. Tudo ia dar certo.
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N/A: Olá, pessoal! Bom, eu prometi e aqui está a minha nova fic H/G. Como eu já havia dito, essa fic não será fofinha que nem Me Encante Outra Vez, mas eu vou me esforçar para que ela seja tão boa quanto. E para começar essa fic com o pé direito, entre na campanha “Eu faço uma autora feliz” e deixe uma resenha! Bjusss, Asuka

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